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BASES CONCEITUAIS • Especificidade • Diversidade • Memória • Discriminação próprio - não próprio • Tolerância Além de ter desenvolvido o conceito de anticorpos, Paul Ehrlich também cunhou que eles seriam direcionados de forma específica para os antígenos. O conceito de especificidade tem a ver com a relação das causas específicas das doenças, que surgiu no século XVI a partir dos trabalhos de Girolamo Fracastoro, na Itália, no período do renascimento científico, e que foi aprofundada por Louis Pasteur, na França. Pasteur era defensor da ideia de que as doenças tinham causas específicas, e isso permitiu que ele desenvolvesse a Teoria dos Germes. Há uma diversidade muito grande de comportamentos e de mecanismos de atividades, pois há uma grande diversidade de patógenos e micro-organismos, e uma grande diversidade de componentes na superfície desses micro-organismos, com os quais o sistema imune é obrigado a lutar. Logo, ao mesmo tempo que ele deve atuar de forma específica, ele também deve ter uma diversidade na capacidade de reconhecimento. O sistema imune funciona como se tivesse memória, da mesma forma que o sistema nervoso. Hoje, há um entendimento de que essa memória surge da operação conjunta de todo o sistema. O sistema imune aparentemente se comporta como se fosse capaz de discriminar aquilo que é próprio e característico do organismo, do que é estranho e não faz parte da composição e organização dele. Essa discriminação próprio - não próprio é o que explica, por exemplo, o fato de que o organismo reage à presença de patógenos, mas também o fato de que muitas vezes transplantes não são possíveis (fenômeno chamado de rejeição). Essa discriminação pode ser comprometida gerando as doenças autoimunes. A tolerância está no centro de um fenômeno biológico importante que é a gestação. Se um feto possui 50% de seus componentes iguais ao do pai, que é um organismo estranho aos tecidos da mãe, essa gestação não poderia ocorrer sem a tolerância. A alimentação também está relacionada a esse conceito, pois devido à ingestão de carnes (células de um outro organismo), o intestino ficaria ativado, podendo ficar até mesmo inflamado. Em algumas pessoas isso acontece devido à algumas doenças do intestino relacionadas à uma hiperatividade imunológica, como a doença de Crohn ou a doença celíaca (tolerância comprometida). ANTIGENICIDADE X IMUNOGENICIDADE Quando a imunologia surgiu no final do século XIX, não existia uma diferença entre esses dois conceitos. Existia o conceito de antígeno e o de antigenicidade. À medida em que foi se conhecendo o mecanismo de funcionamento do sistema imune, o conceito de imunogenicidade foi desenvolvido. A antigenicidade é a capacidade de uma substância ser alvo de ligação dos componentes do sistema imune, particularmente dos anticorpos. Já a imunogenicidade é a capacidade de uma substância desencadear uma ativação do sistema imune. Muitas vezes, um imunógeno é um antígeno, mas nem todo antígeno é um imunógeno. Existem algumas substâncias sintéticas que são alvo de ligação dos anticorpos, mas elas não são capazes de ativar uma resposta imune. Os antígenos têm uma característica importante que são as regiões onde os anticorpos se ligam, chamadas de determinantes antigênicos ou epítopos. A ligação entre anticorpo e antígeno não é na proporção de 1:1, pois um antígeno pode ter vários epítopos, sendo a ligação na proporção entre um anticorpo e um determinante antigênico. A antigenicidade de uma substância depende de algumas características presentes na ligação entre ela e os anticorpos. Uma dessas propriedades é a afinidade, que é a força com a qual um anticorpo se liga a um antígeno. Dessa forma, uma substância é antigênica para determinados tipos de anticorpos, podendo diferenciar diferentes substâncias pelo grau de afinidade com um anticorpo específico. Antigenicidade: capacidade de ligação (ligar ou não ligar). Afinidade: força com que se liga. Uma outra característica é a valência, que diz respeito aos sítios de ligação que um anticorpo possui para se ligar a um antígeno. Existem alguns anticorpos que só possuem dois sítios de ligação, enquanto alguns possuem quatro/dez sítios. RESPOSTA IMUNE - ATIVAÇÃO Quando algumas células do sistema imune são ativadas, diz-se que há uma resposta imune celular, sendo o exemplo mais clássico a fagocitose. Também existe a chamada resposta imune humoral, que é caracterizada pela produção de anticorpos. Um tipo de resposta imune não exclui a outra, embora no final do século XIX essas duas propostas de funcionamento do sistema imune tenham sido defendidas por escolas de imunologia distintas. A resposta imune celular ou a imunidade celular, era defendida pela escola francesa de imunologia, vinculada ao Instituto Pasteur. Já a resposta imune humoral era defendida por Koch e seus seguidores, particularmente por Paul Ehrlich. Um outro conceito relacionado à resposta imune é o de expansão clonal. Algumas células do sistema imune quando ativadas, particularmente os linfócitos, se multiplicam em uma alta taxa de mitose, e esse fenômeno de grande multiplicação é chamado de expansão clonal. Uma outra forma de entender a ativação do sistema imune é em relação à classificação dos mecanismos envolvidos, como ativos ou passivos. Quando uma resposta imune é ativa, ou seja, ela efetivamente leva à ativação de células, mecanismos moleculares e vias bioquímicas do organismo, diz-se que é um processo de vacinação. Quando há a transferência de componentes previamente prontos em um outro organismo, a resposta imune é passiva. Isso ocorre na transferência de imunidade passiva de origem materna, principalmente pela ingestão do colostro, e pela passagem de anticorpos pela via transplacentária nas fêmeas primatas. Uma outra forma é receber os anticorpos previamente prontos em um outro organismo através da soroterapia. IMUNIDADE CELULAR A ideia da imunidade celular surge no final do século XIX, a partir dos estudos de Mechnikov, que observou o processo pela primeira vez em tecidos de estrela do mar. Ele inoculou nanquim dentro dos tecidos da estrela do mar e observou ao microscópio que células fagocitárias englobavam esse material. IMUNIDADE HUMORAL - NEUTRALIZAÇÃO A imunidade humoral, proposta pela escola alemã, se baseava em dois conceitos. O primeiro conceito surgiu já no século XIX, chamado de neutralização. Esse conceito parte do pressuposto de que existem toxinas e substâncias que entram no organismo, vão para a corrente sanguínea e ficam no meio extracelular dos tecidos, e que essas substâncias vão ser direcionadas em algum momento para dentro das células. A ideia da neutralização é que ocorra o bloqueio dessas substâncias antes que elas sejam capazes de entrar no interior das células. Um outro conceito descoberto no século XX, é o processo de opsonização. Os anticorpos neutralizam sim os antígenos, mas além disso, eles podem facilitar o processo de fagocitose dos antígenos. Um patógeno como uma bactéria extracelular, quando entra dentro do organismo pode ser fagocitada, mas esse processo é amplificado quando o organismo produz anticorpos que revestem essa bactéria. As células fagocitárias do organismo possuem receptores para anticorpos, e a consequência disso é: o anticorpo se liga ao patógeno que está no meio extracelular e faz num primeiro momento a neutralização, e depois é facilitado o processo de fagocitose. É como se os anticorpos facilitassem a ligação dos macrófagos aos micro-organismos que eventualmente entram no organismo. Algumas bactérias produzem toxinas que provocam respostas do organismo intoxicado, também mediadas pela ligação das toxinas aos receptores (anticorpos também neutralizam essas toxinas) - particularmente interessante no fornecimento de soro antidiftérico e antitetânico (bactérias) eem acidentes ofídicos (a terapia envolvida consiste em fornecer anticorpos neutralizantes logo após o acidente). TIPOS DE IMUNIDADE A imunidade inata é conhecida como sendo a parte do sistema imune que não é direcionada para um patógeno em especial, mas sim para um conjunto de patógenos. Isso é mediado, geralmente, por proteínas comuns a esses grupos de patógenos. Um exemplo são as bactérias gram-positivas, muito ricas em peptidoglicanos, então parte do sistema imune reconhece muito bem esses componentes independente da produção de anticorpos. A imunidade inata está presente desde o nascimento. A fagocitose é um processo característico da imunidade inata que também vai ser importante para a imunidade adaptativa. A imunidade adaptativa é aquela mediada principalmente pelos linfócitos e pelos seus produtos (anticorpos). Existe uma diferença entre a imunidade inata e a imunidade passiva em relação ao tempo de ativação. A imunidade inata é ativada praticamente no mesmo momento em que ocorre a infecção, a entrada do patógeno no organismo. Já a imunidade adaptativa demora um pouco mais, então a produção de anticorpos em decorrência de uma infecção pode levar de 7 a 14 dias. A imunidade inata não é considerada tão específica para os antígenos, já a imunidade adaptativa, acredita-se que ela é mais direcionada e tem um comportamento mais exclusivo. IMUNIDADE INATA (NATURAL) • Inespecífica • Primeira a atuar • Não gera memória • Inflamação Um dos primeiros organismos estudados em relação à presença de imunidade inata foram os peixes ágnatos, como a lampreia. A imunidade adaptativa depende do funcionamento da imunidade inata. Quando um micro-organismo entra em contato com o organismo, ele invade o tecido e ativa as células do sistema imune (células fagocitárias como os macrófagos e algumas células polimorfonucleares como os neutrófilos). Essa ativação inicial é importante para iniciar o processo de recrutamento dos componentes da imunidade adaptativa (linfócitos T e B). IMUNIDADE ADAPTATIVA (ADQUIRIDA) • Específica • Segunda a atuar • Gera memória • Padrões de atividade de linfócitos T • Produção de anticorpos A imunidade adaptativa é mais específica porque os mecanismos envolvidos na sua ativação utilizam os próprios componentes dos antígenos como referencial para produzir os anticorpos. É necessário um reconhecimento mediado por anticorpos também para ativar os linfócitos B, e esse reconhecimento faz com que os anticorpos produzidos sejam aqueles que melhor se ligam aos componentes do patógeno, aos antígenos e determinantes antigênicos presentes no micro-organismo. O conhecimento sobre a imunidade adaptativa avançou muito, e sabe-se que ela pode ser dividida, assim como no século XIX, em imunidade humoral e imunidade celular. A imunidade adaptativa do ponto de vista humoral, tem a participação dos anticorpos, mas também das células que os produzem (linfócitos B). A imunidade celular que participa da imunidade adaptativa é particularmente aquela dependente de mecanismos onde estão envolvidos linfócitos T (auxiliares e citotóxicos). Na superfície desses dois tipos de linfócitos existem receptores capazes de reconhecer pedaços do antígeno que foi previamente fagocitado pelos macrófagos. A classificação relacionada a imunidade ativa e a imunidade passiva está demonstrada na figura abaixo: Na imunidade ativa, um indivíduo entra em contato com um antígeno ou micro- organismo completo, e há a ativação do sistema imune, levando à produção de substâncias típicas da imunidade adaptativa. O indivíduo se recupera e consegue desenvolver um padrão de funcionamento do sistema imune, onde se identifica especificidade e memória. Na imunidade passiva, há a transferência de componentes da imunidade previamente feitos em outro organismo (anticorpos) para outro. Nessa situação, o organismo consegue ficar protegido durante um certo tempo contra infecções ou até mesmo neutralizar intoxicações como nos acidentes ofídicos. Deve-se lembrar que a imunidade passiva não gera memória. Na figura abaixo, evidencia-se um gráfico sobre a ativação do sistema imune. O processo de ativação do sistema imune não é feito em um único momento, e geralmente é feito em pelo menos duas etapas. Costuma-se dizer que a primeira etapa é chamada de resposta imune primária, e a segunda de resposta imune secundária. Nesse gráfico tem-se o tempo zero, e observa-se que a quantidade de anticorpos tende a aumentar a partir do momento em que um determinado organismo entra em contato com um patógeno ou antígeno. Na medida em que o tempo passa, por volta de aproximadamente 15 dias, a quantidade de anticorpos formados já é detectável no sangue, no soro, e nos demais fluidos corporais desse organismo. Se não houver nenhuma outra estimulação antigênica, a tendência é que a quantidade de anticorpos comece a diminuir. Geralmente, em torno de 6 semanas, se não houver nenhum estímulo, os níveis de anticorpos reduzem, mas sem retornar aos níveis anteriores ao primeiro contato. Se houver novamente um outro contato com o antígeno, ou uma nova imunização, a tendência é que ocorra um pico muito mais intenso de anticorpos presentes no organismo desse indivíduo. Isso ocorre porque há no primeiro estímulo a ativação de alguns linfócitos B, dos quais uma parte irá produzir anticorpos e a outra irá se multiplicar e permanecer no organismo. Se o mesmo antígeno ou imunógeno entrar em contato com essa segunda população de linfócitos B, a capacidade do sistema imune produzir uma maior quantidade de anticorpos vai praticamente quadruplicar. Por isso, muitas vezes em processos de imunização se utiliza duas doses repetidas do imunógeno (vacina). Na figura baixo, tem-se de forma sucinta o mecanismo de ativação do sistema imune: O processo começa com o processamento e a apresentação do antígeno. Um determinado patógeno, micro-organismo ou toxina, é captado por células chamadas de apresentadoras de antígenos, que vão fagocitar, clivar e apresentar pedaços do antígeno na superfície da sua membrana, tanto pra linfócitos T quanto B. O contato com o antígeno através das células apresentadoras faz com que os linfócitos entrem em um processo de mitose intensa, chamado de expansão clonal. Também pode ocorrer uma diferenciação: os linfócitos B sob determinadas condições, se diferenciam em plasmócito, que é uma célula com alta taxa de síntese proteica, e em função disso é capaz de produzir muito anticorpo (proteína responsável pelos fenômenos de neutralização e opsonização). Essa etapa caracteriza então a fase de ativação do sistema imune conhecida como ativação dos linfócitos. A partir do momento em que o sistema imune produz os anticorpos e citocinas, ele vai ser capaz de eliminar o antígeno do organismo, seja pela facilitação da opsonização, seja pela mudança no comportamento das células do sistema imune e das células do organismo, que impedem a entrada do micro-organismo em seu interior. Em seguida, o sistema imune começa a ser novamente desativado ou colocado num nível de atividade basal, anterior ao contato com o antígeno. Essa etapa é chamada de contração ou homeostasia, onde as células linfocitárias que foram previamente ativadas entram em um processo denominado de morte celular programada ou apoptose. Por último, algumas células remanescentes da primeira etapa, da primeira e da segunda ativação, permanecem no organismo, sendo chamadas de células de memória. ÓRGÃOS LINFOIDES PRIMÁRIOS Os órgãos linfoides primários do sistema imune são aqueles onde ocorre a produção e a maturação dos linfócitos. Na maioria das espécies domésticas conhecidas, a medula óssea é o local de produção tanto dos linfócitos B quanto dos linfócitos T. Entretanto, a maturação pode ser diferente entre as espécies. Um exemplo é que nos mamíferos, a produçãodos linfócitos B é sempre na medula óssea, no indivíduo jovem e no indivíduo adulto, enquanto nas aves isso ocorre em um outro órgão conhecido como Bursa de Fabricius. O linfócito T também vai ter um comportamento um pouco diferente quanto a sua maturação, porque ela se inicia na medula óssea, mas é concluída em um outro órgão linfoide primário que é o timo (cavidade torácica). No esquema abaixo, é representada de uma maneira bem suscinta a diferença entre os órgãos linfoides primário e secundário. Nesse esquema, observa-se que na maioria das espécies domésticas conhecidas, os órgãos linfoides primários são o timo e a medula óssea, mas podem ser observados também mais dois componentes, que são as placas de Peyer e a bursa. As placas de Peyer são uma estrutura linfoide presente no trato gastrointestinal, principalmente no intestino delgado. Em algumas espécies, as placas de Peyer do íleo têm a função de um órgão linfoide primário, enquanto que em outras espécies elas têm o papel de órgão linfoide secundário (onde ocorre a ativação dos linfócitos). A função de produção dos linfócitos pode variar ao longo da vida de um animal. Ela começa no período de vida embrionária e fetal no saco vitelino, depois ela passa para o fígado fetal e só depois na vida adulta que ela vai para a medula óssea em algumas espécies. Com relação às placas de Peyer, podem ser distinguidos dois grupos. No grupo 1, as placas de Peyer do íleo têm o papel de órgão linfoide primário, isso ocorre nos ruminantes e suínos. Elas são estruturas contínuas que podem chegar até 1 metro e a função de maturação não é para toda vida, ela só vai ocorrer até os 10 meses após o nascimento. Já nas espécies do chamado grupo 2, constituído pelos primatas, coelhos e roedores, o íleo apresenta placas de Peyer isoladas que não têm a função de fazer a maturação de linfócitos B, e sim uma função de ativação (órgão linfoide secundário). MEDULA ÓSSEA A medula óssea é um órgão linfoide primário de grande importância, sendo um local de produção das células linfocitárias, dos granulócitos (neutrófilos, eosinófilos e basófilos), e das células da linhagem vermelha (hematocitopoiese). As células estromais da medula óssea se comunicam com células nervosas através de sinapses, e nesse ambiente da medula ocorrem estimulações nervosas, hormonais e mecânicas para a síntese de componentes do sangue. Tudo se inicia a partir da estimulação sobre a célula tronco hematopoiética (HSC). Na figura abaixo é demonstrado esse processo de diferenciação celular (hematopoese): A célula tronco indiferenciada, a partir de alguns estímulos promovidos por citocinas e hormônios locais, começam a se diferenciar. A primeira etapa de diferenciação conhecida são os caminhos alternativos para o precursor mieloide comum e para o precursor ou progenitor linfoide comum. A partir dessa diferenciação inicial, o progenitor mieloide comum pode se diferenciar em precursores de plaquetas e eritrócitos, ou pode se diferenciar em precursores de células especializadas em fagocitose, como monócitos e células dendríticas, e até mesmo neutrófilo. A partir do precursor linfoide comum, vai ocorrer a diferenciação em linfócitos B e T. Na figura abaixo, é observado o que acontece em relação ao caminho que as células linfocitárias percorrem a partir da sua produção nos órgãos linfoides primários. A partir do precursor linfoide comum, se ele estiver na medula óssea dará origem aos linfócitos B imaturos. Eles então vão para a corrente sanguínea e chegam nos chamados órgãos linfoides periféricos ou secundários, onde podem encontrar ou não um antígeno. Se eles encontrarem, serão ativados, e se não encontrarem, retornarão pela circulação linfática até a circulação sanguínea (recirculação). No caso dos linfócitos T o caminho é um pouco diferente. Parte do processo de maturação ocorre na medula óssea, e logo em seguida elas são transferidas para o timo, onde terminam sua maturação e caem na corrente sanguínea como linfócitos T virgens maduros. Eles ainda não tiveram contato com antígenos, então eles migram para os órgãos linfoides secundários (baço e linfonodo) para encontrarem ou não um antígeno e serem ativados. Caso não haja esse encontro, ele irá recircular através da circulação linfática para a sanguínea. TIMO O timo é lobulado, ou seja, dividido em lóbulos, e cada um desses lóbulos possui uma região medular e uma cortical. A maturação dos linfócitos T segue do córtex para a medula. ÓRGÃOS LINFOIDES SECUNDÁRIOS Os órgãos linfoides secundários são órgãos de ativação. Assim, os linfócitos já produzidos vão encontrar o antígeno dentro dos órgãos linfoides periféricos. Os linfonodos se encontram espalhados por todo o corpo, e eles representam pontos de monitoramento de antígenos que estão sendo drenados pela corrente linfática. ESTRUTURA GERAL DE UM LINFONODO No geral, os linfonodos possuem uma região cortical e uma região medular. A região cortical está próxima à cápsula, onde chegam um conjunto de vasos linfáticos trazendo a linfa do tecido que está sendo drenado (vasos linfáticos aferentes). Esses vasos linfáticos possuem válvulas que impedem o retorno da linfa para o tecido de origem, então a movimentação da linfa é sempre em direção ao linfonodo. Na região abaixo da cápsula se encontram os folículos. Os linfócitos B a serem ativados ficam na região folicular abaixo da cápsula, e quando eles encontram antígenos nessa região, são estimulados a entrarem em mitose, dando um aspecto mais escurecido na região folicular com o aumento no número dessas células. Abaixo desses folículos existe uma região chamada de região paracortical ou zona de células T, onde essas células também podem encontrar antígenos e serem estimuladas. É importante que a região paracortical esteja próxima à região dos linfócitos B, porque no processo de ativação dos linfócitos B há a necessidade do contato com linfócitos T além do contato com o antígeno. O hilo é a região onde estão presentes vasos sanguíneos (veias e artérias) e também o vaso linfático eferente. A vênula de endotélio alto é muito importante para a colonização do linfonodo por linfócitos. Os linfócitos produzidos pela medula óssea e no timo, chegam até o linfonodo por essas vênulas. Quando o antígeno chega, ele passa por uma rede de canais e vai até próximo às vênulas de endotélio alto, onde vão encontrar principalmente linfócitos T. Com esse contato o linfócito T é ativado e entra em proliferação, estimulando também os linfócitos B que estão mais na região cortical. As células dendríticas auxiliam no processo de apresentação dos antígenos aos linfócitos T e B. Nos folículos, a parte mais escura do centro germinativo é onde ocorre uma intensa taxa de mitose de linfócitos. A parte mais clara é muito importante também, pois é onde os linfócitos são testados para sua capacidade de produzir anticorpos capazes de se ligar à antígenos. ESTRUTURA DE UM LINFONODO - SUÍNO Os linfonodos dos suínos são um pouco diferentes. Na região da cápsula, o que seria a região cortical em outras espécies, estão presentes os vasos linfáticos eferentes, ou seja, eles estão retirando a linfa do linfonodo e mandando para o restante do organismo. Os folículos e os centros germinativos (intensa taxa de mitose de linfócitos B) estão na região medular e não na região cortical. Além disso, os vasos linfáticos aferentes chegam pela região do hilo. Maria Tereza da Silva Storani Nota Antígenos entram no linfonodo pelos vasos linfáticos aferentes, e os linfócitos entram no linfonodo pela vênula de endotélio alto! BAÇO Esse é um outro órgão linfoide secundário muito importante para o estudo da imunidade nas espécies domésticas e, particularmente, no acompanhamento clínico da presença de infecções. O baço é um órgão linfoidecom uma matriz consistente e quando ele está reativo, ele aumenta de volume e pode ser palpado principalmente no gato e no cão. Ele está localizado caudalmente à curvatura do estômago, a frente do intestino delgado e também cranialmente ao rim. Na estrutura do baço evidencia-se duas regiões bem características, a polpa vermelha e a polpa branca. Na polpa vermelha é onde ocorre a hemocaterese, fenômeno de destruição das hemácias velhas. Já a polpa branca, localizada na região periarteriolar (próximo às artérias que entram no órgão), é rica em linfócitos e em outras células do sistema imune, e é nesse local que ocorre a ativação dos linfócitos presentes no baço. Tanto no baço quanto no linfonodo, quando ocorre o contato dos linfócitos T e B com o antígeno, ocorre um estímulo que resulta em um processo chamado de proliferação. Porém, pode ocorrer também um outro processo que é a diferenciação. No processo de diferenciação, os linfócitos T que antes eram imaturos passam a ser experientes, sendo chamados de linfócitos T efetores. Os linfócitos B se diferenciam em plasmócitos, muito eficazes na síntese de anticorpos. Quando os antígenos chegam até os órgãos linfoides secundários, são eles que fornecem esse estímulo para a ativação dos linfócitos. Nos linfonodos, isso ocorre através dos vasos linfáticos aferentes, e no baço, através da própria corrente sanguínea. MALT - TECIDO LINFOIDE ASSOCIADO À MUCOSA No caso das placas de Peyer, elas podem desempenhar o papel de órgão linfoide primário ou secundário, mas existem outros tipos de tecido linfoide associados à mucosa. Há algumas variações no trato gastrointestinal e também no trato respiratório. As placas de Peyer se caracterizam por um revestimento de enterócitos, assim como é feito nas outras porções do intestino delgado, mas o que vai diferenciar é a formação de uma depressão na região das placas, e a presença de células M no Maria Tereza da Silva Storani Nota Nem todas as espécies possuem o ducto torácico. revestimento dessa depressão. Essas são células especializadas na captação de antígenos na luz intestinal para a região da lâmina própria, local com uma grande quantidade de linfócitos T e B e também células APC (apresentadoras de antígenos). Abaixo da placa de Peyer existe uma estrutura análoga ao folículo do linfonodo, com a presença de vários linfócitos B e FDC (células dendríticas foliculares). Esse primeiro contato com o antígeno feito na placa de Peyer permite que alguns linfócitos (T e B) sejam ativados e liberados para a circulação linfática, e sejam transportados para o linfonodo, onde há uma grande proliferação de linfócitos. Esses linfócitos ativados tem a capacidade de dar origem à plasmócitos, que vai levar à produção de anticorpos. Alguns linfócitos ativados nos linfonodos migram para outras regiões do intestino delgado dando origem à vários plasmócitos secretores de imunoglobulinas desse tecido. É comum, portanto, encontrar no intestino delgado, principalmente na porção final do jejuno e do íleo, plasmócitos secretando tanto IgG quanto IgM e IgA. No ambiente da lâmina própria há, então, a apresentação de antígenos e a ativação de linfócitos T e B que vai gerar a produção de anticorpos a partir de plasmócitos. a – Placa de Peyer. Em azul: células M; em verde: CD20; em vermelho: CD3. Moléculas CD20 estão presentes na superfície de linfócitos B. E moléculas CD3 caracterizam os linfócitos T. A região das células M se encontra entremeada por linfócitos T e B, como observado na imagem acima. As imagens abaixo representam a região das vilosidades. Na imagem “c”, observa-se IgA em verde, na região das criptas entre as vilosidades. Na imagem “d”, estão sendo demonstrados os dois tipos de linfócitos, auxiliares (vermelho – CD4) e citotóxicos (verde – CD8). No esquema a seguir são representadas algumas características do MALT gastrointestinal nas diferentes espécies. Em todas as espécies, na porção final do jejuno e inicial do íleo, tem a presença de linfócitos interepiteliais, ou seja, eles estão entre os enterócitos e fazem seu contato com o antígeno de forma praticamente direta em contato com a luz intestinal. Algumas espécies apresentam tecido linfoide na lâmina própria, logo abaixo das vilosidades. Existe uma variação de apresentação desse tipo de linfócito de lâmina própria em algumas espécies como roedores e primatas, onde há uma aglomeração de linfócitos na porção superior da vilosidade intestinal. Em camundongos, há uma aglomeração na região da cripta, formando o que se chama de criptoplaca ou falsa placa de Peyer. Em todas as espécies há a presença de tecido linfoide também abaixo da vilosidade em uma forma folicular, como se fossem linfócitos foliculares, principalmente na porção mais mediana do jejuno. Na porção final do jejuno são encontradas as placas de Peyer na maioria das espécies. Em ruminantes, suínos, cães e ovinos é encontrada uma placa de Peyer contínua que pode chegar a 1 metro, mas ela involui aos 10 meses de idade. O próprio apêndice pode ser encarado como um tecido linfoide associado ao trato gastrointestinal, isso explica sua propensão a inflamar (local de resposta imune). Existe o chamado complexo linfoglandular, presente na mucosa do intestino grosso, somente em suínos. Todas as espécies possuem folículos com a presença de linfócitos no intestino grosso, na porção após o ceco (região do intestino grosso ascendente ou transverso). Os linfonodos mesentéricos fazem parte do tecido linfoide associado ao trato gastrointestinal, assim como os vasos linfáticos que drenam o intestino e o fígado com seus linfonodos portais. BALT Um outro exemplo de tecido linfoide associado à mucosa é o BALT (trato respiratório). Nos alvéolos estão presentes células dendríticas e macrófagos logo abaixo do epitélio, com a presença de linfócitos T e B e plasmócitos. Quando ocorre uma resposta imune, esse local aumenta de volume e produz uma série de substâncias inflamatórias. A patogênese da Covid-19 envolve a ativação do BALT.
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