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35MEDICINA DO ESPORTE � O percentual de energia que pode ser obtido a partir das proteínas durante o exercício físico é pequeno. As Tabelas 1.3 e 1.4 mostram como, à medida que au- menta a intensidade (diferenças entre leve, moderada e intensa), tanto no exercício dinâmico como no estático, o trabalho se realiza com predomínio do processo anaeróbio sobre o aeróbio. Ambas as tabelas demonstram a utilização das diferentes fontes energéticas (carboidratos, lipídeos, proteínas) e o acúmulo de produtos finais como o lactato. Nelas também podem ser observados fatores como pH, flu- xo sangüíneo muscular e pressão intramuscular. Alguns exemplos de exercício dinâmico são caminhada, corrida, natação, ciclismo e remo. FISIOLOGIA DO MÚSCULO ESQUELÉTICO E EXERCÍCIO O tecido muscular constitui um sistema funcional especiali- zado que se encarrega das atividades que caracterizam o comportamento motor do organismo. Existem três tipos de músculo: o músculo cardíaco, o músculo liso e o músculo esquelético. Tabela 1.3 Utilização de carboidratos, lipídeos e proteínas no exercício dinâmico Exercício leve Exercício moderado Exercício intenso QR (quociente respiratório) 0,80-0,85 0,90 ≥ 0,95 % VO2máx 30-40 60-70 90 Utilização de glicogênio Leve Moderada Intensa Reserva de glicogênio Normal ↓ 20-30 min ↓↓ Depleção de glicogênio – Sim Sim Ácido láctico Pouco Aumento leve > 5 mmol/L Utilização de lipídeos Intensa Leve Nula Utilização de glicose Leve Moderada Intensa (láctica) Leve (aláctica) Utilização de proteínas Muito pouca Pouca Pouca Quoeficiente respiratório: CO2 produzido / O2 consumido; nos macronutrientes: gorduras, 0,7; proteínas, 0,83; carboidratos, 1. Tabela 1.4 Utilização da energia em exercícios estáticos Leve (20% 1 RM) Moderado (25-60% 1 RM) Intenso (> 80% 1 RM) Fonte energética Aeróbia Anaeróbia láctica ou aláctica Anaeróbia aláctica e/ou láctica Pressão intramuscular — Moderada – Intensa Intensa Fluxo sangüíneo muscular Muito bom Moderado – Pouco Fraco ou nulo Substrato extramuscular Muito bom Pouco Muito pouco ou nulo Utilização de glicogênio muscular Leve Intensa (láctico) e/ou Leve (aláctico) Leve CP Leve Moderado – Intenso Intenso com depleção Lactato liberado Leve Intensa (láctico) e/ou Leve (aláctico) Leve (aláctico) ou intenso (láctico) pH Normal Acidose (fadiga) Acidose (fadiga) Duração do trabalho > 6 30 s-6 min 5-25 s Movimento de tipos de fibras I (IIA) IIB, IIA (I) IIB (IIA, I) 1 RM = Uma repetição máxima de força muscular, explicada no Capítulo 5. Exemplo de exercício estático: halterofilismo, fisiculturismo e exercícios para o desenvolvimento muscular com predomínio isométrico. METABOLISMO E FORNECIMENTO DE ENERGIA DURANTE O EXERCÍCIO36 O músculo esquelético tem a capacidade de se contrair ao ser estimulado pelo sistema nervoso, provocando o des- locamento dos diferentes segmentos corporais. As fibras musculares representam a unidade estrutural e funcional do tecido muscular, na qual se fundamenta o comportamento contrátil do músculo estriado. Contração muscular A contração muscular é o resultado de uma seqüência de fenômenos que podem ser resumidos nas seguintes etapas: � Chegada de um impulso nervoso até a junção neuro- muscular ou placa motora, estrutura pela qual se trans- mite a ordem de contração do nervo até o músculo. � Liberação da mensagem (pacotes de acetilcolina), que chega até a membrana da fibra muscular, o sar- colema. � Alteração de permeabilidade do sarcolema para dife- rentes íons e despolarização, produzindo a excitação da fibra muscular. � Liberação de Ca++ do retículo sarcoplasmático e das cisternas para o sarcoplasma, seguida do acoplamen- to entre os filamentos de actina e miosina. � Deslizamento da actina sobre a miosina e contração muscular. � Recaptação de Ca++ para seus locais de depósito, desa- coplamento dos filamentos e relaxamento muscular. Estrutura do músculo esquelético Em geral, denomina-se músculo esquelético uma série de feixes musculares de tecido conjuntivo. Cada feixe é com- posto por milhares de células ou fibras musculares. Cada uma dessas fibras contém miofibrilas, que constituem 80% de seu volume. O número de miofibrilas pode variar de várias centenas a vários milhares por fibra. As miofibrilas são pequenos filamentos dispostos em séries repetidas ao longo da fibra. Cada miofibrila divide-se longitudinalmente em sarcômeros, que são as unidades funcionais do sistema contrátil. Os sarcômeros contêm dois tipos de filamentos: � Filamentos grossos, compostos pela proteína con- trátil miosina. � Filamentos finos, constituídos pela proteína contrátil actina. Teoria do deslizamento dos filamentos Quando uma fibra de um músculo esquelético se encurta ou contrai, o comprimento dos filamentos grossos e finos não varia. No entanto, os filamentos de actina deslizam sobre os de miosina pelo movimento das pontes que se formam entre a miosina e a actina. O comprimento do sar- cômero varia devido ao movimento interior da actina. O extremo globular da miosina tem um ponto enzimatica- mente ativo que catalisa a dissociação do ATP em fosfatos inorgânicos, liberando, assim, a energia química para o mo- vimento das pontes de contato entre as proteínas. O ATP também é necessário para romper a ligação entre a miosi- na e a actina no final do ciclo, de modo que todo o proces- so pode repetir-se. � Figura 1.10 Níveis de organização fibrilar no músculo esquelético. (Fonte: A.J. Vander et al. Human Fisiology, McGraw Hill, 1980, p. 212.) Músculo Fibras musculares Banda A Linha Z Zona H Fibra muscular Sarcômero Z Z Miofilamentos Filamento fino de actina Filamento grosso de miosina Miofibrila Z Z Banda I 37MEDICINA DO ESPORTE Tipos de fibras musculares Como citado anteriormente, as fibras musculares represen- tam a unidade estrutural e funcional do tecido muscular. As fibras musculares não são iguais em todos os múscu- los (Figura 1.11 e Tabela 1.5), nem todas as moléculas de miosina são idênticas; elas diferem em suas características metabólicas, que lhes conferem possibilidades mecânicas distintas. Distinguem-se, de forma geral, dois tipos de fi- bras (I e II), que, na verdade, subdividem-se em três: � Tipo I (vermelha). Fibra de contração lenta, resisten- te à fadiga, ou fibra lenta oxidativa (ST). � Tipo IIA (vermelha). Fibra de contração rápida, resis- tente à fadiga, ou fibra rápida oxidativa (FTO). � Tipo IIB (branca). Fibra de contração rápida, fatigá- vel, ou fibra rápida glicolítica (FTG). As características diferenciais dos três tipos de fibras musculares são mostradas na Tabela 1.5. Alguns músculos podem conter predominantemente um tipo de fibra, mas a maioria dos músculos é constituí- da por uma combinação dos três tipos, embora em diferen- Tabela 1.5 Classificação das fibras musculoesqueléticas Características Tipo I (vermelha) Tipo IIA (vermelha) Tipo IIB (branca) Denominação Lenta oxidativa (ST) Rápida oxidativa (FTO) Rápida glicolítica (FTG) Atividade de miosina ATPase Reduzida Intermediária Muito alta Velocidade de contração Lenta Rápida Rápida Fatigabilidade Resistente: a sensação de fadiga Resistente Esgota-se: a sensação de fadiga é é tardia rápida Retículo sarcoplasmático Pouco desenvolvido Intermediário Desenvolvido, com boa recaptação (recaptação Ca++) de Ca++ Número de mitocôndrias Numerosas Moderadas Poucas Atividade oxidativa Elevada Rede capilar Abundante Abundante Escassa Fontes de ATP Fosforilação oxidativa Fosforilação oxidativa Glicólise anaeróbia e CP Carboidratos Muito Muito Pouco (aláctico) ou Muito (láctico) Lipídeos Muito (≤ 70%FCmáx) Pouco Nulo Mioglobina Muito Moderada Pouco Citrato sintase Muito Moderado Pouco Sistema enzimático glicolítico Pouco Moderado Muito Desidrogenase láctica Pouco Moderado Muito Tamanho da fibra Pequeno Grande Grande Quantidade de miofibrilas por fibra Moderada Elevada Muito elevada F I B R A S M U S C U L A R E S Distinção Miosina Classificação I, IIA, IIB Rendimento esportivo Treinamento Interconversão � Figura1.11 Esquema dos mecanismos de adaptação das fibras musculares. tes proporções. Isso é importante, já que o músculo esque- lético deve cumprir diversas funções nas diferentes partes do corpo. METABOLISMO E FORNECIMENTO DE ENERGIA DURANTE O EXERCÍCIO38 A proporção entre as fibras tipos I e II é determinada geneticamente, mas em cada indivíduo os subtipos IIA e IIB podem variar em sua proporção com o passar do tempo. De qualquer forma, as características funcionais de cada músculo estão também relacionadas com o trabalho que vão realizar. Assim, parece que os nervos exercem uma in- fluência trófica, ajudando a diferenciar os dois tipos princi- pais de fibras (I e IIB) quanto a suas propriedades contrá- teis. Ao realizar transplantes musculares, tem-se observa- do que a localização do músculo transplantado pode pro- vocar modificações em algumas das propriedades contráteis de suas fibras. As alterações detectadas ocorrem na ativi- dade ATPásica da miosina do músculo reinervado. Por outro lado, diferentemente da ATPase da miosina, as enzimas metabólicas podem ser modificadas após um treinamento de resistência sistemático. Mecanismos de adaptação das fibras musculares ao tipo de treinamento: relação com o desempenho O rendimento de um atleta em uma determinada modali- dade esportiva está muito relacionado com a composição genética de suas fibras musculares. Porém, a adaptação neural ao treinamento varia em função do tipo de treina- mento predominante durante um tempo prolongado e pro- duz uma modificação das fibras musculares (Figura 1.11). O treinamento de resistência aeróbia prolongado pode ser acompanhado de uma transformação das fibras do tipo II em fibras do tipo I, colaborando principalmente para espe- cializar as do tipo IIA. No entanto, o treinamento de força não transforma as fibras do tipo I em fibras do tipo II, mas pode aumentar o tamanho dessas fibras, assim como sua atividade enzimática. Unidade motora A unidade motora é composta por um nervo motor (moto- neurônio) e pelas fibras musculares inervadas por esse ner- vo. A principal função da unidade motora é a contração muscular. Existem três tipos de unidades motoras, as quais possuem propriedades físicas, bioquímicas e estruturais si- milares às das fibras musculares que inervam (Tabela 1.6). Sua denominação e sua relação com cada tipo de fibra muscular é a seguinte: � Unidade motora tipo S: inerva as fibras musculares do tipo I. � Unidade motora tipo FF: inerva as fibras muscula- res do tipo IIA. � Unidade motora tipo FR: inerva as fibras muscula- res do tipo IIB. Durante a contração isométrica submáxima, em con- trações musculares progressivamente crescentes, as unida- des motoras e as fibras musculares que elas inervam são recrutadas seguindo o princípio do tamanho das fibras musculares, ou seja, de menor a maior, na ordem I, IIA e IIB. Por sua vez, cada unidade motora recrutada vai au- mentando progressivamente sua freqüência de impulso nervoso (esse tema é abordado no Capítulo 11). HIPERTROFIA DAS FIBRAS MUSCULARES Na hipertrofia muscular não existe um aumento na quanti- dade de fibras musculares, mas sim no tamanho dessas fibras. Existem diferentes métodos para seu desenvolvi- mento, que são abordados no Capítulo 11. O treinamento de força mediante hipertrofia muscular aumenta a quantidade e o tamanho das miofibrilas e também Tabela 1.6 Características estruturais e funcionais dos tipos de fibras musculares Tipos de fibras Características ST (I) FTO (IIA) FTG (IIB) Fibras por neurônio motor 10-180 300-800 300-800 Tamanho do neurônio motor Pequeno Grande Grande Velocidade de condução do nervo Lenta Rápida Rápida Velocidade de contração (m/s) 50 110 110 Tipo de miosina ATPase Lento Rápido Rápido Desenvolvimento do retículo sarcoplasmático Baixo Alto Alto Força da unidade motora Baixa Alta Alta Capacidade aeróbia oxidativa Alta Moderada Baixa Capacidade anaeróbia (glicolítica) Baixa Alta Alta 39MEDICINA DO ESPORTE aumenta o tecido conjuntivo, mas não induz aumento da vascularização, razão pela qual a densidade vascular diminui. Esse tipo de treinamento colabora para especializar as fibras musculares do tipo IIB em função do treinamento anaeróbio aláctico e láctico. A Figura 1.12 ilustra a hipertrofia muscular. RENDIMENTO ESPORTIVO E RELAÇÃO COM A DISTRIBUIÇÃO DAS FIBRAS MUSCULARES Na Figura 1.13 e na Tabela 1.7 observa-se a relação propor- cional encontrada entre a especialização em determinadas modalidades esportivas e a distribuição de fibras muscula- res, a qual foi obtida por microbiópsias. Os atletas de moda- lidades nas quais predomina a resistência aeróbia possu- em maior quantidade de fibras lentas (tipo I), como é o caso dos corredores de atletismo de fundo, esqui de fundo*, canoagem, remo e natação; já os que necessitam do forneci- mento predominante do metabolismo anaeróbio para seu rendimento esportivo possuem mais fibras rápidas (tipo II). METABOLISMO ENERGÉTICO DO MÚSCULO DURANTE O EXERCÍCIO O sistema muscular transforma energia química em mecâ- nica. Porém, para que ocorra a contração muscular, são necessárias a existência de um estímulo nervoso que exci- te o músculo e a presença de energia química utilizável pela fibra muscular. As principais fontes de energia para obter ATP, como vimos neste capítulo, são os carboidratos e os ácidos graxos na forma de triglicerídeos. Tipos de trabalho segundo a energia utilizada: formação de ATP A degradação para obter energia pode ser realizada de duas formas: na presença de O2 (combustão aeróbia) ou na au- sência de O2, por perda de hidrogênios (combustão anae- róbia) (Figura 1.14). Como sabemos, à medida que o traba- lho é mais intenso, diminui a disponibilidade de O2, e a produção de ATP decresce proporcionalmente. A glicólise, seguida do ciclo de Krebs, produz 38 ATP, ao passo que, quando não se dispõe de O2, formam-se apenas 2 ATP e ácido láctico. O trabalho anaeróbio pode ser de dois tipos: � Aláctico, em que se obtém ATP pela ruptura de liga- ções ricas em energia, sem produção de lactato. Pode manter um trabalho adequado por cerca de 30 s, usando ATP e fosfocreatina. � Láctico, em que se obtém ATP pela glicólise anaeró- bia, com produção de lactato. Sua aplicação à reali- zação de esforço pode ocorrer durante 150 s. Não resulta em uma via rentável por sua curta duração e pela produção de lactato, que interfere na função neurometabólica, levando rapidamente à fadiga. Seqüência para a utilização de energia As etapas para a utilização de energia são as seguintes: * N. de R. T. O esqui de fundo é o esqui na neve de longas distân- cias. Esporte de jogos olímpicos de inverno. H I P E R T R O F I A Miofibrilas Tamanho Tamanho Número Número Tecido conjuntivo Vascularização Fibras musculares � Figura 1.12 Hipertrofia das fibras musculares. % de fibras lentas 0 20 40 60 80 100 Atletismo de fundo Esqui de fundo Esqui alpino Corrida de 800 m Saltos, lançamentos de velocidade Controles � Figura 1.13 Porcentagem de fibras musculares lentas (fibra I) em diferentes modalidades esportivas. METABOLISMO E FORNECIMENTO DE ENERGIA DURANTE O EXERCÍCIO40 � Figura 1.14 Esquema das vias metabólicas utilizadas pelo músculo. ATP ADP + P + P Energia da contração (11 kcal/mol) � Glicogênio glicose Metabolismo aeróbio Metabolismo anaeróbio Ácido pirúvico Depósitos de energia Gorduras Proteínas Ácidos graxos Aminoácidos Ácido láctico Ácido acetoacético Ácido oxalacético 2 CO2 H Ácido cítrico Ganho líquido de duas ligações de alta energia (-P) Ganho líquido de 38 ligações fosfato de alta energia (-P) Acetil-CoA Cetoácidos – P + C C – P Fo sf oc re at in a A TP A D P + C – P � � ATP A TP Tabela 1.7 Sistemas energéticos e suas principais características Esporte IIA e IIB I 400 m rasos 45 55 Patinação 44,8 55,2 Canoagem 35 65 Ciclismo em pista 31 69 Remo 30 70 800, 1.500 m rasos 29 71 Natação 23,2 76,8 Porcentagem de fibras rápidas (II) e fibras lentas (I) de esportistas de diferentes modalidadesde resistência de curta duração. � Estimulação nervosa. � Liberação de Ca++ do retículo sarcoplasmático. � Formação de actina-miosina com propriedades ATPase. � Desintegração do ATP: ATP = ADP + Pi + E (energia). � Desenvolvimento da contração muscular. � A fosfocreatina recupera o ATP, de acordo com a se- guinte reação: Fosfocreatina = Pi + creatina + energia ADP + Pi ATP � O processo oxidativo ressintetiza o ATP. Energia nos diferentes tipos de exercício Quanto à utilização das diferentes fontes de energia (Figura 1.15 e Tabela 1.8), dependendo da intensidade e da duração do exercício, temos: � Quando uma atividade é muito vigorosa, utiliza-se primeiro o ATP e a CP armazenados (anaeróbia alácti- ca). � Se o exercício intenso se prolonga, recorre-se à for- mação anaeróbia láctica de ATP. � Finalmente, se a duração é mais prolongada, ocorre a oxidação dos lipídeos e da glicose (aeróbio). A prova de 100 m rasos se abastece praticamente de depósitos de energia na forma de ATP e CP. Qualquer ativi- dade intensa de duração inferior a 30 s realiza-se à custa de energia anaeróbia aláctica. 41MEDICINA DO ESPORTE Quando a duração aumenta e a intensidade diminui, como ocorre nas provas de curta duração (400 a 800 m), o consumo de energia depende inicialmente do metabolismo anaeróbio aláctico, seguido imediatamente do láctico. Quan- do a duração ultrapassa os 90 s, utiliza-se também o meta- bolismo aeróbio. Durante provas de fundo muito prolongadas, nas quais é mais importante a resistência (não tanto a potência explo- siva), utiliza-se a via aeróbia. A princípio, consomem-se carboidratos, e em pouco tempo se passa à utilização de lipídeos, embora os carboidratos voltem a ser o nutriente de escolha quando existem esforços máximos finais. Por isso, quando vão ser realizados exercícios prolonga- dos, é importante proporcionar carboidratos em abundân- cia para não consumir rapidamente as reservas orgânicas e dispor delas nos últimos momentos do esforço. Pode-se afirmar que as reservas musculares de glicogênio e de tri- glicerídeos proporcionam 75% do combustível, enquanto os ácidos graxos livres e a glicose sangüínea aportam 25%. A seguir, são mostrados diferentes estudos, todos rela- cionados com a intensidade e com a duração do exercício e sua relação com o fornecimento de energia (Tabelas 1.9 a 1.12). O custo energético por metro diminui à medida que a distância aumenta e o trabalho se torna menos intenso. ALGUMAS CONSIDERAÇÕES FINAIS REFERENTES À RELAÇÃO ENTRE OS SISTEMAS DE APORTES ENERGÉTICOS E AS FONTES DE ABASTECIMENTO COM A INTENSIDADE-DURAÇÃO DO EXERCÍCIO Este item é uma introdução ao que acontece com o abasteci- mento de energia durante o exercício, tanto na prática es- portiva em busca da saúde como no treinamento e na com- petição esportiva de alto rendimento. Ao longo deste livro, encontram-se respostas profundas a essa questão, princi- palmente nos Capítulos 2, 4, 6, 7, 8, 11, 12, 13. A seguir, é apresentado um breve resumo, cuja revisão é útil principalmente para estudantes de cursos universitá- rios, aos quais se recomenda que, uma vez terminado o livro, regressem a este capítulo. Com relação ao aporte das fontes energéticas, incluídos os macronutrientes e a relação com a intensidade-duração do exercício: � Até ≤ 70% da freqüência cardíaca máxima (FCmáx), o que constitui um exercício leve, o aporte principal de energia é fornecido pelos lipídeos. O aporte dos carboidratos é pequeno. É um trabalho aeróbio leve e regenerativo. � A ≥ 70 e a ≤ 85% da FCmáx, o aporte principal é dos carboidratos. Quanto mais próximo de 85% da FCmáx, maior será o predomínio do aporte dos car- boidratos. O aporte dos lipídeos é pequeno e muito menor quando a intensidade do exercício aumenta. A utilização dos carboidratos é realizada pelo sistema aeróbio, e o aporte anaeróbio é pequeno. � Com mais de 85% da FCmáx os carboidratos aportam pelas duas vias. Quanto mais próximo a 90% da FCmáx, em exercícios de duração superior 30 s, mais anaeróbio é o aporte dos carboidratos pelo sistema glicolítico anaeróbio láctico. � Quando o exercício é moderado de longa duração ou moderado/intenso de longa ou moderada dura- 100 50 0 0 1 3 5 10 30 50 C on tr ib ui çã o (% ) Aeróbio Anaeróbio Duração máxima do exercício (min) � Figura 1.15 Utilização das vias aeróbias e anaeróbias de acordo com a duração do exercício. Tabela 1.8 Sistemas energéticos e suas principais características Duração e liberação Fontes Via de formação Tempo de início Limite de ação máxima de energia Anaeróbia aláctica CP, ATP muscular 0 s 30 s 10 s Anaeróbia láctica Glicólise (reserva glicogênio) 15-20 s 30 s-5 a 6 min 30 s-1 min 30 s Aeróbia Oxidação de carboidratos, lipídeos, proteínas 90-180 s Até várias horas 2-5 min Capa Fisiologia do músculo esquelético e exercício Contração muscular Estrutura do músculo esquelético Teoria do deslizamento dos filamentos Tipos de fibras musculares Mecanismos de adaptação das fibras musculares ao tipo de treinamento: relação com o desempenho Unidade motora Hipertrofia das fibras musculares Rendimento esportivo e relação com a distribução das fibras musculares Metabolismo energético do músculo durante o exercício Tipos de trabalho segundo a energia utilizada: formação de ATP Sequência para a utilização de energia Energia nos diferentes tipos de exercício
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