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Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa

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FONÉTICA E FONOLOGIA DA 
LÍNGUA PORTUGUESA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2 
 
 
 
2 
SUMÁRIO 
FONÉTICA E FONOLOGIA ......................................................................................... 3 
FONÉTICA .................................................................................................................. 3 
Transcrição fonética .................................................................................................. 11 
FONOLOGIA ............................................................................................................. 12 
Dois níveis de Fonologia ........................................................................................... 14 
ANALISE A FRASE: .................................................................................................. 15 
RAZÕES PARA ESTUDAR FONÉTICA E FONOLOGIA .......................................... 15 
VOGAIS..................................................................................................................... 16 
As vogais pretônicas ................................................................................................. 19 
Vogais Postônicas ..................................................................................................... 20 
Postônicas não-finais ................................................................................................ 21 
Postônicas finais ....................................................................................................... 22 
DITONGO.................................................................................................................. 24 
Sobre a sílaba............................................................................................................ 27 
Organização interna da sílaba..................................................................................... 28 
Fonotática do PB ....................................................................................................... 30 
Padrões silábicos ...................................................................................................... 30 
A posição de ataque .................................................................................................. 31 
A posição de coda ..................................................................................................... 34 
A consoante lateral /l/ ................................................................................................. 36 
Os róticos .................................................................................................................. 38 
As fricativas ............................................................................................................... 41 
As nasais ................................................................................................................... 42 
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 45 
 
 
 
 
 
 
 
 
3 
 
 
 
3 
FONÉTICA E FONOLOGIA 
 
A Lingüística pode ser definida como o estudo científico da estrutura da língua. Ela 
reúne estudos em diversos campos, dentre eles, a Sintaxe, a Morfologia, a Semântica, 
que se preocupam com unidades maiores, e a Fonologia que se volta para as unidades 
lingüísticas menores. Ao lado da Fonologia, que visa ao estudo sistemático dos sons, 
temos a Fonética, que se volta para a produção, propagação e percepção dos sons. 
Os estudos fonéticos e fonológicos têm sua origem em momentos distintos. Os 
estudos fonéticos foram preocupação dos estudiosos da língua muito antes do século XX; 
já a Fonologia tem sua origem com os estudos do Círculo de Praga, no início do século 
 XX, por isso que muitos trabalhos realizados no início daquele século não tem 
limites definidos. Embora tenham objetos de estudo diferenciados, estes dois 
campos de estudo são interdependentes. Isso é o que veremos ao explicitar um e 
outro. 
 
FONÉTICA 
 
O Domínio da Fonética 
 
A Fonética é o estudo sistemático dos sons da fala, isto é, trabalha com os sons 
propriamente ditos, levando em consideração o modo como eles são produzidos, 
percebidos e quais aspectos físicos estão envolvidos na sua produção. 
Uma classificação básica para a Fonética situa-a em três domínios: 
 
1. Fonética Articulatória €estuda os sons do ponto de vista fisiológico. Descreve 
e classifica os sons. Assim, ao descrevermos a realização de um som, por 
exemplo [p], podemos afirmar que na sua articulação quase não houve vibração 
das cordas vocais, por isso ele é não-vozeado, que o fluxo do ar seguiu o caminho 
do trato vocal, não das fossas nasais, o que o caracteriza como oral, e que houve 
obstrução pelos dois lábios, por isso ele é oclusivo e bilabial. Este é o papel da 
Fonética Articulatória. 
2. Fonética Acústica € leva em conta as propriedades físicas do som, como os 
sons da fala chegam ao aparelho auditivo. Quando realizamos qualquer som, a sua 
4 
 
 
 
4 
propagação se dá através de ondas sonoras até chegar ao ouvido do interlocutor. 
A análise desse som e sua propagação, realizada com o auxílio de programas 
computacionais específicos, permite avaliar sua altura, sua intensidade etc. 
 
3. Fonética Auditiva €centraliza seus estudos na percepção do aparelho auditivo. 
Muitas vezes, nem sempre percebemos o mesmo som de forma idêntica. Só uma 
análise mais acurada permitirá identifica-lo. Este tipo de estudo cabe à Fonética 
Auditiva, campo de pesquisa muito pouco explorado, principalmente no Brasil. 
 
Esses três campos de estudos nem sempre são implementados 
concomitantemente. E um dos motivos para que isso não ocorra é a falta de 
especialização, principalmente, no que concerne aos estudos acústicos e auditivos. 
Por isso, sempre nos detemos na parte articulatória, considerando ser esta a parte 
mais fácil de ser verificada, já que diz respeito à produção dos sons. Vale salientar, 
entretanto, que para fazermos um estudo mais detalhado da produção de alguns 
sons, temos necessidade de recorrer a estudos acústicos. Tais estudos, no 
passado, necessitavam de aparelhos bem sofisticados, e, muitas vezes, de difícil 
acesso. Hoje, com um computador bem equipado, e com “softwares” específicos, 
podemos realizar excelentes análises acústicas. 
Considerando as dificuldades apontadas, aqui nos deteremos na parte 
articulatória dos sons, ou seja, na Fonética Articulatória, aquela que, como 
afirmamos anteriormente, está voltada para a produção dos sons, levando em 
conta seu modo de articulação, ser ponto, seu caráter vozeado ou não e ainda sua 
configuração nasal ou oral. Para isso, iniciaremos apresentando como os sons se 
realizam. 
 
Aparelho fonador 
 
O ser humano não possui um órgão, ou sistema, que tenha como função primária 
a produção dos sons da fala. Utiliza-se de partes do corpo, como pulmões, traquéia, 
laringe, epiglote, cordas vocais, glote, faringe, véu palatino, palato duro (ou céu da 
boca), palato mole, língua, dente, mandíbula, lábios e cavidades nasal, cujas funções 
primárias são de alimentação e respiração, ou seja, vitais ao ser humano. 
5 
 
 
 
5 
Como se realiza o som? Para respondermos a essa pergunta, temos que 
entender o caminho que o fluxo de ar segue na respiração. Importante lembrarmos 
que os sons não se realizam no momento de “inspiração”, mas na “expiração”. O 
oxigênio, vital ao ser humano, chega até os pulmões pela traquéia. Em seu caminho 
de volta, ainda ar, ele sofre a primeira deformação ao chegar à laringe. É na laringe 
que definimos dois tipos de sons. 
O ar expelido pelos pulmões chega à laringe e atravessa a glote, que fica na 
altura do chamado pomo-de-adão ou gogó. O ar, então, chega à abertura entre as 
duas pregas musculares das paredes superiores da laringe, conhecidas pelo nomede 
cordas vocais (ou pregas vocais). O fluxo de ar pode encontrá-las fechadas ou abertas, 
em virtude de estarem aproximadas ou afastadas. Caso estejam fechadas, o ar força 
sua passagem, fazendo-as vibrar e produzir os sons chamados de vozeados. No 
segundo caso, quando relaxadas, o ar escapa, com pouca vibração das cordas, 
produzindo sons chamados de não-vozeados. 
 
Cordas vocais 
 
Todos os sons da fala humana, sejam vogais, consoantes ou semivogais (também 
denominadas de glides) são produzidos no trato vocal, este pode ser considerado 
como um aparelho constituído de câmaras, tubos e válvulas, cuja função é pôr o ar 
em movimento e controlar seu fluxo. 
A distinção entre sonora e surda pode ser claramente percebida na pronúncia 
de pares de consoantes como [p] ~ [b], [t] ~ [d], [k] ~ [g], dentre outras, que se 
opões apenas pelo traço de vozeamento. Enquanto [p,t,k] são classificadas como 
não-vozeadas, por terem pouca vibração das cordas voais, [b,d,g] são classificadas 
como vozeadas, por terem maior vibração das cordas vocais. 
 
6 
 
 
 
6 
Veja na figura abaixo, os órgãos envolvidos na realização dos sons: 
 
 
Órgãos envolvidos no processo de realização dos sons 
 
Vamos seguir o fluxo de ar depois de passar pela glote, que é onde ficam as 
cordas vocais, definidoras da sonoridade ou não dos sons. 
Quando sai da laringe, o ar vai para a faringe. Aí o fluxo de ar, já não mais ar, 
mas som, pode tomar duas direções: o trato vocal ou o nasal. Entre estes dois canais 
fica a úvula, órgão dotado de mobilidade capaz de obstruir, ou não, a passagem do ar 
na cavidade nasal e, conseqüentemente, determinar a natureza oral ou nasal de um 
som. 
• Quando levantada, a úvula impede o fluxo de ar pelas fossas nasais, 
resultando, assim, na produção de sons orais, a exemplo de [p], [b] [a]. 
 
• Quando a úvula está abaixada, temos a realizações de sons nasais, isto 
porque o ar passa tanto pelo trato vocal como pelas fossas nasais. É o que acontece 
com a realização de sons como [m], [n]. 
 
 
 
Podemos verificar onde se realizam os sons orais e nasais. 
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7 
 
 
Cavidade oral e cavidade nasal 
 
Depois da faringe, local onde o fluxo do ar vai definir sons orais e nasais, 
passemos agora ao trato vocal. No trato vocal temos o conjunto de articuladores. 
Tais articuladores, como vistos na Figura 4, podem ser classificados como ativos e 
passivos. 
Articuladores ativos são denominados aqueles articuladores como lábio superior, 
língua, palato mole, que, na realização dos sons, se movimentam. Ao contrário, o 
lábio inferior e o palato duro são denominados de articuladores passivos. 
Articuladores ativos e passivos 
 
8 
 
 
 
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Os sons lingüísticos ainda podem ser classificados quanto ao modo articulação 
e quanto ao ponto de articulação. Utilizaremos apenas os sons realizados na Língua 
Portuguesa. 
 
Quanto ao modo de articulação, temos: 
 
a) oclusiva ou plosiva: o fluxo de ar encontra uma interrupção total, seja pelo 
fechamento dos lábios, seja pela pressão da língua sob a arcada dentária ou sob o 
palato duro etc. São elas: [p, b, t, d, k , g ]. 
b) fricativa: há um estreitamento da passagem do ar, que resulta em um ruído 
semelhante ao de uma fricção. São fricativas: [f, v, s, z, ƒ, y, x]. 
c) africada: na realização dessas consoantes, temos a soma da oclusão e 
da fricção. É o que acontece na realização de: [tƒ, dy]. 
d) nasal: aquele som que, na sua realização, parte do ar sai pelo trato vocal 
e parte pelas fossas nasais, a exemplo de [m, n, 5] 
e) lateral: a língua, ao tocar os alvéolos, obstrui a passagem do ar nas vias 
superiores, mas permite que o ar passe através das paredes laterais da boca. São 
laterais: [l e k]. 
f) vibrante: caracteriza-se pelo movimento vibratório e rápido da língua, 
provocando, assim, breves interrupções na corrente de ar. Para a vibrante, temos: 
[r]. Palavras como “caro”, “barato” apresentam este som. 
g) tepe: ao contrário da vibrante, o tepe se caracteriza por apenas uma 
batida da ponta da língua nos alvéolos. É o caso do [r]. Este som é aquele sempre 
usado nos encontros consonantais em palavras como “prato”, “fraco” etc. 
h) retroflexa: caracteriza-se pelo levantamento e encurvamento da ponta da 
língua em direção ao palato duro: [y]. Este é o “erre” encontrado comumente no falar 
de algumas comunidades de São Paulo, do Paraná e também de Minas Gerais. 
 
 
 
 
 
 
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9 
 
 
Quanto ao ponto de articulação, isto é, o local onde os 
sons são articulados no trato oral temos os seguintes sons: 
 
Bilabial: a passagem do ar é obstruído pelos dois 
lábios. O som é produzido pela junção dos lábios. Como 
bilabiais temos: [p, b, m] 
 
Labiodental: Há sons que são produzidos pela obstrução parcial do ar. Desta 
forma, o som é produzido pela aproximação do lábio inferior e a arcada dentária 
superior. São labiodentais: [f, v]. 
 
Dental/Alveolar: os sons são produzidos pelo toque da língua na parte de 
trás dos dentes superiores (dentais) ou nos alvéolos (alveolares). São elas: [t, d, s, z, 
l, n, r, R, y ] 
 
Palato-alveolar: são os sons produzidos com a lâmina da língua contra a 
parte anterior do palato duro, logo depois dos alvéolos. São palato-alveolares: [tf, 
dy,f, y] 
 
Palatal: os sons que são produzidos com a lâmina da língua tocando o palato 
duro. Como em [ k, 5 ]. 
 
Velar: Estreitamento da cavidade bucal entre o dorso da língua e o véu 
palatino (ou palato mole). São velares: [k,g,x]. 
 
Com estas descrições articulatórias, podemos classificar os sons da língua 
humana. Para unificar as transcrições dos sons, uma vez que suas realizações podem 
variar de uma língua para outra, foi criado o Alfabeto Fonético Internacional (IPA). 
Este sistema, ao ser utilizado na transcrição fonética, também permite que qualquer 
falante conhecedor de seus símbolos realize sons de quaisquer línguas. 
Até aqui temos descrito como se realizam as consoantes. Passemos agora 
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às vogais. Uma pergunta vale a pena ser feita: o que torna uma vogal diferente de 
uma consoante? 
Enquanto as consoantes, em geral, são classificadas como vozeadas e não- 
vozeadas, as vogais são sempre vozeadas. Uma outra diferença diz respeito à posição 
que a vogal ocupa na sílaba. A Língua Portuguesa, diferente de outras línguas, como 
o Inglês por exemplo, não admite consoante no núcleo silábico. Todas as sílabas do 
Português têm sempre uma vogal como seu núcleo. No Português, as consoantes 
ocupam sempre as margens da sílaba. Na seção sobre as consoantes, isto está 
mais explicitado. 
Foneticamente, podemos classificar as vogais considerando três parâmetros: 
 
a) a posição vertical da língua; 
b) a posição horizontal da língua; 
c) a posição dos lábios. 
 
Quanto à posição vertical da língua, as vogais podem ser classificadas em: 
alta, média e baixa. 
As vogais altas são aquelas que, em sua realização, a língua, seja em direção à 
parte anterior da boca ou à parte posterior atinge maior altura. Na Língua Portuguesa 
temos as vogais [i] e [u]. 
As vogais médias mantêm, em sua realização, como o próprio nome diz, a língua 
nem na posição mais alta nem em repousa. É o que ocorre quando realizamos as vogais 
[e], [s], [o], [c]. 
Já a vogal baixa, na Língua Portuguesa o [a], mantém, em sua realização, a língua 
em posição de repouso. 
No que concerne à posição horizontal da língua, temos a possibilidade de a língua, 
na realização das vogais, ir na direção anterior da boca ou na direção frontal, o que nos dá 
as vogais anteriores [i], [I], [e], [s]. Se a língua fica em repouso, temos a vogal [a], 
classificada, sob essa perspectiva, como central. Se a língua recua na direção posterior da 
boca, temos as vogais [c], [o], e [u], também denominadas de posteriores. 
Quanto à posição dos lábios, temos as vogais arredondadas e as não- 
arredondadas. Fácil verificar quais são elas. Basta observara configuração dos lábios em 
sua realização. São arredonddasas, as vogais [c], [o], e [u]; e, não-arredondadas, as 
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vogais [e], [s], [c] e [a]. 
A disposição das vogais da Língua Portuguesa nos dá um sistema triangular de base 
para cima. 
Aseguir, temos o Alfabeto Fonético Internacional, apresentando tanto as consoantes 
como as vogais utilizadas nas diferentes línguas do mundo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Os dois quadros representam as transcrições das consoantes e das vogais. 
Podemos observar que os fones da Língua Portuguesa estão aí representados, mas, 
além deles, existem muitos outros. 
 
Transcrição fonética 
 
Para analisarmos a língua utilizada falada por um falante sob o ponto de vista fonético, 
é necessário que façamos sua transcrição fonética. Para isto, uma possibilidade é lançarmos 
mão dos símbolos fonéticos que constituem o IPA. Essa transcrição, algumas vezes, pode 
variar, dependendo do sistema fonético que está sendo utilizado. 
Temos dois tipos de transcrição fonética: um mais amplo e um mais restrito. No tipo 
amplo, não levamos em conta aqueles aspectos considerados secundários na produção 
dos sons, a exemplo da palatalização, da velarização etc. Em geral, é este tipo de 
transcrição que mais utilizamos no dia-a-dia da sala de aula ou em pesquisas de caráter 
dialetal. 
Tabela : Alfabeto Fonético Internacional 
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12 
 
FONOLOGIA 
 
A Fonologia está ligada aos sistemas e padrões que os sons possuem. Todas as 
línguas do mundo têm seus próprios padrões sonoros. Embora as línguas compartilhem 
certas propriedades básicas é improvável encontrarmos duas línguas que tenham o mesmo 
padrão sonoro, ou seja, nunca encontraremos duas línguas que tenham o mesmo inventário 
de sons, a mesma ordem e que sofram os mesmos processos. Um fonólogo pode estudar 
sistemas de sons os mais diversos possíveis, como os encontrados nas línguas 
africanas, nas variedades do português brasileiro e de Portugal etc. Pode também trabalhar 
na solução ou amenização de deficiências da fala. 
Se compararmos os padrões do Português e do Inglês, por exemplo, veremos 
que essas duas línguas têm padrões sonoros diferentes, que as posições ocupadas 
por algumas consoantes nas duas línguas não são as mesmas, e assim por diante. O 
Português não tem consoantes interdentais do tipo [0] , [ð], encontradas no Inglês em 
palaveas como “three” e “that”, respectivamente. As sílabas do Português podem ter no 
seu final apenas quatro consoantes /N/, /l/,/r/ e /S/, já o Inglês pode ter várias outras 
consoantes, como, por exemplo: /t/, /d/, /b/ etc. 
Antes de ver os tipos de questões sobre o sistema de sons levantados por fonólogos, 
precisamos observar, brevemente, as relações entre fonologia e outros componentes da 
língua. 
De modo bastante conceitual, podemos definir língua como sendo um sistema de 
símbolos arbitrário e convencionado pelo qual os seres humanos se comunicam em um 
nível abstrato – não há nada concreto ou material que confirme a existência da nossa 
língua, pois tudo está na mente dos falantes. Os estudos lingüísticos mais tradicionais se 
ocupam de um desses três componentes: a Semântica, a Sintaxe e a Fonologia. O 
componente semântico da língua envolve os significados das palavras e como estas se 
combinam para formar sentidos de grupos de palavras. O componente sintático diz respeito 
aos grupos de palavras se combinam pala formar sentidos variados. O componente 
fonológico compreende a representação mental dos sons, ou seja, os fonemas. 
Se voltarmos nossa atenção, agora, para o que foi dito quando tratamos da 
Fonética, verificamos que os itens lexicais que constituem a língua, podem ser agrupados 
em dois conjuntos: de um lado, os fones, de outro, os fonemas. Isto, em se tratando da 
13 
 
 
 
13 
língua falada. Se considerarmos a língua escrita, ao lado deles, temos as letras ou 
grafemas, as formas gráficas que representam os sons. 
Assim, em um item lexical como “poda”, temos quatro fones [p c d a], quatro 
fonemas /p c d a/ e quatro letras ‘p’ ‘o’ ‘d’ ‘a’. Nem sempre esta correspondência é tão 
sistemática como no exemplo que acabamos de dar. 
A palavra falada é constituida de unidades mínimas de sons. Na escrita, essas 
unidades são representadas através de letras, porém nem todas as letras representam 
um som diferenciado na língua, por isso não se deve confundir letra com fonemas. 
Enquanto um é elemento gráfico, o outro é acústico. Uma mesma letra pode 
representar sons diferenciados, a exemplo a letra s que, na escrita, pode ter o som 
de [s] (sela) ou [z] (casa). 
Para conhecermos os fonemas de uma determinada língua, precisamos, 
inicialmente, fazer um levantamento dos fones que pertencem a esta língua. Para isto, 
precisamos deixar claro o que seja fonema e o que seja fone. 
A noção de fonema está diretamente ligada à noção de oposição. Nos itens lexicais 
“tia” e “dia”, observamos que eles são distintos pela oposição estabelecida entre os sons 
[t] e [d]. Assim podemos afirmar que /t/ e /d/ são dois fonemas. Por outro lado, se 
tivermos para o item lexical “tia” as realizações [ty] e [t], não podemos dizer que 
temos dois fonemas, mas dois alofones de um mesmo fonema. Para termos uma 
oposição entre fonemas é necessário que tenhamos alteração de significado. 
Uma possibilidade de determinarmos o sistema fonológico de uma língua, ou seja, 
definirmos o número de fonemas que ela tem, é trabalharmos com o que chamamos de 
par mínimo, ou seja, reunirmos itens lexicais que se diferenciem por apenas um elemento. 
Se reunirmos os itens lexicais [pala] e [bala], verificamos que eles se distinguem apenas 
pelo [p] e pelo [b]. Logo podemos afirmar que /p/ e /b/ são dois fonemas, pois a alternância 
de um pelo outro implica, conseqüentemente, o significado de cada um dos itens. 
Encontrar um par mínimo é sempre a esperança dos fonólogos, mas nem sempre 
isto acontece. Muitas vezes, temos que trabalhar com outras opções, uma delas é 
considerar o contraste, não em ambiente idêntico, mas em ambiente análogo, que é o que 
acontece em itens como “sumir” e “zunir”. Podemos observar que, neste caso, a diferença 
entre um item e outro se dá em mais de um segmento, tanto entre [s] e [z],como entre [m] 
e [n], mas isto não impede de considerá-los como fonemas. 
Ao definirmos os fonemas de uma língua, também definimos quais são seus 
14 
 
 
 
14 
alofones. Se o par mínimo é uma possibilidade de identificação dos fonemas, a 
distribuição complementar é uma possibilidade de identificar os alofones de um fonema. 
Dizemos 
que dois segmentos estão em distribuição complementar, quando um não pode 
ocupar o mesmo lugar do outro. 
Um exemplo bem simples para entendermos a distribuição complementar é a 
distribuição dos segmentos [s] e [(] no falar paraibano. Se considerarmos os dados: 
 
a. poste 
b. frasco 
c. espoleta 
d. esfola 
 
Verificamos que o /s/ só se realiza como [(] antes de [t]; antes de [k], [p] e [f], ele se 
realiza sempre como [s]. Assim, podemos dizer que [s] e [(] estão em distribuição 
complementar, ou seja, o espaço ocupado por um não pode ser ocupado pelo outro. 
Neste caso, [s] [(] são alofones de um mesmo fonema /s/. 
A possibilidade de utilizar um fonema para representar dois alofones, como no caso 
acima, dá àquele fonema um status que foi designado pelos lingüistas estruturalistas de 
arquifonema. O arquifonema, assim, neutraliza as oposições. 
 
Dois níveis de Fonologia 
 
Ao classificarmos os componentes da fonologia das línguas, podemos ressaltar, 
pelo menos, dois níveis: um nível mais “baixo”, nele, encontramos todos os sons que 
falamos e escutamos (a Produção do Discurso); já em um nível mais “alto”, está a formulação 
de seqüências de sons que são baseados no conhecimento do sistema fonológico que 
o ouvinte e o falante possuem de uma determinada língua (o Conhecimento Fonológico). A 
Figura 5 ilustraesses dois níveis. O primeiro deles pode ser também chamado de nível 
subjacente; o segundo, nível de superfície. 
O uso dos sons da fala em contexto e comunicação se dá de modo tão natural que 
é preciso lembrar que esses componentes fonológicos existem e que precisamos conhecer 
os elementos fonológicos de uma língua para que haja comunicação. 
15 
 
 
 
15 
 
Podemos ainda observar dois traços do conhecimento fonológico essenciais para a 
formação de uma língua: 
1- Um grupo de sons consistentes de sentido; 
2- Regras de como esses sons devem ser usados para formar 
palavras. 
 
ANALISE A FRASE 
 
Vamos para casa agora em uma versão “de trás pra frente” € Ragoa Zaca rapa 
mosva. Para a leitura de ambas as frases, você faz o uso do nível mais baixo, o da 
produção do discurso. No entanto, para você reconhecer como uma frase 
fonologicamente aceita na Língua Portuguesa, apenas a primeira ganha consistência. 
Em um jogo de formação de palavras, imagine que você sorteou as seguintes le- 
tras: R, B, A, F, O, L, C, I, D. Quantas palavras podem ser formadas a partir dessas 
letras? liste algumas em seu caderno antes de prosseguir a leitura! lembre- se de utilizar 
apenas as letras acima. 
Ao solicitarmos a tarefa, partimos do princípio das regras simples de formação 
de palavras da Língua Portuguesa, fazendo o falante (o participante do jogo) agrupar as 
letras de acordo com o que é permitido na língua. Por exemplo, observe que no português 
não é permitido um grupo de consoantes do tipo “bf”, “db, “rd” etc. dentro de uma sílaba. 
No entanto, seqüências do tipo “br”, “fr”, “fl” são facilmente aceitas. 
 
RAZÕES PARA ESTUDAR FONÉTICA E FONOLOGIA 
 
Existem muitas razões para estudarmos Fonética e Fonologia. Conseqüentemente, 
pessoas de muitas disciplinas diferentes se tornam envolvidas pelas pesquisas nesta 
área. Vejamos algumas delas: 
- Entendemos ser impossível ensinar uma língua estrangeira sem o 
conhecimento do seu sistema fonológico e sem o conhecimento de como os seus 
sons são realizados. Só de posse desse conhecimento é que os professores podem 
alcançar seus objetivos. 
- No ensino da língua materna, se é que isto seja possível, os professores 
16 
 
 
 
16 
precisam entender como se dá o processo de aquisição dos sons. É importante saber, 
por exemplo, que os sons não adquiridos ao mesmo tempo, que existe uma idade para 
que determinados processos não aceitáveis na norma sejam descartados e assim por 
diante. 
- Nos tarefas clínicas dos fonoaudiólogos, principalmente naquelas que dizem 
respeito à linguagem, é de suma importância o conhecimento tanto da Fonética como da 
Fonologia. Sem esse conhecimento, terapias podem tornar-se muito mais longas do 
que o necessário. 
- O conhecimento dos diferentes falares atrelado ao conhecimento da Fonologia 
da língua poderá ser utilizado para a compreensão dos processos variáveis da língua. 
Esse conhecimento pode ser utilizado para amenizar atitudes preconceituosas em 
relação a diferentes formas de dizer a mesma coisa. Exemplos dessa natureza são muito 
comuns no Brasil. Há quem acredite, por exemplo, que existe uma região que fale melhor 
Português do que outra. Acredito nisso denota desconhecimento dos diferentes falares. 
- Muito tem sito usado o conhecimento da Fonética e da Fonologia na identificação de 
voz, trabalho realizado com freqüência pela polícia técnica que procura identificar 
envolvimento de pessoas culpadas em ações de infração. 
 
VOGAIS 
 
Aprendemos, desde a infância, que existem cinco vogais no alfabeto na nossa 
língua. O estudo das vogais do português, no entanto, vai muito além desses cinco símbolos 
gráficos usados para representá-las. A língua oral apresenta, na verdade, sete fonemas 
vocálicos, que se comportam de maneira específica, dependendo da sua posição em 
relação ao acento tônico. 
De acordo com modelo exposto por Câmara Jr. (2006), a Língua Portuguesa do 
Brasil apresenta um quadro de vogais que são definidas de acordo com a posição da 
sílaba a que pertencem, em relação à tonicidade da palavra, e mutáveis dependendo do 
processo de neutralização que sofrem. 
Para caracterizar as vogais da nossa língua em sua plenitude, podendo identificar 
todas as suas variedades, a tonicidade das sílabas da palavra é a melhor opção, no 
sentido de que a sílaba tônica é o contexto ideal para representá-las. Dessa forma, as 
vogais classificam-se como no Quadro 1: 
17 
 
 
 
17 
 
 Anterior Central Posterior 
Alta i u 
Média Alta e o 
Média Baixa s c 
Baixa a 
 Não-arredondadas Arredondadas 
Quadro: As vogais da Língua Portuguesa segundo Câmara Jr. 
 
Assim, quando temos um contexto de sílaba tônica, os segmentos vocálicos 
podem assumir essas sete representações, sem apresentar variações de um dialeto 
para o outro. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Podemos observar, então, que as vogais tônicas assumem um quadro 
categórico, composto de sete vogais /i, e, , a, u, o, c/ distribuídas em todas as posições 
possíveis. 
Saindo da posição tônica, o quadro de vogais sofre uma redução, dependendo 
do processo de neutralização de cada posição. Vale lembrar que proeminência da 
sílaba que tem representação na vogal, torna-se mais débil à medida que sai da 
posição tônica. E é importante salientar que entre as posições 
pretônica e postônica, a posição postônica é mais débil do que a pretônica. 
As posições pretônica e postônica podem nos dar um outro quadro de vogais. 
Em se tratando desta última, temos que considerar ainda a diferenciação entre as finais e 
as não-finais. 
 
/a/: m[a]to 
/e/: m[e]do 
/s/: m[ ]tro 
/o/: m[o]rro 
/c/: m[ ]to 
/i/: m[i]co 
/u/: m[u]ro 
 
18 
 
 
 
18 
Antes de passarmos para as vogais pretônicas, consideremos ainda o 
comportamento das vogais tônicas em um contexto específico: o de consoante nasal. A 
presença de uma consoante desse tipo na sílaba seguinte à vogal tônica elimina as vogais 
médias de 1º grau, como podemos constatar nos exemplos em: 
 
/a/ s[a]nidade 
/e/ s[e]nha 
/o/ s[o]no 
/i/ s[i]no 
/u/ s[u]mo 
 
Na Língua Portuguesa, na verdade, não temos vogais nasais, o que temos são 
vogais orais seguidas de um arquifonema nasal. Logo, as vogais do Português são 
nasalizadas. 
No que concerne à nasalização das vogais, podemos estabelecer, seguindo a 
orientação de Câmara Jr., a distinção entre nasalidade fonética e nasalidade fonológica. 
A nasalidade fonética é aquela que não estabelece distinção de significado, como a 
que acontece em palavras como “camelo”, “banana”, que podem ser realizadas tanto 
como [kãmelU], [bãnãna] ou como [kamelU], [banãna], respectivamente. 
Já a nasalidade fonológica pressupões alteração de significado, a exemplo de 
[kãtU] e [katU]. Observe que a não- nasalização da vogal [a], na segunda palavra, gerou 
um outro item lexical com significado totalmente diferente do anterior. 
Consideremos agora as vogais em posição átona. Segundo Câmara Jr., as sete 
vogais tônicas se reduzem a cinco na posição pretônica (/a/, /o/, /e/, /u/, /i/), a quatro em 
posição postônica não-final (/a/, /e/, /i/, /u/) e a três na posição átona final (/a/, /i/, /u/). 
Essa classificação foi feita com base no dialeto culto carioca. Sabemos, entretanto, que o 
comportamento das vogais no português do Brasil apresenta-se de forma variável, atestado 
pelas inúmeras pesquisas sociolingüísticas realizadas no país. 
Sendo assim, compreendemos que o contexto das vogais átonas é bastante 
complexo, no que concerne à heterogeneidade existente na língua. Para tanto, faremos 
algumas considerações sobre as vogais em posição átona, levando em conta os trabalhos 
já realizados no país sob a perspectiva variacionista. Comecemos pelas vogais pretônicas. 
 
19 
 
 
 
19 
As vogais pretônicas 
O sistema vocálico do português é reduzido, na posição pretônica, de sete para 
cinco vogais. Assim, desaparece a oposição entre as médias de 1º e 2º grau.altas /i/ /u/ 
médias /e/ /o/ 
baixa /a/ 
 
Essa supressão é interpretada como um fenômeno de ‘neutralização’, que consiste 
numa na redução de mais de um fonema em uma só unidade fonológica. Essa classificação 
de Mattoso, em favor das médias de 2º grau não é categórica, tendo em vista que as 
 
vogais pretônicas da Língua Portuguesa do Brasil apresentam um 
comportamento bastante variável. 
Como já atestava Antenor Nascentes (1953), aqui estabelecemos nossa linha 
que delimita os dois grupos de falares brasileiros em relação às vogais pretônicas. Em 
geral, afirma-se que, com relação à posição pretônica, os dialetos das regiões norte-
nordeste caracterizam-se pela presença das vogais médias abertas, mais do que as 
fechadas, na posição pretônica (/s/ e /c/) e os do sudeste-sul pelas vogais fechadas (/e/ 
e /o/), como mostram os exemplosem: 
 
Norte - Nordeste: Sul - Sudeste: 
ab[s]rtura ab[e]rtura 
ch[s]fão ch[e]fão 
entr[s]vado entr[e]vado 
p[s]rgunta p[e]rgunta 
c[c]lapso c[o]lapso 
c[c]l[s]ção c[o]l[e]ção 
s[c ]ldado s[o]ldado 
[c]ração [o]ração 
 
Essa possibilidade, porém, não é categórica. Há uma possibilidade de variação 
entre as pretônicas e a alternância se dá entre as médias de segundo grau [e, o] e as 
altas [i, u]. Tal fenômeno é chamado de ‘harmonização vocálica’ e diz respeito ao processo 
20 
 
 
 
20 
em que as vogais pretônicas assimilam o traço de altura da vogal seguinte, tornando-se 
altas como a vogal tônica, como podemos ver em: 
 
al[e]gria ~ al[i]gria 
b[e]bida ~ b[i]bida 
p[e]dido ~ p[i]dido 
pr[e]guiça ~ pr[i]guiça 
desc[o]berta ~ desc[u]berta 
c[o]ruja ~ c[u]ruja 
p[o]der ~ p[u]der 
c[o]lher ~ c[u]lher 
 
Havíamos dito que onde prevalecem para os falares do sul e do sudeste as vogais 
médias de segundo grau, para o nordeste, norte e centro-oeste prevalecem as médias 
de primeiro grau. 
Esta disposição das vogais pretônicas não é algo tão tranqüilo, principalmente 
quando se trata da região nordeste. Podemos encontrar nessa região uma variação 
muito grande. O certo, entretanto, é que a realização preferida por seus falantes é a 
média aberta, ao contrário do sul e do sudeste que preferem as médias de 
segundograu. 
Vale salientar que essas representações não são realizadas na escrita. As 
palavras seguem a convenção do código determinado na fala. É importante, sobretudo, 
conhecer o funcionamento variável das vogais, uma vez que nossa realidade de ensino 
exige que trabalhemos conscientemente ante a nossa língua, no sentido de reconhecer 
as diferenças e saber lidar com elas. 
 
Vogais Postônicas 
 
Quando se trata das vogais postônicas, a primeira consideração a ser feita é que 
elas podem estar no meio da palavra (são as postônicas não-finais) ou no final (são as 
postônicas finais). Asua caracterização é específica, dependendo do contexto silábico em 
que ela estiver localizada. 
Diferentes das pretônicas, as vogais postônicas, tanto em posição não-final como 
21 
 
 
 
21 
final, apresentam uma configuração mais homogênea de norte a sul. E os estudos sobre 
essa questão ainda não são muito numerosos. 
 
Postônicas não-finais 
 
Já que estamos seguindo a classificação de Câmara Jr. (2006, p. 44), traremos 
abaixo o quadro das vogais postônicas não-finais descrito por ele: 
 
 
 
 
 
 
Segundo esse autor, há neutralização entre as vogais /u/ e /o/, mas não entre /e/ e 
/i/, como pode ser visto nos exemplos em: 
 
núm[e]ro ~ *num[i]ro 
per[o]la ~ per[u]la 
 
Outro fenômeno que pode ser observado no comportamento das vogais postônicas 
não-finais é o seu ‘apagamento’. Os estudos realizados sobre as postônicas não-finais 
têm confirmado essa tendência, já na passagem do Latim para o Português. Como constata 
Amaral (2002, p. 101), “a variação das proparoxítonas é um fenômeno difundido em 
todo território, não só na fala normal dos menos escolarizados como na fala 
espontânea dos mais escolarizados, em determinadas situações”. 
O apagamento das vogais, nesta posição, acaba sendo previsível, isto porque 
a ordem dos segmentos no ataque silábico1 não pode contrariar o padrão da língua 
em termos do Princípio de Seqüenciamento de Soância (cf. CLEMENTS, p.283-284), 
como nos casos em: 
 
 
 
 
altas /i/ /u/ 
médias /e/ / / 
baixa /a/ 
 
22 
 
 
 
22 
xícara ~ xicra 
árvore ~ arvre 
chácara ~ chacra 
víbora ~ vibra 
véspera ~ vespra 
 
Caso não ocorra o apagamento, outras alterações podem ser encontradas, 
como nos exemplos em: 
pílula piula 
príncipe prinspe 
sábado sabo 
católico catóico 
relâmpago relampo 
estômago estombo 
 
Observando o caso de “relâmpago”, verificamos que, além do apagamento da vogal 
postônica, se dá também a queda da consoante que a segue ‘g’, sua manutenção 
geraria um ataque mal formado (com um encontro consonantal inexistente na língua 
portuguesa). Para evitar isso, o falante apaga a seqüência VC (Vogal Consoante). Se 
observarmos o caso de “estômago”, podemos verificar que o falante efetua um 
processo bastante interessante: ele apaga a vogal, mas mantém a consoante 
seguinte. Como a consoante nasal que ocupa a posição do ataque é uma labial, ele 
altera o traço dorsal da consoante seguinte de dorsal para labial, resultando, assim um 
padrão bem formado. Esses são alguns dos processos que ocorrem na variação 
vocálica do português. 
Vamos agora conhecer o comportamento das postônicas finais. 
 
Postônicas finais 
 
O sistema vocálico apresentado por Câmara Jr. é o mais reduzido. Das sete 
vogais em posição tônica, passamos a três: /i, a, u/. 
 
23 
 
 
 
23 
altas /i/ /u/ 
baixas /a/ 
 
Considerando os estudos realizados no sul do Brasil, este quadro não se revela 
categórico, e é possível encontrarmos, convivendo variavelmente, médias de segundo 
grau e altas. Tal variação é atribuída, principalmente, ao tipo de colonização. 
 
leit[e] leit[I] 
dent[e] dent[I] 
gat[o] gat[U] 
post[o] post[U] 
 
Apesar de não termos estudos conclusivos em outras regiões brasileiras, 
intuitivamente podemos afirmar que existe um padrão geral para as postônicas não-
finais, com manutenção das cinco vogais. Isso acontece quando temos a vogal 
postônica em sílaba travada. Em geral, sílabas travadas por segmento soante 
(nasal, lateral, vibrante) tendem a desfavorecer a elevação da vogal, como em, e 
sílabas travadas por obstruinte coronal tendem a favorecer sua elevação, como em: 
 
a) 
caráter ~ carát[e]r 
b) 
menos ~ men[U]s 
líder líd[e]r 
 
Acreditamos que, de norte a sul,os resultados sejam similares. 
Essas explanações representam uma proposta rumo à organização dos 
estudos realizados no Brasil sobre o uso variável das vogais em todas as suas posições 
na palavra. 
A compreensão da variabilidade que aparecem nas vogais é apenas uma primeira 
etapa, mas essencial para futuros estudos com vistas à Língua Portuguesa do Brasil e 
também como forma de avaliar os processos da língua em geral. 
Os estudos variacionistas realizados e os que ainda serão implementados também 
terão aplicabilidade no ensino do Português, principalmente no nível fundamental, aquele 
em que muitas questões são silenciadas pela falta do conhecimento teórico por parte dos 
24 
 
 
 
24 
professores que poderia respondê-las. 
 
DITONGO 
 
A noção de ‘ditongo’ é apresentada desde as séries iniciais no ensino de Língua 
Portuguesa. Esse termo é comumente utilizado para designar um encontro vocálico em 
uma mesma sílaba. A Gramática Tradicional classifica os ditongos em crescente (quando 
há uma semivogal, seguida de uma vogal) e decrescente (quando a vogal é precedida da 
semivogal). 
Na Lingüística, os ditongos são também caracterizados como uma seqüência de 
segmentos vocálicos. Esses segmentos, no entanto, assumem qualidade diferente na 
realização, sendo uma das vogais da seqüência realizada como semivogal (também 
conhecida como glide). 
As semivogais sãovogais assilábicas, ou seja, elas ocupam a margem do núcleo 
silábico, pois não apresentam proeminência acentual para ser o centro da sílaba, como as 
vogais. O português apresenta dois segmentos que se caracterizam como semivogal: o [j], 
que muitas vezes é representado pelo [y], e o [w]. 
 
[j]te bo[j] pa[w]ta mé[w] 
 
Existe uma discussão em torno dessa questão: os glides devem ser considerados 
segmentos vocálicos ou segmentos consonantais? Assumindo aqui a explicação de Câmara 
Jr. em seu livro Estrutura da Língua Portuguesa, que usa como argumento o 
comportamento do ‘r’ na palavra, consideramos o glide como um segmento vocálico, 
uma vez que em fronteira silábica, o ‘r’ é realizado como brando depois de vogal (ex.: 
mora) e forte depois de consoante (ex.: honra). Nos casos de ‘r’ depois de um ditongo, 
este é realizado como brando (ex: europeu), o que justifica o status vocálico do glide. 
Sendo assim, os ditongos definem-se pela presença de uma vogal mais um glide 
numa seqüência. Vale salientar que esses dois segmentos fazem parte da mesma 
sílaba, diferindo, portanto, do que se conhece por hiato, que são duas vogais em 
seqüência, mas que mantêm a sua qualidade (ou seja, nenhuma das duas é ‘semivogal’) e 
estão em sílabas distintas (ex.: pais [‘pajs]* x país [pa’js]**. 
 
25 
 
 
 
25 
* Mesma sílaba 
** Sílabas diferentes 
 
Há também uma discussão sobre a existência e classificação dos ditongos na 
Língua Portuguesa. Muitos lingüistas (dentre eles Câmara Jr., Leda Bisol) consideram que 
os verdadeiros ditongos são os decrescentes (formados por vogal + semivogal); eles 
defendem que os ditongos crescentes (semivogal + vogal) não existem na origem das 
palavras e, portanto, podem variar livremente com o hiato (ex.: [‘swar ~ su’ar]. Há, no 
português, somente um tipo de ditongo crescente que não alterna com hiato: aqueles 
formados na seqüência de consoantes oclusivas /k/ ou /g/ mais a semivogal /w/, seguida 
de /a/ ou /o/ (ex.: qual [‘kwaw]. 
Segundo Câmara Jr., os ditongos existentes na língua portuguesa 
classificam-se assim: 
 
Ditongos decrescentes 
/ai/: pai; 
/au/: pau; 
/éi/: papéis (só diante de /s/); 
/êi/: lei; 
/iu/: riu; 
/ói/: mói; 
/ôi/: boi; 
/ôu/: vou 
/óu/: sol 
/ui/: fui 
 
Ditongo crescente 
/kw; gw (a, s, ê, i, c, ô)/ : ex.: qual [extraído de Câmara Jr (2006, p. 56)] 
 
Alguns ditongos decrescentes, entretanto, sofrem variação e podem ser realizados 
como uma única vogal na fala, quando ocorre o processo de monotongação. A 
monotongação diz respeito a um processo de redução de um ditongo a um monotongo 
(uma vogal que não muda de qualidade na sua realização). Em outras palavras, ocorre 
26 
 
 
 
26 
monotongação quando um ditongo (vogal + glide) é realizado como uma vogal 
simples, ou seja, a semivogal da seqüência é apagada. 
Esses ditongos decrescentes, capazes e sofrer redução são classificados, na 
literatura específica, como ditongos leves; ao passo que os verdadeiros ditongos não 
tornam-se monotongos. 
 
Ditongos leves 
Ex.: c[aj]xa ~ c[a]xa 
f[ej]ra ~ f[e]ra c[ow]ro ~ c[o]ro 
 
Verdadeiros ditongos 
Ex.: b[aj]rro ~ *b[a]rro 
m[ej]go ~ *m[e]go m[ej]ga ~ *m[e]ga 
 
Para compreendermos a sistematização da língua é imprescindível que levemos em 
consideração o seu real funcionamento. Neste sentido, verificamos que as pesquisas na 
área da Sociolingüística Variacionista têm dado uma grande contribuição para os estudos 
da Língua Portuguesa no Brasil, revelando o verdadeiro comportamento da língua(gem) 
usada efetivamente pelas pessoas em contexto concreto. 
 
CONSOANTES 
 
As consoantes, como sabemos, são segmentos que têm como características 
principais serem articuladas sempre com algum tipo de obstrução e ocuparem as margens 
da sílaba. 
O número de consoantes da Língua Portuguesa é bem maior do que o número de 
vogais, conseqüentemente, na sua variabilidade, é de se esperar que seja mais produtiva. 
Em geral, o quadro de fonemas consonantais da Língua Portuguesa é constituído 
de 19 fonemas, como ilustra o quadro abaixo: 
 
 
Modo de 
Articulação 
Ponto de Articulação 
Bilabial Labiodental Dent./Alv. Pal-Alveolar Palatal Velar 
Sur. Son. Sur. Son. Sur. Son Sur. Son. Sur. Son
. 
Sur
. 
Son. 
27 
 
 
 
27 
Oclusiva /p/ /b/ /t/ /d/ /k/ /g/ 
Fricativa /f/ /v/ /s/ /z/ /(/ /y/ /x/ 
Nasal /m/ /n/ /5/ 
Lateral /l/ /k/ 
Vibrante /r/ 
Quadro: Fonemas consonantais da Língua Portuguesa do Brasil 
 
Este quadro, entretanto, nem sempre é categórico, como veremos a seguir. Se, 
para elencarmos o número de vogais, observamos a sua posição de acordo com a 
tonicidade da sílaba na palavra, para as consoantes, vamos considerar a sua posição na 
sílaba, levando em conta, para isso, o padrão silábico da língua. Nossa língua tem um 
padrão silábico relativamente simples, não permitindo mais do que duas consoantes nem 
na posição inicial (ataque) nem na posição final (coda). 
. Assim, se a consoante ocupa o ataque silábico ou segunda posição de 
ataque complexo, ter-se-á um número de consoantes, que, por sua vez, será alterado se a 
consoante ocupa a posição de coda. Neste capítulo, serão analisadas as consoantes nas 
três posições, considerando a variação existente. 
Antes de descrevermos o sistema consonântico da Língua Portuguesa, 
apresentaremos alguns conceitos relacionados com a sílaba, o que facilitará a compreensão 
do que virá em seguida. 
 
Sobre a sílaba 
 
Em Chomsky & Halle (1968), com a proposta denominada de The Sound Patterns 
of English (SPE), foi defendido que uma representação fonológica seja simplesmente uma 
seqüência de feixe de traços não-ordenados, apresentada com um conjunto de símbolos 
de fronteira que reflitam a composição morfológica das palavras, e um sistema de colchetes 
rotulados representando a organização sintática dessas palavras. Hoje, com o passar 
dos anos e com os estudos que vêm sendo desenvolvidos, sabe-se que fazer fonologia 
sem sílaba é um erro. 
Com o aparecimento da estrutura hierárquica, envolvendo não só a estrutura 
silábica, mas também a estrutura prosódica mais alta, e a desconstrução do segmento em 
termos de uma hierarquia das camadas de traços, a proposta do SPE foi substituída por 
uma visão sobre as representações que favoreceram uma estrutura mais elaborada. 
28 
 
 
 
28 
Interessante observar que o falante nativo, em geral, sabe algo sobre a estrutura 
silábica das palavras em sua língua, ou seja, eles podem identificar quantas sílabas constituem 
uma determinada palavra e até sabem onde cada uma delas começa e onde termina. 
 
Organização interna da sílaba 
 
Ao identificar o número de sílabas, o falante está demonstrando seu conhecimento 
acerca da arquitetura envolvida na sua realização. De um ponto de vista fonético, cada 
sílaba tem um pico de sonoridade, isto é, um segmento que é mais sonoro do que outro. 
Logo, a sonoridade é uma propriedade relativa. Em termos auditivos, o pico de sonoridade é 
mais proeminente do que os segmentos vizinhos, e forma o elemento silábico. No caso do 
Português, por exemplo, as vogais são inerentemente mais sonoras do que as consoantes e 
só elas constituem o pico silábico. Há línguas, como o Inglês, em que os segmentos com 
sonoridade espontânea, como o /r/ e o /l/ podem ser o pico silábico. 
Há propostas diferenciadas sobre a representação fonológica da sílaba. Aqui será 
adotada a proposta de Selkirk (1982), segundo a qual, a sílaba pode ter os seguintes 
constituintes: há uma divisão principal da sílaba em ataque e rima, e a rima, por sua vez, 
se divide em núcleo e coda, conforme o diagrama : 
 
 
É óbvio que nem todas as sílabas do Português preenchem todas as posições. 
Há aquelas do tipo CV, como em ‘cá’, em que apenas o ataque e o núcleo são 
preenchidos, a exemplo do que apresenta o diagrama: 
29 
 
 
 
29 
 
 
Há algumas em que apenas o núcleo é preenchido,a exemplo de ‘a’ no 
diagrama: 
 
e ainda outras em que apenas o núcleo e a coda são preenchidas, como em 
‘ar’, no diagrama: 
 
 
Comum a todas elas é o fato de o núcleo ser sempre preenchido por uma vogal, 
como já foi mencionado anteriormente. 
Além disso, o Português apresenta também possibilidades de o ataque e a coda 
serem complexos, o que significa serem ramificados, como em ‘pra’, em que o ataque é 
constituído pelas consoantes ‘p’ e ‘r’, como na sílaba “pra” no diagrama: 
30 
 
 
 
30 
 
e também tem a coda complexa, como ‘mons’ da palavra ‘mons.tro’, em que ‘n’ 
e ‘s’ ocupam tal posição, como mostra o diagrama: 
 
Vale chamar a atenção para o fato de o ataque e a coda complexos serem 
muito pouco produtivos no PB, como vermos adiante. 
 
Fonotática do PB 
 
A estrutura fonotática das palavras pode ser entendida ao se pensar que os 
segmentos estão organizados em unidades silábicas, e que as palavras podem conter várias 
ocorrências diferentes ou semelhantes entre si. Algumas línguas apresentam palavras 
que mostram uma simples repetição de sílabas CV, outras apresentam padrões 
diferenciados. Entre estas últimas está a Língua Portuguesa 
 
Padrões silábicos 
 
Em seu estudo sobre a sílaba na Língua Portuguesa, Collischonn (2002) 
apresenta um molde silábico que determina o número máximo e o número mínimo de 
elementos permitidos, variando de um a cinco segmentos. Os padrões silábicos são 
31 
 
 
 
31 
preenchidos por vogais (V) e consoantes (C), como em: 
 
V é 
VC ar 
VCC ins.tante 
CV cá 
CVC lar 
CVCC mons.tro 
CCV tri 
CCVC três 
CCVCC trans.porte 
VV au.la 
CVV lei 
CCVV grau 
CCVVC claus.tro 
Extraído de Collischon (2002, p. 110). 
 
Para a Língua Portuguesa, como já afirmamos anteriormente, o que existe de comum 
a todos os padrões é a presença do elemento V, que constitui o núcleo da sílaba. A sua 
esquerda, o ataque silábico, tem-se o preenchimento por até duas consoantes. 
 
A posição de ataque 
 
Ao se examinar o ataque, temos que levar em consideração que ele pode ser 
preenchido por um elemento (ataque simples) e por dois elementos (ataque complexo). 
O ataque simples pode ocorrer tanto em posição inicial como em posição medial. 
Alguns segmentos, dependendo da posição, são muito pouco produtivos. Como é o 
caso de /5/ e /k/ na posição inicial. Outros se circunscrevem, a exemplo do /r/, a 
realizações de dialetos específicos. Em, tem-se uma descrição das possíveis 
ocorrências. 
 
 
 
 
32 
 
 
 
32 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A observação das possibilidades na distribuição do ataque simples em início de 
palavra sinaliza que alguns segmentos são mais freqüentes do que outros. Essa baixa 
produtividade resulta mais de fatores históricos do que da inerente má-formação do início 
de palavras com esses segmentos. Se o segmento ou segmentos que evoluíram para 
um fonema específico era raro ou não ocorria em determinada posição no Latim, não é de 
se surpreender que o segmento resultante seja também raro na mesma posição. 
Se olharmos, verificaremos que a posição do ataque é preenchida por todas as 
consoantes. Algo que merece atenção, entretanto, é que a realização dessas 
Segmento Posição inicial Posição medial 
/p/ pa.ca co.pa 
/b/ bo.ca ca.bo 
/t/ te.la po.te 
/d/ do.ca ca.da 
/k/ ca.pa pa.ca 
/g/ ga.ta ro.ga 
/f/ fo.go gar.fo 
/v/ va.ca fre.vo 
/s/ sa.co cor.sa 
/z/ ze.bra ca.sa 
/ƒ/ cha.ma mar.cha 
/7/ ja.ca gor.je.ta 
/x/ ra.to car.ro 
/m/ ma.ta ma.ma 
/n/ na.ta ma.na 
/5/ nha.que ma.nha 
/l/ la.ta fa.la 
/k/ lha.ma fa.lha 
/r/ ra.to 5 ca.ro 
33 
 
 
 
33 
consoantes nem sempre é categórica, ou seja, nem sempre se realiza da mesma 
forma. Vejamos alguns casos: 
a) as consoantes oclusivas bilabiais /p,b/ têm realização categórica, 
independente de qual seja a posição da sílaba, se inicial, medial ou final, e também da 
vogal que lhe acompanha, como nos exemplos a seguir: 
 
pa.to ta.ba 
ba.to ta.pa 
pe.le ta.pe.te 
be.bo ta.be.fe 
po.ço ra.po.sa 
bo.lo re.bo.lo 
pu.de re.pu.ta.ção 
pi.so re.pi.to 
bi.fe ca.bi.de 
 
b) o mesmo não acontece com as oclusivas dentais /t,d/, que têm realização 
condicionada à vogal que lhe segue, como nos exemplos: 
ta.to ra.ta 
da.ta ro.da.da 
te.la pe.te.ca 
de.la ro.de.la 
du.ra re.du.zi.da 
di.to po.di.do 
ti.ro po.lí.ti.co 
 
Neste caso, podemos observar que, se as consoantes /t,d/ forem seguidas de 
/i/, independente de qual seja a posição em que ocorram, teremos duas possibilidades 
de realizações: 
 
[d]i.to ~ [dy]i.to po.[d]i.do ~ po.[dy]i.do 
[t]i.ro ~ [tf]i.ro po.lí.[t]i.co ~ po.lí.[tf]i.co 
 
34 
 
 
 
34 
o que não acontece com os demais casos. 
 
Em se tratando do ataque complexo, a Língua Portuguesa se configura de 
forma bastante simples. Apenas as consoantes /r/ e /l/ podem ocupar a segunda 
posição do ataque, independente de a sílaba ocorrer em posição inicial ou medial, como 
podemos ver em : 
/r/ /l/ 
Segmento Posição 
Inicial 
Posição 
Medial 
Segmento Posição Inicial Posição Medial 
/p/ pra.to com.pra /p/ pla..ca du.pla 
/b/ bra.ço ca.bra /b/ blo.co pú.bli.co 
/t/ tra.go Em.tra /t/ tlim a.tlas 
/d/ dro.ga qua.dro /d/ 
/k/ cro.mo a.cre /k/ cla.ro a.cla.ma 
/g/ gra.ma ti.gre /g/ gló.ria si.gla 
/f/ fra.co es.pi.na.fre /f/ fle.cha ca.mu.fla.do 
 
O fato de termos apenas duas consoantes podendo ocupar tal posição pode ser 
uma das explicações para a grande produtividade de substituições de uma pela outra, 
principalmente, na fase de aquisição da língua. Não é incomum, ouvirmos, por exemplo, 
“praca” em vez de “placa”. 
 
A posição de coda 
 
Se no ataque simples, como vimos, é possível ocorrer qualquer segmento 
consonantal, o mesmo não se pode afirmar sobre a coda simples, quer em posição medial 
quer em posição final. Os padrões silábicos VC e CVC só podem ter a coda preenchida 
por uma dessas quatro consoantes /l, r, S, N/ ou por uma semivogal6, como atesta Câmara 
Jr. (2002). 
 
/l/ /r/ /S/ /N/ 
medial final medial final medial final medial final 
fal.ta jor.nal car.ta tu.mor pas.ta mas cam.po nu.vem 
 
 
35 
 
 
 
35 
Posição medial 
pers.pi.caz 
trans.por.te 
mons.tro 
abs.tra.to 
 
Na Língua Portuguesa, com exceção de /S/, todos os outros segmentos têm 
sonoridade espontânea, ou seja, são soantes, o que leva a concluir que os obstruintes, 
aqueles que não têm sonoridade espontânea por terem uma contraparte não-vozeada, 
são extremamente raros nesta posição. Vocábulos que são incorporados à Língua 
Portuguesa através de empréstimos, quando apresentam uma consoante na coda que 
não seja uma das mencionadas, acaba, a partir de um processo de ressilabificação, 
desenvolvendo uma vogal, e o segmento que era coda torna-se ataque, como “club” > 
“clube”, ou muitas vezes sofrendo processo de apagamento da consoante, a exemplo de 
“carnet” > “carnê”. 
Em se tratando de coda complexa, as possibilidades no PB são ainda mais limitadas, 
e, em final de vocábulo, elas, praticamente, não existem. Em posição medial, é interessante 
observar que a segunda posição será sempre preenchida pelo segmento “s”, e, quando 
em posição final pelo “x” [ks] como se vê em : 
 
 
Este tipo de padrão silábico, como se vê, é muito pouco produtivo na Língua 
Portuguesa. 
 
Fica evidente, a partir dos exemplos acima, que há uma unidade que o falante 
nativo reconhece como uma sílaba. Ele tem a capacidade de julgar se uma seqüência 
arbitrária de segmentos pode ter ou não lugar em uma palavra na língua. Uma organização 
silábica bem-formada será atualizada pelo falante apenas se ela for possível em uma 
palavra. 
Na seção a seguir, discutiremos os quatro segmentos que ocupam a coda silábica 
do tipo simples, nas posições medial e final, enfatizando o comportamento variável de 
cada uma delas em diferentes falares brasileiros. 
 
Posição final 
 
tó.rax 
Fé.lix36 
 
 
 
36 
 
A consoante lateral /l/ 
 
A consoante lateral em posição de coda tem como variantes as possibilidades: [w], 
[³] e [ø], como podemos ver em: 
 
 
Posição medial Posição final 
[w] [ ³ ] [ ø ] [w] [ ³ ] [ ø ] 
pa[w].co pa[ ³ ].co *pa[ø].co jor.na[w] jor.na[ ³ ] jor.na[ ø] 
de[w].ta de[ ³ ].ta *de[ø].ta pa.pe[w] pa.pe[ ³ ] pa.pe[ ø] 
bi[w].tre bi[ ³ ].tre *bi[ø].tre a.ni[w] a.ni[ ³ ] a.ni[ ø ] 
fo[w]ga fo[ ³ ].ga fo[ø].ga 
co[w].cha co[ ³ ].cha co[ø].cha so[w] so[ ³ ] so[ ø] 
*cu[w].pa7 cu[ ³ ].pa cu[ø].pa *a.zu[w] a.zu[ ³ ] a.zu[ ø ] 
 
A variante semivocalizada [w], tanto em posição medial como em posição final, é a 
mais recorrente no Brasil. De norte a sul, é possível encontrá-la, e sua utilização independe 
de sexo, idade ou escolaridade. 
Vale observar que se ela for precedida pela vogal “u”, seu apagamento é praticamente 
categórico, devido à impossibilidade de se ter um ditongo com vogal e semivogal com o 
mesmo ponto *[uw], já que ambas são posteriores e altas. 
A realização semivocalizada da consoante lateral tem fortes implicações na escrita. 
Muito comum é encontrar-se a substituição da lateral pela vogal “u”, principalmente em 
posição final, pois temos na Língua Portuguesa formas como “degrau”, “véu” etc. 
Estudo realizado em grupos do ensino fundamental (HORA & JONES, 2003) mostra 
que, principalmente com palavras novas, há uma forte tendência à substituição. 
Dois aspectos valem ressaltar: 
(a) os professores que atuam nas séries iniciais, em sua maioria, ignoram o 
fato de que, se utilizarem o processo derivacional de formação de 
palavras, poderão facilitar a vida dos estudantes, como ilustra. 
 
 
37 
 
 
 
37 
 
 
 
 
 
 (b) palavras com coda “l”, no PB, são muito mais produtivas do que com coda 
“u”. 
 
A variante alveolar velarizada [ ³ ] está muito associada à variável faixa etária. Estudos 
realizados no Brasil (QUEDNAU, 1993; TASCA, 1999; SPIGA, 2004) mostram que, na 
região sul, ela é muito recorrente, principalmente nas comunidades do interior do estado. Em 
estudo realizado por Hora (2005), na comunidade pessoense, há indícios de que sua 
principal restrição é a faixa etária, tendo a probabilidade de ser encontrada com mais 
força entre os falantes mais idosos, independente da posição, quer medial quer final. 
O apagamento da lateral em posição de coda tem comportamento curioso, 
dependendo da posição analisada e a vogal que antecede a lateral tem papel fundamental, 
principalmente se for levado em conta resultado obtido em João Pessoa, que pode ser, 
acredita-se, generalizado para o Nordeste. 
Em posição medial (cf. 6), se a vogal que antecede a lateral for anterior, o 
apagamento nunca deverá ocorrer, uma vez que geraria ou uma palavra inexistente em PB 
ou uma palavra com outro valor semântico. Se a vogal for posterior, há uma espécie de 
gradação em direção à elevação, à medida que a vogal vai-se elevando o apagamento 
torna-se mais previsível. Ao chegar ao último grau, que seria uma vogal alta, o apagamento 
é praticamente previsível, devido à impossibilidade de se ter um ditongo com formação do 
tipo *[uw]. 
Em posição final, o apagamento da lateral pode ter outros condicionamentos. Sua 
realização está diretamente ligada à escolarização do falante. Em geral, falantes com menos 
anos de escolarização apagam mais, exceto quando a vogal antecedente é “u”, com 
realização praticamente categórica entre todos os falantes, conforme dados obtidos em 
João Pessoa (HORA, 2005). 
Desta consoante e suas variantes, o que podemos concluir, no estágio atual 
das pesquisas realizadas no Brasil é que a forma semivocalizada é a mais forte 
entre os falares, e as demais se circunscrevem ou à faixa etária, no caso do [ ³ ], ou à 
jornal jornaleiro *jornaueiro 
papel papelaria *papeuaria 
anil anilina *aniuina 
sol solar *souar 
azul azulado *azuuado 
 
38 
 
 
 
38 
escolaridade, no caso do [ø]. 
 
Os róticos 
 
Os róticos, na Língua Portuguesa e nas demais línguas do mundo, têm um 
comportamento extremamente variável, apresentando uma multiplicidade de variantes, 
principalmente se em posição medial, como indica. 
 
 [r] [R] [x] [ ] [h] [ ] glide 
Posição 
Medial 
ca[r].ta 
ga[r].fo 
ca[R].ta 
ga[R].fo 
ca[x].ta 
ga[x].fo 
ca[ ].ta 
ga[ ].fo 
ca[h].ta 
ga[h]fo 
*ca[ ].ta 
ga[ ].fo 
ca[j].ta 
ga[w].fo 
Posição 
Final 
ma[r] 
can.ta[r] 
ma[R] 
can.ta[R] 
ma[x]can- 
.ta[x] 
ma[ ] 
]canta[ 
ma[h] 
can.ta[h] 
ma[ ] 
can.ta[ ] 
 
 
Estudos realizados acerca dos róticos no Brasil, que datam da primeira metade do 
século XX, podem ser reunidos em dois grandes grupos: aqueles que não seguem uma 
orientação variacionista, a exemplo de Mendonça, 1936; Bueno, 1944; Marroquim, 1945; 
Stavrou, 1947; Cunha, 1968; Câmara Jr., 1970; Leite de Vasconcelos, 1970; Pontes, 
1973; Thomas, 1974; Amaral, 1976; Chaves de Mello, 1976; Silva Neto, 1976 e 
aque- les que a seguem, como Votre 1978; Oliveira, 19839; Callou, Moraes e Leite, 
1996; Skeete, 1996; Monaretto, 1997. 
Alguns destes trabalhos são relatos de observações, principalmente os primeiros; 
outros resultam de pesquisa sistemática, seguindo uma metodologia variacionista, como é 
o caso dos estudos realizados por Oliveira (1983); Callou, Moraes e Leite (1996) e 
Monaretto (1997). 
Os problemas que envolvem a variação dos róticos, salientados nesses 
trabalhos, são mais abundantes do que aqueles voltados para seu apagamento. Alguns 
deles menci- onam o aspecto estigmatizante que algumas variantes carregavam na 
primeira metade do século XX, principalmente em estados da região Nordeste . 
Bueno (1944, p. 22-23) afirma que em vários meses de observação nos estados 
da Bahia, Alagoas, Pernambuco e na cidade do Rio de Janeiro, muitas pessoas, 
principal- mente com nível intelectual baixo, realizam o rótico com som aspirado. 
Marroquim (1945, p. 43), descrevendo o Português dos estados de Alagoas e 
Pernambuco, afirma que a articulação do rótico interno e inicial se apresenta como uma 
39 
 
 
 
39 
leve vibração da língua na parte posterior da boca, com notada aspiração, podendo ser 
[R] ou [x]. Diferente de Bueno, para Marroquim esta pronúncia é encontrada entre 
letra- dos e iletrados e que a tentativa de realizar uma essa vibração da língua em 
posição alveolar é vista como pedantismo. 
Oliveira (1983, p. 89) afirma que relatos sobre o apagamento do rótico estão 
maisrelacionados a sua posição de coda em final de palavra. Há apenas três deles que 
menci- onam seu apagamento em posição interna. 
O primeiro deles é o de Jucá-Filho (1937, p. 112), que afirma haver uma tendência 
no Português do Brasil ao apagamento de consoantes em final de sílaba, mesmo quando 
ocorrem internamente. Os exemplos dados são: ca(r)naval, me(s)mo e ma(r)melada. Para 
ele, a nasal condiciona o apagamento. 
A segunda referência é encontrada em Chaves de Mello (1976, p. 57), para quem 
o pagamento do rótico é um processo que pode afetar até os erres que fecham uma sílaba 
na posição interna. Um de seus exemplos é o nome de família Albuque(r)que. 
O terceiro relato é fornecido por Marroquim (1945, p.90), onde a possibilidade de 
ocorrer supresa x surpresa sugere o apagamento do rótico interno. 
Em se tratando do apagamento do rótico, em linhas gerais, Oliveira (1983, p. 
93) afirma: 
a) o apagamento é muito mais freqüente e saliente em posição de final de palavra 
do que no interior da palavra; 
b) sua ausência em final de palavra é mais comum em verbos do que em não-
verbos; 
c) de acordo com alguns relatos, o apagamento está relacionado a falantes de 
classe mais baixa e é considerado um vulgarismo; 
d) o apagamento é um processo variável, sujeito a condicionamento fonológico. 
Ainda em relação ao apagamento do rótico em posição de coda, Oliveira (1983, p. 
99-100), analisando dados de Belo Horizonte, constata que, dos fatores lingüísticos , o 
mais saliente é ocontexto fonológico seguinte, que pode ser vogal, consoante ou pausa. 
A consoante, favorecendo o apagamento, e a vogal favorecendo a ocorrência do tepe 
sempre em final de palavra, já que, no interior do vocábulo, vogal e pausa não são contex- 
tos possíveis. Para as consoantes, foram considerados o ponto, o modo e o vozeamento., 
ressaltando que o ponto mais favorável é o labial, o modo é o plosivo e, para o vozeamento, 
consoantes vozeadas são mais favoráveis. 
40 
 
 
 
40 
fo[ ø ]ça 
vá[ ø ]zea 
ga[ ø ]fo 
ce[ ø ]veja 
ma[ ø ]cha 
go[ ø ]jeta 
Callou et al. (1996) analisam ocorrências do /r/ em cinco capitais brasileiras (Porto 
Alegre, São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador e Recife – Projeto NURC10) em posição 
posvocálica no interior e no final da palavra. Os resultados globais demonstram que o 
indíce de apagamento é maior na posição final de palavra do que em posição interna. 
Monaretto (1997), utilizando dados que dizem respeito à região Sul do Brasil, e 
isolando a posição posvocálica, observa que o apagamento em posição final é muito mais 
forte do que em posição medial, o que corrobora os resultados encontrados por Callou et 
al. Comparando os dialetos do Sul do Brasil com o do Rio de Janeiro, Monaretto afirma 
que os dialetos do Sul podem distinguir-se por duas variantes: a vibrante simples (tepe) e 
a vibrande múltipla. 
Os estudos realizados até então levam a concluir que, na Língua Portuguesa, só há 
um contraste significativo, aquele que se percebe em caro x carro ou em pares semelhan- 
tes. Tal contraste se dá entre vogais e só entre vogais. Em outras posições, temos 
casos de variação condicionada ou uma neutralização obrigatória em favor de um fone ou 
outro, dependendo da região. 
A partir das inúmeras descrições realizadas no que concerne aos róticos, as análi- 
ses nem sempre são concordantes, mas, consensualmente, a posição intervocálica é 
onde se dá o contraste entre o tepe e a fricativa velar. 
E considerando essa variabilidade, notamos que há um comportamento diferencia- 
do quando se observa a posição que ele vai ocupar. 
Um fato curioso é que no Nordeste, por exemplo, em posição medial, o zero [O] 
só se manifesta antes de fricativa, como nos casos em 
 
Já em posição final, a variante [ø] é a mais produtiva de todas, como se constata 
nos exemplos em: 
 
 
 
41 
 
 
 
41 
ma[ ø ] 
tumo[ ø ] 
canta[ ø ] (infinitivo) 
parti[ ø ] (infinitivo) 
se[ ø ] (infinitivo) 
 
 
 
Ao considerarmos as posições em que ocorrem os róticos, verificamos que, nos 
verbos, o apagamento no final, é bastante produtivo, o que não acontece nos nomes, 
principalmente na região sul do Brasil. 
Em posição final, quando o rótico é seguido por uma vogal, em geral, há um pro- 
cesso de ressilabificação, e aí ele deixa de ser coda para ser ataque da sílaba 
resultante, como em ‘mar abaixo’ > ‘ma.ra.bai.xo’ 
 
As fricativas 
 
Na posição de coda, as fricativas encontradas são aquelas classificadas com o 
traço coronal, semelhantes aos róticos, têm sido objeto de inúmeros estudos no Brasil e 
também em diferentes regiões. As suas variantes mais produtivas são: [s], [ƒ], [z], [7 ], 
[h], [ø]. 
Em , são apresentados os contextos em que elas podem ocorrer: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Os trabalhos já realizados sobre o PB permitem que se esboce uma distribuição 
para as variantes da fricativa coronal entre diferentes falares. 
 
Variantes Posição medial Posição final 
[s] ca[s].ca lá.pi[s] 
[ƒ] ca[ ƒ ].ca lá.pi[ ƒ ] 
[z] de[z].de de[z].me.ses 
[ 7 ] de[ 7 ].de de[ 7 ].me.ses 
[h] de[h].de de[h].me.ses 
[ ø ] me[ ø].mo lá.pi[ ø ] 
 
42 
 
 
 
42 
O que se observa, quando se trata da posição medial, é que dessas seis 
variantes, as mais produtivas são as duas alveolares [s,z] e as duas palato-
alveolares [ƒ,7]. As alveolares ocorrem na maioria dos falares brasileiros. O estudo de 
Callou, Moraes e Leite (1994), utilizando dados do NURC, mostra que no Rio Grande 
do Sul, São Paulo e Salvador há preferência por elas, ao contrário do Rio de Janeiro e 
Recife. Hora (2000), em estudo realizado sobre o falar paraibano, observa que, na 
Paraíba, há preferência também pelas formas alveolares. Ele observa, entretanto, que as 
palato-alveolares também são possíveis, dependendo do contexto fonológico seguinte. As 
variantes palato-alveolares terão alta probabilidade de ocorrer se o contexto fonológico 
seguinte for uma oclusiva dental, como ilustra : 
 
ca[s].ca le[ ƒ].te 
ra[s].pa fe[ ƒ].ta 
e[s].fe.ra. cu[ ƒ].to 
me[z].mo de[7].de 
re[z].ma ju.ri[7].di.ção 
re[z].va.la tran[7].bor.dar 
 
Quando se trata da posição final de palavra, em geral, a opção é sempre pelas 
fricativas coronais desvozeadas [s, ƒ]. Também nessa posição, a preferência por uma ou 
outra mantém a mesma tendência observada no contexto de posição medial. 
 
As nasais 
 
As nasais, na posição de coda, podem ser representadas pelas letras “m” e 
“n”. Fonologicamente, elas são representadas pelo arquifonema nasla /N/. 
Na Língua Portuguesa, verificamos que a nasal, nesta posição, sempre assimila o 
traça de ponto da consoante que lhe segue. Vejamos os exemplos em: 
 
 
43 
 
 
 
43 
13a cam..po 
rom.bo 
13c ron.ca 
pon.ga 
 
 
Em 13a, como a consoante seguinte é uma oclusiva bilabial, a nasal é bilabial; em 
13b, temos como consoante seguinte, uma alveolar, logo a nasal é uma alveolar; em 13, a 
nasal assimila o traço de ponto velar da consoante seguinte e em 13d, o traço labiodental. 
Aí encontramos a explicação para termos sempre a letra “m” antes de “p” e “b”, fato que 
nem sempre os professores encontram explicação. 
Ainda em relação ao uso da nasal, constatamos que há momentos em que 
elaé realizada e há momentos em que ela é apagada. Em geral, seu apagamento não é 
muito produtivo, sendo restrito aos itens lexicais com a terminações –em e –am, como 
podemos ver em. 
 
 
 
 
 
 
Os exemplos mostram que o condicionamento ao acento é um dos determinante 
para o apagamento ou não da nasal. Ele se dá em palavras com proeminência acentual na 
penúltima sílaba e principalmente se a vogal nasalizada é anterior e média, como em <ontem>. 
Se o acento tônico estiver presente na última sílaba, não há tendência ao apagamento, a 
exemplo de <armazém>, <também> etc. Palavras como “batom”, “atum”, “jardim” não 
favorecem o apagamento. Comparando-as às anteriores o que se conclui é que, primeiro, 
as motivações para a manutenção do traço nasal nessas palavras é a tonicidade, visto que 
todas elas são oxítonas; segundo, não se tem ditongo nasal, diferente do que acontece 
com as terminadas em “-em”. 
Também deve-se observar que a terminação –am é restrita aos verbos e que 
podemos encontrar com freqüência o apagamento da consoante, implicando no elevação 
da vogal baixa, a exemplo de: 
 
 
 
jar.dim 
a.tum 
ba.tom on.tem 
ca.ta.ram 
fa.lam 
or.fã 
Posição Final 
13d cân.fora 
en.vio 
13b can.to 
ron.da 
44 
 
 
 
44 
 
cantaram ~ cantaru. 
 
Acoda na Língua Portuguesa, preenchida pelas consoantes /l. r, S, N/, como vimos, 
tem uma multiplicidade de variantes, mas possível de serem identificadas. Os estudos 
realizados até o momento já permitem que se tenha um perfil de cada uma delas de acordo 
com o contexto social em que se inserem e também de acordo com sua fonotática. 
Podemos afirmar que a Língua Portuguesa, como outras línguas do mundo, tem 
uma forte tendência ao apagamento da coda e os comentários aqui apresentados ratificam 
essa tendência. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
45 
 
 
 
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