Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
PARASITOLOGIA HUMANA Camilla Costa Ribeiro - MED 110 Camilla de Themyscira, filha de Hipólita. MED 110 UFJF SUMÁRIO 1. Helmintoses 1.1. Ascaridíase……………………………………………..…………………………………...3 1.2. Larva migrans visceral e ocular……………………...….…………………………………6 1.3. Ancilostomose………………………………………........…………………………………9 1.4. Enterobíase.……………………………………………....………………………………..12 1.5. Tricuríase…………………………………………………………………………………...14 1.6. Estrongiloidíase…………………………………………………………………………….15 1.7. Oncocercose………………………………………………………………………...……..18 1.8. Filariose linfática…………………………………………………………………………....20 1.9. Hidatidose……………………………………………….…………………………………..22 1.10. Teníase……………………………………………….…………………………………….24 1.11. Esquistossomose…………………………………...…………………………………….28 2. Protozooses 2.1. Toxoplasmose………………………………….………………………………….………..30 2.2. Amebíase...……………………………….…………………….………………..……….…34 2.3. Tricomoníase……………………………………………….……………………...………..39 2.4. Giardíase………………………………….……………………………….………..……….41 2.5. Doença de Chagas………………………………….…………………………….………..44 2.6. Leishmaniose………………………………….………………………………..….……….47 (Por Pedro Medeiros) 2.7. Balantidíase..……………………………….………………………………………...……..49 (Por Pedro Medeiros) 2.8. Malária……………………………….……………………………….……………………...50 2 Camilla de Themyscira, filha de Hipólita. MED 110 UFJF 1.1 Ascaridíase Professora Elaine - Parasitos de interesse médico, de acordo com a classificação morfológica: 1) helmintos; 2) protozoários; 3) ectoparasitos - Helmintos são os únicos vistos a olho nu na fase adulta - Ectoparasitos habitam superfície externa do corpo (pulga, carrapato, etc) HELMINTOS - Morfologia: podem ser cilíndricos; achatados; segmentados Nematelmintos (filo) - Cilíndricos - Tamanho variado - Geralmente apresentam dimorfismo sexual (diferença entre macho e fêmea) - Corpo não segmentado (diferentemente dos platelmintos) - Tubo digestório completo Ascaris lumbricoides - Mais frequente das helmintíases humanas - DTN = Doenças Tropicais Negligenciadas; São 13: 7 helmintoses, 3 protozooses, 3 bactérias (na literatura recente, já consideram 17, incluindo também, por exemplo, a dengue) - DTA = Doenças Transmitidas por Alimentos (foodborne disease) - Ascaridíase afeta 41,7mi de pessoas no Brasil (dado de 2008) Vermes adultos: - Nome popular: lombriga - Hábitat: intestino delgado, principalmente jejuno e íleo - Morfologia: verme cilíndrico, com dimorfismo sexual - machos são menores (15 a 35cm), tem extremidade distal dorso-frontalmente curvada (o rabinho é enrolado) e possuem espícula (órgão sexual); fêmeas tem de 35 a 40cm - Reprodução: fêmeas são fecundadas repetidamente - Anatomia: porção anterior possui boca com três lábios porção posterior do macho apresenta duas espículas e é curvada ventralmente Ovos: - Ovo fértil = fecundado; É redondo e envolto por uma membrana, chamada membrana mamilonada (formada por mucopolissacarídeos e secretada pela parede uterina) - Ovo infértil = não fecundado; É alongando e também envolto pela membrana mamilonada - Ovo decorticado = pode ser fértil ou infértil, mas SEM a membrana mamilonada (a imagem microscópica é bem característica, tem um espaço sem coloração entre a 3 Camilla de Themyscira, filha de Hipólita. MED 110 UFJF borda e o ovo em si) **Somente ovos férteis poderá ser embrionado (no ambiente) - Ovos tem 3 membranas (externa=mamilonada; média constituída de quitina e proteína; interna lipídica e ¼ proteica) e isso os torna muito resistentes - Desenvolvimento embrionário: duração de 15 dias; condições: ambiente com temperatura de 25ºC a 30ªC, com 70% de umidade e com 75% de oxigenação - Ciclo biológico: geohelmintose; seu ciclo de vida inclui, obrigatoriamente, uma fase no solo - Fêmea elimina cerca de 200.000 ovos/dia Ciclo biológico: Ovos eliminados pelas fezes -> embriogênese no solo (L1, L2) -> forma infectante = ovo com L3 -> ingestão de ovos com L3 por meio de água e alimentos contaminados ou má higiene pessoal -> estômago -> no intestino delgado, ovo eclode e larva sai -> circulação -> fígado -> coração -> pulmão (L4) -> alvéolos (L5) -> lúmen (ciclo de Loss); larvas chegam no pulmão e amadurecem em 15 dias; pulmão -> traqueia -> laringe -> deglutição (estômago->intestino) -> vermes adultos vão para o intestino delgado, onde se reproduzem -> fêmea faz postura de ovos -> ovos eliminados pelas fezes do hospedeiro *Esse ciclo tem a duração de dois meses - Dentro do ovo se forma L1; após uma semana, torna-se L2; a forma infectante é a L3. - Período pré-patente: da infecção à identificação; 2 meses - Período de incubação: da infecção aos primeiros sintomas - Para identificação, é preciso que tenha ocorrido todo o ciclo embrionário - Não ocorre autoinfecção - Ovos embrionados podem ser transmitidos por água e alimentos - Veículos mecânicos: insetos, aves - Outra forma de infecção: contaminação do depósito subungueal - São monoxenos, ou seja, possuem apenas um hospedeiro - Ovos tem grande capacidade de aderência a superfícies; não são retirados facilmente Sintomatologia - Depende da carga parasitária e do hospedeiro - Poucos vermes: poucas alterações clínicas e sintomas inespecíficos - Sintomas surgem a partir de +- 30 vermes a) Larvas - Alterações hepáticas: pontos hemorrágicos e pontos de necrose que se tornam fibrosados após algum tempo - Alterações pulmonares: quadro pneumático (febre, tosse, muco sanguinolento, dispneia, eosinofilia; esse conjunto de sinais denomina-se síndrome de Loeffler) devido a migração das larvas pelos alvéolos b) Vermes adultos - Ação tóxica: manifestações alérgicas (edema, urticária, etc) 4 Camilla de Themyscira, filha de Hipólita. MED 110 UFJF - Ação espoliadora: subnutrição; parasito consome macronutrientes e vitaminas A e C - Ação mecânica: irritação na parede e podem enovelar-se na luz intestinal, causando obstrução *Obstrução intestinal é a mais comum das complicações agudas (¾) *Localizações ectópicas: quando o parasito está alojado em outros locais que não o intestino delgado, como vesícula biliar, apêndice, etc. Parasito pode ser eliminado pelo nariz, boca, olhos, ouvido. A esse verme dá-se o nome “ascaris errático”. Manifestações clínicas - Fase pulmonar: tosse, muco, febre - Fase intestinal: obstrução, náuseas, fraqueza - Fase ectópica: varia de acordo com o local Comum a todas as fases: manchas brancas na pele (devido a avitaminose A e C) - Resposta imune humoral (TH2); aumento de eosinófilos Diagnóstico a) Clínico - A partir dos sintomas b) Laboratorial I. O exame ideal/padrão é o EPF:HPJ, ou seja, um exame parasitológico das fezes utilizando o método de Hoffman, Pons e Janer (método da sedimentação espontânea das fezes; deixar fezes em repouso em recipiente transparente e esperar a sedimentação dos ovos de A. lumbricoides, que podem ser vistos microscopicamente) II. Exame macroscópico, com os vermes adultos *Também é possível realizar o diagnóstico por meio de exame de imagem (radiografia, endoscopia, ultrassom), contudo, esse não é o método mais adequado/ideal devido as suas limitações Tratamento - Albendazol: 400mg - dose única - Mebendazol:500mg - dose única || 100mg - 2x dia/3d - Nitazoxanida *Mecanismo de ação desses fármacos: inibição da enzima tubulina-polimerase, prevenindo a formação de microtúbulos, impedindo a divisão celular e impedindo a captação de glicose por meio da inibição da formação de ATP, que é usado como fonte de energia pelo verme. *Os dois primeiros (Albendazol e Mebendazol) são os ideais e são oferecidos pelo SUS *Repetir antihelmíntico após 20 dias pois estes só agem no intestino (e essas larvas fazem ciclo pulmonar) Observações: - Para obstrução intestinal, não administrar os remédios para morte dos parasitos e sim piperazina e óleo mineral. Piperazina age nas junções neuromusculares do verme deixando ele flácido; óleo ajuda na expulsão 5 Camilla de Themyscira, filha de Hipólita. MED 110 UFJF - Para fase pulmonar, administrar antiinflamatórios; há baixa absorção dos medicamentos ideais supracitados - Cirurgia somente em último caso - Podem ser utilizadas plantas medicinais (no caso, o paico) como tratamento alternativo (fitoterapia) Fatores que interferem na prevalência desta parasitose: - grande quantidade de ovos produzidos e eliminados pela fêmea; - viabilidade do ovo infectante por até um ano, principalmente no peridomicílio; - concentração de indivíduos vivendo em condições precárias de saneamento básico; - grande número de ovos no peridomicílio, em decorrência do hábito que as crianças têm de aí defecarem; temperatura e umidade com médias anuais elevadas; - dispersão fácil dos ovos através de chuvas, ventos, insetos e aves; - conceitos equivocados sobre a transmissão da doença e sobre hábitos de higiene na população. Profilaxia: TRATAR, SANEAR, EDUCAR - educação em saúde; - construção de redes de esgoto, com tratamento e/ou fossas sépticas; - tratamento de toda a população com drogas ovicidas, pelo menos, durante três anos consecutivos; - proteção dos alimentos contra insetos e poeira. 1.2 Síndrome de Larva migrans Professora Elaine - Antropozoonoses: migração de larvas de algumas espécies de helmintos de cães e gatos (hospedeiros naturais) para homem (hospedeiro acidental) - Larva migrans cutânea (LMC): penetração pela pele, vermes retidos no tecido subcutâneo Larva migrans visceral (LMV): ingestão da larva, retina nas vísceras - Helmintose de ampla distribuição, estando onde houver cães e gatos infectados; especialmente em terrenos arenosos; maior frequência nas regiões tropicais e subtropicais - Larva não consegue completar seu ciclo biológico quando parasita humanos - Manifestações patológicas são causadas por formas jovens da espécie, já que, por não completar seu ciclo biológico, esses vermes acabam morrendo (ou seja, é uma infecção autolimitante) - Algumas larvas morrem rapidamente/são destruídas pelo sistema imune; nessas situações, o indivíduo apresenta sintomatologia branda 6 Camilla de Themyscira, filha de Hipólita. MED 110 UFJF Larva migrans cutânea - Cutânea é a mais comum; também chamada de bicho geográfico, dermatite serpiginosa, bicho das praias - É conhecida como serpiginosa pois a larva, no tecido subcutâneo, migra pelo corpo e deixa “rastro” que se assemelha à forma de uma serpente - Principais agentes: larvas de Ancylostoma braziliense e A. caninum (parasitos do intestino delgado de cães e gatos) Obs: outros parasitos de cães e gatos podem causar LMC Ciclo Biológico (no hospedeiro natural) - Os cães e gatos podem se infectar pelas vias oral, cutânea e transplacentária - GEOhelmintoses; ciclo biológico necessariamente passa pelo solo - Animal defeca o ovo na terra (preferencialmente areia), lá ele sofre embriogênese, eclode (L1, larva de primeiro estádio) e, em aproximadamente 7 dias, a larva sofre duas mudas, atingindo o terceiro estádio (L3) e se tornando infectante. - Larva L3 infecta animal, sofre duas mudas (L4 e L5), chega ao intestino delgado e atinge maturidade sexual (tempo aproximado: 4 semanas) - Fêmeas botam ovos que são eliminados via fezes do hospedeiro Infecção no ser humano - Ancylostoma braziliense e A. caninum passam para humanos via cutânea; larvas (L3) tem proteases capazes de atravessar a pele - Penetram na pele, migram pelo tecido subcutâneo por algum tempo (deixando rastro) e morrem - Em casos mais raros, a infecção pode ser via ingestão da larva, que migra através das vísceras, caracterizando a LMV Sintomas - Partes do corpo mais atingidas são as que tem maior contato com o solo - Podem ser múltiplas (em vários locais do corpo) - Larvas formam túneis debaixo da pele (hipodérmicos); altamente pruriginosos; - Pode estar acompanhado de infecção e lesões secundárias devido ao ato de coçar - Em alguns casos, há o comprometimento pulmonar característico da Síndrome de Loefler Diagnóstico - Principalmente clínico - Aspecto dermatológico caracterizado por erupção linear e tortuosa na pele. - Quadro clínico restrito a pele Tratamento - Casos mais benignos: infecção pode se resolver espontaneamente ao fim de alguns dias 7 Camilla de Themyscira, filha de Hipólita. MED 110 UFJF - Quando necessário tratamento medicamentoso: tiabendazol (uso tópico) albendazol e ivermectina (uso oral) Obs: se presença de infecção microbiana secundária, associar o tratamento a anti-histamínicos e esteróides tópicos - Crioterapia (matar a larva pelo frio; para pacientes intolerantes ao medicamento, menos eficiente que os remédios) LMV (visceral) e LMO (ocular) - Determinada por migrações prolongadas de larvas de nematóides parasitos comuns aos animais, no organismo humano, que estão condenados a morrer, depois de longa permanência nas vísceras (não completam o ciclo no hospedeiro acidental) - Principais agentes: Toxocara canis e T. catti (nome da parasitose: toxocaríase e toxocaríase ocular) - Morfologia semelhante ao Ascaris lumbricoides fêmea: 6 a 18cm macho: 4 a 10cm - Morfologia do ovo: bem circular, lembra uma tampa de garrafa pet Ciclo biológico no hospedeiro natural - Vermes adultos no intestino delgado de cães e gatos copulam - Ovos saem pelas fezes do hospedeiro e fazem embriogênese no solo (desenvolvimento larval até estádio infectante, L3: 28 dias); - Ovo embrionado (L3) é ingerido - Ovo eclode no intestino delgado e libera larva; parede intestinal -> circulação -> fígado, coração, pulmão (L4) -> alvéolos, brônquios, traqueia - Deglutição; voltam para o intestino, onde atingem maturidade sexual em 4 semanas Infecção no ser humano - Homem se infecta ingerindo água ou alimentos contaminados com ovos contendo L3 - Eclosão de L3 no intestino delgado; parede intestinal -> circulação -> distribuição por todo o organismo - Migrações sistêmicas - Maioria das larvas é destruída formando lesão típica - o granuloma alérgico -, na qual o parasito morto encontra-se cercado por eosinófilos e monócitos Manifestações clínicas - Podem ser assintomáticas, agudas ou subagudas - Gravidade depende da quantidade de larvas no organismo, do local invadido e do sistema imune do indivíduo - Infecção autolimitante, de 6 a 18 meses - LMV: leucocitose, hipereosinofilia sanguínea, hepatomegalia, linfadenite; em alguns casos, sintomas pulmonares como tosse, dispneia, anorexia e desconfortoabdominal 8 Camilla de Themyscira, filha de Hipólita. MED 110 UFJF LMO: granulomas, perda de visão, hemorragia de retina, endoftalmia crônica no SNC: encefalite, meningite, epilepsia - Pode haver formação de granulomas, o que favorece a aderência de bactérias, como a Staphylococcus aureus Diagnóstico - Difícil, baseado no caso clínico - Sintomas inespecíficos - LMO: exame oftalmológico (exame de fundo de olho) - Indireto: dados clínicos, hematológicos, radiológicos, biópsia ou métodos imunológicos (ELISA); - Não é conclusivo Tratamento - LMV: albendazol, mebendazol, tiabendazol ou DEC (dietilcarbomazina) => antihelmínticos - LMO: prednisona e triancinolona; anti-helmínticos agravam o caso - Quanto mais rápido o tratamento, melhor o prognóstico Obs: Salinidade do mar mata as larvas!!! Profilaxia - tratamento de cães e gatos - evitar acesso desses animais a locais públicos (praças, praias, parques infantis) - redução das populações de cães e gatos vadios, as mais altas cargas parasitárias (#adotenãocompre) - Educação da população sobre os riscos da doença 1.3 Ancilostomose Professora Késia - Doença negligenciada - Endêmica em regiões tropicais e subtropicais; A. duodenale predominante em regiões temperadas - Associada a ambientes rurais e ao hábito de andar descalço - Maior prevalência em adultos - 900 milhões de portadores; 60 mil mortes/ano - Vermes nematoides (cilíndricos) - Família Ancylostomatidae (mais de 100 espécies) Espécies de importância médica: Ancylostoma duodenale, A. ceylonicum e Necator americanus A. duodenale e N. americanus são exclusivos de humanos; A. ceylonicum infecta cães, gatos e humanos Larva migrans cutânea: Ancylostoma caninum, A. brasiliensis - Do grego “ankylos”(=curva)+”stoma”(=boca); apresentam a boca curvada 9 Camilla de Themyscira, filha de Hipólita. MED 110 UFJF Necator é do latim matador rs Morfologia Ovos - Ancylostoma: 20 a 30 mil ovos/dias - Necator: 9 mil ovos/dias - 60μm comprimento x 40μm largura - Só têm uma membrana (externa), separada do núcleo por camada de hialina - Formato oval - Embrionia no ambiente (GEOhelminto) - Ovo leve, flutua mais do que sedimenta (importante p/ exame) Larvas - Subfamília Ancylostominae tem dentes quitinosos na margem da boca A. duodenale: 2 pares de dentes ventrais na margem interna da boca, e um par de dentes triagulares subventrais no fundo da cápsula bucal A.braziliense: par de dentes grandes e de pequenos A. caninum: três pares de dentes A. ceylanicum: par de dentes grandes + par de dentes minúsculos - Subfamília Bunostominae (a do Necator) tem lâminas quitinosas cortantes na boca - Vermes cilíndricos e róseos - Vermes tem no máximo 1cm, sendo as fêmeas maiores - Extremidade posterior da fêmea é retilínea; masculina tem projeção chamada bolsa copuladora (parece uma vassourinha) - Longevidade média: 5 anos, mas há registro até 18 anos Infecção - Penetração ativa (penetração transcutânea) ou passiva (oral) da larva filarióide (L3, forma infectante) - Via transcutânea: faz ciclo pulmonar - Via oral por meio de alimentos e água contaminada - Não ocorre autoinfecção Ciclo biológico - Ovos, não embrionados, são excretados -> são embrionados, no meio externo, de 12 a 24h -> larva rabditóide (L1, L2) eclode -> larva filarióide (L3, infectante) -> penetração cutânea -> libera enzimas que facilitam acesso aos tecidos do hospedeiro -> circulação sanguínea-> coração -> pulmão (L4) -> árvore brônquica -> se deglutida, intestino delgado -> após 8 dias de infecção, já é hematófaga -> lesa mucosas, se alimenta de sangue -> cerca de 15 dias se transforma em L5, que demora 15 dias para maturar e se tornar verme adulto que copula - Na infecção passiva, não há ciclo pulmonar e L3 perde a cutícula externa por ação do suco gástrico; daí, vai para intestino delgado, onde se transforma em L4 no duodeno e em L5 no lúmen 10 Camilla de Themyscira, filha de Hipólita. MED 110 UFJF - Período pré-patente após penetração ativa (da penetração cutânea a liberação dos ovos): Necator: 42 a 60 dias Ancylostoma: 35 a 60 dias Após penetração passiva: 14 a 17 dias Patologia e sintomatologia - Sintomas primários: o que acontece desde a penetração das larvas na pele e sua migração - Sintomas secundários: ligados a permanência do sintoma - Varia de acordo com a idade, carga parasitária, espécie do parasito, estado nutricional do hospedeiro - Sinais cutâneos: sensação de picada, hiperemia, prurido e edema/pústulas, processo inflamatório e dermatite urticariforme; intensidade varia de acordo com carga parasitária e imunidade. - Sinais pulmonares: tosse, febre, catarro e sangue; eosinofilia alta, hemorragias petequiais - Sinais intestinais: dor epigástrica, diminuição do apetite, cólica, náuseas, vômitos, flatulência, fezes com melena (diarreia sanguinolenta; exclusivo dessa parasitose) - Lesões na mucosa: verme morde e libera substâncias anticoagulantes. Úlceras intestinais, hemorragias, infecções secundárias; necrose tecidual e gangrena podem levar a óbito - Anemia ferropriva: hipocrônica e microcística devido a hematofagia do verme + deficiência nutricional do hospedeiro + perda de sangue por hemorragias - Dispneia, taquicardia, cefaleia, edema nos membros inferiores - Anticorpos do hospedeiro não conseguem evitar reinfecção Diagnóstico - Clínico (anamnese; sintomas, anemia) - EPF (relembrando: não é método!!!!) Métodos qualitativos: - Flutuação (Willis) - Sedimentação espontânea (HPJ) - Kato-Katz Métodos quantitativos (avaliar grau de infecção) - OPG = método de Stoll = número de ovos/grama de fezes; se 1-1999 OPG =leve; 2000-3999 OPG=moderado; >4000=alto Método coprocultura - identificação das espécies - quantificação **Testes imunológicos e sorológicos não são usados na rotina; eosinofilia é comum a todas as infecções parasitárias e a alergias. Tratamento - Mebendazol, albendazol (benzimidazois) 11 Camilla de Themyscira, filha de Hipólita. MED 110 UFJF - Pamoato de pirantel (age causando bloqueio nas junções neuromusculares do verme) - Alimentação suplementar rica em proteína e ferro **Não esquecer de considerar o ciclo pulmonar; necessário repetir tratamento em 20 dias, pois antihelmínticos só atuam no intestino delgado Profilaxia - Tratar, educar, sanear: tratar os doentes, dar destino seguro as fezes, lavar alimentos consumidos crus, filtrar ou ferver a água, etc 1.4 Enterobíase Professora Késia - Enterobius vermiculares, parasito exclusivamente humano - Infecção autolimitante (se cura sozinha) - Alta frequência em clima temperado a frio - Infecção benigna, caracterizada por prurido anal - Hábitat: ceco e apêndice Morfologia Ovos - libera substâncias que geram prurido anal - formato de “D” - membrana dupla, lisa e transparente - em conjunto, parecem arroz - embrionia rápida; no momento em que sai da fêmea, já aloja larva - forma infectante Adultos - cor branca, filiformes - porção anterior com expansões vesiculosas denominadas asas cefálicas - fêmea maior, bota de 5 a 16 mil ovos, cauda longa e pontiaguda - macho com cauda curvada ventralmente, com espícula - longevidade: 35 a 90 dias - quando libera os ovos, fêmea morre - hábitat: intestino grosso;região do ceco (junção íleo-ceco-cólica); apêndice cecal; faz migrações (pode atingir uretra, vagina, bexiga…) - fêmeas repletas de ovos se encontram na região perianal - ovos são eliminados a partir do rompimento da fêmea; ela não é capaz de fazer postura de ovos Infecção - heteroinfecção: quando ovos presentes na poeira ou alimentos atingem novo hospedeiro (é também conhecida como primoinfecção); 12 Camilla de Themyscira, filha de Hipólita. MED 110 UFJF - indireta: quando ovos presentes na poeira ou alimentos atingem o mesmo hospedeiro que os eliminou; - auto-infecção externa ou direta: a criança (frequentemente) ou o adulto (raramente) leva os ovos da região perianal a boca. Principal mecanismo responsável pela cronicidade dessa verminose; - auto-infecção interna: parece ser um processo raro no qual as larvas eclodiriam ainda dentro do reto e depois migrariam até o ceco, transformando-se em vermes adultos; - retroinfecção: as larvas eclodem na região perianal (externamente), penetram pelo ânus e migram pelo intestino grosso chegando até o ceco, onde se transformam em vermes adultos Ciclo biológico - monoxeno - indivíduo se infecta ingerindo ovos -> estômago -> larva rabditoide eclode no intestino delgado -> migra para ceco onde vira adulto -> copulam -> macho morre -> fêmea amadurece ovos, migra para ânus onde ovos são eliminados -> ovos se embrionam em poucas horas **Essa migração ocorre a noite; hospedeiro está mais quieto Sintomatologia - parasitismo leve: assintomático; prurido anal durante a noite; - parasitismo intenso: enterite (inflamação do intestino) catarral, colite; complicação: apendicite - ação irritativa no local (ânus, vulvo-vagina, uretra) - consequências do prurido anal: escoriações, região avermelhada, inflamada, perturbações do sono, infecção bacteriana secundária, mucosa congesta contendo ovos e, as vezes, larvas fêmeas Diagnóstico - clínico - laboratorial exame macroscópico (epf) -> vermes adultos; método da fita adesiva (método de Graham; colar uma fita adesiva no ânus da criança, pela manhã, antes do primeiro banho; arrancar; os ovos/vermes ficarão colados na fita) Tratamento - albendazol, mebendazol, pamoato de pirantel, pamoato de pirvínio, ivermectina, pomada antipruriginosa - repetir o tratamento a cada 20 dias até que nenhuma pessoa do mesmo ambiente esteja contaminada Profilaxia - tratar os doentes, manter unhas curtas, usar aspirador de pó; roupas de cama de hospedeiros não devem ser sacudidas e sim fervidas diariamente 13 Camilla de Themyscira, filha de Hipólita. MED 110 UFJF 1.5 Trichuris trichiura Professor Pedro Paulo - Se alimentam de restos de enterócitos na mucosa intestinal; pra isso, tem que lesar mucosa; por vezes, acabam ingerindo sangue; - Hábitat: intestino grosso (ceco, apêndice, cólon) - Só parte anterior penetra na mucosa intestinal pra se alimentar; parte posterior se mantém no lúmen pra facilitar cópula e eliminação de ovos - Doença: tricuríase Morfologia Ovos - Possuem três membranas (camada lipídica externa, camada quitinosa intermediária e camada vitelínica interna) - Nas suas duas extremidades, ovo tem poros salientes e transparentes revestidos preenchidos por material lipídico chamados opérculos - Interior granuloso - Embriogênese fora do corpo do hospedeiro - Forma infectante: ovo com larva filarióide Larvas - Dimorfismo sexual - Medem até 5cm (é possível a visualização a olho nu) - Parte anterior fina e parte posterior grossa (formato de chicote); - Macho é menor e com cauda enrolada Ciclo biológico (não tem ciclo pulmonar!) - Copulam no intestino grosso -> eliminação dos ovos no ambiente -> embriogênese no ambiente -> larva rabditóide dentro do ovo -> larva filarióide (forma infectante) dentro do ovo -> ingestão -> intestino delgado -> larva sai por um dos opérculos -> intestino grosso -> verme adulto -> copulam Transmissão - Ovos eliminados pelas fezes do hospedeiro contaminam o ambiente; podem ser disseminados pelo vento ou pela água e contaminar alimentos; transmissão é por meio da ingestão de alimentos contaminados com os ovos infectados pela larva filarióide. Patogenia - Gravidade depende da carga parasitária, idade do hospedeiro, estado nutricional e distribuição dos vermes adultos no intestino - Infecção leve é assintomática ou apresenta sintomatologia intestinal discreta - Úlcera na mucosa 14 Camilla de Themyscira, filha de Hipólita. MED 110 UFJF - Parte do sangue gerado pela penetração da larva na mucosa “escorre” pelo corpo da larva, sendo, posteriormente, local para colonização de bactérias, o que gera processo inflamatório no intestino grosso (enterite) - Pode aparecer sangue vermelho-vivo nas fezes - Anemia espoliativa Epidemiologia - Homem é a única fonte de infecção (ciclo monoxeno) - Peridomicílio - Comum em crianças - Ovos sensíveis a dessecação e a insolação - Geohelmintose Sintomatologia - Prolapso retal (queda do intestino para fora do ânus), sangue nas fezes, mialgias - Febre, dor abdominal, tenesmo (enrijecimento da parte distal do intestino; pessoa acha que precisa evacuar mas não consegue, acaba forçando o que gera o prolapso retal) - Prolapso não é cirúrgico!!! Dar antihelmíntico, antiinflamatório e esperar - Dores de cabeça, dor epigástrica e no baixo abdômen, diarréia, náuseas, vômitos - Alterações sistêmicas como anemia, desnutrição e comprometimento físico/cognitivo estão relacionadas à diminuição do consumo de nutrientes (devido a falta de apetite) somado ao aumento das perdas alimentares (devido a disenteria e vômitos) Diagnóstico - clínico - laboratorial EPF:HPJ e método Kato-Katz (avaliação qualitativa e quantitativa) Tratamento - Albendazol+ivermectina (mais eficiente), mebendazol Profilaxia - Tratar os doentes, dar destino adequado às fezes e ao lixo, higiene pessoal e alimentícia 1.6 Strongyloides stercoralis Professor Pedro Paulo - Indicativo de parasitose: aumento gradual de eosinófilos - Forma parasitária: FÊMEA - Parasitose grave, pode levar à morte - Fêmea bota +-40 ovos/dia 15 Camilla de Themyscira, filha de Hipólita. MED 110 UFJF - Só existe macho no estágio de vida livre - Tamanho: 2,5mm - Hábitat: mucosa do intestino delgado - Lesões causam prejuízo na absorção de alimentos, desnutrição e quadro secundário de anemia - Fêmea é ovovivípara; partenogênica; ovo já sai embrionado Morfologia Fêmea partogenética - corpo cilíndrico, filiforme longo, extremidade anterior arredondada e posterior afilada - aparelho digestivo simples, esôfago longo filariforme, cilíndrico - ovovivípara; coloca de 30 a 40 ovos/dia; elimina na mucosa intestinal o ovo já larvado Fêmea de vida livre ou estercoral - aspecto fusiforme, extremidade anterior arredondada e posterior afilada - esôfago rabditóide (dividido em três porções: corpo, istmo e bulbo; formato lembra halteres) Macho de vida livre - aspecto fusiforme, extremidade anterior arredondada e posterior recurvada ventralmente - esôfago rabditóide - possui dois pequenos espículos auxiliares na cópula Ovos- elípticos, de parede fina e transparente, parecidos com os de ancilostomídeos - podem ser observados, excepcionalmente, nas fezes de hospedeiros com diarreia grave ou após a utilização de laxantes Larva rabditoide - esôfago rabditóide, - cápsula bucal - primórdio genital Larva filarioide - esôfago circular - cauda entalhada (como bandeira de festa junina) Ciclo biológico - Ciclo direto = partenogênico; ciclo indireto = sexuado ou de vida livre - Larva filarióide penetra pele/mucosas -> circulação venosa e linfática -> coração -> pulmão -> nos capilares pulmonares, vira L4 -> árvore brônquica -> traquéia -> faringe -> podem ser deglutidas -> vira verme adulto no intestino delgado -> ovos depositados na mucosa intestinal, lá, larvas rabditoides eclodem e alcançam lúmen 16 Camilla de Themyscira, filha de Hipólita. MED 110 UFJF -> larva rabditoide eliminada pelas fezes -> no ambiente adequado, vira larva filarioide - Larva filarioide pode originar larvas rabditóides haploides, diploides e triploides; ciclo só continua (ou seja, vira filarioide) se for triploide - Larva rabditoide n (haploide) vira macho de vida livre e 2n vira fêmea de vida livre (não causam doença); podem copular originando ovo triplóide; ovo eclode larva rabditoide - Larva rabditoide pode virar filarioide se houver o meio ambiente adequado, cromossoma 3n e hidroxiecdisona - Ciclos direto e indireto se completam pela penetração ativa da larva filarioide (L3) na pele ou mucosas oral, esofágica ou gástrica do hospedeiro - Larvas secretam substâncias (melanoproteases) que facilitam penetração e migração tecidual - Ciclo dura cerca de 60 dias Transmissão - Heteroinfecção: L3 penetração cutânea - Autoinfecção externa: larva rabditoide na região perianal que transformam-se em larvas filarioides que penetram via transcutânea - Autoinfecção interna: há a possibilidade dos ovos eclodirem dentro do intestino delgado e sofrerem maturação; então, essas larvas filarióides podem perfurar a mucosa intestinal Patogenia - Relacionada à penetração, migração e permanência e multiplicação na mucosa intestinal - Enterite (devido a subalimentação com carência de proteínas) com úlcera + edema - Má absorção alimentar; alimentos são eliminados junto às fezes (síndrome de má absorção) - Dermatite (processo inflamatório na pele) - Rompe endotélio pulmonar - Processos inflamatórios por onde passa - Síndrome de Loeffler - Diarréias e vômitos facilitam autoinfecção Epidemiologia - Clima tropical e subtropical - Comum em crianças e trabalhadores rurais - Condições ideais do solo são necessárias para sobrevivência da larva Sintomas - Indivíduos podem ser assintomáticos - Sintomas digestivos, síndrome de Loeffler, prurido na pele, emagrecimento, fezes com restos alimentares Complicações 17 Camilla de Themyscira, filha de Hipólita. MED 110 UFJF - Muitas vezes o indivíduo pode ser imunodepressivo, ou seja, qualquer infecção é muito mais perigosa; - Ainda, os corticoesteróides têm composição próxima à hidroxiecdisona, o que cria um ambiente favorável para o Strongyloides Diagnóstico - Clínico - Laboratorial EPF com métodos Baermann-Moraes ou Rugai (para pesquisa de larvas) **Essas larvas tem termohidrotropismo (afinidade por água quente; esse é o princípio dos métodos para pesquisa de larvas supracitados) Profilaxia - Tratar, educar, sanear; dar destino adequado às fezes/ao lixo, higiene pessoal e alimentícia Tratamento - Albendazol; tiabendazol; cambendazol; e ivermectina **tiabendazol só age nas fêmeas partenogênicas; albendazol e cambendazol atuam tanto nas fêmeas partenogênicas quanto nas larvas ***se há constipação intestinal, utilizar laxativo associado a terapia convencional FILARIOSES - Doenças causadas por nematelmintos - Divididas em filarioses linfática e tecidual Linfática: Wulchereria bancrofti Brugia malayi B. timori Tecidual: Onchocerca volvulus Mansonella ozzardi M. perstans M. streptocerca *Só os grifados tem no Brasil - Epidemiologia: norte (especialmente roraima) e litoral do nordeste 1.7 Onchocerca volvulus Professora Elaine - Filariose tecidual - Nematelminto da família Onchocercidae - Exclusivamente humano - Conhecida como “cegueira dos rios”, é transmitida por vetor inseto que precisa de água corrente para se multiplicar 18 Camilla de Themyscira, filha de Hipólita. MED 110 UFJF - Maior incidência em Roraima (na aldeia dos índios Yanomami) e região do Amazonas - Classificada como DTN (doença tropical negligenciada); a partir daí, surgiram várias ações para combate a partir da orientação da OMS e execução por ONGs - Países extintos da oncocercose: Colômbia, México, Guatemala e Equador - Transmissão: inseto Simulium (conhecido no norte como “pium” e no resto do país como “borrachudo”). Esse inseto gosta de altas correntezas; seus ovos precisam de oxigenação muito grande e, por isso, ficam em cachoeiras Morfologia Vermes adultos - Parecem com Ascaris lumbricoides mas bem finos; - Fêmeas são muito maiores - Vivem muitos anos (+- 12 anos; já as microfilárias vivem até 24 meses) - Hábitat: dentro de nódulos no tecido subcutâneo Ciclo biológico - Cópula no tecido subcutâneo do humano -> fêmea elimina microfilárias -> ficam no tecido subcutâneo -> inseto suga microfilárias junto com o sangue -> amadurecem (de microfilária para larva filarioide, infectante) dentro do inseto -> inseto pica humano -> larva vira adulta no humano - Período pré-patente: 12 meses Patogenia/sintomatologia Vermes adultos - Oncocercomas: nódulos indolores; problema apenas estético; localização depende do local da picada; vermes adultos ficam dentro desses nódulos - Inflamação de gânglios linfáticos inguinais (adenopatia; elefantíase secundária) Microfilárias - Principais sintomas, são causados pela morte das microfilárias - Coceira, perda de elasticidade da pele (ressecada, muito queratinizada) - Dermatite, manchas brancas na pele - Cegueiras!!! Com exceção do cristalino, todos os tecidos do olho podem ser invadidos pelas microfilárias, especialmente a córnea (ceratite esclerosante); irreversível - Na África: foi descoberta relação entre filariose e nanismo, epilepsia e problemas cognitivos Diagnóstico - Clínico (incerto) - Laboratorial: - cirúrgico, retirando o nódulo - biópsia da pele (microfilárias migram em solução salina) - exame oftalmológico (de fundo de olho) - teste de Mazzotti (não é utilizado) 19 Camilla de Themyscira, filha de Hipólita. MED 110 UFJF Tratamento - Ivermectina, que é um microfilaricida e previne o desenvolvimento de lesões oculares, e extirpação dos nódulos 1.8 Wuchereria bancrofti Professora Clarice - Filariose linfática, filaríase, elefantíase - Doença crônica, em alguns casos irreversível - Doença de longa duração, pois atendimento médico só é procurado depois que já tem sintomas crônicos; isso ajuda a disseminar - Sequelas ficam mesmo após filaricida - Foco endêmico no Brasil Epidemiologia - África, sudeste asiático, Américas Central e Latina - Região tropical, presença de água - 120mi infectados e 1bi em área de risco - 1997: Programa Nacionalde Eliminação da Filariose; tratamento dos parasitados e controle do vetor Morfologia - Dimorfismo sexual; fêmeas maiores do que machos - Bem finos - Microfilárias tem bainha (“casca do ovo que não se rompe”; é uma membrana que a diferencia de outros filarídeos, logo, tem importância diagnóstica) - Machos tem extremidade posterior enrolada ventralmente Hábitat Vermes adultos - Vasos e gânglios linfáticos, especialmente região inguinal - Enovelados podem viver de 8 a 10 anos Microfilárias - No sangue, sendo que: de dia: ficam nos capilares pulmonares de noite: ficam no sangue periférico *São produzidas no vaso linfático *Essa variedade no hábitat significa que microfilárias têm periodicidade; isso é uma adaptação ao Culex, mosquito vetor, cuja atividade é noturna; Mosquito transmissor - Fêmea do Culex quinquefasciatus, hematófaga 20 Camilla de Themyscira, filha de Hipólita. MED 110 UFJF - Criadouro: água! poluída, fossas, encanamento, pântano, poço, etc; não precisa ser água corrente - Ciclo de vida do mosquito: bota ovo na superfície da água -> larvas eclodem dentro d’água -> se enovelam e ficam enoveladas até se tornarem mosquito - Infecção: picada do mosquito infectado *Esse mosquito é presente em todo o país, porém, só nas regiões endêmicas existem espécies infectadas. Ciclo biológico Fêmea Culex ingere sangue com microfilária à noite -> dentro do Culex, microfilária vira L3 (larva infectante) -> quando fêmea vai se alimentar de sangue, L3 escapam pela probóscide (sugadouro) do mosquito e caem na pele do hospedeiro -> penetram pele pelo buraco deixado pela picada -> corrente sanguínea -> vasos linfáticos, onde larvas viram vermes adultos -> verme adulto copula -> microfilárias -> microfilárias no sangue (depois de 1 ano) *Período de incubação (da contaminação até os sintomas): 3 a 10 meses *Período pré-patente (contaminação até possibilidade de diagnóstico): 1 ano **Pelo diagnóstico ser tardio, geralmente a infecção se torna uma doença crônica **Atenção: até o momento, essa foi a única parasitose estudada que o período pré-patente é maior que o período de incubação. Patogenia e sintomas - Pode ser/ter: - Assintomática ou subclínica (no início) - Manifestações agudas (alta microfilaremia) - Eosinofilia pulmonar tropical - Ação mecânica (devido a presença de vermes adultos no vaso linfático, causando obstrução): - estase linfática com linfangiectasia (dilatação) - derramamento linfático (linforragia): edema linfático, ascite linfática (se na cavidade abdominal; “barriga d’água”), linfocele (quando linforragia é na túnica escrotal) - Ação irritativa (devido aos vermes adultos): - fenômenos inflamatórios, como linfangite retrógrada (inflamação dos vasos) e adenite (inflamação e hipertrofia dos gânglios linfáticos), e alérgicos, como urticárias e edemas - EPT (eosinofilia pulmonar tropical): aumento de IgE, hipereosinofilia, abscessos eosinófilos com microfilária (nos capilares pulmonares) e fibrose nos pulmões - Manifestações crônicas (baixa microfilaremia) - Elefantíase (começa na fase aguda devido a linfangite, que vai aumentando -> adenite -> linfangiecstasia -> linforragia -> linfedema -> esclerose da derme -> hipertrofia da epiderme -> aumento do volume do órgão, com queratinização e rugosidade da pele - Infecções secundárias agravam quadro de elefantíase - Localizações: pernas, braços, mamas e órgãos genitais *Os maiores males são devido a reação imune à presença de vermes adultos **Manifestações imunoinflamatórias geralmente são devido às microfilárias 21 Camilla de Themyscira, filha de Hipólita. MED 110 UFJF ***Infecção é diferente de doença. Infecção pode ser assintomática. Diagnóstico - Clínico sintomas; - Laboratorial: pesquisa de vermes adultos em gânglios (ultrassom) pesquisa de microfilárias no sangue (gota espessa; tem que ser realizado durante a noite) exame imunológico (pesquisa de antígenos circulantes): ELISA, imunocromatografia rápida; exames de alta sensibilidade e especificidade Tratamento - DEC (dietilcarbamazina); age no sistema linfático E sanguíneo (ou seja, tanto nos vermes adultos quanto nas microfilárias) *Repetir tratamento enquanto houver parasitose - Elefantíase: cirurgia reparadora Profilaxia - Controle do inseto: telas, repelentes, mosquiteiros, saneamento de pântanos 1.9 Hidatidose Professora Clarice - Agente da hidatidose: estágio larval do Echinococcus - Podem parasitar humanos: Echinococcus granulosus, E. multilocularis, E. vogeli e E. oligarthrus - Maior destaque para E. granulosus Morfologia (E. granulosus) Parasito adulto - é um cestódeo (classe) muito pequeno - escólex globoso ou piriforme - colo curto - estróbilo com 3 a 4 proglotes (partes) Ovos - ligeiramente esférico - constituído de camada externa chamada embrióforo - no seu interior, oncosfera ou embrião hexacanto Cisto hidático - forma arredondada, dimensões variam com idade e localização do cisto 22 Camilla de Themyscira, filha de Hipólita. MED 110 UFJF - formado por 3 membranas: adventícia (externa), hialina e germinativa (a partir dela, são formadas todas as outras estruturas do cisto como membrana anista, vesículas prolígeras e protoescóleces) - Em humanos (hospedeiro intermediário acidental), localizações preferenciais: fígado, pulmões, cérebro, ossos, baço e músculos Ciclo biológico - Ovos eliminados com as fezes dos cães -> chegam ao meio ambiente -> ovos já são infectantes e são viáveis por vários meses em locais úmidos e sombrios -> ovos ingeridos junto aos alimentos -> embrióforo semi-digerido no estômago -> bile, no duodeno, libera oncosfera -> embrião penetra na mucosa intestinal, atingindo circulação sanguínea venosa -> fígado, pulmões -> após 6 meses, cisto está maduro e permanece viável por vários anos no hospedeiro intermediário (humano) - No hospedeiro definitivo (cão), a infecção ocorre através da ingestão de vísceras de animais contaminados por cisto hidático fértil -> fixam-se na mucosa intestinal -> maduros em 2 meses -> proglotes grávidas e ovos começam a aparecer nas fezes -> parasitos adultos vivem aproximadamente 4 meses e se não houver reinfecção, cães ficam curados Transmissão - Humanos: ingerindo ovos infectados - Cães: ingerindo vísceras de animais com cistos hidáticos férteis Patogenia e sintomas - Podem demorar anos para serem percebidos; cistos pequenos são assintomáticos e tem lenta evolução - Patogenia depente dos órgãos atingidos, tamanhos e números de cistos - Hidatidose hepática: órgão onde as infecções são mais comuns; reação inflamatória; se localizado profundamente, pode causar distúrbios gástricos, sensação de plenitude pós-prandial, congestão porta e estase biliar, com icterícia e ascite. - Hidatidose pulmonar: segundo órgão mais afetado; parênquima oferece pouca resistência e cisto pode crescer, comprimindo brônquios e alvéolos; manifestações mais relatadas são cansaço ao esforço físico, dispnéia e tosse com expectoração Fatores relacionados à permanência da parasitose - presença de grande quantidade de cães nas propriedades rurais e estes parasitados por E. granulosus; - fácil acesso dos cães a vísceras cruas infectadascom cisto hidático, principalmente de ovinos; - hábito dos camponeses de alimentar os cães com vísceras cruas dos animais abatidos na propriedade, visto ser uma forma econômica de alimentar estes animais; - falta de tratamento anti-helmíntico aos cães; - número insuficiente de abatedouros com inspeção veterinária no meio rural; precária ou inadequada educação sanitária; - falta de cuidados sanitários sobre a população de cães no meio rural; 23 Camilla de Themyscira, filha de Hipólita. MED 110 UFJF - falta de.recursos financeiros e políticos para manter campanhas efetivas contra hidatidose; - falta de controle sanitário dos animais comercializados Diagnóstico em humanos Clínico - manifestações clínicas - exame físico (por vezes, cisto é palpável) - área endêmica+manifestações hepáticas ou pulmonares é indicativo Laboratorial - imunodiagnóstico (ELISA) - suspeita de rompimento do cisto pulmonar: exame de análise do material de expectoração Métodos de imagem (radiografia) Laparoscopia Profilaxia - conscientizar a população rural sobre esta parasitose, vias de transmissão e as medidas de controle, salientando que esta orientação deve iniciar já com as crianças em idade escolar; - não alimentar cães com vísceras cruas de ovinos, bovinos e suínos (no caso de utilizá-las na alimentação dos cães, estas devem ser bem cozidas); - incinerar as vísceras parasitadas dos animais abatidos; - tratar periodicamente, com anti-helmínticos, todos os cães da propriedade; - ter cuidados com higiene pessoal, lavando as mãos antes de ingerir alimentos e depois de contato com cães; - impedir o acesso de cães em hortas e reservatórios de água; - lavar frutas e verduras com água corrente; - evitar contato direto com cães não-tratados; - realizar o controle de insetos, principalmente moscas e baratas, que podem carrear ovos; - inspecionar os animais abatidos nos abatedouros; - construir abatedouros domiciliares para ovinos e suínos, visto estes serem mais comumente abatidos nas propriedades rurais, impedindo o acesso dos cães ao local de abate; - manter somente o número necessário de cães as atividades da propriedade. - vacinas nos hospedeiros intermediários Tratamento - Medicamento, cirurgia e PAIR (punção, aspiração, injeção e re-aspiração do cisto) - Medicamento: albendazol de forma contínua (400mg, duas doses diárias durante 3 a 6 meses) ou intermitente (3 a 6 ciclos de 28 dias com 14 dias de intervalo) - PAIR: punção do líquido hidático através da aspiração e inoculação de substância protoescolicida e respiração após 10 min - Cirurgia: para localizações de fácil acesso e cistos volumosos 24 Camilla de Themyscira, filha de Hipólita. MED 110 UFJF 1.10 Teníase Professora Clarice - Parasitos hermafroditas - Família Taenidae - Especialmente Taenia solium e T. saginata - Popularmente conhecidas como solitárias - Complexo teníase-cisticercose Teníase: causada pela forma adulta da T. solium ou T. saginata no intestino delgado do hospedeiro definitivo (o homem) Cisticercose: causada pela presença da larva (canjiquinha) nos tecidos de hospedeiros intermediários (suínos e bovinos) Morfologia Verme adulto - Corpo achatado dorsoventralmente - Cor branca leitosa - Extremidade anterior bastante afilada - Corpo dividido em cabeça (escólex), colo (pescoço) e corpo (estróbilo); é possível diferenciar T. solium de T. saginata a partir do escólex Ovos - Esféricos - Morfologicamente indistinguíveis - Casca protetora - Embrião, no interior do ovo, possui dupla membrana Cisticerco - Constituído de vesícula translúcida com líquido claro, com escólex e colo no interior; T. solium possui, também, rostelo. - Parede da vesícula possui 3 membranas: cuticular (externa), celular (intermediária), e reticular (interna) - Até 12mm de comprimento após 4 meses de infecção - No SNC, pode se manter viável por vários anos - Passa por estágios até completa calcificação: Estágio vesicular: o cisticerco apresenta membrana vesicular delgada e transparente, líquido vesicular incolor e hialino e escólex normal; pode permanecer ativo por tempo indeterminado ou iniciar processo degenerativo a partir da resposta imunológica do hospedeiro. Estágio coloidal: líquido vesicular turvo (gel esbranquiçado) e escólex em degeneração alcalina. Estágio granular: membrana espessa, gel vesicular apresenta deposição de cálcio e o escólex é uma estrutura mineralizada de aspecto granular. 25 Camilla de Themyscira, filha de Hipólita. MED 110 UFJF Estágio granular calcificado: o cisticerco apresenta-se calcificado e de tamanho bastante reduzido, escólex não identificado. A larva perde a forma elipsóide para assumir um aspecto irregular. Essas larvas são formadas por várias membranas aderidas umas as outras, formando agrupamentos. Encontradas no SNC, especialmente nos ventrículos cerebrais e espaço subaracnóideo. Hábitat - Fase adulta T. solium e T. saginata: intestino delgado humano - Cisticerco T. solium: tecidos subcutâneo, muscular, cardíaco, cerebral e nos olhos de suínos (e, acidentalmente, de cães e humanos) - Cisticerco T. saginata: tecidos dos bovinos Ciclo biológico - Oncosferas = vão se desenvolver em cisticercos - Proglotes grávidas cheias de ovos são eliminadas pelos humanos -> proglotes se rompem no meio externo, liberando milhares de ovos -> ovos são infectantes por meses no ambiente adequado -> hospedeiro intermediário (porco pra T. solium, boi para T. saginata) ingere os ovos -> casca do ovo (embrióforos) sofrem ação da pepsina no estômago -> oncosferas liberam-se dos ovos -> migram pelo corpo -> atingem veias e linfa -> transportadas a todos os órgãos e tecidos do organismo -> podem se transformar em cisticercos em qualquer tecido mole, mas preferem os músculos de maior movimentação e maior oxigenação (como cérebro, coração, masseter e língua) -> infecção humana pela ingestão da carne contaminada de boi ou porco -> fixo na mucosa do intestino delgado -> tênia adulta -> após 3 meses da ingestão do cisticerco, inicia-se a eliminação de proglotes grávidas Transmissão - Teníase: hospedeiro definitivo (humano) se infecta ao ingerir carne suína (no caso da T. solium) ou bovina (T. saginata) infectada pelo cirticerco - Cisticercose humana: ingestão acidental de ovos viáveis da T. solium - Autoinfecção externa: quando portadores de T. solium eliminam proglotes e ovos de sua própria tênia e os levam à boca pelas mãos contaminadas ou pela coprofagia - Autoinfecção interna: pode ocorrer durante vômitos ou movimentos peristálticos do intestino; proglotes grávidas ou ovos iriam para o estômago, depois seriam ativados pela ação do suco gástrico e voltariam ao intestino delgado - Heteroinfecção: quando humanos ingerem água ou alimentos contaminados com ovos de T. solium despejados no ambiente por outro hospedeiro Patologia e sintomatologia Teníase - Apesar de ser conhecida como solitária, infecções geralmente possuem mais de uma tênia - Alergias (devido a excreção de substâncias) - Hemorragias (devido a sua fixação na mucosa) - Destruição do epitélio/inflamação 26 Camilla de Themyscira, filha de Hipólita. MED 110UFJF - Tonturas, astenia, apetite excessivo, náuseas, vômitos, alargamento do abdômen, dores em diferentes regiões do abdômen e perda de peso (parasito cresce muito rápido e exige grande suprimento nutricional) Cisticercose - Graves alterações nos tecidos e grande variedade de manifestações - Oncocercas apresentam grande tropismo pelo SNC - Manifestações variam de acordo com número, tamanho, localização e estágio de desenvolvimento dos cisticercos e com a resposta imune do hospedeiro - Músculos: geralmente assintomática; se grande número de cisticercos, pode apresentar dor, fadigas e cãimbras - Tecido subcutâneo: indolor, confundível com glândulas sebáceas - Coração: palpitações, ruídos anormais, dispneia - Olhos: reações inflamatória, possibilidade de perda parcial ou total da visão, catarata. - SNC: processo inflamatório (presença do cisticerco no parênquima cerebral ou nos espaços liquóricos), formação de fibroses, granulomas e calcificações. Os cisticercos parenquimatosos podem ser responsáveis por processos compressivos, irritativos, vasculares e obstrutivos; os instalados nos ventrículos podem causar a obstrução do fluxo líquido cefalorraquidiano, hipertensão intracraniana e hidrocefalia e, finalmente, as calcificações, que correspondem a forma cicatricial da neurocisticercose e estão associadas a epileptogênese. As manifestações clínicas em geral aparecem alguns meses após a infecção. Em cerca de seis meses o cisticerco está maduro e tem uma longevidade estimada entre dois e cinco anos no SNC. As manifestações clínicas mais freqüentes são: crises epilépticas, síndrome de hipertensão intracraniana, cefaléias, meningite cisticercótica. Diagnóstico Parasitológico - Pesquisa de proglotes e ovos nas fezes - Detecção de antígenos Clínico - Aspectos clínicos, epidemiológicos e laboratoriais - Exame de fundo de olho Laboratorial - Pesquisa do parasito em laboratório Imunológico (ELISA) Neuroimagens (RX, TC, RNM; TC é o método indicado) Profilaxia - Manter suínos longe das fezes humanas - Tratamento dos doentes - Saneamento básico - Educação em saúde - Orientar a população a não comer carne crua ou mal passada - Vegetarianismo (rsrs) 27 Camilla de Themyscira, filha de Hipólita. MED 110 UFJF Tratamento Teníase - Niclosamida (age SN da tênia levando à imobilização): 4 comprimidos, 2 de cada vez, intervalo de 1h; 1h depois da última ingestão, 2 colheres de leite de magnésio para facilitar a eliminação das tênias inteiras e evitar autoinfecção - Praziquantel: 4 comprimidos dose única Neurocisticercose - Albendazol+dexametasona (para evitar inflamação) durante 8 dias 1.11 Esquistosomose Schistosoma mansoni Professora Elaine Morfologia Adulto macho - cerca de 1cm - esbranquiçado - tegumento recoberto de tubérculos Adulto fêmea - cerca de 1,5cm - cor mais escura devido ao ceco com sangue semidigerido - tegumento liso Ovo - oval - sem opérculo - miracídio já formado, visível pela transparência da casca - forma usualmente encontrada nas fezes Miracídio - forma cilíndrica - células epidérmicas com cílios - parte posterior: células germinativas; ciclo tem continuação no caramujo Cercária - duas ventosas; oral=reprodução, ventral=fixa ao hospedeiro Hábitat - Vermes adultos: sistema porta Ciclo biológico - verme adulto no sistema vascular humano -> veias mesentéricas -> fêmeas postam ovos no nível da submucosa de capilares e vênulas -> em 1 semana, ovos estão maduros (miracídio formado) -> luz intestinal -> ambiente externo -> em contato com a água, ovos liberam miracídios -> entram em moluscos -> tecido subcutâneo 28 Camilla de Themyscira, filha de Hipólita. MED 110 UFJF molusco -> se transforma em esporocisto (larva) -> glândulas digestivas molusco -> transforma em cercária -> emergência para meio aquático (externo) -> penetração na pele ou mucosas do hospedeiro definitivo (ps: podem ser ingeridas, mas só continua ciclo se penetrarem na mucosa da boca; larvas que chegam ao estômago são destruídas pelo suco gástrico) -> larvas são denominadas esquistossômulos -> penetram em vasos e são levadas passivamente aos pulmões -> sistema porta -> viram adultos, acasalam e fêmeas depositam ovos *Se decorridos 20 dias e ovos não chegarem à luz intestinal, miracídios morrem **Ovos podem ficar presos na mucosa intestinal ou serem arrastados para o fígado ***Ovos que conseguirem chegar à luz intestinal vão p/ exterior com bolo fecal e tem expectativa de vida de 24h a cinco dias ****Primeiros ovos são vistos nas fezes após 42 dias da infecção Transmissão - Penetração ativa das cercárias na pele e mucosas - Especialmente pés e pernas (regiões mais comumente em contato com água contaminada) Patologia - Varia de acordo com carga parasitária e sistema imunológico do hospedeiro Cercária - Dermatite cercariana ("sensação de comichão, erupção urticariforme e é seguida, dentro de 24 horas, por eritema, edema, pequenas pápulas e dor”; processo imunoinflamatório) Esquistossômulos - No sistema porta intrahepático: linfadenia generalizada, febre, aumento volumétrico do baço e sintomas pulmonares Vermes adultos - Espoliações devido a alto metabolismo; consomem ferro e glicose Ovos - Em grande quantidade: hemorragias, edemas da submucosa, formações ulcerativas pequenas e superficiais; lesões são reparadas com reconstituição dos tecidos. - Ovos que atingem o fígado: alterações mais importantes da doença; Sintomatologia/evolução da doença ESQUISTOSSOMOSE AGUDA Fase pré-postural - Sintomatologia variada; há pacientes assintomáticos e os que reclamam de mal-estar, febre, sintomas pulmonares e hepatite aguda Fase aguda - Enterocolite aguda e necrose pulmonar - Forma toxêmica: febre, sudorese, calafrios, emagrecimento, fenômenos alérgicos, diarréia, disenteria, cólicas, tenesmo, hepatoesplenomegalia discreta, linfadenia, leucocitose com eosinofilia, aumento das globulinas e alterações discretas das funções hepáticas ESQUISTOSSOMOSE AGUDA 29 Camilla de Themyscira, filha de Hipólita. MED 110 UFJF - INTESTINO: diarréia mucossanguinolenta, dor abdominal e tenesmo - FÍGADO: aumento de volume, doloroso à palpação; evolução: fígado reduzido e fibrosado; obstrução dos ramos hepáticos da veia porta, que gera hipertensão portal - HIPERTENSÃO PORTAL gera: esplenomegalia, varizes e ascite (“barriga d’água”) Diagnóstico - Clínico: anamnese detalhada - Laboratorial: EPF:Kato-Katz; métodos de sedimentação ou centrifugação em éter sulfúrico ou método de concentração por tamização *Há necessidade de repetir o exame se a carga parasitária for pequena - Biópsia ou raspagem da mucosa retal - Ultrassom - Métodos imunológicos (ELISA, reação intradérmica, PCR) Tratamento - Quimioterápico: oxamniquina (p/ adultos, dose única 15mg/kg) e praziquantel (60mg/kg durante 3 dias) Profilaxia - Tratamento da população, saneamento básico, combate aos caramujos transmissores CARAMUJOS TRANSMISSORES DE SCHISTOSOMA MANSONI - Espécies do gênero Biomphalaria. - Encontradas eliminando cercárias: B. glabrata, B. tenagophila e B. straminea - Hábitat: água em movimento lento com leito raso, lodoso ou rochoso. Protozoozes 2.1. Toxoplasmose Toxoplasmagondii - Protozoário cosmopolita com alta prevalência sorológica; casos de doença são menos frequentes. - Doença mais comum em recém-nascidos; caracterizada por encefalite, icterícia, urticária, hepatomegalia, coriorretinite, hidrocefalia e microcefalia; altas taxas de morbidade e de mortalidade. - Grave quadro de evolução em indivíduos com sistema imune comprometido (receptores de órgãos; infectados com HIV) - Zoonose com infecção muito frequente em mamíferos e em aves - Felídeos são os hospedeiros definitivos - Homem e outros animais são os hospedeiros intermediários Hábitat 30 Camilla de Themyscira, filha de Hipólita. MED 110 UFJF - Pode ser encontrado em vários tecidos, líquidos orgânicos e células, exceto em hemácias. - Felídeos não imunes: formas do ciclo sexuado no epitélio intestinal e formas do ciclo assexuadao em outros locais do hospedeiro Morfologia - Formas infectantes: taquizoítos, bradizoítos e esporozoítos → invasão dessas formas na célula hospedeira envolve motilidade e liberação de proteínas e de lipídeos das organelas do parasito Taquizoíto - Forma encontrada durante fase aguda da infecção - Formato de arco (ou banana) - Forma móvel, de multiplicação rápida (por endodiogenia) - Rapidamente destruídos pelo suco gástrico Bradizoíto - Forma encontrada em vários tecidos durante a fase crônica da infecção - Também chamado cistozoíto (são encontrados dentro do cisto tecidual) - Se multiplicam lentamente dentro do cisto - Resistentes ao suco gástrico Oocistos - Muito resistentes, possuem parede dupla - Produzidos nas células intestinais de felídeos não-imunes e eliminados imaturos junto às fezes - Após esporulação no meio ambiente, cada oocisto contém dois esporocistos,com quatro esporozoítos cada Ciclo biológico - Fase assexuada: nos linfonodos e dos tecidos de vários hospedeiros - Fase sexuada: nas células do epitélio intestinal de felídeos jovens não-imunes - Ciclo heteroxeno Fase assexuada Hospedeiro (pode ser felídeo ou outros animais) ingere oocistos maduros (a partir de água ou alimentos contaminados), bradizoítos encontrados em carne crua ou taquizoítos eliminados no leite → multiplicação (de oocisto, bradizoíto ou taquizoíto) intracelular no tubo digestivo → invasão de várias células do organismo → formação de vacúolo parasitóforo onde sofrerão divisões sucessivas formando taquizoítos (fase proliferativa) → rompimento da célula parasitada → disseminação de taquizoítos na linfa ou no sangue circulante* → resposta imune → morte do hospedeiro ou diminuição do parasitismo → alguns parasitos evoluem para a formação de cistos** → pode permanecer por longo período ou ocorrer reagudização *Até aí, fase aguda **Fase crônica Processos da reprodução assexuada: 31 Camilla de Themyscira, filha de Hipólita. MED 110 UFJF - Endodiogenia: divisão assexuada na qual células-filhas são formadas dentro da célula-mãe - Endopoligenia: endodiogenia mais rápida e com maior formação de taquizoítos Fase sexuada - Dentro da fase coccidiana há fase sexuada (gamogonia) e fase assexuada (merogonia), porque foda-se. - Ocorre no intestino delgado de felídeos jovens Felídeo jovem não-imune, infecta-se oralmente por oocistos, cistos ou taquizoítos → esporozoítos, bradizoítos ou taquizoítos nas células do epitélio intestinal do felídeo sofrem processo de multiplicação por endodiogenia e merogonia → merozoítos → conjunto de merozoítos é chamado meronte ou esquizonte maduro → célula parasitada é rompida → liberação dos merozoítos → penetração em novas células epiteliais → transformação nas formas sexuadas femininas ou masculinas (gametófitos) → maturação → gametas (femininos imóveis, microgametas; e masculinos móveis, microgametas) → macrogameta permanece dentro da célula epitelial, microgametas móveis saem da sua célula e fecundam macrogameta, formando ovo ou zigoto → evolução dentro do epitélio → oocisto → rompimento da célula epitelial → eliminação do hospedeiro junto às fezes → maturação no meio exterior a partir de esporogonia (cada oocisto = 2 esporocistos com 4 esporozoítos cada) *Período pré-patente depende da forma ingerida, variando de 3 dias (infecção por cistos), 19 dias ou mais (taquizoítos) a 20 dias ou mais (oocistos) Transmissão - Uma das zoonoses mais difundidas no mundo - Ser humano adquire por a) ingestão de oocistos presentes em alimento ou água contaminados ou disseminados mecanicamente por moscas, baratas, etc; b) ingestão de cistos encontrados em carne crua ou mal cozida, especialmente do porco e do carneiro; c) congênita ou transplacentária, sendo de 14% no primeiro trimestre da gestação após infecção materna primária até 59% no último trimestre de gestação - Mulheres que apresentam sorologia positiva antes da gravidez têm menos chance de infectar seus fetos - Raramente: ingestão de taquizoítos em leite contaminado ou saliva, acidente de laboratório, transmissão por transplante de órgãos infectados, etc. - Transmissão congênita é a mais grave; as vias de infecção do feto são a) transplacentária, quando a mulher adquire a toxoplasmose durante a gravidez, apresentando, portanto, a fase aguda da doença, pode transferir taquizoítos; b) rompimento de cistos no endométrio, quando a gestante apresente a fase crônica, situação bastante rara; a infecção seria de bradizoítos Imunidade - Imunidade humoral: IgG de 8 a 12 dias após a infecção, seguida da produção de IgM; pesquisa de IgM em recém-nascidos é utilizada para o diagnóstico de 32 Camilla de Themyscira, filha de Hipólita. MED 110 UFJF toxoplasmose congênita pois IgM não é passada pela placenta e indica produção pelo próprio feto de defesa contra T. gondii; Infecção via oral pode induzir a formação de IgA - Imunidade celular: macrófagos e IFN-gama são importantes contra T. gondii Patogenia Toxoplasmose congênita - É necessário que a mãe esteja na fase aguda da doença ou que tenha havido reagudização da mesma durante gravidez Alterações mais comuns: - Primeiro trimestre da gestação: aborto - Segundo trimestre da gestação: aborto ou nascimento prematuro (criança pode apresentar-se normal ou com anomalias graves) - Terceiro trimestre de gestação: criança pode nascer normal e apresentar evidências da doença dias, semanas ou meses após o parto; geralmente há comprometimento ganglionar generalizado, hepatoesplenomegalia, edema, miocardite, anemia, trombocitopenia e lesões oculares. Taquizoítos atingem coróide e retina provocando inflamação e degeneração em graus variáveis; infecção ocular pode só aparecer durante vida adulta - Sintomas enquadrados dentro da Síndrome de Sabin: coriorretinite, calcificações cerebrais, retardamento psicomotor e alterações do volume craniano (micro ou macrocefalia) Toxoplasmose pós-natal - De casos benignos ou assintomáticos até casos de morte - Ganglionar ou febril aguda: forma mais frequente, crônica, benigna, há comprometimento ganglionar, generalizado ou não, com febre alta; pode levar a complicações de outros órgãos. - Ocular: retinocoroidite; foco coagulativo e necrótico na retina, pode estar presenteinflamação difusa da retina e da coróide; lesões podem evoluir para cegueira parcial ou total ou podem se curar por cicatrização; T. gondii alcança a retina através da corrente sanguínea na forma de taquizoítos livres ou taquizoítos residindo dentro de macrófagos circulantes, sendo liberados quando as células infectadas são lisadas. - Cutânea ou exantemática: lesões generalizadas na pele, raramente encontrada, evolução rápida e fatal. - Cerebroespinhal ou meningoencefálica: pouco frequente, sendo mais comum em pacientes imunodeficientes; lesões múltiplas no sistema nervoso; cefaleia, febre, paralisia, confusão mental, letargia, confusões, estupor, coma e até morte. - Generalizada: rara, evolução mortal Diagnóstico Laboratorial - Durante a fase aguda; pesquisa de taquizoítos no sangue ou líquido amniótico - Na fase crônica: biópsia tecidual Imunológico - Teste do corante ou reação de Sabin-Feldman (RSF; muito sensível, detecção de anticorpos); reação de imunofluorescência indireta (RIF; pesquisa de IgM e IgG); 33 Camilla de Themyscira, filha de Hipólita. MED 110 UFJF hemaglutinação indireta (HU); ELISA (detecta IgM, IgA e IgG de baixa avidez); Imunoblot (eletroforese) - Mais usados: RIF e ELISA - Toxoplasmose congênita: pesquisa de IgM no soro do recém-nascido - Toxoplasmose ocular: exame de fundo de olho, teste sorológico (pesquisa de IgG) - Em indivíduos imunodeficientes: testes sorológicos anti-IgG, tomografia para localização de lesões cerebrais. Epidemiologia - Encontrada em quase todos os países - Não se conhece nenhum artrópode transmissor, mas moscas e baratas podem ser vetores dos oocistos - Presente em felinos, suínos, bovinos, equinos, caprinos, primatas, marsupiais, roedores Profilaxia - Não se alimentar de carne crua ou mal cozida de qualquer animal ou leite cru (#govegan) - Manter os gatos dentro de casa e alimentá-los com carne cozida ou seca ou com ração de boa qualidade - Incinerar todas as fezes dos gatos - Exame pré-natal para toxoplasmose em todas as gestantes - Tratamento com espiramicina das grávidas em fase aguda - Desenvolvimento de vacinas (até o momento da publicação do Neves, não havia resultado preventivo concreto das vacinas desenvolvidas) Tratamento - Não existe medicamento eficaz contra a fase crônica; drogas atuam contra taquizoítos, não contra os cistos - Recomenda-se tratamento apenas dos casos agudos, da toxoplasmose ocular ou dos indivíduos imunodeficientes c/ toxoplasmose de qualquer tipo e fase - Medicamentos: pirimetamina+sulfadiazina; pirimetamina+sulfadoxina (pirimetamina em doses prolongadas é tóxica, adicionar ácido fólico ou levedo de cerveja) - Toxoplasmose ocular: antiinflamatório+anti parasitários; cloridrato de clindamicina+sulfadiazina+meticorten; pirimetamina+sulfadiazina+meticorten; espiramicina+sulfadiazina+meticorten; azitromicina. - Pacientes com AIDS: pirimetamina+sulfadiazina ou pirimetamina+clindamicina. - Uso profilático de trimetoprim e sulfametoxazol 2.2. Amebíase Amebíase *E. histolytica e E. dispar; as demais citadas no livro foram solenemente ignoradas 34 Camilla de Themyscira, filha de Hipólita. MED 110 UFJF - Agente etiológico: Entamoeba histolytica - Outra espécie envolvida: E. díspar; associada à maioria das infecções assintomáticas e a alguns casos de colite não-disentérica, contudo, não produz doença como a E. histolytica - Habitat: intestino grosso dos hospedeiros - Espécies de ameba do gênero Entamoeba reunidas em grupos de acordo com o número de núcleos do cisto maduro - E. histolytica e E. dispar: cistos com quatro núcleos Morfologia - E. histolytica Trofozoíto - Possui um só núcleo, bem nítido nas formas coradas e pouco visível nas formas vivas - A fresco: pleomórfico (não possui forma definida), ativo, alongado, com emissão contínua e rápida de pseudópodes, grossos e hialinos - Parecem deslizar pela superfície, tal qual uma lesma - Se proveniente de casos de disenteria: pode apresentar eritrócitos no citoplasma - Se virulento: apresenta bactérias, grãos de amido e outros detritos Pré-cisto - Forma intermediária entre trofozoíto e cisto - Oval ou ligeiramente arredondado, menor que o trofozoíto - Núcleo semelhante ao dos trofozoítos Metacisto - Multinucleado - Emerge do cisto no intestino delgado - Dá origem aos trofozoítos Cistos - Esféricos ou ovais - Possuem de 1 a 4 núcleos - Reserva (vacúolos) de glicogênio Biologia - Hábitat: luz do intestino grosso; podem penetrar na mucosa e produzir ulcerações - Anaeróbios; produzem etanol, CO2 e ATP - Locomoção: pseudópodes - Ingestão de alimentos: fagocitose e pinocitose - Multiplicação: divisão binária dos trofozoítos Ciclo biológico - Monoxênico - Ingestão dos cistos maduros junto à água e a alimentos contaminados → estômago → final do intestino delgado ou início do intestino grosso → desencistamento, saída 35 Camilla de Themyscira, filha de Hipólita. MED 110 UFJF do metacisto → divisões nucleares e citoplasmáticas → trofozoítos metacísticos → intestino grosso → colonizam* → podem desprender da parede e, no lúmen, desidratar e se transformar em pré-cistos → cistos mononucleados → cistos tetranucleados → eliminação junto às fezes humanas** *Ficam aderidos à mucosa do intestino, alimentando-se de detritos e de bactérias; **Geralmente não são encontrados em fezes liquefeitas ou disentéricas Ciclo patogênico - Trofozoítos invadem submucosa intestinal, multiplicam-se e podem (através da circulação porta) atingir outros órgãos como fígado, pulmão, rim, cérebro ou pele. - Essa é a chamada amebíase extra-intestinal - Trofozoíto presente nessas úlceras é denominado forma invasiva ou forma virulenta - Não forma cistos, são hematófagos e muito ativos Transmissão - Ingestão de cistos maduros com alimentos (sólidos ou líquidos) - Alimentos podem ser contaminados por solo ou por água com dejetos infectados ou por cistos veiculados nas patas de baratas e de moscas - Principais disseminadores são os “portadores assintomáticos”; falta de higiene domiciliar contribui para isso Patogenia e virulência - Amebíase = infecção com ou sem doença - Amplos potencial patogênico e diferença de virulência - Invasão amebiana resulta de quebra do equilíbrio parasito-hospedeiro - Algumas bactérias anaeróbicas (como Escherichia coli, Salmonella, Shigella, Enterobacter e Clostridium) são capazes de potencializar a virulência da E. histolytica; - Evolução da patogenia: invasão dos tecidos pelos trofozoítos; ainda não se sabe como isso ocorre. Manifestações clínicas Divididas em: - Formas assintomáticas - Formas sintomáticas - Amebíase intestinal: a) disentérica; b) colites não-disentéricas; c) amebomas; d) apendicite amebiana. Complicações e sequelas: perfuração, peritonites, hemorragia, invaginação, colites pós-disentéricas e estenoses - Amebíase extra-intestinal - Amebíase hepática: a) aguda não-supurativa; b) abscesso hepático ou necrose coliquativa. Complicações do abscesso hepático: ruptura, infecção bacteriana e propagação p/ outros órgãos. - Amebíase cutânea - Amebíase em outros órgãos: pulmão, cérebro, baço, rim, etc 36 Camilla de Themyscira, filha de Hipólita. MED 110 UFJF
Compartilhar