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Os anticorpos são proteínas envolvidas no funcionamento do sistema imune. Eles podem ser produzidos por linfócitos B e funcionarem como receptores celulares na superfície dessas células, mas eles também podem ser secretados para o meio extracelular. A função dos anticorpos está relacionada com a sua capacidade de ligação aos antígenos (determinantes antigênicos ou epítopos). Eles estão envolvidos em funções do sistema imune relacionadas à fagocitose (opsonizam o antígeno), mas eles também são capazes de neutralizar os antígenos no meio extracelular e impedir que eles se liguem aos receptores de células do organismo. Quando o conceito de anticorpos foi criado no final do século XIX, não se sabia sua natureza molecular. Foi só nos anos 30 que Michael Heidelberg descobriu que os anticorpos eram proteínas, a partir do estudo que ele fez na neutralização de proteínas do soro com as bactérias envolvidas no aparecimento da pneumonia. A partir da caracterização dessas moléculas, ficou esclarecido alguns aspectos do funcionamento dos anticorpos, inclusive o fato de que eles estavam presentes nos líquidos corporais. Os anticorpos pertencem a um grupo de proteínas chamado de globulinas, que são solúveis em água, nos líquidos corporais e no próprio sangue. Do ponto de vista bioquímico, as imunoglobulinas podem ser caracterizadas no soro pela técnica de eletroforese. Os anticorpos atuam na fase de reconhecimento do antígeno, quando os antígenos entram no órgão linfoide secundário e na região cortical (na maioria das espécies) eles encontram linfócitos B. Na superfície desses linfócitos B existe um receptor de antígeno, que é uma imunoglobulina presa em sua superfície. Cada linfócito B, quando sai da medula óssea (órgão linfoide primário), sai com um tipo único de receptor, porque durante o processo de amadurecimento do linfócito B, ele sofre uma modificação no DNA para que apenas um tipo de receptor seja produzido. Dessa forma, cada clone de linfócito B vai ter apenas um tipo de receptor. Quando os linfócitos B encontram um determinado antígeno para seu receptor, eles vão ser estimulados a proliferar, sendo geradas cópias deles, e por consequência, cópias desse receptor. Se a estimulação pelo contato com o antígeno for adequada, com a participação de linfócitos T auxiliares, algumas das cópias dos linfócitos B ativados vão se diferenciar em plasmócitos, que vão produzir anticorpos que serão secretados para o meio extracelular. Em um primeiro momento, os anticorpos atuam como receptores na membrana do linfócito B, e na segunda etapa, quando os plasmócitos estão produzindo e secretando anticorpo, eles fazem parte da imunidade humoral. Os anticorpos podem estar presentes na superfície dos linfócitos B junto com outras proteínas de membrana, formando os receptores de células B (BCRs), com papel de reconhecimento. Na segunda fase, também chamada de fase efetora, os anticorpos são secretados por plasmócitos, e nessa condição eles são capazes de se ligar a antígenos no meio extracelular. Isso vai permitir que eles interajam com outros componentes do sistema imune, inclusive células, num processo de opsonização para facilitar a eliminação do antígeno. Nessa situação eles agem como opsoninas. Um outro papel importante dos anticorpos é o de neutralização. Os anticorpos impedem que os antígenos se liguem a componentes do próprio organismo como nos receptores celulares, e isso é particularmente importante para impedir a infecção viral. Geralmente os vírus interagem com proteínas na superfície das células do hospedeiro para fazer a infecção celular, e alguns anticorpos podem impedir isso se ligando às proteínas aos antígenos virais, bloqueando essa ligação aos receptores das células. Esse princípio pode ser aplicado na infecção por HIV em seres humanos. Os anticorpos são produzidos em duas situações: como uma proteína de membrana, na superfície de linfócitos B, particularmente virgens, mas também de memória, e que quando estimulados em um órgão linfoide secundário pelo contato com o antígeno e também com o linfócito T auxiliar, recebem um ambiente rico em citocinas que vão fazer com que eles proliferem (IL-2, IL-4 e IL-5) e a partir da ação de outras citocinas se diferenciem (IL-2, IL-4, IL-5, IFN- e TGF-), originando os plasmócitos, que produzem e secretam anticorpos. Os anticorpos também podem ser encontrados na superfície de outras células do sistema imune. As células NK, os eosinófilos, os basófilos e as células fagocitárias como os neutrófilos e os macrófagos, possuem em sua superfície um receptor chamado de receptor FC. O FC é uma região do anticorpo diferente daquela aonde o antígeno se liga (FAB), e esses receptores FC são pontos de ligação do anticorpo. Isso é importante para o processo de opsonização. Uma outra localização dos anticorpos é no meio extracelular, e um dos locais mais fáceis de se encontrar é no sangue, mas em função dos vários componentes que o compõe (outras proteínas e células), sua observação direta se torna difícil. Uma forma de contornar esse problema é processar o sangue, de tal forma que as partes líquidas sejam separadas das partes figuradas, das células do sangue. Esse processamento pode ser feito de duas formas: sangue com ou sem anticoagulante. No sangue com anticoagulante, se deixado em repouso ou a partir da centrifugação, é possível a separação das partes líquidas do sangue do elemento figurado. Quando essa separação é feita, a parte líquida do sangue recebe o nome de plasma (55% do volume total), porção que contém todas as proteínas do sangue em suspensão. Nesse caso é possível identificar a presença de anticorpos no plasma, e outras proteínas do sangue. Logo abaixo do plasma se encontram os leucócitos, uma fina camada que tem em torno de 1% do volume total do sangue quando separado. Abaixo, 45% do sangue separado constitui as células, particularmente as hemácias. Para que se extraia o soro do sangue, é necessário que ocorra o processo de coagulação. Após a coleta, o tubo de tampa vermelha (sem anticoagulante) é deixado em repouso, e passado algum tempo é formado um coágulo, separado de uma fração líquida diferente do plasma. No plasma estavam presentes todas as proteínas do sangue, já no soro, vai estar presente a albumina, mas principalmente os anticorpos. O soro não possui a proteína fibrinogênio. Dessa forma, a quantidade de anticorpos no soro é proporcionalmente maior do que no plasma. SOROLOGIA A sorologia pode ser dividida em duas áreas: a soroterapia e o sorodiagnóstico. A soroterapia se ocupa dos tratamentos feitos com a utilização de antissoros, e o sorodiagnóstico se utiliza do soro principalmente de animais que tiveram contato com algum patógeno para buscar um diagnóstico desses indivíduos dentro de uma população e também tomar ações de prevenção de disseminação de doenças. O pai da sorologia e também da soroterapia é um médico prussiano do final do século XIX, Adolf Von Behring. Ele trabalhou no laboratório de Koch, originalmente como um microbiologista. Seu parceiro de trabalho era Shibasaburo Kitasato, e seu aluno orientado era Paul Ehrlich, que inclusive ajudou a elaborar o conceito de anticorpo, e junto com ele foi o pai da imunidade humoral. A soroterapia foi desenvolvida no final do século XIX, principalmente na perspectiva de tratar pessoas com um quadro de infecção diftérica. Behring descobriu que se ele utilizasse soro de cavalo imunizado com a toxina diftérica em pessoas que estavam infectadas, a chance dessas pessoas sobreviverem aumentava significativamente. Com o tempo, esse trabalho deu origem a outros métodos de tratamento utilizando os antissoros, como no caso de picadas de escorpiões, aranha e acidentes ofídicos. Clostridium tetani Os clostridium geralmente apresentam esporos como forma de resistência, equando encontram condições favoráveis voltam a se transformar em uma bactéria na sua forma vegetativa, capaz de ter atividade metabólica. Quando isso ocorre ela produz toxinas, que provocam efeitos mais agressivos em relação ao hospedeiro que está sendo infectado. O clostridium tetani produz uma toxina que bloqueia a transmissão do impulso nervoso, provocando uma contração contínua da musculatura. Uma forma de impedir isso é utilizando um antissoro que se ligue à toxina antes que ela se ligue aos receptores das células nervosas do hospedeiro. Contra as picadas de escorpiões, é coletada uma pequena quantidade de seu veneno, que então é inoculado em um cavalo. Deste, extrai-se o soro e separa-se o concentrado de proteínas e anticorpos com a capacidade de neutralizar o veneno. O mesmo princípio é feito com o veneno de aranhas e cobras, utilizando-se uma dose não letal de seu veneno. Obs.: O veneno das serpentes, na verdade é uma mistura de diferentes toxinas, então é importante que se produza um soro antiofídico para cada espécie. No Brasil, além da produção do soro antiofídico para cascavéis, é necessário produzir soro antibotrópico, para atender casos de acidentes com jararacas, que têm veneno com composição diferente. Eventualmente, é necessário fazer mais de uma aplicação de uma dose sub-letal do veneno no cavalo para garantir uma boa produção de anticorpos (resposta imune primária e secundária). Geralmente em torno de 30 dias é feita uma coleta de sangue do animal, a partir da qual é extraído o soro. SORODIAGNÓSTICO Um bom meio para detectar se o animal já teve contato e infecção por um patógeno é buscar a presença de anticorpos com capacidade de se ligar ao patógeno, não só nessa situação, mas também em casos de imunização, para saber se o processo de vacinação foi efetivo. Eventualmente, existe um tempo entre o contato com o antígeno e o aparecimento de anticorpos, entre 15 e 21 dias. Nesse momento em que os anticorpos aparecem no organismo/sangue/soro, dá- se o nome de soroconversão. O sorodiagnóstico lança mão de algumas técnicas, e um dos primeiros métodos a serem utilizados dentro do sorodiagnóstico é a diluição seriada, que consiste na diluição em sequência do soro do animal. Ela é utilizada para saber até que ponto é possível detectar a presença de anticorpos. Quanto mais se dilui o soro, menos é esperado encontrar anticorpos, mas se mesmo assim for possível detectar a presença deles, há um indicativo de que o contato da pessoa ou animal com o patógeno foi extremamente intenso, e que gerou uma produção intensa de anticorpos, permitindo dizer se a infecção é recente ou distante. É particularmente importante para o diagnóstico da toxoplasmose em humanos, mas também para diagnosticar a hepatite infecciosa canina e a doença de Aujeszky em suínos. A diluição seriada é utilizada principalmente para preparar amostras para fazer a soroaglutinação. A diluição seriada gera uma diluição aonde ainda é possível verificar a presença da aglutinação. A maior diluição em que se observa a presença de ligação o anticorpo do soro ao antígeno é chamada de título. Exemplo: se eu diluir 1400 vezes um soro, e ainda sim observar a capacidade de aglutinação dele a um determinado antígeno, o título do soro é 1400. Uma outra técnica utilizada no sorodiagnóstico é a aglutinação. Quando uma solução de antígenos é colocada em contato com uma solução de anticorpos, se houver uma quantidade suficiente de antígeno e de anticorpo, há a formação de estruturas de alto peso molecular chamadas de grumos, e isso é perceptível à olho nu. Quando isso acontece, afirma-se que houve uma aglutinação. Isso é feito, por exemplo, no teste para se identificar o grupo sanguíneo. Na medicina veterinária, utiliza-se o teste de aglutinação para o diagnóstico da brucelose, zoonose que acomete bovinos e causa aborto. Nesse teste, é utilizada uma solução de antígeno de cor rosa, chamado de rosa bengala (nome técnico: antígeno acidificado tamponado - AAT), em uma placa de vidro quadriculada, onde é colocado posteriormente um pouco de soro diluído. Nos casos positivos há a formação de grumos, que indicam a formação de um complexo Ag-Ac. Nem sempre haverá a formação de grumos quando uma solução de antígeno for adicionada de uma solução de anticorpos, pois a formação desses grumos depende da chamada zona de equivalência. Antígenos ou anticorpos em excesso não formam um complexo de alto peso molecular, característico da zona de equivalência, que vai precipitar e formar o corpo de fundo da solução (grumo). Portanto, o grumo só é formado quando há uma proporção ideal de anticorpo e antígeno. A técnica de precipitação é a terceira do sorodiagnóstico. É colocada em um meio gelatinoso uma solução de antígenos e uma solução de anticorpos, para verificar se há precipitação nesse meio (não forma grumos). Isso é feito nos testes de imunodifusão radial de Coggins, conhecido como teste de AIE - Anemia Infecciosa Equina – no soro de equídeos suspeitos ou em trânsito (não é permitido transitar em território nacional com um cavalo que não esteja com seu exame de AIE válido – validade de 3 a 6 meses). ESTRUTURA Como os anticorpos são proteínas, eles possuem um nível de estrutura que reflete a sua complexidade. As proteínas podem ter até 4 níveis de complexidade estrutural: o nível primário, relacionado a sequência de resíduos de aminoácidos, o nível secundário, que caracteriza os primeiros dobramentos, o nível terciário, que é o mais complexo formado por proteínas que só têm uma cadeia polipeptídica, e o nível quaternário, o mais complexo onde são identificadas proteínas com mais de uma cadeia polipeptídica em sua constituição (hemoglobina). No caso dos anticorpos, se estabelece o nível quaternário. Os anticorpos possuem duas cadeias polipeptídicas leves e duas cadeias polipeptídicas pesadas. Dessa forma, cada unidade de anticorpo possui quatro cadeias polipeptídicas. Essa descoberta só foi possível a partir da utilização de uma técnica chamada produção de anticorpos monoclonais, que consiste essencialmente em fundir um linfócito B com uma célula cancerosa e garantir que esse híbrido produza anticorpos exatamente iguais, em uma quantidade suficiente para formar o que chamamos de cristal. A técnica para determinar a sequência de resíduos de aminoácidos, desenvolvida por volta da década de 50, é chamada de cristalografia de proteínas, e só é possível formar cristais de proteínas se forem colocadas em solução proteínas exatamente iguais. Com isso, foi possível formar cristais de anticorpos, e a partir da submissão deles à raios x e à ressonância magnética nuclear, foi possível calcular a posição dos átomos dentro da molécula de anticorpo. Conseguindo-se calcular a posição dos átomos, também conseguiu-se determinar a sequência de resíduos de aminoácidos na molécula. A partir da determinação da estrutura do anticorpo foi possível explicar como ele se ligava ao antígeno, devido à localização do paratopo, que é a região das cadeias polipeptídicas tanto leve quanto pesada que vai se ligar ao determinante antigênico. Começou-se a descobrir também, que haviam diferenças entre as moléculas de anticorpo não só relacionadas ao paratopo, mas também com relação à cadeia pesada, no que tange principalmente à capacidade de ligação às células pela porção FC. Além disso, iniciou-se a descoberta de quais eram os mecanismos de síntese de proteína e de modificação do DNA que explicavam essa estrutura dos anticorpos. Uma outra consequência foi descobrir que as cadeias polipeptídicas tanto leves como pesadas dos anticorpos possuíam uma grande diversidade na sua porção amino- terminal. Como são produzidos os anticorpos monoclonais. Na primeira etapa, aplica-se uma solução de um antígeno X em um camundongo, que depois tem seu baço retirado paraa retirada dos linfócitos B. Depois, coloca-se em uma placa de cultura junto com drogas que permitem a fusão entre células, os linfócitos B e uma célula cancerosa (mieloma). Dessa fusão é formado um híbrido, que tem uma grande capacidade de se multiplicar (hibridoma). A partir da formação dos hibridomas, eles vão sendo diluídos de tal forma que, em um determinado volume, se tenha um único e exclusivo hibridoma, com a capacidade de gerar clones exatamente iguais (monoclonal), produzindo a mesma molécula de anticorpo. Depois se expande o linfócito híbrido e coleta-se sobrenadante que só vai ter um tipo de anticorpo, com a mesma sequência de resíduos de aminoácidos. Hoje, essa técnica não é usada somente para a produção de cristais de proteínas. Um medicamento baseado na produção de anticorpos monoclonais é o Keytruda, imunoterápico produzido para neutralizar e aumentar a ação do sistema imune sobre células cancerosas. Representação cristalográfica por difração de raio x das moléculas de anticorpo (C), ressonância magnética nuclear (D) e desenho em fita obtido através de C e D (E). A parte mais esbranquiçada é onde está a maior concentração de núcleos de anticorpos. Na imagem abaixo está sendo representada uma molécula de anticorpo, com suas cadeias leves e pesadas. Para cada cadeia, leve e pesada, existe uma porção aminoterminal e uma porção carboxiterminal. A região do paratopo que se liga aos determinantes antigênicos é a que está próxima da porção aminoterminal das cadeias, dessa forma, cada paratopo é formado por uma porção aminoterminal de cadeia leve e uma porção aminoterminal de cadeia pesada. Assim, cada molécula possui dois paratopos. Cada uma das cadeias polipeptídicas possuem domínios característicos que refletem as propriedades da molécula. Mais próximo à porção aminoterminal, existem os domínios variáveis de cadeia leve e os domínios variáveis de cadeia pesada. Eles são variáveis, porque ao comparar anticorpos produzidos por linfócitos B diferentes, dificilmente vai ser encontrada a mesma sequência de resíduos de aminoácido. Cada linfócito B maturado na medula óssea vai ter um domínio de cadeia leve variável distinto do outro linfócito B que vai ser formado logo em seguida. Já os demais domínios tendem a ser constantes: todas as moléculas de cadeia pesada que forem produzidas por aquele linfócito B, daquele animal ou pessoa, vão tender a ser iguais. É graças à variação tanto da cadeia leve quanto da cadeia pesada, que vão ter paratopos distintos. Nos anticorpos que são produzidos e fixados na membrana do linfócito B, existe uma sequência de resíduos de aminoácido hidrofóbica, que faz com que o anticorpo seja ancorado e não secretado, o que não existe nos anticorpos que são produzidos e secretados por plasmócitos. O início do estudo das moléculas de anticorpo foi feito utilizando a digestão seletiva. A primeira técnica foi através da digestão pela enzima papaína (presente no mamão). Essa enzima cliva a molécula de anticorpo em uma região chamada de região de alça, formando 3 fragmentos: dois Fab e um Fc. O fragmento Fab e uma abreviação do termo em inglês “Fragment antigen-binding”, ou seja, fragmento de ligação ao antígeno. Já o fragmento constante que não se liga ao antígeno recebeu o nome de Fc, de fragmento cristalizado. Um segundo ensaio que foi feito, utilizou a pepsina. Ela gerava um fragmento Fab duplo, chamado de F(ab’)2. Esse fragmento Fab duplo, além de ter a capacidade de se ligar ao antígeno, ele também era capaz de aglutinar e formar imunocomplexos. Esses estudos permitiram entender como é a valência das moléculas de anticorpo. Representação por ressonância magnética nuclear. Os anticorpos são produzidos de uma maneira diversa, cada linfócito B maduro tem a capacidade de produzir um paratopo potencialmente diferente. Isso é importante para gerar a diversidade dos anticorpos, devido à grande variedade também de antígenos. Estima-se que essa diversidade seja em torno de 107 (10.000.000) a 109 (1.000.000.000) de moléculas de anticorpos com paratopos distintos. As moléculas de anticorpo têm então duas cadeias leves e duas pesadas. As cadeias leves, por sua vez, podem ser de dois tipos: em todas as espécies podem existir cadeias leves do tipo (kappa) e cadeias leves do tipo (lambda), mas só uma é utilizada de cada vez na produção dos anticorpos. Isso é importante porque existem diferenças entre as espécies com relação a utilização desses tipos de cadeias leves. O significado biológico para isso ainda está em investigação. Seres humanos utilizam mais a cadeia leve do tipo kappa, assim como camundongos, ratos e coelhos. Já a cabra, a ovelha, o boi e o cavalo, utilizam mais a cadeia leve do tipo lambda. O porco utiliza as duas cadeias leves (kappa e lambda) de igual maneira (50/50). Sobre a estrutura do anticorpo: Dois paratopos, quatro domínios variáveis (2 da cadeia leve e 2 da cadeia pesada), 8 domínios constantes (na imagem abaixo) – sendo 6 de cadeia pesada e 2 de cadeia leve. Nas moléculas de imunoglobulinas, de uma maneira geral, sempre vão existir domínios chamados de domínio Ig, que são domínios formados por duas camadas de folha beta. Essa é uma característica das moléculas de imunoglobulina que é compartilhada com outras moléculas que formam a chamada superfamília das imunoglobulinas. Nesse domínio Ig existe sempre uma região aminoterminal variável. As regiões carboxiterminais das cadeias pesadas possuem funções efetoras, como a opsonização. Uma outra região importante é a região de dobradiça, que é a transição entre os fragmentos Fab e Fc, dando uma certa mobilidade à imunoglobulina. As regiões variáveis das moléculas de anticorpo estão presentes tanto nas cadeias leves quanto nas pesadas. Cada uma dessas regiões variáveis é constituída em torno de 10 resíduos de aminoácidos que se ligam diretamente ao paratopo. Na verdade, dentro dessas regiões existem pequenas sequências chamadas de CDRs, e cada uma tem 10 resíduos de aminoácidos, que efetivamente formam o paratopo. Dentro do domínio variável de cada cadeia polipeptídica, essas sequências chamadas de CDRs (regiões determinantes de complementaridade) são as que mais variam, e dentre elas, a CDR3 é a mais variável. O domínio variável tem em torno de 110 resíduos de aminoácidos, sendo que, na posição de 25 a 35, de 50 a 60 e de 90 a 100, tem-se uma maior variabilidade, ou seja, a taxa de substituição possível. Dizer que a taxa de variabilidade é igual a 100, significa dizer que qualquer um dos 20 tipos de resíduos de aminoácidos que compõe as proteínas dos organismos vivos pode estar presente nessa posição. Os CDRs são os domínios hipervariáveis (CDR1, CDR2 e CDR3). Existem diferenças também entre as espécies com relação ao comprimento. Camundongos apresentam em torno de 110 resíduos de aminoácidos, que compõe o domínio leve e também o CDR3 de cadeia pesada. Em outras espécies, como o bovino, essa taxa de variação é muito maior, e o comprimento também é maior – há uma diferença em torno de mais de 70 resíduos de aminoácido no CDR3 dessa espécie, o que dá um comprimento de 170 resíduos de aminoácido diferentes da espécie humana e murina (camundongos). Parte do paratopo que efetivamente se liga ao determinante antigênico (CDR). CLASSES (ISOTIPOS) As diferenças entre as classes de anticorpos estão relacionadas com a função que essas moléculas exercem dentro do organismo. Alguns anticorpos são mais apropriados para fazer a neutralização, como algumas classes de IgG. Algumas outras classes como a IgM pentamérica e até mesmo outras classes de IgG são apropriadas para fazer a aglutinação, e são muito boas pra fazer a neutralização de antígenos. Outras classes são capazes de ativar circuitos do sistema imune, como por exemplo aqueles quelevam à opsonização, e aqueles que também levam ao processo de ativação de moléculas do sistema de complemento. Muitas dessas funções estão relacionadas à ligação de receptores de porção Fc na superfície de células do sistema imune inato, como por exemplo os neutrófilos, os macrófagos, os basófilos e os mastócitos, um tipo particular de função efetora exercida pelas imunoglobulinas da classe E, que são capazes de armar os mastócitos e atuar no processo de desgranulação, quando essas células lançam substâncias vasoativas para o meio extracelular, muito importante em quadros de alergia. A diferença entre as classes de imunoglobulinas se localiza principalmente em relação aos domínios constantes da cadeia pesada localizadas no fragmento Fc. As diferentes classes de imunoglobulinas também podem apresentar estruturas distintas. A molécula de IgG apresenta duas cadeias leves e duas pesadas, sendo que existem seis domínios constantes na cadeia pesada, quatro deles estando no fragmento Fc. A IgM pentamérica tem uma grande capacidade de ativação do sistema de complemento, além de ser uma excelente aglutinadora de antígeno. A IgE é importante para armar mastócitos e atuar no processo de desgranulação e em fenômenos alérgicos. A IgA dimérica é secretada nas mucosas e é importante para a ligação de substâncias antigênicas na luz intestinal e também nas mucosas como um todo, incluindo o BALT (tecido linfoide bronco-alveolar) e também as mucosas do trato geniturinário. A IgD é sintetizada em algumas espécies animais e é produzida principalmente na superfície de linfócitos B imaturos. Os primeiros animais a possuírem sistema imune adaptativo, ou seja, linfócitos e anticorpos, foram os peixes cartilaginosos. Alguns tipos de imunoglobulinas são encontrados apenas nos peixes cartilaginosos, como a IgW identificada em tubarões, a IgW longa e a IgNAR, um anticorpo que não tem as cadeias leves, somente as pesadas. Os peixes ósseos apresentam somente a IgM e a IgD. Os peixes pulmonados possuem a IgM, mas também a IgW e a IgW longa. O anfíbio, que é o xenopus, possuem além da IgM, classes diferentes como a IgX e a IgY. As aves, no caso as galinhas, apresentam IgM, IgA e IgY. Os seres humanos e os camundongos apresentam os cinco tipo clássicos de imunoglobulinas (IgG, IgM, IgE, IgD e IgA). Obs.: O cavalo possui uma variação na IgG que é chamada de IgG(T). PRODUÇÃO Quais células produzem anticorpos: tanto o linfócito B quanto o plasmócito. Porém, só o plasmócito os secreta para o meio extracelular. Para sintetizar anticorpo, a célula precisa ter um retículo endoplasmático rugoso (REG) funcional, e deve haver a participação de proteínas que fazem o dobramento da cadeia polipeptídica, que são as chaperones. Também deve haver a participação de proteínas que atuam como as chaperones, mas dependem de cálcio, as calnexinas. Precisa haver os chamados BiPs, que são peptídeos de sinalização, e também um complexo de Golgi desenvolvido. Os linfócitos B reúnem essas características, mas quando se diferenciam em plasmócitos, essas características são ainda mais acentuadas. Como os linfócitos B e diferenciam em plasmócitos. A célula tronco indiferenciada vai começar a ativar alguns genes do seu genoma que em outras células somáticas não são expressas, e que vão comprometer aquela célula com a linhagem de linfócitos B. Quando um precursor de linfócito B começa a se desenvolver em um órgão linfoide primário, aparecem os pré-receptores de linfócitos B, que são formados por cadeias pesadas e uma falsa ou falsas cadeias leves, que vão formar um pré-receptor que irá sinalizar que o linfócito B está se desenvolvendo no ambiente da medula óssea, de onde o processo continua e começam a ser produzidas as cadeias leves (kappa ou lambda dependendo da espécie animal). Vão ser produzidas duas classes de imunoglobulinas presas na superfície do linfócito B, a IgD e a IgM. Quando isso acontece, diz-se que há um linfócito B maduro, mas ainda inexperiente (virgem). Esse linfócito cai na corrente sanguínea e entra em contato com um antígeno no órgão linfoide secundário, e se for um contato efetivo, ele é ativado, proliferando e se diferenciando em plasmócitos. A secreção é marcada pela perda da sequência de resíduos hidrofóbicos da cadeia pesada principalmente na porção carboxiterminal, e como não tem mais esses resíduos hidrofóbicos, a imunoglobulina não fica mais ancorada na membrana. Os anticorpos secretados possuem cadeias pesadas com resíduos hidrofílicos ou com carga na porção carboxiterminal.