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ANTICOLINESTERÁSICOS O QUE SÃO OS ANTICOLINESTERÁSICOS ? Os fármacos anticolinesterásicos são colinomiméticos de ação indireta, uma vez que atuam inibindo a AChE e, consequentemente, prevenindo a degradação da ACh, o que resulta no seu acúmulo na fenda sináptica. Esses fármacos podem inativar a AChE de forma reversível ou irreversível. AS COLINESTERASES Existem dois tipos distintos de colinesterases, a acetilcolinesterase (AChE) e a butirilcolinesterase (BuChE, às vezes chamada de pseudocolinesterase), que apresentam estruturas semelhantes, mas que diferem com relação à distribuição, à especificidade por substrato e às funções. A AChE está presente nas sinapses colinérgicas, no líquido cefalorraquidiano e na junção neuromuscular, é especifica para a ACh e age regulando a sua concentração nas terminações colinérgicas. Por outro lado a BuChE apresenta ampla distribuição, estando presente no fígado, pele, cérebro, musculatura lisa do TGI e plasma; não é seletiva para a ACh e possui ação fisiológica desconhecida. As colinesterases, em geral, são macromoléculas responsáveis por hidrolisar a ACh em colina e acetato. Elas estão ligadas à membrana plasmática da célula por meio do colágeno. Cada colágeno consegue ancorar até três enzimas, formando uma espécie de árvore de AChE. Cada enzima possui quatro subunidades polipeptídicas com um sítio ativo para a ACh, ou seja, cada AChE é capaz de hidrolisar quatro ACh ao mesmo tempo. Ao analisar apenas um desses sítios ativos, podemos perceber a presença de duas regiões: o sítio aniônico e o sítio enterásico. O sítio aniônico é reponsável pela ligação da ACh à AChE, enquanto que o sítio esterásico, que é composto por dois aminoácidos (histidina + serina), é responsável pela hidrólise da ACh propriamente dita. O GÁS SARIN O gás sarin é um composto organofosforado, classificado como agente neurotóxico, que atua inibindo as colinesterases, AChE e BuChE. Na forma líquida é incolor e inodoro e altamente volátil. Esse gás se liga de forma bastante estável ao sítio enterásico da AChE, impedindo a sua ação e provocando acúmulo de ACh na fenda sináptica, o que desencadeia os sinais característicos da intoxicação. Os efeitos muscarínicos são edema pulmonar, bradicardia, miose, lacrimejamento e sudorese; enquanto que os efeitos nicotínicos envolvem as fasciculações musculares, fraqueza muscular, taquicardia e diarreia. Além disso, são encontrados efeitos sobre o SNC como ansiedade, tontura, ataxia, confusão e depressão. Como antídoto, tem-se a atropina e a pralidoxima. CLASSIFICAÇÃO, FARMACOCINÉTICA E MECANISMO DE AÇÃO REVERSÍVEIS AMINAS MONO E BIQUATERNÁRIAS: os fármacos anticolineterásicos reversíveis desse grupo possuem ação curta (alguns minutos), uma vez que ligam-se apenas ao sítio aniônico da AchE de forma rapidamente reversível. O exemplo principal desse grupo é o edrofônio, comumente utilizado para diagnóstico de miastenia gravis. CARBAMATOS – DERIVADOS DO ÁCIDO CARBÂMICO: possuem ação intermediária (algumas horas), uma vez que se ligam tanto ao sítio aniônico quanto ao sítio enterásico e possuem certa resistência à hidrólise. Os principais exemplos são a neostigmina, a piridostigmina e a fisostigmina. Em geral, são pouco absorvidos pois sua carga permanente os torna relativamente insolúveis em lipídios e distribuem-se pouco para o SNC, com exceção da fisostigmina, que é bem absorvida em todos os sítios e é mais tóxica que os demais. IRREVERSÍVEIS ORGANOFOSFORADOS: esses compostos possuem ação longa (centenas de horas), pois ligam-se covalentemente ao sítio enterásico, fosforilam a colinesterase e tornam a hidrólise bastante lenta. A enzima é, portanto, inativada permanentemente e o restabelecimento da atividade da AChE requer a síntese de novas moléculas. Depois da etapa inicial de ligação-hidrólise, o complexo enzimático fosforilado pode sofrer um processo chamado de envelhecimento, que fortalece ainda mais a ligação fósforo-enzima. Por exemplo, em casos de envenamento por organofosforados, se a pralidoxima for administrada antes da fase de envelhecimento, é possível quebrar a ligação fósforo-enzima e regenerar a colinesterase. Os organofosforados, por serem lipossolúveis, são bem absorvidos pela pele, pulmão, TGI e distribuem-se amplamente por todo o corpo, inclusive SNC. Por isso, a toxicidade para o SNC é um componente importante do envenenamento com esses agentes. FARMACODINÂMICA: EFEITOS FARMACOLÓGICOS EFEITOS SOBRE AS SINAPSES COLINÉRGICAS AUTONÔMICAS Refletem, principalmente, aumento da atividade da ACh nas sinapses pós- ganglionares parassimpáticas, causando bradicardia, hipotensão, excesso de secreções, broncocontrição, hipermotilidade gastrintestinal e redução da PIO. EFEITOS SOBRE A JUNÇÃO NEUROMUSCULAR Aumentam a força de contração do músculo, fasciculação muscular e aumento na tensão de tremor. EFEITOS SOBRE O SNC Causam excitação inicial, que pode causar convulsões, seguida de depressão, o que pode culminar em perda da consciência e insuficiência respiratória. Esses efeitos são antagonizados pela atropina. USOS TERAPÊUTICOS REVERSÃO DO BLOQUEIO NEUROMUSCULAR Os fármacos anticolinesterásicos podem ser utilizados para reverter o bloqueio neuromuscular provocado por miorrelaxantes adespolarizantes tipo curare. O curare funciona como bloqueador neuromuscular ou relaxante muscular. Ele compete com a ACh por receptores nas células musculares (bloqueio competitivo). Fármacos anticolinesterásicos, como a fisostigmina e a neostigmina, podem reverter esses efeitos, uma vez que bloqueiam a AChE, aumentando o número de ACh livre, o que eleva a chance de ativar receptores musculares desocupados. MIASTENIA GRAVIS A miastenia gravis é uma doença autoimune, caracterizada pela diminuição de receptores nicotínicos pós-sinápticos, causando fraqueza e fatigabilidade dos músculos esqueléticos. Como os músculos não conseguem produzir uma contração prolongada, ocorre a característica queda das pálperbas e visão dupla, que pode evoluir progressivamente para insuficiência respiratória e morte. Essa fraqueza muscular muda ao longo do dia, existindo momentos de melhora e de piora. A inibição da AChE dá uma chance maior de as moléculas de ACh encontrarem um receptor vago. Assim, na miastenia gravis, a inibição da colinesterase melhora a transmissão. Nesse sentido, neostigmina, piridostigmina e ambenônio podem ser utilizados para o tratamento da doença. O edrofônio intravascular e a neostigmina intravascular são utilizados para o diagnóstico da doença. Duração de ação intermediária (3-6h e 4-8h), mas mais longa que a da neostigmina. GLAUCOMA DE ÂNGULO ABERTO No olho, as fármacos anticolinesterásicos, como o ecotiofato e a fisostigmina, podem ser utilizados no tratamento do glaucoma de ângulo aberto, uma vez que provocam intensa miose e diminuem a PIO pela facilitação do efluxo do humor aquoso. Contudo, o ecotiofato, por exemplo, é raramente utilizado, devido ao perfil de efeitos adversos, incluindo o risco de causar catarata, mas pode ser utilizado em pacientes refratários ao tratamento de primeira escolha (betabloqueadores, análogos de prostaglandinas e inibidores da anidrase carbônica). ATONIA INTESTINAL E VESICAL Fármacos anticolinesterásicos, como a fisostigmina, são utilizados para o tratamento do íleo paralítico pós-operatório e retenção urinária pós-parto, assim como o betanecol, um colinérgico de ação direta. INTOXICAÇÃO POR DROGAS ANTIMUSCARÍNICAS Os anticolinesterásicos podem ser utilizados para tratar intoxicação por atropina, escopolamina, ADT e antihistamínicos, sendo a fisostigmina indicada para o uso em manifestações centrais. Contudo, a fisostigmina provoca efeitos adversos quando é usada em doses elevadas, como convulsões,bradicardia e queda da pressão arterial. ANTICOLINESTERÁSICOS NO SNC ALZHEIMER A Doença e Alzheimer (DA) é um tipo de demência, que se manifesta pela deterioração cognitiva e da memória, comprometimento progressivo das atividades de vida diária e uma variedade de sintomas neuropisquiátricos e de alterações comportamentais. Essa doença afeta principalmente os idosos e tem o hipocampo como principal área cerebral acometida. Essa doença pode ser dividida em quatro fases: inicial, moderada, grave e terminal. Na fase inicial, a pessoa começa a perceber os primeiros sintomas, como alterações de memória, personalidade e habilidades espaciais e visuais. Na fase moderada, o paciente fica incapaz de aprender e reter informações, apresenta insônia, agitação, dificuldade motora progressiva, dificuldade para comer, incontinência fecal e urinária. Na fase final, o paciente é incapaz de andar, falar e apresenta infecções intercorrentes ficando restrito ao leito (PENTRONILHO et al., 2011). No Alzheimer ocorre a deficiência de neurotransmissores, em que o principal é a ACh, que está envolvida nos processos motores, cognitivos e de memória. Assim, a DA gera a degradação de neurônios diminuindo a atuação da ACh. Essa doença não possui cura, mas seu curso pode ser modificado com o tratamento. Os anticolinesterásicos são utilizados nas fases iniciais e intermediárias do alzheimer, trazendo efeitos positivos na cognição e comportamento, mas não retarda e nem piora a cura. FISOSTIGMINA Consiste em um colinomimético de ação indireta reversível e com ação rápida, que atua melhorando a memória de pacientes com Alzheimer. Por possuir tendência a produzir sintomas de excessiva atividade colinérgica em doses terapêuticas e pela meia-vida curta, teve seu uso restrito. Assim, para superar esse problema, uma formulação oral de liberação controlada e um adesivo para a pele foram desenvolvidos. TACRINA A tacrina foi o primeiro inibidor da AChE introduzido no tratamento do Alzheimer. Possui ação reversível e inespecífica e age melhorando o desempenho cognitivo. Devido aos efeitos adversos importantes, como elevada hepatotoxicidade, alterações no TGI e miopatia, muitos pacientes descontinuam o tratamento. Por isso, esse fármaco não é mais indicado. DONEPEZIL É um inibidor reversível e seletivo da AChE, que possui grande especificidade pelos tecidos cerebrais, atuando pouco em tecidos periféricos. É relativamente bem tolerado, uma vez que não causa hepatotoxicidade, mas pode desencadear efeitos no TGI, insônia, depressão, discinesia, bradicardia e síncope, especialmente em doses de 10mg/dia. A dose de 5mg/dia é a que produz melhor balanço entre eficácia e tolerância. RIVASTIGMINA A rivastigmina é um inibidor “pseudo-irreversível” tanto a AChE quanto a BuChE. Apresenta benefícios na cognição e capacidade de execução de trabalhos e possui como reações adversas náuseas, vômitos, diarreia, anorexia, cefaleia, dor abdominal e tontura, mas apresenta poucos efeitos cardiovasculares. Houve alguma evidência de que os efeitos adversos possam ser menos comuns com doses mais freqüentes e menores de rivastigmina que poderia resultar em um melhor benefício para o perfil de efeitos colaterais. GALANTAMINA É um inibidor seletivo, competitivo e reversível para a AChE com pequena atividade sobre a BuChE. Age modulando receptores colinérgicos nicotínicos e pode aumentar níveis centrais de glutamato e de serotonina. Resultados semelhantes são vistos em outros inibidores de colinesterases. MEMANTINA A memantina, utilizada nas fases moderada e grave do Alzheimer, consiste em um antagonista dos receptores NMDA e age competindo com o glutamato. Assim, como em pessoas com Alzheimer o glutamato está em concentrações elevadas, ele se liga ao receptor permitindo a entrada excessiva de cálcio nas células cerebrais, provocando danos. A memantina, portanto, se liga aos receptores, bloqueando a ação do glutamato, o que impede a entrada de cálcio excessiva. Esse fármaco apresenta benefícios comportamentais menores que os anticolinesterásicos e são eficazes quando estes perdem o efeito. Não há sinergia com os anticolinesterásicos. REFERÊNCIAS • Farmacologia Ilustrada • Katzung • Rang & Dale • Slides do professor Gislei Frota • http://rmct.ime.eb.br/arquivos/RMCT_3_tri_2011/RMCT_067_E5A_11.pdf • https://www.cff.org.br/sistemas/geral/revista/pdf/84/i08-alzheimer.pdf • https://alzheimerportugal.org/pt/text-0-9-35-28- memantina#:~:text=que%20a%20tomam.- ,A%20memantina%20trata%20os%20sintomas%20da%20Doen%C3%A7a%20de%2 0Alzheimer%20e,Doen%C3%A7a%20de%20Alzheimer%20moderadamente%20grav e. Andressa Nogueira Cardoso – Meduece 2025.1
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