Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
PARASITOLOGIA MÉDICA Bruna Pitanga MED 104C LEISHMANIOSE ★ Introdução O objetivo do material é discutirmos as doenças conhecidas como Leishmaniose. Leishmaniose segundo a OMS está entre as 6 doenças mais importantes existentes no planeta; são doenças típicas de países tropical e subtropical e que podem se manifestar de forma bastante agressiva em relação aos seus hospedeiros. Importante informar que as leishmanioses são zoonoses, ou seja, são doenças que afetam seres humanos e uma gama de animais silvestres e domésticos. Em um ambiente doméstico, em relação a animais domésticos, os principais reservatórios das leishmanioses são os cães, esses animais têm que ser constantemente monitorados e tratados para evitar maior disseminação dessa doença. Na realidade, as leishmaniose são doenças de ciclo heteroxênico, ou seja, os parasitos para realizarem o seu ciclo biológico dependem de dois hospedeiros. Os hospedeiros vertebrados, mamíferos, seres humanos e outros animais e hospedeiros invertebrados que são mosquitos chamados de mosquito palha, cujas fêmeas são hematófagas e portanto estão aptas a fazerem a transmissão dos protozoários causadores da leishmanioses. É importante destacar que a OMS considera as leishmanioses como doenças negligenciadas e o número de casos no nosso país vem aumentando de uma forma representativa nos últimos anos. ★ Classificação Taxonômica Reino: Protozoa Filo: Sarcomastigophora (presença de flagelos ou pseudópodes) Subfilo: Mastigophora (com um ou mais flagelos) Classe: Zoomastigophorea Ordem: Kinetoplastida - um ou dois flagelos; no caso desse protozoário do gênero leishmania apenas tem um flagelo, são monoflagelados. Sub-ordem: Trypanosomatina (flagelo livre ou com membrana ondulante); os protozoários do gênero leishmania tem o flagelo livre. Família: Trypanosomatidae (parasitos obrigatórios) - então todos os protozoários dessa família são parasitos obrigatórios. Espécies (que têm interesse médico): ↬ Trypanosoma cruzi - doença de chagas, que também tem um ciclo heteroxênico que são os barbeiros (percevejos) que são os insetos hematofagos transmissores dessa doença e veiculadores desse protozoário responsável; ↬ Leishmania braziliensis - que é o protozoário causador da chamada LTA (Leishmaniose Tegumentar Americana), então é o principal agente etiológico da forma tegumentar da leishmaniose no nosso país; ↬ Leishmania infantum (= Leishmania infantum chagasi) - que é o único agente etiológico responsável pela LVA (Leishmaniose Visceral Americana). Então na realidade existem dois tipos básicos de leishmaniose: a LTA e a LVA. Cabe lembrar que em ambos os casos os ciclos é heteroxênico e envolve a participação de hospedeiros invertebrados que são os mosquitos palha transmissores desses protozoários para os animais vertebrados envolvidos e que tenham o quadro clínico produzido pelas leishmanias. Aqui podemos ver que a Leishmania braziliensis é a principal espécie, a que mais se destaca em relação a casos de Leishmaniose Tegumentar no território nacional, produz a maior parte das formas clínicas da Leishmaniose Tegumentar que são as cutâneas e as mucosas; e existem todas essas espécies no território nacional e que também são capazes de causar Leishmaniose Tegumentar Americana em forma variadas. Leishmania amazonensis, pifanoi e venezuelensis também são formas do protozoário encontrado no 1 PARASITOLOGIA MÉDICA Bruna Pitanga MED 104C território nacional e envolvidas como causa da Leishmaniose Tegumentar Americana. Entretanto, para a Leishmaniose Visceral Americana apenas a Leishmania infantum chagasi ou Leishmania infantum é a responsável pelo quadro clínico. Vamos dar prioridade para a discussão em relação às características morfológicas e biológicas da Leishmania braziliensis e vamos fazer extrapolação em relação às outras espécies na medida em que for necessário. Leishmania braziliensis É uma doença de caráter zoonótico que acomete o homem e diversas espécies de animais silvestres e domésticos, destaque entre os animais domésticos para os cães. Essa Leishmaniose Tegumentar Americana pode se manifestar em quatro formas clínicas, dependendo da espécie de Leishmania envolvida e dependendo de aspectos relacionados ao próprio hospedeiro, inclusive aos seres humanos como estado imunológico, faixa etária etc. Então a primeira forma é a forma cutânea localizada que é caracterizada por lesões ulcerosas, inicialmente indolores - o sujeito não tem nenhum incômodo em relação a processos dolorosos, únicas ou múltiplas. Em geral, na forma cutânea as lesões surgem posicionadas no local onde houve a picada pela fêmea do mosquito, então essas lesões vão aparecer naquele local em que a fêmea do mosquito praticou a hematofagia, essa é a característica da forma cutânea localizada. Existe uma segunda forma que é a forma disseminada em que várias úlceras vão derivar de uma inicial e isso vai acontecer a partir de disseminação hematogênica ou linfática. Então a partir de um ponto de picada por parte da fêmea do mosquito há disseminação da forma do protozoário para produzirem novas lesões mais adiante no tecido cutâneo desse indivíduo. Forma disseminada por ser disseminada hematogênica ou linfática. Forma cutaneomucosa é caracterizada por lesões bastante agressivas que vão se formar na região nasofaríngea, inclusive doença mutiladora, porque se não houver o diagnóstico e o tratamento precoce o indivíduo poderá perder o nariz, será removido pelo processo inflamatório e pela ação do parasito sobre o hospedeiro, processo que vai gerar necrose e também poderá levar ao indivíduo a óbito se a infecção atingir a região faríngea. E a forma difusa com lesões modulares não ulceradas, são nódulos que vão se formar na pele do indivíduo, determinando essa forma clínica que é produzida no Brasil principalmente pela Leishmania amazonensis. As três primeiras formas clínicas são produzidas pela Leishmania braziliensis. Daí estarmos destacando a Leishmania braziliensis como a mais importante espécie causadora de leishmaniose no Brasil, não só por isso, porque ela é mais bem disseminada, propagada pelo território nacional. ★ Morfologia dos protozoários O protozoário apresenta características morfológicas a saber: A primeira coisa que tem que ser dita é o seguinte: não existe forma cística no ciclo de leishmania, não existe cistos, nem na forma tegumentar e nem para os protozoários produtores da forma visceral da leishmaniose, portanto não há forma de resistência. Existem apenas os trofozoítos. Esses trofozoítos, as formas ativas, móveis, que se multiplicam, se alimentam e produzem lesões, são: As formas amastigotas que são destituídas de flagelos, são parasitos intracelulares obrigatórias e vão invadir e se multiplicar em células do sistema fagocitário mononuclear (SFM), nos macrófagos teciduais do indivíduo que será afetado por essa leishmania. Então, ao invés de serem destruídas pelos macrófagos, essas formas amastigotas são capazes de se multiplicar no interior desses macrófagos determinando o quadro clínico derivado dessa invasão que será a forma tegumentar da leishmaniose. 2 PARASITOLOGIA MÉDICA Bruna Pitanga MED 104C Formas promastigotas apresentam flagelos na região anterior do corpo celular. São formas que vão invadir o organismo do hospedeiro vertebrado, do ser humano, e serão inoculadas juntamente com a saliva das fêmeas do mosquito que vão praticar hematofagia no organismo humano. Então essas fêmeas estando infectadas pelo protozoário vão injetar juntamente com a saliva as formas promastigotasdo protozoário. Essa forma promastigota serão especialistas em invadir a células do SFM, ao invadirem essas células essa forma promastigota vão sofrer alteração morfológica e vão originar a forma amastigota, sem flagelos. As formas amastigotas estão adaptadas aos macrófagos e serão capazes de se dividir por divisão binária, se multiplicar por divisão binária no interior desses macrófagos, até que esses macrófagos estejam repletos delas e se rompem, liberando essas formas amastigotas no meio extra-celular. Essas formas amastigotas serão prontamente fagocitadas por outros macrófagos dando continuidade ao ciclo do protozoário no organismo do ser humano. Essa continuidade, essa lise dos macrófagos originará o quadro clínico de leishmaniose tegumentar americana nas suas várias formas clínicas, ou seja, cutânea simples, cutânea disseminada, cutaneomucosa ou cutâneo difusa. As formas paramastigotas estão presentes no trato gastrointestinal do mosquito. Essa forma tem como finalidade manter esses mosquitos parasitados por leishmania enquanto eles viverem. Então são formas que vão se fixar no trato gastrointestinal, no trato digestivo das fêmeas do mosquito e vão se multiplicar continuamente produzindo novas formas paramastigotas e também originando formas promastigotas, que durante a hematofagia, ou seja, quando as fêmeas do mosquito vão se alimentar nos hospedeiros vertebrados, essas formas serão inoculadas no organismo do hospedeiro penetrarão nas células do SFM, se transformarão nas formas amastigotas que vão iniciar a multiplicação nesses macrófagos e vão lisar esses macrófagos dando continuidade ao processo e o aparecimento da sintomatologia. Ocorrendo esses fenômenos o indivíduo terá adquirido a forma tegumentar da leishmaniose. Não só desse jeito, mas também para a forma visceral da leishmaniose é o mesmo, a diferença é que as formas do protozoário da Leishmania braziliensis e dos outros causadores da Leishmaniose Tegumentar Americana vão se multiplicar a nível de tecido cutâneo ou na região nasofaríngea do indivíduo. No caso da Leishmaniose Visceral Americana esses indivíduos amastigotas vão se multiplicar nas células de órgãos internos, como por exemplo nas células de Kupffer no fígado, células da medula óssea hematógena, células de vários órgãos do organismo humano, então ocorre uma visceralização da espécie causadora da Leishmaniose Visceral ao passo que na Leishmaniose Tegumentar as espécies causadoras se multiplicam nos tecidos cutâneos do indivíduo parasitado. Temos aqui a demonstração de um macrófago, podemos ver o seu núcleo, dois fagossomos, no interior dos quais podemos ver uma série de formas amastigotas do protozoário sofrendo divisão binária. Nesta outra imagem podemos ver a quantidade de amastigotas aumentando expressivamente até que todo o citoplasma desse macrófago esteja repleto dessas formas amastigotas e ele se rompe. 3 PARASITOLOGIA MÉDICA Bruna Pitanga MED 104C Quem invadiu esse macrófago inicialmente foi essa forma promastigota (imagem) que apresenta o flagelo na região anterior do corpo celular. Então essa forma promastigota vai ser injetada junto com a saliva da fêmea do mosquito, vai invadir os macrófagos e vai originar essa forma que é a amastigota que no interior dos fagossomos vai se multiplicar violentamente e vai acabar por lisar esses macrófagos. ★ Ciclo biológico Mecanismo de infecção e o ciclo biológico da Leishmaniose Tegumentar, esse ciclo biológico também é válido para a Leishmaniose Visceral, o mecanismo de infecção é bastante parecido; a disseminação do protozoário é diferente - na forma tegumentar os protozoários vão se multiplicar nos macrófagos dos tecidos cutâneos e da região nasofaríngea, também nas mucosas; na forma visceral a maior multiplicação ocorrerá nos macrófagos, nas células do SFM dos órgãos internos, iniciando basicamente pelo fígado nas células de Kupffer e também depois migrando esses amastigotas para outros órgãos e tecidos, como por exemplo os tecidos hemocitopoiéticos do indivíduo onde haverá a multiplicação desses amastigotas que vai potencializar o agravamento da leishmaniose visceral. Vamos ao ciclo: ⇨ O hospedeiro vertebrado recebe as formas infectantes promastigotas quando a fêmea do mosquito vai se alimentar de sangue nesses indivíduos; ⇨ Essas formas promastigotas serão assediadas pelos macrófagos teciduais, os macrófagos da região cutânea que vão fagocitar essas formas infectantes - promastigotas; ⇨ No interior dos fagossomos os promastigotas mudam para amastigotas que são adaptados aos macrófagos - os amastigotas passam a se multiplicar por divisão binária; ⇨ A quantidade deles aumenta violentamente, exponencialmente no interior dos macrófagos que se rompem e liberam essas formas amastigotas no meio extracelular. ⇨ Parte dessas formas amastigotas vão ser incorporadas por novos macrófagos e parte delas quando as fêmeas do mosquito forem praticar a hematofagia no indivíduo parasitado por leishmania, parte dessas formas amastigotas serão interiorizadas pela fêmea do mosquito. ⇨ No trato gastrointestinal do mosquito essas formas se tornarão promastigotas iniciais; ⇨ Chegando ao intestino do mosquito, essas formas promastigotas vão se transformar em paramastigotas que serão aquelas fontes permanentes de leishmania no organismo da fêmea do mosquito, então enquanto ela viver vai produzir novas formas paramastigotas; ⇨ A partir dessas formas paramastigotas por divisão binária e diferenciação celular produzir formas promastigotas metacíclicas, essas são as formas infectantes que vão chegar até as glândulas salivares das fêmeas do mosquito e quando a fêmea do mosquito for praticar hematofagia serão injetadas juntamente com a saliva no local da picada e o processo se reinicia. 4 PARASITOLOGIA MÉDICA Bruna Pitanga MED 104C ● Reprodução em macrófagos Aqui mostrando uma forma amastigota dentro de um fagossomo em sua forma inicial. Nesta outra imagem a multiplicação ampla dessa forma amastigota nos fagossomos, potencializando a lise dos macrófagos e a liberação dessas formas no meio extracelular. Esse é o processo patogênico que vai ser gerado, o protozoário vai fazer essa ação espoliativa sobre os macrófagos, vai se apropriar de nutrientes e vai realizar a sua reprodução e isso vai determinar um poderoso processo inflamatório que culminará com a necrose de tecidos e abertura daquelas lesões ulcerosas ou lesões modulares, conforme seja a espécie de leishmania e a forma clínica da doença. ↬ As leishmanias têm por habitat os vacúolos digestivos de células do sistema fagocítico mononuclear onde se multiplicam sob a forma amastigota. ● Ciclo biológico no invertebrado ⇨ No hospedeiro invertebrado os macrófagos com amastigotas são ingeridos pela fêmea do mosquito; ⇨ Por divisão binária as amastigotas se transformam em promastigotas; ⇨ Os promastigotas no estômago e no intestino vão dar paramastigotas; ⇨ Paramastigotas vão dar novos promastigotas metacíclicas; ⇨ Esses promastigotas metacíclicas que vão migrar para a faringe do mosquito, para a probóscida e serão eliminados juntamente com a saliva do mosquito. O mosquito transmissor é chamado de birigui ou mosquito palha, são mosquitos pequenos, tem em torno de 2 mm de comprimento e se criam tipicamente em solo úmido e rico em matéria orgânica e área sombreada. Daí os grupos de maior risco para a leishmaniose seriam aqueles que vivem próximos a áreas florestadas ou áreas de mata. É importante destacar que esses mosquitos vem se urbanizando e vem trazendo o problema da leishmaniose para as zonas urbanas. Esses mosquitos pertencem a uma família chamada psychodidae, subfamília flebotomíneo e o gênero Lutzomyia, então o mosquito palha é conhecidocomo Lutzomyia. Os machos desses mosquitos são fitófagos, se alimentam de vegetais; já as fêmeas são hematófagas, sendo as únicas capazes de transmitir a leishmaniose. ↬ Os transmissores são insetos dípteros da subfamília Phlebotominae e do gênero Lutzomyia. ↬ Os flebotomíneos infectam-se quando sugam o sangue de pessoas ou animais parasitados; e passam a transmitir na próxima hematofagia. ↬ Uma vez infectada a fêmea do mosquito estará infectada para o resto da vida dela. Esses mosquitos vivem em torno de 30/40 até 50 dias e nesse período poderão transmitir leishmaniose a vários hospedeiros. ↬ No intestino do inseto, a multiplicação sob a forma promastigota é intensa; mormente se, depois, esse inseto fizer um repasto com sucos de planta. ↬ Dias depois, ao picar novamente, esses flebotomíneos inoculam seus parasitos (as formas promastigotas metacíclicas) as pessoas, que, se forem suscetíveis, contraem a leishmaniose visceral. 5 PARASITOLOGIA MÉDICA Bruna Pitanga MED 104C Temos aqui a imagem do mosquito que tem essa cor de palha; nessa imagem temos a representação de uma fêmea praticando hematofagia, podemos ver seu abdômen repleto de sangue; as asas lanceoladas, lembrando lanças caracteristicamente; e a coloração palha do mosquito; com pernas extremamente longas e as asas desproporcionalmente pequenas em relação ao tamanho do mosquito; não é um mosquito que voe muito bem; voa pequenas distâncias; o raio de ação desses mosquitos costuma ser de no máximo 500 m do local de onde ele se criou como larva, no solo úmido, rico em matéria orgânica. Aqui detalhes que favorecem a transmissão não só da leishmaniose tegumentar como a visceral; O indivíduo que entra na mata à noite para caçar, sem estar paramentado, sem estar protegido ou parte do corpo/pele exposta aos mosquitos permitem esse assédio; o mosquito sugando o sangue de vários animais domésticos e silvestres que podem portar a leishmania, serão capazes de veicular a doença para os seres humanos. Da mesma forma que o ser humano infectado sendo sugado pelas fêmeas do mosquito poderão transmitir os protozoários para esses mosquitos que por sua vez vão levar aos animais silvestres. Então podemos ver aqui um ciclo zoonótico tipicamente. Durante o dia ou durante a noite, os hábitos do mosquito são no fim da tarde e noite inteira até o início da manhã costumam ser mais ativos e praticar hematofagia. As fontes luminosas são importantes atrativos para as fêmeas do mosquito. Assim como, a temperatura corporal do hospedeiro e também o quimiotropismo, o gás carbônico exalado e os feromônios atraem os mosquitos para os hospedeiros vertebrados, mamíferos, as fêmeas vão buscar hematofagia; estando infectados transmitem a doença. Aqui mais um exemplo: o solo úmido rico em matéria orgânica, na imagem temos um rio, a beira do rio temos matéria orgânica em quantidade suficiente; as fêmeas põem ovos por ali, isso se torna um criadouro de mosquitos; tão logo esses mosquitos se tornem adultos, as fêmeas vão praticar hematofagia podendo sugar o sangue de animais parasitados e transmitir no ciclo enzoótico, entre apenas animais, ou praticar a zoonose, transmitir para seres humanos; na imagem o homem foi pescar sem camisa, desprotegido para o assédio dos mosquitos. Aqui uma cena bem peculiar que tem muito a ver com a leishmaniose: uma área devastada de mata com uma construção de uma casa e anexos (galinheiro/chiqueiros/currais - todos esses são potenciais abrigos para o mosquito e fontes de sangue) e temos uma mulher lavando roupa na beira do rio, os mosquitos se criam na beira dessa lagoa/coleção de água e todos esses animais poderão ser assediados pelo mosquito. Aqui temos o principal reservatório silvestre da leishmaniose que é a raposa, que vem ao rio beber água, sugada pelas fêmeas do mosquito. Essa transmissão pode se dá da leishmania que saiu para a raposa para o cachorro e do cachorro para os membros da família, também os bovinos, os equinos, enfim uma gama de animais (roedores, marsupiais, tatus) poderão ter leishmaniose. 6 PARASITOLOGIA MÉDICA Bruna Pitanga MED 104C ● Para recordar ⇨ Forma cutânea: lesões ulcerosas, indolores, múltiplas ou únicas. As lesões só passam a ser doloridas quando há infecções secundárias. ⇨ Forma cutaneomucosas: lesões agressivas que afetam a região nasofaríngea. ⇨ Forma disseminada: quando a partir de uma úlcera surgem várias por disseminação hematogênica ou linfática. ⇨ Formas difusas: lesões modulares não ulceradas. A principal espécie de Lutzomyia transmissora de Leishmaniose Tegumentar Americana é o Lutzomyia intermedia (hospedeiro invertebrado) onde há a presença dessa espécie de mosquito a chance de transmissão de leishmaniose é maior; há várias outras espécies dentro do gênero Lutzomyia, mas essa é a mais importante transmissora de Leishmaniose Tegumentar Americana no Brasil. E os vários animais que podem ser reservatórios e também ter o quadro clínico de leishmaniose, incluindo o ser humano. A doença leishmaniose é tipicamente silvestre que afeta populações humanas que vivem nesse ambiente, mas que vem afetando as zonas rurais e principalmente as zonas urbanas por causa do avanço desenfreado e do desequilíbrio ecológico. ↬ Hospedeiro vertebrado: roedores, endentados (tatu, tamanduá, preguiça), marsupiais (gambá), canídeos (raposa e cães) e primatas (incluindo o homem) ★ Forma clínica Leishmaniose cutânea simples ↬ Leishmania braziliensis - é o principal agente etiológico que provoca lesão típica da leishmaniose chamada úlcera-de-Bauru, ferida brava, ferida seca ou bouba; a maior parte dos indivíduos que tem leishmaniose tem essa forma clínica da Leishmaniose Tegumentar Americana. ↬ Leishmania guyanensis - (lesões conhecidas por pian bois) produz uma lesão única do tipo “cratera de lua”, e essa pode se disseminar dando úlceras similares pelo resto do corpo as chamadas metástases linfáticas. Então tanto a braziliensis quanto a guyanensis podem produzir a forma cutânea simples e a cutânea disseminada, mas a cutaneomucosas é produzida pela forma de Leishmania braziliensis. Então a Leishmania braziliensis produz a cutânea simples, a cutânea disseminada e a cutaneomucosas. A guyanensis provoca a cutânea simples e disseminada. ↬ Leishmania amazonensis - é a principal envolvida na transmissão da forma caracterizada pela forma difusa da leishmaniose; é a principal responsável por esse quadro clínico. Pode haver lesões ulceradas simples e limitada por ela (contendo numerosos parasitos nos bordos das lesões), mas não é um parasito muito comum no ser humano, sendo incriminada como causadora de leishmaniose difusa. ● Patologia Na área do tecido cutâneo, do tegumento onde se processa a ação parasitária inicia-se o processo inflamatório caracterizado por: ↬Hiperplasia histiocitária ↬ Edema infiltrado celular com vários granulócitos, células do SFM ↬ Vai haver a hipertrofia do epitélio nesse local Posteriormente a inflamação evolui para a necrose formando uma úlcera rasa e posteriormente uma ulceração profunda. A característica interessante é que os bordos dessas lesões são salientes/altos e fundo da úlcera, em geral, é granuloso e limpo, mas com infecções bacterianas secundárias eles se tornam purulentos e aí a purulência e esse quadro secundário por invasão bacteriana vão determinar que essa lesão que antes era indolor se torne uma lesão bastante dolorosa e incômoda para o hospedeiro. Na imagem (abaixo) está mostrando os estágios das lesões: 7 PARASITOLOGIA MÉDICA Bruna Pitanga MED 104C ⇨ Inicial - infiltrado demacófagos com inúmeros parasitos - edema - a epiderme está intacta; ⇨ Posteriormente ulceração inicial - ulceração superficial com forte de infiltrados de macrófagos, linfocitos e numerosos parasitos; ⇨ Depois uma úlcera estabilizada e uma lesão satélite já por disseminação dos parasitos para outra porção. Essa disseminação pode não estar relacionada a via hematogênica ou linfática tão próximas assim, os próprios macrófagos podem migrar e trazer para outros pontos desse tecido cutâneo com proximidade a tendência é que essas lesões se fusionem posteriormente, formando lesões maiores. Então o processo inflamatório ativo na periferia das lesões satélites, poucos parasitos. ⇨ Posteriormente a lesão cicatrizada com tratamento; com o desaparecimento a epiderme vai ficar fina e vai haver uma fibrose dérmica, um tecido endurado com a ausência do parasito. ⇨ Leishmaniose cutânea simples - imagens ⇨ picada do mosquito no rosto dessa moça ⇨ inicia-se com uma ferida ⇨ sobre essa ferida de bordos altos se forma uma casquinha que posteriormente cai Temos aqui outra menina e a lesão ulcerosa ou traumática estará maior posteriormente. Aqui uma lesão típica de bordos altos, onde há multiplicação de parasitos está ocorrendo nessa borda da lesão; aqui ainda não há processo infeccioso, portanto não é uma lesão dolorosa; o sujeito tentou cobrir a lesão com esparadrapo e isso de nada vai resolver, mesmo tratando com antisépticos e cicatrizantes isso não vai resolver, é preciso um tratamento específico. Aqui temos as lesões de bordos altos, caracteristicamente; duas lesões: uma lesão satélite e uma lesão inicial as duas se fusionaram, uma grande lesão, é uma doença mutiladora; e bastante purulentas, então essas lesões são bastante dolorosas e essas característica circunscrita com esses bordos altos dirige bem para o diagnóstico. Aqui um detalhe de uma lesão purulenta e vejam como os bordos estão bastante altos nessas lesões. Leishmaniose cutaneomucosas Na imagem temos as formas promastigotas do protozoário que são injetadas pela fêmea do mosquito, multiplicação e migração via hematogênica ou linfática para a região nasofaríngea e aí o desenvolvimento do quadro clínico que é caracterizado por Leishmania braziliensis determinando um quadro clínico chamada de nariz de tapir ou focinho de anta (espúndia). A principal ação é inflamatória. A primeira coisa que desaparece é o septo nasal do indivíduo e posteriormente pode ser afetado a região do palato, e gengivas, osso alveolar com quedas de 8 PARASITOLOGIA MÉDICA Bruna Pitanga MED 104C dente etc e a região do nariz sendo totalmente removida. Lesões bastante graves e agressivas. Leishmaniose cutânea difusa (LCD) Na forma difusa, a Leishmania amazonensis é o principal relacionado a esse quadro clínico. Em geral, a leishmaniose cutânea difusa que é caracterizada por lesões modulares que podem ser confundidas com outras doenças, inclusive com a hanseníase, é importante se fazer um diagnóstico diferencial para ver se é leishmaniose mesmo. A gente observa que a Leishmania amazonensis é o principal agente etiológico e normalmente está associada a essa forma difusa em indivíduos imunodeficientes. ↬ Caracteriza-se pela formação de lesões difusas não ulceradas por toda a pele, contendo grande número de amastigotas. A LCD está estreitamente associada a um deficiência imunológica do paciente. Podemos observar que a lesão se espalha por todo o corpo; mecanismo de infecção é a picada do mosquito Lutzomyia. ★ Tratamento O tratamento é feito com: ↬ Antimoniais trivalentes - dos quais o mais recomendado é a glucantime ou antimoniato de meglumine, por via intramuscular. Taxa de cura em torno de 70%. ↬ Pentamidinas - menos eficazes e mais tóxicas que glucantime, como 2ª opção, via intramuscular; porém são indicadas na infecção por L.guianensis. ↬ Anfotericina B - administrada gota a gota, por via intravenosa. ↬ Azitromicina - nova droga, por via oral, sem efeitos colaterais e capaz de curar 85% dos casos. Quase todos os pacientes apresentam reações colaterais com tais medicamentos, como cefaléia, artralgias, mialgias e, em alguns casos, depressão da medula óssea; exceto com a azitromicina. É importante observar se o paciente vai reagir bem à azitromicina ou se vai necessitar de tratamento com outros medicamentos. Não há método seguro para o controle de cura, que exige repetidos testes diagnósticos (PCR, imunofluorescência etc). Continuamente para ver se o indivíduo está livre dessas lesões. As lesões mucosas podem ressurgir tempos depois da “cura” dos processos cutâneos. Em alguns casos, aparentemente curados, podem ocorrer recidivas. ★ Diagnóstico Diagnóstico clínico: é feito com base na anamnese e na característica da lesão. Diagnóstico laboratorial: ↬ Pesquisa do parasito - Material obtido da lesão: ⇨ Pode fazer exame direto de esfregaços corados - então remove da borda da lesão parte desse tecido; colhe o material; monta lâmina e vai observar o exame direto. ⇨ Exame histopatológico - fragmento de pele obtido pela biópsia é submetido à técnicas histológicas. O encontro de amastigotas (no interior dos macrófagos) ou de um infiltrado inflamatório compatível pode definir ou sugerir o diagnóstico. ⇨ Cultura - cultura do fragmento do tecido - meio NNN que é um meio que favorece a multiplicação dos amastigotas de leishmania que vai permitir uma maior visualização. ● Métodos imunológicos 1. Resposta celular Teste de Montenegro - teste imunológico mais utilizado no Brasil. Sua sensibilidade varia entre 82,4% e 100%. O teste consiste no inóculo de 0,1 ml de antígeno intradermicamente na face interna do braço. Interpretação dos resultados. - Na forma cutânea simples da LTA, a reação inflamatória pode variar de acordo com a evolução da doença, sendo maior nas úlceras crônicas. - Na forma mucosa da LTA, reação inflamatória intensa: flictemas e necrose. - Na forma difusa a resposta é usualmente negativa, porque é um método imunológico de resposta celular; se o indivíduo é 9 PARASITOLOGIA MÉDICA Bruna Pitanga MED 104C imunodeprimido não dará resposta a contento. - Em pacientes tratados, instala-se uma imunidade celular duradoura, permanecendo teste positivo durante muitos anos e, em alguns casos indefinidamente. 2. Resposta Humoral: Reação de imunofluorescência indireta (RIFI) ★ Profilaxia Medidas de profilaxia para Leishmaniose Tegumentar: ⇨ Tratar os indivíduos parasitados; ⇨ Combater os mosquitos ⇨ Combater os criadouros dos mosquitos ⇨ Identificar, mesmos os indivíduos que potencialmente estejam assintomáticos para o quadro clínico ⇨ Identificar e tratar os animais domésticos que estejam parasitados por leishmania; isolar esses animais também é uma medida bastante prudente. Referências: NEVES, Davi Pereira. Parasitologia humana. 13ªed. São Paulo: Atheneu, 2016, Capítulo 8 REY, Luís. Bases da parasitologia médica. 3ªed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2015, Capítulo 5 ★ Introdução O objetivo é descrever em linhas gerais o quadro clínico conhecido como Leishmaniose Visceral Americana. Também uma doença típica de países de clima tropical e subtropical, mais uma vez considerada pela OMS como uma das 6 maiores endemias do planeta e também considerada como uma doença negligenciada. Sobretudo a Leishmaniose Visceral Americana no Brasil vem tendo um acréscimo do seu número de casos, bastante expressivo; principalmente entre cães de zonas urbanas e periurbanas, e, obviamente, com essa possibilidade dos cães serem hospedeiros , conforme falamos para Leishmaniose Tegumentar, a Leishmaniose Visceral também é uma zoonose. A disseminação entre seres humanos vem crescendo e a característica fundamental da Leishmaniose Visceral é que é uma doençamuito mais agressiva porque o protozoário invade órgãos internos, determinando um quadro clínico crônico que pode ser muito grave e potencializar o óbito dos hospedeiros, caso não haja um diagnóstico precoce e um tratamento eficiente. ★ Definição Então, definindo a Leishmaniose Visceral Americana é uma enfermidade infecciosa, generalizada, mais uma vez se trata de uma zoonose, é crônica, é caracterizada pelos quadros clínicos: febre irregular e de longa duração (por causa do ciclo migratório desses protozoários via corrente circulatória do hospedeiro, em coletas de sangue podem ser encontrados livres em meio a corrente sanguínea na forma amastigota), hepatoesplenomegalia (está muito relacionada a ação dos parasitos em relação ao fígado ao baço, mas principalmente a multiplicação das formas amastigotas do protozoário nas células de Kupffer, células hepáticas, e determinação de lesões no fígado que acabam também afetando por conta do sistema porta-hepático o baço - sendo um traço dessa doença), pancitopenia (porque os protozoário vão invadir as células do SFM, vão se interiorizar no organismo e posteriormente esses protozoários vão invadir a medula óssea hematógena determinando essa pancitopenia, redução das taxas globais de células sanguíneas; isso vai gerar uma série de repercussões negativas para o hospedeiro e potencializar o seu óbito.) - esses quadros clínicos são encontrados na Leishmaniose Visceral de uma forma geral. Além desses quadros típicos existe a linfadenopatia, anemia com leucemia (quadro clínico muito relacionado a Leishmaniose Visceral Americana pela depleção ou redução da taxa de células do sangue, incluindo-se hemácias), hipergamaglobulinemia (por conta da resposta imunológica que potencialmente é poderosa contra a presença dos protozoários) e hipoalbuminemia, emagrecimento, edema e estado de debilidade progressivo levando à caquexia (perda de peso demasiada pelo paciente) e, finalmente a óbito se o paciente não for submetido ao tratamento específico. 10 PARASITOLOGIA MÉDICA Bruna Pitanga MED 104C Essa doença é conhecida na Índia, onde há muitos casos dela, como “Kala-azar”, esse termo significa doença mortífera. Então, já sabemos que se trata de uma doença, crônica, sistêmica e que vai gerar prejuízos ainda muito maiores do que a Leishmaniose Tegumentar Americana nos hospedeiros. Essa visceralização dos protozoários trazem esses transtornos. ★ Agente etiológico O agente etiológico aqui no Brasil é a Leishmania infantum chagasi ou Leishmania infantum e esse infantum tem relação com faixa etária, crianças são muito afetadas pela Leishmaniose Visceral de uma forma muito grave, então em geral, as crianças desenvolvem quadros clínicos mais graves. Na forma Tegumentar da Leishmaniose, isso também é verdade para a forma Visceral os homens são mais afetados do que as mulheres, porque mais uma vez a transmissão da doença se dá através das picadas das fêmeas do mosquito. Essas fêmeas vivem em áreas florestadas e se criam, suas larvas, em solo úmido e rico em húmus, rico em matéria orgânica nas florestas. Então pelo ingresso constante de indivíduos do sexo masculino a mata para buscar lenha ou para caçar ou outras atividades a probabilidade de homens adquirir a doença é maior; isso não quer dizer que as mulheres não podem ter a doença e o quadro clínico grave, seja da Leishmaniose Visceral ou Tegumentar, mas homens são mais afetados, é um dado epidemiológico. ★ Aspectos biológicos - o ciclo do parasito é basicamente o mesmo, você vai ter as formas amastigotas, promastigotas e paramastígotas, essas duas últimas presentes dentro do organismo da fêmea do mosquito; promastigotas metacíclicos invadem o organismo do hospedeiro vertebrado; é importante destacar que a Leishmaniose Visceral é uma zoonose que nem a tegumentar, então vários animais vertebrados e mamíferos tem a forma visceral da doença, os cães são os principais reservatórios; e essas formas amastigotas vão se multiplicar avidamente, depois da invasão dos promastigotas e sendo fagocitados pelos macrófagos, se tornam amastigotas que vão se multiplicar inicialmente nos tecidos cutâneos do indivíduo e posteriormente no interior das células parasitadas, essas que ingressam na corrente circulatória vindas do conjuntivo do tecido subcutâneo, elas vão atingir essas formas amastigotas nos macrófagos das células do SFM dos órgãos internos iniciando-se a infecção pelo fígado. - A transmissão acontece pelo mosquito Lutzomyia longipalpis é a principal espécie, mais representativa; esse mosquito produz uma saliva com vasodilatador muito importante que é o maxadilan, inclusive é uma facilitador da invasão da Leishmania em relação ao organismo do hospedeiro, inclusive para impedir a resposta imunológica, na realidade é impedida por outras enzimas da saliva; essa vasodilatação favorece a invasão das formas amastigotas aos vasos sanguíneos e vai favorecer a dispersão/disseminação do protozoário no organismo do hospedeiro. Tudo isso está presente na saliva do Lutzomyia longipalpis, esse maxadilan vem sendo estudado para uso inclusive em medicina produzido pela fêmea dos mosquitos palhas que são transmissores da leishmaniose. ★ Ciclo biológico ● Ciclo no hospedeiro vertebrado: O ciclo biológico é o mesmo: ⇨ O hospedeiro vertebrado recebe as formas infectantes promastigotas quando a fêmea do mosquito vai se alimentar de sangue nesses indivíduos; ⇨ Essas formas promastigotas serão fagocitadas pelos macrófagos, os promastigotas metacíclicos se transformam em amastigotas adaptados aos macrófagos; ⇨ Os amastigotas passam a se multiplicar por divisão binária no interior dos macrófagos; ⇨ São liberados e vão invadir outros macrófagos e outras células; células que vão ter a possibilidade de abandonar o conjuntivo e cair na corrente circulatória e vão carrear com elas essas indivíduos 11 PARASITOLOGIA MÉDICA Bruna Pitanga MED 104C amastigotas que vão passar a se multiplicar avidamente nas células do SFM dos órgãos internos do hospedeiro. ⇨ Entretanto a fêmea do mosquito ao se alimentar de sangue do indivíduo com Leishmaniose Visceral vai sugar as formas amastigotas que estão presentes no sangue desse indivíduo; ⇨ No trato gastrointestinal do mosquito essas formas se tornarão promastigotas iniciais; ⇨ Chegando ao intestino do mosquito, essas formas promastigotas vão se transformar em paramastigotas que serão aquelas fontes permanentes de leishmania no organismo da fêmea do mosquito, então enquanto ela viver vai produzir novas formas paramastigotas; ⇨ A partir dessas formas paramastigotas por divisão binária e diferenciação celular produzir formas promastigotas metacíclicas, essas são as formas infectantes que vão chegar até as glândulas salivares das fêmeas do mosquito e quando a fêmea do mosquito for praticar hematofagia serão injetadas juntamente com a saliva no local da picada e o processo se reinicia. ● Ciclo no hospedeiro invertebrado: ⇨ No hospedeiro invertebrado os macrófagos com amastigotas são ingeridos pela fêmea do mosquito; ⇨ Por divisão binária as amastigotas se transformam em promastigotas; ⇨ Os promastigotas no estômago e no intestino vão dar paramastigotas; ⇨ Paramastigotas vão dar novos promastigotas metacíclicas; ⇨ Esses promastigotas metacíclicas que vão migrar para a faringe do mosquito, para a probóscida e serão eliminados juntamente com a saliva do mosquito. Aqui temos uma imagem da célula de Kupffer claramente abarrotada de formas amastigotas do protozoário. Sob a forma de amastigotas, os parasitos crescem sobretudo nas células de Kupffer do fígado e nas do sistema fagocítico mononuclear (SFM) do baço, da medula óssea e dos linfonodos, dessa forma se espalham por todo o organismo. Tambémcrescem nos pulmões, nos rins, nas supra-renais, nos intestinos e na pele. Podem haver crises diarreicas relacionadas ao protozoário por conta da presença dele no intestino, mas não haverá eliminação de formas do protozoário nas fezes; leishmanias não formam cistos. Assim como acontece na Leishmaniose Tegumentar que é produzida principalmente pela Leishmania braziliensis, a Leishmania infantum chagasi e nenhum protozoário do gênero Leishmania é capaz de produzir cistos, então não vai encontrar cistos nas fezes mesmo que o indivíduo tenha uma sintomatologia intestinal. Essas lesões vão ser a nível de mucosa intestinal e das células do SFM que estão sendo destruídas. As células hospedeiras destruídas permitem a disseminação dos parasitos, que podem ser vistos circulando no sangue, inclusive no interior de monócitos. As formas amastigotas invadindo o interior desses monócitos vão ser dispersadas pelo organismo e vão invadir os vários tecidos dos vários órgãos do corpo do hospedeiro. 12 PARASITOLOGIA MÉDICA Bruna Pitanga MED 104C ★ Infecção Aqui temos um esqueminha bem interessante, onde temos: o mosquito praticando a hematofagia, inoculando as formas promastigotas do parasito que invadem os macrófagos, inicialmente no tecido cutâneo, posteriormente caem na corrente circulatória e vão se espalhar pelo fígado, medula óssea, rim, ovários, pulmões, testículos, cérebro, intestino, baço, linfonodos, via corrente circulatória e a multiplicação sempre nas células do SFM desses órgãos. ★ Mecanismos de Transmissão Os mecanismos da Leishmaniose Visceral Americana em relação à transmissão são diferentes. Enquanto na Leishmaniose Tegumentar Americana o mecanismo de transmissão se dá através da picada da fêmea do mosquito infectadas, além da transmissão por esse processo que é o mais comum na transmissão de Leishmaniose Visceral existam outros mecanismos, como: ↬ A contaminação com sangue de indivíduos parasitados em acidentes de laboratório, onde se colhe o sangue do indivíduo para análise e outro indivíduo que está entra em contato com esse sangue através de uma seringa contaminada ou agulha contaminada e pode contrair a leishmaniose. ↬ Transfusão sanguínea, nos bancos de sangue tem que se fazer teste para leishmaniose visceral, porque os amastigotas podem ser dispersados através da corrente circulatória e livre, então pode ter através da transfusão de sangue a passagem do quadro clínico de um indivíduo para outro. ↬ Uso de drogas injetáveis, como o compartilhamento de seringas e agulhas, também já foi apontado. ↬ Transfusão congênita - células do SFM que tenham os amastigotas podem cair na circulação fetal atravessando a barreira placentária e determinando a leishmaniose no indivíduo seja por essa via ou entrando em contato com o sangue materno, da mãe, que tenha leishmaniose no momento do parto pode infectar o indivíduo. ★ Patogenia A patogenia do parasito é basicamente a mesma. É um parasito de células do sistema mononuclear fagocitário (SMF). As formas amastigotas se multiplicam rapidamente dentro dos macrófagos teciduais no sítio da picada e posteriormente se visceralizam. Obs.: Porque a Leishmania braziliensis não se visceraliza e a Leishmania infantum chagasi se visceraliza? Alguns pesquisadores apontam dados bem interessantes, parece que há uma relação com a temperatura. A temperatura superficial do organismo é diferente da temperatura dos órgãos internos em cerca de 0,5ºC. Então, avalia-se que essa mudança de 0,5ºC seja letal para a Leishmania braziliensis, mas seja fundamental para a multiplicação da Leishmania infantum chagasi e ela só consegue se desenvolver invadindo os órgãos internos do indivíduo. Uma das características apontadas pelos pesquisadores é essa diferença de temperatura. O período de incubação varia de 2 a 7 meses para o surgimento dos primeiros sintomas na Leishmaniose Visceral. É importante destacar uma situação bastante importante é que existem indivíduos assintomáticos para a Leishmaniose Visceral sobretudo em áreas hiperendêmicas, em que há muito casos em que o indivíduo repete o quadro clínico muitas vezes. É de fundamental importância que você tenha essa informação em mente. O que vai acontecer na Leishmaniose Visceral Americana é basicamente o que acontece na Leishmaniose Tegumentar só que a nível de órgãos internos, então: ↬ Vai haver a hipertrofia e a hiperplasia do sistema macrofágico das vísceras, havendo hepatoesplenomegalia, bem como alterações da 13 PARASITOLOGIA MÉDICA Bruna Pitanga MED 104C medula óssea hematógena pela multiplicação dos parasitos. ↬ Os histiócitos se transformam nesses locais em extenso campo de proliferação de amastigotas. ↬ O baço aumenta de volume, a cápsula se torna espessa, a polpa mostra predominância de macrófagos com consequente contração da circulação dos capilares e congestão do órgão havendo o aumento do baço, hepatoesplenomegalia e posteriormente a distribuição desses amastigotas para várias partes do corpo, inclusive atingindo a medula óssea hematógena, rins, pulmões, intestinos. Nesta imagem podemos ver um quadro clínico típico: visão externa do indivíduo com hepatoesplenomegalia evidenciada, tem que se fazer diagnóstico diferencial para esquistossomose, porque esse quadro clínico de hepatoesplenomegalia é comum às duas doenças a Leishmaniose Visceral e também a Esquistossomose. Em crianças o quadro pode ser mais grave, com estado de edema generalizado, principalmente nas extremidades, então você tem os pés edemaciados e as mãos; estado de caquexia, o abdome bastante distendido, vai ter ascite ou barriga d’água e essa hepatoesplenomegalia bastante pronunciada. ★ Alterações Fisiológicas e Histopatológicas ⇨ Alterações Esplênicas - hiperplasia e hipertrofia das células do SFM → esplenomegalia ⇨ Alterações Hepáticas - hiperplasia das células do SFM e dilatação dos sinusóides; levando a hepatomegalia ⇨ Alterações no Tecido Hemocitopoiético - hiperplasia do setor histiocitário e formador de sangue ⇨ Alterações Renais - relacionada à presença de imunocomplexos circulantes (hipergamaglobulinemia); os rins serão lesados por conta dos imunocomplexos abundantes na corrente circulatória desse indivíduo, uma resposta imunológica a presença dos protozoários. ⇨ Alterações Pulmonares - pneumonia intersticial associada a infecções secundárias - broncopneumonia - óbito ⇨ Alterações nos Linfonodos - infartamento ⇨ Alterações no Tubo Digestivo - edema e alongamento das vilosidades do jejuno e íleo; reduzindo a capacidade de absorção intestinal e potencializando quadros diarreicos e eventualmente cólicas intestinais ⇨ Alterações Cutâneas - leishmaniose dérmica pós-calazar; queda de cabelos; surgem lesões na pele oriundas da Leishmania infantum chagasi poderá chegar aos tecidos cutâneo, mas fará essa migração a partir dos órgãos internos e atingirá os tecidos cutâneos via corrente circulatória. A essa altura, nessas alterações cutâneas, você pode ter queda de cabelos, que é bem característico dessa fase da leishmania. ★ Formas clínicas da Leishmaniose Visceral ⇨ Forma Assintomática: está forma é comum na maioria dos indivíduos endêmicos, em que a doença se manifesta continuamente ⇨ Forma Oligossintomática ou Subclínica: é a forma mais frequente da doença. Sintomatologia inespecífica: febre baixa recorrente, tosse seca, diarréia, sudorese, prostração. É preciso fazer exames imunológicos e outros exames, como eventualmente biópsias para se chegar a uma conclusão que seja Leishmaniose, porque esse quadro clínico pode ser qualquer outro. ⇨ Forma aguda: forma semelhante à septicemia e caracterizada por diarréias, febre alta e tosse. Também há que se fazer diagnóstico diferencial para outras doenças.⇨ Forma Sintomática, Crônica ou Calazar Clássico (que é a Leishmaniose Visceral clássica e grave): ↬ Febre irregular; ↬ Emagrecimento (desnutrição e caquexia) 14 PARASITOLOGIA MÉDICA Bruna Pitanga MED 104C ↬ Hepatoesplenomegalia - ascite e edema generalizado ↬ Pancitopenia ↬Dispnéia, cefaléia, dores musculares ↬ Perturbações digestivas e até retardo na puberdade (em alguns casos), por conta da ação dos protozoários nas células do SFM, inclusive dos órgãos reprodutores, como também das glândulas etc, haverá a presença desses protozoários não só nas glândulas como nos órgãos reprodutores, também estarão presentes nos ovários e eventualmente nos testículos e afetando essas glândulas, afetando a produção de hormônios haverá retardo nessa puberdade. ★ Sintomas Os sintomas clássicos e a frequência deles: ● Febre → 98-100% dos casos ● Esplenomegalia → 98-100% dos casos ● Hepatomegalia → 90-100% dos casos ● Linfoadenopatia → 30-50% dos casos ● Diarréia → 15-35% dos casos ● Palidez → 35-70% dos casos (pode estar relacionado a anemia) ● Adinamia → 80-100% dos casos ● Epistaxes → 15-30% dos casos ● Petéquias → 20% dos casos ● Icterícia → 5% dos casos Complicações ● Pneumonia e broncopneumonia. ● A tuberculose pode ocorrer. ● Diarréia e disenteria ocorrem com frequência. ● Otite média, gengivite, estomatite e cancrum cris também ocorrem. ● Infecções concomitantes por Plasmodium ou Schistosoma também têm sido encontradas associadas ao calazar. Superposição destas endemias. ● Aidético e Portadores de HIV-leishmaniose é considerada infecção oportunista. ★ Animais reservatórios do calazar No Brasil, os cães são os principais reservatórios da doença, que tem caráter endemo-epidêmico. A foto mostra um cão calazarento (de Sobral, CE) com áreas glabras e úlceras disseminadas pela pele (rica em leishmanias). As unhas longas em fase avançada da doença. Outros sintomas são diarréia e caquexia. Canídeos silvestres participam também da transmissão, além de, eventualmente, outros mamíferos. No Nordeste, foi identificada a raposa (Lycalopex vetulus) como um dos reservatórios (foto B, segundo L.M.Deane) ★ Epidemiologia do calazar no Brasil (Rev. 2015) Nesta imagem uma área muito favorável para a transmissão de Leishmaniose, não só da Tegumentar como também a Visceral. Essas casas feita de palafitas, o rio sobre, tem uma área de mata, o solo umedecido é criadouro do mosquito, os animais silvestre estão muito próximos e podem conter o protozoário favorecendo a permanência desses mosquitos e a presença dos mosquitos que são do gênero Lutzomyia, o mosquito palha; só que aqui temos um mosquito Lutzomyia longipalpis como a principal espécie transmissora, apenas a fêmeas. A Leishmaníase Visceral é encontrada sobretudo nas zonas rurais, onde as casas ficam situadas próximo das matas. Entre os ambientes geográficos que a sustentam estão as terras firmes da Amazônia, o litoral e as planícies dos grandes rios do Nordeste, vales úmidos e sopé das serras do sertão, assim como os vales boscosos da Bahia e de Minas Gerais. As Lutzomyia longipalpis que aí se criam são as transmissoras da infecção. 15 PARASITOLOGIA MÉDICA Bruna Pitanga MED 104C ★ Diagnóstico e tratamento do calazar A pesquisa de parasitos é o método básico para fazer o diagnóstico. As leishmanias podem ser encontradas em aspirado de medula óssea, do baço ou do linfonodos, sendo a punção esternal (ou a punção da crista ilíaca, em crianças) as preferidas, essas punção são consideradas por vários autores como método de diagnóstico padrão ouro para leishmaniose, porque você vai encontrar a leishmaniose visceral encontrando muitas amastigotas nessas localizações. Fazer um esfregaço em lâmina adequada, fixá-lo e corá-lo. Examinar ao microscópio. Os métodos sorológicos (ELISA, a imunoeletroforese ou imunofluorescência indireta), servem para inquéritos ou para quando não forem encontrados os parasitos. Os tratamentos de primeira linha são feitos com antimoniais pentavalentes, de uso prolongado e administração parenteral: ↬ Antimoniato de meglumine (ou antimoniato de N-metil-glucamina) ↬ Estibogluconato de sódio (ou gluconato de sódio e antimônio) Na segunda linha estão: ↬ Pentamidina - por via intravenosa ↬Anfotericina B - para perfusão intravenosa ↬Alopurinol - por via oral Controlar os efeitos colaterais dessas drogas. ★ Controle das leishmanioses Requer os estudos epidemiológicos preliminares sobre os fatores mais importantes do problema: ● Conhecimento da área endêmica e da incidência da doença na população - onde há transmissão da doença, maior incidência da população. ● Estudo da fauna flebotômica local e sua densidade no decurso do ano - estudar os mosquitos que estão presentes. ● Inquérito sorológico na população canina - é de fundamental importância para identificar os reservatórios urbanos e poder controlar melhor a leishmaniose ● Vacinas para cães: Leihmune ® , Leishvacin ® e Leish-Tec ® (atual - que está em uso) - imuniza os cães por cerca de 1 ano e é administrada em 3 doses. ● Estudo sobre os eventuais reservatórios silvestres (raposas - principal reservatório silvestre). ● Combater os flebotomíneos vetores da infecção, aplicando inseticidas de ação residual nas casas e nos anexos, bem como nos abrigos de animais domésticos. Cipermetrina, na formulação pó molhável (PM) e a deltametrina em suspensão concentrada (SC). ● Tratar todos os doentes, inclusive os assintomáticos. ● Recolher, tratar e isolar os cães sorologicamente positivos e os cães errantes. 16 PARASITOLOGIA MÉDICA Bruna Pitanga MED 104C Referências: NEVES, Davi Pereira. Parasitologia humana. 13ªed. São Paulo: Atheneu, 2016, Capítulo 10 REY, Luís. Bases da parasitologia médica. 3ªed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2015, Capítulo 6 17
Compartilhar