Buscar

1 - Suporte basico de vida

Prévia do material em texto

Suporte Básico de Vida (SBV) 
____________________________________________________________ 
Epidemiologia 
- No Brasil ocorrem cerca de 200.000 paradas cardiorrespiratórias (PCR) por ano 
- Metade desses casos ocorrem em hospitais por deterioração progressiva (assistolia/atividade 
elétrica sem pulso) 
- A outra metade, os casos extra-hospitalares, ocorrem em casas, shoppings, aeroportos, 
estádios etc. (arritmias decorrentes de quadros isquêmicos agudos ou problemas elétricos 
primários: fibrilação ventricular ou taquicardia ventricular sem pulso) 
____________________________________________________________ 
Sucesso do Suporte Básico 
- Depende de uma sequência de procedimentos sistematizada em uma “corrente de 
sobrevivência” 
- “Elos da corrente”: ações com impacto na sobrevivência e que não podem ser consideradas 
isoladamente 
- Evidências científicas recentes têm apontado para uma necessidade de mudança de foco e de 
fluxo, alterando toda a sequência de ações da reanimação cardiopulmonar (RCP)
____________________________________________________________ 
Mudanças 
- Diminuir a interrupções das compressões torácicas e focar em compressões torácicas 
de qualidade, com frequência e profundidade adequadas 
- O sucesso de uma desfibrilação depende da qualidade das compressões torácicas realizadas 
- Simplificação de procedimentos, principalmente para que o socorrista leigo consiga executar 
as manobras (maior aderência a possíveis tentativas de ressuscitação de sucesso) 
- Manter registros hospitalares de RCP (informações valiosas para maior sucesso das tentativas) 
- As evidências sobre drogas e dispositivos no suporte avançado de vida são insuficientes 
- Maior atenção à pós-ressuscitação: 
• Ventilação, oxigenação e pressão arterial 
• Hipotermia terapêutica 
• Reperfusão miocárdica de emergência 
- Educação, implementação e treinamento: as habilidades adquiridas após um treinamento em 
RCP se perdem em 3 a 6 meses sem uso
- Quanto maior a chance de um profissional de saúde atender uma PCR maior a necessidade de 
treinamento contínuo de habilidades, procedimentos e dispositivos 
____________________________________________________________ 
Suporte Básico de Vida 
- A realização imediata de RCP em uma vítima de PCR, ainda que apenas compressões 
torácicas no pré-hospitalar, aumenta as taxas de sobrevivência 
- 56-74% das PCR, no âmbito pré-hospitalar, ocorrem em fibrilação ventricular (FV) 
- O sucesso da RCP está relacionado à desfibrilação precoce (idealmente dentro dos 
primeiros 3 a 5 minutos após o colapso):
• A cada minuto transcorrido do início do evento arrítmico súbito, sem desfibrilação, as 
chances de sobrevivência diminuem em 7% a 10% 
• Com a RCP, essa redução é mais gradual, entre 3% a 4% por minuto de PCR 
- Programas internacionais de RCP e desfibrilação externa automática (DEA) precoce, realizadas 
por leigos, com taxas de sobrevivência de até 85%, podem servir de modelo para melhorar o 
manejo da PCR 
- Os minutos iniciais de atendimento a uma PCR são críticos em relação à sobrevivência da 
vítima 
- O suporte básico de vida (SBV) define a sequência primária de ações para salvar vidas 
- Por mais adequado e eficiente que seja um suporte avançado, se o SBV não for 
adequado, será muito baixa a chance de sobrevivência da vítima de PCR 
- Em uma PCR, um mnemônico pode ser usado para lembrar os passos do SBV - “CABD 
primário”: 
• C: Checar responsividade e respiração da vítima + Chamar por ajuda + Checar o 
pulso da vítima + Compressões (30 compressões) 
• A: Abertura das vias aéreas 
• B: Boa ventilação (2 ventilações) 
• D: Desfibrilação 
____________________________________________________________ 
Segurança do Local 
- Primeiramente, avalie a segurança do local 
- Certifique se o local é seguro para você e para a vítima, para não se tornar uma próxima vítima 
- Caso o local não seja seguro (por exemplo, uma via de trânsito), torne-o seguro (desviando o 
trânsito) ou remova a vítima para um lugar seguro 
- Se o local for seguro, prossiga o atendimento 
____________________________________________________________ 
Avaliar a Responsividade e Respiração da Vítima 
- Avalie a responsividade da vítima, chamando-a e tocando-a pelos ombros 
- Se a vítima responder, apresente-se e converse com ela perguntando se precisa de ajuda 
- Se a vítima não responder, avalie sua respiração, observando se há elevação do tórax, em 
menos de 10 segundos
- Caso a vítima tenha respiração, fique ao seu lado e aguarde para ver sua evolução e, caso seja 
necessário, chame ajuda 
- Se a vítima não estiver respirando ou estiver somente com “gasping”, chame ajuda 
imediatamente 
____________________________________________________________ 
Chame Ajuda 
- Em ambiente extra-hospitalar, ligue para o número local de emergência (SAMU – 192; SIATE 
193) 
- Se um DEA (desfibrilador externo automático) estiver disponível no local, vá buscá-lo 
- Se não estiver sozinho, peça para uma pessoa ligar e conseguir um DEA, enquanto continua o 
SBV
- É importante designar pessoas para que sejam responsáveis em realizar essas funções 
- A pessoa que ligar para o Serviço de Emergência deve estar preparada para responder as 
perguntas (local do incidente, condições da vítima, tipo de primeiros socorros que está sendo 
realizado etc.) 
- Nos casos de PCR por hipóxia (afogamento, trauma, overdose de drogas e para todas as 
crianças), realizar cinco ciclos de RCP e depois chamar ajuda, se estiver sozinho (socorrista) 
____________________________________________________________ 
Cheque o Pulso 
- Cheque o pulso carotídeo da vítima em <10 segundos
- Caso haja pulso, faça 1 ventilação a cada 6 segundos (10 vpm) e cheque o pulso a cada 2 
min 
- Se não houver pulso ou houver dúvida, inicie os ciclos de compressões e ventilações 
- Tanto leigos quanto profissionais têm dificuldade em detectar o pulso 
____________________________________________________________ 
Compressão e Ventilação 
- Inicie ciclos de 30 compressões e 2 ventilações 
- Inicie ciclos de 30/2, considerando que existe um dispositivo de barreira entre você e 
o paciente (por exemplo, máscara de bolso) para se ventilar 
- Compressões torácicas efetivas são essenciais para promover o fluxo de sangue, 
devendo ser realizadas em todos pacientes em parada cardíaca 
Compressões Torácicas: 
- Posicione-se ao lado da vítima e mantenha seus joelhos distantes um do outro 
(estabilidade) 
- Afaste ou corte a roupa que está sobre o tórax da vítima, para deixá-lo desnudo 
- Coloque a região hipotenar de uma mão sobre o esterno da vítima e a outra mão sobre 
a primeira, entrelaçando-a
- Estenda os braços 
- Posicione-os cerca de 90º acima da vítima 
- Faça mais de 100 compressões/minuto com profundidade de, no mínimo, 5cm 
- Ou seja, comprima rápido e forte! 
- Permita o retorno completo do tórax após cada compressão, sem retirar as mãos do 
tórax 
- Minimize interrupções das compressões 
- Reveze com outro socorrista a cada dois minutos (evita fadiga, mantém boas 
compressões) 
- As manobras de RCP devem ser ininterruptas, exceto: 
• Se a vítima se movimentar, durante a fase de análise do desfibrilador 
• Na chegada da equipe de resgate
• Posicionamento de via aérea avançada 
• Exaustão do socorrista 
- No caso de uma via aérea avançada instalada (intubação), faça compressões 
torácicas contínuas (>100/minuto) e 1 ventilação a cada 6 segundos 
Ventilação:
- Para não retardar as compressões torácicas, a abertura das vias aéreas deve ser 
feita somente depois de aplicar trinta compressões 
- Ventilações devem ser feitas em uma proporção de 30 compressões para 2 ventilações 
(30/2), com apenas um segundo cada, ofertando a quantidade de ar suficiente para 
promover a elevação do tórax 
- Hiperventilação é contraindicada: gera insuflação gástrica, podendo causar 
regurgitação e aspiração; aumenta a pressão intratorácica e diminui a pré-carga, 
reduzindodébito cardíaco e a sobrevida 
- É indicado que o socorrista utilize mecanismos de barreira para aplicar as ventilações, 
como o lenço facial com válvula antirrefluxo, máscara de bolso (“pocket-mask”) ou 
bolsa-válvula-máscara 
- Independentemente da técnica usada para aplicar ventilações, será necessária a 
abertura de via aérea, que poderá ser realizada com a manobra da inclinação da 
cabeça e elevação do queixo ou, se houver suspeita de trauma cervical, a manobra 
de elevação do ângulo da mandíbula 
- Quando o socorrista não conseguir realizar a manobra de elevação do ângulo da 
mandíbula e o mesmo suspeita apenas de trauma cervical, sem evidência de lesão na 
cabeça, deve-se utilizar a manobra de inclinação da cabeça e elevação do queixo 
(apenas 0,12 a 3,7% das vítimas têm lesão espinal, sendo o risco elevado quando há 
lesão craniofacial ou Glasgow <8) 
- Ventilações com lenço facial e válvula antirrefluxo: 
• Atente para os lados indicados no lenço (um lado voltado para 
a vítima e outro para o socorrista) 
• Posicione a válvula antirrefluxo na boca da vítima 
• Abra a via aérea, estabilize a mandíbula, vede o máximo 
possível a boca com o lenço facial, pince o nariz da vítima e 
realize as ventilações
- Ventilações com máscara de bolso: 
• Depois de pôr a máscara de na face da vítima, faça uma letra “C” com os dedos 
indicador e polegar de uma das mãos, na parte superior da máscara 
• Com a outra mão, ponha o polegar na parte inferior da máscara e os outros dedos 
na mandíbula, vedando o máximo possível a máscara contra a face, sem pressionar 
as partes moles sob o queixo 
• Outra técnica de vedação da pocket-mask é a do “duplo C”: 
com uma das mãos faça uma letra “C”, como já dito 
anteriormente; com a outra mão, faça outro “C” e posicione na 
parte inferior da máscara, ambos fazendo certa pressão para 
baixo a fim de vedar a máscara ao rosto da vítima; atente que 
os outros dedos da mão que está na parte inferior não 
pressionem as partes moles abaixo do queixo 
- Ventilações com bolsa-válvula-máscara (bvm): 
• Usada com 2 socorristas, um responsável pelas compressões, outro pelas 
ventilações 
• Com uma das mãos, faça uma letra “C” com os dedos polegar e indicador e 
posicione-os acima da máscara, e faça pressão contra a face da vítima a fim de 
vedá-la o melhor possível 
• Posicione os outros três dedos na mandíbula para estabilizá-la e abra a via aérea da 
vítima
• Pressione a bolsa: 1 segundo para cada ventilação 
• Essa quantidade é suficiente para elevar o tórax e 
manter a oxigenação em pacientes sem respiração 
• Se houver oxigênio complementar, conecte-o na 
bolsa-válvula-máscara assim que possível, de modo 
que se ofereça mais oxigênio para a vítima 
- Ventilações com via aérea avançada: 
• Quando uma via aérea avançada estiver instalada (combitube, máscara laríngea, 
intubação traqueal), o primeiro socorrista fará compressões torácicas contínuas, e o 
segundo socorrista fará 1 ventilação a cada 6 segundos, em vítimas de qualquer 
idade 
• Não se devem pausar as compressões para aplicar as ventilações, se houver 
via aérea avançada
- Ventilações em vítima com parada respiratória: 
• Parada respiratória: vítima não respira ou respira de forma anormal (gasping), mas 
apresenta pulso 
• Nesse caso, faça 1 ventilação a cada 6 segundos para vítimas adultas 
• Para crianças e lactentes, faça 1 ventilação a cada 3 a 5 segundos (12 a 20 
ventilações por minuto) 
____________________________________________________________ 
Desfibrilação 
- Desfibrilação precoce é o tratamento de escolha para vítimas em FV de curta 
duração, como vítimas que apresentaram colapso súbito em ambiente extra-hospitalar 
(principal ritmo de PCR: FV) 
- Nos primeiros 3 a 5 minutos de uma PCR em FV, a FV é grosseira, estando 
“propícia” ao choque 
- Após 5 minutos, por depleção do substrato energético miocárdico, diminui a amplitude 
da FV e a desfibrilação possui menor chance de sucesso 
- Logo, o tempo ideal para a aplicação do primeiro choque é nos primeiros 3 a 5 
minutos da PCR 
- A desfibrilação é o único tratamento para uma PCR em FV/taquicardia ventricular sem 
pulso (Os ritmos chocáveis são fibrilação ventricular e taquicardia ventricular) 
- Pode ser realizada com um equipamento manual (somente manuseado pelo médico) 
ou pode ser feita com um DEA, que poderá ser usado por qualquer pessoa, assim 
que possível 
- DEA:
• Equipamento portátil que interpreta ritmo cardíaco, seleciona carga e carrega 
“sozinho” 
• Cabe ao operador apenas pressionar o botão de choque, se indicado
• Quando há apenas 1 socorrista: parar RCP para conectar o DEA 
• Quando há >1 socorrista: enquanto o primeiro realiza RCP, o outro manuseia o DEA; 
nesse caso, só parar RCP quando o DEA emitir uma frase como: “Analisando o 
ritmo cardíaco, não toque o paciente” ou “Choque recomendado, carregando, 
afaste-se da vítima” 
• Conecte as pás (eletrodos) no tórax da vítima, observando o desenho contido nas 
próprias pás, que mostra o posicionamento correto das mesmas 
• Se o paciente possuir marca-passo, evite colocar a pá no local do marca-passo
• Mas paciente com marca-passo é sim passível de desfibrilação 
• Quando o DEA disser “analisando o ritmo cardíaco, não toque no paciente”, 
solicite que todos se afastem e veja se há alguém tocando na vítima (inclusive se 
houver outro socorrista) 
• Se o choque for indicado, o DEA dirá “choque recomendado, afaste-se do paciente” 
• O socorrista que estiver manuseando o DEA deve solicitar que todos se afastem, 
ver se realmente não há ninguém (nem ele) tocando a vítima e, então, apertar o 
botão indicado para o choque 
• A RCP deve ser iniciada pelas compressões torácicas, imediatamente após o 
choque 
• A cada 2 minutos, o DEA analisará o ritmo e poderá indicar outro choque, se 
necessário 
• Se não indicar choque, imediatamente reinicie a RCP, caso a vítima não retome a 
consciência 
• Se a vítima retomar a consciência, o DEA não deve ser desligado e as pás não 
devem ser removidas ou desconectadas até que o SIATE ou SAMU assuma o 
caso 
• Se não houver suspeita de trauma e a vítima já apresentar respiração normal e 
pulso, colocá-la em posição de recuperação até que o socorro chegue 
• Situações Especiais do DEA:
• Portador de marca-passo (MP) ou cardioversor (desfibrilador implantável): 
se estiver na região indicada para as pás, afaste-as pelo menos 8cm ou opte por 
outro posicionamento das pás pois a proximidade destes pode prejudicar a 
análise do ritmo pelo DEA 
• Excesso de pelos no tórax: Remova o excesso de pelos, da região onde serão 
posicionadas as pás, com uma lâmina que geralmente está no Kit DEA. Outra 
alternativa é depilar a região com um esparadrapo ou com as pás e, depois, 
aplicar um segundo jogo de pás 
• Tórax molhado: seque por completo o tórax da vítima; se a mesma estiver 
sobre uma poça d’água não há problema, mas se a poça também envolver o 
socorrista, remova a vítima para outro local 
• Adesivo de medicamentos/hormonais: remova o adesivo se estiver no local 
onde será aplicada a pá 
• Crianças (1-8 anos): Use pás pediátricas ou atenuador de carga. Se houver 
apenas pás de adulto, use-as! (sobre o esterno e entre as escápulas). Pás 
infantis não devem ser usadas em adultos  (choque aplicado será insuficiente) 
• Lactentes (até 1 ano): Desfibrilador manual é preferível; se não houver, use DEA 
com pá pediátrica e atenuador de carga – Na falta dos últimos, use pás de 
adulto, sobre o esterno e entre as escápulas; o prejuízo para o miocárdio é   
mínimo e há benefícios neurológicos 
____________________________________________________________ 
Considerações Finais 
- Reconhecer uma PCR é de extrema importância 
- Qualquer retardo por parte do socorrista atrasa o acionamento do SIATE ou SAMU e o 
início das compressões, diminuindo a chance da vítima sobreviver 
- Para cada minuto sem RCP, a vítima de uma PCR perde de 7-10% de chance de 
sobreviver- O DEA aumenta o sucesso da RCP: a maioria das PCR extra-hospitalares são em FV 
- A participação de leigos no atendimento à PCR é fundamental: grande parte das PCR 
ocorre em ambiente extra-hospitalar 
- No Brasil, mesmo nas escolas médicas, há déficit no aprendizado de atendimento à 
PCR 
- É necessário dar maior ênfase a este assunto e expandir o socorro médico para todo 
o território nacional, com orientações aos profissionais de saúde e leigos 
- Além disso, o acesso rápido ao DEA deve ser instituído por todo o país, com 
treinamento da população no uso do equipamento e preparo no atendimento à 
emergência, assim como orientações para o início precoce da RCP

Continue navegando