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Ecologia de Paisagem Em grande parte deste livro consideramos a ecologia numa escala local. Consideramosos papéis das condições físicas e populações das espécies numa determinada locali-dade e vimos como estes fatores podem afetar a ecologia de indivíduos, populações, comunidades e ecossistemas. Ao fazer isso, muitas vezes foi útil focalizar uma área razoa- velmente homogênea de terra ou água. Neste capítulo, consideraremos a ecologia em esca- las geográficas muito maiores, que incorporam uma heterogeneidade realista de habitats, e veremos como nossa perspectiva pode mudar nestas escalas regionais mais amplas. Mazeika Sullivan e seus colegas da Universidade de Vermont demonstraram a importância de considerar toda a paisagem em seu estudo de aves que vivem em 27 rios em Vermont que alimentam o Lago Champlain. Para cada rio, mediram características físicas próprias (como profundidade e largura), bem como características do habitatdas áreas sujeites a inundações pelas áreas ripárias até 50 metros das margens. Então caminharam ao longo das bordas dos rios e registraram as espécies de aves que as estavam usando. Combinando seu conhecimen- to dos tipos de habitats que estavam presentes ao longo da paisagem dos 27 rios e quais aves estavam usando cada um, os pesquisadores puderam avaliar a importância dos habitats para a riqueza de espécies de aves. Sullivan e seus colegas observaram 101 espécies de aves, incluindo aves de água (como o pato-carolina), que andam (como a garça-ozul-grande), piscívoras (como a águia-pescado- ra) e insetívoras (tais como a andorinha-serradora). Ao longo da paisagem, diferentes grupos de aves preferem diferentes características de habitats. Por exemplo, a riqueza de espécies e a abundância de aves aquáticas foram mais altas em córregos rasos, onde as aves pisei- voras eram mais abundantes em córregos maiores com mais peixes. Por outro lado, a rique- za e a abundância de aves insetívoras foram mais altas em áreas que continham diversos tipos de habitats, incluindo córregos rasos e abundantes pradarias e florestas de madeira dura. Assim, a mistura de tipos de habitat ao longo da paisagem é uma chave para a manu- tenção das aves insetívoras. Coletivamente, é a heterogeneidade dos tipos de habitats ao longo da paisagem de rios que alimentam o Lago Champlain que é importante para sustentar a riqueza de espécies de aves. Assim, conservar esta heterogeneidade de habitat numa gran- de área provavelmente é crítico para a conservação da diversidade de espécies de aves. 469 470 Ecologia de Paisagem • CONCEITOS DO CAPíTULO • Os mosaicos de paisagem refletem tanto as influências naturais quanto as humanas • Os mosaicos da paisagem podem ser quantificados usando-se sensoriamento remoto, GPS e GIS • A fragmentação de habitat pode afetar a abundância e a riqueza de espécies • Os corredores de habitat e os pontos de passagem podem compensar os efeitos da fragmentação de habitat • A ecologia de paisagem explicitamente considera a qualidade da matriz entre os fragmentos de habital • Espécies diferentes percebem a paisagem em diferentes escalas • Os organismos dependem de diferentes escalas de paisagem para diferentes atividades e em diferentes estágios da história de vida Tocamos na importância de considerar as escalas geográficasmaiores do que a comunidade local quando consideramos conceitos como a dinâmica de metapopulação (Capítulo 12) e a teoria de biogeografia de ilha (Capítulo 20). Como você deve se lembrar, os modelos de metapopulação mostram que, se uma espécie ocorre num dado fragmento de habitat, isso é determi- nado em parte por quantos outros fragmentos estão ocupados. De modo semelhante, a Teoria de Biogeografia de Ilhas (TBI) demonstra que o número de espécies numa determinada ilha pode ser compreendido somente se considerarmos o tamanho e a distância da ilha ao continente. Em ambos os casos, uma esca- la espacial mais ampla nos ajuda a compreender melhor os pro- cessos responsáveis pela dinâmica das populações e a diversi- dade das espécies numa comunidade. FIG. 25.1 As paisagens contêm diversos tipos de habitat. Esta paisagem no HoIanda contém um mosaico de habitats aquóticos e terrestres em diferentes formas e tamanhos. Fotografia de The Irish Image CoIlectionjCorbis. Quando começamos a considerar áreas maiores de terra, tal- vez a observação mais notável é que as áreas maiores contêm uma variedade maior de habitats. Uma grande área com muitos tipos diversos de habitat é chamada de uma paisagem. A diver- sidade de uma paisagem inclui não apenas a variedade dos tipos de habitat terrestres e aquáticos que existem nela, mas também as formas pelas quais estes habitats estão arranjados. Por exem- plo, se tivéssemos que voar sobre a América do Norte ou Euro- pa num avião, notaríamos que muitas das paisagens abaixo de nós contêm uma mistura de florestas, campos, rios, lagos e áreas urbanas que assumem uma ampla variedade de tamanhos e for- mas (Fig. 25.1). O estudo da composição das paisagens e o arranjo espacial dos habitats dentro dela, e como estes padrões influenciam os indivíduos, as populações, as comunidades e os ecos sistemas em diferentes escalas espaciais, é chamado de ecologia de paisagem. O mosaico de habitat numa dada paisagem pode refletir as in- fluências que são tanto históricas quanto modernas, tanto naturais quanto antropogênicas, De particular interesse para os ecólogos de paisagem é como a divisão da paisagem em fragmentos de habitats isolados de diferentes tamanhos e formas influencia a biodiversidade, bem como os corredores de habitat e a qualida- de da matriz entre os fragmentos afetam os padrões da riqueza e a substituição de espécies locais. Assumir uma abordagem de pai- sagem também nos ajuda a questionar como os organismos di- ferentes percebem seu ambiente em diferentes escalas espaciais. Em resumo, uma abordagem de paisagem promove o exame de padrões ecológicos usando um quadro espacial mais amplo. Os mosaicos de paisagem refletem tanto as influências naturais quanto as humanas As influências do passado A natureza e os humanos vêm moldando a diversidade de habi- tat através das paisagens por milênios. Algumas das influências mais antigas incluem eventos geológicos como as erupções vul- cânicas e o avanço e retração das geleiras ao longo dos conti- nentes. Estes eventos têm deixado suas marcas na paisagem da Terra ao mover grandes quantidades de rocha e solo e ao criar e mudar o lugar dos corpos de água. Tais influências de longa du- ração dos processos históricos são conhecidas como efeitos de herança. Um dos efeitos de herança mais interessante das geleiras que podemos observar hoje é a presença de eskers, que são os rema- nescentes de correntes de água longas e sinuosas que uma vez anelise verella Highlight anelise verella Highlight anelise verella Highlight anelise verella Highlight anelise verella Highlight anelise verella Highlight FIG. 25.2 Um esker longo e sinuoso divide uma plantação na Dakota do Norte. O esker foi formado por uma corrente que fluía através da base de uma geleira que tinha milhares de metros de es- pessura. Fotografiode TomBean/Corbis. fluíam por dentro ou por baixo das geleiras. Com o tempo, estas correntes glaciais depositaram solo e rocha em suas trajetórias. Agora que as geleiras se foram, esses antigos cursos de água aparecem como montes longos e sinuosos (Fig. 25.2). Estas cris- tas podem abrigar micro-habitats únicos que favorecem deter- minadas comunidades. As atividades humanas muito antigas podem continuar a in- fluenciar as paisagens também. Durante o primeiro século d.C., os romanos construíram pequenas vilas de fazendas no norte da França. Por razões ainda não muito claras, essas fazendas foram abandonadas no século IV, e a terra, revertida em floresta logo após. As evidências arqueológicas sugerem que as terras culti- vadas pelos romanos se encontravam num raio de 200 metros de suas construções. Com esse conhecimento, os ecólogos foram capazes de investigar se aquele cultivo ancestralcontinua a afe- tar o solo e as plantas na região. Quando Jan Plue e seus colegas da Katholieke Universiteit [Universidade Católica] na Bélgica compararam os sítios cultivados e não cultivados em 2002, des- cobriram que as terras florestadas sobre os sítios cultivados ti- nham um pH de solo mais alto, fósforo mais disponível e uma riqueza de espécies de planta maior, incluindo muitas espécies de ervas. Essas diferenças foram provavelmente causadas pela lenta decomposição dos materiais de construção dos ancestrais, que contribuíram com cálcio e fósforo para o solo, e pela intro- Ecologia de Paisagem 471 dução de numerosas espécies de plantas pelos romanos. Em re- sumo, a habitação humana de 1.600 anos atrás continuava a ter efeitos de herança sobre a floresta moderna. As influências do presente Os mosaicos de paisagem continuam a ser moldados hoje. As catástrofes como os tornados, os furacões, as inundações, os deslizamentos de encosta e os incêndios podem alterar a estru- tura da vegetação, tanto na escala local quanto regional, e estas mudanças para as comunidades de plantas podem, por sua vez, causar mudanças em outras populações e comunidades que de- pendem delas. O interessante é que a quantidade de destruição causada por um evento catastrófico em diferentes escalas é in- fluenciada por diversos outros fatores, incluindo o tempo, a to- pografia regional e local, e o uso da terra pelos humanos e suas práticas através da paisagem. Por exemplo, os incêndios naturais são mais intensos quando soprados pelo vento e alimentados pela serapilheira de plantas secas e mortas; eles também quei- mam mais rápido morro acima do que morro abaixo. Embora os eventos catastróficos tenham ocorrido naturalmente por éons, o fogo é um evento cuja frequência e intensidade tem sido influenciada pelos humanos. Na área de dentro e em tomo do Parque Nacional de Yellowstone, por exemplo, os incêndios natu- rais foram amplamente suprimidos por grande parte do século 20. Durante o verão de 1988, uma seca tornou a área suscetível a in- cêndios. Centenas de incêndios iniciaram-se naquele verão, tanto por atividades humanas quanto por causas naturais, como raios. A maioria dos incêndios queimou áreas relativamente pequenas de menos de 100 acres, mas alguns dos incêndios queimaram áreas muito maiores. No total, 1,2 milhão de acres se queimaram, e o padrão das queimas criou um mosaico de fragmentos queimados e não queimados ao longo de grande parte da paisagem de Yellow- stone (Fig. 25.3). Os padrões de queima ao longo da paisagem de- penderam de onde o fogo começou bem como das características da paisagem (quantidade de serapilheira, encostas e intensidade de vento local) que ajudaram a influenciar seu desenvolvimento. Diversos animais são bem conhecidos por sua capacidade em alterar o mosaico da paisagem. O castor-americano constrói re- presas ao longo de córregos para tornar o habitat mais adequado ao seu modo de vida (veja a Fig. 19.5). Os pequenos lagos cria- dos por estas represas não somente ajudam o castor, mas também proporcionam um habitat aquático para diversas outras espécies, incluindo peixes, anfíbios, insetos e aves aquáticas. Os castores não são os únicos animais que têm grande influência em seus habitats. Por exemplo, muitas espécies se utilizam de buracos cavados em áreas alagadas pelos aligátores para assegurar fontes permanentes de água (Fig. 25.4). Por causa de seus efeitos des- proporcionalmente grandes na paisagem, estes animais são nor- malmente chamados de engenheiros de ecossistema. Alguns engenheiros de ecossistema podem transformar a pai- sagem simplesmente ao comer grandes quantidades de plantas. Embora a maior parte dos herbívoros tenha efeitos relativamen- te pequenos nas plantas que comem, de vez em quando uma população de herbívoros explode e consome a maior parte da vegetação disponível. Diversas espécies de insetos herbívoros, como o verme-da-abeto, passam por tais erupções. Em anos se- guidos de tempo seco e quente na primavera, o verme-do-abeto tem altas taxas de sobrevivência, e a população aumenta drama- ticamente a cada ano. As larvas se alimentam das acículas de diversas árvores de espruce e abeto, causando a morte de parte delas ou de todas as árvores hospedeiras. Ao criar fragmentos de árvores mortas, as irrupções do verme-do-abeto podem ter 472 Ecologia de Paisagem FIGo 2503 Os incêndios queimaram mais de um milhão de acres em torno do Parque Nacional de Yellowstone em 1988. Após os incêndios acaba- rem, a paisagem era composta de um mosaico de áreas queimadas e áreas nõo queimadas. Fotografia de Jonothon Bloir/Corbis FIGo 2504 Os aligátores são engenheiros de ecossistema. O ali- gátor americano (Alligator mississippiensis) cava buracos profundos nos alagados para garantir uma fonte de água durante a estaçõo seca. Michael P.O'Neill/Photo Reseorchers. um grande efeito no mosaico da paisagem (para não mencionar um substancial impacto econômico nas indústrias relacionadas com a floresta). Sem dúvida, os humanos são os engenheiros mais intensos dos ecossistemas. Os efeitos de amplo alcance dos humanos so- bre a paisagem incluem os desenvolvimentos de moradia, des- matamento de florestas para agricultura, construção de represas e canais de irrigação, a canalização de vias de água para aprimo- rar a navegação e o uso da madeira de floresta. O uso da madei- ra proporciona um exemplo particularmente bom de uma ativi- dade humana que produz o mosaico do tipo de habitat ao longo da paisagem. No oeste dos Estados Unidos, a prática comum é cortar troncos de médio tamanho de floresta espalhados através da paisagem (Fig. 25.5). Esta prática ajuda a minimizar a erosão do solo e os efeitos danosos de desmatamentos de grande esca- la. Como você poderia imaginar, a decisão de cortar fragmentos de floresta espalhados rapidamente produz o mosaico de frag- mentos de floresta de diferentes idades. Cortar lenha é apenas uma das muitas atividades humanas com efeitos de herança que pode persistir por muitos anos no futuro. Os mosaicos da pa.isagem podem ser quantificados usando-se sensoriamento remoto, GPS e GIS Abordar a ecologia de uma perspectiva de paisagem pode pare- cer uma tarefa assustadora devido ao desafio de quantificar os mosaicos da paisagem ao longo de grandes áreas. Felizmente, as tecnologias modernas de mapeamento podem nos ajudar nes- ta tarefa. Uma tecnologia muito útil é o sensoriamento remoto. Como seu nome indica, o sensoriamento remoto é a coleta de informação geográfica a longa distância. Para nossos propósitos, podemos considerar o sensoriamento remoto como uma coleção de informação de paisagens baseada em fotografias tiradas de aviões ou satélites. Lembre-se, do Capítulo 3, de que a radiação solar atinge a superfície da Terra e é refletida de volta para o espaço. A radia- ção refletida cai num intervalo de comprimento de onda, desde o ultravioleta até quase o infravermelho. Como os diferentes objetos na superfície da Terra absorvem e refletem diferentes comprimentos de onda, cada elemento ou paisagem - incluin- do as florestas, os campos, os corpos de água - tem uma assi- natura única de comprimentos de onda refletidos (Fig. 25.6). De fato, mesmo tipos diferentes de vegetação podem ter assinaturas únicas de comprimento de onda. Os pesquisadores usam estas assinaturas para identificar os vários elementos da paisagem em imagens aéreas ou de satélite. Dessa forma, podem coletar vas- - 'l' 11' '''' t ' <I\~" !'~I "0 , ~ I, '.\ ~ ~'<; ~ Ecologia de Paisagem 473 FIG. 25.5 A exploração de madeira pode produ- zir um mosaico de tipos de habitat. Estafloresta no Parque Nacional Olympic, Washington, foi cortada em fragmentos distintos. Dan Lamont/Corbis. (a) (b) FIG. 25.6 A informação da paisagem pode ser coletada de aviões e satélites. (a) Esta imagem de satélite do rio Missouri, na Dakota do Norte, foi obtida de um satélite que mostra comprimentos de onda refletidos no espectro visível. A imagem parece muito natural, com a vegetação aparecendo verde, o solo aparecendobege e a ógua aparecendo escura. (b) Esta imagem da mesma paisagem foi obtida de um satélite que detecta comprimentos de onda refletidos no espectro visível e próximo do infravermelho. Aqui, a vegetação que cresce aparece como vermelho brilhante, tornando-a muito mais fócil de ser detectada. Imagemdo Landsatpor cortesiada NASA Goddard SpaceFlight Centere USGeologicol Survey. tas quantidades de dados no nível da paisagem de qualquer par- te do mundo, incluindo lugares que são perigosos ou difíceis de visitar. A partir destes dados, podem criar mapas digitais de montanha, correntes de água, linhas de costa e fragmentos de habitat ao longo das paisagens. O Sistema de Posicionamento Global (GPS) é uma outra tecnologia que se tem provado muito útil para os ecólogos. Ori- ginalmente projetado para operações militares, ele está agora disponível para os civis, e mais e mais de nós estamos usando-o em automóveis e telefones celulares para nos ajudar a navegar. Os satélites orbitam em torno da Terra enviando sinais que po- dem ser detectados pelos receptores de GPS. Quando sinais de pelo menos quatro satélites podem ser detectados, o receptor pode calcular a latitude, a longitude e a altitude de qualquer lu- gar no planeta. Os ecólogos podem usar o GPS de muitas formas; por exemplo, podem mapear a localização de árvores, através de uma paisagem, com precisão de uns poucos metros, ou podem seguir movimentos de longa distância de animais portando trans- missões de rádio. Uma vez que os ecólogos tenham criado um mapa do mosaico da paisagem de dados de sensoriamento remoto e identificado a localização dos organismos ou características do habitat usando GPS, eles podem colocar toda esta informação junta usando um sistema geográfico de informação (SGI, SIG ou GIS, do inglês Geographic lnformation System). De forma simples, o GIS é uma forma de juntar diferentes conjuntos de informações geográficas, incluindo mapas dos solos, elevações, uso da terra e disponibili- dade de água, de distribuição de plantas e de distribuição de ani- mais. Quando todos os dados são reunidos, os ecólogos podem usar programas de computadores de GIS para quantificar carac- terísticas do mosaico de paisagem e procurar por padrões de como os organismos são afetados por aquelas características. (b) Brenthis ino 474 Ecologia de Paisagem FIG. 25.7 Os ecólogos podem usar tecnologias modernas de mapeamento para quantificar as características da pai- sagem. (o) Cozzi e seus colegas levantaram 36 alagados no nordeste do Suíço [cujos localizações estão indicados por círculos vermelhos) quanto à presença de borboletas ameaçados. (b, c) Os pesquisadores usaram dados de sen- soriamento remoto paro identificar as proporções de habifafs e alagados circundando cada alagado que pesquisaram. Os círculos concêntricos mostram raios de 500, 1.000 e 2.000 m do alagado focal. SegundoG. Cozzi, C.B. Müller e J Krauss,Landscape Ecology 23:269-283 (20081. (a) Boloria selene __ 8&1 ~ 0,25 ~""<""'! ~ : :~ . , w 0,20:-- . ";' . . . : ~ S ] c "O ~ '0 ,â 1:: c ! 0,15 ..... .. .. . 0,10 : ; ~ ~ .. •. . ..... ,." ... ,.{, .... . ··i.···0,05 o' .•... ;. 500 LOOO A paisagem circundando este alagado contém uma alta proporção de alagados. A paisagem circundando este alagado contém uma proporção muito menor de alagados. ... ! • • •• 2.000 3.000 4.000 ... .. .. c•. ·····.'···'t· . ',.* ., ... '", 3.000 5001.000 2.000 3.000 4.000 Escala da paisagem (m) A quantidade de alagado num raio de 1000 m explica melhor a ocorrência de Boloria titania, uma dispersara de fraca distância. 2.000 A quantidade de alagado dentro de um raio de 4.000 m explica melhor a I ocorrência de Boiotia selene, uma dispersara de longa distância. FIG. 25.8 A escala na qual a paisagem é medida importa. Estasanálises mostram quão bem a quantidade de habitat alagado em di- ferentes distâncias de um alagado focal explica a ocorrência de três espécies de borboleta no noroeste da Suíça. Os valores de importân- cia são índices de correlações (r2) entre a proporção de habifafs alagados em diferentes distâncias do alagado focal e o ocorrência dos borboletas naquele alagado; quanto mais alto o valor, mais forte o correlação. Os asteriscos indicam as correlações mais fortes. Segundo G. Cozzi, C.B. Müller eJ Krauss,Landscape Ecology 23:269-283 (2008) ECÓLOGOS1 Quantificando as preferências de habitat das EM CAMPO I borboletas da Suíça. Gabriele Cozzi e seus colegas da Universidade de Zurique explora- ram o poder das modernas tecnologias de mapeamento para avaliar a importância das características de habitat local e regio- nal das populações de borboletas fritilárias ameaçadas nos Alpes Suíços. Eles começaram por colocar nos mapas características da paisagem (criadas a partir de imagens de sensoriamento remoto) no programa de GIS e identificar diversas daquelas característi- <ccs, incluindo as centenas de alagados na região que são habitats favoráveis às borboletas. A partir desses mapas, selecionaram aleatoriamente 36 alagados para levantar a presença de qualquer das três espécies de borboletas ameaçadas (Fig. 25.7). Durante as suas visitas a cada alagado, os pesquisadores re- gistraram sua localização e altitude usando receptores GPS e então buscaram pelas borboletas e pelas plantas das quais elas se alimentam. Combinando seus dados de levantamento com os mapas da paisagem, puderam ver como a altitude (uma variável de habitat local) e a proporção de alagados na paisagem em diferentes escalas espaciais (uma variável de habitat regional) afetavam a probabilidade de cada espécie de borboleta ocorrer no alagado focal que eles levantaram (Fig. 25.8). Os pesquisadores descobriram que a ocorrência de cada es- pécie de borboleta dependia tanto do local quanto das variáveis de habitat regional. Numa escala local, a pequena fritilária Bo- Iaria selene e a Bolaria titania foram as mais comuns nas altitudes mais altas, onde a fritilária-de-mármore (Brenthis ino) era mais comum nas baixas altitudes. Essas diferenças provavelmente re- fletiam as tolerâncias das três espécies para temperaturas mais frias em altitudes mais altas. Quando os pesqU~'sadores consideraram a importância das variáveis de habitat egional, descobriram que a ocorrência de Boloria selene, qu é capaz de se dispersar a longas dis- tâncias para coloniza ~novos sítios, foi influenciada pela pro- porção de habitats alag' dos na escala espacial maior (dentro de um raio de 4.000 m ~Iagado focal). A ocorrência de Brenthis ino, que é uma dispersodccc.de média distância, foi influenciada pela proporção de habitat alagado numa escala espacial média (num raio de 2.000 m do alagado focal). Fi- nalmente, a ocorrência de Bolaria titania, uma dispersadora fraca, foi influenciada pela proporção de habitat e alagado numa escala espacial pequena (num raio de 1.000 m do ala- gado focal). Em essência, os pesquisadores descobriram que, quanto mais alagados na área, maior a probabilidade de a pequena espécie ser encontrada no alagado focal. De fato, esperaríamos este pa- drão a partir do nosso conhecimento da dinâmica das metapo- pulações de borboletas nas Ilhas Aland da Finlândia, descritas no Capítulo 12. Este estudo, contudo, mostrou que a escala da paisagem faz uma diferença. Somente os alagados dentro de uma distância curta importaram para as borboletas com capacidade de dispersão limitada, enquanto aqueles num raio maior impor- tavam para as borboletas com capacidade de dispersão maior.· Somente assumindo uma abordagem de paisagem e usando as tecnologias modernas de mapeamento os pesquisadores foram capazes de discernir as características do habitat que são impor- tantes para a conservação de cada uma dessas borboletas amea- çadas. I A fragmentação de habitat pode afetar a abundância e a riqueza de espécies Quando as atividades humanas ou eventos naturais dividem uma área grande e contínua de habitat em diversos habitats menores, Ecologio de Paisagem 475 dizemos que o habitat foifragmentado. Discutimos brevemente a fragmentação de habitate alguns de seus efeitos sobre as po- pulações no Capítulo 10. A fragmentação de habitat pode ocor- rer tanto em habitats terrestres quanto aquáticos. O processo de fragmentação de habitat produz cinco efeitos: (1) a quantidade total de habitat diminui, (2) o número de fragmentos de habitat aumenta, (3) a quantidade de borda de habitat aumenta, (4) o tamanho do fragmento médio diminui e (5) o isolamento do fragmento aumenta. Inversamente, à medida que a fragmentação aumenta, a matriz de habitat entre os fragmentos (por exemplo, campos desmatados entre os fragmentos de floresta) experimen- ta o efeito oposto: a quantidade total aumenta, o número de frag- mentos distintos diminui, o tamanho do fragmento médio au- menta e a matriz se toma mais contínua. A fragmentação de habitat e a biodiversidade Uma questão normalmente colocada pelos ecólogos é como a fragmentação afeta a biodiversidade. Dados os cinco aspec- tos da fragmentação, resulta que a resposta é um pouco mais complexa do que poderia parecer à primeira vista. O primei- ro efeito, uma redução na área total de habitat, normalmente causa uma redução na riqueza de espécies. Esta conclusão deveria fazer sentido à luz de nossa discussão da relação es- pécie-área no Capítulo 20, no qual vimos que as grandes ilhas oceânicas contêm mais espécies do que as pequenas (veja a Fig. 20.3). Analogamente, quando Scott Findlay e Jeff Hou- lahan, da Universidade de Ottawa, examinaram a biodiversi- dade de 30 alagados ao longo de uma variedade de tamanhos, descobriram que os alagados menores tinham menos espécies de plantas, mamíferos, aves, anfíbios e répteis (Fig. 25.9). Assim, exatamente como vimos no caso das ilhas, os frag- mentos de habitat de áreas menores geralmente contêm menos espécies. Se fôssemos capazes de examinar os efeitos da fragmentação per se (independentemente do tamanho total do habitat), pode- ríamos encontrar efeitos positivos e negativos sobre a biodiver- sidade. Como vimos no Capítulo 12, os efeitos negativos podem ocorrer quando os fragmentos são simplesmente pequenos de- mais para sustentar populações e isolados demais para receber colonizadores de outros fragmentos. Além disso, as espécies que vivem ao longo das bordas dos fragmentos de habitat podem ser negativamente afetadas pelas interações antagonistas com outras espécies que vivem na matriz. Ao contrário daqueles efeitos negativos, a fragmentação per se pode ter efeitos positivos quando a separação espacial de espécies promove sua coexistência. Se as presas podem se dispersar para fragmentos desocupados mais rapidamente do que seus predadores, elas podem evitar serem levadas à ex- tinção através da paisagem. Analogamente, a separação es- pacial pode possibilitar que duas espécies competidoras coe- xistam na paisagem se uma das espécies é um competidor superior mas um dispersor fraco, enquanto o outro é um com- petidor mais fraco mas que pode colonizar os fragmentos desocupados mais rapidamente. Quando todos os fatores são levados em conta, torna-se claro que a perda de área de ha- bitat associada com a fragmentação geralmente causa um de- clínio na riqueza de espécies, enquanto o aumento do isola- mento, um tamanho menor de fragmento e um número maior de fragmentos associados com a fragmentação de habitat po- dem ter tanto efeitos positivos quanto negativos sobre a ri- queza de espécies. anelise verella Highlight 476 Ecologia de Paisagem FIG. 25.9 A riqueza de espécies está correlacionada com a área do habitat. A riqueza de espécies de [c] plantas, Ibl anfíbios e répteis, [c] aves e Idl mamífe- ros varia com o tamanho do fragmento de alagado em Ontário, Canadá. Se- gundo C. S. Findloy e J. Houlohon, Conset- vation Biology 1 1: 1000-1 009 (1997) (a) Plantas 2,6 2,4 2,2 2,0 . i-: : ...~~--.../. .... • • • 1,8 , •• (c) Aves 2,2 2,0 1,8 1,6 1,4 1,2 1,0 .... 0,8 1,0 1,5 1,0 1,5 2,0 .. .., 2,5 3,0 3,5 •• Ili' (b) Anfíbios e répteis 1,4 1,2 1,0 0,8 0,6 0,4 • ../~:. •• •• • •.•.•......../-./ .... • • • • • 0,2 '-------------- 1,0 0,8 0,6 0,4 1,5 2,0 3,0 .. ~'y. .. " .... ~ . • 2,5 3,5 (d) Mamíferos 1,6 1,4 • 1,2 1,0 ... ....------ ••• ..:=----._... .• --=-... •• • • •••• • 2,0 2,5 0,2 '-------------- 3,0 3,5 1,0 1,5 Área do alagado (ha) 3,5 A fragmentação de habitat e as abundâncias das espécies Embora geralmente observemos um dec1ínio na biodiversidade global quando uma grande área de habitat é particionada em fragmentos, algumas espécies tornam-se mais abundantes após a fragmentação. As espécies que se beneficiam são tipicamente aquelas especializadas em viver em ecótonos, entre dois tipos de habitat. O chupim-de-cabeça-castanha, por exemplo, prefere viver em lugares onde a floresta situa-se adjacente ao campo. Como tais ecótonos ocorrem nas bordas de fragmentos, as espé- cies como o chupim-de-cabeça-castanha são denominadas espe- cialistas de borda. Considere os efeitos de dividir uma grande área de habitat em fragmentos menores. A área de habitat total que contribui para todos os fragmentos combinados deveria ser pouco altera- da, mas a razão de borda para interior de habitat aumenta. Em outras palavras, muito mais bordas de habitat seriam criadas (Fig. 25.10). Em consequência, os especialistas de borda prova- velmente aumentariam em abundância. As mudanças nas abundâncias de especialistas de borda po- dem ter efeitos importantes sobre as interações das espécies. Como vimos no Capítulo 10, uma fragmentação crescente de florestas no leste do meio-oeste dos Estados Unidos levou a um aumento no parasitismo de ninho pelo chupim-de-cabeça-casta- nha e, portanto, ao decréscimo nas abundâncias de outras aves canoras. Assim, compreender os efeitos da fragmentação tem importantes implicações para conservação das espécies. l .•o(E---- 100 fi --~' •.I 2,0 2,5 3,0 DDDDDDDDDDDDDDDD Área total = 1 ha Área total = 1 ha Área de borda = 400 m Área de borda = 1.600 fi FIG. 25.10 A quantidade de borda aumenta com a fragmenta- ção do habitat. Se um hectare de habitat for dividido em 16 frag- mentos, mesmo com pouca mudança na área total, a razão borda/ interior de habitat aumenta por um fator de 4. Uma compreensão da fragmentação também pode ser útil para a compreensão da ecologia de doenças humanas. Richard Ostfeld e seus colegas do Instituto de Estudos de Ecossistema têm gasto anos estudando a ecologia da doença de Lyme, cau- sada por uma bactéria patogênica (Borre lia burgdorferi) que infecta um grande número de pessoas na América do Norte. A bactéria é transmitida através da picada do carrapato-ocidental- de-pernas-pretas (Ixodes scapularis), também conhecido como (b) Os fragmentos de florestas menores têm as densidades mais altas de carrapato ... (a) .8 0,20..: 0,18~..:•• 0,16•....:<.I 0,14 •~~ '" e 0,12~ •..o .5 ~ 0,10 1:1 '".,~ 0,08'tl 1:1 ., 'S 0,06'tl ~..: 'tl 0,04';;J 1:1., 0,02'tl < 0,00 • • • •.,,-:-- . . ; ....~~ 2 3 4 65 7 ... e as proporções mais altas de carrapatos infectados. 90 80 70 60 50 40 30 20 10 o~------------------------------ • • ••.----- .'. •. e-:--.. .'. •.. . ------------ • 2 3 456 7 8 Área (ha) FIG. 25.1 1 A fragmentação de habitat aumenta a prevalência da doença de lyme. Ostfeld e seuscolegas descobriram que os ta- manhos dos fragmentos de floresta no nordeste dos Estados Unidos influenciam a densidade das ninfas do carrapato-ocidental-de-pernas- pretas (a), bem como a proporção das ninfas de carrapato que transportam a bactéria da doença de Lyme [b], SegundoBJ. Allon, F. Keesinge R.S.Ostfeld, Conservation Biology 17:267-272 12003) carrapato-de-cervo, que vive em diversas aves, répteis e mamí- feros, incluindo os humanos. Nos fragmentos no nordeste dos Estados Unidos, a abundân- cia de muitos animais vertebrados tem diminuído, mas a do ra- to-de-pé-branco (Peromyces leucopus) de fato aumentou, prova- velmente porque a maioria dos seus competidores e predadores não podem viver em fragmentos de floresta menores. Quando Ostfeld e seus colegas identificaram diversos fragmentos a par- tirde mapas e GIS e então visitaram aquele sítios, descobriram que os pequenos fragmentos de floresta tinham densidades mais altas de ratos, e consequentemente mais altas de carrapato. Mais do que isso, descobriram que uma proporção maior dos carrapa- tos nos fragmentos menores estava infectada com a bactéria da doença de Lyme (Fig. 25.11). À medida que as atividades hu- manas vêm fragmentando florestas, criamos uma paisagem que nos toma mais suscetíveis de sofrer a doença de Lyme. Forma de fragmento e abundância de espécies Os fragmentos de habitat têm diversos tamanhos e formas. Os fragmentos de diferentes formas têm diferentes razões de borda para interior. Um fragmento circular contém a quantidade míni- ma de borda, enquanto um longo e esguio, de mesma área, teria Ecologia de Paisagem 477 (a) (b) C -~ 8 FIG. 25.12 A forma do fragmento afeta a razão de borda para interior de habitat. (o) Um fragmento de habitat com uma forma circu- lar tem uma quantidade mínima de bordo. (b) Um fragmento de mesma óreo com uma forma mais elíptico tem duas vezes a quantidade de uma proporção muito mais alta de borda (Fig. 25.12). Como poderiam essas diferenças influenciar as abundantes espécies vivendo nos fragmentos? Os ecólogos Rick Taylor, Joanne Oldland e Michael Clarke, da Universidade LaTrobe, buscaram responder essa questão em seu estudo de fragmentos de floresta nos bosques temperados da Austrália. Nestes bosques vive uma espécie de ave nativa cha- mada de mineiro-barulhento. Esta ave é um especialista agres- sivo de borda, capaz de deslocar outras aves pequenas. Assim, do ponto de vista da conservação da biodiversidade, seria dese- jável reduzir qualquer habitat que favoreça o mineiro-barulhen- to. Taylor e seus colegas levantaram 14 fragmentos de bosque na área central-norte de Victoria, Austrália, buscando por padrões que conectariam a abundância do mineiro-barulhento às formas de fragmento de floresta. Os pesquisadores descobriram que as densidades do mineiro- barulhento eram mais altas nas "penínsulas" de habitat de bosque que se projetavam para dentro da matriz de plantação. Isto é, os mineiros-barulhentos tinham forte predileção por habitats de bosques com uma alta proporção de borda. Os pesquisadores suspeitaram que a grande quantidade de área desmatada em tor- no dessas penínsulas de bosque possibilitava que essas aves ter- ritoriais detectassem mais facilmente os intrusos que se aproxi- massem. Essa preferência de habitat é de grande interesse para os gestores de conservação, porque sugere que, através de uma remodelagem de fragmentos de bosque que reduza as projeções peninsulares, deve ser possível reduzir a abundância de minei- ros-barulhentos e assim aumentar a de diversas outras aves aus- tralianas. ~SE MÓDULO DE ANÁLISE DE DADOS Ecologia de Paisagem. I'y\ Calcule a abundância futura e a distribuição da coruja em DE DADOS fragmentos de habitat. Você achará este módulo em http://www.whfreeman.com/ricklefs6e. Os corredores de habitat e os pontos de passagem podem compensar os efeitos da fragmentação de habitat Uma característica da paisagem que pode diminuir os efeitos negativos da fragmentação são os corredores de habitat, que são tipicamente faixas estreitas de habitat que facilitam o movi- mento dos organismos entre os fragmentos adjacentes. Ao faci- 478 Ecologia de Paisagem litar O movimento, os corredores aumentam o fluxo de genes e a diversidade genética nas populações (e portanto contra-atacam o efeito negativo dos gargalos genéticos e da deriva genética) e permitem que os fragmentos de habitat dos locais onde ocorreu a extinção local sejam recolonizados. Como vimos no Capítulo 10, os corredores podem ajudar o movimento de muitos tipos de organismos (veja as Figs. 10.22 e 10.23). Embora os corredores possam resgatar populações em declí- nio através da adição de novos colonizadores carregando novos genótipos, eles também podem ter efeitos colaterais ruins não intencionais. Por exemplo, eles podem facilitar o movimento de predadores, competidores e patógenos entre os fragmentos de habitat em detrimento de uma espécie de interesse para conser- vação. Por isso, os custos e os benefícios do desenvolvimento de corredores entre fragmentos devem ser examinados antes que os gestores de recursos decidam gastar seu tempo e recursos li- mitados implementando esta estratégia. Os corredores são provavelmente mais importantes para aque- les ganismos que precisa~de uma conexão contínua para se mover tre os fragme~'(Contudo, organismos como aves e insetos voa m passar sobre faixas da matriz inóspita e portanto podem não necessitar de um corredor continuamente conectado. J Outras espécies podem ser capazes de se mover en- tre grandes fragmentos de habitat favorável se pequenos frag- mentos intervenientes estiverem presentes onde possam parar para descansar ou forragear. Estes pequenos fragmentos inter- venientes podem ser considerados como pontos de passagem dentro da matriz. A importância dos pontos de passagem para dispersão entre fragmentos foi investigada por Joem Fischer e David Linden- mayer, da Universidade Nacional da Austrália. No estado de New South Wales, sul da Austrália, a paisagem foi historica- mente composta de bosques temperados. Hoje, contudo, foto- grafias aéreas mostram que estes bosques existem somente como fragmentos. Alguns destes fragmentos são muito pequenos - até mesmo tão pequenos quanto uma única árvore. Fischer e Lin- denmayer colocaram a hipótese de que estes fragmentos muito pequenos deveriam servir como pontos de passagem para aves viajando entre os fragmentos maiores. Se fosse assim, os pes- quisadores raciocinaram, então as aves que voam para um frag- mento pequeno deveriam chegar de uma direção, parar breve- mente no fragmento para se alimentar e descansar, e então con- tinuar sua viagem na mesma direção. Ao observar a direção de viagem de 87 grupos de aves que chegavam e partiam dos pe- quenos fragmentos, Fischer e Lindenmayer descobriram que as aves, chegando nos pequenos fragmentos, ou retomavam para sua origem ou continuavam numa trajetória relativamente reta. Essas observações sugerem que as aves estão de fato usando os pequenos fragmentos como pontos de passagem para se move- rem entre grandes fragmentos de bosque. A apreciação do papel dos corredores e dos pontos de passa- gem tem promovido grandes esforços para preservar tratos de terra que podem facilitar o movimento de organismos entre frag- mentos de habitat. Atualmente na Índia, por exemplo, o elefan- te asiático vive em diversas partes e em áreas protegidas do país que são remanescentes fragmentados de habitat que uma vez foram contínuos e amplos. O World Land Trust e o Wildlife Trust of lndia estão trabalhando juntos para proteger importan- 'Observar que há aves da Mata Atlântica, p. ex., que, embora possam voar, por comportamento herdado não cruzam um espaço de algumas dezenas de metros, e ficam "presas" no fragmento isolado. tes corredores entre os habitats protegidos, de modo a assegurar a persistência de longo prazo dos elefantes. Embora os elefantes sejam animais carismáticos que conseguem atrair atenção para suas necessidades de conservação, estes corredores provavel- ~ente vão ajudar na conservação de muitas outras espécies na lndia. A ecologia de paisagem explicitamente considera a qualidade da matriz entre os fragmentos de habitat Como você se lembrará de nossas discussões sobre metapopu- lações nos Capítulos 10 e 12, uma paisagem pode ser pensada como um conglomerado de fragmentos de habitat favoráveis, corredores favoráveis e uma matriz de habitat inabitável circun- dando os fragmentos. Este modelo poderia descrever o caso das ilhas cercadas por oceanos, um ambiente inóspito que muitos organismos terrestres não podem cruzar. Na maior parte das pai- sagens, contudo, a matriz é composta de habitats que variam numa ampla gama de qualidade, tal que um indivíduo pode ser capaz de atravessar ou mesmo viver em alguns daqueles habitats menos favoráveis. De fato, uma questão marcanteda ecologia de paisagem é a sua ênfase na matriz como uma mistura mara- vilhosamente complexa de habitats que influenciam o movimen- to dos organismos e dos materiais através da paisagem. A qualidade da matriz de habitat e o movimento entre os fragmentos Quando pensamos sobre a matriz entre os fragmentos de habitats sendo composta de diversos habitats que possuem diferentes características, chegamos a diversos insights interessantes. Por exemplo, uma matriz que contém habitats que são relativamen- te favoráveis a espécies promoverá o movimento de espécies entre os fragmentos mais favoráveis. Em essência, a matriz in- teira poderia servir como uma variedade de corredores que di- ferem muito em sua capacidade de facilitar o movimento dos organismos entre os fragmentos. A qualidade e o arranjo espacial dos diferentes habitats na matriz foi assim denominada contex- to de paisagem. Um exemplo da importância do contexto de paisagem vem das investigações de Taylor Ricketts, da Universidade de Stan- ford. No vale do Colorado, ele mapeou as localizações das pra- darias, bosques e salgueiros de florestas de coníferas, e então estudou os movimentos individuais de mais de 6.000 borboletas de 21 espécies. As borboletas, que se alimentam no habitat de pradaria, se movem entre aqueles fragmentos voando através de um mosaico de bosques de salgueiros e florestas de coníferas. Ricketts capturou borboletas nos fragmentos de pradaria, escre- veu um número de identificação em cada uma delas e as liberou. Ele então as recapturou para determinar se apresentavam uma preferência por se dispersar através dos bosques de salgueiros ou de florestas de coníferas. Em quatro de seis grupos taxonô- micos de borboletas que examinou, os indivíduos tinham de 3 a 12 vezes mais probabilidade de se moverem entre as pradarias pelos bosques de salgueiro do que pelas florestas de coníferas. Este estudo gerou uma forte evidência de que os habitats que compõem a matriz têm um efeito substancial sobre os movimen- tos dos organismos entre os fragmentos. A qualidade da matriz que circunda um fragmento pode tam- bém influenciar a probabilidade dos organismos que se movem para fora e para dentro dela. De fato, o habitat adjacente a um fragmento pode ser o que determina, de maneira mais importan- te, se um organismo se dispersa para colonizar outro fragmento ou não. Considere, por exemplo.uma rã que vive num fragmen- to de floresta madura e úmida que é favorável aos animais sus- cetíveis à desidratação, como a rã. Se a matriz circundante é uma floresta se regenerando, com quantidades moderadas de umidade, a rã pode facilmente cruzar através daquela matriz. Contudo, se o fragmento é circundado por uma área urbana quente e seca, composta de asfalto e concreto, a rã provavelmente não entrará na matriz. Assim, ao considerar a dispersão de organismos entre fragmentos, precisamos considerar não apenas o contexto da paisagem, mas também o contexto de borda. A conectividade e a substituição de espédes ao longo do tempo Se a niatriz de habitat é adequada o bastante para permitir que os o ganismos de movam entre os fragmentos, então a proxi- m' ade e a abundância de fragmentos deveriam influenciar a oporção de fragmentos ocupados pelo número de espécies que estão presentes neles. Essas características de paisagem deveriam também influenciar as mudanças na composição das espécies num determinado fragmento de ano para ano. Lem- bre-se, do Capítulo 20, que a composição de espécies de uma comunidade local é determinada pelas extinções dentro da co- munidade e pela colonização de fora da comunidade. Embora as condições locais determinem a probabilidade de extinções num lugar, a probabilidade de colonização depende das carac- terísticas na escala regional (paisagem). Assim, as condições locais e regionais deveriam se combinar para determinar a subs- tituição de espécies numa determinada comunidade ao longo do tempo. Earl Wemer e seus colegas, ecólogos de anfíbios na Univer- sidade de Michigan, testaram esta previsão. Eles levantaram 37 alagados no sudeste de Michigan durante o período de sete anos e registraram a presença de 14 espécies de anfíbios larvais. Du- rante o período de sete anos, o alagado médio foi ocupado por um total acumulado de seis destas espécies, mas em qualquer (a) 1,0 0,8 . : ee:ee • .......... ....!e...~: .....~\:! . . . e--- e: . .,. ~e-;õ.. ·e.,.---=----... • . • ,:~,.' ~ ; . • •• 0,6 0,4 0,2 . O,OL------------'- 4 6 8 10 12 Conectividade Ecologia de Paisagem 479 dado ano, o alagado médio foi ocupado por somente três espé- cies. Esta descoberta sugere que o conjunto particular de espécies que ocupam um dado alagado muda consideravelmente de um ano para o outro. Como poderiam os fatores locais e regionais representar um papel nestas comunidades altamente dinâmi- cas? Wemer e seus colegas descobriram que o fator local mais importante na determinação da extinção local era o tamanho do alagado. Alagados menores sustentam populações menores de anfíbios, que estão inerentemente vulneráveis à extinção, e ala- gados menores têm mais probabilidade de secar antes que as larvas dos anfíbios possam metamorfosear. Após uma extinção local, a probabilidade de uma espécie recolonizar um alagado deve depender do número de outros fragmentos de alagados na paisagem, de sua distância do alagado focal e do número de co- lonizadores potenciais produzidos por cada fragmento de alaga- dos (os pesquisadores assumiram que todos os habitats terrestres entre os alagados eram capazes de ser atravessados). Os pesqui- sadores determinaram o número de fragmentos de alagados e suas distâncias para cada fragmento focal, a partir de fotografias aéreas, e determinaram o número de colonizadores potenciais a partir de seu levantamento dos anfíbios existentes nos fragmen- tos focais. Eles combinaram estes três fatores matematicamente em um "índice de conectividade", que representa a abundância de colonizadores potenciais que podem chegar num dado frag- mento. Os pesquisadores descobriram que a substituição de es- pécies anuais num alagado focal estava positivamente correla- cionada com o índice de conectividade do alagado (Fig. 25.13a). Também descobriram que a chance de uma espécie ocorrer num alagado focal de um ano para o outro estava positivamente cor- relacionada com o tamanho da população regional para aquela espécie (Fig. 25.13b). Assim, enquanto os fragmentos pequenos podem sofrer mui- tas extinções locais, aqueles fragmentos podem ser facilmente recolonizados se estiverem bem conectados com as populações em tomo. Este estudo também mostrou que somente conside- rando os fatores regionais e locais simultaneamente é que pode- mos entender como a composição de espécies de uma comuni- dade muda com o tempo. (b) 14 .. ,.. e ~ ., .. '" ; 8 9 10 11 12 13 14 15 16 Ln (Tamanho médio regional da população) FIG. 25.13 Os fragmentos de habitat com maior conectividade têm uma maior substituição de espécies ao longo do tempo. (a) A troca anual de larvas de espécies de anfíbios num fragmento de alagado estava positivamente correlacionada com um "índice de conec- tividode" representando a abundância de colonizadores potenciais que poderiam chegar naquele fragmento. (b) A chance de qualquer dada espécie ocorrer num alagado de ano para ano estava positivamente correlacionada com o tamanho da população regional para aquela espécie, que corresponde ao número de colonizadores potenciais SegundoE. E, Werner et 01., Oik05 1116: 1713-1725120071. 480 Ecologia de Paisagem Espécies diferentes percebem a paisagem em diferentes escalas É fácil visualizar os mosaicos de paisagem sobre regiões geo- gráficas muito grandes que incluem diversos habitats aquáticos e terrestres. Embora isso seja certamente um ponto de partida útil, os mosaicos de paisagem podem também ocorrer em esca- las espaciais muito menores. Por exemplo, o mosaico percebido por uma baleia azul cruzando milhares de quilômetros quadrados de um oceano é muito diferente do mosaico que uma borboleta poderiaexperimentar. Dada esta diferença na escala de percep- ção entre as espécies, os ecólogos devem considerar a escala na qual medem a avaliação de um habitat numa paisagem. Os ecólogos identificaram dois importantes elementos da es- cala de paisagem. O primeiro é o grau de resolução na qual se vê a paisagem (denominado grão). Este elemento é análogo à (a) resolução de uma fotografia. Se os organismos respondem a uma avaliação de habitat de grão fino, então os ecólogos devem me- dir a avaliação de habitat de grão fino, ou perderão detalhes importantes para aquele organismo. O segundo elemento é o tamanho da paisagem de interesse (denominado extensão). Se os organismos viajam através de uma grande área, então os ecó- logos devem examinar o mosaico de paisagem através de toda a extensão dos movimentos da população. Por exemplo, um ra- to-saltador-de-bosque usa menos do que 0,004 km2 de terra, e assim precisaríamos estudar características de grão fino de seu habitat, incluindo o local de cada tronco caído, buraco subterrâ- neo e pequena área gramada, para determinar como o mosaico da paisagem afeta os movimentos destes ratos, mas nosso estu- do poderia ter uma extensão relativamente pequena. Os gnus em migração, por outro lado, cobrem mais de 30.000 km2 por ano. Neste caso, teríamos que examinar a paisagem numa extensão (b) o Área de estudo de 750 m de raio Agricultura _ Habítats seminaturais • Assentamento Bosque/floresta t1fI Outros usos de (erra FIG. 25.14 Os ecólogos de paisagem estudam como os organismos respondem às paisagens em diferentes escalas. (a) O mapa do local para o estudo do mudança de abelhas e como ele é afe· todo pelo proporção de habitat seminatural na pai- sagem. Os círculos representam os 15 sítios de es- tudo. (b) Quatro sítios de estudos (A-D) com diversos quantidades de habitats seminaturais. Os círculos concêntricos marcam os escolas espaciais diferentes examinados no estudo. De I. Steffan-Dewenter et 01., Ecology 831421-1432 (2002) muito maior, mas num grau muito mais grosso, incluindo os lo- cais de grandes rios e de extensos campos que recebem as chuvas sazonais o bastante para facilitar o crescimento das grarrúneas. Isso não quer dizer que um estudo de grão fino do habitat dos gnus não seria útil, mas tempo, dinheiro e pessoal limitados sig- nificam que os pesquisadores devem atingir um compromisso entre grão e extensão. A importância de examinar como os organismos respondem às paisagens em diferentes escalas está brilhantemente ilustrada num estudo de abelhas por Ingolf Steffan-Dewenter e colegas na Universidade de Gõttingen, na Alemanha. Usando métodos semelhantes àqueles usados por Cozzi e colegas em seu estudo de borboletas nos Alpes Suíços, eles identificaram 15 sítios de estudo na Alemanha que diferiam na proporção de plantações, floresta e habitats seminaturais como campos e campos aban- donados (Fig. 25.14). Usando fotografias aéreas e GIS, quanti- ficaram a proporção de habitats seminaturais em diferentes dis- tâncias do centro de cada sítio. Então colocaram plantas de flo- res no centro de cada sítio e contaram as abelhas que vinham polinizar as flores. Usando estes dados, os pesquisadores procuraram saber quão bem as abundâncias de diferentes tipos de abelhas eram expli- cadas pelas proporções de habitats seminaturais em diversas escalas espaciais. A abundância de abelhas selvagens foi mais bem explicada pela proporção de habitats seminaturais em pe- quenas escalas (num raio de 250 m das flores), enquanto a de mamangabas foi mais bem explicada pela proporção nas escalas médias (750 m), e a abundância da abelha melífera, por aquela nas escalas maiores (3.000 m) (Fig. 25.15). Estes padrões suge- rem que as abelhas selvagens, pequenas e solitárias, que voam somente a curtas distâncias, estão restritas aos habitats naturais e são influenciadas pelos mosaicos de paisagem numa escala muito menor do que são as mamangabas e as abelhas melíferas maiores, que podem voar a distâncias muito maiores para forra- gear e ocupar tanto os habitats naturais quanto os cultivados. Estes resultados sugerem que se nós quisermos compreender os movimentos das abelhas selvagens, devemos examinar o mo- saico da paisagem numa extensão menor e num grão mais fino do que se tivéssemos interesse nas mamangabas e nas melíferas. Mais genericamente, este estudo ilustra como examinar os dados Ecologia de Paisagem 481 da paisagem em grão e extensão apropriados nos ajuda a com- preender como os mosaicos de paisagem influenciam os orga- nismos, e nos possibilita manejar melhor as espécies que estão vivendo em paisagens crescentemente fragmentadas. Os organismos dependem de diferentes escalas de paisagem para diferentes atividades e em diferentes estágios da história de vida Como vimos nos capítulos anteriores, os organismos enfrentam diversos desafios para sua sobrevivência e reprodução. Os ani- mais, por exemplo, devem tomar decisões sobre se acasalar, se alimentar e evitar os predadores. Essas diferentes atividades po- dem levar os animais através de escalas espaciais amplamente diferentes. As abelhas melíferas alemãs discutidas anteriormente cobrem milhares de metros ao forragear o néctar e o pólen, mas talvez somente uma fração de 1 metro quando alimentando seus ninhos. Analogamente, muitas aves se movem pouco encubando seus ovos, mas então viajam grandes distâncias para coletar ali- mento para seus novos imaturos. Assim, um animal pode expe- rimentar a paisagem numa ampla gama de diferentes escalas dependendo de suas atividades diárias. Para alguns organismos, a escala da paisagem que tem signi- ficado pode ser muito diferente em diferentes estágios da histó- ria de vida. Para os animais como os anfíbios e os insetos, que gastam a parte inicial do seu ciclo de vida nos ambientes aquá- ticos, o mosaico de paisagem relevante no estágio larval é a abrangência dos habitats que estão presentes dentro de um pe- queno lago ou alagado. Após a metamorfose, o mosaico de pai- sagem relevante cobre uma abrangência muito mais ampla de habitats terrestres e aquáticos. A situação das plantas é seme- lhante. O estilo de vida sedentário da maioria das plantas signi- fica que boa parte de suas vidas é gasta experimentando uma paisagem local de pequena escala. Quando as plantas se repro- duzem, contudo, a escala da paisagem pode se tornar muito maior. O movimento de seus polens e sementes por longas dis- tâncias, pelo vento ou vetores animais, é dependente dos padrões "a (a) Abelhas selvagens (b) Mamangabas (c) Abelhas melíferas ""e 0,45 . 0,18 0,20.•.. •~c ••'5 0,40 • 0,15 •41 • • 0,16'" 0,35 • •...•.~ 0,12 0,12 ••.::, 0,30<:j •~ 0,09 o 0,25 • 0,08 ••'tl ••~ 0,06 •'" 0,20 • •c • • • 0,04(~ 0,03.•.. 0,15 •""o •J:l.. 0,10 0,00 0,00.5 ... O 1.000 2.000 3.000 O 1.000 2.000 3.000 O 1.000 2.000 3.000 Escala da paisagem (m) FIG. 25.15 As abundâncias de diferentes tipos de abelhas são explicadas pela proporção de habifafs seminaturais em diferentes escalas. Paro três espécies de abelhas polinizadoras vindo visitar os flores, os correlações entre o abundância dos abelhas e o proporçâo de hobifofs seminaturais na paisagem têm seu melhor ojusle estatístico em distâncias diferentes. Os valores de importância mostrados aqui sâo valores de melhor ojustornento Ir2) dos correlações entre os proporções de hobifafs seminaturais e do abundância das abelhas em cada escala; quanto maior o valor, mais forte a correlação. Segundo I. Steffan-Dewenler et 01., Eco/ogy 83: 1421-143212002). 482 Ecologia de Paisagem do tempo, da topografia e da heterogeneidade de habitat ao lon- go de escalas grandes. Estas observações sugerem que a pers- pectiva de paisagem pode proporcionar fortes insights, mesmo para espécies que gastam muito de suas vidas dentro de uma área pequena. Este capítulo enfatizou os diversos insights que podem ser obtidos pela aplicação de uma perspectiva de paisagem à ecolo- gia. As modernas técnicas de mapeamento têm aprimorado nos- sa capacidade de quantificar a heterogeneidade de habitat, que éuma característica tão comum da paisagem. Incluir esta hete- RESUMO 1. Uma paisagem é uma grande área contendo um mosaico de tipos de habitat heterogêneo. 2. Os mosaicos de paisagem são em parte o resultado de pro- cessos históricos, incluindo tanto os eventos geológicos quanto as atividades humanas. 3. Os mosaicos de paisagem são também moldados por even- tos recentes, incluindo catástrofes como incêndios, inundações, furacões e tomados. A natureza fragmentada de seus efeitos ao longo da paisagem é, em parte, uma função da própria paisa- gem. 4. Os mosaicos de paisagem podem ser influenciados por di- versos animais que têm um efeito desproporcional sobre seu habitat. Os humanos são os mais impressionantes destes enge- nheiros de ecossistema. 5. Os mosaicos de paisagem em grandes extensões geográficas podem ser quantificados usando-se sensoriamento remoto, o sis- tema de posicionamento global (GPS) e sistemas geográficos de informação (GIS). 6. Quando áreas grandes e contínuas de habitats são quebradas em fragmentos menores, a perda resultante de área de habitat tipicamente causa uma redução na biodiversidade. Outros efeitos de fragmentação, incluindo um aumento no isolamento dos frag- QUE SI ÕE 5 D E REVI SÃ O-=='iiil1EEE=;::::"~_~ 1. Compare e contraste GIS e GPS. 2. Por que muitas catástrofes naturais terminam por causar efei- tos de fragmentação na paisagem? 3. Por que certos animais são considerados "engenheiros de ecossistema"? 4. Explique como a fragmentação de uma paisagem pode tanto ter um efeito positivo quanto negativo na biodiversidade. 5. Avalie a importância de criar corredores de habitat sob dois cenários alternativos: (1) a matriz entre os fragmentos é inabi- LEITURAS SUGERIDAS Allan, B. F., F. Keesing, and R. s. Ostfeld. 2003. Effect of forest fragrnentation on Lyrne disease risk. Conservation Biology 17:267-272. Cozzi, G., C. B. Müller, and J. Krauss. 2008. How do habitat rnanagernent and landscape structure at different spatial scales affect fritillary butterfly distribution on fragmented wetlands? Landscape Ecology 23:269-283. Fahrig, L. 2003. Effects of habitat fragrnentation on biodiversity. Annual Review of Ecology and Systematics 34:487-515. rogeneidade complexa tem sido muito útil na compreensão das escalas nas quais as diferentes espécies enxergam seu mundo, quanto a fragmentação da paisagem afeta a biodiversidade e quanto a conectividade através dos corredores de habitat ajuda na recolonização após uma extinção local. O desenvolvimento da ecologia de paisagem como campo de estudo não apenas nos ajuda a compreender como os processos naturais operam para moldar a natureza, mas também nos oferece um poder preditivo para avaliar como as nossas atividades provavelmente afetarão a biodiversidade da Terra no futuro. mentos e diminuição no tamanho dos fragmentos, podem ter efeitos positivos ou negativos sobre a riqueza de espécies. 7. Para as espécies especialistas de borda, um aumento na frag- mentação e nas razões de borda para interior pode causar um aumento na sua abundância. 8. Os corredores de habitat e os pontos de passagem conectam os fragmentos de habitat e permitem um fluxo de colonizadores e genótipos entre os fragmentos. 9. A ecologia de paisagens explicitamente considera a quali- dade da matriz entre os fragmentos de habitat. É este contexto de paisagem que determina quão facilmente as espécies se mo- vem entre os fragmentos. 10. Para os fragmentos de habitats onde as extinções locais são frequentes, uma conectividade maior aumenta as chances de colonização e aumenta a troca de espécies ao longo do tem- po. 11. Enquanto nós normalmente pensamos nas paisagens como habitats distribuídos em escalas regionais muito grandes, as di- ferentes espécies olham seus mundos em escalas muito diferen- tes. Mais ainda, algumas espécies experimentam escalas muito locais durante uma parte de sua história de vida, mas escalas muito maiores em outras épocas. tável para uma espécie; (2) a matriz não é o habitat mais favo- rável para uma espécie, mas não é inabitável. 6. Se a perda de habitat que resulta da fragmentação reduz a biodiversidade, como podem algumas espécies de fato aumentar em abundância. 7. Como pode a forma do fragmento afetar a abundância de uma espécie? 8. Por que diferentes espécies percebem um mosaico de paisa- gem em diferentes escalas espaciais? Findlay, C. S., and 1. Houlahan. 1997. Anthropogenic correlates of species richness in southeastern Ontario wetlands. Conservation Biology 11:1000-1009. Fischer, J., and D. B. Lindenrnayer. 2002. The conservation value of paddock trees for birds in a variegated landscape in southern New South Wales. 2. Paddock trees as stepping stones. Biodiversity and Conservation 11:833-849. anelise verella Highlight anelise verella Highlight anelise verella Highlight anelise verella Highlight anelise verella Highlight anelise verella Highlight anelise verella Highlight anelise verella Highlight anelise verella Highlight anelise verella Highlight anelise verella Highlight anelise verella Highlight anelise verella Highlight anelise verella Highlight anelise verella Highlight anelise verella Highlight anelise verella Highlight anelise verella Highlight Ecologia de Paisagem 483 Murphy, H. T., and 1.Lovett-Doust. Context and connectivity in plant metapo- pulations and landscape mosaics: Does the matrix matter? Oikos 105:3-14. Plue, 1., et al. 2008. Persistent changes in forest vegetation and seed bank 1,600 years after human occupation. Landscape Ecology 23:673-688. Rickctts, T. 2001. The matrix matters: Effective isolation in fragmented landscapes. American Naturalist 158:87-99. Steffan-Dewenter, 1., et al, 2002. 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Biodiversidade, Extinção e Conservação A população humana tem um imenso impacto na Terra. Há tantos de nós (a populaçãode 2008 de 6,6 bilhões está aumentando numa taxa de quase 2% por ano), e cadaindivíduo usa tanta energia e tantos recursos, que nossas atividades influenciam vir- tualmente tudo na natureza. A maior parte da superfície de terra do planeta, e cada vez mais dos oceanos, está passando ao controle direto da humanidade. Virtualmente todas as áreas nas latitudes temperadas que são adequadas para a agricultura já foram aradas ou cercadas. Em todo o mundo, mais de 35% da área de terra é usada para plantações ou pastos perma- nentes; hectares incontáveis adicionais são pastados por criações. As florestas tropicais estão sendo derrubadas numa taxa alarmante de 10 milhões de hectares por ano. As regiões sub- tropicais semiáridas, particularmente na África Subsaariana, têm se transformado em deser- tos pela sobrepastagem e coleta de madeira para fogo. Os rios e os lagos estão fortemente contaminados em muitas partes do mundo. Os gases das indústrias químicas e a queima de combustíveis fósseis poluem nossa atmosfera. Nós estamos destruindo nosso ninho, e estamos ainda correndo para explorar mais do que resta para ser tomado. Se não controlada, esta deterioração do ambiente levará a um declínio da qualidade de vida para todos os habitantes humanos da Terra, como jáacontece para muitos de nós. Dois bilhões e meio de pessoas, a maioria nos países em desenvolvimen- to, vivem com menos de dois dólares por dia. Os animais e as plantas com quem comparti- lhamos este planeta, e dos quais dependemos para todos os tipos de sustento, estão sentindo o impacto da população humana ainda mais. Eles têm sido empurrados para o lado à medi- da que nos apossamos da terra e do rnor como nosso espaço de vida e para a produção de nossa comida. Temos degradado esses ambientes com nossos rejeitos. Muitas espécies su- cumbiram à destruição de habitat, caça e outras atividades humanas. A deterioração não precisa continuar. Embora muitos afirmem que nossa população ex- cede o nível sustentável, os humanos podem viver num mundo mais limpo e mais autossusten- tável. Isso pode acontecer, contudo, somente se nós empreendermos esforços para colocar nossa própria população em equilíbrio com o sustento de outras espécies e os processos eco- lógicos que nos nutrem. A legislação em muitos países já levou a uma atmosfera e águas mais limpas, a um uso mais eficiente da energia e dos recursos materiais, e ao resgate de espécies 484 Biodiversidade, Extinção e Conservação 485 ameaçados de um declínio ainda maior. Embora a população humana vá continuar a estres- sar os ecossistemas naturais e a sobrevivência das espécies no futuro, há muitas coisas que podemos fazer para amenizar a condição da biosfera e de seus habitantes não humanos. CONCEITOS DO CAPíTULO • A diversidade biológica tem muitos componentes • O valor da biodiversidade surge de considerações sociais, econômicas e ecológicas • A extinção é natural\ mas a sua taxa atual não é • As atividades huma~as aceleraram a taxa de extinção ) Embora nosso conhecimento esteja muito longe da perfeição,a ciência da Ecologia tem muito a dizer sobre desenvolvi- mento e manejo racional do mundo natural como um sistema sustentável e autorrestaurador. O que nós aprendemos acerca das adaptações dos organismos, da dinâmica das populações e dos processos que ocorrem nos ecos sistemas sugere linhas de con- duta simples para viver em razoável harmonia com o mundo natural. Primeiro, os problemas ambientais não serão controlados en- quanto a população humana continuar a crescer. A Terra poderia sustentar mais pessoas do que o faz atualmente, mas sua quali- dade de vida seria drasticamente reduzida a curto prazo, e have- ria pouca perspectiva para uma sustentabilidade de longo prazo. Mesmo nossa população humana atual não pode se manter numa base sustentável. O reflorestamento não pode acompanhar as crescentes demandas por madeira, papel e combustível, e assim vastas quantidades de florestas anteriormente não desmatadas estão sendo coletadas a cada ano. A maior parte dos importantes pesqueiros do Hemisfério Norte colapsou e agora produzem ape- nas uma fração de sua produção anterior. Grandes áreas de fa- zendas deterioradas são perdidas para a agricultura a cada ano. A água doce está num suprimento criticamente curto em muitas partes do mundo. À medida que a população humana aumenta, essas demandas sobre o ambiente somente crescerão. As populações naturais são controladas por fatores dependen- tes da densidade, que incluem falta de alimento, doenças, pre- dação e conflito social. Esses fatores reduzem a fecundidade ou aumentam a mortalidade, ou ambos, à medida que as populações crescem. Se a população humana caísse sob tais controles exter- nos, o preço do sofrimento humano - doença, fome, guerra - seria enorme. Assim, manter uma qualidade individual de vida com alto nível exigirá, acima de tudo, que os humanos apre- sentem uma restrição reprodutiva que desafie toda a história da evolução, durante a qual o "ajustamento" tem sido medido em termos de sucesso reprodutivo em vez de qualidade de vida. So- mente uma apreciação da economia negativa e das consequências ambientais da superpopulação fará a humanidade valorizar a experiência humana individual sobre o número de filhos à me- dida que os dois se tornam crescentemente incompatíveis. Recentemente, educação aprimorada (especialmente para as mulheres), oportunidade econômica e urbanização têm se com- binado para reduzir taxas de natalidade e crescimento popula- cional na maioria das regiões do mundo. De fato, muitos países europeus agora têm crescimento populacional negativo, e o ta- manho de farrulia na Ásia e na América Latina tem declinado de • Os projetos de reservas para espécies individuais devem garantir uma população autossustentável • Algumas espécies criticamente ameaçadas têm sido recuperadas da beira da extinção uma média de 6 para menos de 3 crianças durante os últimos 50 anos. Somente na África, com um tamanho de farmlia médio acima de 5 e uma taxa de crescimento populacional de 2% ao ano, estas tendências estão atrasadas. Mas embora as taxas de crescimento da população humana estejam declinando global- mente, o uso humano dos recursos não está. A maioria das pes- soas aspira a um padrão material mais alto de vida, e as aspira- ções de bilhões de pessoas colocarão - de fato, já têm colocado - uma tremenda pressão sobre os recursos da Terra. Uma con- sequência da globalização econômica é que as altas taxas de consumo material e demanda por materiais brutos dos países ricos adiciona estresses ambientais nas nações em desenvolvi- mento. Segundo, nosso consumo individual de energia, recursos ma- teriais e alimento que é produzido nos níveis tróficos mais altos deve ser reduzido. A Terra não pode sustentar o uso de recursos e energia no nível agora gozado pelos cidadãos afluentes dos países desenvolvidos. O consumo de energia nos Estados Unidos em 2003 foi, em média, equivalente a quase 8.000 quilogramas de óleo por pessoa. Este nível de consumo é duas vezes o da In- glaterra e de outros países europeus, e quase 30 vezes o nível nos países mais pobres, incluindo o Congo, o Haiti e Myanmar. A eficiência do uso da energia pode ser aumentada e o consumo de supérfluos reduzido sem impactar o conforto ou o prazer da vida. Cada indivíduo humano pode reduzir seu impacto comen- do mais baixo na cadeia alimentar (reduzindo o consumo de carne, por exemplo), investindo em tecnologias eficientes em consumo de recursos e energia, dirigindo carros menores e ocu- pando menores áreas de vida, e vivendo mais próximo do equi- líbrio com o mundo físico (p. ex., reduzindo o termostato no inverno e aumentando-o no verão). Terceiro, embora seja inevitável que a maior parte do mundo caia sob a gestão humana, os ecos sistemas deveriam ser manti- dos tão próximos de seu estado natural quanto possível, para manter os processos ecossistêrnicos naturais intactos e reduzir os custos da água, energia e materiais. Como uma regra geral, quanto menos alterarmos a natureza, mais fácil será sustentar o ambiente numa condição saudável. Por exemplo, como vimos no Capítulo 24, muitas áreas cobertas pelas florestas tropicais são inadequadas para o pasto ou agricultura, porque estas ativi- dades perturbam os processos de regeneração de nutrientes na- turais e fazem com que o solo se deteriore. Tais áreas deveriam ser deixadas como reservas de florestas ou áreas recreacionais, ou usadas como exploração sustentável dos produtos da floresta. Analogamente, os desertos podem ser irrigados, e normalmente anelise verella Highlight anelise verella Highlight anelise verella Highlight anelise verella Highlight 486 Biodiversidade, Extinção e Conservação se tornam tremendamente produtivos para certos tipos de agri- cultura. Mas os custos de manter tais sistemas manejados podem se tornar extremamente altos à medida que os solos acumulam sais da irrigação da água e os aquíferos se tornam deplecionados. Viver com a natureza é sempre preferível e menos dispendioso do que trabalhar contra ela. As atividades humanas também afetam as populações de ca- da espécie, seja diretamente através da caça, por exemplo, ou indiretamente através da degradação de habita! ou introdução de patógenos. As ações humanas têm levado à extinção, ou à ameaçaiminente de extinção, muitas espécies. Neste capítulo, consideraremos o desafio de conservar as espécies. No Capítulo 27, discutiremos formas de manter as populações naturais e os processos ecossistêmicos, tal que nossa geração e as futuras se beneficiem dele. As soluções de todos esses problemas estão contidas nos princípios básicos da Ecologia. Devemos lembrar, contudo, que embora as soluções possam ser propostas, a sua implementação exigirá uma ação social, política e econômica organizada. A diversidade biológica tem muitos componentes Quase 1.500.000 espécies de plantas e animais em todo o mun- do foram descritas e receberam nomes em latim. Os insetos so- mam cerca de metade delas. Muitas mais espécies, particular- mente nas regiões menos exploradas dos trópicos, esperam a descoberta científica. De fato, novas espécies estão continua- mente sendo descritas. Por exemplo, uma expedição de 2006 à Nova Guiné, Indonésia, descobriu 20 novas espécies de rãs, 4 de borboletas, 5 tipos de palmeiras e 1 espécie de ave melívora, e redescobriu o canguru-de-manta-dourada, não previamente relatado na Nova Guiné, e que se pensava estar extinto. Alguns especialistas estimaram que as espécies finais do globo podem somar entre 10 e 30 milhões. Tais estimativas podem estar in- flamadas, embora a diversidade de bactérias e outros micro-or- ganismos seja provavelmente imensa e desconhecida. Mas não (a) há dúvida de que compartilhamos este planeta com diversos mi- lhões de outros tipos de organismos. Fazer listas de nomes de espécies é uma forma de tabular a di- versidade, mas estas listas representam somente parte do conceito da biodiversidade, que inclui os muitos atributos únicos de todos os seres vivos. Embora cada espécie difira de todas as outras no nome que a ciência assinala para ela, ela também difere na forma de suas adaptações e define seu espaço no ecossistema. As diferen- tes espécies de plantas, por exemplo, têm tolerâncias diferentes pa- ra as condições do solo e de estresse de água, e defesas bem dife- rentes contra os herbívoros; elas também diferem na form~ de cres- cimento e nas estratégias para polinização e dispersão de sementes, Os animais, também, têm adaptações que definem seu lu~ar na na- tureza. Estas variações constituem a diversidade ecológica. A biodiversidade resulta da mudança genética, oÚ evolução, que subjaz à formação de novas espécies. Como a variação ge- nética é crucial para as respostas evolutivas das populações às mudanças no ambiente, a diversidade genética, tanto dentro quanto entre as espécies, é um outro componente importante da biodiversidade. Para muitos tipos de organismos, particularmen- te as bactérias, o sequenciamento do material genético desco- berto nas amostras do solo e da água proporciona uma visão única de sua vasta diversidade. Todas as espécies estão relacionadas pela descendência evo- lutiva de ancestrais comuns, algumas recentes e algumas no pas- sado distante. A diversidade filogenética leva em conta o grau de relacionamento entre os organismos, dando um peso maior às formas distantemente aparentadas do que à dos parentes mais próximos. Assim, cinco espécies de roedores representam menos diversidade filogenética do que um rato, um morcego, um cervo, um coiote e um macaco. A diversidade ecológica e a diversida- de filo genética estão intimamente relacionadas, mas a conver- gência evolutiva e a diversificação de espécies descendentes de um ancestral recente comum (radiação adaptativa) acrescentam complexidade a esses conceitos. Finalmente, a biodiversidade tem um componente geográfico. As diferentes regiões têm números diferentes de espécies. Se a diversidade fosse uma competição, as florestas pluviais tropicais (b) FIG. 26.1 Muitas ilhas oceânicas abrigam espécies endêmicas. (a) A espada-de-prata havaiana é encontrada somente nas altas eleva- ções do vulcão Haleakala na ilha de Maui, Havaí. (b) Esta tartaruga é endêmica do arquipélago de Galápagos, onde cada ilha tem uma forma distinta. Fotografia (a) por James L. Amos/Peter Arnold; fotografia (b) por R. E. Ricklefs. e os recifes de coral seriam os óbvios vencedores. Igualmente importante, contudo, é o fato de que a maioria das regiões abri- ga espécies únicas não encontradas em nenhuma outra parte. As espécies cujas distribuições estão limitadas a pequenas áreas são chamadas de espécies endêmicas, e diz-se que as regiões com grande número de espécies endêmicas possuem um alto nível de endemismo. Claramente, a conservação de biodiversidade glo- bal é mais bem servida dirigindo-se esforços em direção às áreas de alto endemismo bem como de alta diversidade. As ilhas oceânicas são bem conhecidas por abrigar formas en- dêmicas; virtualmente todas as aves, plantas e insetos dessas ilhas isoladas, como nos arquipélagos do Havaí e Galápagos, não ocor- rem em nenhuma outra parte (Fig. 26.1). Por isso, quando a des- truição de habitat, a caça ou a introdução de espécies alienígenas resultam numa perda das populações locais nesses lugares, aque- la perda provavelmente significa uma extinção global. Os depósi- tos de fósseis mostram que mais da metade das aves das Ilhas do Havaí desapareceram desde que a colonização humana se instalou nas ilhas. Aquelas aves não ocorriam em nenhuma outra parte; agora elas se foram para sempre. Assim foi com o Dodô, uma ave gigante que não voava, conhecida somente da ilha de Mauritius no Oceano Índico, extinta desde meados dos anos 1600. A vaca- do-mar-de-steller (um parente gigante dos dugongos e do peixe- boi), que era endêmica do Mar de Bering, extinguiu-se em 1768, menos de 30 anos depois de ter sido descoberta pela primeira vez e "caçada" pelos europeus. Identificando os hotspots da biodiversidade para a conservação. Algumas áreas relativa- mente pequenas do mundo possuem números ECÓLOGOS EM CAMPO Biodiversidade, Extinçãa e Conservação 487 excepcionalmente grandes de espécies. É provável que as áreas conhecidas pela sua riqueza em espécies de grandes plantas, aves, mamíferos e répteis também sejorn ricas em espécies que pertencem a grupos menos presentes. Norman Myers, da Uni- versidade de Oxford, e seus colegas identificaram 25 hotspots ("pontos críticos") de biodiversidade em todo o mundo, que eles então propuseram para uma consideração especial em termos de conservação (Fig. 26.2). As fronteiras dos hotspots são rela- tivamente fáceis de estabelecer para lugares como as ilhas das West Indies, Madagascar e Nova Caledônia. Nos continentes, as fronteiras dos hotspots normalmente correspondem às frontei- ras de importantes biomas, como a vegetação do Cerrado do Brasil y a região climática mediterrânea do sul da Europa e nor- te da Africa. Para se qualificar como hotspot, uma região deve ter um alto nível de endemismo. A vegetação natural remanescente em todos os hotspots iden- tificados por Myers ocupa somente 1,4% da área total de terra do planeta, embora esses hotspots contenham cerca de 44% de todas as espécies de plantas e 35% de todas as espécies de ver- tebrados terrestres. Eles são também regiões de rápida destruição de habitat, onde uma alta proporção de espécies está ameaçado com populações em declínio ou em extinção. Dentro dessas áreas de hotspots, uma média de 88% da vegetação natural [ó desa- pareceu. Myers enfatizou que o endemismo deveria ser o critério chave usado para classificar o valor de conservação de uma área. Em apoio a esta proposta, uma análise por David Orme, do Imperial College de Londres, e seus colegas sobre a distribuição das es- pécies de aves do mundo mostrou que as regiões de alta riqueza de espécies não contêm necessariamente os números mais altos de espécies ameaçados ou endêmicas (Fig. 26.3). Por exemplo, a parte oeste da Bacia Amazônica tem a mais alta riqueza de FIG. 26.2 Vinte e cinco hotspots de biodiversidade foram identificados em todo o mundo. Essasáreas estão recebendo uma conside- ração especial em relação aos esforços de conservação. Os holspols podem incluir regiões inteiras, como as West lndies (21, ou as Ilhas
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