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O DIAGNÓSTICO DA ESTRUTURA PSICÓTICA

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NOTAS DE AULA – O CAMPO DAS PSICOSES – PROF: ANGELA UTCHITEL 
O DIAGNÓSTICO DA ESTRUTURA PSICÓTICA 
• A clínica psicanalítica não é uma clínica descritiva, nem fenomenológica, mas 
estrutural, na medida em que o diagnóstico se estabelece na transferência. 
• Por conta disto, a clínica psicanalítica pode falar de estrutura psicótica mesmo na 
ausência de qualquer crise psicótica e das suas manifestações. 
Questão: 
“Uma psicose tem, como uma neurose, uma pré-história?” (Lacan, Sem. 3) 
• Aparentemente, “nada parece tanto com uma sintomatologia neurótica quanto uma 
sintomatologia pré-psicótica” (Sem. 3) 
• O dito pré-psicótico não é reconhecível como tal. Ele se conduz, parece, como todo 
mundo; socialmente falando, ele consegue bem fazer seu caminho. De que maneira? 
• “Por uma série de identificações puramente conformistas com personagens que lhe 
darão o sentimento do que se deve fazer para ser um homem” (sem. 3), ou do que é 
preciso fazer para ser uma mulher. 
• Assim, “por intermédio de uma imitação, de um agarramento” (Sem 3) à imagem do 
semelhante, do par que lhe serve de muletas, o pré-psicótico pode viver sem que uma 
psicose se declare. “Ela vive em seu casulo, como uma traça” (sem. 3) 
• Isto pode ocorrer até a morte? Por que não? 
• Mas, isto se repete até o dia em que, em lugar do par, surge o im-par: um 
acontecimento como encontro do real, vem balançar o equilíbrio. 
• Se havia coincidência, até aqui, entre saber e verdade, o novo acontecimento surge 
como um a-mais, que faz ímpar. 
Assim: 
• de um lado, um encontro amoroso, uma paternidade em breve, uma descoberta 
científica, uma causa política ou militar, uma revelação religiosa... 
• de outro, uma traição conjugal, um falecimento inesperado, uma falência profissional, 
uma derrota política... 
• Diante de uma verdade nova, o saber falta e a interrogação permanece suspensa. 
• Qual vai ser a resposta psicótica a esta interrogação? 
Para que uma Psicose venha dar resposta, é preciso a co-incidência de duas falhas: uma no 
imaginário e outra no simbólico 
1)A falha no Imaginário: 
O Imaginário, que servia de suporte e de ponto de referência na pré-psicose, falha, justamente 
por haver a predominância das referências imaginárias do espelho. 
2) A falha no Simbólico 
• Quando o acontecimento convoca ou apela a um significante fundamental no 
Simbólico. 
• Esse significante, o Nome-do-Pai, não é transmitido ao sujeito nem por um homem 
que se declara pai, nem pela sociedade política ou religiosa, mas pelo Desejo da Mãe, 
enquanto mulher. Ela dá resposta à interrogação do filho ou da filha diante da imagem 
materna. Ela pode fazê-lo uma vez que não é toda-mãe, mas mulher. 
• Em condições não psicóticas, a mãe instala esta metáfora, ao destinar o aspecto 
enigmático de seu desejo à não-significação. 
• O significante do Nome-do-Pai vem dar sentido ao desejo da mãe. 
• Se o Nome-do-Pai estiver foracluído (Verwerfung), será preciso, incessantemente, 
adicionar significações como resposta ao ser-pai. Assim, o pai será definido como 
genitor, ou como aquele que cuida da criança, ou aquele que transmite o patronímico, 
ou aquele que a criança reconhece e adota como pai e ainda... ainda... é sem fim! 
• O que no Outro está foracluído do Simbólico volta do exterior, no real. Há intrusão: 
isso fala para ele. 
• Em si, essas vozes nada têm de persecutório. A neutralidade delas acentua o 
sentimento de estranheza causado pela presença insistente delas. 
• Como responder a isso? 
 O delírio tem por função dar uma resposta a este enigma. As vozes do discurso interior são 
atribuídas a um outro, doravante nomeável e denunciável. No lugar onde falta a Metáfora 
Paterna vem outra metáfora, seja sob a forma de perseguição, erotomania ou ciúme. 
• O pai volta do exterior no real. 
• De qualquer forma, o Outro é poderosamente afirmado, mas sob o modo da relação 
dual, imaginária, por uma proliferação de significações.

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