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1 A IMPORTÂNCIA DOS JOGOS COOPERATIVOS NA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR Alessandra A. Victor 1 Jordelina B. A. Voos2 RESUMO Este artigo trata de uma experiência na prática de pesquisa em educação, que teve como objetivos, verificar se os jogos cooperativos podem contribuir para a sociointeração do educando enriquecendo a sua vida social, e significar as aulas de Educação Física Escolar. A pesquisa de abordagem qualitativa foi realizada no ano de 2016 em uma instituição educativa do município de Joinville. Os sujeitos da pesquisa foram 32 alunos do 6° ano do Ensino Fundamental. O instrumento para a coleta de dados foi o teste denominado por Jacob Moreno de Teste Sociométrico. Inicialmente foi aplicado um teste para analisar o grau de integração da turma. Constatada a necessidade de maior participação durante as sessões de Educação Física foram aplicados os jogos cooperativos. Em seguida, o Pós-teste. Os resultados apontaram que, mediante este estudo confirmam-se as questões norteadoras: os jogos cooperativos são muito importantes na prática da Educação Física Escolar, pois contribuem para a socialização e integração dos educandos. Palavras chave: jogos cooperativos; sociointeração; educação física escolar; socialização. ABSTRATC This article deals with a hands-on experience of research in education, which had as objectives, check if the co- op games can contribute to the sociointeração of educating enriching your social life, and mean for the physical education classes at school. The qualitative research was carried out in the year of 2016 in an educational institution in the city of Joinville. The subjects were 32 students from 6° year of elementary education. The instrument for data collection was the test referred to by Jacob Moreno of Sociometric Test. It was initially applied a test to analyze the degree of integration of the class. Given the need for greater participation during the sessions of Physical Education were applied to the co-op games. Then, the Post-test. The results indicated that, upon this study confirm the guiding questions: the co-op games are very important in the practice of physical education at school, because they contribute to the socialisation and integration of students. INTRODUÇÃO Mattos & Neira (2000) fazem referência à cooperação como um trabalho de grande relevância na educação física escolar, voltado para a necessidade de inserir todos os sujeitos 1 Acadêmica do 4° ano do curso de Licenciatura em Educação Física da Universidade da região de Joinville- Brasil. 2 Doutora em Educação pela PUCRS. Professora titular dos cursos de Licenciatura da Universidade da Região de Joinville, Brasil. Coordenadora do Grupo de Pesquisa em Educação- GRUEPE/UNIVILLE. 2 do processo educativo nas atividades, de forma que sintam a sua importância para o sucesso da aula do jogo ou do programa desenvolvido. Os autores citados chamam à atenção para o significado de cooperação que se se opõe ao de competição. O objetivo da primeira é envolver o colega no jogo, colocá-lo próximo, participando das conquistas que, nesse caso, são comuns. Na competição, o objetivo é superar, vencer o adversário, ganhar o jogo. Nesse sentido, justifica-se uma proposta para a Educação Física Escolar, em se tratando de crianças em desenvolvimento facilitando a integração e a participação da vida em grupo e consequentemente maior inserção social. O jogo é importante na formação da criança, onde podemos destacar alguns enfoques como nos orienta Soller (2011, p. 30, apud FRIEDMANN, 1996): - sociológico: influência do contexto social no qual diferentes grupos de crianças brincam. - educacional: contribuição do jogo para o desenvolvimento e aprendizagem das crianças. - psicológico: utilizado para perceber as emoções e a personalidade de quem joga. - antropológico: o jogo refletindo nos costumes e na história das diferentes culturas. - folclórico: analisando o jogo como expressão das diversas gerações, e de como é transmitido através dos tempos. - filosófico: quais valores humanos estão presentes ou ausentes no jogo. Está indubitavelmente comprovado que o jogo é fundamental na formação do ser humano, e que possui uma grande importância como elemento educacional, pois segundo Friedmann (1996), o jogo aprimora algumas dimensões tais como: - desenvolvimento da linguagem: O jogo é o canal pelo qual os pensamentos e sentimentos são comunicados pela criança; - desenvolvimento cognitivo: O jogo dá acesso a um maior número de informações; - desenvolvimento afetivo: O jogo é a oportunidade que a criança tem de expressar seus afetos e emoções; - desenvolvimento físico-motor: - desenvolvimento moral: A construção das regras cria uma relação de respeito com o adulto ou com as crianças. SOLER (2000) nos orienta que, Jogos cooperativos são jogos que facilitam a aproximação e aceitação e em que a ajuda entre os membros da equipe torna-se essencial para se alcançar o objetivo final, aprende-se a considerar o outro que joga como um parceiro, um solidário e não mais como um adversário. Aprende a se colocar no lugar do outro, priorizando sempre o interesse coletivo. 3 Os jogos cooperativos, resultam numa vontade de continuar jogando, aceitando as pessoas como são verdadeiramente. Jogar cooperativamente é reaprender a conviver consigo mesmo e com as outras pessoas. Segundo Soler (2011, p. 68, apud BARRETO, 2000), Jogos cooperativos são dinâmicos de grupo que têm por objetivo, em primeiro lugar, despertar a consciência de cooperação, isto é, mostrar que a cooperação é uma alternativa possível e saudável no campo das relações sociais; em segundo lugar, promover efetivamente a cooperação entre as pessoas, na exata medida em que os jogos são eles próprios, experiências cooperativas. Soler (2011, p. 67, Apud BROTTO, 1999), nos afirma que “cooperação é um processo de interação social, em que os objetivos são comuns, as ações são compartilhadas e os benefícios são distribuídos para todos”. Ele nos orienta ainda que, são jogos que facilitam a aproximação e onde a ajuda entre os membros da equipe torna-se essencial para alcançar o objetivo final. Brotto (2000) define atitude cooperativa como aquela em que os objetivos dos indivíduos são de tal ordem que, para que o objetivo de um deles possa ser alcançado, todos os demais integrantes, deverão igualmente alcançar os seus respectivos objetivos. Algumas situações cooperativas que BROTTO (2000) nos orienta: - percebe-se que o atingimento de seus objetivos, é em parte, consequência da ação dos outros membros. - são mais sensíveis às solicitações dos outros. - ajudam-se mutuamente com frequência. - há maior homogeneidade na quantidade de contribuições e participações. - a produtividade em termos qualitativos é maior. - a especialização de atividade é maior. Os jogos cooperativos têm várias características libertadoras, que são muito coerentes com o trabalho em grupo [...] Brown (1994), segundo ele, os jogos cooperativos também: - libertam da competição: o objetivo é que todos participem para poder alcançar uma meta comum. A estrutura assegura que todos joguem juntos, eliminando a pressão que produz a competição. O participante não se preocupa se vai ganhar ou perder: seu interesse está na participação. - libertam da eliminação: o esboço do jogo cooperativo busca a integração de todos. Muitos jogos tratam de eliminar os mais fracos, mais lentos, mais inábeis, etc. A eliminação é acompanhada pela repulsa e desvalorização. O jogo cooperativo busca incluir e não excluir. 4 - libertam para criar: criar é construir, e para construir, a colaboração de todos é fundamental. As regras são flexíveis, e os participantes podem contribuir para mudar o jogo. Os jogos podem ser adaptados ao grupo, aos recursos,ao meio ambiente e ao objetivo da atividade. Muitos jogos competitivos são muito rígidos, inflexíveis e dependentes de equipes especiais. Tudo isso ocorre porque estão excessivamente orientados para o resultado final. O jogo cooperativo por sua vez, enfatiza o processo: o importante é que os jogadores alegrem-se participando. - libertam da agressão física: podemos oferecer algumas alternativas para o jogo: jogando dentro das estruturas cooperativas, dando ênfase à participação e à autoestima de cada pessoa; criando jogos em cada participante pode estabelecer seu próprio ritmo; adaptando jogos já conhecidos, diminuindo a importância de resultado final e eliminado o contato físico do tipo destrutivo. Portanto, segundo BROWN (1994), no jogo cooperativo joga-se com os outros e não contra os outros. Joga-se para superar desafios e obstáculos e não para vencer os outros. Busca-se a participação de todos. Dá-se importância a metas coletivas e não a metas individuais. Busca-se eliminar agressão física contra os outros. Busca-se desenvolver atitudes de empatia, cooperação, estima e comunicação. Silva, Manzano, Carvalho, Pagani, Abert et al. (Web, 2016) nos dizem que a cooperação: refere-se ao envolvimento e a participação das crianças nos jogos, mostrando aumento da colaboração, da solidariedade, da amizade e do respeito entre elas. Os jogos cooperativos, ao permitirem aos alunos uma nova forma de jogar, melhoram a interação social, levando-os a perceber a possibilidade de haver divertimento sem a competição a que estão acostumados. No jogo cooperativo a busca está em superar desafios e não derrotar alguém, a pessoa que está envolvida no jogo toma consciência de seus próprios sentimentos, colocando- se no lugar do outro, priorizando o trabalho em equipe, onde se procura jogar com um parceiro e não com um adversário, jogar por gostar e pelo prazer de estar com os demais. Por meio destes jogos o individuo consegue perceber que todos são importantes para alcançar determinados objetivos, não priorizando habilidades ou desempenho anteriores. Silva, Dohms, Cruz, e Timossi et al (2012, apud THOMAZ E SILVA,2006). Silva et al (2012, apud ORLICK 1978, p.01) nos diz que, a vantagem dos jogos cooperativos é a participação de todos de forma que todos vencem e se divertem. Elas brincam uns com os outros ao invés de contra, eliminando o medo e a sensação de fracasso 5 entre o grupo. Assim, os jogadores adquirem disciplina e reafirma a confiança despertando um valor em si mesmo como uma pessoa aceitável e digna. EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR: IMPORTÂNCIA Segundo Alves (2014), uma aula de Educação Física pode ser considerada eficiente se atingir três grandes metas: 100% de participação dos alunos, aulas prazerosas para os alunos e predominância da práxis. A Educação Física, enquanto disciplina curricular da Educação Básica tem como privilégio possuir um espaço diferente de uma sala de aula padrão (carteiras dispostas uma atrás da outra, lousa à frente mesa de professor). A sala de aula da Educação física, que normalmente é uma quadra (grande ou pequena, adaptada ou oficial, coberta ou descoberta), oferece, pelas próprias especificidades, maior liberdade de movimentos, de contatos, de ações que podem viabilizar situações mais agradáveis aos alunos e consequentemente um aprendizado mais eficiente. Alves (2014, p. 21 Apud PICCOLO E MOREIRA 2012, p.39), nos diz que a disciplina de Educação física pode colaborar para o aluno se conhecer melhor e buscar prazer em uma vida ativa, saudável, na qual o movimento revela a sensibilidade corpórea. O professor desta disciplina curricular tem o compromisso de disseminar o conhecimento sobre o fenômeno esportivo vivenciado por um corpo unitário, que é há um só tempo motricidade, cognição, sensibilidade, afetividade. Praticar as possibilidades disponíveis no mundo de esportes é ir ao encontro do movimento, do jogo, das práticas de modalidades esportivas e dos exercícios físicos, experimentados de forma lúdica, em que cooperação e participação estejam associadas à competição. A Educação Física possui vários objetivos e um deles é educar o aluno para viver bem a vida. Daí a importância de desenvolver a cooperação, pois, segundo Botto (2001, p. 82) ela mobiliza desafios, reforça a confiança em si mesmo e no outro, incentiva à participação, ensina a ganhar e perder, e também aprimora a pessoa, seja em termos pessoais ou coletivos. Além disso, dá oportunidade ao aluno de ser crítico, ser criativo e fazê-lo pensar. Silva et al (Web, apud CASTELLANI 2009 ) nos falam que a Educação Física tem o dever de ajudar o educando a desenvolver o senso crítico frente à comunidade e o meio social, tendo em mente que cada um é diferente do outro, e que as diferenças não diminuem ninguém, apenas os diferenciam por fora, mas que isso em nenhum momento é motivo para 6 discriminação e exclusão social, mantendo assim mesmo diante as diferenças a elevada autoestima. O educador diante a tais fatos deve sempre repensar e modificar suas práticas pedagógicas, pois esta deve estar de acordo para atender de maneira eficaz as diversas realidades dentro de um mesmo contexto escolar, levando sempre em conta que seu objetivo central como educador é o desenvolvimento do indivíduo buscando sempre a inclusão cultural e social. Silva et al (Web, apud, TUBINO 2001) nos diz que a Educação Física tem grande importância no desenvolvimento do aluno, pois, seu papel primordial é captar as situações do cotidiano do aluno e adaptar as circunstâncias para buscar o melhor aproveitamento das aulas aliado ao desenvolvimento do aluno, o professor tem a função de utilizar todo o conhecimento adquirido, descobrir e adaptar alternativas para incluir todo o educando na aula, e assim alcançar o desenvolvimento do aluno e a socialização do mesmo, o aluno deve concluir sua vida escolar com o mínimo de condição de se expressar utilizando não apenas palavras, mas também o corpo e seus movimentos. CARACTERÍSTICAS DA AMOSTRA NO ASPECTO BIOPSICOSSOCIAL Cruz (2007, p.3), nos orienta que a “pré-adolescência é uma etapa do desenvolvimento humano marcado por profundas transformações não apenas físicas, é também o início da transição psicológica da infância para a fase adulta.” Como consequência, a adolescência afeta o ciclo familiar mais do que qualquer outra fase da vida. A ambivalência, independência/dependência vivenciada pelo adolescente cria tensão e instabilidade nas relações familiares, o que leva a conflitos intensos frequentemente. Ainda segundo CRUZ (2007), as transformações físicas e sexuais que ocorrem na puberdade alteram radicalmente a autoimagem do adolescente. Por isso devido a sua propensão para desafiar e questionar normas provocam transformações em casa, na escola e na comunidade. Eles discordam dos pais em relação a ideias, crenças e valores. Berger (2003 apud KROGER, 1995 e LARSON & HAM, 1993), nos fala que o desenvolvimento biopsicossocial durante a adolescência é mais bem entendido como a busca da compreensão de si mesmo. Em particular, é uma busca por respostas para uma questão que raras vezes surge na infância: “quem sou eu”. Mudanças bruscas que ocorrem na adolescência, como o rápido crescimento num curto período de tempo, o despertar da 7 sexualidade, impessoalidade, na escola, as amizades mais íntimas e os riscos tomados, todos são desafios que levam o adolescente a encontrar sua identidade, a definição de si mesmo, única e consistente. Berger (2003 apud Erikson, 1968) ainda nos orienta que durante a busca pela identidade o adolescente pode experimentar mais de uma maneira de ser ou condição. A condição definitiva, chamada de aquisição de identidade, é alcançada através do repudio seletivo e da assimilação mútua de identificações da infância. Ou seja, o adolescente estabelece perfeitamentesua própria identidade reexaminando os objetivos e valores estabelecidos por seus pais e pela cultura, aceitando alguns e rejeitando outros. A cultura ao redor do adolescente pode auxiliar na sua formação de identidade de duas maneiras principais: fornecendo valores que passem no teste do tempo e que continuem a desempenhar sua função, e fornecendo estruturas sociais e costumes que facilitem a transição da infância para a vida adulta (...), numa cultura onde em geral, todos compartilham os mesmos valores morais, políticos, religiosos e sexuais e onde as mudanças sociais são lentas, a identidade é fácil de ser obtida, de acordo com (Berger 2003). O desenvolvimento social está talvez no momento áureo, considerando a intensidade dos desejos de aproximar-se das pessoas, de estabelecer relações mais profundas e dos ensaios de dar e receber numa dimensão mais criadora que reverta em possibilidades de expressão e riqueza de personalidade. Marques (1979 pg. 201). Marques (1979, apud MUSSEN, CONGER E KAGAN, 1969) nos diz que o pré- adolescente se sente preocupado em relação a aceitação ou rejeição, bem como a indiferença dos colegas tornando significativamente a diminuir a sua autoestima. Ele ainda nos orienta que, os pré-adolescentes que se sentem aceitos por seu grupo de idade gostam das pessoas, são tolerantes, flexíveis, simpáticos e, sobretudo, alegres, capazes de gozar a vida em sua plenitude. Por outro lado, aqueles que se percebem rejeitados sentem-se incômodos nas relações interpessoais e tendem a demonstrar comportamentos de isolacionismo, timidez e consequentemente falta de liderança, iniciativa e prazer no convívio social. Ainda segundo Marques (1979 p. 204) ele põe em pauta a necessidade que todos nos sentimos de sermos aceitos e aprovados por nossos grupos de convivência, particularmente aqueles que são mais próximos como a família e o grupo de amigos com os quais convivemos mais frequentemente. Na pré-adolescência, porém, esta necessidade de aprovação torna-se crítica, pois ele depende dela para confirmar aqueles comportamentos e atitudes que passarão a funcionalmente servir-lhe como pontos de referência para sua conduta social. Esta aprovação, neste momento da vida, tem o sentido de uma avaliação e um julgamento de 8 quanto o indivíduo está bem se desempenhando como pessoa. As expectativas que são reveladas em pequenos comentários, ou por vezes até em brincadeiras, assumem proporções de um veredito quase imutável quanto as qualidades pessoais e às possibilidades de auto realização. Arroyo & Silva (2012 p. 164 apud LEE & MOTZKAU 2011) citam que as mudanças que ocorrem no corpo interagem no processo de definição do estatuto social de crianças, adolescentes e jovens. Para o autor, os dois campos de conhecimento, os estudos sociais da infância e do desenvolvimento infantil, são realizados em tensão, pelo dualismo do biológico e do social. Segundo Arroyo & Silva (2012 pg. 164 apud FINGERSON 2009) o nosso corpo é uma variável na interação social. Corpos não são estáticos, estão em constante movimento e mudança por meio de processos com o envelhecimento, puberdade, juventude etc. Isso é particularmente verdadeiro para crianças cujos corpos mudam ainda mais drástica e rapidamente do que dos adultos. Quando ocorrem alterações sobre nossos corpos físicos, muda a maneira como interagimos com os outros como sujeitos nas relações sociais. O modelo dominante de socialização relega aos pré-adolescentes e os seus corpos para um papel passivo, enfatizando a moldagem social ao invés de ações ativas por parte das crianças. Arroyo & Silva (2012 p. 165 apud PROUT 2000). O autor ressalta que a concepção de socialização enquanto um processo acentua-se os aspectos dinâmicos, flexíveis e mutáveis das relações e interações que se estabelecem na sociedade. É de suma importância inserir na análise a socialização enquanto um processo, pois nos permite ampliar o foco de investigação e compreender as várias dimensões que interferem na sociabilidade, afetividade e corporeidade das crianças e jovens, que envolvem aspectos de ordem individual, bem como fatores vinculados às condições sociais e culturais em que vivem as suas famílias, além de fatores implicados nas relações étnicas, de gênero e de classe. Assim como fatores de ordem natural, nas relações que se estabelecem entre as famílias e a natureza, vivenciados já na infância e que possuem implicações nos significados e nas formas de relacionamento do corpo nos diferentes processos de socialização vivenciados na infância e juventude. Nesse sentido implica necessariamente a existência de processos que são dinâmicos em constante modificação e com dimensões que integram fatores de ordem social, cultural, econômica e biológica. Arroyo & Silva (2012 p. 167,168). 9 METODOLOGIA A pesquisa inicialmente foi fundamentada em referencial teórico pertinente a área mediante um levantamento bibliográfico sobre a temática em questão. Para a coleta de dados foram usadas as técnicas pertinentes à pesquisa de campo, no caso a pesquisa social cujo instrumento foi o teste sociométrico. A abordagem foi inicialmente quantitativa, fundamentou o processo de acordo com o resultado da coleta produzido pelo teste sociométrico. Posteriormente para interpretação dos dados foi necessário, a análise do conteúdo das respostas. A comunicação dos resultados se deu de forma descritiva. Richardson (1999, p. 15) orienta que não existe uma fórmula mágica para realizar uma pesquisa ideal. Para pesquisar precisa-se ter conhecimento da realidade, algumas noções básicas da metodologia e técnicas de pesquisa, seriedade e, sobretudo trabalho em equipe e consciência social (...). Os diversos problemas que surgem no processo de pesquisa não devem desencorajar o principiante, a experiência lhe permitirá enfrentar as dificuldades e obter produtos adequados. Segundo Richardson (1999 p. 80) os estudos que empregam uma metodologia qualitativa podem descrever a complexidade do problema, pois ao analisar a interação de certas variáveis, compreender e classificar processos dinâmicos vividos por grupos sociais, contribuir no processo de mudança de determinado grupo e possibilitar, em maior nível de profundidade, o entendimento das particularidades do comportamento dos indivíduos (...). O autor ainda nos exemplifica com pelo menos três situações que implicam estudos de conotação qualitativa: - situações em que se evidencia a necessidade de substituir uma simples informação estatística por dados qualitativos. Isto se aplica, principalmente, quando se trata de investigação sobre fatos do passado ou estudos referentes a grupos dos quais se dispõe de pouca informação. - situações em que se evidencia a importância de uma abordagem qualitativa para efeito de compreender aspectos psicológicos cujos dados não podem ser coletados de modo completo por outros métodos devido à complexidade que encerra. Nesse sentido, temos estudos dirigidos a analise de atitudes, motivações, expectativas, valores etc. - situações em que observações qualitativas são usadas como indicadores do funcionamento de estruturas sociais. Gil (1999 p. 72) descreve que no estudo de campo estuda-se um único grupo ou comunidade em termos de sua estrutura social, ou seja, ressaltando a interação de seus 10 componentes. Assim, como nesta proposta o estudo de campo tende-se a utilizar as técnicas de observação e de registro do que em outros tipos de pesquisa. Fizeram parte da pesquisa crianças com idade entre 11/12 anos de ambos os sexos, matriculados no 6° ano do Ensino Fundamental de uma escola pública da rede Municipal de Ensino. Os dados foram coletados mediante a aplicação do teste denominado por Jacob l. Moreno como teste sociométrico. Para Gil (1999, p. 157) a sociometria procura captar e mapear as relações de atração e repulsãoentre membros de um grupo social, através da investigação das preferências de cada membro do grupo. Esse teste tem sido utilizado, para a obtenção dos seguintes dados: - a posição que cada um dos componentes ocupa no grupo, bem como a que julga ocupar; - as relações de afinidade e de conflito entre os componentes do grupo; - a estrutura sociométrica do grupo: rede de comunicações, focos de tensões, subgrupos etc.; - a dinâmica dos grupos: modificações dos quadros e evolução dos processos grupais. Mediante esse teste foi feito o levantamento sobre o grau de interação percebido nos grupos que constituem a turma onde foi realizada a intervenção. Continuando com a fundamentação de GIL (1999), a partir da apuração dos dados foi possível construir os índices sociométricos classificando desta forma, os componentes da turma em termos de aceitação ou rejeição. Para dar visibilidade aos dados apurados foi construído um sociograma. Como a turma é mista os meninos foram representados por um círculo azul e as meninas por um círculo rosa. As tendências quanto interação foi representada por uma flecha indicativa. ANALISE E INTERPRETAÇÃO Para a construção do sociograma, foi solicitado as crianças que respondessem três perguntas: a) Com quem você gosta de fazer as atividades (tarefas, exercícios), na escola? b) Com quem você gosta de fazer as atividades de Educação Física? c) Com quem você não gosta de fazer as atividades tanto de Educação Física como de outras disciplinas? Organizando os dados das respostas, o sociograma foi montado, apresentando a configuração que está registrada na página que segue: 11 Figura 1- Sociograma -Grau de Interação da turma do 6°ano CV 12 Na configuração do sociograma foi possível observar que das 32 crianças somente três, votaram e receberam três votos. Dois receberam dois votos. Quatorze crianças apenas um voto e as demais onze crianças não receberam nenhum voto, isto é estão à margem do grupo. Ficou evidente que havia necessidade de intervenção pedagógica. Continuando a análise dos dados, em um segundo mapeamento da turma quanto o grau de envolvimento em atividades das disciplinas curriculares incluindo a de Educação Física, pode constatar que além do isolamento aparece alto grau de rejeição para uma criança. Para os demais, a rejeição não é tão proeminente. Figura 2- Relações de conflito - turma do 6° ano CV 13 A partir destes resultados, foi dado início à intervenção pedagógica. Foram ministradas 20 aulas de Educação Física cujas atividades foram centradas nos jogos cooperativos. As atividades foram realizadas em equipes onde o objetivo principal não era vencer, mas vencia a equipe que cooperasse entre si para superar os desafios. Após aplicação da atividade era feita uma roda de conversa sobre a atividade executada expondo às crianças a importância da cooperação para que o objetivo do jogo fosse alcançado. As crianças inicialmente estavam preocupadas apenas em vencer, muitas vezes prejudicando o bom andamento da atividade. Depois de algumas aplicações e rodas de conversa expondo a importância da cooperação, as atividades fluíram e alcançaram os objetivos. Cabe destacar que durante as sessões de Educação Física, nos momentos dos jogos não havia manifestações de conflito causado pela rejeição. Algumas crianças queriam ficar fora da atividade por não possuir afinidade com a atividade proposta. Entretanto, quando as atividades eram mais significativas para determinado grupo de crianças, todas sem exceção participavam ativamente. Na 20° sessão, foi feita a avaliação das atividades realizadas e o registro das falas das crianças. A maioria foi unânime em destacar a importância dos jogos cooperativos para a integração da turma, melhorias de socialização e diminuição da rejeição. Entretanto, não foi possível avaliar com maior aprofundamento o grau de melhoria da interação das crianças nas demais disciplinas, em sala de aula, mas houve indícios de reconfiguração da dinâmica da turma como se demonstra no sociograma de n° três, logo abaixo: 14 Figura 3 Pós-teste- 6° ano CV 15 CONCLUSÕES Ao concluir a pesquisa, pode-se inferir que os jogos cooperativos constituem uma possibilidade de intervenção pedagógica para a Educação Física Escolar, significando a sociointeração dos educandos, tornando as aulas mais participativas e cooperativas. Os educandos que inicialmente mostravam-se competitivos, no decorrer da intervenção foram compreendendo o significado da cooperação. Eles perceberam que sem a cooperação não se chega a um objetivo comum. Outro aspecto importante da pesquisa diz respeito à ressignificação da prática da Educação Física Escolar. Alguns valores foram resgatados durante os jogos e atividades que podem ser esquecidas devido ao fato de os educandos pensarem apenas em vencer a disputa. Nesse sentido os valores como respeito ao próximo, a cooperação, a atenção e a paciência ficaram em relevância. As crianças perceberam que não é possível, jogar, brincar, divertir-se sem respeito e cooperação. Nesse sentido a atividade torna-se mais interessante. Finalizando, constatou-se, além da pesquisa ter sido positiva e gratificante, apesar do pouco tempo de docência, que as aulas de Educação Física podem se tornar mais interessantes e significativas mediadas pelos jogos cooperativos. 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Compreensão do comportamento. Porto Alegre: Globo, 1979. SILVA, Adriano H., MANZANO, Leonardo A., CARVALHO, Jhonatan Wilk B., PAGANI, Mario M. e ABERT, Rosilene Evangelista P. Jogos cooperativos como instrumento para inclusão social e escolar dos alunos nas aulas de Educação Física. In: ______Revista Inesul, s/d. Disponível em www.inesul.edu.br/revista/arquivos. Acesso em mar./2016. SILVA, Jonny Kleber F. da, Dohms, Fernando Cesar, CRUZ, Leandro M., TIMOSSI, Luciana da Silva. Jogos cooperativos: contribuição na escola como meio socializador entre crianças do ensino fundamental. In: ______Revista Motrivivência, ano XXIV, n° 39, p. 105- 2005, dez./2012 SOLER, Reinaldo de. Brincando e aprendendo com os jogos cooperativos. 3. Rio de Janeiro: Sprint, 2011. http://www.inesul.edu.br/revista/arquivos.%20Acesso%20em%20mar./2016 METODOLOGIA A pesquisa inicialmente foi fundamentada em referencial teórico pertinente a área mediante um levantamento bibliográfico sobre a temática em questão. Para a coleta de dados foram usadas as técnicas pertinentes à pesquisa de campo, no caso a pesquisa s... A abordagem foi inicialmente quantitativa, fundamentou o processo de acordo com o resultado da coleta produzido pelo teste sociométrico. Posteriormente para interpretação dos dados foi necessário, a análise do conteúdo das respostas. A comunicação dos... Richardson (1999, p. 15) orienta que não existe uma fórmula mágica para realizar uma pesquisa ideal. Para pesquisar precisa-seter conhecimento da realidade, algumas noções básicas da metodologia e técnicas de pesquisa, seriedade e, sobretudo trabalho...