Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
0 UNIVERSIDADE TIRADENTES SERVIÇO SOCIAL JOANA ANGÉLICA SANTANA DIAS SÔNIA MATOS LIMA VERÔNICA OLIVEIRA DE SANTANA VIOLÊNCIA ESCOLAR – UM ESTUDO DESSA REALIDADE NA ESCOLA MUNICIPAL MÉDICI EM PARIPIRANGA/BA Lagarto-SE 2015 1 JOANA ANGÉLICA SANTANA DIAS SÔNIA MATOS LIMA VERÔNICA OLIVEIRA DE SANTANA VIOLÊNCIA ESCOLAR – UM ESTUDO DESSA REALIDADE NA ESCOLA MUNICIPAL MÉDICI EM PARIPIRANGA/BA Artigo científico apresentado como um dos pré- requisitos da disciplina Trabalho de Conclusão de Curso do curso de Serviço Social da Universidade Tiradentes. Professora: Michelly Marry Costa Campos Hora Tutora: Amanda Gabriela do Carmo Lagarto-SE 2015 2 VIOLÊNCIA ESCOLAR – UM ESTUDO DESSA REALIDADE NA ESCOLA MUNICIPAL MÉDICI EM PARIPIRANGA/BA Joana Angélica Santana Dias1 Sônia Matos Lima2 Verônica Oliveira de Santana3 RESUMO O presente artigo trata da violência escolar, na unidade de ensino Escola Municipal Presidente Emílio Garrastazu Médici, na cidade de Paripiranga, Bahia, com a finalidade de conhecer os problemas de violência no âmbito escolar, o relacionamento entre família e comunidade escolar, o trabalho dos professores e as medidas cabíveis para o processo de ensino e aprendizagem e a ressocialização dos discentes, percebendo que a educação é fator primordial para a formação de novos cidadãos. Esse trabalho foi realizado através de pesquisa bibliográfica e documental por meio de livros, artigos, paper, revistas e pesquisa digital que possibilitou a compreensão e embasamento da temática, e entrevistas com o corpo docente e discente, visitas a unidade de ensino. PALAVRAS-CHAVE: Violência. Família. Educação. ABSTRACT This article deals with school violence in school municipal school unit President Emilio Medici Garrastazu in the city of Paripiranga, Bahia, in order to meet the problems of violence in schools, the relationship between family and school community, the work of teachers and appropriate action for the teaching and learning process and the rehabilitation of students, realizing that education is an essential factor for the formation of new citizens. This work was conducted through bibliographical and documentary research through books, articles, paper, magazines 1 Graduanda em Serviço Social pela Universidade Tiradentes Ead,8º período – Lagarto/SE. joana.angelica.diias@outlook.com 2 Graduanda em Serviço Social pela Universidade Tiradentes Ead, 8º período – Lagarto/SE. lima.mattos@hotmail.com 3 Graduanda em Serviço Social pela Universidade Tiradentes Ead, 8º período – Lagarto/SE. veronicaos-paris@hotmail.com mailto:joana.angelica.diias@outlook.com 3 and digital research that led to the understanding and foundation of the subject, and interviews with faculty and students, visits to teaching unit. KEYWORDS: Violence. Family. Education. 1 INTRODUÇÃO A escola se configura no espaço da formação do saber, cenário fundamental de acesso ao conhecimento, porem diante das novas configurações sociais, os ambientes escolares também sofreram modificações, o que antes era tido como espaço seguro além do âmbito familiar, passou a apresentar as enumeras interfases da violência, essas representadas por discriminação, agressões verbais, físicas e até assassinatos, enfim, tomando proporção comum no cotidiano de alunos e professores. A escola é um espaço de grandes diversidades com uma amplitude de indivíduos constituídos de diferentes valores que buscam nesse âmbito a formação do conhecimento. É nesse ambiente que se apresentam as várias demandas sociais, tais como drogas, trabalho infantil, gravidez na adolescência, evasão escolar, violência etc. Diante dessas demandas o presente artigo tem como abordagem principal a violência escolar e como tem sido essa realidade dentro da Escola Municipal Presidente Emílio Garrastazu Médici, na cidade de Paripiranga-BA. Dentro desse contexto, questiona-se: em que proporções têm ocorrido à violência na escola? Que razões podem ser atribuídas a esse comportamento? Que medidas têm sido adotadas no intuito de diminuir a violência escolar? Que intervenções são aplicadas diante da problemática? Nesse sentido, o referido trabalho tem como objetivo geral: Estudar sobre a expressão da violência escolar a partir do contexto da escola Médici em Paripiranga, BA. E os objetivos específicos: Identificar quais os tipos e fatores que impulsionam a violência dentro da escola; verificar qual tem sido a atuação dos professores, diretores e secretários diante da problemática; identificar os alunos que frequentemente são protagonistas de situações violentas. O tema proposto tem sido alvo de debates na escola, na secretaria educacional, no conselho tutelar, entre outros órgãos. Portanto, justifica-se a pesquisa através do fato de que os envolvidos no fenômeno da violência escolar são jovens em formação cultural, social e psicológica, que estão dentro de uma área de vulnerabilidade social e econômica. Enquanto acadêmicos da área de serviço social 4 pretende-se adquirir subsídios coerentes e significativos para posteriores discussões e aprofundamento sobre as questões sociais que implicam no contexto educacional, levando refletir sobre a atuação e contribuição do assistente social no contexto escolar. O universo pesquisado constitui na Escola Municipal Presidente Emílio Garrastazu Médici, na cidade de Paripiranga-BA, tendo como sujeitos os discentes e o corpo multidisciplinar de profissionais formado por professores, secretários e diretores. A pesquisa utilizou-se da busca bibliográfica e documental por meio de livros, artigos, paper, revistas e pesquisa digital que possibilitou a compreensão e embasamento da temática. Para melhor aprofundar informações na pesquisa foi realizada entrevista com doze alunos de ambos os sexos do turno vespertino, onde consiste maior concentração, sendo um representante de cada turma abrangendo assim todas as séries e idades, cinco professores de matemática, língua portuguesa e ciências, disciplinas com maior carga horária que proporciona mais dias e mais horas de contato com os alunos. Os procedimentos metodológicos utilizados nesse estudo seguem a perspectiva exploratória, norteado pelo método dialético, utilizando a abordagem qualitativa para análise dos dados, por isso não defini uma amostragem quantitativa visto que o intuito é a qualidade das informações. Para a coleta de dados um roteiro de entrevista semiestruturado proporcionando uma relação dinâmica entre pesquisador e pesquisado, sendo assim, através das técnicas de pesquisa adotadas nesse estudo foi possível compreender a realidade em questão. 2 A VIOLENCIA E SUA EXPRESSÃO NO AMBITO ESCOLAR Sabe – se que a educação, direito de todos e dever da família e do Estado, deve ser promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando o pleno desenvolvimento da pessoa, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. Sendo direitos assegurados por lei com base na Constituição de 1988, na lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, no art. 2º e no Estatuto da Criança e Adolescente – ECA, nos artigos 53 e 54. A educação é valiosa por ser a mais eficiente ferramenta para crescimento pessoal. E assume o status de direito humano, pois é parte integrante da dignidade humana e contribui para ampliá-la com conhecimento, saber e discernimento. Além 5 disso, pelo tipo de instrumento que constitui, trata-se de um direito de múltiplas faces: social, econômica e cultural. Direito social porque, no contexto da comunidade,promove o pleno desenvolvimento da personalidade humana. Direito econômico, pois favorece a autossuficiência econômica por meio do emprego ou do trabalho autônomo. E direito cultural, já que a comunidade internacional orientou a educação no sentido de construir uma cultura universal de direitos humanos. Em suma, a educação é o pré-requisito fundamental para o indivíduo atuar plenamente como ser humano na sociedade moderna.4 A Família por sua vez desempenha um papel importante na formação do indivíduo, pois permite a construção da sua essencialidade. É nela que o homem constrói suas raízes. Portanto a família é a primeira instituição social formadora da criança. Dela depende em grande parte a personalidade do adulto que a criança virá a ser. As mudanças ocorridas na família e na sociedade trouxeram novos problemas para dentro da escola, implicando assim, novas práticas e dimensões diferentes no ato de educar. 5 A escola era vista como um ambiente seguro e acolhedor onde os pais deixavam seus filhos com tranquilidade e confiança, para garantir o seu desenvolvimento no processo de ensino e aprendizagem tornando-o um cidadão de bem. Mas ao longo do tempo mudaram-se os valores, comportamentos e atitudes, o ambiente escolar que era sinônimo de segurança e tranquilidade, tornou-se um verdadeiro cenário de violência, onde os alunos sofrem agressões físicas e verbais denominadas bullying. Podendo se apresentar em diversas formas, a violência6 é conceituada como ação ou efeito de violentar, de empregar força física ou intimidação moral contra alguém ou algo, expressão de crueldade, força. Definido como termo de constrangimento físico ou moral exercido sobre alguém com a perspectiva de obrigação. 4 Richard Pierre Claude. Direito à educação e educação para os direitos humanos. Sur, Rev. int. direitos humanos. vol.2 no.2 São Paulo 2005. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1806-64452005000100003&script=sci_arttext Acesso: 15/06/2015. 5 Pedagogia ao Pé da Letra. A importância do meio familiar no processo de aprendizagem da criança. 2013. Disponível em: http://pedagogiaaopedaletra.com/a-importancia-do-meio- familiar-no-processo-de-aprendizagem-da-crianca/ Acesso: 15/06/2015 6SERASEXPERIAN. Violência. Informação do Dicionário Houaiss.Disponível em://httpwww.serasaexperian.com.br/guiacontraviolencia/violencia.htm. Acesso: 10/06/2015. http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1806-64452005000100003&script=sci_arttext http://pedagogiaaopedaletra.com/author/soraya-mm/ http://www.serasaexperian.com.br/guiacontraviolencia/violencia.htm 6 Segundo Costa (apud PAREDES et al 2006, p.11), a “(...) violência é o emprego desejado da agressividade, com fins destrutivos”. BATISTA et al (2000) distingue etimologicamente violência e agressão, pois para ele violência é a aplicação de uma força excessiva a algo ou alguém, já a agressão seria a violência dirigida contra alguém com o propósito de causar-lhe dano. Na atualidade, a estrutura familiar entrou em decadência trazendo inúmeras situações de violência ao seu cotidiano, necessitando resgatar os valores afetivos e morais. De acordo com Morais (1995), a violência é algo muito complexo, pois pode apresentar-se de várias maneiras, podendo ir das mais sutis até as mais brutais, como agressão ao patrimônio ou agressão física; já a sutil por não apresentar o mesmo impacto que a violência brutal tende a passar despercebida. Dentre as diversas definições de violência, o aspecto da força física pode ser identificado em quase todas as concepções. Por outro lado, há um aspecto relacionado à violência, mais difícil de determinar, alguns autores chamam de violência sutil e outros, desmascaradas ou invisíveis. O que nos diferencia dos animais é o raciocínio7, fora isso, reagimos a estímulo tal qual os animais, ou seja, se um ambiente prevalece rispidez, agressividade e desdém os indivíduos ali existentes vai agir da mesma forma. Na escola a agressão verbal é apontada por crianças e adolescentes como a progenitora de todos os outros tipos de violências como: ameaças, agressão física, agressão moral, descriminação. Podemos considerar questões como índole e características peculiares de cada personalidade, mas, a família não é só o berço da educação e sim fonte inesgotável de onde todo indivíduo deve buscar a primeira resposta sobre qualquer aspecto, e ela por sua vez espera-se que repasse bons exemplos de valores e princípios que possam servir de exemplo para todos que os cercam. Bettencourt (2006) menciona que em pesquisas desenvolvidas revelaram que a presença de traços de violência, de conflitos parentais e divórcio, de pobreza, de provocação e de má qualidade das relações entre pais e filhos figuram como 7 Nota positiva. Psicologia. Teorias de Jean Piaget e Lev Vygotsky. Disponível em: http://www.notapositiva.com/trab_professores/textos_apoio/psicologia/teoriaspiagetvygostsk y.htm. Acesso: 06/07/2015. http://www.notapositiva.com/trab_professores/textos_apoio/psicologia/teoriaspiagetvygostsky.htm http://www.notapositiva.com/trab_professores/textos_apoio/psicologia/teoriaspiagetvygostsky.htm 7 algumas das mais importantes variáveis situacionais que influenciam os comportamentos agressivos das crianças. Antigamente, o indivíduo era educado em casa, ou seja, recebiam unicamente dos seus genitores noções de etiqueta, como se portar a mesa, ás pessoas e como se vestir; português, pois chegavam à escola lendo fluentemente; matemática, decoravam a tabuada e dominavam muito bem as quatro operações pois, eram de extrema importância para os negócios; ciências e geografia chegavam a se confundir, na verdade era o conhecimento do mundo, qual o melhor chá para cada tipo de doença, em que solo se plantava cada cultura, fazes da lua para determinar algumas atividades e etc. Na maioria dos casos os ofícios eram passados de pais para filho e quando uma família era abastada financeiramente mandavam sus filhos para escola para se formarem advogados e professoras, ambos muito conceituados em outra época. Com as novas configurações familiares, verificadas nos últimos anos conduziram a uma alteração ao nível dos possíveis agentes de socialização e ao nível dos modelos de aprendizagem pois, pai, mãe ou responsável precisa trabalhar em tempo integral para garantir o sustento de seus filhos e restringindo cada vez mais seu tempo juntos, transferindo assim, a responsabilidades de educar unicamente à escola em que, um único professor é responsável por em média trinta crianças em um único turno. O que se configura em fracasso pois, entre todos os grupos humanos, a família desempenha um papel primordial na transmissão da cultura e educação, exercendo esta função nos processos fundamentais do desenvolvimento psíquico, na construção da estrutura comportamental do indivíduo (LACAN, 2002). Para que a escola funcione bem é necessário que haja o engajamento entre família e escola, pois não pode ser delegada a escola toda a função de educar, a família é o alicerce primordial na formação do indivíduo. A família é o espaço indispensável para garantir a sobrevivência de desenvolvimento e da proteção integral dos filhos, e demais membros, independentemente do arranjo familiar ou da forma com vem se estruturando. É a família que propicia os aportes afetivos e, sobretudo materiais, necessários ao desenvolvimento e bem-estar dos seus componentes. Ela desempenha um papel decisivo na educação formal e informal, é em seu espaço que são absorvidos seus valores éticos e humanitários e onde se aprofundam os laços de solidariedade. É também, seu interior que constrói as marcas 8 entre as gerações e são observados valores culturais (KALOUSTIAN, 1994, p. 12). De acordo com as observações, os estudos realizados e do ponto de vista cultural, a violência na escola é resultado das vivências no seio familiarou na comunidade onde vive. Neste sentido afirma-se ser a violência resultado de construções que ocorrem fora do ambiente escolar, mas que interfere negativamente ao adentrá-los. O aluno que apresenta comportamento violento se posta sempre em estado de alerta e todas as informações que recebe ou interpreta no ambiente ele reverte em algum tipo de violência, mesmo sendo fatos simples e corriqueiros como: um colega que usa óculos, outro que usa o mesmo jeans, ou que não tem o mesmo comportamento. Tudo isso é do seu interesse, menos o que o professor fala e se o mesmo não consegue chamar sua atenção de alguma forma sua aprendizagem atrofia-se à medida que esse quadro permanece estável. Tais representações da violência externa reflete em ações de violência nas instituições de ensino como: agressão verbal8 e física9, ameaças10, discriminação11, roubos12 e vandalismo13. A violência tem crescido em todos os domínios da vida social. Observa-se que ela acontece também na escola, onde alunos e professores no dia a dia vivenciam muitas situações que envolvem a violência. A violência nas escolas não é um acontecimento recente, a cada dia este impasse tem tomado novas proporções de modo que representa um problema que ocorre em todas as escolas, em todos os níveis de ensino, área geográfica ou demográfica. 8 Expressão utilizada para designar agressões morais, as quais são feitas com palavras. A agressão verbal é um tipo de agressão que também fere, porém, não fisicamente. Disponível em http://www.dicionarioinformal.com.br/agress%C3%A3o%20verbal/. 9 Agressão física é um ato em que um indivíduo prejudica ou lesa outro (s) de sua própria espécie intencionalmente. O comportamento agressivo em humanos pode ser definido em termos gerais como um comportamento social hostil com a intenção de infligir dano ou causar prejuízo a uma pessoa ou grupo. Disponível em https://pt.wikipedia.org/wiki/Agressão. 10 s.f. Palavra, ato, gesto pelos quais se exprime a vontade que se tem de fazer mal a alguém: discurso cheio de ameaças. Disponível em http://www.dicio.com.br/ameaca/. 11 s.f. Segregação; ação de segregar alguém, tratando essa pessoa de maneira diferente e parcial, por motivos de diferenças sexuais, raciais, religiosas; ato de tratar de forma injusta: discriminação racial. Disponível em http://www.dicio.com.br/discriminacao/. 12 s.m. Ato ou efeito de roubar (-se). Delito cometido por quem se apossa indevidamente de coisa móvel pertencente a outrem. Disponível em http://www.dicio.com.br/roubo/. 13 s.m. Ato de vândalo. Destruição de obras de arte, de objetos importantes, por ignorância, selvajaria ou falta de gosto. Disponível em http://www.dicio.com.br/vandalismo/. 9 A escola enquanto instituição é por excelência o local determinante para o desenvolvimento do processo de socialização e aprendizagem das nossas crianças e jovens, seu papel está em dissipar o conhecimento e formar indivíduos críticos reflexivos capazes de interagir na sociedade, dando sua contribuição social, instituindo-se como um local de aprendizagem, de transmissão de conhecimentos e de valores, bem como de exercício da ética e da cidadania. Bock, Furtado e Teixeira (1999) afirmam que a escola faz parte do processo de socialização, sendo considerada a continuidade do processo que foi iniciado pela família. Porém, em virtude do surgimento de atitudes violentas em seu cerne, essa ação peculiar, tem se tornado tarefa difícil de se realizar com sucesso e o ambiente acaba tornado hostil e pouco acolhedor. O que não se pode de forma alguma, é ignorar este impasse. É fingir que a violência escolar não existe, quando se sabe que qualquer pessoa, ao longo do seu percurso escolar, acaba por presenciar comportamentos violentos. Pelo contrário, devemos atentar para que estas situações deixem de ocorrer ou que, pelo menos, ocorram com menor frequência e gravidade. Ademais não se pode esquecer o contexto em que estes comportamentos ocorrem, um contexto de múltiplas interações entre colegas e, por isso, gerador de múltiplos conflitos, numa fase da vida em que as competências sociais para a resolução dos mesmos ainda estão sendo adquiridas. 3. O CENÁRIO DA PESQUISA: ESCOLA MUNICIPAL PRESIDENTE EMÍLIO GARRASTAZU MÉDICI, PARIPIRANGA-BA. A Escola Municipal Presidente Emílio Garrastazu Médici fundada em 1972, lotada na Rua Major Justino das Virgens, S/N na Cidade de Paripiranga – Bahia, município com mais de 27.778 habitantes14. O corpo multidisciplinar é atualmente formado por dezoito professores, uma coordenadora, uma secretária, uma diretora e vice-diretora, seu corpo discente é composto por 380 alunos das zonas rural e urbana divididos em turnos matutino e vespertino de fundamental ll atende, com faixa etária de 11 aos 18 anos de idade. No geral são alunos de família de baixa renda 15e que depende financeiramente do Bolsa Família, Programa16 de 14BRASIL.IBGE. Instituto Brasileiro de Estatistica e Geografia. Disponivel em: http://www.cidades.ibge.gov.br/painel/painel.php?lang=&codmun=292380&search=bahia%7 Cparipiranga%7Cinfograficos:-dados-gerais-do-municipio. 15São famílias com renda mensal per capita de até meio salário mínimo e as que possuam renda mensal de até três salários mínimos. Informação disponível no site http://www.cidades.ibge.gov.br/painel/painel.php?lang=&codmun=292380&search=bahia%7Cparipiranga%7Cinfograficos:-dados-gerais-do-municipio http://www.cidades.ibge.gov.br/painel/painel.php?lang=&codmun=292380&search=bahia%7Cparipiranga%7Cinfograficos:-dados-gerais-do-municipio 10 transferência de renda direta as famílias em situação de pobreza e extrema pobreza com renda percapita de R$77,00 ou até R$154,00. A temática aqui trabalhada “Violência Escolar” não tem sido assunto distante dos muros da instituição Médici que se configurou no cenário de pesquisa desse trabalho. Em entrevista a alguns componentes do corpo profissional e discente, foi possível compreender melhor essa realidade. Mesmo a escola Médici se estabelecendo aparentemente em excelentes condições físicas e pedagógicas, fato que não justifica desmotivação ou evasão das salas de aula, foram acompanhadas em paralelo pela exposição pública nas ruas e em redes sociais, fatos notórios da indisciplina juvenil que se constituíram em ameaça grave e violência precisando ser reprimidas. Segundo a direção da escola esses fatos são reincidentes com um grupo de alunos sem nenhuma estrutura familiar, que respondem processo judicial por roubo e possivelmente tem envolvimento com uso de drogas e que lamentavelmente os pais ou responsáveis de fato não possuem ou não querem nenhuma participação ou conhecimento na vida emocional e escolar dos filhos e restando apenas para a escola a iniciativa de manter o diálogo com os envolvidos sobre os fatos para tomar as providências que julgam cabíveis como: suspensão ou encaminhar para outros serviços da rede, exemplo conselho tutelar e CRAS, pois o município não dispõe de CREAS. A escola também possui um livro de ocorrência para os alunos onde ela registra fatos que envolvam violência, desrespeito ou qualquer tipo de ocorrido considerado fora dos padrões da escola, quando há no máximo três ocorrências do mesmo aluno ele passa por todo esse processo supracitado de atendimento em rede municipal encaminhado e acompanhado pela direção da escola. Inúmeros são os fatores que podem impulsionar a questão da violência no ambiente escolar. Como por exemplo: diferenças sociais, psicológicas, culturais, experiência de frustações, competições, diferenças de personalidade. Podendo ser enumerados em vários tipos, áreas e níveis. O professor de língua portuguesa (entrevistado 1) que leciona atualmente na escola afirma: http://www.mds.gov.br/falemds/perguntas-frequentes/bolsa-familia/cadastro- unico/beneficiario/cadunico-inclusao. 16BRASIL/MDS. Bolsa Família. Disponível em http://www.mds.gov.br/bolsafamiliahttp://www.mds.gov.br/falemds/perguntas-frequentes/bolsa-familia/cadastro-unico/beneficiario/cadunico-inclusao http://www.mds.gov.br/falemds/perguntas-frequentes/bolsa-familia/cadastro-unico/beneficiario/cadunico-inclusao 11 Já presenciei inúmeros acontecidos envolvendo algum tipo de violência, a maioria proveniente de gozações, ou seja, palavras grosseiras, e que a primeira reação da vítima é revidar da mesma forma sem distinção de gênero, mas, geralmente os meninos são os primeiros a ignorar o diálogo e partir para a agressão física. O professor normalmente tenta contornar com diálogo ou fazem vista grossa, para não comprometer o conteúdo das aulas, mas, sempre está atento, e se for cometido vandalismo, agressão moral ou física grave, ele imediatamente comunica a direção, pois os alunos consideram ato de covardia atitudes como essa, por isso só uma pequena minoria chega a participar a direção, dificultando assim medidas que evitem reincidências. A coordenadora da escola (entrevistado 2) também concordou com as afirmações do professor (entrevistado 1), a mesma está a quarenta e quatro horas presente na escola e muitas vezes respondendo em nome da diretora, ela ainda complementa que as agressões estão presentes, não só no sexto ano remanescentes do fundamental menor mas, em todas as salas e idades e sempre da mesma forma, agressão verbal, grosserias, ofensas evoluindo conforme o agredido reage, no entanto o envolvimento dos pais que é o primeiro suporte que a escola busca acaba se tornando um transtorno pois, muitas vezes não se mostram interessados ou desmerecem as iniciativas da escola. Percebeu-se que os entrevistados não quiseram se ir a fundo na questão para evitar possíveis transtornos emocionais para os alunos envolvidos mas, têm a convicção de que tem pela frente a grande missão de educar os pais, responsáveis e alunos simultaneamente, ou pelo menos tentar estreitar os laços que os unem o que caberia também às atribuições de um profissional de Serviço Social assim como outras citadas a cima e que a escola vem tentando sanar devido a falta de profissional dessa área com os profissionais que dispõe de boa vontade à amenizar essa de transferência de responsabilidade por parte da família para a escola e que acarretam consequências na conduta e na aprendizagem do indivíduo. Para Charlot (1997 apud ABRAMOVAY, 2002, p.69), ampliando o conceito de violência escolar classificando- se em três níveis: Violência, Incivilidades e Violência simbólica ou institucional. a. Violência: golpes, ferimentos, violência sexual, roubos, crimes, vandalismos; b. Incivilidades: humilhações, palavras grosseiras, falta de respeito; c. Violência simbólica ou institucional: compreendida como a falta de sentido de permanecer na escola por tantos anos; o ensino como um 12 desprazer, que obriga o jovem a aprender matérias e conteúdos alheios aos seus interesses; as imposições de uma sociedade que não sabe acolher os seus jovens no mercado de trabalho; a violência das relações de poder entre professores e alunos. Também o é a negação da identidade e da satisfação profissional aos professores, a obrigação de suportar o absenteísmo e a indiferença dos alunos. Geral nos diversos meios sociais de referência. As afirmações do professor (entrevistado 1) e da coordenadora (entrevistado 2), de que os alunos da escola Médici, tem o habito de utilizar palavras grosseiras e gozações para se dirigirem aos seus colegas e professores, histórico de roubos recorrentes, falta de respeito com os que convivem e vandalismo com o bem público na escola confirmou-se as alegações de Chalot a respeito da violência escolar que é atualmente um fenômeno real que já faz parte dos problemas sócio-políticos do país. Trata-se de uma questão multicausal e complexa que demanda ainda análises e estudos mais aprofundados. A miséria, o desemprego, as desigualdades sociais, a falta de oportunidades para os jovens e a presença insuficiente ou inadequada do Estado fazem aumentar as manifestações de violência no país. Entretanto, não se trata de um fenômeno circunscrito a fatores estruturais de ordem socioeconômica. Em razão disso, a violência deve ser entendida no âmbito cultural e psicossocial dos indivíduos, dos grupos e da sociedade. Enquanto Instituição, a escola Médici, sofre os reflexos dos fatores de violência externos que têm gerado conflitos, manifestados na escola dentro da sala de aula, comprometendo o aprendizado e as relações interpessoais. Segundo Sposito (1998): A violência escolar expressa aspectos epidêmicos de processos de natureza mais ampla, ainda insuficientemente conhecidos, que requer investigação. Faz-se necessário, portanto, investigar a concepção do professor, peça principal nesse cenário educacional, acerca da violência, pois muitas vezes esta pode ser percebida e compreendida como inevitável e inerente ao contexto. Se medidas preventivas para garantir a integridade física, moral e o aprendizado do indivíduo não forem adotadas imediatamente ficará cada vez mais difícil conter a onda de violência e desrespeito que se alastra e insiste em permanecer nas escolas fatores que criam um ambiente hostil e pouco atrativo para o cotidiano dos personagens envolvidos com tantas difusões de valores pouco corroborados pela sociedade atual, onde aparentemente as consequências desses fatos são atribuídas à hereditariedade de falta de afeto familiar, a cultura do castigo 13 a base de agressividade física ser comum para muitos pais, pois foi isso que eles receberam, suposta e consequentemente é o que estão dando aos seus filhos e os mesmos passando adiante para todos ao seu redor com maior intensidade e quando questionados, os valores entram em choque, o que era comum no passado e considerados métodos educacionais, agora se constitui em violência e crime. Como mencionou a coordenadora (entrevistado 2) da escola, a família é o lugar de onde deveriam sair indivíduos supostamente saudáveis emocionalmente para poder lidar com os desafios que a sociedade e a escola possa proporcionar, tais como: convivência com o outro, respeito e partilha, cidadania, compromisso e disciplina; mas assistimos à escola tentando administrar essa falta de suporte emocional e pedagógico para assessorar as atividades da escola de impor limites, respeito e valores necessários para um convívio hospitaleiro transmitindo a sensação de segurança à todos que dela fazem parte. É notório que toda criança carrega em si um histórico de tudo o que recebeu e apreendeu, mas o que ela faz de tudo isso é que faz a diferença e determina os reflexos que cairão sobre a escola e seus elementos. Crianças que não foram educadas moralmente e emocionalmente apresentam reflexos disso em ações no ambiente escolar, o que acaba provocando as mais diversas consequências, sem falar das mais graves que envolvem desajustes e problemas sociais. Se a família abrir mão de educar, a escola sofre para administrar tantas demandas, sem falar de problemas disciplinares que impossibilitam o bom andamento das atividades. É necessário que a comunidade escolar esteja preparada para lidar com esse tipo de problemática. A exemplo disso a (entrevistado 2) usou o caso de um aluno de onze anos filho de pais separados, a genitora desenvolve um quadro de transtorno mental gravíssimo, agressividade e discurso incoerente, o genitor é um homem da roça que apresenta atitudes tiranas com os filhos cabendo só a ele a responsabilidade pela educação dos mesmos, o resultado disso é o aluno retraído, indisciplinado, extremamente agressivo e de difícil socialização em tempo integral na escola. Uma Criança indisciplinada17 e violenta não decidiu ser/agir assim. Ela é o resultado de todas as ações e testemunhos recebidos no seio familiar. 17 s.f. Ausência de disciplina; sem disciplina; com desobediência; insubordinação.Comportamento que se opões aos princípios da disciplina; desordem ou bagunça. Jurídico. Ação de violar as regras ou ordens que foram determinadas pelo empregador. 14 Todas as famílias ocorrem a transmissão de padrões de uma geração para outra. As relações estabelecidas com a família são as mais importantes relações da vida e vão representar a base do comportamento futuro (WAGNER, 2005). Tempos em que a cultura do castigo a base de agressividade física ser comum para muitos pais, até hoje refletem na criação de seus filhos pois, foi isso que eles receberam e repassaram, suposta e consequentemente os mesmos estão passando adiante para todos ao seu redor com maior intensidade e quando questionados, os valores entram em choque, o que era comum no passado e considerados métodos educacionais, agora se constitui em violência e crime. No contexto escolar as situações de violência são protagonizadas em sua maioria entre os próprios alunos ou na relação aluno e professor. Os desentendimentos levam as ações de violência física e moral, geradas por circunstâncias diversas conforme percebidas na instituição escola Médici: O professor (entrevistado 1), relembrou um fato que em aluno de quinze anos foi denunciado pelos colegas por estar portando uma faca (arma branca) que segundo eles era para esfaquear um outro colega por estar envolvido emocionalmente com uma jovem que ele havia flertado primeiro, porém, o jovem desconfiado que a polícia seria acionada, pulou o moro da escola e disse que pegaria o colega fora da escola. A diretora (entrevistado 3), convocou as famílias separadamente com receio de maiores atritos, mas, há sempre um clima de desconfiança quanto a intenção do rapaz que foi rejeitado pela jovem o mesmo ainda tem o costume de denigrir a imagem do casal com linguagens chulas expostos em paredes e portas da escola. Um outo caso que chamou muita atenção foi o de duas meninas de dezesseis anos que partiram para agressão física gravíssima, em frente à escola, quando uma delas que contou com ajuda de parentes, atingiu o crânio da outra com um paralelepípedo, ocasionando traumatismo craniano e sequelas permanentes para agredida que não retornou ao convívio escolar após o acontecido. Bullyng é uma situação que se caracteriza por agressões intencionais, verbais ou físicas, feitas de maneira repetitiva, por um ou mais alunos contra um ou mais colegas, é utilizado para descrever atos de violência, sendo assim a forma mais comum entre os agressores masculinos, uma das formas de violência que mais (Etm. in + disciplina) Disponivel em: http://www.dicio.com.br/indisciplina/ Acesso: 15 de junho de 2015 http://www.dicio.com.br/indisciplina/ 15 cresce no mundo, a educadora e autora do livro Fenômeno Bullyng, Cléo Fante, afirma como Prevenir a Violência nas Escolas e Educar para a Paz (224 págs.) Segundo a especialista, o bullying pode ocorrer em qualquer contexto social, em escolas, universidades, famílias, vizinhança e locais de trabalho. O que à primeira vista, pode parecer um simples apelido inofensivo pode afetar emocional e fisicamente e ser alvo da ofensa, além de um possível isolamento ou diminuição do rendimento escolar e até mesmo inibir o desejo de alunos frequentarem a escol, as crianças e adolescentes que passam por humilhações difamatórias podem apresentar sérios problemas de saúde chegando a sofrer de algum tipo de trauma que influencie traços da personalidade. Em alguns casos o bullyng chega a afetar o estado emocional dos jovens de tal maneira que possa ocorrer soluções trágicas, como leva-los ao suicídio. Alunos que são reprimidos por colegas que acreditam em uma diferença física–obesidade, estatura, amorosa, deficiência física – e intelectual. Em muitos casos esses alunos deixam de frequentar a escola. “As consequências do bullying são terríveis para os envolvidos, mas em especial, para as vítimas” (CALHAU, 2009, p.18). As redes sociais, são ferramentas que auxiliam no cotidiano escolar de forma significativa, na realização de trabalhos e pesquisas, até mesmo se comunicarem com pessoas de outras nacionalidades, porém tem sido instrumento de violência moral no seio escolar a denominada ciberviolência. A ciberviolência11 consiste no recurso à tecnologia para ameaçar, humilhar ou intimidar alguém, seja por via de correio electrónico, salas de conversa (chats), sites de relacionamentos, Messenger ou telemóvel. Lançam-se boatos na rede, fotografias que muitas vezes são retocadas e modificadas (verdadeiros ou falsos). A rede social na Internet You Tube tem sido muito utilizada para a prática da ciberviolência, ao serem colocados vídeos com intuito de agredir. O próprio You Tube criou um canal que tem como objetivo combater a ciberviolência. Encontra-se vários vídeos onde vítimas de violência e de ameaças na escola expõem os seus casos e incentivam os mais novos a denunciarem situações semelhantes. Uma das grandes diferenças entre o bullying tradicional e o cyber-bullying é o fato de, neste último, os jovens não estarem frente a frente e, por vezes, nunca chegam a saber quem é o agressor, sendo que as ações são muitas vezes praticadas por simples entretenimento, sem que os agressores conheçam as 16 vítimas. Por outro lado, este tipo de violência ultrapassa os portões da escola para um plano virtual, onde todos têm acesso a elas. 18 O (entrevistado 4) foi um aluno, que estuda na Escola Médici, ele é exemplo de caso da ciberviolência, recebe constantemente mensagens com alto teor de vulgaridade por filho de mãe solteira, postam nos grupos fotos da mãe com rapazes em festas com situações constrangedoras, deixando-o revoltado a ponto de não querer frequentar o ambiente escolar, Vale destacar também os vídeos enviados pelo aplicativo do whatsapp com meninas estudantes da Escola Médici destacando as tops 10 mais rodadas, causando constrangimentos no ambiente escolar e na sociedade. Em alguns casos o que era apenas nas redes sócias acaba evoluindo até mesmo para agressões físicas, gerando sequelas gravíssimas e irreparáveis para o agredido em aspectos físicos, psicológicos e sociáveis, infelizmente, na maioria das vezes por motivo torpe e sem chance de defesa. Sabe-se que, a forma como os estudantes se relacionam entre si e com seus professores é determinante para o desenvolvimento do processo educativo, uma vez que, o que ocorre na infância vai refletir no decorrer de toda sua vida, e quando esse momento é marcado pelo algum tipo de violência isto se torna crucial para seu convívio em sociedade. Nesse ínterim, muito tem se falado na “cultura da paz”. Para compreender esta linha de pensamento analisa-se: A cultura da paz se constitui dos valores, atitudes e comportamentos que refletem o respeito à vida, à pessoa humana e à sua dignidade, aos direitos humanos, entendidos em seu conjunto, interdependentes e indissociáveis. Viver em uma cultura de paz significa repudiar todas as formas de violência, especialmente a cotidiana, e promover os princípios da liberdade, justiça, solidariedade e tolerância, bem como estimular e compreensão entre os povos e as pessoas (UNESCO apud MILANI, 2003, p.36). Para Milani, a violência nada mais é que o resultado da ausência de diálogos e da construção de valores morais, figuras ausentes em muitos lares cujas configurações passam longe do que se considera normal do ponto de vista social. 18 Fonte: Revista Electrónica "Audácia" Post: Fernanda Maria Simões (com adaptações). Disponível em: http://projetociberviolencia.blogspot.com.br/2010/04/ciberviolencia-o-que- e.html Acesso: 16 de junho de 2015 17 Milani ressalta ainda que seriam fundamentais para escolas e educadores voltados à construção de realidades menos violentas elementos básicos como: [...] afeto, respeito e diálogo; um ensino que incorpore a dimensão dos valores éticos e humanos;processos decisórios democráticos, com a efetiva participação dos alunos e de seus pais nos destinos da comunidade escolar; implementação de programas de capacitação continuada de professores; aproveitamento das oportunidades educativas para o aprendizado do respeito às diferenças e a resolução pacífica de conflitos; abandono de modelo vigente de competição e individualismo por outro, fundamentado na cooperação e no trabalho conjunto etc. (2003, p.39). Na atualidade, com o mercado de trabalho cada vez mais competitivo e igualitário, os lares ficam à mercê dos meios de comunicação, pois as crianças quando não estão na escola ficam em frente as TVs com infinidades de programas muitas vezes destrutivos, formando crianças agressivas, competitivas e violentas. A necessidade de se levar para escola projetos que busquem valores para despertar nos educandos uma consciência de paz diante de sua vida cotidiana. A violência no ambiente escolar é um problema complicado e sua solução requer a participação efetiva de todos os envolvidos: professores, alunos, gestores, comunidade escolar, família e sociedade, pois este vem tomando as mais diversas formas e contornos de acordo com as mudanças na composição familiar, fácil acesso ás redes sociais, sexualidade, falta de segurança e pouca tolerância no convívio em sociedade manifestado no cotidiano escolar, envolvendo professores e alunos. Segundo o artigo 18 do Estatuto da Criança de do Adolescente “é dever de todos velar pela integridade da criança do adolescente, pondo-se a salvo de qualquer tratamento violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor” (Brasil, Lei 8069/90, Art. 18). Existem diversas justificativas para a questão da violência escolar, cujas explicações vão desde os problemas de relacionados a falta de adaptação, confirmando se essa falta de adaptação sendo uma consequência do meio onde se inserem até a possibilidade de ser essa resulta da ausência de referências positivas no meio onde vivem e das pessoas com quem se relacionam. Várias escolas têm elaborado projetos para trabalhar valores, com o objetivo da diminuição da violência no cotidiano educacional, como projetos de bullying e resgate de valores, porém, grande parte das atividades é executada através da imposição de valores originados nos trabalhos orais e escritos. Sem a vivência, a 18 experimentação e interação de valores, apenas a educação pela imposição do que é certo e errado, através da autoridade do professor, não funciona para ressocializar os discentes. Nesse processo de mediação de conflitos a postura seria a de viabilizar o diálogo construtivo e a negociação de tomada de decisões, visando relações interpessoais confortáveis na convivência escolar. Assim, essa proposta apresenta- se à escola como uma alternativa democrática para prevenir situações em torno dos diversos tipos de violência, dando oportunidade aos alunos de apresentarem de forma criativa os projetos propostos pela escola e não o professor impondo a sua forma de apresentá-los. Do ponto de vista cultural a violência é fruto da hostilidade e da falta de diálogo, assim na tentativa de estreitar laços afetivos nas comunidades escolares, alguns gestores têm buscado alternativas. A Escola Médici visando amenizar essas situações lançou projetos a serem trabalhados com os seguintes temas: o bullying e o resgate de valores. O bullying foi trabalhado com todas as turmas através de produções textuais finalizando o projeto com apresentações teatrais, tendo como objetivo mostrar os alunos as situações vivenciadas por alguns deles a fim de chamar atenção para que não cometesse mais, esse projeto contou com a participação de outras unidades de ensino nas apresentações para conscientizar os discentes dos problemas enfrentados pela unidade de ensino. Já o projeto resgate de valores contou com a participação de membros religiosos com palestras, com produções de músicas, falando da importância dos valores diante da sociedade e na vida futura, foram apresentações brilhantes onde muitos alunos participaram mostrando seus talentos musicais e artísticos, contou com a participação de toda a comunidade escolar. É de extrema importância os educadores estarem atentos a possíveis formas de violência, pois a mesma interfere significativamente no cotidiano escolar. O comportamento dos alunos, assim como seu desempenho escolar são fortemente afetados pela violência familiar, podendo interferir na capacidade de concentração e de interagir com os colegas. As consequências são problemas disciplinares, piores notas, repetência, o que afetará sua visão como incapaz, a motivação para atividades e o vínculo entre ele e a escola. Como afirma Cárdia (1997), a violência doméstica e do meio ambiente, aumentam a probabilidade de fracasso escolar e de 19 delinquência: a delinquência aumenta a violência na escola e as chances de fracasso escolar e ambos reduzem o vínculo entre jovens e escola. Os jovens precisam de educadores antenados que busquem sempre atividades diversificadas para despertar o interesse nos discentes e conviverem melhor no ambiente escolar, a escola tem a função de recrutar e ressocializar esses jovens para despertar o gosto pelo saber, pois se não houver essa interatividade fica difícil executar um bom trabalho. A escola pode e deve representar um papel fundamental na tentativa de redução dessa violência, com ações preventivas que conscientizem a todos da importância do respeito, ética e sobre tudo dos valores, como também alertar aos agressores sobre as punições que esse tipo de violência traz. Buscando assim a harmonia e a garantia de um ambiente escolar seguro utilizando de métodos preventivos como: palestras, reuniões, vídeos educativos sobre o tema, atendimentos individuais enfim. É de suma importância que o corpo profissional esteja habilitado a lidar com as diversas demanda no seio escolar. Atualmente, vive-se um país com graves problemas de ordem política, econômica e social. Os educadores têm consciência que devem estar preparados para transformarem essa situação, formando cidadãos críticos, conscientes e aptos para viverem em sociedade, convertendo a decadente crise da educação no Brasil (FREIRE, 1996). Dentro do processo educativo o professor tem a função de ensinar, tornando-se um elo de ligação entre escola, família e educadores. Dessa forma os educadores têm consciência de que sua missão não se resume em ensinar, antes de tudo devem educar. O educando é, e deve ser visto como sujeito do processo educativo, aumentando a responsabilidade do professor como educador. O professor precisa acreditar em si mesmo e na importância de seu exemplo, de seu papel como adulto, guia e modelo (ALVES, 1999). Com tudo citado anteriormente percebe-se que os educadores terão grande importância na construção de um mundo melhor. O professor não é apenas transmissor de conhecimentos, atitudes e habilidades que permitirão aos alunos crescerem como pessoas, cidadãos e futuros profissionais, possibilitando-os sucesso na vida pessoal e profissional. 20 Acredita-se que se existir um bom relacionamento, entre, professores, alunos e direção apoiado na teoria das múltiplas inteligências, que foi desenvolvida pelo psicólogo norte-americano Howard Gardner, depois de muitos anos de pesquisas com a inteligência humana, o psicólogo concluiu que o cérebro do homem possui oito tipos de inteligência. Sabendo que a psicologia tem como objeto de estudo o processo de mudanças e transformações dos seres humanos, as quais ocorrem continuamente desde a concepção até a morte. O desenvolvimento humano refere-se ao crescimento mental e orgânico, caracterizando-se pelo aparecimento gradativo das estruturas mentais, algumas delas permanecendo ao longo da vida, como por exemplo a moral e a motivação. Gardner chama a atenção para o fato deque, embora as escolas declarem que preparam seus alunos pare a vida, a vida certamente não se limita apenas a raciocínios verbais e lógicos. Ele propõe que as escolas favoreçam o conhecimento de diversas disciplinas básicas; que encorajem seus alunos a utilizar esse conhecimento para resolver problemas e efetuar tarefas que estejam relacionadas com a vida na comunidade a que pertencem; e que favoreçam o desenvolvimento de combinações intelectuais individuais, a partir da avaliação regular do potencial de cada um. Segundo Piaget verifica-se que o crescimento divide-se de acordo com o aparecimento de novas qualidades do pensamento, que por sua vez interfere no desenvolvimento global como: o período sensório-motor, o pré-operatório, o das operações concretas, os das operações formais e a juventude. Na idade adulta não surge nenhuma nova estrutura mental, o indivíduo caminha então para um aumento gradual de suas fases cognitivas, em profundidade, a uma maior compreensão dos problemas e das realidades significativas que o atingem. De acordo com essa análise, percebe-se que onde há um clima de harmonia, há uma organização e disciplina, os educandos sentem a escola como um local agradável que os valoriza, os pais percebem que seus filhos estarão mais seguros no âmbito escolar e os professores mais motivados como multiplicadores de conhecimentos e valores. 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS As discussões presentes nesse artigo mostram de forma reflexiva sobre o problema da violência no âmbito escolar e como isso influência no processo de ensino e aprendizagem. As mudanças ocorridas ao decorrer dos anos tanto no seio 21 familiar como na sociedade trouxeram novos problemas para dentro da comunidade escolar. De acordo com as pesquisas realizadas, constatou-se que as famílias perderam a autonomia diante de seus filhos, não conseguindo, mas impor limites e valores sociais, tornando isso um verdadeiro caos. Delegando assim o papel para a escola que além de transmissor de conhecimentos, seja também responsável a ensinar os valores éticos e morais necessários para o desenvolvimento de uma criança. Esse tema é bastante polêmico e preocupante para os diferentes segmentos sociais. Vários são os fatores que impulsionam a violência no âmbito escolar, como: diferenças sociais, psicológicas, culturais, experiência de frustações, competições, diferenças de personalidade. Os tipos de violência mais frequentes são: agressão verbal, moral e física denominada de bullying, ameaças, descriminação, roubos e vandalismo. Percebe-se que a violência no ambiente da Escola Médici é um problema complicado e sua solução requer a participação efetiva de todos os envolvidos: professores, alunos, gestores, comunidade escolar, família e sociedade. Conclui-se que é preciso desenvolver no ambiente da unidade de ensino citada anteriormente, projetos voltados para o resgate de valores, direitos e deveres. Como também a qualificação dos profissionais envolvidos no processo de ensino aprendizagem, e tornar a escola um local atrativo e harmonioso para os discentes. 22 REFERÊNCIAS ALMEIDA, A. (2006). Para além das tendências normativas: o que aprendemos com o estudo dos maus-tratos entre pares. Psychologica, 43, 70-104. ALVES, Rubens. Entre a Ciência e sapiência: O dilema da educação. 4ªed. São Paulo: Loyola, 1999. P. 35-39. BARRETO, Vicente. Educação e Violência: reflexões preliminares. In: Violência e Educação. São Paulo. Cortez, 1992. BELLARD, Sorahya. Globo News, [S.l.]: Noticia, 2014. Disponível em: <http://g1.globo.com/globo-news/noticia/2014/08>. Acesso em: 26 mar. 2015, 20:30:30. BENETIDES, Maria Victoria. Cidadania e Justiça. In: GROSBAUM, Elena et al. (Orgs.) Violência, um retrato em branco e preto. São Paulo: FDE, 1994. p .7. (Série Ideias, 21). A violência é coisa nossa. In: SÂO PAULO (Estado). A violência no esporte. São Paulo: Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania, 1996. BETTENCOURT , B. , Talley , A. , Benjamin , A. , &Valentine , J. (2006 ) . Personalidade e comportamento agressivo em condições de provocar e neutralizar: Uma meta- analítica e avaliação. Psychological Bulletin, 132, 751-777. BRASIL.IBGE. Instituto Brasileiro de Estatistica e Geografia. Disponivel em: http://www.cidades.ibge.gov.br/painel/painel.php?lang=&codmun=292380&search=b ahia%7Cparipiranga%7Cinfograficos:-dados-gerais-do-municipio. Acesso:11/06/2015 BRASIL/MDS. Bolsa Família. Disponível em http://www.mds.gov.br/bolsafamilia BRASIL/MDS. Inclusão no Cadastro Único. Disponível em: http://www.mds.gov.br/falemds/perguntas-frequentes/bolsa-familia/cadastro- unico/beneficiario/cadunico-inclusao. Acesso:11/06/2015 BRENNAN , P. , Hall, J. , Bor , W. , Najman , J. , e Williams , G. (2003 ) . Integrando processos biológicos e sociais em relação ao início precoce e persistente da agressão em meninos e meninas. Psicologia do Desenvolvimento, 39, 2, 309-323. BOCK, A. M. B.; FURTADO, O.; TEIXEIRA, M. de L. T. Psicologias: uma introdução ao estudo de psicologia. 13 ed. São Paulo: Saraiva, 1999. CARDIA, N. A violência urbana e a escola. Rio de Janeiro: Contemporaneidade e Educação, 1997. CLAUDE, Richard Pierre. Direito à educação e educação para os direitos humanos. Sur, Rev. int. direitos humanos. vol.2 no.2 São Paulo 2005. Disponível http://www.cidades.ibge.gov.br/painel/painel.php?lang=&codmun=292380&search=bahia%7Cparipiranga%7Cinfograficos:-dados-gerais-do-municipio http://www.cidades.ibge.gov.br/painel/painel.php?lang=&codmun=292380&search=bahia%7Cparipiranga%7Cinfograficos:-dados-gerais-do-municipio http://www.mds.gov.br/bolsafamilia http://www.mds.gov.br/falemds/perguntas-frequentes/bolsa-familia/cadastro-unico/beneficiario/cadunico-inclusao http://www.mds.gov.br/falemds/perguntas-frequentes/bolsa-familia/cadastro-unico/beneficiario/cadunico-inclusao 23 em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1806- 64452005000100003&script=sci_arttext Acesso: 15/06/2015. DICIO, dicionário online de português. Ameaça, Discriminação, Indisciplina, Roubo e Vandalismo. Disponível em http://www.dicio.com.br/. Acesso em: 01/07/2015. FANTE, C. (2005). Fenômeno bullying: Como prevenir a violência nas escolas e educar para a paz. Campinas, SP: Verus. FREIRE, Ana Maria. Educação para a paz segundo Paulo Freire. Revista Educação. Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: PUC/RS, ano XXIX, n.2, p.387-393, Maio/Agosto, 2006. FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: Saberes necessários a prática educativa: 27ª ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996. p. 91-96. ______. Estatuto da Criança e do Adolescente: Lei 8069/90. Brasília: Imprensa Nacional/DOU, 1979. ______. Paulo Freire: esperança que liberta. In: STRECK, Danilo (org.) Paulo Freire: ética, utopia e educação, Petrópolis, RJ, Vozes, 1999. GARDNER. H.; Hatcb, T. Multiple intelligences go to school: educational implications of the theory of Multiple Intelligences. Educational Researcher, v.18, n.8. p.4-10, 1989. INFORMALDICIONARIO. A agressão Verbal. Disponível em: http://www.dicionarioinformal.com.br/agress%C3%A3o%20verbal/. Acesso: 01/07/2015. MILANI, FeiziMasrour. Cultura de paz X violências: papel e desafios da escola. In: MILANI, F.M; JESUS, R.D.P (orgs.) Cultura da Paz: estratégias, mapas e bússolas. Salvador: INPAZ, 2003. Pedagogia ao Pé da Letra. A importância do meio familiar no processo de aprendizagem da criança. 2013. Disponível em: http://pedagogiaaopedaletra.com/a-importancia-do-meio-familiar-no-processo-de- aprendizagem-da-crianca/ Acesso: 15/06/2015 PULASKI, M.A.S. Piaget: perfil biográfico. In, Compreendendo Piaget: uma introdução ao desenvolvimento cognitivo da criança. (?): Zahan Editora, 1980 OLWEUS, D. (2006). Bullying, Uma revisão geral. Em A. Serrano (Ed.), Assédio e violência na escola. Como detectar, prevenir e resolver o bullying. Barcelona:Editorial Ariel, S. A SERASEXPERIAN. Violência. Informação do Dicionário Houaiss. Disponível em: //httpwww.serasaexperian.com.br/guiacontraviolencia/violencia.htm. Acesso: 10/06/2015 http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1806-64452005000100003&script=sci_arttext http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1806-64452005000100003&script=sci_arttext http://www.dicionarioinformal.com.br/agress%C3%A3o%20verbal/ http://pedagogiaaopedaletra.com/author/soraya-mm/ http://www.serasaexperian.com.br/guiacontraviolencia/violencia.htm 24 SIMÕES, Fernanda Maria. (Com adaptações). Revista Electrónica "Audácia" Disponível em: http://projetociberviolencia.blogspot.com.br/2010/04/ciberviolencia-o- que-e.html Acesso: 16 de junho de 2015. TELLES, Vera. Violência e cidadania. In: SÃO PAULO (Estado). Violência no esporte. São Paulo: Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania, 1996. WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre. Agressão Física. Disponível em https://pt.wikipedia.org/wiki/Agressão. Acesso em: 01/07/2015.
Compartilhar