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ALDA SOUZA VITÓRIA
BRUNO ERICK DE ANDRADE
DANILO SILVA BARBOSA
TAUANA CAMPOS DE MELLO
O BRINCAR
Feira de Santana-BA
2021
ALDA SOUZA VITÓRIA
BRUNO ERICK DE ANDRADE
DANILO SILVA BARBOSA
TAUANA CAMPOS DE MELLO
O BRINCAR
Trabalho solicitado como critério
avaliativo pela professora Verônica Santos da Silva, que leciona o componente
curricular de Origens Evolucionárias do Comportamento, no curso de Psicologia
noturno da UNIFTC.
Feira de Santana
2021
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO....................................................................................................04
2. REFERENCIAL TEÓRICO..................................................................................05
2.1. A PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO EVOLUCIONISTA ......................05
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................09
4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.....................................................................10
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1. INTRODUÇÃO
Em diversas culturas, as brincadeiras encontram-se presentes na vida das crianças.
Elas têm um papel muito importante para a formação da personalidade das crianças.
Alguns Pais não dão a devida importância para as brincadeiras como caminho de
formação dos seus filhos e depositam credibilidade apenas em educação que
conduza seu filho/a para aspectos cognitivos, não fazendo uma relação direta entre
brincadeira e desenvolvimento humano.
Entre muitos estudos realizados, há que destacar as pesquisas feitas pela psicologia
evolucionista, que tem dado uma atenção maior para o brincar das crianças como
uma construção da sua personalidade. Estes estudos da psicologia evolucionista
buscam fazer uma relação entre o meio cultural e a filogênese no desenvolvimento e
comportamento da espécie.
Com a globalização, diversas culturas em sociedades diferentes começaram a criar
meios mais avançados de brincar como por exemplo, os jogos tecnológicos, que tem
tirado aos poucos o brincar de forma mais física das crianças permitindo assim que
brinquem de forma virtual. A educação dos jovens e a consequente redução do
tempo livre da criança vêm sendo contrabalançadas pela criação de espaços,
equipamentos e materiais destinados especificamente ao brincar, com o objetivo de
promover condições adequadas para essa atividade.
Este trabalho tem como objetivo principal avaliar o brincar como fenômeno com seus
riscos e benefícios e a diferença que existe entre as crianças humanas com os
filhotes de mamíferos. A Psicologia evolucionista norteará todos os conteúdos
teóricos deste trabalho, trazendo uma concepção de desenvolvimento praticada por
diversos estudos realizados. Também serão apresentados alguns conceitos do
brincar, além de demonstrar as diferenças entre o comportamento desenvolvido pela
espécie humana para os filhotes de mamíferos irracionais.
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2. REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 A Psicologia do Desenvolvimento Evolucionista
Segundo (Carvalho, 2003), o desenvolvimento humano entende que "é com o
outro e por meio do outro que o indivíduo se constitui”. O desenvolvimento humano
acontece através das relações sociais que o indivíduo vai tendo no decorrer da sua
vida. O ser humano é biologicamente social, segundo a psicologia evolucionista.
Para a psicologia evolucionista, a herança biológica e cultural pertencem ao mesmo
processo de desenvolvimento ( Keller H, 2002)
Para (Vieira ML, 2004), a criança quando nasce traz um pouco da história
evolucionária. Ou seja, com ela nascem vários aspectos estruturais do
desenvolvimento que foram escolhidos ao longo de muitos e muitos anos e que
foram transmitidos através de herança genética. Por meio da ação genética é que foi
desenvolvido a ontogenética do ser humano.
Segundo (Charlesworth, 1992), existem duas concepções teóricas para a psicologia
do desenvolvimento, elas fazem relação com a perspectiva evolucionista. A primeira
diz respeito às características da espécie de forma universal, e aparecem em
diferentes contextos culturais, que servem para manter, preservar e ampliar a
espécie. A segunda diz respeito às diferenças que existem entre os seres humanos,
seja no campo físico ou social. A partir dessas concepções é que devem ser
analisados os fatores ecológicos e econômicos que vão formar o ser humano. Tais
comportamentos são adaptativos ao meio em que vivem e fazem parte de uma das
fases específicas do desenvolvimento que ao longo do tempo vai sumindo. A
exemplo disso, temos o brincar que não somente acontece com crianças humanas,
mas também com os filhotes de mamíferos, que, na espécie humana, está
relacionado aos desenvolvimentos físico, social, emocional e cognitivo.
Uma das formas de estabelecer combinação é justamente a brincadeira. Ela pode
estabelecer padrões motores complexos. Quando os chimpanzés, por exemplo,
aprendem, por observação de adultos, a usar galhos e arbustos para pescar
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formigas ou cupins no interior de seus ninhos como o observado. Este aspecto é
crucial em chimpanzés e também em crianças, no sentido de tentar, através da
observação, aplicar as novas habilidades nestes contextos. O chimpanzé para
buscar novas habilidades acaba focando em atividades que não seriam necessárias
para o momento como diz, (Köhler, 1925), quando o chimpanzé Sultão aprendeu a
usar uma vara para pegar comida, tentou usá-la para cutucar outro animal, para
cavar, etc., esquecendo-se muitas vezes da fruta. Aprender habilidades é
especialmente importante quando a prática direta é pouco provável ou perigosa.
A brincadeira permitiria a aprendizagem de vários comportamentos numa situação
de baixo risco, muito antes de serem usados para seu fim específico. Elas ocorrem
numa atmosfera de familiaridade, segurança emocional e falta de tensão ou perigo.
Para (Bruner, 1976), os jogos lúdicos quando usados para fins de instrumentos,
fazem com que as crianças percam o interesse pelo objetivo de brincar. Desta forma
a brincadeira social, que acontece com animal mais jovem, pode testar limites com
relativa impunidade. Para (Smith, 1982), o comportamento agressivo e predatório do
animal acontece especialmente quando ele não é punido. Na maioria das vezes,
entre os mamíferos, os machos brincam mais que as fêmeas. Isso acontece porque
eles ficam com mais de uma fêmea no momento do acasalamento. Por isso existe
uma competição entre os machos que desenvolvem mais força física e habilidade de
combate.
Em relação aos primatas, o ser humano está em um estágio mais avançado a nível
de cognição, emoção, pensamento e habilidades. Já os primatas precisam de um
longo período de tempo para desenvolver alguma habilidade e aprendizagem. A
desaceleração do desenvolvimento humano em comparação com os primatas é
relativa ao tamanho do cérebro apresentado no nascimento e o tempo necessário
para o seu total desenvolvimento. Para (Passingham, 1982) enquanto o cérebro do
chimpanzé recém-nascido apresenta cerca de 46% do peso do cérebro adulto, o do
recém-nascido humano apresenta apenas 25%.
Na infância a criança usa as brincadeiras como forma de expressar sua linguagem,
independente de alguma patologia psíquica, geralmente todas as crianças sabem
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brincar, até porque, faz parte do próprio desenvolvimento delas. Através das
brincadeiras as crianças demonstram sua subjetividade, criam hipóteses, aprendem
a negociar, e exercitam a capacidade criativa. Vale ressaltar que por meio das
brincadeiras, são despertados alguns processos na criança como por exemplo a
curiosidade, ampliando os seus conhecimentos e as suas habilidades.
A brincadeira estimula a criança a se conhecer e auxilia a perceber quais são seus
limites e potencialidades, além de desenvolver aspectos sociais, culturais,
emocionais, físicos, cognitivos e afetivos.
Por ser uma diversão, o brincar para as crianças, ainda estimula o seu corpo dando
força, equilíbrio, elasticidade, desempenho físico, possibilitando uma melhor
desenvoltura motora, estimulando a imaginação e ainda facilitandoo convívio social.
O desenvolvimento infantil está alicerçado em aprendizagem, que relacionada ao
brincar, pode usufruir de uma fonte de energia que impulsiona a criança na direção
do seu desenvolvimento cognitivo e psicológico. Ao constatar a presença universal
do brincar na infância sugere que o comportamento deva ser importante para o
desenvolvimento das crianças. Segundo (Johnson, Christie, Yawkey, 1999), existem
diversas formas de brincar. Tais formas podem contribuir para o maior
desenvolvimento da criança.
Pesquisas realizadas por alguns teóricos mostram que os estudiosos da psicologia
evolucionista defendem o brincar porque, segundo eles, possui uma função
adaptativa pela ampla presença nas diversas espécies de mamíferos e pelos seus
padrões semelhantes de expressão. Segundo (Yamamoto & Carvalho, 2002), tal fato
sugere-se uma unidade filogenética e funcional em resposta a pressões evolutivas
semelhantes que as espécies enfrentam para a sobrevivência.
Segundo (Bichara, Lordelo, Carvalho, & Otta, 2009), os mamíferos que mais
participam das brincadeiras são aqueles que também na vida adulta terão maior
flexibilidade comportamental e habilidades específicas como caçar, lutar, subir em
árvores e viver em grupos sociais. A infância, quando protegida pelo adulto, pode
possibilitar mais habilidades através da experimentação e aprendizagem. Neste
sentido, a brincadeira seria um meio importante de treinar, na ausência de grandes
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perigos, as atividades que serão necessárias para a fase adulta. A brincadeira tem
um papel fundamental no desenvolvimento das espécies, pois é através dela que se
desenvolve um amadurecimento de determinadas estruturas e funções do
organismo. As demandas do passado evolutivo tornaram a espécie humana a mais
lúdica dentre os primatas
A brincadeira para (Pellegrini, Dupuis e Smith, 2007), representa durante o período
de imaturidade humana um comportamento em níveis ontogenético e filogenético.
Para os filogenéticos a espécie dos Homo Sapiens é considerada como uma
espécie neotênica. Isso porque os bebês humanos nascem de forma relativamente
precoce e os indivíduos adultos preservam características físicas semelhantes aos
indivíduos jovens. Ao contrário dos primatas, a espécie humana tem uma infância
bastante longa em relação às demais espécies. Isso possibilita um tempo maior de
experimentação através das brincadeiras. A criança nasce com poucas habilidades
completamente desenvolvidas. Com o passar dos tempos, por ter um cérebro maior
que os outros primatas, elas desenvolvem habilidades e exploram recursos do
ambiente e aprendem os meios necessários para a sua sobrevivência.
Os indivíduos que tiveram espaço na infância para brincar, conseguem chegar na
fase adulta com mais habilidades que ajudarão a se livrar de grandes perigos e a
uma adaptação evolutiva. Indivíduos que conseguem se adaptar ao ambiente,
tendem a gerar mais descendentes que herdam tais capacidades, além da
permanência da sobrevivência da espécie.
No período juvenil ocorrem diversas formas de brincadeiras, ambas são frutos de
comportamento selecionado não para a sobrevivência na cultura moderna, mas pelo
seu valor adaptativo no ambiente evolucionário. Segundo (Bjorklund, 1997), os
nossos ancestrais possuem características adaptativas que para o ser humano
contemporâneo não poderiam ser aplicadas, mas poderiam permanecer presente na
memória desde que não fossem prejudiciais a ponto de extinguir a espécie ou
causar um impacto negativo no processo de reprodução. As considerações a
respeito do brincar na infância tem fatores positivos para a espécie atual.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
É possível perceber, a partir do enfoque evolucionista, que a brincadeira possibilita o
desenvolvimento de habilidades, sendo o principal espaço para tal na infância. Isso
possibilita predizer as consequências positivas também para o desenvolvimento
adulto.
Entretanto, vale a pena considerar que as descontinuidades no desenvolvimento
sugerem que a brincadeira em si pode não ser determinante para o desenvolvimento
de todas as habilidades importantes para a vida adulta do sujeito. De forma que
alguns indivíduos desenvolvem habilidades em áreas específicas, contribuindo
assim seu comportamento.
Fica evidente a necessidade de mais estudos empíricos, que possam revelar os
contornos que o brincar assume em nossa sociedade, principalmente os que
busquem a observação de brincadeiras e interações espontâneas, pois só assim
poderemos conhecer melhor os limites e possibilidades de crianças em relação às
formas e conteúdos.
Ressalta-se que ao estudar a respeito da psicologia evolucionária da espécie
humana quanto ao seu desenvolvimento ontogenético, ela faz uso de estudos da
etiologia. Isso porque existe uma continuidade filogenética entre o ser humano e
outros animais, buscando ter uma visão mais abrangente da nossa espécie e ter
uma melhor compreensão do que é ser humano.
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O brincar, é um tema de pesquisa importante no que diz respeito ao conteúdo
relacionado ao desenvolvimento e a interpretação das relações sociais. Importante
enfatizar a importância do referencial da Psicologia Evolucionária, como quadro
teórico profícuo para estudos sobre o desenvolvimento humano nos contextos
educativos, pois o entendimento da atividade infantil como social e histórica pode
contribuir para o entendimento do papel da educação no desenvolvimento da
personalidade da criança.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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