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Universidade Estácio de Sá M3- Parasitologia Danielle Mistieri Matheus As leishmanioses cons-tuem um grupo de doenças causadas por protozoários do gênero Leishmania. Mais de 20 espécies nesse gênero foram descritas como agentes e-ológicos de doenças humanas. É um doença transmi-da por um vetor, seno esse através da picada dos insetos flebotmoníneos fêmeas infectadas. É uma doença que normalmente afeta as populações mais pobres da sociedade, e pode ser associada a desnutrição, ao deslocamento da população, as moradias precárias e a alteração do sistema imune. Também estão ligadas às mudanças ambientais, como desmatamento, construção de barragens, sistemas de irrigação e urbanização. Existem 3 formas principais da doença: a forma cutânea (mais comum), a forma visceral (mais grave) e a forma mucocutânea. É importante destacar que apenas uma pequena fração das pessoas infectadas desenvolvem de fato essa doença. OBS: o subgênero vianda está relacionado com uma menor carga parasitária na doença, enquanto o subgênero leishmania, esta relacionado com uma maior carga parasitária da doença, estando relacionado as formas mais graves da infecção. Vetor da leishmaniose Os insetos vetores das leishmanioses pertencem ao filo Arthropoda, classe Insecta, ordem Diptera, subordem Nematocera, família Psychodidae e subfamília Phlebotominae. Por pertencerem a essa subfamília, são conhecidos por flebotomíneos, ou flebótomos, e só estes apresentam espécies com importância em medicina humana e/ou veterinária. Sem dúvida, Lutzomyia longipalpis é o principal vetor de leishmaniose visceral (L. infantum) no Brasil. Eles apresentam asas lanceadas, cabeça ver-da para baixo, são pequenos, u-lizam material orgânico para a alimentação, não necessitam de água para reprodução. As fêmeas realizam o repasto sanguíneo para a maturação dos ovos, não para alimento. Formas evolu2vas Amas2gota - eles vão viver e se mul-plicar no interior das células do sistema fagocí-co mononuclear (ex: macrófagos) de hospedeiros vertebrados. No interior dessas células, vão estar localizados em vacúolos parasitários, isso é possível pois apresentam mecanismos de escape como a expressão de PG (lipofosfoglicano) e GP63 na sua super^cie, que o protege da ação das enzimas proteolí-cas. São arredondados e não possuem flagelo aparente. Realizam divisão binária simples. Promas2gota - são encontrados no hospedeiro invertebrado (insetos). Possuem um corpo mais alongado e são extracelulares. Também realizam divisão binária simples. 1 Leishmaniose Universidade Estácio de Sá M3- Parasitologia Danielle Mistieri Matheus Ciclo de Transmissão As diversas espécies de Leishmania compar-lham muitas caracterís-cas de seu ciclo de vida. Enquanto parasitam o inseto vetor, sobrevivem sob a forma promas-gota, alongada e com um único flagelo, que emerge na região anterior da célula. O flagelo origina-se a par-r do cinetoplasto, região especializada da única mitocôndria encontrada nesses parasitos que contém grande quan-dade de DNA extranuclear, organizado em moléculas circulares: os maxicírculos, os quais apresentam genes que codificam principalmente enzimas mitocondriais, e os minicírculos, presentes em milhares de cópias e que dão origem aos RNA guias, pequenos transcritos responsáveis pelo fenômeno de edição de RNA. Nos promas-gotas são também encontradas outras organelas citoplasmá-cas presentes na maioria das células eucariotas, como o rebculo endoplasmá-co, o complexo de Golgi e os lisossomos, além do núcleo. A infecção do flebotomíneo fêmea ocorre mediante a ingestão de sangue contaminado com células infectadas de um hospedeiro mamífero. Os parasitos ingeridos junto com o sangue diferenciam- se rapidamente em formas promas-gotas chamadas de procíclicas, que sobrevivem no meio extracelular e passam a mul-plicar-se por divisão binária. Esses protozoários vão se nutrir do conteúdo intes-nal do inseto e com o tempo se diferenciam na sua forma promas-gota metacíclico. Essa diferenciação vai incluir o aumento da extensão do flagelo e o encurtamento do corpo do parasito. Os promas-gotas metacíclicos, agora livres no interior do tubo digestório, fazem então uma migração até as porções anteriores do esôfago do inseto, onde passam a secretar fosfolipídios. Formam, assim, uma substância de consistência gela-nosa capaz de obstruir parcialmente a luz da válvula estomodeal, por onde deve ser conduzido o sangue ingerido no próximo repasto sanguíneo. Os promas-gotas metacíclicos são injetados no mamífero, pela picada do inseto, misturados à saliva e ao gel secretado anteriormente, ambos representando fatores importantes para o estabelecimento da infecção. No interior do indivíduo serão recrutados um grande número de neutrófilos que em parte conseguem realizar a destruição de alguns desses promas-gotas. No entanto, como possuem vida curta, são fagocitados por macrófagos. Esses neutrófilos também vão apresentar a fisiologia alterada, tornando-se incapaz de destruir os parasitos, e assim os promas-gotas se alojam no interior dos macrófagos. Os promas-gotas sobrevivem no interior do vacúolo fagolisossômico, neutralizando seu conteúdo proteolí-co graças à liberação, a par-r da membrana plasmá-ca, de proteases de super^cie (glicoproteína de 63 kDa, gp63) que serão responsáveis pela ina-vação das enzimas lisossômicas. A influência do PH e da temperatura vão fazer com que eles se diferenciem em amas-gotas.Os amas-gotas, diferentemente dos promas-gotas, são formas de vida intracelulares. Perfeitamente adaptados ao ambiente do vacúolo fagolisossômico, mul-plicam-se por divisão binária, até que a quan-dade de amas-gotas intracelulares seja suficiente para romper a célula hospedeira. Nesse 2 Universidade Estácio de Sá M3- Parasitologia Danielle Mistieri Matheus momento, os amas-gotas liberados no meio extracelular podem ser fagocitados por outros m a c r ó f a g o s o u p o d e m m i g r a r, p o r v i a hematogênica, a outros órgãos do hospedeiro mamífero. Aspectos Clínicos Na maior parte dos casos, é di^cil reconhecer o local de inoculação do parasito após a picada do flebotomíneo. Em algumas circunstâncias, uma pápula ou mesmo uma pequena pústula pode se desenvolver, com duração de alguns dias. Após um período de incubação de duração incerta (provavelmente em torno de 2 a 8 semanas), podem surgir sinais e sintomas de leishmaniose. No entanto, muitas infecções por Leishmania são completamente assintomá-cas. Leishmaniose Tegumentar Possui apresentação clínica variável, estando de acordo com os fatores específicos do parasito e dos fatores gené-cos do hospedeiro. A forma mais comum é chamada de leishmaniose tegumentar localizada ou cutânea. Na região próxima à inoculação dos parasitos desenvolve-se uma lesão cutânea, inicialmente papular, que pode ou não ser seguida de lesões satélites ou secundárias. A maior parte das lesões cutâneas na leishmaniose assume a forma ulcerada. Considera- se uma lesão bpica aquela com bordas elevadas e infiltradas, com fundo granular, indolor e não pruriginosa, lembrando o topo de uma “cratera de vulcão”. Podem ocorrer também a presença de infecções bacterianas secundárias que levam a formação de uma secreção purulenta, com edema, rubor e calor local. A progressão da doença acarreta aumento de diâmetro da úlcera, às vezes com extensões laterais e formação de lesões satélites. Pode haver linfadenopa-a regional. Em infecções por L. (V.) guyanensis, é possível observar linfangite nodular. Após uma evolução de muitos meses, a(s) úlcera(s) pode(m) cicatrizar espontaneamente, com resolução da lesão cutânea. Mesmo após a cicatrização, espontânea ou em resposta a quimioterapia específica, parasitos viáveis são frequentemente encontrados no tecido subcutâneo e em linfonodos. Uma segunda forma de doença tegumentar, geralmente associada a infecções por L. (L.) amazonensis,é a leishmaniose cutâneo difusa. Nesse caso, as lesões demoram muito para ulcerar e evoluem inicialmente como nódulos. Essa forma é rara e extremamente grave. Os pacientes desenvolvem múl-plas lesões em todo o tegumento, e eventualmente têm perda de tecido nas extremidades, devido às lesões crônicas que determinam necrose tecidual. A terceira forma clássica de leishmaniose tegumentar é a cutaneomucosa. Acredita-se que, no Brasil, esta apresentação clínica esteja associada preferencialmente a infecções por L. (V.) braziliensis. As lesões em mucosas oral e nasal podem surgir muitos anos após o aparecimento das lesões cutâneas, mas também podem precedê-las ou mesmo surgir sem manifestações cutâneas. Essas l e s õ e s m u c o s a s s ã o e n c o n t r a d a s m a i s frequentemente no palato, nos lábios, nas cavidades nasais, na faringe e na laringe. São lesões infiltradas, indolores, que eventualmente ulceram, levando à 3 Universidade Estácio de Sá M3- Parasitologia Danielle Mistieri Matheus perda tecidual e a perfurações, com desabamento do septo nasal, formação de ^stulas oronasais etc. Infecções por L. (V.) braziliensis podem ainda estar relacionadas uma forma denominada leishmaniose disseminada, em que dezenas a centenas de lesões polimórficas ocorrem em diversas áreas do corpo, frequentemente com acome-mento de mucosas. Diagnós2co Leishmaniose Tegumentar Na leishmaniose tegumentar, o material a ser examinado é ob-do por biopsia, punção ou escarificação de lesões cutâneas ou mucosas. Em lesões cutâneas, punção, escarificação ou biopsia devem ser realizadas nas bordas da lesão, em regiões com tecido mais bem preservado e com maior número de parasitos. O exame direto é o mais u-lizado. Nele se realiza uma impressão em lâmina, podendo observar a forma amas-gota. Pode-se realizar o exame histopatológico e também o PCR (amplificação dos minicírculos e maxicirculos). Leishmaniose Visceral Americana É a forma mais grave, sendo decorrente de lesões que acometem o ^gado, baço e a medula óssea. Se não tratada, a doença possui índice de mortalidade de 100% dentro de dois anos. Os sinais e sintomas mais comuns são: náuseas, calafrios, perda de peso, com período de febre alta intermitente. 90% dos casos de leishmaniose visceral estão presentes Bangladesh, Brasil, E-ópia, Índia, Nepal, Sudão e Sudão do sul. É uma doença que acomete principalmente crianças e jovens, sendo causada pela Leishmania (L) infantum e transmi-da de forma antropozoonó-ca (cão). Formas Clínicas: Normalmente tem período de incubação de 2 a 6 meses. Em alguns casos, os indivíduos são assintomá-cos e ocorre a confirmação da doença por meio do teste sorológico. Cerca de 15% dos indivíduos podem evoluir para as formas sintomá-cas. A forma aguda é acompanhada de febre alta, tosse, diarreia acentuada, não hepatomegalia (aumento a n o r m a l d o t a m a n h o d o ^ g a d o ) o u alterações hematológicas e possui altos btulos de IgM e IgG. A forma olingossintomá2ca vai possuir uma s intomatologia inespecífica, podendo ser a c o m p a n h a d a d e f e b r e b a i x a , t o s s e , 4 Universidade Estácio de Sá M3- Parasitologia Danielle Mistieri Matheus diarreia, hepatomegalia discreta, esplenomegalia rara, adinamia. É a forma mais comum nas regiões endêmicas. A forma clássica vai possuir um período de evolução p r o l o n g a d o . É c a r a c t e r i z a d o p e l a hepatoesplenomegalia, distensão abdominal, anemia, febre persistente ou intermitente, desnutrição proteico-calórica, edema, adinamia, emagrecimento, outros. Hipergamaglobulinemia e hipoalbuminemia. Atraso no desenvolvimento. Os exames laboratoriais inespecíficos mostram anemia, leucopenia e plaquetopenia intensas, assim como hipergamaglobulinemia. A leishmaniose visceral pode ser uma das doenças oportunistas associadas à síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS). Nessas circunstâncias, o quadro clínico é muito variável e abpico; em geral, a evolução da doença é muito grave, e a resposta ao tratamento muito precária, quando comparadas a infecções em hospedeiros imunocompetentes. Diagnós:co: Realizado principalmente por um esfregaço de aspirado visceral, predominantemente da medula óssea, aonde será observado a forma amas-gota, e também pode ser feito esfregaço esplênico e de linfonodo. Além disso, tem o esfregaço de sangue periférico, mas ele é de baixa sensibilidade. Outros exames incluem: achado sorológico, hemograma, bioquímica, exame de urina, radiografia do tórax, etc. OBS: A leishmaniose tegumentar e visceral são doenças de no-ficação compulsória. OBS: Leishmaniose visceral canina: normalmente desenvolvem uma sintomatologia bem grave com a presença de febre e lesões cutâneas. O diagnós-co pode ser feito pelo ELISA e teste rápido. 5
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