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História das Religiões, Religiões Africanas e Orientais 2 (1)

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História das Religiões: 
Religiões Africanas 
e Orientais
Material Teórico
Responsável pelo Conteúdo:
Prof. Me. Rosenilton Silva de Oliveira
Revisão Textual:
Prof.ª Dr.ª Sílvia Albert
“Os Africanos no Novo Mundo”: Religião e Diáspora
 
• Introdução;
• A Diáspora dos Africanos para as Américas;
• Configuração das Religiões Afro-Americanas: Raízes Banto e Sudanesa;
• Elementos Estruturais das Religiões Afro-Americanas;
• Sacerdócio;
• Alimentação Ritual;
• Objetos Sagrados;
• Entidades Tutelares;
• Presença Africana no Haiti;
• Religiões de Matrizes Africanas no Haiti: O Caso do Vodu;
• Presença Africana em Cuba;
• Religiões de Matrizes Africanas em Cuba: O Caso da Santeria;
• Presença Africana no Brasil;
• Religiões de Matrizes Africanas no Brasil: Aspectos Gerais;
• Considerações Finais.
 · Compreender o processo de diáspora da população africana e a 
configuração de novas religiosidades no continente Americano.
OBJETIVO DE APRENDIZADO
“Os Africanos no Novo Mundo”: 
Religião e Diáspora
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem 
aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua 
formação acadêmica e atuação profissional, siga 
algumas recomendações básicas: 
Assim:
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte 
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e 
horário fixos como seu “momento do estudo”;
Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma 
alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo;
No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos 
e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você 
também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão 
sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados;
Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus-
são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o 
contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e 
de aprendizagem.
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte 
Mantenha o foco! 
Evite se distrair com 
as redes sociais.
Mantenha o foco! 
Evite se distrair com 
as redes sociais.
Determine um 
horário fixo 
para estudar.
Aproveite as 
indicações 
de Material 
Complementar.
Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma 
Não se esqueça 
de se alimentar 
e de se manter 
hidratado.
Aproveite as 
Conserve seu 
material e local de 
estudos sempre 
organizados.
Procure manter 
contato com seus 
colegas e tutores 
para trocar ideias! 
Isso amplia a 
aprendizagem.
Seja original! 
Nunca plagie 
trabalhos.
UNIDADE “Os Africanos no Novo Mundo”: Religião e Diáspora
Introdução
Nessa Unidade estudaremos o processo de configuração das religiões de ma-
trizes africanas no continente americano. Especificamente, o objetivo principal é 
compreender o processo de diáspora da população africana e a configuração de 
novas religiosidades nas Américas.
Para tanto, faremos uma viagem pelo oceano Atlântico, acompanhando a rota 
dos navios que transportaram, à força, homens e mulheres para que atuassem como 
mão de obra escrava nas colônias inglesas, francesas, espanholas e portuguesa.
Não é possível falar sobre as religiões afro-americanas, ou sobre a própria 
configuração dos países americanos, sem analisar, mesmo que rapidamente, o 
processo de escravidão. Processo esse que deixou marcas profundas nas relações 
sociais, na cultura e na identidade dos países em que foi implementado.
Você já ouviu falar ou conhece alguma religião afro-americana como o Vodu haitiano, a 
Santeria cubana ou o Candomblé e a Umbanda brasileira? Já reparou que muitas pessoas 
têm medo, repulsa ou uma atitude negativa diante dessas religiões e seus ritos, associando-
os ao mal? Por que será que isso acontece? Isso não seria um tipo de intolerância ou 
preconceito religioso?
Ex
pl
or
Dada a amplitude do tema e o escopo limitado dessa unidade, dividimos o conteúdo 
em três partes, a fim de que possamos ter uma análise geral e crítica desse universo. 
Na primeira delas, trataremos do processo de imigração forçada dos africanos, 
procurando compreender o modo pelo qual as populações foram transplantas para 
as Américas e o lugar que historicamente ocuparam nas sociedades coloniais, o que 
nos permite entender as condições objetivas que impactaram no desenvolvimento 
de suas religiosidades. Nas segunda e terceira partes, observaremos algumas 
configurações religiosas de origem afro, com o objetivo de compreender alguns 
modelos rituais e suas relações com os contextos ao quais estão inseridos. Para 
isso, elegemos os países: Cuba, Haiti e Brasil.
Iniciemos nossa jornada, portanto, seguindo os africanos no “Novo Mundo”, a 
fim de observar de perto e de dentro a relação entre religião e diáspora negra.
A produção do conhecimento antropológico pode ser descrita como um método que procura 
analisar os fenômenos de perto e de dentro, com o objetivo de descrever e interpretar os 
fenômenos observados levando em consideração a perspectiva dos sujeitos pesquisados. 
Para saber mais sobre essa forma de produzir conhecimento, acesse: MAGNANI, José 
Guilherme Cantor. De perto e de dentro: notas para uma etnografia urbana. Revista Brasileira 
de Ciências Sociais. 2002, vol.17, n.49, pp.11-29. ISSN 1806-9053. https://goo.gl/ctCZYn
Ex
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A Diáspora dos Africanos para as Américas
Sabemos que a escravidão é um fenômeno que atingiu e, infelizmente ainda 
atinge, a maioria das sociedades humanas. Essa prática foi adotada por vários 
povos em épocas e contextos distintos, seguindo orientações políticas, religiosas 
e culturais. Nesse sentido, a situação e o status social dos escravizados varia enor-
memente de acordo com o local e o tempo histórico em que eles se encontravam.
De maneira geral, podemos indicar que uma pessoa se tornava escrava basicamen-
te por dois motivos: dívida ou guerra. 
A servidão por dívida era adotada até que o sujeito, por meio dos serviços 
prestados, pudesse honrar seus compromissos com o credor. Geralmente, junto 
com o chefe de família também eram escravizados sua esposa e filhos. Nesse tipo 
de prática, o que se destaca é o fato de que as pessoas perdem os seus direitos 
civis e/ou políticos, mas ainda conservam a sua dignidade enquanto pessoas. Há 
obrigações mútuas entre senhor e escravo que organizam a relação e estabelecem, 
inclusive, os modos pelos quais a servidão pode ser rompida.
Importante!
Atualmente a servidão por dívida é considerada uma forma de escravidão moderna 
observada em muitos lugares no mundo, inclusive no Brasil. Para saber mais veja: 
SANTOS, Ronaldo Lima dos. A escravidão por dívidas nas relações de trabalho no Brasil 
contemporâneo. Revista do Tribunal Regional do Trabalho 15ª Região. Campinas, 2004. 
n. 24, p. 142.
Você Sabia?
Não são raros os casos em que vemos personagens famosos da história na 
condição de escravizados por algum período. O grande filósofo grego Platão, 
por exemplo, foi vendido como escravo durante um tempo. Entretanto, apesar 
da condição subalterna, na maioria das vezes, a liberdade estava prevista nesse 
sistema: uma vez que a dívida fosse sanada ou o senhor quebrasse uma das regras 
previstas no contrato (não escrito) que regia as relações entre proprietário e escravo, 
este último poderia buscar sua emancipação. Nesse sistema, a escravidão tinha por 
objetivo principal regular as relações sociais, do ponto de vista econômico e político, 
garantindo que as pessoas pudessem honrar os seus compromissos financeiros.
Do ponto de vista religioso, podemos observar nas narrativas das principais 
religiões monoteístas (judaísmo, islamismo e cristianismo) justificativas semelhantes 
para a existência de escravos. O livro bíblico do Gêneses,nos capítulos 14 e 16, 
por exemplo, narra um conjunto de situações em que é possível constatar o fato 
de que a escravidão era um fato corriqueiro na época. O próprio patriarca Abraão 
possuía escravos. 
9
UNIDADE “Os Africanos no Novo Mundo”: Religião e Diáspora
É o reconhecimento público, tanto por parte dos envolvidos (credor e devedor) 
quanto da sociedade, da existência de uma dívida moral e financeira, que torna 
esse tipo de servidão legítima. O credor reclama o pagamento de uma dívida e o 
devedor, sem possuir meios suficientes para quitá-la, oferece sua mão de obra e de 
sua família.
Como dissemos acima, embora esteja sujeito a essa situação degradante, o 
escravo ainda participa da vida social da comunidade, ocupando um lugar apartado, 
mas não possui sua humanidade questionada. Ainda tendo por base o contexto 
religioso judaico-cristão, notamos que os filhos nascidos das relações entre senhores 
e escravos eram considerados como legítimos e não estavam sujeitos à servidão. 
Novamente o exemplo de Abraão é paradigmático: ele tinha dois filhos, um com 
sua esposa Sara (chamado Isaac) e outro com a escrava Agar (chamado Ismael), 
mas ambos foram considerados como legítimos e herdeiros da promessa divina de 
formar povos numerosos.
“Sarai [Sara], mulher de Abrão, não lhe tinha dado filho; mas, possuindo 
uma escrava egípcia, chamada Agar, disse a Abrão: “Eis que o Senhor 
me fez estéril; rogo-te que tomes a minha escrava, para ver se, ao menos 
por ela, eu posso ter filhos” Abrão aceitou a proposta de Sarai. [...] Este 
aproximou-se de Agar e ela concebeu. Agar deu à luz um filho Abrão, o 
qual lhe pôs o nome de Ismael. [...]. Deus disse a Abrão: atende Sara em 
tudo o que ela disser, porque de Isaac sairá a descendência que há de ter 
o teu nome. Mas também do filho da escrava farei um grande povo, por 
teu sangue (Gêneses, 16,2-3; 21,12).
Nos estados modernos, isto é, a partir do século XVIII, esse tipo de escravidão 
caiu em desuso. As dívidas passaram a ser cobradas de outra forma, e a possibilidade 
de um cidadão ou os membros de sua família serem escravizados em função de 
uma dívida praticamente desapareceram. Outras formas de coerção social foram 
empregadas: o sequestro de bens e a prisão do devedor, o que já estava também 
no contexto antigo e medieval das sociedades. Nos dias atuais ainda encontramos, 
entretanto, casos de servidão por dívida, conforme dissemos acima.
Outra forma de justificar a escravidão era por meio da guerra. Muito utilizado, 
esse sistema previa que a sociedade vencida, tornava-se propriedade do grupo 
vencedor. Portanto, além de perder os seus bens, perdiam a autonomia sobre 
si. Isso não implicava deixarem de ser pessoas, mas perdiam a capacidade de se 
autodeterminar, isto é, de decidir o destino de suas vidas. 
As relações entre senhor e escravos eram complexas e cada sociedade elaborava 
as formas de coerção e convivência entre essas duas classes de sujeitos. Se olharmos 
ainda para o universo judaico-cristão, vemos inúmeros exemplos: os hebreus não só 
foram escravizados por várias nações, como também escravizaram alguns de seus 
vizinhos. Entre os islâmicos, isso também se deu no processo de conquistas de outros 
povos. Nas sociedades africanas essa prática também era conhecida. Aí temos, por 
exemplo, a dominação dos iorubas sobre os fons (na região da atual Nigéria).
10
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O fato é que, diferente da servidão por dívida, a escravidão por guerra gerava 
muito mais conflitos. As rebeliões eram frequentes e ameaçavam constantemente 
o sistema, de tal forma que poderia até inverter a situação. 
Somente na modernidade é que os prisioneiros de guerra passaram a não mais 
ser considerados escravos, mesmo quando seus territórios eram anexados pela 
nação vencedora e seus cidadãos perdiam a posse de seus bens, devendo sujeitar-se 
às normas impostas pelos conquistadores. 
Veja o artigo da historiadora Érica Turci sobre os vários processos de escravidão: História da 
escravidão: exploração do trabalho escravo na África in https://goo.gl/zhsQjSEx
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E a religião, como participava desse processo?
Conforme já assinalamos anteriormente, as narrativas religiosas tinham uma im-
portância muito grande na justificativa da escravidão. Considerando que os deuses 
eram sobretudos étnicos, isto é, pertenciam a um grupo específico, as disputas en-
tre os povos eram também uma disputa entre os deuses. Os exemplos se multipli-
cam: na guerra entre os atenienses e os troianos, como se vê no poema Odisseia, 
narrado por Homero, temos uma oposição entre os deuses que coloca os homens 
em disputa. O povo vitorioso é aquele cujo deus consegue subjugar o outro.
No caso judaico, vemos no Antigo Testamento a disputa entre os israelitas e 
os outros povos tendo como base a disputa entre os deuses. Para que os israelitas 
pudessem deixar o Egito, foi necessária a intervenção divina, como se lê no livro 
bíblico do Êxodos. Do mesmo modo, a conquista da Terra Prometida, só foi pos-
sível porque deus guerreou junto com seu povo contra os seus inimigos. Vejamos 
um trecho exemplar:
Amalec veio atacar Israel em Rafidim. Moisés disse a Josué: “Escolhe-nos 
homens e vai combater Amalec. Amanhã estarei no alto da colina com a 
vara de Deus na mão.” Josué obedeceu a Moisés e foi combater Amalec, 
enquanto Moisés, Aarão e Hur subiam ao alto da colina. E, quando 
Moisés tinha a mão levantada, Israel vencia, mas logo que a abaixava, 
Amalec triunfava. Mas como se fatigassem os braços de Moisés, puseram-
lhe uma pedra por baixo e ele assentou-se nela, enquanto Aarão e Hur lhe 
sustentavam as mãos de cada lado: suas mãos puderam assim conservar-
se levantadas até o pôr do sol, e Josué derrotou Amalec e seu povo ao fio 
da espada. [...] Moisés construiu um altar que chamou de Javé-Nessi. “Já 
que a mão, disse ele, foi levantada contra o trono do Senhor, o Senhor 
está em guerra perpétua contra Amalec.” (Êxodos, 16,9-16).
No contexto africano, vemos situações semelhantes. As cantigas e orações aos 
orixás e vodus (do complexo sudanês) e inquices (complexo banto) revela o caráter 
guerreiro entre os deuses. São eles que permitem a unidade do grupo e garantem 
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UNIDADE “Os Africanos no Novo Mundo”: Religião e Diáspora
a vitória nas batalhas. Nesse sentido, a intervenção dos sacerdotes na organização 
dos ritos e a participação dos fiéis, no cumprimento dos interditos sagrados, são 
essenciais para garantir o êxito nas empreitadas.
Orixás como Ogum, Xangô, Obá, Iansã e Oxossi, invocados constantemente 
entre os iorubas, nas disputas com outros povos, revela o caráter protetor desses 
deuses. Embora, atualmente essas divindades sejam cultuadas simultaneamente nos 
terreiros de Candomblé e Umbanda (no caso brasileiro) ou na Santería (em Cuba), 
em seus contextos originários africanos, havia rivalidades entre eles, porque havia 
rivalidades entre os povos. O reino de Oyó, comandado por Xangô, dominou a 
região do rio Oxum, cuja divindade responsável possuía o mesmo nome; assim 
como as relações entre o reino de Ketu (cuja divindade protetora é Oxossi) e o reino 
de Oyó foram controversas. Não são raros os casos em que a mitologia religiosa é 
acionada para resolver ou explicar os conflitos entre as sociedades terrestres. Nesse 
sentido, Anderson Ribeiro Oliva (2005) reflete sobre a configuração dos iorubas 
enquanto um grupo étnico coeso:
A tentativa de diversas cidades iorubas de associar suas origens dinásticas 
ao ancestral criador da terra e de Ifé fez com que a mitologia mantivesse 
uma função marcante, que vai além da simples composição de aspectos 
do imaginário e da cultura religiosa. Percebe-se da mesma forma que essa 
filiação, presente não só nos mitos como também nos relatos genealógicos, 
foi também um elemento legitimador de uma realeza com atributos 
divinos e das influências políticas externas às cidades. Nesse caso, uma 
leitura histórica do mito de Odudua revela uma possível representação 
do movimento de expansão da cidade de Ifé sobre outras cidadesque 
também falavam iorubá. (OLIVA, 2005, p. 172)
As religiões de matrizes africanas possuem um conjunto de narrativas sagradas, os 
mitos, cujos significados são estabelecidos a partir de seus contextos de enunciação 
e na relação entre o fiel e o sacerdote. O sociólogo Reginaldo Prandi realizou a 
compilação de várias dessas histórias no livro Mitologia dos Orixás, publicada pela 
Companhia das Letras, em 2001
Percebemos, portanto, que as organizações sociais não podem ser compreendidas 
fora dos valores religiosos que as subjazem e, nesse sentido, a escravidão também 
deve ser entendida levando-se em consideração seu aspecto religioso.
No caso da escravidão praticada a partir do século XVI, incialmente pelos árabes 
e, posteriormente, pelos europeus, utilizou-se de justificativas religiosas no seu 
processo de estabelecimento.
Se no contexto da servidão por dívida e por guerra os escravizados conservavam 
sua humanidade, no caso da escravidão moderna isso não era possível. Os escravos 
eram tomados como coisa, isto é, bens que eram dispostos pelos seus senhores da 
maneira mais violenta e degradante possível.
12
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Os estudos sobre a escravidão moderna ainda não dão conta da real dimensão 
dessa instituição, que perdurou por quase quatro séculos e marcou a história da hu-
manidade, deixando sequelas nos continentes africano e americano, cujas consequ-
ências negativas observamos até hoje, dentre elas o racismo e a intolerância religiosa.
Importante!
No Brasil, as religiões de matrizes africanas são as que mais sofrem ataques de intolerância 
religiosa. O antropólogo Vagner Gonçalves da Silva organizou uma coletânea reunindo ju-
ristas, antropólogos e sociólogos para analisar esse fenômeno crescente no Brasil. O resul-
tado pode ser conferido no livro Intolerância Religiosa - Impactos do Neopentecostalismo 
sobre o Campo Religioso Afro-Brasileiro. São Paulo: Edusp, 2007.
Importante!
Muitos estudiosos defendem que o tráfico de escravizados entre a África e a 
América estabeleceu uma nova ordem econômica mundial, sendo o grande respon-
sável pelo desenvolvimento social, político e econômico das nações colonizadoras e 
o subdesenvolvimento dos povos colonizados. Embora observemos algumas exce-
ções, do ponto de vista do desenvolvimento econômico, em países como Estados 
Unidos, Canadá e Austrália, percebemos que a situação da população negra (que 
foi escravizada) nesse contexto é socialmente inferior aos brancos (colonizadores).
O processo de sequestro e exportação de africanos para a Europa e Ásia tem 
início na virada do século XVI. A partir da primeira metade de 1500, a América 
passa a ser o maior destino dos escravizados. Estima-se que foram importados 
aproximadamente 10 milhões de pessoas. Na tabela a seguir, compilada pelo his-
toriador Luiz Felipe Alencastro (2000), podemos perceber como se deu esse fluxo:
Tabela 1 – Estimativa do número de africanos desembarcados na América (*em milhares de indivíduos)
Estimativa do número de africanos desembarcados em cada região
Período América Espanhola Brasil
Antilhas 
Britânicas
Antilhas 
Francesas
Antilhas 
Holandesas
América 
Britânica e EUA
1501-1550 12,5 - - - - -
1551-1600 62,5 50,0 - - - -
1601-1650 127,5 200,0 20,7 2,5 - -
1651-1700 165,0 360,0 243,0 153,3 40,0 -
1701-1740 180,8 605,1 358.8 357,2 200,0 70,2
1741-1800 331,9 1.095,2 897,2 1.074,0 197,6 321,0
1801-1830 367,0 1.000,4 105,8 93,7 0,1 168,3
1831-1850 261,6 712,7 10,2 0,6 0 0
1851-1870 153,6 6,4 0 18,4 0 0,3
Total Geral 1.662,4 4.029,8 1.635,7 1.699,7 437,7 559,8
Fonte: ALENCASTRO, Luiz Felipe. O trato dos viventes: formação do Brasil no Atlântico Sul. São Paulo: Cia das Letras, 2000.
13
UNIDADE “Os Africanos no Novo Mundo”: Religião e Diáspora
Vindos de várias regiões da África, os povos capturados eram exportados a 
partir de alguns portos localizados na costa africana e encaminhados para o Brasil, 
Antilhas, Caribe, Estados Unidos e Europa. Esses portos localizavam-se na região 
oeste, no atual Senegal e na chamada “Costa dos Escravos”; mais ao sul, na região 
da atual Angola e ao leste, no atual Moçambique.
Principais rotas do tráfico de africanos durante o século XVI-XIX: https://goo.gl/VDGKHV
Ex
pl
or
Não houve região das américas em que a mão de obra de origem africana não 
foi utilizada. De norte a sul do continente, os africanos e seus descendentes foram 
forçados a trabalhar nas mais diversas áreas: da agricultura à pecuária, do trabalho 
doméstico ao comércio, na construção civil e nas artes. Portanto, pode-se ver 
a influência africana presente em todos os aspectos materiais, sociais e culturais 
americanos. Apesar disso, o lugar social ocupado por essas populações foi, por 
muitos anos, negada.
Negou-se aos africanos a liberdade, a cidadania (e até mesmo o status de 
pessoa) e, paradoxalmente, atribuíram-lhes a incapacidade em produzir e se 
expressar por meio das artes e, sobretudo, da religião. Paradoxalmente porque, 
embora esses homens e mulheres fossem considerados incapazes para a realização 
de determinadas atividades, eram exatamente eles quem as realizava. Todavia, em 
meio a esse escandaloso processo de dominação, é possível localizar os inúmeros 
indícios de resistências. Das rebeliões no campo e na cidade a organizações dos 
quilombos, observam-se processos de insubordinação e luta pela liberdade. Luta 
que permanece até hoje, para que os negros sejam incluídos na sociedade e tenham 
seus valores culturais, sociais e religiosos respeitados.
Nos Estados Unidos, a luta pelos direitos civis empreendidos pela população afro-americana 
revela o quanto as consequências da escravidão impactaram as relações sociais naquele país. 
No caso brasileiro, o movimento negro tem insistido na adoção de políticas públicas voltada 
para a população negra. Sobre esse tema, vale a pena ver o documentário Eu não sou seu 
Negro de Raoul Peck (I am not your Negro, EUA, Imovision, 2017). A entrevista com o an-
tropólogo Kabenguele Munanga ajuda a compreender o contexto brasileiro. Fonte: MUNANGA, 
Kabenguele. Diversidade, etnicidade, identidade e cidadania. Entrevista à Ação Educativa.
Ex
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or
Uma vez que compreendemos o modo pelo qual a população africana se fez 
presente no continente americano, podemos olhar mais de perto quais matrizes 
religiosas vieram com eles, possibilitando o surgimento de um conjunto de religiões 
as quais denominamos de afro-americanas, de modo geral, e afro-haitianas, afro-
cubanas e afro-brasileiras, para aquelas desenvolvidas no Haiti, em Cuba e no 
Brasil, respectivamente.
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15
Confi guração das Religiões Afro-Americanas: 
Raízes Banto e Sudanesa
Embora as expressões religiosas africanas sejam inúmeras, podemos destacar al-
guns aspectos estruturais que nos permite organizá-las de modo didático. Assim, 
como podemos agrupar sobre o termo “cristianismo” as expressões católicas e pro-
testantes (sem ignorar sua diversidade interna), podemos também classificar as reli-
giões tradicionais africanas a partir de grandes eixos, a partir dos grupos originários.
Esse complexo religioso é transportado para a América junto com as pessoas, 
entretanto, uma vez no continente americano, esses sujeitos não encontram as 
condições sociais e culturais necessárias para reproduzi-las tal como era feito na 
África. Dito de outro modo, ao contrário dos portugueses, espanhóis, franceses, 
ingleses e holandeses que transportaram para as colônias suas estruturas sociais 
(língua, organização familiar, política, economia, religião etc.) e ali as reproduziram, 
aos africanos foi negada essa oportunidade. Separados de seus grupos de origem 
e depois dispersos pelo continente, as estruturas sociais africanas precisaram ser 
reconstruídas e, nesse processo, elas foram modificas, fundindo-se umas nas outras 
a partir de termos estruturais intercambiáveis.
Importante!
Do ponto de vista antropológico sabemos que as culturas se modifi cam na prática, sem 
que isso signifi que um processo de perda da identidade do grupo, “aculturação”ou 
assimilação. Todos os grupos estão, internamente, se transformando e o contato com 
outras culturas acelera esse processo. No caso tanto dos africanos no “novo mundo” 
quanto dos indígenas e suas relações com os europeus, percebemos mais claramente 
esse processo de modifi cação. O trabalho de Marshall Sahlins nos ajuda entender melhor 
esse processo: acesse: SAHLINS, Marshall. O pessimismo sentimental e a experiência 
etnográfi ca: porque a cultura não é um objeto em vias de via de extinção. Mana. v 3, n. 1, 
abril, 1997. Disponível em: https://goo.gl/UnV8WM
Importante!
Assim, no universo religioso, percebemos a configuração de um conjunto de 
religiões de origem africana que adota elementos tanto do catolicismo quanto 
das tradições e da religiosidade indígena, dependendo do contexto em que estão 
inseridas. Isso não significa que os valores tenham se perdido, mas sim, que novas 
e complexas relações religiosas foram organizadas (em menor grau, o mesmo se 
passou com o catolicismo desenvolvido nas colônias americanas).
As religiões afro-americanas se configuraram a partir da matriz africana, 
assumindo elementos dos outros grupos com os quais tiverem relação (índios e 
europeus). Entretanto, convém destacar que esse diálogo ocorreu, primeiramente, 
entre as próprias tradições religiosas africanas.
15
UNIDADE “Os Africanos no Novo Mundo”: Religião e Diáspora
Na configuração da religiosidade afro-americana, três países se destacam: Haiti, 
Cuba e Brasil. Para além dos aspectos particulares de cada um deles e o fato de 
terem sido colonizados pela França, Espanha e Portugal, respectivamente, eles têm 
em comum o fato de que a religião dos colonizadores era o catolicismo.
Conforme demostrou Ivone Maggie (1992)] um dos aspectos que permitiu o 
desenvolvimento das religiões africanas nas américas, está diretamente relacionado 
à religião do colonizador. Ao contrário do que aconteceu nas colônias dominadas 
pelas potências protestantes como Holanda e Inglaterra, os aspectos rituais e 
a teologia católica (repleta de rituais de bênçãos, promessas, cortejos, objetos 
sagrados e intercessores) permitiram uma aproximação estrutural com as religiões 
tradicionais africanas, as quais também possuíam esses elementos, embora com 
outros significados.
O fato de que podemos observar continuidades estruturais entre o catolicismo 
e as religiões tradicionais africanas, não significa que os africanos eram incapazes 
de compreender as diferenças teológico-rituais e tomavam as entidades católicas 
como versões dos deuses africanos; pelo contrário, eles tinham conhecimento 
das diferenças, mas era nas fissuras da cosmologia católica que o universo afro-
religioso se manifestava. Esse tipo de estratégia, permitiu a sobrevivência desses 
cultos apesar das perseguições e repressões.
Desse modo, a configuração das religiões afro-haitianas, afro-cubanas e afro-
brasileiras pode ser explicada a partir de um processo de longa duração em que 
sujeitos foram colocados de modo forçado em contato com outros contextos 
sociais, culturais e religiosos a tal ponto que seus modos de ser, pensar e expressar 
sofreram influências.
Vodu, Santería ou Regla de Ocha, Palo Monte, Candomblé, Umbanda, Batuque, 
Xambá, Tambor de Mina e etc. são religiões afro-americanas, sínteses desse 
complexo processo social que colocou em diálogo sujeitos e culturas, em situações 
adversas e violentas para um grupo, o dos africanos, que resistiu, e resiste até 
hoje, bravamente, para resguardar seus valores e expressões, fazendo emergir do 
cativeiro a beleza e riqueza que trouxe de África.
Estamos acostumados a ouvir na vida cotidiana que as religiões de matrizes 
africanas são “sincréticas”, isto é, possuem elementos de outras religiosidades. 
Fato é que todas as religiões, em alguma medida, se formaram a partir do diálogo 
com as várias crenças dos povos que estavam em seu entorno. Num processo de 
longa duração, esses empréstimos rituais são adicionados de tal modo na estrutura 
religiosa que não é mais possível separá-las ou identificá-las. Sérgio Ferretti, 
partindo da análise do Tambor de Mina (religião muito difundida no Maranhão), 
demonstra no Repensando o sincretismo (2013) como esse processo ocorre de 
modo distinto.
Vejamos mais de perto algumas dessas configurações religiosas.
16
17
Elementos Estruturais das
Religiões Afro-Americanas
Há uma diversidade ritual e teológica no interior das religiões afro-haitianas, 
que se expressa no modo pelo qual as liturgias são realizadas. Isso significa que as 
cores, cânticos, danças rituais, orações etc. variam de acordo com as várias verten-
tes da religião e de seus sacerdotes. Entretanto, apesar dessa variedade, podemos 
localizar certos elementos comuns a cada uma dessas tradições, que nos permite 
falar em termos de uma estrutura da religião.
Para Lévi-Strauss “ quando falamos de estrutura social, consideramos, sobretudo, os as-
pectos formais dos fenômenos sociais” (LÉVI-STRAUSS, 2008, p. 300), ou seja, não se trata 
dos elementos sensíveis e observáveis da sociedade, mas o sistema que permite a própria 
organização social, de tal modo, que uma mudança na estrutura provoca uma modifi cação 
do todo social. Quando falamos, portanto, que os diálogos entre as várias religiões se deram 
devido a suas equivalências estruturais, afi rmamos que cada um dos modelos rituais possui 
posições semelhantes que permitem a passagem de um elemento de um contexto para o 
outro. Por exemplo: tanto as religiões de matrizes africanas quanto o cristianismo concebem 
a existência de um “deus criador”. Nesse sentido, o Deus Pai cristão ocupa o mesmo lugar 
estrutural de Olodumare para os iorubás. Isso não signifi ca que são a mesma pessoa, mas 
que há equivalências nos seus signifi cados.
Ex
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or
São elementos principais das religiões de matrizes africanas desenvolvidas na Amé-
rica num diálogo com o cristianismo e as cosmologias indígenas: o sacerdote, a ali-
mentação ritual, o uso de instrumentos mágicos e a concepção de entidades tutelares.
Sacerdócio
Assim como no catolicismo e nas cosmologias indígenas, a presença de alguém 
que preside os rituais, o sacerdote, é essencial nas religiões africanas. O lugar que 
esse sujeito ocupa nesse contexto religioso é central, entretanto, a ele pode ser 
agregado um conjunto de auxiliares, formando um corpo sacerdotal (como no 
catolicismo em que temos o bispo como sacerdote principal e, ao redor dele, os 
padres e diáconos, que o auxiliam realizando ações específicas). 
No caso das religiões africanas, entretanto, cada membro do corpo sacerdotal é 
responsável por um conjunto de ações específicas nos diversos serviços litúrgicos, 
os quais são supervisionados pelo sacerdote principal. As funções podem ser: 
realizar o jogo divinatório (consultando os oráculos), conduzir os rituais de iniciação 
e suas complementações; preparar os alimentos sagrados (que serão servidos aos 
deuses e compartilhados com os fiéis), realizar a imolação dos animais e plantas; 
conduzir os neófitos no processo e integração à religião etc..
17
UNIDADE “Os Africanos no Novo Mundo”: Religião e Diáspora
As funções e posições que cada sacerdote ocupará no contexto das casas 
religiosas variam de acordo com os próprios preceitos religiosos, que classificam os 
fiéis de acordo com: gênero, tempo de iniciação, modo de relação com a divindade 
(se podem ou não entrar em transe).
Alimentação Ritual
“Sem comida, não há religião!”, costumam afirmar alguns fiéis. De fato, se 
observarmos com atenção, a maioria absoluta das religiões, se não todas, possui 
algum tido de refeição ritual no centro da sua liturgia. O cristianismo, por exemplo, 
por meio da ceia sagrada, pão e vinho são ingeridos ritualmente, rememorando a 
última refeição de Jesus que se ofertou como alimento para os seus. Assim como 
no islamismo e no judaísmo há um conjunto de preceitos alimentares, que orientam 
a prática dietética dos fiéis cotidianamente e nos momentos rituais. Os exemplos 
poderiam se multiplicarao infinito. Destacamos apenas que, em termos estruturais, 
a refeição ritual organiza-se de três modos distintos: come-se com o deus; come-
se o deus; come-se como o deus.
No contexto do cristianismo, come-se o deus, durante a ceia ritual. Isso significa 
que a própria divindade se faz alimento e é consumida pelos fiéis durante a 
antropofagia sagrada. Os fiéis ao se alimentarem do deus que se fez pão e vinho 
(na última ceia) incorporam suas propriedades e têm suas energias vitais renovadas. 
Importante!
No catolicismo crê-se que as espécies eucarísticas, isto é, o pão e o vinho são transub-
stanciados, no corpo e sangue de Jesus, portanto, não se trata de um símbolo que repre-
senta a divindade, mas é, de fato, o próprio deus.
Importante!
Comer como o deus, refere-se àquelas ações rituais em que o fiel assume uma 
dieta alimentar orientada pelos princípios religiosos, de modo a permanecer puro 
para aproximar-se da divindade. Os exemplos comuns desse contexto são as res-
trições alimentares observadas pelos judeus e islâmicos. Para além da não ingestão 
de determinadas comidas (como a carne de porco), há um conjunto de preceitos a 
ser observados na manipulação dos alimentos. Trata-se aqui, sobretudo, de perma-
necer santo e puro como o próprio deus. Conforme afirma Marta Topel, sobre as 
restrições alimentares dos judeus:
Assim, as leis dietéticas cumprem duas funções: santificam os judeus, ana-
logamente a como o Templo era santificado, e estabelecem limites rígidos 
que separam insiders de outsiders, fenômeno que, da perspectiva da 
ortodoxia, evita a ameaça da assimilação, com o decorrente desapareci-
mento do povo judeu. (TOPEL, 2003, p. 220)
18
19
A antropóloga Mary Douglas, em Pureza e Perigo: ensaio sobre a noção de poluição e tabu 
(Lisboa: Edições 70, 1970) analisou as interdições alimentares e os modos de purifi cações 
dos judeus descritos na Bíblia.
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Por fim, temos os contextos religiosos em que se come com o deus. Isso significa 
que no processo ritual, existe uma comensalidade em que participam fiéis e divinda-
des, que partilham a mesma refeição, observam as regras dietéticas de cada deus. 
Nesse sentido, deuses e fiéis têm suas energias vitais renovadas simultaneamente.
Com relação às religiões de matrizes africanas come-se com e como o deus, 
na medida em que os alimentos ofertados às divindades são também consumidos 
pelos fiéis, entretanto, não comem os homens tudo o que comem os deuses e vice-
versa, restringindo-se, a cada um deles, seu alimento específico. Quando imolado 
um animal, algumas partes específicas são reservadas aos deuses (como vísceras, 
pés, bicos etc.) e a carne é preparada para os humanos. Nesse sentido, come-se 
como o deus, na medida em que em há um conjunto de alimentos interditos tanto 
aos deuses quanto aos homens. Por outro lado, come-se com o deus, pois há, 
tanto para as divindades quanto para os fiéis, um conjunto de alimentos interditos, 
os quais podem macular ou provocar a ira dos deuses ou desordens cósmicas que 
podem impactar de modo negativo a vida dos fiéis. 
Objetos Sagrados
Com relação aos objetos sagrados, sabemos que todas as religiões operam por 
meio da manipulação de símbolos. Tomando a definição apresentada pelo antro-
pólogo norte-americano Clifford Geertz, o símbolo é “qualquer objeto, ato, aconte-
cimento, qualidade ou relação que serve como vínculo a uma concepção – concep-
ção é o significado do símbolo”(CLIFFORD GEERTZ,1989, p. 68).
Os elementos da natureza (plantas, minerais, acidentes geográficos, rios, esta-
ções do ano, condições atmosféricas, animais etc.), os gestos, as cores ganham 
novas dimensões simbólicas, no contexto religioso. Isto é, assumem funções que 
permitem a comunicação entre fiéis e divindades, material e imaterial, sagrado 
e profano (embora essas realidades, em boa medida, representem polos de uma 
mesma realidade). A cada deus, sua cor específica, seu animal, alimento, símbolo, 
dança, oração e canção específicas.
19
UNIDADE “Os Africanos no Novo Mundo”: Religião e Diáspora
Entidades Tutelares
No âmbito das religiões afro-americanas, o universo é organizado vis-à-vis 
ao mundo mítico, obedecendo a sua ordem de classificação. Tudo o que possui 
existência, portanto, está sob a tutela de um deus e as ações rituais são realizadas 
com o intuito tanto de preservar a ordem e o equilíbrio dessas forças que regem o 
universo quanto de equalizar as vontades dos deuses com as necessidades e desejos 
humanos. Nesse contexto, a sacralização de coisas, lugares e pessoas, obedecem 
a ritos específicos, de acordo com a divindade titular, a coisa a ser consagrada, o 
contexto religioso e os seus usos.
Dissemos, anteriormente, que tudo o que existe está sob a proteção de uma 
deidade. No caso das religiões monoteístas, cabe ao deus único zelar pela ordem 
do universo. Entretanto, em algumas cosmologias religiosas, concebe-se a ideia da 
existência de seres não-humanos que colaboram com o deus na tarefa de governar 
as potências naturais e os vários aspectos da vida social, santos e anjos são exemplos 
dessas figuras.
Os anjos são definidos de modo distinto, dependendo das várias crenças. No 
contexto das religiões abraamicas (cristianismo, islamismo e judaísmo), grosso 
modo, eles são criaturas que ocupam o lugar intermediário entre os homens e o 
deus, no sentido de que, não sendo totalmente humanos, possuem propriedades e 
capacidades que o aproximam mais da natureza da divindade (como a imortalidade, 
beleza e virtude). São também responsáveis por executar tarefas específicas de 
acordo com os desígnios divinos, sendo que alguns deles possuem grande apelo 
popular a ponto de terem seus nomes e funções conhecidos, como Miguel (chefe 
do exército divino), Gabriel (mensageiro) e Rafael (portador da cura) e os anjos da 
guarda (protetores individuais ligados diretamente a cada pessoa). 
No catolicismo, além dos anjos, os santos também possuem funções específicas. 
Homens e mulheres que, segundo a crença católica, viveram segundo as vontades 
divinas (em parte materializadas nas orientações eclesiásticas), após suas mortes 
são acolhidos junto a deus e passam a exercer, a partir desse lugar, o papel de 
intercessores. Isto significa que, uma vez diante da divindade pode mais facilmente 
colaborar na obtenção de favores em prol dos fiéis suplicantes que ficaram na terra. 
Não são os santos quem atende aos pedidos (realiza os milagres), mas o próprio 
deus que cede ao apelo dos humanos. Dada essa deferência conferida aos santos, 
a “área de atuação” de cada um deles foi estabelecida pela religiosidade popular (e 
incentivada pela Igreja Católica), de acordo com algum fato de sua biografia. Dito de 
outro modo, o rol dos santos e suas possibilidades de intervenção intercessora foram 
divididos entre as várias dimensões da vida humana e dos domínios da natureza. 
É nesse sentido que se pode dizer que São Pedro é protetor dos pescadores (uma 
vez que ele mesmo foi pescador) e regente das forças atmosféricas (pois recebeu 
as “chaves da porta do céu”); ou que Santa Cecília é padroeira dos músicos (ela 
mesma que foi musicista), sendo que os exemplos se multiplicam quase ao infinito. 
20
21
Em síntese, a legião dos santos e anjos permite, sob os auspícios de deus, a 
conservação do equilíbrio do universo e da harmonia entre o mundo dos humanos, 
os espíritos e a natureza.
Esse modo de organização do panteão não só orienta os cultos e suas liturgias, 
como também classifica os próprios fiéis, impactando nas relações interpessoais.
Presença Africana no Haiti
A história do Haiti é longa e complexa. É marcada por revoluções, crises 
humanitárias e pioneirismo. Considerada a “pérola do Caribe”, pelos europeus, 
entre os séculos XVI e XVII, era a colônia mais rentável da França e, apesar do 
tamanho diminuto, era a maior produtora de cana-de-açúcar e seus derivados, 
ultrapassando inclusive a produção brasileira.
A historiografia oficial narra que Cristóvão Colombo chegou ao Caribeem 1492, 
aportando numa ilha que batizou de Hispaniola, reclamando sua posse em nome 
do rei da Espanha. A partir desse momento, os espanhóis começam o processo 
de colonização, num confronto direto com as populações que ali habitavam. Em 
1520, os indígenas aruaques e caraíbas tinham sido dizimados na parte ocidental 
da ilha, no processo de tentativa de escravização, e a colonização espanhola entra 
em declínio.
Os espanhóis fixaram-se à oriente, onde hoje se localiza o país Santo Domingos, 
demonstrando pouco interesse pela parte oeste da ilha, fazendo com que ela fosse 
frequentemente invadida por piratas franceses. 
Figura 1
Fonte: Wikimedia Commons
Os conflitos entre o exército espanhol e os piratas resolvem-se, definitivamen-
te, apenas em 1697 quando é assinado o Tratado de Ryswick, em que é cedido 
à Franca o controle da região e, em 1777, por meio do Tratado de Aranjuez a 
posse definitiva é dada a Paris. Os franceses resolvem renomear essa porção de 
21
UNIDADE “Os Africanos no Novo Mundo”: Religião e Diáspora
Saint-Domingue, cuja capital foi estabelecida em Cabo Francês e posteriormente 
em Porto do Príncipe (cidade fundada em 1749). São, portanto, os franceses 
quem se encarregam da colonização e da exploração, de fato, dessa porção da ilha.
Sem a presença indígena, os franceses importam mão de obra africana para tra-
balhar na condição de escravos. A presença de brancos era mínima, chegando a 32 
mil pessoas, no final do século XVIII, sendo que havia 500 mil escravizados negros. 
O meio milhão de escravos negros, que labutavam nas plantações e nos en-
genhos, era dominado por trinta mil brancos, incluindo os proprietários e seus 
auxiliares (feitores, técnicos, vigilantes etc.). Além dos negros e brancos, havia 
um segmento de poucos milhares de mulatos, já livres, mas submetidos a extor-
sões e agressões dos brancos escravocratas. Apesar de tal desvantagem, “vários 
mulatos conseguiam aproveitar algumas oportunidades de negócios e enriquecer” 
(GORENDER, Jacob, 2014. p. 296).
A Revolução que sacudiu a França por dez anos, entre 1789 e 1799, agitou 
também a vida nas colônias, chegando até às Antilhas. Anos antes, em 1781 
houve uma grande revolta promovida pelos escravizados, liderada por Toussaint 
L’Ouverture (um africano escravizado que recebera instrução dos franceses). Por 
força desse movimento, a França só conseguiu restabelecer o controle sobre o 
território caribenho em 1782 sob o comando do general Leclerc, que fora enviado 
à Saint-Domingue, juntamente com um exército francês, por seu parente, o então 
cônsul Napoleão Bonaparte. A abolição da escravidão ocorreu em 1793. 
Nova revolução ocorreu, desta vez liderada por um companheiro de L’Ouverture, 
Jean-Jacques Dessalines, culminando com a declaração de independência da 
colônia, em 1804, que passou a chamar-se Haiti (ou Ayti em criolle) que significava 
“terra de altas montanhas”. Dessalines tornou-se o primeiro soberano do novo 
país, assumindo nome de imperador Jacques I.
A partir desse momento, uma série de conflitos políticos, sociais e econômicos 
agitou o Haiti, de modo que até os dias atuais observam-se os seus desdobramentos. 
O país chegou a perder sua autonomia no início do século XX, sendo gerido pelos 
Estados Unidos e, no início dos anos 2004 foi alvo de uma Missão da Organizações 
das Nações Unidas para o restabelecimento da estrutura democrática e combate 
aos conflitos paramilitares internos. O processo de finalização da missão da ONU, 
que foi liderada pelo Brasil, ocorreu quase duas décadas depois de seu início, 
deixando o país com um presidente eleito pelo sufrágio universal (o voto direto), 
mas ainda com uma crise humanitária causada por um terremoto que devastou a 
capital, Porto do Príncipe, em 2012.
Tendo em mente essa realidade social, podemos refletir sobre alguns aspectos 
das religiões tradicionais de origem africanas que se desenvolveram no Haiti, desde 
o início da colonização e que permanecem vivas até hoje.
22
23
Religiões de Matrizes Africanas
no Haiti: O Caso do Vodu
Os africanos que chegaram no Haiti, foram capturados sobretudo no reino 
do Daomé (atual região da República Democrática do Congo) e entre os fon (na 
atual Nigéria). É a partir dessa estrutura cultural e religiosa, em diálogo com o 
catolicismo francês, que vão se desenvolver as religiões afro-cubanas, dentre as 
quais destacamos o Vodu. 
Conforme nos revela Laënnec Hurbon:
de qualquer modo, a África está tão presente na América que já se 
pode falar da existência de três Américas: a branca, a índia e a negra.
Na América do Norte, por exemplo, pode-se encontrar nas ilhas Gullah e 
na Virgínia a predominância das culturas Fanti-achanti; em Nova Orleans 
predomina a cultura do Daomé e Banto; na América Central, a cultura 
Ioruba; no Haiti e no norte do Brasil, a do Daomé (fon); na Jamaica, nas 
ilhas Barbados e em Santa Lúcia, encontra-se a cultura dos Kromonti 
da Costa do Ouro; nas Guianas holandesa e francesa, Fanti-achanti 
(HURBON, 1987, p. 65)
Essa presença se faz sentir na própria estrutura das sociedades que se formaram 
do lado de cá do Atlântico. Pode-se destacar os impactos na formação da língua, na 
vida econômica, na organização social, em setores da tecnologia, na religião etc.
No caso haitiano, apesar da presença de africanos de origens distintas, 
observa-se que:
a estrutura dominante dos cultos africanos representados no Haiti foi a 
da religião dos fon e dos iorubas (Mahi e Nago). Sob o nome de Vodu (ou 
vaudou, em francês; voodoo, inglês), o que se exprime é a coerência de 
uma religião, de uma cultura própria de um povo consciente de partilhar 
a mesma história (HOURBON, 1987, p. 66).
Conforme foi dito anteriormente, muitas foram as formas de resistência ao 
processo de escravidão imposto pelos colonizadores europeus sobre os africanos 
sequestrados em África e trazidos para a América: revoluções antes do embarque, 
ainda em terras africanas, e nos vários espaços onde eram obrigados a trabalhar; 
assassinatos de capatazes e senhores, recusa a trabalhar, greve de fome, prática de 
suas religiões e vivências de suas tradições culturais (apesar das censuras e punições).
Ainda de acordo com Hurbon, as terres de marronnage no Haiti, assim como 
os quilombos no Brasil, constituíram-se como espaços privilegiados no processo 
de reconstituição da solidariedade étnica dos africanos, possibilitaram a recriação – 
em outros termos, mas sob a mesma estrutura – das tradições dos antepassados, e 
também se mostraram propícios à unidade espiritual, expressa, sobretudo, no que 
ficou conhecido como Vodu.
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UNIDADE “Os Africanos no Novo Mundo”: Religião e Diáspora
O Vodu, enquanto expressão religiosa dos haitianos negros e mestiços, assim 
como as religiões de matriz africana no Brasil, mescla-se à própria identidade nacio-
nal e cultural e impeliu (e continua impulsionando) os africanos e seus descendentes 
a enfrentar o sistema escravocrata e suas mazelas. Hourbon narra que, em 1757, 
Makandal, um africano escravizado originário da Guiné, valendo-se da crença no 
Vodu, arquitetou um plano para matar todos os brancos da cidade, envenenando 
a água que eles tomariam. Descoberto seu plano, ele foi sentenciado à morte. Seu 
feito, entretanto, não foi esquecido. Essa façanha e a possibilidade de sua eficácia 
provocaram tamanho impacto nas crenças religiosas, que os crentes passaram a no-
mear as poções e encantamentos mortíferos de makandals (Hourbon, 1987, p. 67).
Impulsionados na crença da força dos loas, deidades cultuados no Vodu, os 
africanos e mestiços produziram as revoluções que culminaram na independência 
do Haiti, mesmo que, paradoxalmente, após esse evento, o culto de origem africana 
continuasse proibido enquanto religião.
Assim como ocorreu nas colônias sob domínio inglês, espanhol ou português 
nas Américas (guardadas as devidas proporções), as religiões de origem africana 
no Haiti foram proibidas, suas liturgias e cosmologias foram inferiorizadas, 
demonizadas e combatidase seus adeptos perseguidos e impedidos de praticá-las 
abertamente. Desse modo, algumas estratégias de resistência foram elaboradas 
também nesse sentido: o processo de culto velado, isto é, sob o véu do catolicismo 
se cultuavam os deuses africanos; a apresentação dos rituais como “festa” (dança e 
cantos públicos) e a realização de cerimônias privadas e secretas.
Roger Bastide no livro As Religiões Africanas no Brasil (São Paulo: Pioneira. 1985) viu nos 
candomblés, não uma má assimilação do catolicismo, mas uma estratégia eficaz empregada 
pelos negros para preservarem seus valores religiosos. Segundo esse autor, sob a imagem 
dos santos católicos eram cultuados os deuses africanos. Essa teoria sobre o sincretismo 
religioso ficou conhecida no meio acadêmico como “teoria do disfarce”.
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Devemos ainda levar em conta que o Vodu foi, por muitos anos, coibido e 
depreciado no Haiti, mesmo depois da independência do país. Em quase todas as 
suas constituições, encontram-se artigos que acabam proibindo as manifestações 
afro-religiosas sob o pretexto de condenar a prática de sortilégios e seus malefícios 
(HOURBON,1987. p 69), estratégia semelhante ora adotada pelo Brasil.
Por fim com relação aos deuses cultuados no Vodu, Saint-John Kauss (s/d) nos 
apresenta uma síntese interessante:
Os loas são classificados em dois grupos principais: os loas “brandos” 
ou brancos (rito Rada) e os loas “quentes” ou vermelhos (rito Pétro) que 
representam a força de quebra do Vodu vingativo e mortal. Erzulie Dantor, 
identificada como a Deméter africana, figura sublime e Rainha da Terra e 
24
25
Damballah Ouèdo, deus da força e do conhecimento, o Mestre do Céu, são, 
sem sombra de dúvidas, dois dos mais importantes loas, os quais presidem 
respectivamente todos os fenômenos terrestres e celestes. Segundo Milo 
Marcein, Damballah é conhecido por vários nomes: Damballah “Arco-
-íris” Ouèdo (loa Rada, Moisés), Damballah La Flambe-a [A Tocha] (loa 
Pétro, São Patrício), Pierre Damballah, Damballah Siligwé, Damballah 
Kato, etc. O mesmo se passa com Erzulie que recobre várias imagens de 
santas católicas na forma de seu duplo. (KAUSS, s/d, tradução minha).
No quadro a seguir, como forma de exemplo, apresentamos algumas das divin-
dades principais cultuadas no Vodu, seu duplo no catolicismo e alguns elementos 
relacionados ao seu culto (dia da semana, alimento, cor e elemento da natureza):
Quadro 1 – Relação dos loas com os santos católicos e suas especifi cidades
LOA
SANTO 
CATÓLICO
DIA DA 
SEMANA
ALIMENTO BEBIDA COR
PEDRA 
PRECIOSA
Agouf Santo Ulrico domingo e todos os dias
carneiro e 
cordeiro, 
abacaxi, laranja 
pera manga, 
nectarina, 
cigarro, doces 
orientais
chá de hortelã, 
champanhe
Azul-
esverdeado Ouro, rubi
Baron São Martin de Porres
sábado ou 
todos os dias
Batata doce, 
milho, cabrito 
ou cabra, 
inhame,
Rum branco, 
tequila Preto
Ônix preta, 
ouro, prata, 
ametista
Damballah São Patrício quinta
Arroz branco, 
leite, ovos, 
pombo branco
Vodca, uísque 
escocês branco
Ouro, 
esmeralda 
verde
Erzulie Dantor
Nossa Senhora 
do Perpétuo 
Socorro
terça e sábado
Banana, café 
preto adoçado, 
cigarro, uva 
vermelha, 
laranja, 
mexerica,
Cinzano, vinho 
tinto suave
Azul Royal ou 
vermelho Prata
Fréda
Santa Rosa de 
Lima (também 
associada à 
Imaculada 
Conceição)
quinta-feira
Peixe, frango, 
pombo branco, 
abacaxi
Licor de anis, 
xarope de 
amêndoas
Rosa, azul 
celeste, e 
branco
Ouro, diamante
Legba São Pedro terça-feira Frango preto Rum agridoce e xarope Preto, branco Pedra preta
Ogou São Tiago Maior quarta e sexta-feira
salada, mistura 
de castanha de 
caju, amêndoa 
e pistache, 
frutos do mar
 Rum Vermelho Grená vermelha
Zaka Médé Santo Isidoro sábado
Pistache, coco, 
pão branco, 
arroz
Xarope haitiano Azul índigo Rubi, safira
25
UNIDADE “Os Africanos no Novo Mundo”: Religião e Diáspora
Importante!
 “No corpo hierarquizado do Vodu, os servidores da divindade são chamados de hounsi 
(em Fon, hû, divindade, e si, esposa); o sacerdote é o hougan (papa-loi, a sacerdotisa 
é a mambo (mamanlo-loi). Os acessórios do culto ainda guardam os nomes de origem 
daomeana: gôvi (cruches), Zé (pot), asô (hochet sacré), azê (emblemas sagrados), hûntò 
(tambor), o santuário é o houmfò. O houmfò não é um templo no sentido comum do 
termo, mas um centro religioso comparável pela sua aparência ao “la cour” (pátio de 
uma casa grande), lugar onde se coloca, além dos objetos religiosos, todos os pertences 
de uma “grande família” [os adeptos à religião que foram iniciados]. A única coisa que 
faz uma pessoa reconhecer um houmfò de fora é o “péristyle” (terreiro), o lugar onde se 
fazem as cerimônias. No centro de um “péristyle” há um “poteau-mitan (poste sagrado), 
pivô e centro das danças rituais que recebe várias homenagens durante as cerimônias. ‘É 
ele que liga o céu e as profundezas da terra e à sua volta se desenvolvem todo os ritos” 
(HURBON, 1989, p. 82). O lugar ocupado [pelo “poteau-mitan”] no ritual se explica pela 
sua função: ele é “caminho dos espíritos” ou a escada pela qual os espíritos descem quan-
do são invocados no “péristyle”. “Na base do poteau-mitan, um móvel e forma cônica 
serve de mesa para os objetos usados durante a cerimônia. No solo, o oficiante traça os 
símbolos dos loas que farão sua aparição” (HURBON, 1989, p. 82). Os símbolos traçados 
no chão são chamados de veve, é o desenho simbólico do loa, sua função é comparável à 
imagem ou estátua do santo [no catolicismo]” (HANDERSON, 2010, p. 123).
Em Síntese
Uma vez observado a composição do Vodu, passaremos agora ao caso cubano. 
Presença Africana em Cuba
Embora o processo de colonização de Cuba, sua luta pela independência e a 
configuração do tecido social seja diferente do Haiti, percebemos nessa ilha do Ca-
ribe os mesmos elementos presentes naquela. Ou seja, a importação de africanos 
para o trabalho servil, a presença europeia e o conflito com os indígenas. 
Figura 2 – Mapa de Cuba
Fonte: Wikimedia Commons
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Vamos olhar mais de perto alguns aspectos da história cubana a fim de compre-
endermos o processo de configuração das religiões afro-cubanas.
Entre 1821 e1860, foram cerca de trezentos e cinquenta mil africanos que 
entraram na Ilha. Entretanto, o tráfico de escravizados começa ainda no século 
XVII. Assim como aconteceu nas demais colônias americanas, a mão de obra 
indígena começa a tornar-se escassa em Cuba, então a coroa espanhola opta por 
introduzir os primeiros africanos, que foram adquiridos de Portugal. De acordo 
com Aline Helg:
A chegada constante de escravos africanos transformou a demografia em 
Cuba, triplicando a população da ilha entre 1790 e 1820. A raza de color 
(raça de cor, segundo a terminologia da época, que englobava escravos e 
negros livres) tornou-se majoritária, enquanto os brancos não representa-
vam mais do que 44% do total. [...] Em 1841, ao somarem 347 mil pes-
soas, os escravos tinham-se tornado mais numerosos do que os brancos, 
muito à frente dos afrodescendentes livres (HELG, 2014, p. 30).
Assim como em toda a América, chegaram à ilha caribenha africanos bantos e 
sudaneses. Dentre as numerosas etnias que foram introduzidas no país estavam os 
chamados carabailes (porque provinham da área do Calabar), do sudeste da Nigé-
ria. Entre eles se destacam os efik, ibo, bras, ekoy, abaja, vríncamos, oba e ibibios. 
Também vieram escravos procedentes das regiões compreendidas entre a Cos-
ta do Marfim, a Costa do Ouro e a chamada Costa dos Escravos. Entre eles, os 
achanti, fanti, fon, e mina popó.
Muitos escravos procederam da bacia do Congo. Ainda que fossem mondongo, 
banguela, mucaya, hisonigo, agurga, cabida, motembo e mayombe, todos eram 
chamados simplesmente de congos. Do sul dessa área vieram os angola. Da costa 
do Senegal até a Libéria vieram os mani, kono, bámbara e mandiga. Da Guiana 
Francesa: os yola, fulani, kissi, berberí e haussa. (AROSTEGUI, 1992, p. 11).
Importante!
Yoruba como grupo linguístico é parteda subfamília kwa. Um dos grupos dessa família 
linguística eram os Ulkumí, presentes em Cuba desde 1728, donde se originou o termo 
lucumí, termo que denominou por muito tempo os yorubas que chegaram à Ilha durante 
o período do tráfi co.
Você Sabia?
27
UNIDADE “Os Africanos no Novo Mundo”: Religião e Diáspora
Religiões de Matrizes Africanas 
em Cuba: O Caso da Santeria 
Quando os primeiros invasores chegaram à região da atual Nigéria, por volta do 
século XV, os Iourubá estavam organizados em pequenos reinos independentes, 
muitos dos quais já em decadência. Essencialmente agrícolas, mantinham um 
intenso comércio com o norte africano. Algumas narrativas apontam que o reino 
de Ifé foi, entre os séculos X e XIII, o maior império ioruba, estendendo-se desde a 
atual Gana até o vale do Níger. Durante seu período áureo de cerca de três séculos, 
expandiu sua arte de manipulação do bronze para toda região, até o Benin. Com a 
decadência de Ilê-Ifé, ganha proeminência o reino de Oyó que reuniu vários grupos 
iorubás. As guerras constantes contribuíram para o declínio desse império a partir 
do século XVIII.
A presença sudanesa deixou marcas profundas na sociedade cubana e forneceu 
o substrato para a configuração do modelo ritual de matriz africano mais conhe-
cido, a Santería ou Regla de Ocha. Segundo Arostegui, estes iorubás vinham do 
antigo Daomé, de Togo e, sobretudo, da costa da Guiné, ao sul há cerca de 300km 
ao norte, desde o golfo do Benin, a oeste, até o Daomé. Trata-se de uma região 
da África Equatorial caracterizada por grandes bosques. A área costeira é baixa e 
pantanosa, mas dela levanta-se um planalto que alcança cerca de mil e quinhentos 
metros de altitude em relação ao nível do mar. O clima é quente e úmido. O pla-
nalto é uma região de savana herbáceas, mas ao sul, nas zonas úmidas da planície 
costeira, encontra-se a selva tropical (AROSTEGUI, 1992, p. 12, tradução minha).
O contato e influências da Igreja Católica com os praticantes da religião 
dos iorubás ou culto aos orixás, teve como resultado ao que popularmente 
chama-se Santería; o Palo Monte, é uma das manifestações religiosas de 
origem banto. (ROBAINA, 2013, p. 31, tradução minha.).
Importante!
Enquanto no Brasil as influências banto, iorubá, ewé-fon são mais perceptíveis, em Cuba, 
a Sociedade Secreta Abakuá desenvolveu um culto sobre forte influência da cultura 
carabalí. (ROBAINA, Tomás Fernández. El Negro em Cuba: colônia, república, revolución. 
Havana: Ediciones Cubanas, 2013, p. 31).
Importante!
28
29
Assim como no Vodu, encontramos na Santería correspondências estruturais 
entre os deuses de origem africana e os santos católicos. No quadro a seguir, temos 
alguns exemplos dessa relação.
Quadro 2 – Orishas na Santería e seus correspondentes no catolicismo
Orisha Santo católico
Área de atuação atribuída
ao deus africano
Agamyu São Cristóvão Paternidade
Babaluaye São Lázaro Enfermidade (saúde/doença)
Eleggua Santo Antônio de Pádua Abridor de caminhos
Ibeji São Cosme e São Damião Crianças
Inle São Rafael Medicina
Obatalá Nossa Senhora das Mercês maternidade
Ogún São Pedro Iluminação
Olokún Nossa Senhora de Regla Domínio da metalurgia
Orula São Francisco Profundidade
Osanyín São José Sabedoria, destino
Oshosi São Norberto Ervas
Oshún Nossa Senhora da Caridade Casa e Proteção
Oya Nossa Senhora da Candelária Amor
Shangó Santa Bárbara Morte
Yemanyá Nossa Senhora de Regla Força
Tanto no Haiti quanto em Cuba e no Brasil, as religiões de matrizes africanas se 
desenvolveram num diálogo profundo com o catolicismo e com as cosmologias 
ameríndias. A relação entre os deuses africanos de origem sudanesa ou banto 
com os santos católicos acompanham a lógica do catolicismo, que se estabeleceu 
em cada um dos contextos sociais, e a origem dos colonizadores. Assim, podemos 
observar diferenças profundas nessas relações, pois se no Haití o diálogo foi com 
o catolicismo francês, em Cuba a infl uência foi espanhola e no Brasil, portuguesa.
Por fim, vejamos como no Brasil se deu o desenvolvimento das religiões de 
matrizes africanas. Cada vez fica mais claro que as orientações cognitivas que 
permitiram a configuração das religiões afro-haitianas e afro-cubanas operam da 
mesma forma em todo continente europeu, de tal modo que, embora possamos 
falar em modelos rituais específicos e distintos, é possível entrever uma mesma 
estrutura que organiza as religiões afro-americanas.
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UNIDADE “Os Africanos no Novo Mundo”: Religião e Diáspora
“Questionando a ideia da unidade cultural da África ocidental apresentada por Herskovits, Sid-
ney Mintz e Richard Price defendem a hipótese de que, no nível das formas manifestas e crenças 
explícitas, as culturas africanas das regiões que abasteceram o tráfico negreiro transatlântico 
foram marcadas por grande heterogeneidade. Os autores não negam a existência de uma her-
ança cultural comum aos africanos, mas afirmam que ela teria de ser observada em um outro 
nível, o dos “princípios gramaticais inconscientes” e das “orientações cognitivas”, e não poderia 
ser automaticamente associada a manifestações culturais explícitas, visto que estas estariam 
sempre diretamente ligadas às formas institucionais que as articulavam. A natureza do fluxo 
migratório dos africanos para a América representou enorme obstáculo para a transposição 
cultural simples, pois as instituições que conferiam organicidade às diversas culturas africanas 
não puderam ser trazidas nos navios negreiros. Os cativos tiveram que criá-las nas Américas 
por meio de sua própria agência, mas sempre com base naqueles “princípios gramaticais” mais 
profundos.” (MARQUESE, Rafael de Bivar. História, antropologia e a cultura afro-americana: o 
legado da escravidão. Estudos Avançados, São Paulo, v. 18, n. 50, p. 303-308, apr. 2004. ISSN 
1806-9592. Disponível em: https://goo.gl/HKy7ei. 
Ex
pl
or
Presença Africana no Brasil
Assim como no Haiti e em Cuba, o Brasil também viu nascer em seu solo, um 
conjunto de religiões de matrizes africanas, em diálogo com o catolicismo português 
e as cosmologias ameríndias. Efetivamente, não é a estrutura dos cultos que distingue 
as religiosidades que aqui se desenvolveram daquelas observadas no Caribe, mas al-
gumas de suas liturgias, dogmas e divindades. Dito de outro modo, embora o contato 
entre os europeus, ameríndios e africanos tenha se dado, em território brasileiro, em 
condições semelhantes ao caso cubano e haitiano, o tipo de colonização desenvolvi-
da por aqui, favoreceu a constituição de outros grupos religiosos.
Sabemos que o sequestro de africanos, homens e mulheres, para serem escra-
vizados das Américas, começa no início do século XVI. Embora o Brasil tenha sido 
oficialmente descoberto em 22 de abril de 1500, somente a partir de 1536, os 
portugueses resolvem iniciar o processo de colonização. Os grupos portugueses, 
formados em sua maioria por homens, militares e religiosos, começam pela costa 
do nordeste e do sudeste. 
Nesse primeiro momento, tal como fizeram os espanhóis e franceses, os 
portugueses iniciaram um processo de submissão da população nativa ao trabalho 
escravo. Muitas foram as formas de resistências dos indígenas: guerra contra os 
invasores, fugas para o interior do país, alianças com os portugueses e a oposição 
formal de parte da Igreja Católica à escravidão indígena. 
A resistência de setores da Igreja Católica à escravização dos ameríndios em parte 
era motivada pelas disputas entre católicos e árabes, que haviam movimentado a 
Península Ibérica, séculos antes, e pela Reforma Protestante, que estava em curso 
e ameaçava o monopólio do catolicismo. A expectativa dos missionários católicos 
30
31
era que a conversão dos indígenas favoreceria o fortalecimento da Igreja. É preciso 
ressaltar, entretanto, que as ações dos colonizadores ignoravam as recomendações 
da Igreja e muitos religiosos adotaram posições ambíguas diante do fenômeno da 
escravidão. Também é importante notar que, nos locais onde a colonizaçãofoi 
realizada por europeus protestantes (como Estados Unidos e parte do Canadá), a 
escravidão também foi acionada como um instrumento de dominação dos nativos, 
conquista e exploração dos territórios colonizados.
As dificuldades crescentes em recrutar entre os ameríndios mão de obra escrava 
e diante dos processos bem-sucedidos experimentados pelas outras potências 
europeias, Portugal entra no comércio transatlântico de pessoas escravizadas e, 
desde 1560 até o final do tráfico no século XIX, importa para o Brasil cerca de 
quatro milhões de africanos.
Oriundos de regiões distintas, sudaneses e bantos, uma vez dispersos pelo 
território brasileiro, se reagruparam tendo a religião como ponto de convergência. 
De fato, a estrutura das religiões africanas forneceu o substrato necessário para que 
determinados laços de parentesco (antes consanguíneo e agora ritual), linguístico, 
econômico e de solidariedade fossem constituídos.
Como dissemos anteriormente, os bantos começam a chegar no Brasil ainda 
na primeira metade do século XVI e continuam até o final do tráfico de pessoas 
escravizadas, no século XIX. Foram esses homens e mulheres que, por meio de 
muita luta, criaram as condições para a constituição do que hoje chamamos de 
“cultura brasileira”. Vale ressaltar que pertence ao universo banto o maior conjunto 
de palavras de origem africana que compõe o léxico da língua portuguesa falada 
no Brasil. Dentre os bantos, nem todos eram exclusivamente praticantes das 
religiões africanas, haviam também católicos e islâmicos. Em síntese, como expõe 
o antropólogo Vagner Gonçalves da Silva:
Os bantos englobam as populações oriundas das regiões localizadas no 
atual Congo, Angola e Moçambique. São os angolas, caçanjes e benguelas, 
entre outros. Desse grupo, calcula-se que tenha vindo o maior número 
de escravos. Foi também o que maior influência exerceu sobre a cultura 
brasileira, tendo deixado marcas na música, na língua, na culinária, etc. Os 
bantos se espalham por quase todo o litoral e pelo interior, principalmente 
Minas Gerais e Goiás. (SILVA, 2005, p. 28)
Os sudaneses chegaram ao Brasil no início do século XVII e sua entrada se 
estendeu até metade do século XIX. Apesar de terem chegado em menor número 
e quando o tráfico já estava estabelecido, notamos uma presença maior do universo 
afro-religioso sudanês no espaço público. Isso se dá, em parte, porque os bantos, 
uma vez que chegaram antes à colônia brasileira, já haviam criado as condições 
socioculturais para que os grupos que viessem depois pudessem se manifestar. 
Isto não significa que os sudaneses tiveram uma condição melhor em relação aos 
bantos, apenas que as redes de solidariedade já estavam constituídas quando eles 
chegaram, portanto, eles integraram-se a elas e forneceram suas contribuições.
31
UNIDADE “Os Africanos no Novo Mundo”: Religião e Diáspora
Os sudaneses englobam os grupos originários da África Ocidental e que 
viviam em territórios hoje denominados Nigéria, Benin e Togo. São, entre 
outros, os iorubas ou nagôs (subdivididos em queto, ijexá, egbá, etc.), os 
jejes (ewe ou fon) e os fanti-achanti. Entre os sudaneses vieram algumas 
nações islamizadas como os haussás, tapas, peuls, fulas e mandingas. 
Essas populações se concentraram mais na região açucareira da Bahia e 
Pernambuco. (SILVA, 2005. p. 26).
Religiões de Matrizes Africanas 
no Brasil: Aspectos Gerais 
Do ponto de vista religioso, o contato entre o catolicismo português, as cosmo-
logias indígenas e as religiões africanas, assim como no Caribe, produziu um rico 
conjunto de religiões afro-brasileiras. Tais religiões variam de acordo com o contex-
to em que estavam inseridas.
Na figura a seguir, podemos ver graficamente como se deram as configurações 
das religiões afro-brasileiras. Embora seja uma classificação didática, ela nos permite 
ver como os contextos regionais possibilitaram a constituição de religiões distintas, 
sendo que cada uma das três matrizes exerceu influências distintas sem que, no 
entanto, estivesse ausente em cada um dos modelos rituais. Assim, no Norte do 
país temos um conjunto de religiões que colocam em evidência os diálogos entre o 
catolicismo e as cosmologias africanas, enquanto que no Norte, o acento está sobre 
a relação religiões africano-catolicismo. No centro, temos a Umbanda, religião que 
surge no Brasil na primeira metade do século XX, incorporando elementos de várias 
religiões (sobretudo do candomblé, do catolicismo e do espiritismo kardecista).
Cabula
Candomblé Amgola
Candomblé Caboclo
Palejança
Catimbó
Xambá
Toré
Xangô
Batuque
Tambor de Mina
Candomblé Jêje- Nagô
Umbanda
Catolicismo
Português
Religiões
Africanas
Figura 3 – Formação das Religiões de matrizes africanas no Brasil
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Apesar dessa diversidade afro-religiosa, destacam-se no cenário nacional brasi-
leiro os modelos rituais da umbanda e do candomblé, sendo que no Rio Grande do 
Sul, em Pernambuco e no Maranhão são o Batuque, o Xangô e o Tambor de Mina 
que se destacam, respectivamente.
Os panteões das religiões afro-brasileiras se organizam do mesmo modo que no 
contexto cubano e haitiano, guardadas as devidas idiossincrasias rituais, litúrgicas 
e dogmáticas. O caso mais emblemático é o da Umbanda que além de incorporar 
a seu panteão os deuses de origem africana (orixás de origem ioruba, sobretudo) 
também cultua os santos católicos e diversas outras entidades divinizadas: caboclos 
(indígenas), pretos e pretas-velhas, pomba-gira, exus, marinheiros, boiadeiros etc. 
Faz-se, portanto, o panteão da umbanda por adição, organização e hierarquização 
das divindades em grupos (chamados de linhas), e não por exclusão, como as 
demais religiões afro-americanas.
Considerações Finais
O objetivo dessa unidade foi refletir sobre a configuração das religiões afro-
americanas. Isto é, compreender o modo pelo qual as religiões africanas foram 
transplantadas para o continente americano e como, do lado de cá do Oceano 
Atlântico, deram vida a um conjunto de cultos e crenças específicas que dialogam 
profundamente com a identidade nacional dos países.
Escolhemos tratar de três contextos geográficos em que a presença das heranças 
africanas é mais visível e onde o contato entre europeus e indígenas permitiu, 
por um lado, a reorganização dos laços socioculturais dos africanos e, por outro, 
estabeleceu novas formas de sociabilidade, de crença e de solidariedade entre 
homens e mulheres que foram sequestrados de suas terras de origem e submetidos 
à escravidão no Novo Mundo.
Em nosso percurso, colocamos em evidência o fato de que não é possível tratar 
das origens das religiões afro-americanas sem considerar o contexto da colonização 
e o tráfico de africanos escravizados. Destacamos, nesse sentido, haver certos 
elementos estruturantes que nos permitem falar em continuidades entre as religiões 
afro-cubanas, afro-haitianas e afro-brasileiras.
Percebemos que, guardadas as especificidades de cada contexto político e 
geográfico, no Haiti, em Cuba e no Brasil, um conjunto de religiões foi desenvolvido 
a partir dos mesmos princípios: o diálogo (hierarquicamente marcado) entre 
europeus (franceses no caso haitiano, espanhóis em Cuba, e portugueses no 
Brasil), africanos (bantos e sudaneses) e as populações originárias (indígenas das 
mais diversas etnias), o que possibilitou a configuração das religiões de matrizes 
africanas. Tais religiões possuem uma estrutura comum que inclui: a existência de 
33
UNIDADE “Os Africanos no Novo Mundo”: Religião e Diáspora
deuses tutelares, alimentação ritual (o que inclui, em alguns casos a imolação ritual 
de animais), o uso de objetos sagrados, a presença de um corpo sacerdotal com 
funções claramente definidas que leva em conta o tempo de pertencimento na 
religião e o gênero.
Por fim, a partir do caso haitiano, destacamos que as origens dos africanos nas 
Américas é a mesma, de modo que é possível, na análise dos vários modelos rituais, 
vislumbrar as orientações cognitivas que os organizaram.Como exemplo, apresen-
tamos o Vodu haitiano, a Santería cubana e o Candomblé e a Umbanda brasileira.
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35
Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
 Vídeos
A Rota do Escravo - A Alma da Resistência
A Rota do Escravo - A Alma da Resistência. De Tabué Nguma e Nil Viasnoff. 
Produzido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura 
(UNESCO), traduzido e dublado pelo Centro de Informação das Nações Unidas para 
o Brasil (UNIC Rio), 2012.
Sinopse: No filme “A Rota do Escravo - A Alma da Resistência”, a história do comércio 
de seres humanos é contada através das vozes de escravos, mas também dos mestres e 
comerciantes de escravos. Cada um conta sua experiência: da deportação de homens e 
mulheres para as plantações até o cotidiano do trabalho e os movimentos de abolição.
https://youtu.be/HbreAbZhN4Q
 Leitura
Palo Monte um ritual Congo em Cuba
RIBEIRO, José da Silva. Palo Monte um ritual Congo em Cuba. IC Revista Científica 
de Información y Comunicación, 4, 48-59.
https://goo.gl/5nyM6Y
Vodu no Haiti – Candomblé no Brasil: identidades culturais e sistemas religiosos como concepções de mundo afro-
latino-americano
HANDERSON, Joseph. Vodu no Haiti – Candomblé no Brasil: identidades culturais 
e sistemas religiosos como concepções de mundo afro-latino-americano. Pelotas: 
Universidade Federal de Pelotas, 2010. Dissertação de Mestrado.
Objetos sagrados: a Santería cubana através de sua cultura material
LABAÑINO, Yumei de Isabel Morales. Objetos sagrados: a Santería cubana através de 
sua cultura material. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2017. Tese de Doutorado.
35
UNIDADE “Os Africanos no Novo Mundo”: Religião e Diáspora
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