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Teorias Psicanalíticas II Freud - Psicologia das Massas -“A oposição entre psicologia individual e psicologia social ou das massas, que a primeira vista pode parecer muito significativa, perde boa parte de sua agudeza se a examinamos detidamente” -“Na vida psíquica do ser individual, o outro é via de regra considerado enquanto modelo, objeto, auxiliador e adversário, e portanto a psicologia individual é também, desde o início, psicologia social, num sentido ampliado, mas inteiramente justificado” ↳apesar de toda autonomia do sistema simbólico, as leis não são de ninguém, mas está lá para todos. As leis e a língua necessitam da existência humana para existirem e terem efeitos ↳há uma codependência entre uma coisa e outra. só estamos em contato com o outro pelo sistema simbólico, mas só há sistema simbólico pela relação com o outro Questão de Freud -O que é uma massa? ↳é um termo bem amplo, e Freud falava delas dialogando diretamente com um teórico (Lebon?) das ciências humanas (mas não só com ele) -De que maneira ela adquire a capacidade de influi tão decisivamente na vida psíquica do indivíduo? ↳quais os mecanismos psíquicos que fazem a massa influir na vida psíquica? ↳como uma vida psíquica em grupo, como uma subjetividade coletiva influencia na vida psíquica de um indivíduo? -Em que consiste a modificação psíquica que ela impõe ao indivíduo? ↳o que é essa entrada na vida em comunidade, no mundo das leis e da linguagem humana? o que isso implica na vida psíquica de cada um (não só na forma de pensar, mas na forma do pensamento em si)? Charles-Marie Gustave Le Bon (1841-1931) -Psicologia das multidões (1895) ↳analisava desde as massas mais "disruptivas" até as massas mais organizadas ↳essa ideia era nova e o interesse nesse estudo das massas, a partir desse momento, era um interesse que não se limitava a ser puramente científico, por conta do contexto da revolução industrial, onde está havendo um inchaço das cidades modernas (êxodo rural, modificações estéticas e funcionais nas cidades, surgimento de fábricas, etc) ↳pessoas muito próximas, o que tornava fácil se agruparem, protestarem juntas, etc -Massas urbanas, fenômeno recente -Povo como categoria de oposição ↳falar em povo é unificar algo que, muitas vezes, é difícil de ser unificados, por conta da diversidade que a denominação abarca -”O Senado e o povo romano” -”Vox populi, vox Dei” ↳povo se opõe à ideia de indivíduo moderno ↳o indivíduo moderno da época era um sujeito constituído pela razão, pelo controle de seus impulsos, não permitindo que se realizem apressadamente ↳o sujeito dessa época era democratico ↳isso é completamente oposto a ideia de massa, de “povão”, que é sem pensamento para controlar impulsos, agindo de forma imediatista -na segunda tópica o inconsciente não é só recalcado (vai para além do recalcado), ou seja, há um aspecto inconsciente que é para além do individual. quanto mais se entra no inconsciente, mais aspectos transindividuais se encontra -Paradoxo da Psicanálise é de que a subjetividade só pode ser conformada porque aprendemos algo que não é individual. só podemos pensar porque adquirimos linguagem (já que nosso pensamento é baseado nela) ↳só pensamos a partir da linguagem, que é adquirida, conformando o que está fora da linguagem em si ↳o interessante é que estruturamos nosso pensamento a partir de algo coletivo, mas devemos nos apropriar da linguagem para fazer uso dela -Racionalidade ↳controle ↳ordem ↳democracia -Desrazão ↳descontrole ↳desordem ↳tirania Características da massa que Le Bon destaca e acha perigosas, problemáticas -Anonimato e irresponsabilidade ↳o indivíduo é anônimo, desconhecido, não é reconhecido por ninguém mais, e esse não reconhecimento lhe dá a sensação de não poder ser culpabilizado por certos atos ↳isso, para Le Bon, é o que leva a casos de violência ↳ex: exploração de trabalhadores na Rev. Ind., que foram recalcadas pela massa -Contágio afetivo ↳as pessoas, em um grupo, tem a proximidade do afeto, e esse afeto se transmite com um contagem, como um vírus, espalhando, por exemplo, revolta e raiva -Rebaixamento da inteligência e hipnose e sugestão ↳a massa funciona por meio disso, então ocorreria um rebaixamento da capacidade de pensar, levando os sujeitos a estarem mais sujeitos a hipnose, ao transe, e ficando então mais sujeitos a sugestão hipnótica ↳abertura para uma transmissão de pensamento, quase como uma telepatia -Inconsciente racial ↳as raças humanas teriam um inconsciente próprio transmitido geneticamente. certas características de grupos seriam herdados pela genética e, entre as características, apareceria o rebaixamento, a sugestibilidade, etc, que seriam características puramente raciais -Descrição das Massas (17) ↳“Portanto, evanescimento da personalidade consciente, predominância da personalidade inconsciente, orientação por via de sugestão e de contágio dos sentimentos e das ideias num mesmo sentido, tendência a transformar imediatamente em atos as ideias sugeridas, tais são as principais características do indivíduo na massa. Ele não é mais ele mesmo, mas um autômato cuja vontade se tornou impotente para guiá-lo”” Comparação do funcionamento psíquico com os povos primitivos e com as crianças (18) ↳”O próprio Le Bon nos mostra o caminho, ao apontar a coincidência com a vida anímica dos povos primitivos e das crianças. A massa é impulsiva, volúvel e excitável. É guiada quase exclusivamente pelo inconsciente. Os impulsos a que obedece podem ser, conforme as circunstâncias, nobres ou cruéis, heroicos ou covardes, mas, de todo modo, são tão imperiosos que nenhum interesse pessoal, nem mesmo o da autopreservação, se faz valer. Nada nela é premeditado. Embora deseje as coisas apaixonadamente, nunca o faz por muito tempo, é incapaz de uma vontade persistente. Não tolera qualquer demora entre o seu desejo e a realização dele. Tem o sentimento da onipotência; a noção do impossível desaparece para o indivíduo na massa. noção do impossível desaparece para o indivíduo na massa. A massa é extraordinariamente influenciável e crédula, é acrítica, o improvável não existe para ela. Pensa em imagens que evocam umas às outras associativamente, como no indivíduo em estado de livre devaneio, e que não têm sua coincidência com a realidade medida por uma instância razoável. Os sentimentos da massa são sempre muito simples e muito exaltados. Ela não conhece dúvida nem incerteza.” ↳por mais que Freud não concordasse plenamente com Le Bon, ele reconhecia a existência de diferentes tipos de massas ↳podemos chamar esse funcionamento psíquico de regressivo -Rebaixamento do nível intelectual ↳rebaixamento da capacidade de pensamento -Intensificação dos estados afetivos ↳Freud concorda com esses quatro pontos, mas tem críticas e apontamentos sobre Críticas -Sugestão ↳o papel da sugestão (hipnose) pode ser explicada pelo que? como funciona e se operaliza? ↳a sugestão explica tudo, mas não é explicada ↳crítica pelo excesso de uso disso por Le Bon -Função do líder ↳crítica por Le Bon falar pouco disso, levar pouco em conta Cristóvão carregou Cristo Cristo carregava o mundo todo Diga, então, onde Cristóvão Apoiou o pé? ↳se a sugestão explica o contato afetivo e o rebaixamento de ideias, como isso é produzido então? ↳Freud não encontra nenhum autor que explicite uma solução Sugestão e libido -Sugestão que tudo explica e nunca é explicada ↳entra como substituta da sugestão -Sugestão = imitação ↳produziria no sujeito sugestionado um ato, um afeto que seria uma imitação do que está no sugestionador ↳isso é importante por esse estado de imitação ser algo que Freud destaca no funcionamento dos grupos. É como se as pessoas imitassem umas às outras dentro da massa, como quase um contágio, uma transmissão ↳mas por que se imita alguém? -Amor, “Ihnen zuliebe” *(33) “Na psicanálise esses instintos amorosos são chamados, a potiori [de preferência] e devido à sua origem, de instintos sexuais. A maioria das pessoas “educadas” sentiu-se ofendida com essa denominação, e vingou-se lançando à psicanálise a acusaçãode “pansexualismo”.” ↳essa percepção ampliada de amor para a psicanálise que taxou-a de pansexualismo “Quem toma a sexualidade por algo vergonhoso e humilhante para a natureza humana tem inteira liberdade para usar expressões mais nobres, como “Eros” e “erotismo”. Eu próprio poderia tê-lo feito desde o início, poupando-me de muita hostilidade. Mas não quis fazê-lo, porque prefiro evitar concessões à pusilanimidade. Nunca se sabe aonde conduz esse caminho; primeiro cedemos nas palavras, e depois, pouco a pouco, também na coisa. Não consigo ver nenhum mérito em ter vergonha da sexualidade; a palavra grega “Eros”, que deveria minorar o insulto, é tão somente a tradução da palavra alemã “amor” [Liebe], e, afinal, quem pode esperar não precisa fazer concessões. Então experimentaremos a hipótese de que as relações de amor (ou, expresso de modo mais neutro, os laços de sentimento) constituem também a essência da alma coletiva. Recordemos que os autores não fazem menção destes laços. O que corresponderia a eles está evidentemente oculto por trás da tela, do biombo da sugestão” ↳Freud acha esses amores nesse biombo, notando que esse amor tem algo dessa imitação que toma o outro como digno de ser copiado “Mas a que poder deveríamos atribuir este feito senão a Eros, que mantém unido tudo o que há no mundo? Segundo, que temos a impressão, se o indivíduo abandona sua peculiaridade na massa e permite que os outros o sugestionem, que ele o faz porque existe nele uma necessidade de estar de acordo e não em oposição a eles, talvez, então, “por amor a eles”.* ↳eros quem sustenta aquela união ↳um sujeito abre mão de suas peculiaridades para ser sugestionado pela massa para estar de acordo, e não em oposição. há uma necessidade de estar lado a lado, entrar no mesmo caminho ↳homem como ativo nisso, já que ele “abre mão” ↳em alemão, isso seria “por amor a eles” (Ihnen zu liebe) ↳algo/alguém ocupa o lugar para onde o amor da massa deve se dirigir e, por isso, sofreria uma espécie de regressão para um amor dualista -Dinâmica dualista do amor ↳amor mais primitivo, que remete ao amor da criança por sua mão, que pertence ao funcionamento psíquico que é anterior a criança saber falar e entender que o outro está fora dele (antes de entender a relação de objeto) Massas organizadas, instituições -Condições para organização da massa ↳as massas mais inflamadas, caóticas, violentas e disruptivas eram a destruição. então como a horda primitiva se tornou sociedade? -Continuidade de existência no tempo ↳os grupos não podem se desmanchar em pouco tempo, os laços tem que perdurar. Eles não podem se fazer e se desfazer enquanto algo ocorre -Natureza, funções, realizações, reivindicações ↳os membros do grupo, se prolongando, passam a ter funções, passam a poder apontar em sua história onde e qual foi o início do grupo (origem) e passam a haver certas necessidades, certas reivindicações do grupo -Rivalidades (Eu e Não-Eu) ↳presença de inimigos mantém coesão -Tradições e costumes ↳o grupo desenvolve seus ritos ↳a ritualização é uma forma de recalque -Divisões e especializações de atividades ↳levam inclusive a certa hierarquização Estrutura libidinal das massas ↳a do eu e comparável a do social ↳essa estrutura é sutil e tem que ser feita de acordo com as demandas -A função do líder (líder ideal; pai primevo) -Os irmãos (amor fraterno deles. irmão da horda primeva) ↳o que faz com que se vejam como iguais? a relação com o líder, que é com que cada um deles estabelece uma identificação e, por isso, todos eles são irmãos (porque amam o mesmo líder, mesmo pai, como os irmãos da ordem primeva) ↳em função desse amor ao líder que conseguem se manter coesos ↳essa estrutura, esse ideal, é fundamental para a coesão do grupo -O grupo como defesa contra a angústia
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