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Schumpeter e a Inovação no Capitalismo

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Schumpeter
· Dois economistas de teor socialista que ele considerava importantes, mas que são incompatíveis entre si: Walras (privilegia a matemática); e Marx (no que diz respeito à evolução e transformação do Capitalismo).
· Sendo eles tão ambíguos, como é possível que Schumpeter tenha tido algum tipo de ideia? Acontece que ele teve outras inspirações para o seu trabalho: os “Austríacos” e a Escola Histórica Alemã.
· Pensamento e Teoria:
A nossa vida, em qualquer domínio, divide-se essencialmente em dois aspectos: 
· a Rotina, caracterizada por regras que estruturam o nosso comportamento e que seguimos na maior parte das nossas vidas, sem as questionarmos constantemente. É o chamado Comportamento Adaptativo, que ocupa a maior parte da nossa vida, pois com o tempo, vamos seguir as regras que internalizamos, às vezes pela via da própria experiência.
· Mas também somos capazes do Comportamento Criativo, que é o mais importante na óptica de Schumpeter no sentido de ser criativo na acção, sair dos carris criados pelas nossas regras e procurar fazer coisas novas. Isso sim é excepcional.
· E no domínio económico? O que significa ser criativo? Inovar. Ou seja, introduzir novos produtos, novos processos produtivos, novos mercados, novas formas de organização etc. É este o aspecto central do Capitalismo - Inovação, e como ela acontece.
· E no que respeita ao Equilíbrio Geral? 
· Do ponto de vista descritivo, o sistema de equilíbrio geral é completamente falso – as pessoas não maximizam nada, os comportamentos não são sempre racionais, os ajustamentos demoram tempo etc – logo não pode ser usado como uma descrição adequada do funcionamento da economia. 
· No entanto, podemos antes utilizá-lo como um Instrumento para descrever aquilo que seria um comportamento puramente adaptativo da economia como um todo.
· Ou seja, tem uma visão instrumentalista em relação ao equilíbrio geral: não é uma descrição literal de como o mundo é, mas é antes um bom instrumento para perceber se a adaptação fosse perfeita, para onde é que convergiria a economia como um todo – é aqui que surge a sua inspiração por Walras e a sua teoria do equilíbrio. Mas será ela verdadeira?
· Portanto, estamos num sistema governado maioritariamente por regras que os agentes económicos adaptam às circunstâncias em que se encontram – comportamento adaptativo -, e é daqui que surge a capacidade de inovar – comportamento criativo. 
· Segundo Schumpeter há um agente fundamental neste mecanismo da Inovação, e é o Empreendedor. É ele que inova, e só se mantém empreendedor enquanto inova.
· Então, a Inovação vai depender das características subjetivas do empreendedor, mas também do contexto em termos de condições objetivas e mesmo o contexto institucional em que ele opera. A questão é: Como é que a Inovação vai ser financiada?
· O que realmente vai definir o Capitalismo de Schumpeter vai ser o contexto institucional de financiamento da Inovação.
· A inovação pode ser concebida em muitos outros sistemas, MAS, a forma de financiar a inovação é típica de um sistema Capitalista. 
· E como é que é financiada? Através do Crédito Bancário. É aqui que surge o segundo agente na ótica de Schumpeter – o Banqueiro que, perante variados projetos vai decidir se valem a pena ou não serem fiananciados. Tal significa que, se o sistema bancário funcionar mal coletivamente, o resultado vai ser uma catástrofe.
· Regra geral, os empreendedores são pessoas externas à indústria, e entram nelas com ideias novas, financiadas pelo banqueiro. - Para ser empreendedor não é necessária poupança prévia caso contrário só os capitalistas poderiam ser empreendedores. O sucesso dos inovadores é que vai determinar se eles se tornarão capitalistas ou não.
· Mas um empreendedor nunca aparece só. Há uma tendência a aparecerem concentrados no tempo. Portanto, a aparição de uns vai facilitar a aparição de outros, visto que, a partir do momento em que alguém inova num domínio, torna-se mais fácil para os outros darem um passo na mesma direção.
· Supondo que vários vão ser financiados por crédito bancário – há uma injeção maciça de dinheiro na economia, mas não de novos bens, sendo que as empresas só estão agora a ser instaladas.
· Resultado: Gera-se um processo inflacionário – os preços e salários sobem – tal corresponde à fase ASCENDENTE do ciclo de negócios.
· À medida que os novos produtos vão aparecendo e concorrendo com os antigos, alguns dos antigos e dos novos não sobrevivem, resultando que novas empresas irão acabar por desaparecer – fase de RECESSÃO do ciclo de negócios.
· Por fim, chegaremos a um ponto de relativa estabilidade que acaba por ser um equilíbrio aproximado, onde a inovação recomeça e o ciclo se repete. 
· Conclusão: O processo de inovação financiado pelo crédito bancário é razão suficiente para que o processo Capitalista seja necessariamente caracterizado por ciclos, que não são nenhum acidente, são antes endogenamente causados. Não é um defeito, é meramente a forma como a inovação se processa.
· Este movimento cíclico, ao longo do qual é feita uma seleção de empresas, é conhecido como o processo de “Destruição Criadora”, tendo ele uma dimensão sociológica:
· Com a subida e queda de empresas e indústrias, também sobem e caem os estatutos sociais das pessoas à frente das empresas (e indústrias). Logo, no Capitalismo, a ascensão social dá-se através do sucesso nos negócios – descarta-se assim a ideia adoptada no Marxismo de que os capitalistas são sempre os mesmos.
· O processo Capitalista vai-se renovando ao longo do tempo, e no decurso deste processo desenvolvem-se tendências para o capitalismo alterar as suas próprias instituições.
· Alterações no domínio económico vão gerar alterações nas mentalidades, instituições, estilos de vida etc – e daqui advém que, na visão do autor, o capitalismo tem uma tendência para gerar uma transformação de tal forma que faz com que haja forças que o encaminhem em direção ao Socialismo.
· Comportamento Adaptativo vs. Comportamento Criativo
· Seguir um comportamento adaptativo significa que as pessoas seguem rotinas, em que os comportamentos são previsíveis (já que não mudam de dia para dia), adaptando-os consoante haja um choque exógeno. Caso não haja, encontramo-nos num ponto semelhante ao de equilíbrio.
· Nesse contexto, aparece um empreendedor com uma ideia e vai implementá-la (crucial, já que a ideia em si não tem relevância económica). Há uma diferença clara entre o inventor e o inovador/empreendedor, sendo este último o nosso foco. 
· Esta distinção é importante porque inovar acaba sempre por ser mais difícil do que ter um comportamento adaptativo. Porquê? É o comportamento criativo que exige de nós muito mais racionalidade.
· Porque inovar é mais difícil, há também uma maior resistência dos agentes a inovar. É muito mais fácil seguir a rotina ao invés de sair dos carris e ser criativo.
· Sistema Bancário
· É outro fator crucial na teoria de Schimpeter, dada a sua capacidade de criação de moeda pela via da concessão de crédito – Assim o banqueiro é o segundo agente mais importante.
· O processo capitalista vai começar no momento em que a inovação vai ser financiada pelo crédito bancário.
· O capital é um fenómeno especificamente capitalista. Schumpeter tem uma noção de capital que é financeira – são os fundos que estão disponíveis para os investidores investirem, concedidos em geral pelo sistema bancário. 
· Ou seja, o capital não é um fator de produção (como já vimos noutras teorias). Serve é para adquirir fatores de produção.
· Com esse capital, se o empreendedor tiver sucesso, vai obter lucros, que irão atrair mais empreendedores, mas não vão durar para sempre. 
· Os lucros são a fonte essencial da pou+ança que vai permitir financiar projetos futuros MAS, uma parte destes rendimentos vai ser pago aos banqueiros sob a forma de juros.
· Benefício existe sob a forma de rendimento porque cada partícula de poder de compra presente tem um valor superior a uma partícula de poder de compra no futuro, e pode ser usada no presente para produzirmais partículas no futuro.
· Ciclos económicos: Como é que a inovação financiada pelo crédito bancário gera ciclos?
· Se tivéssemos num sistema puramente baseado na rotina, ou seja, em “equilíbrio”, este não geraria ciclos por si só.
· Assim, num sistema Capitalista os ciclos têm de estar ligados à forma como a inovação é criada e processada.
· Os ciclos são uma característica inerente ao capitalismo, mas tal não impede a existência de fenómenos como recessões que se transformam em depressões.
· Vamos analisar 3 aproximações da teoria dos ciclos de Schumpeter:
· Primeira Aproximação: 
- O nosso ponto de partida é o “equilíbrio”, até que surge um empreendedor que instala a sua empresa com os fundos que acumulou. Mas não surge apenas um, mas sim um conjunto de empreendedores, o que não vai durar para sempre visto que as possibilidades de inovação se esgotam passado algum tempo.
- Todos os agentes vão cometer erros, mas nesta 1ª aproximação vamos assumir que não, visto que o objetivo é mostrar que mesmo que ninguém cometa erros, vão gerar-se ciclos económicos.
- Daqui já podemos concluir que os ciclos não são explicados por “erros”, mas sim pelo modo de financiamento da inovação – é uma razão suficiente para a existência de ciclos no capitalismo.
- Se todos os empreendedores forem financiados por crédito, vai dar-se uma injeção maciça de fundos/capital na economia – os preços dos fatores de produção sobem – assim, a única forma de os empreendedores atraírem mao de obra, é com salários mais elevados. Salários sobem – Tal leva a um aumento dos bens de consumo; as empresas instaladas encontram-se perante um cenário em que os seus custos aumentam porque os salários e as receitas aumentaram, sendo que os preços dos produtos aumentaram também.
-Conclusão: Umas saem beneficiadas e outras prejudicadas – é um processo inflacionário pois a entrada maciça de fundos não é acompanhada pelo aumento dos bens.
- Estamos perante a fase de prosperidade do ciclo. Porque é que está condenada a terminar?
· Mais cedo ou mais tarde, as empresas que agora apareceram vão produzir, e os seus produtos vão competir com os das empresas já instaladas que encontram mais dificuldade em manter-se. Daí que muitas terão de se reestruturar ou mesmo encerrar.
· A este processo chamamos de “Destruição Criadora”: as empresas que não se adaptaram desaparecem e são substituídas por empresas/produtos melhores (do ponto de vista dos consumidores claro).
· Esta fase é a fase de recessão. 
· Segunda Aproximação:
- O que a distingue da 1ª é que agora assumimos que as pessoas cometem erros, e tanto mais erros quanto mais irresponsável for a atuação do sistema bancário (daí a sua importância para o bom funcionamento do capitalismo).
- Portanto, temos injeção de dinheiro na economia (antes de começar a produção). As pessoas têm mais dinheiro para consumo e os preços sobem.
· A tendência de muitos agentes vai ser pensar que aquele acréscimo de rendimentos vai ser permanente, e tomam decisões com base nessa ideia.
· P.e: Um homem tem um restaurante em que vão almoçar x pessoas por dia. E, agora, chega à conclusão de que há mais pessoas para almoçar e não as consegue sentar a todas. Assim, pensa que esta é a altura para expandir o seu restaurante e um banqueiro irresponsável vai financiar este projeto que não é nenhuma inovação. Isto pode parecer razoável, mas não é, porque a procura acrescida que o dono tem é um fenómeno puramente temporário de haver dinheiro na prosperidade, dinheiro esse que vai ser, em grande parte, reembolsado na fase seguinte, pois o crédito tem de ser pago, além dos juros; e de ainda não terem surgido os bens novos a concorrer com os antigos.
· Assim, o crédito começa a ser concedido de forma muito facilitada e irresponsável, sendo aprovados projetos cuja rentabilidade assenta na manutenção desta fase de prosperidade; é nestes momentos que a bolsa fica “histérica”.
· No entanto, chegará um momento em que se verifica o ponto de inflexão, onde os agentes começam a sentir que já arriscaram demasiado e começam a vender as suas ações e/ou a parar de conceder crédito. 
- Quanto maiores os erros na fase de prosperidade, maiores os erros que terão de ser pagos na fase de recessão. E que, devido a isto se tornará provavelmente numa depressão.
- Isto quer dizer que todos os projetos que só se manteriam caso as condições da prosperidade fossem ad aeternum, vão começar a ruir. 
· Mas o problema é que caindo essas gerar-se-á desemprego que levará à ruína de outras que podiam e deviam ter sobrevivido, estando as portas abertas para que a economia entre numa espiral em que destruição causa destruição adicional. 
· Isto não quer dizer, no entanto, que estas depressões durem para sempre; o sistema tem sempre capacidade de recuperação. Schumpeter diz então “Quanto mais não fosse por questões humanitárias, mas mesmo por questões económicas, o argumento para a intervenção estatal na depressão é muitíssimo mais forte do que na recessão. 
· Na recessão é melhor o estado não intervir, porque se o fizer está a impedir a destruição criadora de funcionar. Agora, numa depressão, o estado tem de intervir, quer pela via do crédito, quer pela via da despesa pública.”
· Terceira Aproximação:
- Faz a teoria do Schumpeter colapsar ao adquirir um nível de complexidade muito elevado, sendo que depois a teoria não aguenta o peso das diversas coisas que ele constrói sobre a teoria. 
- Esta traz a ideia de que não há razão para existir só um ciclo. E as inovações podem ser de qualquer tipo e não tem de ser todas uma “nova invenção da roda”, como uma nova marca de salsichas, que permite a um empreendedor mudar o seu estatuto social. 
- As ondas longas, marcadas pelas grandes mudanças no sistema e que revolucionam a economia em todas as áreas consumíveis, como a eletrificação da economia, duram cerca de 60 anos, segundo Schumpeter. 
- O primeiro ciclo é a primeira revolução industrial; o segundo é o do caminho-de-ferro; o terceiro surge associado à eletricidade; o quarto é o dos bens de consumo duradouros e da produção em massa destes; o quinto, e que se aproxima agora do fim, é o das tecnologias de informação e comunicação. Quem estuda estes assuntos prevê que o próximo surgirá associado à biotecnologia.
· Méritos da Teoria
· Os ciclos não são acidentes, fazem parte do capitalismo. 
· Contrariamente aos “Austríacos”, Schumpeter não tem uma teoria puramente monetária dos ciclos: os ciclos não são causados por fenómenos puramente monetários, mas por uma coisa real, que é a inovação.
· É evidente que não seriam causados sem o papel do sistema bancário, mas este não tem capacidade para criar um ciclo por si só. 
· Contrariamente a Keynes, Schumpeter considera um erro grave raciocinar em termos de grandezas macroeconómicas, que, inclusive, não tem para ele existência real. 
· Isso só contribui para ofuscar o que está por baixo desses números de consumo, investimento, entre outros e que é o que verdadeiramente interessa, o processo de inovação. E que é um aspeto ao qual o Keynes nunca prestou muita atenção. 
· Teoria das Classes Sociais
· É uma questão de sociologia, mas, como é entendido por vários estudiosos deste autor, é a chave para compreender a sua obra toda, pois esta é uma espécie de aplicação desta teoria. Nesta, Schumpeter tenta explicar dois problemas. 
· O primeiro é o seguinte: Assume-se que a estrutura de classes, num determinado momento, é um dado. Algo que se constata imediatamente é que acontecem sempre duas coisas: dentro dessas classes existem sempre pessoas a transitar de umas classes para as outras. 
Isto é verdade em todas as épocas da história da humanidade, mas especialmente no capitalismo que tem um mecanismo especificamente montado para que isso aconteça, o sistema de crédito que permite que uma pessoa sem fundos, mas com capacidade empreendedora possa passar da classe trabalhadora para a classe dos capitalistas se tiver sucesso. 
· O que explica a transição das pessoas, para cima e para baixo, dentro das classes e entre as classes? É asua capacidade para fazerem com sucesso alguma coisa nova, ou, como Schumpeter diz, associando sempre à ideia de empreendedor, “é a capacidade que as pessoas têm em termos de liderança”, esse é o conceito fundamental.
 Esta competência faz com que as pessoas sejam capazes de transcender a rotina e fazer coisas novas e, em todas as épocas da história da humanidade, esse é o veículo que faz com que ascendam a uma capacidade superior. Da mesma forma, os que não conseguem cumprir as funções que cabem a essa classe, vão caindo para uma classe inferior. 
No entanto, este processo pode demorar muito tempo, pois, naturalmente, os seus membros depois de instituídos criam barreiras para se proteger a si próprios. 
Ou seja, o que é necessário é ser empreendedor e fazer coisas novas, o que á algo que exige essa liderança.
· Mas porque é que as classes elas próprias aparecem e desaparecem? 
· Schumpeter diz que isto pode acontecer por duas razões. Ou porque não cumprem a função que lhes cabe ou porque a função que lhes cabe deixa de exigir liderança. 
· Quando falamos de várias classes, independentemente do tempo, elas não estão no mesmo plano. Há sempre umas que são superiores em relação a outras. Mas isso não tem a ver com a sua importância social, ou seja, com a importância das suas funções para a sociedade (P.e. daí um agricultor ser tão importante como um cavaleiro; um defende o outro, e o outro alimenta-o).
· No entanto, na pirâmide social, há diferenças que surgem associadas ao uso da capacidade de liderança e ao quão rotineiras são as vidas de cada grupo (P.e. o agricultor tem um trabalho muito mais rotineiro e menos exigente na presença de liderança do que o cavaleiro). 
· Porque é que a nobreza, outrora o pináculo da pirâmide social perdeu a função e a sua importância? Não foi por desempenhar mal a sua função. Esta deixou de desempenhar a sua função, num processo em que quem teve o papel fundamental foi o rei, a emergência do estado moderno. Neste, o rei começa a tornar-se hostil à nobreza, tirando-lhe o poder que esta tinha. Assim, gradualmente deixam de cumprir a sua função e, consequentemente, fazer a sua função, que passa para o exército profissional, pago pelos impostos. Ao mesmo tempo, essa função que deixa de ser cumprida, deixa de exigir tanta liderança quanto exigia anteriormente. 
· A guerra não se torna menos importante. Os líderes passam a, gradualmente, exercer a sua função a uma distância maior do campo de batalha, ou seja, esta vai-se alterando. A função da guerra é rotinizada. 
· Esta teoria também explica o que se passa na época capitalista. Da mesma forma que o processo de fazer a guerra é mecanizado, o mesmo se passa no capitalismo. 
· O capitalismo de que temos falado até agora é concorrencial, com muitas empresas e uma grande taxa de naturalidade e de mortalidade destas. Com o tempo, estas empresas tornam-se cada vez maiores, surgindo até os departamentos de investigação e desenvolvimento, cuja função é pensar em novas inovações, o empreendedorismo começa a ser profissionalizado e o empreendedor é agora uma entidade coletiva. Isto começa a assemelhar-se a uma máquina, com uma exigência dos atributos de liderança cada vez menor. 
· Este capitalismo monopolista, em relação ao concorrencial é melhor ou pior? 
- A teoria neoclássica diria que pior, pois defende que um enquadramento concorrencial é sempre melhor. 
- No entanto Schumpeter diz-nos que essa ideia é falsa. Isso é, segundo ele, pensar em termos estáticos um processo que é dinâmico. E, do ponto de vista da evolução, o olhar sobre este tipo de organizações modifica-se completamente. 
- No capitalismo não se pode negligenciar a inovação, sob pena de “estarmos a cair numa situação Hamlet sem o príncipe da Dinamarca”. O que quer esta expressão dizer é que estaríamos numa peça sem o ator principal. Seria, certamente, outra peça. 
- Quando pensamos em inovação temos de perceber que a concorrência não é aquele cenário idílico em que as empresas são todas iguais e concorrem pelo preço ou pelas variações na qualidade; a concorrência no capitalismo é a concorrência pela inovação. 
- Uma inovação sempre presente mesmo que outras empresas não existam no mercado, pois se forem capazes de inovar melhor e mais rapidamente podem entrar: ou seja, quem está sozinho no mercado sabe que a sua posição está ameaçada se não for sempre eficiente. 
- Esta concorrência pela inovação é tão mais importante do que aquela que acontece pelo preço como um bombardeamento comparado com empurrar uma porta. Nesse contexto de incerteza e inovação permanente, estas empresas grandes, com I&D, têm um papel completamente diferente do que nesse plano estático. 
· Analisemos o que demos em Crescimento. Sem um sistema de patentes, as empresas dificilmente introduziriam inovação, porque sem terem a certeza de que apropriavam os benefícios de uma atividade só por si repleta de incerteza, não teriam razão para se envolverem nessa. O sistema de patente confere um monopólio momentâneo. 
· Não faz sentido alguém defender o sistema de patentes, mas depois mostrar-se contra monopólios e grandes empresas. Essas, a não ser que sejam protegidas pelo estado, surgiram pelo processo de inovação e seu sucesso. E só se vão manter nessa posição enquanto tiverem sucesso contínuo na inovação. 
· Ou seja, o domínio de uma empresa numa indústria é um sinal de eficiência e não de ineficiência, do ponto de vista dinâmico, pois mostra-nos que nenhuma foi capaz de concorrer com ela. 
· Isto não quer dizer que todos os monopólios sejam ótimos e façam o melhor possível pela inovação, há que o investigar; no entanto, não podemos assumir que uma empresa dominante num determinado setor é pior do que se se tratasse de uma empresa concorrencial com uma capacidade de inovar que nunca seria tão elevada.
· Tendências para o Capitalismo se transformar em Socialismo 
· O capitalismo monopolista é melhor do que o concorrencial em termos de sucesso. No entanto, tem a consequência de mecanizar o processo de inovação, ou seja, deixa de exigir atributos de liderança.
· Esta é a tese da obsolescência da função empreendedora. Já não é preciso empreendedores para o capitalismo funcionar, mas estes é que alimentam a classe capitalista. 
· Assim, este processo aponta para o fim da sociedade capitalista. Mas não é a única razão que prevê isso. 
· No capitalismo concorrencial, o empreendedor tem uma ligação emocional à sua empresa, trabalhando para a deixar para os seus sucessores. No capitalismo monopolista não há nenhuma ligação emocional deste género, o capitalista típico lida com ações e obrigações, às quais é impossível ter ligação emocional e não se preocupa com o que deixa aos sucessores, até porque muitas vezes não os têm, pois concluiu que o número ótimo de filhos é 0. Assim, quer é disfrutar do seu sucesso. 
· O número ótimo de filhos é 0 pois sofreu de um processo que o capitalismo estimula e que está na origem dos seus sucessos e tendência para a autodestruição, que é o processo de racionalização. 
· Cada vez mais somos levados a guiarmo-nos pela nossa razão e raciocínio ao invés das tradições, um argumento de inspiração weberiana e que manifesta o lado austríaco de Schumpeter. 
· Com um risco, que é a nossa razão ser mínima; podemos achar que estando a pensar por nós, pensamos melhor do que as gerações anteriores fizeram, mas na verdade as regras que comandavam aquilo que os nossos antepassados faziam incorporavam mais conhecimento do que a nossa mente é capaz de capturar. 
· E, quanto mais nós ficarmos presos à nossa capacidade de raciocínio, mais disfuncionalidades vamos criar no capitalismo. Isto porque começamos a questionar tudo o que é pré-capitalista. 
· A primeira pergunta que um racionalista faz é: “Porque é que existem reis e papas e figuras desse género? Porque é que não somos todos iguais?”. A segunda pergunta será: “Porque é que existem ciclos de negócio e desemprego? Porque é que não pomos o estado a intervir para resolver estes problemas todos?”. 
· E, naturalmente, o estado intervémcada vez mais até “o capitalismo estar numa tenda de oxigénio”. Cada vez mais as políticas que o processo capitalista estimula são anti-capitalistas, que apontam na direção do socialismo, uma sociedade em que a vida económica é comandada centralmente pelo estado. 
· Schumpeter discordava dos “Austríacos”, acreditando que o socialismo poderia funcionar. Este acreditava que, economicamente e na teoria, até poderia funcionar, embora, na prática, não acontecesse o mesmo. E seria um desastre disfarçado de forma a parecer um sucesso. 
· O importante é perceber como é que o processo capitalista, através do estímulo que concede à razão, dá razões para a sua autodestruição. 
· A racionalidade é o que nos torna irreverentes e nos faz perguntar porque é que algo é/acontece de uma forma e não de outra. Mas, ao mesmo tempo, é fácil sobreavaliarmos a capacidade da razão e achamos que as tradições podem ser substituídas com ganho por instituições que são produto do nosso raciocínio. E isso é um perigo para o capitalismo, pois leva sempre a uma sociedade em que há uma tendência permanente para a intervenção estatal aumentar, com todos os problemas que “Os Austríacos” explicam melhor que o Schumpeter.
Keynes
· Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda
· Keynes considera que a teoria que tem dominado o pensamento económico é meramente um caso particular. Não é uma teoria geral. Esta ideia surgiu porque ocorreram crises económicas, como a dos anos 30 de depressão e de elevado desemprego, a qual a teoria clássica não conseguia explicar.
· Postulados da teoria clássica: 
· Salário é igual à produtividade marginal do trabalho. Em equilíbrio estamos na curva da procura por trabalho.
· Utilidade do salário para um dado nível de emprego iguala a desutilidade marginal desse nível de emprego. Ou seja, o salário de equilíbrio coloca-nos na curva da oferta de trabalho.
· Mas, nos anos 30, via-se que a população não estava a trabalhar tanto quanto gostaria para o salário em vigor. Como é que isto é reconciliável com a teoria clássica, em que há desemprego involuntário estrutural?
· Say e Ricardo dizem-nos que a oferta cria a sua própria procura, e pressupõe que quando um individuo decide poupar, vai investir ao invés de consumir. Ora, porque é que supomos que há uma relação de causalidade entre consumir e investir? Ambas as decisões são independentes e motivadas por razões diferentes também.
· A oferta cria a sua própria procura, mas pode ser que a procura que a oferta está a criar não é uma procura que justifica essa oferta: quando o emprego aumenta, o rendimento aumenta, MAS, a psicologia das pessoas é tal, que quando o rendimento agregado aumenta, o consumo aumenta também, mas menos - A derivada do consumo em ordem ao rendimento é positiva mas menor que 1
· O empregador estaria em perdas se o investimento corrente não absorvesse essa diferença entre o aumento do Y e o aumento do C. No entanto, o que realmente vai influenciar o Consumo vai ser a propensão a consumir, e o Investimento, a propensão a investir.
· Estas propensões a consumir e a investir vão fazer com que haja um único nível de emprego de equilíbrio, um nível de emprego em que o investimento absorve toda a diferença entre o que se produz e o que é consumido, para esse nível de emprego.
· Esse nível não pode ser maior que o de pleno emprego, mas também não há nenhuma razão para achar que vai ser igual ao de pleno emprego. O pleno emprego é um caso especial onde a propensão a consumir e a investir manifestam algum tipo de relação entre elas, relação esta que é pressuposta pela teoria clássica, mas que na verdade só existe por mera coincidência ou intervenção.
· Conclusão: O emprego só pode aumentar a par e passo com o aumento do investimento. Caso contrário, o consumo extra que queremos fazer com o aumento do emprego, não vai absorver todo o novo produto que está agora à disposição, logo não é capaz de tornar esse produto sustentável – produto de equilíbrio.
· Regra geral, a flutuações do emprego vão dever-se ao nível de Investimento e suas determinantes (a propensão ao consumo pouco importa).
· A eficiência marginal do capital é igual à taxa de desconto que iguala o valor presente dos cash-flows esperados de um determinado ativo ao preço desse mesmo ativo: basicamente é o valor do retorno que um ativo nos pode dar no futuro vs o preço de aquisição. A taxa de desconto que iguala essas grandezas corresponde à eficiência marginal do capital.
· Assim, vamos querer investir até quando a eficiência marginal do capital não compensar o custo de oportunidade (juro).
· Quando prevemos, podemos fazer isso com maior ou menor confiança, baseando-nos numa base de avaliação mais ou menos sólida. Mas sem dúvida alguma que tendencialmente, a base de conhecimento das nossas expectativas futuras é extremamente precária.
· No entanto, é extremamente fácil prever na época de Keynes. Aqui temos acesso a Mercados de Investimento organizados. – A existência destes permite ao individuo rever a situação do seu investimento, mas não o permite à comunidade como um todo.
· Pressupomos uma convenção de que as valorações do mercado vão ser corretas em relação ao conhecimento existente. - As valorações do mercado vão sendo alteradas conforme haja uma alteração no nosso conhecimento dos factos relevantes que determinam a evolução futura dos investimentos. 
· No entanto, é uma conceção bastante precária.
· Entre várias razões, existe o fenómeno da Especulação. – Os mercados organizados criam um incentivo para que o investidor não se foque nos factos relevantes para o sucesso do seu investimento, mas sim naquilo que as outras pessoas acham relevante! Qual é o risco? Estes fenómenos especulativos podem acabar por dominar o empreendimento, o foco nos factos fundamentais que de facto determinam a evolução dos investimentos.
· Esta tendência para a especulação dominar o empreendimento é, de fato um resultado inevitável nos mercados de investimento líquidos.
· Qual é o problema? As reavaliações constantes da bolsa acabam por exercer uma influência decisiva no investimento corrente. Há certas classes de investimento que são governadas pela expectativa média daqueles que estão de facto a transacionar na bolsa, e não tanto pelas expectativas genuínas do empreendedor. Esta volatilidade que encontramos no mercado de capitais vai fazer-se sentir também ao nível dos investimentos reais mais tudo o que isso implica para o nível de emprego e de produto.
· Ao tomar decisões de investimento temos e olhar para o futuro e podemos fazê-lo com mais ou menos confiança. Mas existem mercados de capitais organizados que tornam líquidas algumas das decisões – gera confiança no mercado. – Isto funcionaria se confiarmos que o mercado de valores faz uma valoração correta do que lá é colocado e, apesar de ser esse o caso grande parte das vezes, temos que ter em conta também o fenómeno da especulação – que se baseia mais na psicologia das massas do que propriamente no juízo razoável, de base empírica.
· Grande parte das vezes nós agimos irracionalmente, por um impulso à ação vs inação, o que cria ainda mais problemas. – Tendo em conta que quando maior a taxa de juro, menor o investimento, interessa saber o que está por detrás dessa taxa de juro!
· Para estarmos em equilíbrio connosco próprios relativo às preferências temporais, um agente tem dois conjuntos distintos de decisões que vai ter de tomar: por um lado, a decisão de quanto do rendimento de hoje deseja consumir hoje e quanto deseja guardar para amanhã; a segunda decisão é tomada a seguir à primeira e é a questão de como guardar o que não deseja consumir de forma imediata, em moeda ou sacrificando a liquidez, ou seja, qual é o grau de preferência do agente por liquidez. 
· Os agentes percebem que o juro não é um retorno à poupança, - porque tomando a mesma decisão, mas guardando o que não se consome em moeda, não receberá juro. 
· Taxa de juro é a remuneração por sacrificar liquidez durante um período específico. Ou seja, esta não remunera a poupança, remunera ofacto de se guardar o poder aquisitivo adiado de uma forma menos líquida. Assim, a liquidez surge como se fosse um bem.
· A taxa de juro é aquilo que equilibra a procura de liquidez com a quantidade disponível de liquidez. 
· Não é o preço que equilibra a procura por recurso para investir com a disponibilidade de nos abstermos de consumir. A taxa de juro não é o nexo que relaciona consumo com investimento. 
· A preferência por liquidez tem um conjunto de razões: razões de transação, razões de precaução e razões especulativas.
· A existência de mercados de capital permite perceber a importância destes motivos para manter os recursos líquidos, algo que depende desse mercado. 
· A existência destes reduz a vontade de manter parte dos recursos de forma líquida por razões de precaução, por outro lado, ao abrir a porta à especulação aumenta a procura por liquidez. 
· Por regra, a curva da preferência por liquidez, que relaciona a quantidade de moeda com a taxa de juro, é dada por uma curva com a taxa de juro a decrescer conforme a quantidade de moeda aumenta (negativamente inclinada). 
· Em certas circunstâncias podemos ter o que é conhecido como armadilha de liquidez, quando existe tanta incerteza que a razão de precaução se torna tão forte que pequenas alterações podem provocar enormes diferenças na procura de liquidez.
· E porque é que a teoria clássica da taxa de juro está errada? 
· A teoria clássica diz-nos que o juro é determinado pela procura e pela oferta de fundos para investir.
· Segundo essa teoria, se houvesse uma alteração na curva da procura por capital, a taxa de juro alterar-se-ia e surgiria um novo equilíbrio.
· Isto é errado porque pressupõe que o rendimento é constante e isso é inconsistente com o pressuposto de que as duas curvas podem movimentar-se de forma independente. Se uma se movimenta é porque a propensão para consumir se alterou, ou porque a eficiência marginal do capital se alterou. E, se o nível de consumo ou investimento se altera, o nível de produto de equilíbrio não pode ser o mesmo. 
· A partir do momento em que o produto não é tomado como uma constante, percebemos que não conseguimos determinar a taxa de juro através destas duas curvas, assumindo-as como independentes. Mas estas só o são para um dado nível de rendimento. Mais uma vez, a teoria clássica acaba por ser um caso particular. 
· Uma série de questões são tomadas como um dado. As variáveis independentes da teoria geral, a propensão para consumir, a curva da eficiência marginal do capital, a taxa de juro e as variáveis dependentes são o volume de emprego e, consequentemente, o nível de rendimento. 
· Evidentemente há um incentivo a levar investimento até ao ponto em que a eficiência marginal do capital é igual à taxa de juro. Isto depende de fatores como o estado de confiança, as expectativas quanto aos influxos futuros, das posturas psicológicas relativas à liquidez, da quantidade de moeda disponível, etc.. Destes determinantes sai um nível de investimento que é o que a economia quer, de facto, fazer. 
· Mas um aumento (ou diminuição) deste investimento necessita de um aumento (ou diminuição) do consumo; porque as pessoas só vão estar disponíveis a libertar recursos para esse novo investimento se a diferença entre o seu nível de rendimento e do seu consumo também aumentar (ou diminuir), algo que só pode ser gerado por um aumento (ou diminuição) do seu rendimento. 
· Em geral, variações do consumo são na mesma direção das do rendimento, embora menores em valor. 
· Um aumento do investimento gera a necessidade de recursos para esse investimento, - as pessoas para um dado nível de rendimento desejam consumir um certo montante, portanto, para libertarem esse recurso o produto tem de aumentar.
· Mas, se o produto aumentou, houve mais transações, isto vai afetar as preferências por liquidez, que por sua vez vão afetar a taxa de juro, que por sua vez vai afetar o investimento e estamos de regresso ao início.
· Para muitos, a “Teoria Geral” não é verdadeiramente tão geral. Faz mais sentido numa situação particular. Se a teoria clássica fazia sentido quando a economia está no pleno emprego, se calhar a teoria geral adequa-se mais quando a economia está muito longe desse pleno emprego e com um nível de desemprego muito significativo. 
· As principais falhas da organização económica em que vivemos são a incapacidade de atingir o pleno emprego e a distribuição desigual e arbitrária do rendimento. 
· O argumento da “Teoria Geral” leva-nos à conclusão de que o crescimento da riqueza depende menos da abstinência dos ricos e mais do consumo. 
· Uma das grandes justificações históricas para a desigualdade, de que os ricos é que poupam, e que sem essa poupança não há investimento. Keynes diz que isso está equivocado, tal como a Teoria Geral nos mostra. 
· Atenção, é evidente que existem justificações para desigualdades significativas nos rendimentos e na riqueza. Se calhar, não tanto como as que vigoram na época. É apenas contra a desigualdade em excesso. Isto porque pode pôr em causa, pelo facto dos mais ricos pouparem mais do que os mais pobres, a própria sustentabilidade macroeconómica, na medida em que é preciso um maior nível de investimento. 
· De forma a gerar uma aproximação ao pleno emprego deve-se incentivar o investimento. Uma das formas de o fazer é reduzir o juro. No entanto, esse tipo de política não deve ser suficiente para garantir o nível ótimo de investimento. Vai ser necessário uma socialização relativamente alargada do investimento de forma a assegurar o pleno emprego. 
· De facto, além disto, não vê mais nenhum problema com o processo de mercado. Este têm um problema em assegurar o pleno emprego, mas em termos da direção em que os recursos são utilizados, não há nenhuma crítica.
· O problema do sistema atual, o capitalista, é na determinação do volume e não da direção do emprego. 
· O individualismo é a melhor salvaguarda da liberdade pessoal e individual, é a grande salvaguarda da variedade da vida; este emerge, precisamente, de um campo extenso de escolha pessoal e cuja perda é a maior perda do estado totalitário. 
· Keynes quer um sistema individualista, de direitos de liberdades e garantias do individuo. Por isso propõe um alargamento das funções do governo. Não no sentido de refinar as decisões económicas dos agentes, mas para que este assuma funções ao nível do investimento para assegurar um pleno emprego e, com isso, tornar sustentável o sistema e o enquadramento político da sociedade contemporânea.
· Esta sugestão surge, pois, Keynes no seu tempo via a vacilar outras economias fustigadas por desemprego e outros problemas macroeconómicos e que, em parte por isso, foram levadas a formas de organização política totalitárias.
A Methodenstreit
· Até agora construímos a História do Pensamento Económico como se fosse uma linha uniforme, desde Adam Smith, sendo que apenas a partir do século XX parece começar a haver uma repartição de correntes, pois a única oposição até ao momento foi a de Marx. Essa conceção está completamente errada. 
· Isto não quer dizer que não houvesse já antigamente uma oposição permanente aos “Clássicos”. Essa era constituída pelas escolas históricas, sendo a mais importante a alemã, de onde saiu, entre outros, Menger. Este acaba por ser depois o fundador da escola austríaca. 
· A sua oposição aos “Clássicos” baseia-se no facto de detestarem que o que era apresentado pelos “Clássicos”: Leis de âmbito geral de aplicação, tinham, na melhor das hipóteses, aplicações a casos particulares; a tradição Ricardiana, que dominou o pensamento económico em Inglaterra, era uma tradição que não propunha nenhuma teoria económica geral, mas sim uma teoria económica muito deficiente. 
· Estes pensavam que não existiam leis económicas gerais, que estas eram dependentes do contexto, instituições, entre outros. Consideravam errado o foco nos indivíduos e o ponto de vista que lhes era atribuído, de se focarem na melhoria do seu bem-estar material; 
· estes pensavam que o individuodevia ser considerado em todas as suas dimensões, pois todas eram importantes para a economia (P.e. Moral). 
· Esta critica não tem em conta que os “Clássicos” sempre deixaram claro que julgavam os indivíduos não na sua totalidade, mas apenas a sua atuação num certo domínio da atividade.
· As escolas históricas focavam-se muito no aspeto social em detrimento do individual, muitas vezes surgindo ligado ao aspeto nacional e até nacionalista. Estes propunham medidas muito mais intervencionistas e protecionistas do que os “Clássicos”, variando também bastante conforme a escola em questão. 
· Apesar do bom ponto de partida, não houve grandes desenvolvimentos por parte das escolas históricas. Para eles a teoria Ricardiana é inaceitável, pois o raciocínio é abstrato, puramente dedutivo e que isola algumas coisas das outras, ignorando as suas interligações.
· Debate Menger vs. Schmoller
· Schmoller sugeria um método que tivesse em conta todas as interligações e que seria um método histórico-indutivo. Assim, era necessária uma investigação histórica de forma a não cair no erro de escolher os pressupostos mais convenientes. E, com base nessa mesma investigação, poder-se-ia produzir teoria económica/social.
· Problema: a transição da investigação histórica para a criação de teorias. A sua conceção de teoria era que fazendo investigação histórica séria e com valor, iríamos chegar a um ponto em que descobríamos o suficiente para encontramos regularidade e termos então uma teoria dedutiva. Esta posição é, no mínimo, ingénua. 
· Um mito existente sobre este debate é que o Schmoller defendia a história e o Menger a teoria. Qualquer um deles reconhecia a importância das duas. O debate é sobre como se faz teoria, algo em que eles divergiam. 
· Menger estava preso ao dedutivismo como forma de fazer teoria, algo que surge muito ligado ao contexto histórico em que viveu. 
· Ele dizia que olhando para a realidade empírica será normal que não encontremos regularidades pois está tudo interrelacionado. 
· Primeiro será preciso separar o que é acidental do que é essencial. Menger considera que o mis individual são os elementos mais simples da realidade.
· Assim, temos de os isolar e, ao fazê-lo, procurar ver se descobrimos regularidades na coexistência e na sucessão dos fenómenos. 
· Ou seja, não conseguimos encontrar regularidades espontaneamente, mas se passarmos para um nível que já não é empírico, um nível que corresponde ao que é essencial e que é construído por nós, podemos tentar encontrar, sob certas condições, regularidades. 
· Mas, como o próprio reconhece, estas regularidades assim construídas só vão verificar-se sob condições que em geral não tem aplicação. 
· A questão que surge, inevitavelmente, é: a seguir a construir as regularidades, qual é o passo seguinte? De que forma essas regularidades vão ajudar a compreender o mundo? 
· A posição do Menger é metodologicamente mais sólida do que a do Schmoller. Neste sentido pode dizer-se que ele ganhou a Methodenstreit. A posição dele é defensável? Não, pois ele está muito preso ao dedutivismo da época. 
· Este episódio é, no entanto, muito importante para perceber o que são os “Austríacos”, que são a continuidade do Menger. 
Os Austríacos
· Em 1920 surge um grupo de economistas (inicialmente eram apenas Mises e Hayek), que descobriu que não tinha grande coisa em comum com os economistas que, entretanto, começavam a ser designados por neoclássicos. Este grupo são os chamados “Austríacos”. 
· Quando reconstruíram as origens das suas ideias, perceberam que começa no Menger e depois nos seus sucessores, como é o caso do Schumpeter.
· O que é ser “Austríaco”? O que fez com que percebessem que não eram um ramo neoclássico?
· Subjetivismo: Subjetivismo quer dizer que quando se procura compreender qualquer fenómeno social tem de se começar pelo não tanto pelo indivíduo, mas pelas perceções que estes têm da situação em que estão envolvidos. A sua ação é intencional, mas são guiados pela maneira como vem as coisas, pelo conhecimento que têm. 
· Assim, pressupostos de teor neoclássico, como o conhecimento perfeito, não é mais do que construir falsas explicações. 
· A ordem numa economia descentralizada implica compreender como essa ordem emerge a partir de indivíduos que são todos diferentes, com contextos diferentes, com conhecimentos diferentes e ignorantes sobre coisas diferentes e que olham para as mesmas coisas de formas diferentes. O que importa perceber é de que forma uma economia constituída por indivíduos desta natureza leva a que o resultado da sua ação não seja um caos. 
· Conhecimento: Segundo os neoclássicos, não havendo barreiras, o conhecimento circulava livremente e a sua aquisição era instantânea. A posição assim seria binária, ou se tem conhecimento ou não. 
· É o ponto chave dos “Austríacos”. A chave destes é que o conhecimento não é algo dado e objetivo, mas sim, algo subjetivo (estando condicionado pelas diferentes perceções), disperso (pelas diferentes pessoas), contextual (dependendo sempre do contexto envolvente), e, em certa medida, tácito (coisas que as pessoas sabem fazer, mas não sabem dizer). 
· Nesta perspetiva, o conhecimento não é algo que está necessariamente certo.
· Os indivíduos têm bocados de informação dispersos que dependem da sua história, entre outros, sendo impossível haver uma mente capaz de centralizar este conhecimento todo, pois uma parte enorme desse é tácito, não sendo explicável. 
· O conhecimento que as pessoas possuem não é objetivo, é subjetivo. As expectativas na base da qual cada um orienta a sua ação para o futuro são subjetivas. Assim, a economia funciona devido ao mercado.
· P.e. Supondo que o mercado é uma rede. Para saber trabalhar com esta não temos de ter nenhuma perceção da sua arquitetura. Para interagir com o mercado também não é preciso ter uma noção dessa rede que ninguém tem. Apenas tem de se prestar atenção a certos sinais, os preços dos bens que nos interessam. Assim, cada um, com as suas características únicas, decide o que é mais razoável produzir. Como resultado da ação de todas as pessoas enquanto conjunto, no período seguinte, os preços modificam-se. E, ao modificarem-se, transmitem sinais aos agentes económicos, que vão perceber se as suas expectativas quanto ao futuro estavam certas ou não e, consequentemente, se estas têm ou não que ser alteradas. 
· O Mercado é um Processo: Um processo de renovação permanente da estrutura de conhecimento que faz as economias funcionar. E este processo não foi desenhado por ninguém, embora necessite de um enquadramento institucional, legal, moral, entre outros para funcionar bem. Este processo, relativamente ordenado, consubstancia uma ordem que não é produto da nossa razão, contrariamente ao que seria uma economia planificada, desenhada e implementada por nós. 
· Ordem Espontânea: O processo de mercado referido é um exemplo daquilo a que “Os Austríacos” chamam uma ordem espontânea, que resulta da ação dos indivíduos, mas não da sua intenção. 
· Estes são os quatro pontos chave para perceber o que é ser “Austríaco”. E, com estes, já é possível perceber que a sua posição é completamente diferente da dos economistas neoclássicos (individualistas). E, para além disso, como é que deles resulta que uma economia planificada nunca poderia funcionar. Como é que essa seria capaz de fazer uso do conhecimento que têm as características que têm (contextual, subjetivo, disperso)? Como é que o planificador tem a informação necessária para saber o que deve ser produzido? 
· Mas o problema começa mais cedo. Para decidir o que deve ser produzido num contexto em que existe escassez é necessário fazer escolhas. 
· O primeiro problema é fazer uma lista de quais são os meios de produção à disposição e do que poderia ser produzido com eles. Embora em contexto neoclássico apenas surja o capital e o trabalho, na vida real isso não acontece, sendo por si só uma tarefa que já vai mais além da capacidade de qualquer mente humana, pois a lista é infinita.
· O Debate sobre o Cálculo numaEconomia Socialista 
Ludweig von Mises (1881-1973) 
· O Cálculo Económico numa Comunidade Socialista (1920) 
· Defende uma posição que era naquela altura controversa: o Socialismo como forma de organização económica é impossível, não permitindo que haja uma economia completa e avançada sobre este sistema, algo que se julgava ser um problema das economias capitalistas e que desapareceriam depois da revolução do proletariado. 
· Toda a gente no decurso da sua vida escolhe entre a satisfação de um bem por oposição a outra, fazendo um juízo de valor. 
· Estes incluem a satisfação da necessidade e, a partir daí, é imputado esse valor aos bens de ordem inferior e depois aos bens de ordem superior que permitem satisfazer essas necessidades. 
· Por rega, as pessoas estão em posição para avaliar os bens de ordem inferior, aqueles que estão mais próximos da satisfação das necessidades. Se as coisas forem simples também é possível que as pessoas valorizem os bens de ordem superior. 
· Mas, quando a relação causa-efeito entre a utilização de um bem, normalmente de ordem elevada, e a satisfação dessas necessidades tem uma grande distância causal, e quando esta relação não é simples, por haver muitas interconexões, é evidente que se torna difícil para o agente valorar os bens de ordem superior, imputar-lhe o valor das necessidades que de facto dependem da sua utilização. 
· Surge aqui a distinção entre problemas económicos simples e problemas económicos complexos. É essencial perceber que esses problemas mais complexos, regra geral, radicam na divisão do trabalho, na especialização. Numa sociedade simples, concreta, em que está tudo ao alcance da mão do agente, este é perfeitamente capaz de dar por si soluções razoáveis aos problemas de como agir em determinadas situações. Implícita em toda a ação do agente está uma valoração qualquer, pois qualquer ação é uma troca, quanto mais não seja do tempo do agente. E quando as sociedades são simples, com uma reduzida divisão do trabalho e poucas trocas, uma solução razoável para um agente é uma solução razoável em geral porque, por hipótese, os outros e as suas ações não dependem muito das ações dos restantes agentes. 
· Facilmente percebemos que os problemas que surgem na economia atual são complexos, quer devido aos processos produtivos e de consumo serem crescentemente complexos e diversificados, mas, acima de tudo, porque há interconexões essenciais entre diversos problemas económicos a que diversos agentes querem ir dando resposta com as diversas ações que vão pondo em prática.
· Nas economias complexas e avançadas, temos verdadeiras constelações de ações de diversos agentes que estão interligadas e que de alguma forma têm de se coordenar. Assim, as soluções que cada um vai, individualmente, dando aos seus problemas económicos têm, de alguma forma, de considerar as multiplicidades ou interconexões para que sejam soluções não apenas individualmente, mas também socialmente razoáveis. 
· Quando o sujeito quer decidir se deve ou não usar um certo bem na produção de um outro bem, o que este quer perceber é se o que ele espera obter com esse uso compensa os custos que têm com esse bem. 
· Nas economias complexas há um auxílio essencial para que as soluções que os sujeitos vão dando aos seus problemas individuais sejam soluções socialmente razoáveis. 
· Os agentes tomam decisões em grande medida com base no cálculo monetário, que tem na sua base preços expressos em unidades monetárias e preços esses que “encontramos no mercado”. P.e. O empresário olha para o preço da tonelada de aço, pensa no preço que espera obter no mercado do output e toma uma decisão sobre se lhe faz sentido ou não usar essa tonelada de aço.
· O cálculo monetário oferece um guia através da plenitude opressiva das potencialidades económicas, permite estender aos bens de ordem superior os juízos de valor que estão ligados e são claramente evidentes naqueles bens próximos da satisfação das necessidades. Torna o valor esses bens de ordem superior capaz de ser computado, oferecendo uma base para que se realizem operações com esses bens de ordem superior. 
· Sem o cálculo monetário toda a produção minimamente complexa andaria às apalpadelas no escuro. 
· Porque é que através do cálculo monetário, que tem na sua base preços em unidades monetárias concorrencialmente definidos, este leva a soluções de problemas individuais que são soluções socialmente razoáveis? 
· Esses preços não são números arbitrários, eles resultam do jogo das valorações subjetivas que os agentes fazem. Não são números estáticos, são fenómenos dinâmicos que emergem da interação competitiva dos agentes uns com os outros. P.e. Imaginem que quero um chocolate. Assumindo que eu o comprei, eu agi com base na minha valoração do chocolate. E quando agimos, estamos a influir causalmente sobre o mundo, estamos a mudá-lo em linha com as nossas valorações. Da cumulação destas interações resultam os preços. O preço é, de certa forma, uma expressão objetiva das valorações subjetivas. 
· Esta reflexão da natureza dos preços aponta-nos para certos limites do próprio funcionamento desses preços e da sua importância. Estes são barulhentos, o valor da moeda flutua e, portanto, pode não ser evidente se uma alteração no preço monetário de uma mercadoria reflete uma alteração das valorações subjetivas do bem em causa ou dos bens necessários para produzir esse bem ou se reflete uma alteração da valoração subjetiva da própria moeda. 
· Regra geral, o cálculo monetário chega, é suficiente para irmos dando soluções socialmente razoáveis aos problemas económicos. E isto é visível com base na evidência, nós com base na evidência vamos dando soluções razoáveis que nos vão permitindo, ao longo da história, aumentar a nossa condição material de vida. Não é apenas suficiente este cálculo, mas é também necessário para que os problemas económicos complexos se vão resolvendo razoavelmente. 
· Aqui falamos sempre de soluções razoáveis e nunca da solução ótima. Isto é algo intencional, pois para “Os Austríacos” não há soluções ótimas, há soluções que vão funcionando o suficiente para ser possível ir dando respostas aos problemas económicos complexos. 
· Para percebermos onde vai entrar o socialismo é preciso desenvolver um pouco melhor o que abordámos sobre os preços.
· Já vimos que as próprias flutuações da moeda nos podem enganar, pois estamos a tomar decisões com base em preços que não sabemos interpretar da melhor forma. 
· A significância dos preços e a capacidade do cálculo monetário nos ajudar a tomar decisões socialmente razoáveis para os nossos problemas, essa significância é tanto maior quanto mais abrangente for o jogo de valorações subjetivas que está na base dos preços que vamos encontrando na realidade. 
· Se só tivermos trocas por moeda de um conjunto limitado de bens, o cálculo monetário possível com esses preços só vai ser relevante e só promove significância e razoabilidade social num conjunto limitado de decisões que, regra geral, envolvem esses bens em causa. 
· Se excluirmos da troca por moeda, os meios de produção, então não vamos ter preços monetários para os meios de produção e não poderemos usar o cálculo monetário para tomarmos decisões razoáveis sobre o uso dos meios de produção. 
· Como vimos, não é para valorarmos e decidirmos como usa os bens próximos da satisfação das nossas necessidades que nós precisamos dos preços. 
· Onde tínhamos dificuldade era a valorar os bens de ordem superior, mais distantes da satisfação das nossas necessidades. 
· Se por definição socialismo é a propriedade coletiva dos meios de produção, sendo estes coisas fora do comércio, não se vão formar preços para esses bens, logo não vamos poder utilizar o cálculo monetário para nos poder guiar na utilização desses bens e, portanto, íamos andar às apalpadelas no escuro. 
· Ou seja, não saberíamos como dar soluções razoáveis aos problemas económicos complexos com que nos estaríamos a defrontar. Assim, é impossível termos uma economia complexa, sustentável, sob umaforma de organização económica socialista. 
· A ideia de uma economia socialista avançada ou complexa é uma impossibilidade. Isto não quer dizer que perante uma economia simples não podemos ter socialismo. 
· A economia familiar é um exemplo de economia altamente centralizada em que o pai e a mãe decidem o que fazer com os recursos comuns. 
· Ou seja, o argumento de Mises deve sempre ser enquadrado na questão dos problemas simples e dos problemas complexos. É nas economias avançadas, com um elevado grau de interação entre os agentes, que é preciso guias externos que permitam tomar decisões razoáveis não apenas para nós, mas que se articulem razoavelmente com as soluções que as outras pessoas vão dando aos seus diversos problemas. 
· E o sistema de preços permite-nos fazer isso, é suficiente e, sem ele, não temos forma de fazer isso. 
· Sem um sistema de preços abrangente, que perpasse a generalidade dos bens da economia, não há forma de dar uma solução razoável aos problemas económicos que vão surgindo.
· Se Socialismo é, por definição, ter os meios de produção como propriedade da comunidade, esta não pode trocar consigo própria, não havendo preços para esses bens. E se não os há, não temos um sistema de preços com uma abrangência suficiente para ter a significância necessária para nos permitir então tomar decisões razoáveis. E, por isso, não é possível dar soluções razoáveis aos problemas económicos complexos e, por conseguinte, esses problemas vão ficar sem solução. 
· O desafio levantado por Mises ao socialismo em 1920 levantou muita polémica e teve muitas respostas. 
· As primeiras, ao longo dos anos 20, foram sobretudo alemãs e eram negações do problema. Diziam que o que Mises defendia remetia para categorias típicas das economias capitalistas e eram problemas que não se verificariam, até porque não fariam sentido numa ótica socialista. 
· Mais tarde, nos anos 30, Mises foi recebendo respostas mais interessantes, de outros economistas, alguns deles herdeiros da revolução marginalista, não só marxistas.
· Estas respostas e as reações do Mises e do Hayek a essas são o que se chama de debate sobre o cálculo socialista. 
· Este pôs a descoberto algumas das diferenças principais entre a perspetiva dos economistas austríacos, herdeiros de Menger e a perspetiva de outros economistas herdeiros da revolução marginalista. Despontou nestas décadas uma certa consciência da diferença por parte dos “Austríacos” e que nas décadas seguintes se foi desenvolvendo, e essas diferenças aprofundando.
Resposta: Oskar Lange (1904-1965) 
· A Teoria Económica do Socialismo (1936) 
· “Foi graças a Mises que muitos socialistas se consciencializaram de que há um problema de alocação de recursos também numa economia socialista.” Ou seja, o próprio Lange reconhece que o problema levantado por Mises era descredibilizado por muitos dos socialistas. 
· “Mises foi longe de mais, ao afirmar ter demonstrado que o cálculo económico é impossível numa sociedade socialista.” 
· O argumento de Mises tem na sua base uma confusão. Este utiliza a palavra preço para se referir a duas coisas diferentes. 
· Por um lado, preço quer dizer rácio de troca no mercado (P.e. Este bem troca-se por tantas unidades daquele bem). Mas, por outro lado, preço também pode significar os termos em que as alternativas são oferecidas. 
· Isto são coisas diferentes, de facto, através dos preços na primeira aceção nós chegamos aos preços na segunda aceção. Mas são os preços na segunda aceção que são indispensáveis para resolvermos o problema da alocação de recursos numa economia. 
· O problema económico da sociedade é o problema da escolha entre alternativas diferentes.
· Para o resolver são precisos três dados: (1) a escala de preferências; (2) o conhecimento dos termos em que as alternativas são oferecidas aka os preços na segunda aceção apresentada; e, por fim, (3) conhecimento da quantidade de recursos disponíveis. 
· Estes três dados dados permitem resolver o problema da escolha. 
· E se o (1) e o (3) são conhecidos no capitalismo não há razão para os julgar menos conhecidos no socialismo. 
· Os termos em que as alternativas são dadas, uma vez tendo a informação em (1) e (3), são alcançáveis através das funções produção que nos dão quanto input é necessário para criar um output, e assim relacionarmos entre os recursos disponíveis e o que podemos produzir.
· Não há razão para achar que uma economia socialista, estes dados essenciais para resolver o problema não possam ser conhecidos. 
· Os preços de mercado, que são no capitalismo a nossa forma de alocarmos os recursos não são fundamentalmente necessários para dar uma resposta razoável ao problema.
· Lange vai agora dar um contraexemplo. Onde mostra que a economia socialista seria capaz de responder ao problema e, para além disso, que a sua resposta seria igual à que encontraríamos numa economia capitalista. 
· Estamos no socialismo, onde há de facto uma coletivização dos meios de produção.
· O Ministério da Produção Central vai listar todos os recursos primários da economia, quanto de cada coisa fundamental é que existe na economia
· Nesta economia, as pessoas são livres para consumirem o que desejarem através do rendimento auferido em ocupações que as pessoas são livres, no mercado das ocupações escolher. 
· O que temos nesta economia é que todas as empresas são do Estado e são geridas por funcionários. Estes têm instruções claras do que devem fazer, que sairão de um livro de microeconomia, produzindo uma quantidade que minimize o custo médio de longo prazo e em que o preço seja igual ao custo marginal. 
· Como se resolve o problema económico? São criados preços contabilísticos para os bens primários.
· Com base nestes, os funcionários que dirigem algumas das empresas públicas vão olhando para aqueles preços, determinando os seus custos, colocar à disposição uma certa quantidade a um certo preço no mercado entre empresas públicas. Outras empresas públicas adquirem a estes preços contabilísticos estes bens de outras empresas seguindo as mesmas regras, até que seja alcançado o consumidor final. 
· No início vai logicamente dar-se um desequilíbrio entre as quantidades procuradas e oferecidas. Estes farão com que os produtores reajam, variando a sua produção. Isto até que no Comité de Planificação Central se comecem a notar excessos de procura e excessos de oferta de alguns dos bens primários. A partir daí há um ajuste do preço contabilístico e alcança-se uma nova iteração, até que se atinja o equilíbrio do sistema. Desta forma, a relativo curto prazo seria atingido o equilíbrio, que é a resolução do problema económico. 
· Não há nenhum mercado, no sentido institucional, para os bens de capital, pois tudo é propriedade coletiva. Os preços iniciais estabelecidos são arbitrários, mas depois de ajustados deixam de o ser. No fim, a estrutura objetiva de preços vai ser exatamente a mesma que se encontra em concorrência perfeita. 
· Esta resposta acaba por ser uma transformação do problema económico num problema de engenharia, caracterizado pela maximização de uma dada função objetivo, sujeito a um conjunto de restrições objetivas, dados pela lista de bens primários e pela lista das técnicas de produção existentes na economia. Este problema tem uma solução ótima. 
· A organização económica serve para computar esta solução. 
· No capitalismo são utilizados os mercados, a concorrência e os preços monetários para chegar à solução. No socialismo, é usado um mecanismo de tentativa erro com preços contabilísticos. Isto, segundo Lange, resultava na mesma solução. 
Este mecanismo tentativa erro não tem propriamente uma solução e só convergiria com grandes exigências de convexidade e caso não houvesse transações fora de equilíbrio. Assim, o equilíbrio teria de ser alcançado antes de haver qualquer transação nos mercados.
Friedrich Hayek (1899-1992) 
· Economia e Conhecimento (1937) 
· Hayek mostra-se descontente com a noção de equilíbrio que encontra nos economistas neoclássicos e também com alguns equívocos queele encontra na própria análise dessa noção. 
· Uma coisa é alguém estar em equilíbrio consigo próprio, agir de acordo com os seus planos de ação, com o que tem intenção de fazer, que está relacionado com o que o sujeito quer fazer, com o que acha possível. Algo diferente é um conjunto de pessoas estarem em equilíbrio. 
· Por um lado, temos apenas um referencial de sentido, e pelo outro temos vários referenciais de sentido. Estar em equilíbrio com as outras pessoas implica que as diversas ações dos diversos agentes sejam compatíveis umas com as outras. 
· Surge aqui um problema pois todos somos diferentes em diversos aspetos, nas crenças, nas realidades, nas necessidades, etc. 
· Hayek diz que para haver coordenação, ou seja, os planos de ação de diversos agentes se coordenarem ou equilibrarem é essencial haver algum tipo de comunicação da informação relevante para os agentes reajustarem os seus planos de ação para os tornarem compatíveis uns com os outros. É necessário transmitir conhecimento, uma palavra que é usada num sentido muito amplo por Hayek. 
· A ciência económica tem então de abordar o que torna possível essa compatibilização dos planos de ação. 
· Em autores como o Lange, e mesmo numa grande parte dos modelos económicos que existem atualmente, a informação é muitas vezes assumida como dada, que todos sabem tudo sobre tudo.
· Se assim for, cada agente sabe o que os outros vão fazer a seguir. Hayek inquire sobre a quem é dada tal informação. E, na sua ótica, a grande questão económica é de que forma os agentes, sem esse conhecimento perfeito, se coordenam. Como é que pessoas diferentes, com perspetivas diferentes, agindo de formas diferentes, no fim de contas, vão agindo e levando os seus planos de ação a bom porto, coordenando os seus planos de ação. 
· O Uso do Conhecimento na Sociedade (1945) 
· É com vista a resolver o problema da coordenação que Hayek escreve este artigo. Neste artigo, pretende demonstrar como é que o sistema de preços competitivo consegue alinhar os planos de ação dos indivíduos. 
· Entre duas pessoas, como a comunicação entre elas é relativamente fácil, os problemas não são muito grandes. Numa economia complexa, há interações entre milhões de pessoas, não havendo, logicamente, a hipótese de falar com todas elas. E assim, tal como é referido no Mises, o sistema de preços é um importante alicerce da coordenação. Outro ponto importante é que não sabemos todos o mesmo.
· Hayek diz que uma sociedade para resolver razoavelmente os seus problemas económicos tem de fazer uso da vastidão de conhecimentos, dispersos pelas diversas mentes, e também coordenar as ações, possivelmente incompatíveis, que os agentes pretendem implementar com base no que desejam. 
· Seria possível todos darem conta desses desejos e conhecimentos, únicos e exclusivos, a um Comité de Planificação Central que depois tomaria as decisões sobre o que cada um fazer?
· O problema não é apenas a dificuldade no processamento e divulgação da informação em tempo real, é também que o conhecimento, sendo por vezes proposicional, e por vezes explícito, muitas vezes é tácito. 
· O sistema de preços permite dar uso a essa vastidão de conhecimentos. 
· Graças a este, podemos economizar na transmissão de conhecimento sem economizar no uso. 
· P.e. Compro um bem por um preço. Mas, se alguém descobrir uma maneira melhor de fazer o bem, pode colocá-lo à disposição por um preço mais baixo e uma qualidade superior, e o agente vai comprar a essa pessoa. 
· Este não sabe porque é que um é mais barato que o outro, mas isso também não é algo relevante, o que interessa é o bem que está ali e o seu preço.
· O preço é, então, um sumário da significância social, com base no qual o agente reage e se orienta. Este ajusta-se de acordo com as ações das pessoas que dependem do seu conhecimento específico.
· Assim, os preços ajudam os agentes a reagir aos resultados das ações das outras pessoas que vêm do conhecimento que lhes é próprio e que o agente não tem. 
· Assim, dada a natureza do conhecimento, apenas uma sociedade descentralizada consegue resolver problemas económicos complexos, porque o conhecimento está também ele disperso nas cabeças das diversas pessoas, e, pela sua natureza, nunca poderia ser todo transmitido para um local centralizado onde daria solução ao problema económico.
· E, nesta sociedade descentralizada, precisamos de fontes de informação simples, resumidas e locais com significância económica, a que os agentes possam reagir, no sentido de ajustarem os seus planos de ação e os compatibilizarem com os planos dos restantes agentes. 
· Ao usar, de forma implícita, o conhecimento dos outros estamos a multiplicar as nossas possibilidades de ação. Cada um está numa melhor posição para usar o conhecimento de que dispõe, e, depois, através destes princípios de comunicação entre os agentes, que são os preços, os agentes vão reagindo. 
· O Significado da Competição (1948) 
· O objetivo é aprofundar a compreensão do processo de mercado, notando que é um processo (não um mecanismo), que é transformativo e que é criativo.
· É com a concorrência que surgem novos produtos, novos processos e novas necessidades. Não há um problema económico estático que a comunidade quer resolver, o que há é um problema real e em constante transformação. 
· E, por isso, os preços, por serem sumários, são muito importantes por permitirem a adaptação rápida a um real que está em constante transformação. 
· Olhando as assunções existentes do lado socialista, como a melhor forma de produzir, quais os recursos existentes, que todos os agentes sabem tudo, é assumir que o problema está resolvido à partida. 
· Nestes termos, o papel da concorrência não estaria esgotado, pois era devido a esta que os agentes descobrem os parâmetros do próprio problema.
· Assim, a visão do Lange, mecanicista e objetivista, está errada, pois a realidade é processual e transformativa. E, mesmo sendo a realidade como este a defende, a concorrência seria necessária para definir a lista dos bens primários e para perceber qual a técnica de produção de determinada empresa. 
· A posição presente na economia ortodoxa, que hoje caracteriza o pensamento económico, não tem esta visão ontológica e que aqui ainda se desenvolvia. E, mesmo Hayek foi se libertando desse pensamento que também fora, em tempos, o seu.
· Princípios da Obra de Hayek 
· Subjetivismo Radical 
· A intuição deste é que um objeto não é um meio de produção por razões objetivas, é um meio de produção porque tem esse papel.
· E tem esse papel porque alguém considera que pode fazer uso desse objeto para produzir alguma coisa que satisfaça uma necessidade. O sujeito acha que algo pode ser utilizado de uma forma que é o papel de meio de produção e é assim que essa coisa é um meio de produção. 
· O que as coisas são em economia depende, em grande medida, do que as pessoas acham que as coisas são, e não das suas características objetivas. P.e. Não é por algo ser muito nutritivo que se torna um alimento. Se um agente o acha, para ele, no seu plano de ação, quem está a interpretar o que este está a fazer percebe que para ele aquele é um alimento, e só percebe o que o agente está a fazer compreendendo a sua relação subjetiva com o objeto. 
· Complexidade e Explicações de Princípio 
· A complexidade do fenómeno social transcende a mente humana e, portanto, da ciência social, o que podemos esperar são explicações de princípio, como a que Hayek dá sobre o funcionamento dos preços. São, no fundo, traços gerais explicativos de um funcionamento tão complexo como o sistema de preços. 
· Competitividade como o Processo Criativo da Descoberta Articula ainda melhor algumas das ideias abordadas no “Significado da Competição”
· Ordem Espontânea e o Liberalismo 
· O Triângulo Hayekiano 
· Surge no início da obra de Hayek, quando ainda se regia muito pela economia ortodoxa. 
· Começando pelo canto inferior esquerdo, encontramos o triângulo Hayekiano propriamente dito. 
· O que este nos pretende recordar é de duas das dimensões daestrutura da produção, o valor e o tempo. E, nesse triângulo, o valor dos bens é dado verticalmente, e o tempo para a completude do processo produtivo é dado horizontalmente. E, quanto mais distante do consumo menor o valor; o valor de um bem de ordem superior depende sempre da necessidade que ele permite satisfazer. 
· No canto superior esquerdo temos a mesma coisa, só que representada por três triângulos. O do meio, sem qualquer tracejado é o que se verifica quando a economia está equilibrada. E, como vemos no gráfico à sua direita, que é uma Fronteira das Possibilidades de Produção (FPP), corresponde ao ponto a preto. E seguindo esse ponto para o gráfico em baixo, o do canto inferior direito, temos o equilíbrio correspondente no mercado de fundos, com a taxa de juro que deverá equilibrar este mercado, e que tem uma relação com o declive do próprio triângulo. 
· Com o crescimento, quer a FPP quer o triângulo tendem a expandir-se. O que nos interessa é quando há uma expansão no crédito, particularmente quando surge por intermédio da política monetária ou bancária, ou seja, quando aumenta a moeda na economia por via do crédito. 
· Um aumento do crédito leva a uma descida da taxa de juro, como vemos no canto inferior direito. As consequências são um aumento do consumo e uma diminuição da poupança, mas também faz com que muitas vias de investimento passem agora a parecer rentáveis, levando a que se queira investir mais. No canto superior esquerdo, a economia ficaria fora da curva das FPP, ficando à direita desta. Isto acontece porque a FPP representa a fronteira sustentável das possibilidades de produção, mas quando os preços dão as indicações erradas podemos, no curto prazo, estar além da FPP, numa fase de boom. 
· Ao nível do triângulo, o que estaria a acontecer? 
· Existem duas forças contraditórias. Por um lado, há recursos a serem atraídos para bens de ordem inferior, para o consumo, que está neste momento em excesso, acima do nível de equilíbrio. Por outro, também há investimento equivocado que, graças às taxas de juro artificialmente baixas, parecem investimentos rentáveis. Assim, temos duas forças opostas, uma tentando encurtar a estrutura de produção e outra a procurar alongá-la. 
· Qual das forças vai dominar? 
· Vai sempre depender de vários fatores, como o local de entrada do dinheiro na economia, crédito ao consumo vs. crédito ao investimento. Normalmente, por diversas razões, Hayek assume que é o lado do investimento que tende a predominar. Há decisões claramente insustentáveis e que se vão mantendo apenas porque as taxas de juro se vão mantendo artificialmente baixas, há crédito fácil e é possível a conversão de alguns bens de ordem inferior em bens de ordem superior e vice-versa. 
· Mas, à medida que o tempo progride, conforme as pessoas se vão reajustando a esta nova situação, há de haver um momento em que os investidores vão ter escassez de meios. Aqueles investimentos que alongaram o processo produtivo, à medida que vão avançando, não precisando de mais recursos que não vão encontrar, pois parte deles foram absorvidos, tanto para alongar o processo de produção como para aumentar o consumo. 
· Nesse momento, perante os recursos escassos que existem vai aumentar a concorrência por estes. Os preços subirão, as taxas de juro farão o mesmo e aí dá se o momento de bust.
· O Liberalismo associado aos “Austríacos” 
· Liberalismo económico é deixar o máximo de espaço possível para os indivíduos fazerem as suas escolhas. Isto não implica que o Estado seja dispensável, pois tem de haver sempre um enquadramento legal e institucional, e que há coisas que a interação dos indivíduos não vai ser capaz de resolver por si. 
· Na “Constituição da Liberdade”, Hayek apresenta um argumento pelo qual deve ser garantido um rendimento mínimo. 
· Ainda assim, tem de ser deixado o máximo espaço possível para que as decisões sejam feitas pelos indivíduos, pois quem sabe o que lhes convém são eles. As outras entidades, que governam em nome dos agentes, não tem o conhecimento suficiente para tomar as decisões que verdadeiramente convêm aos agentes.
· Assim, é preferível que, na medida do possível, essas decisões sejam tomadas pelos agentes. Quando mais essas decisões passam para os políticos, maior será o risco de acabarem a defender interesses particulares. 
· O grande risco é esse, quando os políticos em vez de defenderem o interesse público, ou darem espaço aos indivíduos de se defenderem, começam a defender interesses de grupos específicos, aos quais, regra geral, eles estão ligados. 
· E é isso que é necessário precaver. Minimizar o que o Estado pode fazer porque quanto mais este se intrometer mais vai favorecer uns grupos em relação aos outros. 
· Os liberais defendem espaço para a atuação dos indivíduos em geral, mas não apenas no mercado. Para além deste, existe, pelo menos a sociedade civil em geral. Os agentes têm relações entre eles que não são apenas de mercado. Deve existir, no mínimo, mercado, sociedade civil e estado. No entanto, o mundo é mais complicado. 
· Já sabemos quais as vantagens do mercado, mas que este também não faz sempre tudo bem. E, ao mesmo tempo, já sabemos também que o estado é necessário para muita coisa, mas que também não se deve intrometer em tudo, pois aí beneficia alguns indivíduos em detrimento de outros, violando os interesses dos indivíduos. 
· Isto não quer dizer que o estado não possa ter um papel na educação, na saúde, e em outras áreas semelhantes. Ter um papel não é o mesmo que ter um monopólio. E, seguindo nesta direção, o fim é uma economia centralizada e planificada, que já percebemos que não é algo concretizável. O importante é a existência de regras claras que limitem o que os estados podem ou não fazer. 
· Hayek faz uma distinção entre liberais à francesa e liberais à inglesa, uma divisão que, contrariando a nomenclatura, não recai apenas na nacionalidade dos autores. 
· A tradição francesa é a seguinte: uma fé muito grande na razão. E, portanto, liberdade é a liberdade de participarmos democrática e coletivamente na elaboração das regras que devem governar a sociedade. A partir do momento em que o processo está concluído, a liberdade acaba, pois seguimos as regras. Os países desta tradição, que vem da revolução francesa e que levada ao limite conduz à planificação central, são países incapazes de se reformar. Esta tradição assenta na construção do sistema ideal e que, através do pensamento este é alcançável. 
· A tradição inglesa é completamente diferente. Inglaterra não possui uma constituição escrita, tendo, no entanto, alguns documentos de valor constitucional, como a “Magna Carta” ou a “Bill of Rights” que representa na prática a subordinação da monarquia ao parlamento. Ou seja, a constituição inglesa é puramente a tradição, não por acharem que as regras tradicionais são todas boas ou as ideais, mas sim porque acham que as regras que sobreviveram muito tempo e que fizeram com que a sociedade funcionasse como uma sociedade livre e relativamente eficiente são regras que devemos respeitar. 
· E é por isto que Hayek diz que não há nenhuma sociedade livre que não respeite a tradição. Estas regras devem ser respeitadas pois incorporam mais conhecimento do que qualquer mente, mesmo a mais inteligente, é capaz de absorver. Se essas regras funcionam, não há a necessidade de as alterar. Essas dão depois o espaço para cada um ter os seus comportamentos, e, desses comportamentos, há de resultar, de forma gradual, através de um processo evolucionista, a transformação dessas regras, num processo que não é planificado. Ninguém pensa que a razão é necessariamente capaz de construir melhores regras do que aquelas que se herdaram; e essas regras, nunca ninguém achou, já há bastante tempo, que fossem puramente o laissez-faire. Toda a gente sabia que havia sempre um papel de enquadramento para o estado e que eram as instituições que garantiam, conjuntamente com a liberdade dos indivíduos e o mercado, que a sociedade funcionasse razoavelmente bem.
· O que caracteriza esta

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