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2012 LegisLação aduaneira Comparada Prof. Anderson de Miranda Gomes Prof.ª Sonia Adriana Weege Copyright © UNIASSELV 2012 Elaboração: Prof. Anderson de Miranda Gomes Prof.ª Sonia Adriana Weege Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. 343.056 G633l Gomes, Anderson de Miranda Legislação aduaneira comparada / Anderson de Miranda Gomes; Sonia Adriana Weege. Indaial : Uniasselvi, 2012. 226 p. : il ISBN 978-85-7830- 614-4 1. Direito aduaneiro - Alfândegas. I. Centro Universitário Leonardo da Vinci. III apresentação Caro(a) acadêmico(a)! Iniciamos os estudos da disciplina de Legislação Aduaneira Comparada. Entraremos no mundo das relações comerciais estabelecidas internacionalmente. As informações trazidas neste Caderno de Estudos têm como objetivo demonstrar a você, acadêmico(a), algumas das situações que estabelecem as relações comerciais internacionais que são além de outras disciplinas, campo de atuação da legislação aduaneira. O que aqui segue descrito não é definitivo nem mesmo finito. A legislação brasileira é modificada rotineiramente, da mesma forma que as relações de comércio ou em sociedade que se modificam no transcorrer dos tempos. Entretanto, podemos lhe ofertar uma visão inicial do que ocorre no regramento legal aplicável às relações aduaneiras, com o seu compromisso de manter-se atualizado(a). A Unidade 1 trará a compreensão da proposta do direito aduaneiro. Além disso, veremos o papel do Estado neste contexto, e de forma sucinta apresentaremos a legislação aduaneira no território brasileiro. Esta unidade contém a descrição das características que envolvem o Direito Internacional Público e o Direito Internacional Privado, oportunizando distingui-los. As estruturas e as funções do regulamento aduaneiro que é um dos mais importantes textos legais dispostos na legislação brasileira em relação ao comércio internacional será objeto da Unidade 2. Serão igualmente objeto de estudos desta unidade os despachos aduaneiros de exportação e importação, seus conceitos e as operações que lhe são pertinentes. A Unidade 3 traz em seu conteúdo as perspectivas, conceitos e características que envolvem o contrato internacional, como partes do contrato, objeto, foro, elementos dentre outros aspectos que conduzem à relação estabelecida entre os diversos tipos de contratos internacionais. O aprendizado é uma constante, nos acompanhe nos estudos. Leia o conteúdo do caderno com atenção, acesse o AVA, participe do fórum e da enquete e descubra a importância do saber. Seja bem vindo(a)! Sucesso! Prof. Anderson Miranda Prof.ª Sonia Adriana Weege IV UNI Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! V VI VII sumário UNIDADE 1: PRESSUPOSTOS DA LEGISLAÇÃO ADUANEIRA ............................................. 1 TÓPICO 1: PERFIL DA LEGISLAÇÃO ADUANEIRA ................................................................... 3 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 3 2 A CONCEPÇÃO DO DIREITO ADUANEIRO .............................................................................. 3 3 A LEI BRASILEIRA E O DIREITO ADUANEIRO ........................................................................ 6 4 O PAPEL DA ADUANA NO CONTEXTO NORMATIVO ......................................................... 8 5 O PODER ADUANEIRO COMO MEIO DE COAÇÃO LEGAL ................................................ 8 6 O CONCEITO DE JURISDIÇÃO ADUANEIRA ........................................................................... 9 7 A INTERIORIZAÇÃO ADUANEIRA .............................................................................................. 9 8 CONCEITOS DE DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO E PRIVADO ............................... 10 RESUMO DO TÓPICO 1 ...................................................................................................................... 13 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................... 14 TÓPICO 2: O CONTROLE DOS PROCEDIMENTOS ADUANEIROS ...................................... 15 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 15 2 CONCEITO DE ENTRADA ADUANEIRA .................................................................................... 15 2.2 ESPÉCIES DE ENTRADAS ADUANEIRAS ............................................................................... 16 2.2.1 Entrada aduaneira de veículos ............................................................................................ 16 2.2.2 Entrada aduaneira de mercadorias ..................................................................................... 17 2.2.3 Entrada aduaneira de pessoas ............................................................................................. 18 2.3 EXERCÍCIO DO PODER DISCRICIONÁRIO NAS ENTRADAS ADUANEIRAS ............... 21 3 O PROCESSO ADUANEIRO CONTENCIOSO ............................................................................ 22 4 O CONTENCIOSO ADUANEIRO NO BRASIL ........................................................................... 23 RESUMO DO TÓPICO 2 ....................................................................................................................... 32 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 33 TÓPICO 3: CONTENDAS ADUANEIRAS ....................................................................................... 35 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 35 2 FRAUDES E INFRAÇÕES ADUANEIRAS .................................................................................... 36 2.1 CRIMES CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA ............................................................................ 383 O CONTRABANDO E O DESCAMINHO ..................................................................................... 41 3.1 SECRETARIA DA RECEITA FEDERAL ...................................................................................... 44 3.2 COPLANC ....................................................................................................................................... 44 4 INTEGRAÇÃO REGIONAL .............................................................................................................. 45 5 FRANQUIAS TERRITORIAIS .......................................................................................................... 47 6 SUJEITOS PASSIVOS DOS IMPOSTOS DE IMPORTAÇÃO E EXPORTAÇÃO ................. 50 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................. 51 RESUMO DO TÓPICO 3 ....................................................................................................................... 57 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 58 VIII UNIDADE 2: REGULAMENTO ADUANEIRO E O COMÉRCIO EXTERIOR .......................... 59 TÓPICO 1: DISPOSIÇÕES ADUANEIRAS ...................................................................................... 61 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 61 2 ESTRUTURA DO REGULAMENTO ADUANEIRO .................................................................... 62 2.1 FUNÇÕES ADMINISTRATIVA E TRIBUTÁRIA ........................................................................ 63 2.2 O TERRITÓRIO ADUANEIRO ..................................................................................................... 64 2.3 PORTOS, AEROPORTOS E PONTOS DE FRONTEIRA ALFANDEGADOS ........................ 65 2.3.1 Portos marítimos .................................................................................................................... 65 2.3.2 Aeroportos .............................................................................................................................. 69 2.4 RECINTOS ALFANDEGADOS .................................................................................................... 71 2.5 CONTROLE ADUANEIRO DE VEÍCULOS ............................................................................... 72 2.6 MANIFESTO DE CARGA ............................................................................................................. 73 3 VALOR ADUANEIRO ........................................................................................................................ 74 4 CLASSIFICAÇÃO FISCAL ................................................................................................................ 76 4.1 NOMENCLATURA COMUM DO MERCOSUL ........................................................................ 77 4.1.1 Estrutura e composição do NCM ........................................................................................ 78 4.1.2 Regras de Classificação na NCM ......................................................................................... 78 4.1.2.1 Regra Geral de Interpretação nº 1 ........................................................................... 78 4.1.2.2 Regra Geral de Interpretação nº 2 ........................................................................... 79 4.1.2.3 Regra Geral de Interpretação nº 3 ........................................................................... 80 4.1.2.4 Regra Geral de Interpretação nº 4 ........................................................................... 82 4.1.2.5 Regra Geral de Interpretação nº 5 ........................................................................... 82 4.1.2.6 Regra Geral Complementar nº 6 ............................................................................. 83 4.1.2.7 Regra Geral Complementar nº 1 ............................................................................. 83 4.1.2.8 Regra Geral Complementar nº 2 ............................................................................. 84 4.2 NOTAS EXPLICATIVAS DO SISTEMA HARMONIZADO ..................................................... 84 5 HABILITAÇÃO DOS DEMAIS INTERVENIENTES ................................................................... 84 6 SISTEMAS INFORMATIZADOS .................................................................................................... 87 7 O DESPACHANTE ADUANEIRO ................................................................................................... 88 RESUMO DO TÓPICO 1 ....................................................................................................................... 90 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 91 TÓPICO 2: DESPACHO ADUANEIRO DE EXPORTAÇÃO ......................................................... 93 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 93 2 TRATAMENTO ADMINISTRATIVO ............................................................................................. 94 3 DOCUMENTOS PARA EXPORTAÇÃO ......................................................................................... 96 3.1 DOCUMENTOS ELETRÔNICOS ................................................................................................. 96 3.1.1 Registro de Exportação (RE) ................................................................................................ 96 3.1.2 Registro de Operação de Crédito (RC) ............................................................................... 98 3.1.3 Registro de Exportação Simplificado (RES) ....................................................................... 99 3.1.4 Declaração de Despacho de Exportação (DDE) ................................................................ 99 3.1.5 Declaração Simplificada de Exportação (DSE) .................................................................. 101 3.1.6 Comprovante de Exportação (CE) ....................................................................................... 101 3.2 OUTROS DOCUMENTOS ............................................................................................................ 101 3.2.1 Fatura Proforma ..................................................................................................................... 102 3.2.2 Fatura comercial ..................................................................................................................... 103 3.2.3 Nota fiscal ............................................................................................................................... 105 3.2.4 Romaneio (packing list) ........................................................................................................ 106 3.2.5 Conhecimento de embarque ................................................................................................ 107 3.2.6 Contrato de câmbio, apólice de seguro e fatura consular ................................................ 108 IX 3.2.7 Certificados e demais comprovantes .................................................................................. 110 3.2.7.1 Certificados de origem ............................................................................................. 110 3.2.7.1.1 Certificado de origem padrão ou comum .............................................. 111 3.2.7.1.2 Certificado de Origem SGP – Formulário A (Form A) ......................... 111 3.2.7.1.3Certificado de origem SGPC .................................................................... 111 3.2.7.1.4 Certificado de Origem Mercosul ............................................................. 111 3.2.7.1.5 Certificado de origem ALADI .................................................................. 112 3.2.7.1.6 Outros certificados ..................................................................................... 113 4 FORMAÇÃO DE PREÇO NA EXPORTAÇÃO .............................................................................. 114 5 TIPOS DE EXPORTAÇÃO ................................................................................................................. 116 5.1 EXPORTAÇÃO DIRETA ................................................................................................................ 117 5.2 EXPORTAÇÃO INDIRETA ........................................................................................................... 117 5.3 CONSÓRCIOS DE EXPORTAÇÃO .............................................................................................. 117 5.3.1 Consórcio de promoção de exportações ............................................................................. 118 5.3.2 Consórcio de vendas ............................................................................................................. 118 5.3.3 Consórcio de área ou país ..................................................................................................... 118 5.4 EXPORTAÇÃO DE AMOSTRAS .................................................................................................. 119 6 DESPACHO ADUANEIRO DE EXPORTAÇÃO ........................................................................... 119 6.1 ETAPAS DO DESPACHO ADUANEIRO DE EXPORTAÇÃO ................................................ 119 6.2 ETAPAS DE UMA EXPORTAÇÃO .............................................................................................. 121 RESUMO DO TÓPICO 2 ....................................................................................................................... 123 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 124 TÓPICO 3: DESPACHO ADUANEIRO DE IMPORTAÇÃO ........................................................ 125 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 125 2 REGISTROS PARA IMPORTAÇÃO ............................................................................................... 126 2.1 REGISTRO DE IMPORTADOR .................................................................................................... 126 2.2 REGISTRO NO SISTEMA INTEGRADO DE COMÉRCIO EXTERIOR (SISCOMEX) ........................................................................................ 126 3 CLASSIFICAÇÃO FISCAL DAS MERCADORIAS ..................................................................... 127 4 DOCUMENTOS PARA IMPORTAÇÃO ........................................................................................ 128 4.1 DECLARAÇÃO DE IMPORTAÇÃO ........................................................................................... 128 4.2 LICENCIAMENTO DAS IMPORTAÇÕES ................................................................................. 129 4.2.1 Dispensadas de licenciamento ............................................................................................. 129 4.2.2 Licenciamento automático .................................................................................................... 131 4.2.3 Licenciamento não automático (LI) ..................................................................................... 132 4.2.3.1 Antes do despacho aduaneiro ................................................................................. 133 4.2.3.2 Antes do embarque da mercadoria ........................................................................ 134 4.3 COMPROVANTE DE IMPORTAÇÃO (CI) ................................................................................ 134 5 CÂMBIO E CONDIÇÕES DE PAGAMENTO ............................................................................... 135 6 FORMAÇÃO DOS CUSTOS NA IMPORTAÇÃO ....................................................................... 139 6.1 IMPOSTO DE IMPORTAÇÃO (II) ............................................................................................... 140 6.2 IMPOSTO SOBRE PRODUTOS INDUSTRIALIZADOS (IPI) .................................................. 141 6.3 IMPOSTO SOBRE CIRCULAÇÃO DE MERCADORIAS OU SERVIÇOS (ICMS) ................................................................................................................... 141 6.4 ADICIONAL AO FRETE PARA A RENOVAÇÃO DA MARINHA MERCANTE (AFRMM) ........................................................................................... 142 6.5 TAXA DE CAPATAZIA E ARMAZENAGEM ............................................................................ 142 7 DRAWBACK: UM REGIME ADUANEIRO ESPECIAL DE IMPORTAÇÃO .......................... 142 7.1 DRAWBACK SUSPENSÃO ............................................................................................................ 143 7.2 DRAWBACK ISENÇÃO ................................................................................................................. 144 X 8 DESPACHO ADUANEIRO DE IMPORTAÇÃO ........................................................................... 144 8.1 ETAPAS DO DESPACHO ADUANEIRO DE IMPORTAÇÃO ................................................ 144 8.2 ETAPAS DE UMA IMPORTAÇÃO .............................................................................................. 147 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................. 148 RESUMO DO TÓPICO 3 ....................................................................................................................... 156 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 157 UNIDADE 3: CONTRATOS INTERNACIONAIS ........................................................................... 159 TÓPICO 1: PRESSUPOSTOS DOS CONTRATOS INTERNACIONAIS ................................... 161 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 161 2 ATOS E CONTRATOS INTERNACIONAIS ................................................................................. 162 2.1 CONTRATOS INTERNACIONAIS .............................................................................................. 163 2.2 PESSOAS FÍSICAS OU JURÍDICAS COMO CONTRATANTES ............................................. 165 2.2.1 Pessoas jurídicas ..................................................................................................................... 165 2.2.2 Pessoas físicas ......................................................................................................................... 166 2.3 AUTONOMIA DA VONTADE E LIBERDADE CONTRATUAL ............................................ 167 3 CONSIDERAÇÕES GERAIS ............................................................................................................ 168 RESUMO DO TÓPICO 1 ....................................................................................................................... 170 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 171 TÓPICO 2: OS MODELOS DE CONTRATOSINTERNACIONAIS PRIMEIRA PARTE: CONTRATOS DE COMPRA E VENDA INTERNACIONAL ............................................................................................................ 173 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 173 2 PARTES (ELEMENTOS) DO CONTRATO DE COMPRA E VENDA INTERNACIONAL . 174 3 ASPECTO JURÍDICO ......................................................................................................................... 174 4 FORO INTERNACIONAL ................................................................................................................. 175 5 CLÁUSULAS ........................................................................................................................................ 176 6 O FATOR ALEATÓRIO ...................................................................................................................... 177 7 CONDIÇÕES DE VENDA (INCOTERMS) .................................................................................... 178 7.1 GRUPO E – CONTRATO DE PARTIDA ..................................................................................... 180 7.2 GRUPO F – TRANSPORTE PRINCIPAL NÃO PAGO ............................................................ 181 7.3 GRUPO C – TRANSPORTE PRINCIPAL PAGO ....................................................................... 182 7.4 GRUPO D – CONTRATO DE CHEGADA .................................................................................. 183 8 ARBITRAGEM INTERNACIONAL ................................................................................................ 184 9 SANÇÕES .............................................................................................................................................. 185 10 RESCISÃO OU REVOGAÇÃO ....................................................................................................... 185 11 MODELO DE CONTRATO DE COMPRA E VENDA ............................................................... 186 RESUMO DO TÓPICO 2 ....................................................................................................................... 195 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 196 TÓPICO 3: CONTRATOS INTERNACIONAIS OS MODELOS DE CONTRATOS INTERNACIONAIS – SEGUNDA PARTE: OUTROS TIPOS DE CONTRATOS INTERNACIONAIS ......................... 197 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 197 2 CONTRATO DE REPRESENTAÇÃO OU AGENCIAMENTO INTERNACIONAL ............. 197 3 CONTRATO DE ARRENDAMENTO MERCANTIL (LEASING) ............................................. 200 4 CONTRATO DE FATURAMENTO (FACTORING) ..................................................................... 204 XI 4.1 CLÁUSULAS ESSENCIAIS E FACULTATIVAS ......................................................................... 205 5 CONTRATO DE FRANQUIA (FRANCHISING) ........................................................................... 206 6 CONTRATO DE TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA (KNOW-HOW) .............................. 207 7 CONTRATO DE EMPREENDIMENTO EM CONJUNTO (JOINT VENTURE) ...................... 208 8 CONTRATO DE EXPORTAÇÃO DE SERVIÇOS ......................................................................... 210 9 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................................. 212 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................. 212 RESUMO DO TÓPICO 3 ....................................................................................................................... 217 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 218 REFERÊNCIAS ........................................................................................................................................ 219 XII 1 UNIDADE 1 PRESSUPOSTOS DA LEGISLAÇÃO ADUANEIRA OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir desta unidade, você será capaz de: • compreender a proposta da concepção do direito aduaneiro e o papel do Estado nesta percepção é identificar os fatores que caracterizam os textos legais aduaneiros no território brasileiro; • analisar o papel da aduana, o poder aduaneiro, o conceito de jurisdição aduaneira e de interiorização aduaneira e reconhecer os conceitos do di- reito internacional público e direito internacional privado; • identificar o conceito de entrada aduaneira e as espécies reconhecidas, dentre elas as entradas de veículos, mercadorias ou bens e pessoas; • compreender o exercício do poder discricionários nas entradas aduaneiras; • reconhecer o conceito de processo contencioso aduaneiro e seus princí- pios e distinguir o contencioso aduaneiro no Brasil; • distinguir as situações de fraude e infrações contidas na legislação adua- neira e legislação afim; • observar e reconhecer os crimes contra a ordem tributária encontradas nas relações comerciais aduaneiras e compreender os conceitos de contraban- do e descaminho. A Unidade 1 está dividida em três tópicos. Ao final de cada um deles, você terá a oportunidade de fixar seus conhecimentos realizando as atividades propostas. TÓPICO 1 – PERFIL DA LEGISLAÇÃO ADUANEIRA TÓPICO 2 – O CONTROLE DOS PROCEDIMENTOS ADUANEIROS TÓPICO 3 – CONTENDAS ADUANEIRAS 2 3 TÓPICO 1 UNIDADE 1 PERFIL DA LEGISLAÇÃO ADUANEIRA 1 INTRODUÇÃO Assim como encontramos em outros segmentos das relações de comércio estabelecidas no território brasileiro, temos: normas jurídicas que regulamentam as situações que envolvem as transações comerciais praticadas em território aduaneiro e reconhecidas como DIREITO ADUANEIRO. O Estado edita normas legais com o pressuposto básico de manter a própria ordem jurídica em seu território, buscando a harmonia dos atos praticados em sociedade. Este tópico tem por objetivo demonstrar as situações que determinam a própria existência do direito aduaneiro e sua formatação inicial, especificamente as determinações estabelecidas no território brasileiro. Prezado acadêmico, iniciamos agora uma aventura que ultrapassa fronteiras. Vamos a ela. 2 A CONCEPÇÃO DO DIREITO ADUANEIRO As situações que confirmam a organização do direito aduaneiro estão ligadas à existência de fatos constatados em operações que são realizadas por meio do intercâmbio comercial com o exterior. Ou seja, além-fronteiras do território brasileiro. Como exemplifica Carlucci (2001, p. 19), “quando da chegada de uma mercadoria estrangeira no porto, aeroporto ou ponto de fronteira, se aplicam normas sobre transporte, seguros, tributárias, administrativas de controle, cambiais, infracionais (penais e administrativas), de direito internacional público (tratados internacionais), trabalhistas, de direito financeiro, processuais etc.” O comércio internacional e a relação comercial que ultrapassa fronteiras são situações que ocasionam o próprio surgimento do direito aduaneiro, como forma de regulação das situações estabelecidas a partir destes fatos. UNIDADE 1 | PRESSUPOSTOS DA LEGISLAÇÃO ADUANEIRA 4 Os acordos internacionais são os instrumentos normativos que em grande parte regulam as relações de comércio exterior e são originados de uma política aduaneira estabelecida pelo poder estatal. A intervenção do Estado se faz necessária sob o argumentoeconômico, pois se busca: a proteção da indústria, o pleno emprego e oferta de melhores salários, a estabilidade da economia nacional, a necessidade de defesa das fronteiras econômicas etc (CARLUCCI, 2001). Ainda segundo Carlucci (2001, p. 20), “os meios pelos quais o Estado exerce a intervenção são econômicos e fiscais, sendo os econômicos mais eficientes que os fiscais, pois os econômicos decorrem diretamente da política aduaneira”. FONTE: Adaptado de: <http://www.bc.furb.br/docs/MO/2009/339696_1_1.pdf>. Acesso em: 2 out. 2012. Segundo Sosa (1995, p. 49), “o papel do Estado no comércio exterior pode ser visto de duas formas. A primeira delas como negociados no plano internacional, e na segunda forma, como regulador no plano nacional. O papel de negociador está presente quando o Estado estabelece e firma acordos em matérias de tarifas, comércio e transporte, além das questões eminentemente tributárias”. Seguindo o entendimento do autor Sosa (1995), a atividade reguladora do Estado pode estar sendo entendida como normatizadora e controladora. Na função normatizadora, o Estado estabelece a maneira como se realizam as operações externas e de que forma ocorrem as entradas e saídas de mercadorias no território aduaneiro. Esta função está baseada em textos legais aplicáveis ao comércio exterior. A função controladora do Estado é encontrada nos meios de coação legal, dispostos para as relações comerciais estabelecidas pelo comércio aduaneiro. Neste contexto, a aduana está dotada de poder, que é sua capacidade legal de coagir pessoas ao cumprimento de determinadas obrigações, ou ainda, proceder de maneira específica. A função normativa do Estado é encontrada em três áreas de abrangência, sendo estas: Como meios econômicos diretos, temos os regimes de contingenciamento na importação e exportação e as proibições e restrições, também na exportação e importação; os meios indiretos se revelam nos incentivos à exportação e os regimes aduaneiros especiais na importação e exportação. Os meios fiscais se destinam à execução e ao controle da política aduaneira traçada pelo país (CARLUCCI, 2001). TÓPICO 1 | PERFIL DA LEGISLAÇÃO ADUANEIRA 5 ● Regime administrativo: disciplina que as mercadorias podem ingressar ou sair do país e traça os procedimentos que deverão ser adotados para implementar quaisquer operações de comércio exterior. ● Regime cambial: cuida dos aspectos atinentes à liquidação financeira dos fluxos comerciais de ingresso (por pagamento) ou saída (por recebimento). ● Regime administrativo-fiscal: “atende à política de extrafiscalidade, inserida num contexto de política econômica, pela taxação ou desoneração fiscal aplicadas sobre ingressos e saídas de mercadorias do país, e ainda, na normatização das rotinas de ingresso e saída de veículos e pessoas do país” (SOSA, 1995, p. 50-51). UNI Caro acadêmico, o direito aduaneiro possui alguns conceitos a ele atribuídos. Utilizaremos o proferido por Ildefonso Sánchez González, que afirma: “Direito aduaneiro é o conjunto de normas e princípios que disciplinam juridicamente a política aduaneira, entendida esta como a intervenção pública no intercâmbio internacional de mercadorias que constitui um sistema de controle e de limitações com fins públicos” (CARLUCCI, 2001, p. 22). A natureza jurídica do direito aduaneiro é de direito público, muito vinculada ao direito internacional público, pois as ações efetuadas são de origem aduaneira, sendo estas ações públicas e normatizadas, em sua maior parte, por acordos internacionais. O objeto do direito aduaneiro está vinculado às relações jurídicas que se constituem a partir das relações de comércio internacional, quando bens, pessoas ou ainda veículos, saem da jurisdição do território aduaneiro. Segundo Carlucci (2001, p. 23), a especificidade do direito aduaneiro tem suas origens em alguns fatores, sendo eles: 1. Origem consuetudinária: os usos comerciais, internos ou externos exigiram e condicionaram as normas, dando feições próprias ao direito aduaneiro. 2. Técnica específica: a necessidade da classificação alfandegária de mercadorias, dos conceitos jurídicos e econômicos precisos, como valor, preço, notas de tarifas etc. 3. Acelerado dinamismo: evolução da técnica de transporte e comunicações, a incidência dos convênios e outros atos internacionais, o incremento dos blocos econômicos e organismos internacionais etc. UNIDADE 1 | PRESSUPOSTOS DA LEGISLAÇÃO ADUANEIRA 6 4. Importância do fator econômico e o contencioso aduaneiro: com ritos próprios para processos específicos. 5. Influência preponderante dos tratados: uma grande variedade preponderando os acordos e convenções internacionais. 3 A LEI BRASILEIRA E O DIREITO ADUANEIRO Caro acadêmico, as normativas legais que estabelecem as regras das relações comerciais internacionais e, a partir deste contexto, do próprio direito aduaneiro, evoluíram e permanecem em constante evolução, acompanhando a realidade construída pela economia e pela própria sociedade de determinado território. Na concepção de Carlucci (2001), o direito aduaneiro brasileiro está caracterizado e influenciado por alguns fatores, sendo estes: a) Diversidade de órgãos intervenientes: ● Ministério da Fazenda (SRF e BACEN) - Operações cambiais. - Fiscalização dirigida ao fim arrecadatório. - Controle do fluxo de mercadorias – importação e exportação. - Expressividade da barreira não tarifária (burocracia, excesso de papéis, excesso de controles formais, laudos técnicos etc.). - Controle de valor aduaneiro das mercadorias. - Repressão ao contrabando e descaminho e repressão ao tráfico ilícito de drogas na zona primária. ● Ministério da Indústria e do Comércio e Ministério do Turismo - Licenciamento de importações e exportações. - Investigação de dumping e subsídios. - Processo de redução de alíquotas do imposto de importação. - Controle do preço de mercadorias importadas e exportadas. ● Ministério da Justiça - Fiscalização de tripulantes de embarcações e aeronaves. - Fiscalização de passageiros (imigração). - Repressão ao contrabando e descaminho. - Repressão ao tráfico de drogas. TÓPICO 1 | PERFIL DA LEGISLAÇÃO ADUANEIRA 7 ● Ministérios Militares - Fiscalização da importação de armas e munições. - Fiscalização de produtos controlados. ● Ministérios da Agricultura e da Saúde. - Controle da importação de medicamentos, vegetais, sementes, agrotóxicos, animais etc. FONTE: Disponível em: <www.bc.furb.br/docs/MO/2009/337527_1_1.pdf>. Acesso em: 2 out. 2012. b) A existência de uma superposição de serviços, uma normatização abundante, a necessidade de quadro funcional especializado e um regulamento aduaneiro ainda voltado quase que em sua integralidade para a satisfação tributária. Encontramos, hoje, no território brasileiro, o Decreto-lei n◦ 37/66 e o Decreto nº 6.759/09, como alguns textos legais que orientam e determinam a atuação das relações de comércio internacional. Ou seja, representam as normas jurídicas do direito aduaneiro. Lembrando que os acordos e tratados internacionais igualmente direcionam estas atividades comerciais, e que estes textos legais não abrangem todas as situações, sendo ainda originadas normas complementares, portarias, resoluções, dentre outros. UNI DUMPING - SAIBA O QUE É “Dumping: normalmente, caracteriza o abuso de caráter internacional. Uma empresa recebe subsídio oficial de seu país de modo a baratear excessivamente o custo do produto. Como o preço é muito inferior ao das empresas que arcam com os próprios custos, ficam estas sem condições de competir com aquelas, propiciando-lhes uma inevitável elevação de lucros” (CARVALHO FILHO, 2011, p. 843). UNIDADE 1 | PRESSUPOSTOS DA LEGISLAÇÃO ADUANEIRA 8 4 O PAPEL DA ADUANA NO CONTEXTO NORMATIVO Aaduana está reconhecida como órgão ou instituição que executa a política aduaneira. Na percepção de Carlucci (2001, p. 21), “a aduana designa a instituição jurídica, a organização ou entidade na totalidade de seus aspectos e funções e seus múltiplos fins: arrecadação, protecionismo, controle administrativo etc”. O autor prossegue afirmando que as alfândegas são repartições das adunas e que aplicam as normas e controles das aduanas. Sosa (1995, p. 51) afirma que “é incumbência da aduana verificar se foram observados, pelos particulares e pelo próprio Estado, na pessoa dos entes públicos, os procedimentos de admissão aduaneira, o que implica em verificar se foram atendidos todos os preceitos legais vigentes, especialmente os referentes às normas administrativas propriamente ditas e, subsidiariamente, aqueles relativos ao câmbio”. As aduanas, nesta proposta, têm a lógica de estar no uso do poder estatal, executando a atividade reguladora do Estado, na perspectiva de que a função normativa está descrita em três áreas, relembrando: administrativa, cambial e fiscal. 5 O PODER ADUANEIRO COMO MEIO DE COAÇÃO LEGAL A aduana está dotada de um poder legal, que é o de fazer cumprir regramentos legais instituídos como necessários e esperados, quando falamos das operações de comércio exterior ou, ainda, relações comerciais internacionais. Este poder do qual a aduana está instituída não é aplicável somente aos particulares, mas também ao Estado, quando este pratica atividades que envolvem o comércio internacional. Sosa (1995, p. 52) exemplifica este poder aduaneiro na capacidade que a aduana tem de direcionar o fluxo de transporte em um determinado sentido. Não está no livre-arbítrio do comandante de uma embarcação escolher porto para descarregar ou carregar mercadorias, senão onde se localize uma aduana. Tampouco pode uma aeronave em voo internacional escolher, ao bel-prazer do piloto, aeroporto à sua conveniência exclusiva. Salvo casos fortuitos devidamente regulados em lei, os veículos devem ingressar em território nacional somente em locais onde se situem repartições alfandegárias. TÓPICO 1 | PERFIL DA LEGISLAÇÃO ADUANEIRA 9 6 O CONCEITO DE JURISDIÇÃO ADUANEIRA “A jurisdição aduaneira é conhecida na concepção de: poder conferido à Alfândega para que, nos limites do território jurisdicional, aplique a lei aduaneira, ou, mais propriamente dito, o direito aduaneiro” (SOSA, 1995, p. 55). No território brasileiro, a jurisdição aduaneira está compreendida no próprio território nacional. Ou seja, o território brasileiro e o território aduaneiro são geograficamente os mesmos. Parafraseando Sosa (1995), a pretensão de se estender a aduana para o interior do território brasileiro estava inicialmente na proposta de prevenir e reprimir as fraudes, contrabandos e descaminhos de mercadorias, que porventura pudessem acontecer e, por consequência, estarem sendo trazidas ao Brasil mercadorias clandestinas, movimentando equivocadamente a economia nacional. 7 A INTERIORIZAÇÃO ADUANEIRA Os processos empreendidos nas relações comerciais internacionais precisam, necessariamente, acompanhar a evolução das tratativas e da conjuntura econômica estabelecida. Nesta proposição, a interiorização vem ao encontro do atendimento aos interesses estabelecidos. A política de interiorização provém da necessidade de agilidade, buscando reduzir os tempos de desembaraço e de entrada das mercadorias em circulação econômica. Os importadores e exportadores têm todo interesse em contar com aduanas as mais próximas possíveis dos centros produtivos, buscando otimizar e acelerar as saídas dos produtos. Caro acadêmico, a penalidade aplicada quando do descumprimento da regra acima descrita e tida como básica nas relações de comércio internacional é inicialmente a apreensão do veículo e das mercadorias, podendo chegar ao “perdimento das mercadorias” em favor do Estado. UNIDADE 1 | PRESSUPOSTOS DA LEGISLAÇÃO ADUANEIRA 10 8 CONCEITOS DE DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO E PRIVADO O direito internacional público, nas palavras de Varella (2011, p. 21), “é o conjunto de regras e princípios que regulam a sociedade internacional. A sociedade internacional é composta por Estados, organizações internacionais e, mais recentemente, se aceita em diferentes níveis a participação de entes com algumas características estatais, a exemplo de movimentos de libertação, sistemas regionais de integração, além de outros atores, como indivíduos, empresas e organizações não governamentais”. Este ramo do direito nasceu na Idade Média e vem crescendo a partir da interdependência global, fenômeno enfatizado no século XX e que permanece em constante modificação. No direito internacional público, a preocupação está no direito que regula as relações entre os estados ou entre os estados e outros atores internacionais. O direito internacional público também pode ser chamado de direito das gentes, são expressões sinônimas. (VARELLA, 2011). Lembrando que sujeitos de direito são aqueles capazes de serem titulares de direitos e obrigações no direito internacional. Os estados e as organizações internacionais são denominados de sujeitos do direito internacional. Entretanto, Varella (2011) reafirma que atores internacionais são todos aqueles que participam de alguma forma das relações jurídicas e políticas internacionais, sendo, portanto, uma expressão ampla, quando relacionada aos sujeitos do direito internacional. O direito internacional possui características específicas, elencadas por Varella (2011, p. 25): a) A inexistência de subordinação dos sujeitos de direito a um Estado. b) A inexistência de uma norma constitucional acima das demais normas. c) A inexistência de atos jurídicos unilaterais obrigatórios, oponíveis a toda sociedade internacional. Acadêmico, de uma forma simplificada, não existe a possibilidade de um Estado ter poder sobre outro Estado. Ninguém é superior ao outro. Todos estão no mesmo nível. Da mesma forma que não existe uma lei, ou texto legal, que possa ser comparada ou esteja colocada em grau superior ao da Constituição de cada Estado. Da mesma forma que o direito internacional possui características, encontramos princípios gerais que o norteiam, sendo estes, na ótica de Varella (2011, p. 25): TÓPICO 1 | PERFIL DA LEGISLAÇÃO ADUANEIRA 11 a) Igualdade soberana. b) Autonomia, não ingerência nos assuntos internos dos outros estados. c) Interdição do recurso à força e solução pacífica de controvérsias. d) Respeito aos direitos humanos. e) Cooperação internacional. Estes princípios determinam que todos os estados são iguais perante o direito que lhes cabe. O Estado pode governar a si mesmo, atendendo a seus próprios interesses, não podendo nenhum outro Estado interferir neste processo. Havendo alguma situação ou conflito entre os estados, estes devem procurar solucioná- lo por meio de soluções pacíficas que existem e estão dispostas para todos. Os Estados devem buscar proteger de forma contundente os direitos humanos e, por fim, os estados devem conduzir seus atos conjuntamente, colaborando uns com os outros para que todos busquem e alcancem os objetivos a que se propuseram. O direito internacional privado está voltado para a resolução de eventuais litígios que possam ocorrer entre particulares que ultrapassam as fronteiras nacionais. Esta situação acontece, normalmente, pela mobilidade das pessoas, pelas relações comerciais estabelecidas ou outras situações afins. Podemos citar, como exemplo, o fato de um(a) brasileiro(a) casar com um(a) estrangeiro(a), um brasileiro sofrer um acidente de carro no exterior, uma empresa brasileira que adquire equipamentos de uma empresa estrangeira etc. Segundo Rechsteiner (2011, p. 22-23): São situações nasquais ressalta o fato de possuírem uma conexão internacional, sendo este elemento comum. Ou porque as pessoas envolvidas têm nacionalidade estrangeira ou o domicílio ou a sede de uma ou de ambas as partes do negócio jurídico está situado no exterior. Ou ainda um outro fato: um bem está localizado ou um direito é adquirido além-fronteiras, são situações onde o direito internacional privado é aplicável. “O direito internacional privado é representado por normas que definem qual o direito a ser aplicado a uma relação jurídica com conexão internacional” (RECHSTEINER, 2011, p. 23). Caro acadêmico, é importante ressaltar que o direito internacional privado se restringe somente às relações jurídicas de direito privado com conexão internacional, não sendo adaptado para resolver conflitos de leis internacionais de direito público. UNIDADE 1 | PRESSUPOSTOS DA LEGISLAÇÃO ADUANEIRA 12 As fontes formais do direito internacional são encontradas nos tratados que são identificados como acordos internacionais concluídos entre estados ou estados e organizações internacionais, regidos pelo direito internacional , que constem de um instrumento único, quer de dois ou mais instrumentos conexos, qualquer que seja sua denominação específica (VARELLA, 2011, p. 37). Você pode perceber, caro acadêmico, a importância da existência de uma regulamentação em lei de situações que acontecem e envolvem estados ou particulares. Ou ainda ambos, para que, na eventualidade de conflitos, os envolvidos tenham segurança na aplicação de leis que possam resguardar o justo direito e a paz entre os países. UNI O direito é o conjunto de normas obrigatórias que determinam a vida em sociedade. Apesar de ser um todo, único, ele é dividido em ramos específicos, facilitando seus estudos e sua maneira de aplicá-lo. O direito divide-se em privado (regula as relações jurídicas dos particulares) e público (regula e disciplina as relações jurídicas de interesse estatal ou do Estado). 13 Neste tópico você: • Compreendeu a proposta da concepção do direito aduaneiro e o papel do Estado nesta percepção. • Identificou os fatores que caracterizam os textos legais aduaneiros no território brasileiro. • Analisou o papel da aduana, o poder aduaneiro, o conceito de jurisdição aduaneira e de interiorização aduaneira. • Reconheceu os conceitos de direito internacional público e direito internacional privado. RESUMO DO TÓPICO 1 14 1 Identifique os sujeitos do direito internacional público. 2 Explique o poder de coação legal da aduana. 3 O que significa o princípio da igualdade soberana no direito internacional? AUTOATIVIDADE 15 TÓPICO 2 O CONTROLE DOS PROCEDIMENTOS ADUANEIROS UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO A relação de comércio internacional é estabelecida por regras descritas em leis e aqueles que a fiscalizam a sua execução devem observar exatamente a descrição destas normas. Os regulamentos impostos determinam a forma de circulação e entrada de pessoas e mercadorias em território estrangeiro. As regras de nosso território para as relações aduaneiras, igualmente, compreendem a forma de controle e fiscalização daqueles que entram no território brasileiro, sendo este o papel das aduanas ou das alfândegas. Relembramos que o território alfandegário brasileiro compreende toda extensão territorial brasileira. Portanto, a fiscalização ocorre em todo território nacional por órgãos competentes para a realização destas atividades. Diante desta perspectiva, caro acadêmico, estudaremos a partir de agora circunstâncias que envolvem as entradas aduaneiras e situações que podem ocorrer em relação à entrada de pessoas, veículos e mercadorias, estas últimas com a possibilidade de “perdimento”, além de buscarmos a compreensão do termo jurisdição. Vamos aos estudos! 2 CONCEITO DE ENTRADA ADUANEIRA Sosa (1995, p. 109) descreve entrada aduaneira como “ingresso de veículo, mercadorias ou pessoas num dado território sob jurisdição da alfândega, sendo condição implícita de que estas procedam do exterior”. É importante observar, caro acadêmico, mesmo que se possa achar redundante, que a entrada deve ser de mercadorias, veículo ou pessoas que venham do exterior, já que o território brasileiro e o território alfandegário, como já vimos, são geograficamente os mesmos. UNIDADE 1 | PRESSUPOSTOS DA LEGISLAÇÃO ADUANEIRA 16 2.2 ESPÉCIES DE ENTRADAS ADUANEIRAS A entrada aduaneira é gênero que incorpora algumas espécies, e as mais reconhecidas por autores diversos, estão reconhecidas como entrada aduaneira de mercadorias, a entrada aduaneira de veículos e a entrada aduaneira de pessoas. 2.2.1 Entrada aduaneira de veículos Os veículos estão identificados em razão de sua natureza e de como se locomovem, sendo, portanto, aquaviários, terrestres e aéreos. Os aquaviários ainda podem ser marítimos, lacustres e fluviais. Os terrestres podem ser rodoviários e ferroviários. Vale lembrar que cada veículo pode possuir ainda outras tantas classificações, como os aéreos, que podem ser cargueiros ou comerciais, sendo utilizados para transporte de passageiros ou de cargas. Passaremos a relatar a visita e busca aduaneiras, na descrição feita por Sosa (1995, p. 110-111): 1. Os veículos marítimos, ao aportarem, são recebidos pela autoridade aduaneira. Nesta oportunidade, declaram a natureza de sua viagem, cargas transportadas e equipamentos de transporte para aquele e outros portos, número de tripulantes, passageiros etc. É lavrado termo de visita aduaneira. 2. Nos veículos aéreos, o procedimento é semelhante. Nos veículos terrestres, praticamente inexistem formalidades. Entretanto, a verificação ocorre no sentido de que os transportadores devem estar habilitados para exercer o transporte internacional, na obediência dos convênios de transporte firmados com países limítrofes e terceiros cujas redes viárias permitem tráfego internacional. 3. Podem ocorrer, na ocasião da entrada do veículo, vistorias que são chamadas de busca aduaneira, que estão enquadradas nas atividades preventivo-repressivas da Alfândega. Estas vistorias têm por objetivo abordar embarcações dentro dos limites jurisdicionais para vistoriá- las, antes mesmo que aportem, mas são situações excepcionais. É importante registrar que, de acordo com cada local de entrada de veículos, serão encontradas especificidades na alfândega, principalmente as localizadas nas regiões de fronteira. O Decreto nº 6.759/2009, que regulamente a administração das atividades aduaneiras e a fiscalização, o controle e a tributação das operações de comércio exterior, prevê em seus arts. 26 e 27: TÓPICO 2 | O CONTROLE DOS PROCEDIMENTOS ADUANEIROS 17 Art. 26. A entrada ou a saída de veículos procedentes do exterior ou a ele destinados só poderá ocorrer em porto, aeroporto ou ponto de fronteira alfandegado. § 1o O controle aduaneiro do veículo será exercido desde o seu ingresso no território aduaneiro até a sua efetiva saída, e será estendido a mercadorias e a outros bens existentes a bordo, inclusive a bagagens de viajantes. § 2o O titular da unidade aduaneira jurisdicionante poderá autorizar a entrada ou a saída de veículos por porto, aeroporto ou ponto de fronteira não alfandegado, em casos justificados, e sem prejuízo do disposto no § 1o. Art. 27. É proibido ao condutor de veículo procedente do exterior ou a ele destinado: I - estacionar ou efetuar operações de carga ou descarga de mercadoria, inclusive transbordo, fora de local habilitado; II - trafegar no território aduaneiro em situação ilegal quanto às normas reguladoras do transporte internacional correspondente à sua espécie; e III - desviá-lo da rota estabelecida pela autoridade aduaneira, sem motivo justificado. (BRASIL, 2012). UNI Acesse o link: <http://www.receita.fazenda.gov.br/legislacao/ins/ant2001/1998/in13798.htm> e conheça a instrução normativa da Receita Federal que dispõe sobre o tratamento tributário e o controle aduaneiro aplicáveis à operação de navio estrangeiro em viagem de cruzeiro pela costa brasileira, possuindo a situação de busca ou visita aduaneira. 2.2.2 Entrada aduaneira de mercadorias Segundo Sosa (1995), as mercadorias ingressam no país definitivamente quando são absorvidas pelo aparelho reprodutivo e entram em circulação econômica. Caso das matérias-primas, insumos, produtos intermediários ou produtos acabados. Ou ainda os ingressos podem ser temporários, na condição de retornarem ao exterior. A Receita Federal, em seu site e link, disponível em: <http://www.receita. fazenda.gov.br/aduana/regadmexporttemp/regadm/regespadmtemp.htm>, define admissão temporária de mercadorias como: Admissão Temporária é o regime aduaneiro que permite a entrada no país de certas mercadorias, com uma finalidade e por um período de tempo determinados, com a suspensão total ou parcial do pagamento de tributos aduaneiros incidentes na sua importação, com o compromisso de serem reexportadas (RECEITA FEDERAL, 2012). Igualmente, a Receita Federal define os bens dentre outros que podem ser submetidos ao regime de admissão temporária, destinados: UNIDADE 1 | PRESSUPOSTOS DA LEGISLAÇÃO ADUANEIRA 18 FONTE: Disponível em: <http://www.receita.fazenda.gov.br/aduana/regadmexporttemp/regadm/ regespadmtemp.htm>. Acesso em: 3 out. 2012. A mercadoria entra na aduana a partir da declaração do transportador, sendo o documento que assim o identifica o manifesto de cargas. O importador, tendo em mãos o título de propriedade, que é o conhecimento de carga, levará a mercadoria aos procedimentos destinados ao despacho aduaneiro, que terá como processo final o desembaraço fiscal. l A feiras, exposições, congressos e outros eventos científicos, técnicos, comerciais ou industriais. l A eventos de caráter cultural e esportivo. l A promoção comercial, inclusive amostras sem destinação comercial e mostruários de representantes comerciais. l Ao exercício temporário de atividade profissional de não residente. l Ao uso de viajante não residente, quando integrantes de sua bagagem. l Bens trazidos durante visita de dignitários estrangeiros. l Bens reutilizáveis para acondicionamento e manuseio de outros bens importados ou a exportar. l Bens a serem submetidos a ensaios, testes, conserto, reparo ou restauração. l Bens a serem utilizados com finalidade econômica no Brasil (empregados na prestação de serviços ou na produção de outros bens). 2.2.3 Entrada aduaneira de pessoas Encontramos neste critério de admissão três níveis: a entrada de pessoas que se dedicam a tripular veículos em viagens internacionais (equipagens), pessoas que utilizam os veículos na qualidade de passageiros e pessoas que têm a condição especial de representantes diplomáticos ou funções afins. Segundo Sosa (1995), a lei aduaneira diferencia as pessoas com relação ao tratamento fiscal a elas dispensado. No caso das tripulações é permitido o desembaraço de objetos de uso pessoal indispensável à estadia em terra, sendo proibida a descarga de outros pertences. A exceção feita é se o tripulante, naquele momento, estiver se desligando como tripulante efetivo do veículo, quando passará a ser tratado como passageiro comum. Na situação de passageiros comuns, turistas e em viagem de negócios, têm tratamento fiscal de isenção tributária, quando relacionamos os bens e pertences de uso pessoal indispensáveis à sua estadia. Exceções serão feitas quando excederem o valor determinado em lei para isenção tributária para as mercadorias trazidas. Da mesma forma que existem mercadorias com isenção especial, além da situação de estrangeiros que tenham a prerrogativa de estabelecer residência definitiva no país, situações estas que necessitam ser devidamente comprovadas. TÓPICO 2 | O CONTROLE DOS PROCEDIMENTOS ADUANEIROS 19 Art. 2◦ Constitui mala diplomática ou consular, nos termos do art. 27 da Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas (CVRD) e do art. 35 da Convenção de Viena sobre Relações Consulares (CVRC), promulgadas, respectivamente, pelos Decretos n◦ 56.435, de 11 de junho de 1965, e n◦ 61.078, de 26 de julho de 1967, o volume que contenha: I - documentos diplomáticos ou consulares, apresentados sob qualquer meio físico; ou II - materiais, objetos e equipamentos destinados a uso oficial da representação do Estado acreditante, tais como papel timbrado, envelopes, selos, carimbos, caderneta de passaporte, insígnias de condecorações, equipamentos de informática e de comunicação. Parágrafo único. A mala diplomática ou consular não está sujeita a limite de volume ou de peso. Art. 3◦ A mala diplomática ou consular está dispensada do despacho aduaneiro de importação e de exportação e será liberada pela autoridade aduaneira em procedimento sumário, à vista dos elementos de identificação ostensiva, mediante a apresentação de: A legislação estabelece pressupostos especiais no tratamento aduaneiro aos diplomatas e com funções afins, onde é deferida isenção especial na obediência aos convênios internacionais e da reciprocidade de tratamento entre estes países (Convenção de Viena). UNI Acesse o link: <http://www.receita.fazenda.gov.br/Legislacao/LegisAssunto/ Bagagem.htm> e conheça o ordenamento legal disponível sobre a entrada e saída de bagagens na aduana. A Instrução Normativa da Secretaria da Receita Federal do Brasil SRF nº 338, de 7 de julho de 2003, traz o conceito de mala diplomática e o tratamento aduaneiro desta: UNIDADE 1 | PRESSUPOSTOS DA LEGISLAÇÃO ADUANEIRA 20 I - documento emitido pelo Estado acreditante que indique a condição de correio diplomático ou consular e o número de volumes que a constituem, quando conduzida como bagagem acompanhada; II - documento emitido pelo Estado acreditante que indique o número de volumes que a constituem, quando confiada a comandante da aeronave; ou III - conhecimento de carga ou documento equivalente consignado à missão diplomática ou à repartição consular, quando enviada como carga. § 1◦ Na hipótese dos incisos II ou III, a mala somente será entregue a integrante da missão diplomática ou repartição consular, ou a pessoa autorizada a recebê-la. § 2◦ Quando remetida ao amparo de conhecimento de carga ou documento equivalente, a mala diplomática ou consular deverá receber tratamento de carga que não implique sua destinação para armazenamento, exceto se o interesse do Estado acreditante determinar tratamento diverso. Art. 4◦ A mala diplomática ou consular não poderá ser aberta ou retida. § 1◦ No caso de denúncia ou de suspeita fundada de uso da mala consular para a importação ou a exportação irregular de bens e mercadorias, a fiscalização aduaneira solicitará a abertura dos volumes, em sua presença, por representante autorizado do Estado que a envia. § 2◦ Em caso de recusa da verificação referida no § 1◦ por parte da representação do Estado que envia, a mala consular será devolvida à origem. § 3◦ Na hipótese prevista no § 1◦, a unidade local da SRF que conhecer do fato deverá notificar imediatamente o Ministério das Relações Exteriores (MRE), por intermédio da Coordenação-Geral de Administração Aduaneira (Coana). Art. 5◦ As importações e exportações promovidas por missões diplomáticas ou repartições consulares que não se enquadrem no conceito de mala diplomática ou consular serão regularmente submetidas a despacho aduaneiro, nos termos desta Instrução Normativa. FONTE: Disponível em: <http://www.receita.fazenda.gov.br/legislacao/ins/2003/ in3382003.htm>. Acesso em: 3 out. 2012. TÓPICO 2 | O CONTROLE DOS PROCEDIMENTOS ADUANEIROS 21 2.3 EXERCÍCIO DO PODER DISCRICIONÁRIO NAS ENTRADAS ADUANEIRAS A alfândega ou aduana, como vimos anteriormente,pode direcionar o fluxo de transporte, sempre tomando como referência a regra de que os veículos que trazem pessoas ou mercadorias somente entrem no território aduaneiro em pontos ou locais alfandegados. Portanto, fica claro que se torna irregular qualquer entrada fora desses pontos ou locais legalmente habilitados como aduaneiros. O ingresso irregular permite que a aduana atue de forma preventiva e repressiva, possuindo a capacidade de apreender veículos e mercadorias que eventualmente possam ultrapassar o controle fiscal, infringindo a linha aduaneira. Se isto vier a ocorrer, a ação da aduana é ativa, baseada no poder de polícia a ela inerente. Ou também conhecido como poder discricionário. Os veículos devem, com antecedência e na forma prevista na lei, informar a sua chegada. A partir deste momento, a autoridade aduaneira emprega os procedimentos destinados ao ingresso de veículos. Observa a entrega dos manifestos de carga, os efeitos das declarações das mercadorias relacionadas para os fins da alfândega. Entretanto, segundo Sosa (1995), se o particular deixar de atender a algum requisito formal ou se abstiver de apresentar declaração à Alfândega, imediatamente entrará em ação, que poderá levar à determinação de abertura de volumes, malas, vistoriar porões etc. UNI Define o Código Tributário Nacional: CTN. Art. 78. Considera-se poder de polícia a atividade da administração pública que, limitando ou disciplinando direito, interesse ou liberdade, regula a prática de ato ou abstenção de fato, em razão de interesse público concernente à segurança, à higiene, à ordem, aos costumes, à disciplina da produção e do mercado, ao exercício de atividades econômicas dependentes de concessão ou autorização do poder público, à tranquilidade pública ou ao respeito à propriedade e aos direitos individuais ou coletivos. Parágrafo único: Considera-se regular o exercício do poder de polícia quando desempenhado pelo órgão competente nos limites da lei aplicável, com observância do processo legal e, tratando-se de atividade que a lei tenha como discricionária, sem abuso ou desvio de poder. FONTE: Código Tributário Nacional. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l5172.htm>. Acesso em: 10 set. 2012. UNIDADE 1 | PRESSUPOSTOS DA LEGISLAÇÃO ADUANEIRA 22 3 O PROCESSO ADUANEIRO CONTENCIOSO Carlucci (2001, p. 205): Observa que o contencioso aduaneiro tem por objeto a resolução de um conflito de interesses submetido ao julgamento de um órgão atuando com função jurisdicional, tendo por um lado o Estado, credor de uma obrigação tributário-aduaneira, cujos crédito e sanção são por ele reclamados e, por outro lado, o suposto infrator, o contribuinte ou demandado, que procura a prestação de uma justiça e a defesa de seus direitos fundamentais. O contencioso aduaneiro nada mais é que um procedimento administrativo instaurado no momento em que se encontra alguma situação que necessite de solução ou verificação em razão das regras determinadas no direito aduaneiro para entradas ou saídas de veículos, pessoas e mercadorias. UNI Finalidade da função jurisdicional A finalidade da função jurisdicional é resolver os conflitos da sociedade, aplicando as normas aos casos concretos, levando à harmonização social (convivência harmônica). A ideia de jurisdição é a de uma decisão definitiva do conflito. O Estado-juiz substitui a vontade particular pela vontade do Estado. Desde que as partes não consigam a chamada autocomposição (solução pacífica e natural do conflito), torna-se necessário que se leve o exame desse conflito ao Poder Judiciário. FONTE: FUNÇÕES DO ESTADO. Disponível em: <http://www.licoesdedireito.kit.net/ constitucional/constitucional-judiciario.html>. Acesso em: 10 set. 2012. Na concepção de José Del Cueto (apud CARLUCCI 2001, p. 206-208), existem alguns princípios aplicados ao contencioso aduaneiro, assim determinados: a) Princípio da jurisdicionalidade formal: evita que o mesmo órgão atue como juiz e parte. No Brasil encontramos este princípio representado pela instância judicial que efetua o controle dos atos administrativos. b) Princípio da tutela da ordem pública: está representado pelo direito público, que neste segmento é o próprio direito aduaneiro. TÓPICO 2 | O CONTROLE DOS PROCEDIMENTOS ADUANEIROS 23 4 O CONTENCIOSO ADUANEIRO NO BRASIL O contencioso aduaneiro brasileiro pode ser dividido em dois segmentos: um a que se aplica o rito processual geral, comum a todos os tributos de competência da União, regido pelo Decreto nº 70.235, de 06/03/72, Decreto nº 6.103/2007 e Decreto nº 6.574/2011; e outro a que se aplicam ritos especiais. O artigo 7º do Decreto nº 70.235/1972 assim descreve: Art. 7º O procedimento fiscal tem início com: I - o primeiro ato de ofício, escrito, praticado por servidor competente, cientificado o sujeito passivo da obrigação tributária ou seu preposto; II - a apreensão de mercadorias, documentos ou livros; III - o começo de despacho aduaneiro de mercadoria importada (BRASIL, 2012). c) Princípio da unilateralidade eventual: a identificação deste princípio está nos procedimentos administrativos aduaneiros em que existe apenas uma parte – o Estado – nos casos de apreensão de mercadorias em que não se pode identificar o infrator. Nos casos de mercadorias abandonadas nos recintos alfandegados, nos casos de mercadorias submetidas a regimes aduaneiros especiais. d) Princípio do devido processo legal: é o princípio constitucional que assegura a todos o direito a um processo justo e com todas as regras previstas em lei, bem como todas as garantias constitucionais. e) Princípio da tendência ao equilíbrio de poderes: em razão do princípio da tutela da ordem pública, o demandado é o que possui poderes mais restritos. O Estado tem a seu favor uma gama de presunções cuja destruição está a cargo do demandado. f) Princípio da verdade real: no processo aduaneiro a sentença é independente da vontade das partes (no que se respeita às provas) e o julgador está obrigado a constatar a autenticidade dos fatos. g) Princípio da preclusão: implica na perda, extinção ou consumação de uma faculdade processual. h) Princípio da rapidez: o processo aduaneiro deve ser caracterizado pela rapidez, simplicidade e economia de seus procedimentos. i) Princípio da imediação: pelo qual se autoriza o saneamento das incorreções ou omissões antes da decisão de primeira instância. j) Princípio da estruturação dual: no Brasil se adota o princípio da unidade de jurisdição. UNIDADE 1 | PRESSUPOSTOS DA LEGISLAÇÃO ADUANEIRA 24 Caro acadêmico, passaremos a analisar de forma sucinta algumas situações de contencioso aduaneiro que possam servir de parâmetro para suas atividades. A determinação e a exigência de créditos tributários decorrentes de infração às normas aduaneiras são apuradas mediante processo administrativo fiscal, na forma do Decreto nº 70.235/1972. Tais créditos podem ser consequentes: a) Do começo do despacho aduaneiro de mercadorias. b) Da revisão de despacho aduaneiro procedida dentro do prazo decadencial de cinco anos da data do registro da Declaração de Importação. Carluci afirma (2001, p. 208) que: O processo de determinação e exigência de crédito tributário relativo ao Imposto de Importação ou infração administrativa ao controle de importações, diferentemente dos demais tributos federais, é condicionado à existência de garantia representada pela retenção da mercadoria nos armazéns alfandegados ou a sua substituição por fiança bancária, depósito em dinheiro ou caução em títulos da dívida pública. Encontramos também os processos e atos contenciosos administrativos aduaneiros especiais, e dentre eles temos: 1. Processo de Perdimento: as infrações em que se aplique a pena de perdimento são regulamentadas pelo Decreto-Leinº 1.455/76, de forma mais específica o artigo 27: Art. 27. As infrações mencionadas nos artigos 23, 24 e 26 serão apuradas através de processo fiscal, cuja peça inicial será o auto de infração acompanhado de termo de apreensão, e, se for o caso, de termo de guarda (BRASIL, 2012). Vejamos o que dispõem os arts. 23, 24 e 26 do Decreto nº 1.455/76 com relação às referidas infrações: Art. 23. Consideram-se dano ao Erário as infrações relativas às mercadorias: I - importadas, ao desamparo de guia de importação ou documento de efeito equivalente, quando a sua emissão estiver vedada ou suspensa na forma da legislação específica em vigor; II - importadas e que forem consideradas abandonadas pelo decurso do prazo de permanência em recintos alfandegados nas seguintes condições: TÓPICO 2 | O CONTROLE DOS PROCEDIMENTOS ADUANEIROS 25 a) 90 (noventa) dias após a descarga, sem que tenha sido iniciado o seu despacho; ou b) 60 (sessenta) dias da data da interrupção do despacho por ação ou omissão do importador ou seu representante; ou c) 60 (sessenta) dias da data da notificação a que se refere o artigo 56 do Decreto-Lei n◦ 37, de 18 de novembro de 1966, nos casos previstos no artigo 55 do mesmo decreto-lei; ou d) 45 (quarenta e cinco) dias após esgotar-se o prazo fixado para permanência em entreposto aduaneiro ou recinto alfandegado situado na zona secundária. III - trazidas do exterior como bagagem, acompanhada ou desacompanhada e que permanecerem nos recintos alfandegados por prazo superior a 45 (quarenta e cinco) dias, sem que o passageiro inicie a promoção do seu desembaraço; IV - enquadradas nas hipóteses previstas nas alíneas "a" e "b" do parágrafo único do artigo 104 e nos incisos I a XIX do artigo 105, do Decreto-lei número 37, de 18 de novembro de 1966. V - estrangeiras ou nacionais, na importação ou na exportação, na hipótese de ocultação do sujeito passivo, do real vendedor, comprador ou de responsável pela operação, mediante fraude ou simulação, inclusive a interposição fraudulenta de terceiros. (Incluído pela Lei nº 10.637, de 30.12.2002). VI - (Vide Medida Provisória nº 320, 2006). § 1◦ O dano ao erário decorrente das infrações previstas no caput deste artigo será punido com a pena de perdimento das mercadorias. [...] § 2◦ Presume-se interposição fraudulenta na operação de comércio exterior a não comprovação da origem, disponibilidade e transferência dos recursos empregados. (Incluído pela Lei nº 10.637, de 30.12.2002). § 3º As infrações previstas no caput serão punidas com multa equivalente ao valor aduaneiro da mercadoria, na importação, ou ao preço constante da respectiva nota fiscal ou documento equivalente, na exportação, quando a mercadoria não for localizada, ou tiver sido consumida ou revendida, observados o rito e as competências estabelecidos no Decreto nº 70.235, de 6 de março de 1972. (Redação dada pela Lei nº 12.350, de 20 de dezembro de 2010). UNIDADE 1 | PRESSUPOSTOS DA LEGISLAÇÃO ADUANEIRA 26 Para que ocorra o devido processo legal no processo de perdimento, sendo este um dos princípios do contencioso aduaneiro, é preciso que sejam observadas algumas prerrogativas inerentes ao processo administrativo, entre as quais: § 4◦ O disposto no § 3◦ não impede a apreensão da mercadoria nos casos previstos no inciso I ou quando for proibida sua importação, consumo ou circulação no território nacional. (Incluído pela Lei nº 10.637, de 30.12.2002). Art. 24. Consideram-se igualmente dano ao Erário, punido com a pena prevista no parágrafo único do artigo 23, as infrações definidas nos incisos I a VI do artigo 104 do Decreto-lei número 37, de 18 de novembro de 1966. Art. 26. As mercadorias de importação proibida na forma da legislação específica em vigor serão apreendidas, liminarmente, em nome e ordem do Ministro da Fazenda. Parágrafo único. Independentemente do curso de processo criminal, as mercadorias a que se refere este artigo poderão ser alienadas ou destinadas na forma deste decreto-lei. FONTE: Disponível em: <http://www.portaltributario.com.br/legislacao/dl1455.htm>. Acesso em: 3 out. 2012. NOTA Pena de perdimento, o que é? A Pena de perdimento é, sem sombra de dúvida, a mais severa sanção administrativa existente no direito aduaneiro. Consiste na decretação da perda de mercadorias e veículos quando constatado, na operação de comércio exterior, dano ao erário. FONTE: CIESP. Pena de perdimento convertida em multa. Disponível em: <http://www. ciespsorocaba.com.br/releases-texto.php?id=892>. Acesso em: 12 set. 2012. TÓPICO 2 | O CONTROLE DOS PROCEDIMENTOS ADUANEIROS 27 Art. 27. [...] § 1º Feita a intimação, pessoal ou por edital, a não apresentação de impugnação no prazo de 20 (vinte) dias implica em revelia. § 2º Apresentada a impugnação, a autoridade preparadora terá o prazo de 15 (quinze) dias para remessa do processo a julgamento. § 3º O prazo mencionado no parágrafo anterior poderá ser prorrogado quando houver necessidade de diligências ou perícias, devendo a autoridade preparadora fazer comunicação justificada do fato ao Secretário da Receita Federal. § 4º Após o preparo, o processo será encaminhado ao Secretário da Receita Federal que o submeterá a decisão do Ministro da Fazenda, em instância única (Vide Medida Provisória nº 38, de 13.5.2002). § 5◦ As infrações mencionadas nos incisos II e III do art. 23 deste decreto-lei, quando referentes a mercadorias de valor inferior a US$ 500.00 (quinhentos dólares dos Estados Unidos da América), e no inciso IX do art. 105 do Decreto-Lei n◦ 37, de 18 de novembro de 1966, serão apuradas em procedimento simplificado, no qual: (Incluído pela Lei nº 12.058, de 13 de outubro de 2009). I - As mercadorias serão relacionadas pela unidade da Secretaria da Receita Federal do Brasil com jurisdição sobre o local de depósito, devendo a relação ser afixada em edital na referida unidade por 20 (vinte) dias; e (Incluído pela Lei nº 12.058, de 13 de outubro de 2009). II - Decorrido o prazo a que se refere o inciso I: (Incluído pela Lei nº 12.058, de 13 de outubro de 2009). a) Sem manifestação por parte de qualquer interessado, serão declaradas abandonadas e estarão disponíveis para destinação, dispensada a formalidade a que se refere o caput, observado o disposto nos arts. 28 a 30 deste decreto-lei. Ou (Incluído pela Lei nº 12.058, de 13 de outubro de 2009). b) Com manifestação contrária de interessado, será adotado o procedimento previsto no caput e nos §§ 1◦ a 4◦ deste artigo. (Incluído pela Lei nº 12.058, de 13 de outubro de 2009). § 6◦ O Ministro de Estado da Fazenda poderá complementar a disciplina do disposto no § 5◦, bem como aumentar em até 2 (duas) vezes o limite nele estabelecido. (Incluído pela Lei nº 12.058, de 13 de outubro de 2009). § 7◦ O disposto nos §§ 5◦ e 6◦ não se aplica na hipótese de mercadorias de importação proibida. (Incluído pela Lei nº 12.058, de 13 de outubro de 2009) (BRASIL, 2012). Decorridos os prazos previstos para a permanência de mercadorias em recintos alfandegados, os depositários devem fazer em cinco dias a comunicação ao órgão local da Secretaria da Receita Federal, relacionando as mercadorias e mencionando todos os elementos necessários à sua identificação dos volumes e do veículo transportador (art. 31, Decreto-Lei nº 1.455/76). UNIDADE 1 | PRESSUPOSTOS DA LEGISLAÇÃO ADUANEIRA 28 Com relação à comunicação da permanência da mercadoria nos recintos alfandegados diante da discussão no processo de perdimento, temos: Art. 31. [...] Parágrafo 1º: Feita a comunicação de que trata este artigo dentro do prazo previsto, a Secretaria da Receita Federal, com os recursos provenientes do FUNDAF, efetuará o pagamento, ao depositário da tarifa de armazenagem devida até a data em que retirar a mercadoria.
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