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DESCRIÇÃO Introdução às bases teóricas de conservação e manejo da vida silvestre, suas principais abordagens metodológicas e normas legais que regem a proteção ambiental no Brasil. PROPÓSITO Conhecer o histórico da proteção ambiental e as principais formas de manejo e estudo da vida silvestre. OBJETIVOS MÓDULO 1 Identificar a conservação e o manejo da vida silvestre MÓDULO 2 Reconhecer a ecologia de paisagens MÓDULO 3 Identificar as estratégias de conservação e manejo da vida silvestre INTRODUÇÃO Estudaremos os aspectos gerais da Biologia da Conservação, seu histórico e as principais leis que regem a proteção ambiental no Brasil. Veremos também como a fragmentação afeta o ambiente natural e as principais teorias e metodologias utilizadas em seu estudo. Por último, conheceremos as principais formas de manejar a vida silvestre e de acompanhar uma população que precisa ser manejada. Imagem: Shutterstock.com MÓDULO 1 Identificar a conservação e o manejo da vida silvestre HISTÓRICO DA BIOLOGIA DA CONSERVAÇÃO Você já se perguntou por que algumas pessoas se preocupam tanto com a natureza e outras nem tanto? A visão que a humanidade tem da natureza mudou diversas vezes ao longo do tempo. E essa visão afeta diretamente a forma como a humanidade lida com as questões ambientais. A exposição à opinião de pessoas de prestígio, o conhecimento científico e a experiência de cada indivíduo com a natureza moldam nossa opinião sobre ela e, consequentemente, nossas atitudes em relação ao meio ambiente. Os primeiros europeus a chegarem ao continente americano hostilizavam as florestas nativas devido às ameaças, reais ou míticas, que elas representavam. No entanto, ao longo do século XIX, por influência do transcendentalismo romântico (Movimento filosófico e poético do século XIX) , começou a emergir, entre alguns artistas e intelectuais norte-americanos, uma valorização e apreciação estética das paisagens naturais. O divino passou a ser reconhecido na natureza selvagem e a felicidade e o bem-estar dos humanos passaram a ser atrelados a uma vida simples e mais próxima da natureza. Foto: Shutterstock.com. Essa significativa mudança na percepção da natureza e das paisagens silvestres também tem raízes nos avanços das ciências naturais nos séculos XVIII e XIX. Os trabalhos de Carl von Linné (1707-1778), de Charles Darwin (1809-1882) e de Alfred Russel Wallace (1823-1913) estimularam a curiosidade, o respeito e uma responsabilidade moral pela natureza. Foto: wellcomeimages/wikimedia Commons/CC BY 4.0. Foto: Shutterstock.com. O Parque Nacional de Yosemite, fundado em 1890, é um dos monumentos naturais mais visitados dos EUA. Entre o fim do século XIX e o início do século XX, com a declaração de independência dos Estados Unidos, intelectuais norte- americanos justificaram a liberdade da colônia e enfatizaram as perspectivas do jovem país, ressaltando aspectos culturais que o distinguissem da antiga metrópole europeia. Como os norte- americanos não possuíam um patrimônio histórico, artístico e arquitetônico comparável ao da Europa, as paisagens naturais selvagens deixaram de ser vistas como algo negativo e passaram a ser defendidas como “monumentos” naturais importantes para a afirmação da cultura e da identidade nacional norte-americanas. Nesse período, cresceu uma visão de natureza útil, impulsionada pelo fundador do movimento de conservação nos Estados Unidos, Gifford Pinchot (1865-1946), que foi o primeiro chefe do Serviço Florestal dos Estados Unidos de 1905 a 1910 e criou o termo “ética de conservação”. Com isso, Pinchot se referia a um uso comercial de recursos naturais orientado pelo governo, racionalmente planejado e executado de forma sustentável. Segundo ele, o principal fato sobre a conservação da natureza é que ela serve para o desenvolvimento. Em 1949, Aldo Leopold (1887-1948) iniciou um movimento de visão mais ecológica sobre a conservação, a chamada ética evolutivo-ecológica, segundo a qual uma coisa é correta quando tende a preservar a integridade, a estabilidade e a beleza da comunidade biótica; e é errada quando tende ao contrário. Leopold foi um dos primeiros a ter uma visão não só voltada à conservação da natureza, mas também à recuperação do que já havia sido explorado. Como surgiu o termo Biologia da Conservação? RESPOSTA O termo Biologia da Conservação foi utilizado pela primeira vez em 1978, realizada na Universidade da Califórnia, em San Diego, nos Estados Unidos Wilcox e Michael E. Soulé. O que motivou o encontro foi a preocupação qu florestas tropicais, ao desaparecimento de espécies e à redução da diversid Tal conferência buscou preencher a lacuna entre teoria e prática, existente à conservação e, com isso, fez nascer a Biologia da Conservação e o conceit biológica (Biodiversidade) . A Biologia da Conservação é uma ciência multidisciplinar que foi desenvolvida como resposta à crise vivida pela diversidade biológica atualmente. Ela tem dois objetivos principais: 1 Entender os efeitos da atividade humana em espécies, comunidades e ecossistemas; 2 Desenvolver abordagens práticas para prevenir a extinção e, se possível, reintegrar as espécies ameaçadas ao seu ecossistema funcional. SAIBA MAIS A Biologia de Conservação surgiu porque nenhuma das disciplinas tradicion suficiente para tratar das diversas ameaças à diversidade biológica. A agric gerenciamento da vida selvagem e a piscicultura ocupam-se basicamente c para gerenciar umas poucas espécies para fins mercadológicos e recreativo não tratam da proteção de todas as espécies encontradas nas comunidades secundário. A Biologia da Conservação complementa as disciplinas aplicadas, fornecen geral para a proteção da diversidade biológica. Ela difere de outras disciplin plano a preservação a longo prazo de todas as comunidades biológicas e, e econômicos. OS PRIMEIROS PARQUES NACIONAIS Assista a este vídeo, que conta a história da criação do primeiro parque nacional do mundo e do primeiro parque nacional do Brasil. CONCEITOS DE CONSERVAÇÃO, PRESERVAÇÃO E MANEJO Percebe-se muitas vezes o uso das palavras conservação e preservação como se fossem sinônimos mas, na verdade, elas tratam de coisas diferentes. PRESERVAÇÃO O termo preservação do meio ambiente refere-se à proteção integral de uma área natural, sem interferência humana. Ela se faz necessária quando há risco de perda de biodiversidade, seja de uma espécie, seja de um ecossistema, seja de um bioma como um todo. A palavra preservação surgiu a partir de uma corrente ideológica chamada de preservacionismo, que aborda a proteção da natureza independentemente de seu valor econômico ou utilitário, apontando o ser humano como o causador da quebra de seu “equilíbrio”. O preservacionismo tem caráter protetor e sugere a criação de santuários intocáveis, que não sofram interferências relativas aos avanços do progresso e sua consequente degradação. O naturalista John Muir (1838-1914), considerado o maior representante da vertente preservacionista no século XIX, defendia que a natureza fosse mantida intocada e livre da influência negativa dos seres humanos. Muir foi importante para o surgimento das primeiras áreas protegidas nos Estados Unidos e fundou a ONG Sierra Club, considerada uma das primeiras organizações a objetivar a proteção da natureza. Considera-se, também, que o estudioso teve papel fundamental na criação do primeiro parque nacional do mundo, em 1872: o Parque Nacional de Yellowstone, nos Estados Unidos. Foto: Library of Congress/wikimedia Commons/ domínio público. John Muir. Foto: Clément Bardot/wikimedia Commons/ CC BY-AS 4.0. O Parque Nacional de Yellowstone, nos EUA, foi fundado em 1872 e é o primeiro parque nacional do mundo. CONSERVAÇÃO A conservação ambiental é uma das correntes ideológicas mais discutidas na esfera científica. Em meados do século XIX, principalmente em decorrência das mudançascausadas pela Revolução Industrial, pensadores criaram uma corrente ideológica chamada de conservacionismo, que contempla o amor à natureza aliado ao seu uso racional e ao manejo criterioso feito pela espécie humana. Esse pensamento conservacionista caracteriza a maioria dos movimentos ambientalistas e pode ser identificado como o meio-termo entre o preservacionismo e o desenvolvimentismo. Desenvolvimentismo O desenvolvimentismo era caracterizado por políticas econômicas baseadas na meta de crescimento da produção industrial e da infraestrutura com participação ativa do Estado como base da economia, muito comuns durante a Revolução Industrial. Conservacionismo Fundamenta-se nas políticas de desenvolvimento sustentável, que buscam um modelo de desenvolvimento que garanta a qualidade de vida sem destruir os recursos necessários às gerações futuras. No contexto ecológico, a conservação ambiental se refere ao ato de manejar os recursos naturais para obter alta qualidade de vida humana causando o menor impacto possível ao ambiente. Assim, esse termo está intimamente ligado à ideia de desenvolvimento sustentável. MANEJO Mas o que exatamente é manejo? RESPOSTA Manejo é um tipo de intervenção humana que ocorre de forma ocasional ou sistemática, em cativeiro ou na natureza, visando a manter, recuperar ou controlar populações silvestres, domésticas, domesticadas ou asselvajadas para garantir a estabilidade dos ecossistemas, dos processos ecológicos ou dos sistemas produtivos. O manejo para conservação tem como objetivo conciliar a proteção dos ecossistemas, dos recursos naturais e de populações animais, atendendo às necessidades econômicas, sociais e culturais das sociedades modernas ao mesmo tempo em que as inter-relações ecológicas e a energia do ecossistema sejam renovadas. O manejo ambiental visa a, fundamentalmente, conseguir a melhora da qualidade de vida humana, integrando diversas áreas de conhecimento ligadas à preservação, ao conhecimento científico, à administração e à política. Um exemplo de manejo pode ser observado na exploração predatória do palmito juçara (Euterpe edulis), que durante muitos anos levou a espécie nativa da Mata Atlântica ao status de “ameaçada de extinção”. Muitas famílias baseavam o próprio sustento na exploração desse palmito, que leva a palmeira à morte após a sua retirada. Com isso, os trabalhos de manejo foram cruciais para a recuperação das populações devastadas e para a manutenção do sustento das famílias, que atualmente têm na exploração de frutos, sementes e mudas uma nova forma de javascript:void(0) substituírem o palmito. Além disso, pelo manejo também se mantém a alimentação de muitos animais da Mata Atlântica. Foto: Alex Popovkin/wikimedia Commons/CC BY 2.0. O palmito juçara foi protegido por meio do manejo ambiental. LEGISLAÇÃO BRASILEIRA PARA A CONSERVAÇÃO AMBIENTAL Imagem: Shutterstock.com Você deve imaginar como a legislação ambiental brasileira é pouco abrangente, já que crimes ambientais, como as queimadas no Cerrado e na Amazônia, o tráfico de animais silvestres e a poluição de rios e lagos ocorrem o tempo todo e raramente pessoas são punidas. No entanto, a legislação ambiental brasileira é considerada uma das mais completas e apropriadas do mundo, pois além de tratar da preservação do meio ambiente, ela aponta ações preventivas que visam a diminuir os impactos à natureza. Essa impressão negativa que temos da legislação ambiental, na verdade, não está ligada propriamente à legislação, mas à sua aplicação. Dado que existe pouca fiscalização ambiental no país, uma escassez de funcionários públicos alocados nessa área e um enorme lobby (Pressão de um grupo sobre políticos) , em especial do setor agropecuário, que tenta de toda forma enfraquecer a aplicação das leis ambientais no país. A Constituição Brasileira de 1988, em seu art. 225, define a importância de manter o ecossistema equilibrado por meio da preservação e da recuperação ambiental em prol da qualidade de vida a que todo cidadão tem direito. A legislação ambiental compreende leis, decretos, resoluções, portarias, normas que são aplicadas às organizações de qualquer natureza e ao cidadão comum. Essas leis ambientais definem normas e infrações e devem ser conhecidas, entendidas e praticadas. Podemos destacar algumas que são marcos nas questões relativas ao meio ambiente no Brasil: LEI DA FAUNA (LEI N. 5.197/1967) Essa lei proporcionou medidas de proteção à fauna silvestre. Ela classifica como crime uso, perseguição, captura, caça profissional e comércio de espécies da fauna silvestre, bem como de produtos originários de sua caça, além de proibir a importação de espécies exóticas e a caça amadora sem autorização do IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) . Criminaliza também a exportação de peles e couros de anfíbios e répteis. ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL (LEI N. 6.902/1981) Essa lei estabelece as diretrizes para a criação das Estações Ecológicas (ESEC) e das Áreas de Proteção Ambiental (APAs). As Estações Ecológicas são áreas representativas de diferentes ecossistemas do Brasil que precisam ter 90% do território inalterado e 10% com possibilidade de alterações para fins acadêmicos. Já as APAs compreendem propriedades privadas que podem ser regulamentadas pelo órgão público competente em relação às atividades econômicas realizadas com o fim de proteger o meio ambiente. POLÍTICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE (LEI N. 6.938/1981) Essa lei dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação. Ela tem como objetivo a preservação, a melhoria e a recuperação da qualidade ambiental benéfica à vida, pretendendo garantir boas condições ao desenvolvimento socioeconômico, aos interesses da segurança nacional e à proteção da qualidade da vida humana. Ela também proíbe a poluição e obriga o licenciamento, além de regulamentar a utilização adequada dos recursos ambientais. POLÍTICA AGRÍCOLA (LEI N. 8.171/1991) Essa lei objetiva a proteção do meio ambiente e estabelece a obrigação de recuperar os recursos naturais para as empresas que exploram economicamente águas represadas e para as concessionárias de energia elétrica. Ela define que o poder público deve disciplinar e fiscalizar o uso racional do solo, da água, da fauna e da flora. Além disso, torna-se obrigatória a realização de zoneamentos agroecológicos para ordenar a ocupação de diversas atividades produtivas, o desenvolvimento de programas de educação ambiental e o fomento à produção de mudas de espécies nativas. POLÍTICA NACIONAL DE RECURSOS HÍDRICOS (LEI N. 9.433/1997) Essa norma institui a política e o sistema nacional de recursos hídricos. Ela define a água como um recurso natural limitado, provido de valor econômico, que pode ter diversos usos, como o consumo humano, a produção de energia, o transporte, o lançamento de esgotos, entre outros. Essa lei também prevê a criação do sistema nacional para coleta, tratamento, armazenamento e recuperação de informações sobre recursos hídricos e fatores que interferem em seu funcionamento. LEI DE CRIMES AMBIENTAIS (LEI N. 9.605/1998) Essa lei trata das questões penais e administrativas no que diz respeito às ações nocivas ao meio ambiente, concedendo aos órgãos ambientais mecanismos para punição de infratores, como em caso de crimes ambientais praticados por organizações. A pessoa jurídica, autora ou coautora da infração, pode ser penalizada, chegando à liquidação da empresa, se ela tiver sido criada ou usada para facilitar ou ocultar um crime ambiental. A punição pode ser extinta caso se comprove a recuperação do dano. SISTEMA NACIONAL DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DA NATUREZA (LEI N. 9.985/2000) Entre os objetivos dessa lei, estão a conservação de variedades de espécies biológicas e dos recursos genéticos, a preservação e a restauração da diversidade de ecossistemas naturais ea promoção do desenvolvimento sustentável a partir dos recursos naturais. NOVO CÓDIGO FLORESTAL BRASILEIRO (LEI N. 12.651/2012) Essa lei dispõe sobre a preservação da vegetação nativa e revoga o Código Florestal brasileiro de 1965, determinando a responsabilidade do proprietário de ambientes protegidos, entre eles a Área de Preservação Permanente (APP) e a Reserva Legal (RL), em preservar e proteger todos os ecossistemas. O Novo Código Florestal levanta pontos polêmicos entre os interesses ruralistas e ambientalistas até os dias atuais. O principal deles foi ter desobrigado pequenos produtores de recuperar áreas de reserva legal que eles desmataram. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. EM RELAÇÃO ÀS LINHAS DE PENSAMENTOS RELACIONADAS À PRESERVAÇÃO DO MEIO AMBIENTE, É CORRETO AFIRMAR QUE: A) a silvicultura tem como principal foco a escolha de espécies que apresentem o maior crescimento secundário de raiz e caule no menor intervalo de tempo. B) a Biologia da Conservação tem como principal foco a preservação a longo prazo de todas as comunidades biológicas; e em segundo plano, os fatores econômicos. C) a piscicultura estuda a produção racional de organismos aquáticos, como peixes, moluscos, crustáceos, anfíbios, répteis e plantas aquáticas para uso do homem. D) a agricultura tem como foco exclusivo as técnicas de produção e aproveitamento de frutos, hortaliças, árvores, arbustos e flores. E) a permacultura tem como principal foco o cultivo de espécies perenes, não sujeitas à sazonalidade das estações do ano. 2. SOBRE AS DIRETRIZES DE ÁREAS DE PROTEÇÃO AMBIENTAL E ESTAÇÕES ECOLÓGICAS DA LEI N. 6.902/1981, NÃO É CORRETO AFIRMAR QUE: A) estações ecológicas são áreas representativas de diferentes biomas do brasil. B) áreas de proteção ambiental são propriedades que podem ser regulamentadas pelo órgão público competente em relação às atividades econômicas para proteger o meio ambiente. C) estações ecológicas precisam ter 90% do território inalterado. D) áreas de proteção ambiental são propriedades do poder público que promovem atividades econômicas voltadas à proteção do meio ambiente. E) parte do território de uma estação ecológica pode ser alterado se, e somente se, for em função de pesquisa acadêmica. GABARITO 1. Em relação às linhas de pensamentos relacionadas à preservação do meio ambiente, é correto afirmar que: A alternativa "B " está correta. A Biologia da Conservação tem como principal foco a preservação a longo prazo de todas as comunidades biológicas; e em segundo plano, os fatores econômicos em oposição ao desenvolvimentismo. 2. Sobre as diretrizes de Áreas de Proteção Ambiental e Estações Ecológicas da Lei n. 6.902/1981, não é correto afirmar que: A alternativa "D " está correta. As APAs compreendem propriedades privadas que podem ser regulamentadas pelo órgão público competente em relação às atividades econômicas para proteger o meio ambiente. MÓDULO 2 Reconhecer a ecologia de paisagens ECOLOGIA DE PAISAGENS E ESTRATÉGIAS DE CONSERVAÇÃO E MANEJO DA VIDA SILVESTRE A Ecologia de paisagens é uma nova área de conhecimento dentro da Ecologia, marcada pela existência de duas principais abordagens: Imagem: shutterstock.com GEOGRÁFICA Privilegia o estudo da influência do homem sobre a paisagem e a gestão do território. Imagem: shutterstock.com ECOLÓGICA Enfatiza a importância do contexto espacial sobre os processos ecológicos e a importância dessas relações em termos de conservação biológica. A Ecologia de paisagens vem promovendo uma mudança de paradigma nos estudos sobre fragmentação e conservação de espécies e ecossistemas, pois permite a integração da heterogeneidade espacial e do conceito de escala na análise ecológica, tornando esses trabalhos ainda mais aplicados para resolução de problemas ambientais. Um dos principais referenciais teóricos da avaliação de paisagens fragmentadas é a teoria da biogeografia de ilhas. Isso ocorre porque, quando aplicado a paisagens terrestres, podemos considerar que os fragmentos de mata se assemelham a ilhas em meio a uma matriz, que é inadequada para a sobrevivência das espécies que vivem no fragmento e por isso pode limitar a movimentação desses animais na paisagem. Foto: Shutterstock.com Tudo isso pode aumentar a chance de extinção e reduzir a possibilidade de imigração. Sendo assim, a matriz do entorno do fragmento agiria como um filtro seletivo, e não como barreira absoluta para os movimentos das espécies através da paisagem, e o tipo de vegetação na matriz determinaria a permeabilidade desse filtro para os movimentos. E, quanto mais semelhante a vegetação da matriz for da vegetação do fragmento, mais permeável ela será. Dessa forma, o quanto uma paisagem facilita ou dificulta o movimento entre fragmentos é denominado grau de conectividade. Imagine duas paisagens. Em uma delas existem dois fragmentos de Mata Atlântica e a matriz entre eles é uma plantação de Pinus; na outra, a matriz entre os dois fragmentos é um pasto. A permeabilidade da matriz de Pinus é muito maior que a da matriz de pasto, pois a cobertura vegetal da matriz de Pinus se assemelha muito mais com a do fragmento de mata que o pasto. Dessa forma, é mais fácil para que os animais circulem por ela e migrem de um fragmento para outro. Aliado à teoria de biogeografia de ilhas, o conceito de metapopulações é fundamental no estudo da Ecologia de paisagens, pois são conjuntos de populações locais conectadas por indivíduos que dispersam entre si. Ou, em uma definição mais recente, um conjunto de populações locais dentro de uma área maior, onde a migração de uma população local para ao menos outra é possível. Muitas vezes, durante o processo de fragmentação, populações de uma mesma espécie podem manter-se isoladas em fragmentos, conectando-se com outras ocasionalmente por meio de deslocamentos de alguns poucos indivíduos. Esse tipo de estrutura pode levar à formação de uma metapopulação. Foto: Shutterstock.com Matriz de Pinus. EXEMPLO No momento de se estabelecer uma área de proteção composta por cinco fr tamanhos para a conservação de uma espécie. Um desses pode parecer m por estar mais isolado, abrigar menos indivíduos ou ser de menor tamanho. No entanto, ao analisar a genética das populações da espécie em questão, outros quatro fragmentos possuem genética muito semelhante entre si, mas fragmento mais distante. Isso ocorre, provavelmente, devido ao fato de esse isso ter menos trocas de indivíduos entre ele e os outros fragmentos. Dessa fragmento, que está mais isolado, seja incluído na área de proteção e que se ele e os outros fragmentos para facilitar a troca gênica entre as metapopulaç genética da população. Quando são estabelecidas estratégias de conservação e manejo da vida silvestre, é utilizado todo o arcabouço teórico fornecido pela biogeografia de ilhas, pelo estudo de metapopulações e dos efeitos de borda para definir o melhor tamanho e formato de uma área de proteção, levando em consideração a população, a comunidade ou o ecossistema que se pretende proteger. Tudo isso permite também o planejamento de medidas que sejam benéficas para a conectividade da paisagem em questão, como a formação de corredores ecológicos. FRAGMENTAÇÃO DA PAISAGEM, EFEITO DE BORDA E CORREDORES ECOLÓGICOS O processo de fragmentação consiste na transformação de uma paisagem natural contínua em manchas de habitat original, com graus de isolamento distintos e condições ambientais diferenciadas no seu entorno. Imagem: Google Earth, fevereiro, 2021. Fragmentos de mata restritos a cumes de morro circundados por matriz de pastagem no município de Guapimirim, Rio de Janeiro. O processo de fragmentação pode ocorrer naturalmente e em diferentes escalas no tempo. Fragmentações decorrentes de alterações climáticas ocorrem predominantemente em escalas temporais maiores e resultam em grandes fragmentos de vegetação original, eventualmente circundadospor outras formações vegetacionais, que têm suas distribuições aumentadas, como ocorreu nos períodos de glaciações. Durante os períodos de glaciações, o planeta ficou mais seco e algumas áreas de florestas reduziram seu tamanho, dando espaço a savanas e campos. Por outro lado, em locais com maior disponibilidade água, como baixadas e matas ciliares de rios e lagos, as florestas permaneceram, formando fragmentos de floresta em meio à vegetação savânica. Já os processos de fragmentação causados pela atividade humana tendem a originar fragmentos relativamente pequenos e podem ocorrer tão rapidamente que as comunidades vegetais e animais não conseguem se adaptar a essas mudanças, resultando na extinção de populações e até mesmo de espécies. Isso pode ser facilmente notado na Mata Atlântica brasileira, que foi extremamente impactada pela atividade humana, em especial a agricultura e a pecuária. Nesse processo, a paisagem florestal deu lugar a fragmentos de mata, geralmente restritos a cumes de morros e montanhas, circundados por pastagens, plantações ou moradias. Os efeitos da fragmentação de habitat são controlados por dois processos principais: Os efeitos internos, relacionados à formação da borda; A influência externa do habitat de matriz na dinâmica do fragmento. Foto: Shutterstock.com O Mutum do Nordeste é uma espécie extinta por conta do processo de fragmentação. Para entendermos melhor sobre a fragmentação, temos que conhecer alguns conceitos que permeiam esse fenômeno: MANCHAS DE HABITAT No processo de fragmentação, damos o nome de manchas às áreas isoladas de determinado habitat. Uma mancha corresponde a uma área não linear cuja aparência difere das áreas vizinhas. As manchas podem variar em tamanho, forma, aspecto e características da fronteira, e correspondem a comunidades de plantas que se distinguem das outras que as circundam. A formação das manchas deve-se muitas vezes a perturbações que destroem os habitat. Tais perturbações podem ter origem natural como tornados, cheias, deslizamentos ou mesmo incêndios. As perturbações também podem ser de origem antrópica, como a construção de uma estrada, fogo, criação de uma pastagem etc. Foto: Shutterstock.com Fragmentos florestais em áreas de pasto. MATRIZ A matriz é a unidade dominante da paisagem. Trata-se da principal estrutura em que as outras estruturas da paisagem estão inseridas. A caracterização da paisagem deve-se não só à sua estrutura, mas também à sua constituição, assim como à distribuição espacial das manchas. Por exemplo, em área de Mata Atlântica desmatada para a criação de um pasto para o gado, os fragmentos de floresta remanescentes são manchas de habitat, já o pasto que circunda essas manchas é a matriz. EFEITO DE BORDA O processo de fragmentação impõe a criação de uma borda de floresta onde ela não existia anteriormente. Diferentemente das zonas naturais, em que existe um gradiente natural de limites entre dois habitat, a borda consiste em uma quebra abrupta da paisagem, separando um habitat de outro. O efeito de borda nos fragmentos pode ser definido como a influência do meio externo à parte mais marginal da área florestada. Ele ocorre devido às alterações bióticas e abióticas que estão presentes na área circundante ao fragmento, resultando em alterações físicas e estruturais ao longo da borda. A intensidade dos efeitos de borda está intrinsecamente relacionada ao tamanho e à forma do fragmento. Quanto menor o fragmento, ou mais alongado, mais intensos são os efeitos de borda, pois a razão interior/margem é diminuída. Uma das principais consequências do efeito de borda é a modificação na composição de espécies na área de transição. As condições do meio se alteram gradativamente com o avanço dos efeitos de borda para o interior do fragmento. A parte marginal do fragmento é onde se verifica a maior presença da ação antrópica; ela funciona como zona de amortecimento, recebendo diretamente o impacto dos ventos, proliferação de espécies pioneiras, cargas de poluição e diminuição na altura das árvores. A intensidade do efeito relaciona-se com o tipo de matriz em que está inserido o fragmento. Imagem: Américo Jr. Ação do efeito de borda agindo ao longo do tempo em uma área fragmentada. SAIBA MAIS Em áreas onde o efeito de borda é predominante, frequentemente observa-s abundância de espécies mais especialistas ou com áreas de vida maiores, riqueza ou na abundância de espécies adaptadas a ambientes alterados. Iss pois interrompe ou afeta diversos processos ecológicos como as teias trófic alfa, como onças, deixam de existir, permitindo que o topo da cadeia passe mesopredadores, como os quatis. CORREDORES ECOLÓGICOS Corredores ecológicos ou corredores de biodiversidade são áreas que unem fragmentos florestais ou unidades de conservação separados por interferência humana. O objetivo do corredor ecológico é permitir o livre deslocamento de animais, a dispersão de sementes e o aumento da cobertura vegetal. Ele reduz os efeitos da fragmentação dos ecossistemas ao promover a ligação entre diferentes áreas e permitir o fluxo gênico entre as espécies da fauna e da flora. Esse trânsito permite a recolonização de áreas degradadas, em um movimento que, de uma só vez, concilia a conservação da biodiversidade e o desenvolvimento ambiental na região. Foto: IPÊ/Laury Cullen Jr/wikimedia Commons/ CC BY-SA 4.0. Corredor ecológico ligando dois fragmentos de cerrado em meio a uma área de pastagem. A VIDA DOS ANIMAIS EM PAISAGENS FRAGMENTADAS Neste vídeo, descrevemos a situação das diferentes espécies em áreas fragmentadas, como elas favorecem o estabelecimento de espécies generalistas com pequenas áreas de vida e dificultam a manutenção de espécies especialistas e de grande área de vida. CONSEQUÊNCIAS DA FRAGMENTAÇÃO A fragmentação de habitat é indicada como uma das maiores ameaças às espécies e uma das causas de perda da diversidade biológica mais citadas atualmente. Mudanças das condições ambientais, como temperatura e umidade do solo e ar dentro da floresta, podem levar a uma alteração nas taxas de crescimento de plantas. Já o grau de isolamento e os processos de colonização e extinção afetam a riqueza de espécies locais. Mesmo quando o grau de isolamento é baixo, os animais que precisam migrar pela matriz até outro fragmento estão à mercê de diversos riscos, como a predação por aves de rapina e animais domésticos, o atropelamento e a caça. Foto: Shutterstock.com Exemplo de fragmentação de habitat. BIOGEOGRAFIA DE ILHAS A teoria da biogeografia de ilhas foi proposta na década de 1960, pelos ecólogos Robert MacArthur e Edward O. Wilson, para explicar a riqueza de espécies em ilhas. A teoria propõe, basicamente, que a riqueza de espécies em uma ilha é mantida em um equilíbrio entre migrações e extinções – com espécies continuamente sendo substituídas e que, por sua vez, dependem de dois fatores: o tamanho da ilha e seu grau de isolamento. Com relação ao grau de isolamento, as taxas de imigração tendem a ser maiores em ilhas mais próximas do que em ilhas mais distantes, pois quanto maior a proximidade, maiores as chances de espécies colonizadoras alcançarem a ilha. Ainda, as taxas de imigração tendem a crescer de acordo com o tamanho da ilha, uma vez que ilhas maiores acomodam maior diversidade de habitat e, consequentemente, mais oportunidades para colonização. À medida que o número de espécies residentes aumenta numa ilha, a taxa de colonização vai decaindo, pois são maiores as chances de que um indivíduo novo que chegue à ilha pertença a uma espécie que já ocorre no local. As taxas de extinção, por sua vez, tendem a aumentar quanto maior for o número de espécies residentes na ilha, provavelmente pelo aumento da exclusão competitiva. A extinção também tende a ser maior em ilhas pequenas, possivelmente em razão da exclusão competitiva ou do tamanho reduzidos daspopulações, pois populações menores têm maior risco de serem extintas. A imagem seguinte ajuda a compreender melhor a teoria de MacArthur e Wilson (1967). Imagem: Américo Jr. A Taxa de imigração de espécies para uma ilha em relação ao número de espécies residentes para ilhas grandes e pequenas e para ilhas próximas e distantes. Imagem: Américo Jr. B Taxa de extinção de espécies em uma ilha em relação ao número de espécies residentes, para ilhas grandes e pequenas. Imagem: Américo Jr. C Balanço entre imigração e extinção em ilhas pequenas e grandes, em ilhas próximas e distantes. Em cada caso, S* é a riqueza em espécies no equilíbrio; P, próxima; D, distante; G grande; Q, pequena. DESENHO DE ÁREAS PROTEGIDAS O processo de estabelecimento de uma unidade de conservação pode ser dividido em duas fases: a seleção ou identificação da área e o seu desenho, ou seja, a definição de seu tamanho e forma. Nos últimos anos, inúmeras teorias e abordagens têm sido utilizadas para embasar os esforços de conservação da biodiversidade. Entretanto, ainda não podemos contar com uma teoria completa, que possa explicar a manutenção da biodiversidade em um período ecologicamente relevante. Isso torna a seleção e o desenho das novas unidades de conservação um grande desafio. A partir de 1990, o uso da distribuição das espécies como critério para identificar áreas prioritárias à conservação ganhou força no Brasil. Isso se deu com workshops destinados a definir áreas prioritárias para a conservação da biodiversidade. Nesses eventos, um grupo de pesquisadores e conservacionistas identifica uma lista de áreas prioritárias para a conservação, tendo como base critérios como endemismo, riqueza de espécies – raras ou ameaçadas – e presença de fenômenos geológicos ou geoquímicos de especial interesse. Imagem: Shutterstock.com Após a seleção da área prioritária de conservação, é necessário definir o seu tamanho e forma, pois uma questão chave para o sucesso de uma área protegida é o seu desenho. De forma que a grande maioria dos estudos que dizem respeito ao desenho de áreas protegidas são focados em ecossistemas e levantamentos de espécies, baseados principalmente nos princípios da Ecologia de paisagens, da teoria de biogeografia de ilhas e no conceito de metapopulações. Essas áreas da ecologia fornecem informações fundamentais para a tomada de decisões ao se estabelecer uma área protegida, que deve ter tamanho suficiente para sustentar populações viáveis e, preferencialmente, ligar outras áreas importantes que estejam ou não protegidas, agindo como corredor ecológico. A biogeografia de ilhas fornece arcabouço teórico que justifica o tamanho ideal de uma área de proteção que pode incluir não só uma área contínua, mas também fragmentos de onde possam vir espécies migrantes. A teoria de metapopulações fornece informações sobre como devem agir as populações dessa área e a melhor forma de manter uma ligação entre elas. A Ecologia de paisagens une todo esse conhecimento em uma perspectiva maior, incluindo variáveis geográficas e climáticas e, assim, temos o melhor desenho de uma área para ser preservada. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. SÃO CRITÉRIOS DE PRIORIDADE PARA A SELEÇÃO DE ÁREAS PARA A CONSERVAÇÃO, EXCETO: A) Riqueza de espécies ameaçadas de extinção. B) Presença de fenômenos geológicos. C) Presença de fenômenos geoquímicos. D) Endemismo. E) Presença de espécies com uma alta taxa de sequestro de carbono. 2. COMO SÃO CHAMADAS AS ÁREAS QUE UNEM FRAGMENTOS FLORESTAIS OU UNIDADES DE CONSERVAÇÃO SEPARADOS POR INTERFERÊNCIA HUMANA? A) Matrizes. B) Fragmentos. C) Bordas. D) Corredores ecológicos. E) Núcleos. GABARITO 1. São critérios de prioridade para a seleção de áreas para a conservação, exceto: A alternativa "E " está correta. Embora a presença de espécies com alta taxa de sequestro de carbono seja algo bom sob um ponto de vista de redução dos gases do efeito estufa, esse não é um critério utilizado para a seleção de áreas, pois essas plantas não são necessariamente importantes para a conservação, e muitas delas sequer são nativas. 2. Como são chamadas as áreas que unem fragmentos florestais ou unidades de conservação separados por interferência humana? A alternativa "D " está correta. Corredores ecológicos ou corredores de biodiversidade são áreas que unem fragmentos florestais ou unidades de conservação, facilitando o fluxo gênico e a dispersão de animais e plantas entre as manchas de habitat. MÓDULO 3 Identificar as estratégias de conservação e manejo da vida silvestre ESTRATÉGIAS DE CONSERVAÇÃO E MANEJO DA VIDA SILVESTRE: IN SITU, EX SITU E INTER SITU CONSERVAÇÃO IN SITU A melhor estratégia para proteção da diversidade biológica a longo prazo é a preservação das comunidades naturais e das populações no ambiente selvagem, conhecida como preservação in situ ou preservação local. Somente na natureza as espécies são capazes de continuar o processo de adaptação evolucionária para um ambiente em mutação dentro de suas comunidades naturais. A conservação in situ é ideal quando a população a ser protegida ainda é grande ou ocorre em áreas protegidas. No Brasil, temos diversos projetos cujo foco principal é a conservação in situ, como o Projeto Baleia Jubarte e o Projeto Papagaio-Chauá. Foto: Shutterstock.com O Projeto Baleia Jubarte é um exemplo de conservação in situ.ex situ. Foto: Shutterstock.com Os projetos de reprodução do panda-gigante em zoológicos são ótimos exemplos de conservação ex situ. CONSERVAÇÃO EX SITU A conservação in situ pode não ser eficiente para pequenas populações ou para o caso de todos os indivíduos remanescentes se encontrarem fora das áreas protegidas. Para grupos com menos espécimes e grandes exigências de espaço, como os grandes vertebrados, é provável que a única maneira de se evitar que as espécies se tornem extintas seja manter os indivíduos em condições artificiais sob a supervisão humana. Instalações ex situ para preservação animal incluem zoológicos, fazendas com criação de caça, aquários e programas de criação em cativeiro. CONSERVAÇÃO INTER SITU A conservação inter situ é uma estratégia intermediária que combina elementos, tanto de conservação in situ quanto de conservação ex situ. Nesse modelo de conservação são feitos o monitoramento intensivo e o manejo de populações de espécies raras e ameaçadas em pequenas áreas protegidas. Tais populações estão ainda, de certa forma, em nível selvagem, porém a intervenção humana pode ser usada ocasionalmente, para evitar o declínio da população. Um exemplo é o projeto mico-leão-dourado, em que indivíduos reproduzidos em cativeiro foram reintroduzidos em áreas de proteção ambiental onde a espécie estava quase extinta. Foto: Shutterstock.com O projeto mico-leão-dourado é um exemplo de conservação inter situ. SAIBA MAIS As estratégias in situ e ex situ são complementares para a preservação e Indivíduos de populações ex situ podem ser periodicamente soltos na natu conservação in situ. Pesquisas sobre populações em cativeiros podem forn de uma espécie e sugerir novas estratégias de conservação de populações PROGRAMAS BEM- SUCEDIDOS DE CONSERVAÇÃO E MANEJO DA VIDA SILVESTRE Neste vídeo, apresentamos uma breve introdução aos diversos programas de conservação e manejo da vida silvestre que foram bem-sucedidos. MANEJO DE HABITAT O manejo do habitat consiste em modificações do ambiente que visam ao seu enriquecimento ou à sua adequação a situações de interesse. Por meio da manipulação do habitat, pode-se aumentar ou reduzir a capacidade de suporte dos animais residentes de determinada área, fazendo com que a população passe a flutuar próximo às densidades desejadas. O manejo do habitat pode implicar a recuperação da mata ciliar, oferta de um item alimentar, colocação de barreiras físicas – como cercas vivas e alambrados – que limitam o acessodos animais a determinada área ou a um recurso. Esse tipo de manejo evita a manipulação direta dos animais e pode ser mais eficiente no controle de populações em desequilíbrio ecológico. Um exemplo são as populações de capivaras em algumas partes do país, que crescem muito devido à falta de um predador natural e podem se contaminar com a febre maculosa, que pode ser letal para humanos. O controle populacional desses animais por abate ou esterilização costuma ser pouco eficiente, pois as populações normalmente não são fechadas e recebem imigrantes, além de raramente ser possível abater todos os animais. Com a baixa populacional da espécie, há uma grande oferta de espaço e alimento para os animais remanescentes, o que acaba facilita sua reprodução e, em pouco tempo, o problema de superpopulação retorna. Nesses casos, limitar o acesso desses animais a recursos alimentares é uma estratégia eficiente, pois reduz a capacidade de suporte da população local. Um exemplo inverso do que acontece com as capivaras é o do Parque Nacional da Serra da Capivara, onde foram espalhados bebedouros e, durante o período de estiagem, são oferecidas cevas (Alimentação para animais) em determinados pontos do local, aumentando a capacidade de suporte do ambiente. Isso evita que os animais tenham que expandir sua área de vida durante a estiagem para encontrar recursos e saiam do parque, o que os faria ficar à mercê de caçadores. Foto: Carlos Souto/wikimedia Commons/CC BY-AS 4.0. O Parque Nacional da Serra da Capivara está inserido no bioma caatinga e localiza-se no estado do Piauí. A disponibilidade de recursos num ambiente não está restrita à oferta de água e de comida. Abrigos e locais para a nidificação são essenciais para a manutenção da população de certas espécies. Um exemplo disso é a arara-azul, que necessita de ocos de árvores antigas para fazer seus ninhos, recurso que sofre escassez devido ao avanço do desmatamento. Para contornar esse problema, o Projeto Arara-Azul espalha ninhos artificiais em árvores, para que as aves tenham onde procriar. Imagem: Shutterstock.com O Projeto Arara Azul é um exemplo de manejo de habitat. MÉTODOS DE ACOMPANHAMENTO E LEVANTAMENTO POPULACIONAL DAS ESPÉCIES EM MANEJO Para o manejo direto de uma espécie ou de seu habitat, é essencial que a situação populacional seja conhecida antes do início do manejo e que ela seja acompanhada durante e após a intervenção. Para isso, devemos observar nas populações alguns pontos fundamentais: TAMANHO POPULACIONAL Existem dois métodos fundamentais de estimativa do tamanho populacional mais comuns que levam em conta dois parâmetros fundamentais: a densidade absoluta e a densidade relativa. DENSIDADE ABSOLUTA Indica o número de indivíduos por unidade de área, ou mesmo volume. Por exemplo, o número de jacarés em um lago. DENSIDADE RELATIVA Indica valores que estimam indiretamente a presença de variações temporais e espaciais das populações, como o número de indivíduos pelo tempo de amostragem, o número de indivíduos por quilômetro percorrido ou mesmo o número de avistamentos ou sinais por quilômetro percorrido. Por exemplo, a taxa de avistamento de antas ao longo de trajetos de 5km em uma área de preservação. A DISTRIBUIÇÃO DOS ORGANISMOS NO ESPAÇO Os indivíduos de uma população vão se distribuir pelo seu habitat de três diferentes formas: homogênea ou uniforme; agrupada ou agregada; e aleatória. Esses três tipos básicos de distribuição dos organismos são dependentes do potencial de sua dispersão, assim como das condições e dos recursos necessários à sobrevivência. DISPERSÃO HOMOGÊNEA OU UNIFORME Os indivíduos de uma população estão distribuídos mais ou menos uniformemente. Exemplo: as plantas que secretam toxinas para inibir o crescimento de indivíduos nas proximidades, um fenômeno chamado de alelopatia. Também podemos encontrar a dispersão uniforme na espécie animal onde os indivíduos vigiam e defendem seus territórios. DISPERSÃO AGRUPADA OU AGREGADA Os indivíduos são encontrados aglomerados, em grupos. Exemplos: animais que vivem em grupos, como cardumes de peixes ou manadas de elefantes. Dispersões agrupadas também acontecem em habitat que são desiguais, com apenas algumas manchas adequadas para viver. DISPERSÃO ALEATÓRIA Os indivíduos estão distribuídos aleatoriamente, sem um padrão previsível. Exemplo: as flores e outras plantas que têm suas sementes dispersadas pelo vento. Elas se espalham amplamente e brotam onde caem, desde que o ambiente seja favorável, com solo, água, nutrientes e luz suficientes. COMENTÁRIO Devemos lembrar também que a distribuição dos organismos depende da e em uma pinguinera, onde cada casal de pinguim cuida e defende seu ninho, distribuição uniforme, mas de um ponto de vista regional tem uma distribuiçã ocupa um espaço específico da região. Pinguins nidificando são um bom ex somente de um ponto de vista local, pois de um ponto de vista regional os pi Imagem: Shutterstock.com Pinguins nidificando. O modelo de distribuição demonstrado pelos organismos tem diversas implicações para o seu estudo, assim como para as estratégias de conservação. O método de amostragem tem que levar em consideração o modelo de distribuição de cada um deles. Ignorar esse aspecto significaria uma provável incorreção na obtenção de estimativas populacionais. EXEMPLO Capivaras vivem em grupos de dezenas de animais e costumam descansar levantamento da densidade populacional de espécies que vivem em uma ár amostragem contempla somente áreas próximas a lagos, você terá a impres enorme de capivaras nessa área de preservação. No entanto, se sua amost de floresta e encostas de morro, a probabilidade de você não registrar nenh existem nessa área, é muito grande. FATORES ENVOLVIDOS NO CRESCIMENTO POPULACIONAL Os fatores envolvidos no crescimento de uma população devem ser observados para saber se essa população está em declínio ou em crescimento. Para isso, observamos as taxas de natalidade e de mortalidade. Populações com taxas de mortalidade maior que de natalidade tendem a entrar em declínio. Podemos considerar que a população cresce quando indivíduos novos chegam a essa população por imigração, e que a população diminui quando indivíduos deixam essa população por emigração. NATALIDADE javascript:void(0) javascript:void(0) Natalidade corresponde ao número de indivíduos que, em dado tempo, nascem em uma população. Por exemplo, a quantidade de quatis que nascem em um intervalo de um ano representam a natalidade de quatis. MORTALIDADE Mortalidade corresponde ao número de indivíduos que morrem em uma população, dentro do mesmo intervalo de tempo. Emigrar significa deixar o local de origem e se estabelecer em outro lugar. Imigrar é o fenômeno protagonizado pelo mesmo indivíduo, mas visto pela perspectiva do local aonde ele chega. Por exemplo: imagine um gambá que sai do seu fragmento de origem (fragmento 1) e se desloca até outro fragmento (fragmento 2) e se estabelece por lá. Da perspectiva do fragmento 1, o gambá é um emigrante; já da perspectiva do fragmento 2, o gambá é um imigrante. ESTRUTURA ETÁRIA A história de vida de um organismo compreende durante seu ciclo de vida o padrão de crescimento, a diferenciação, a capacidade de armazenar energia e a reprodução. Quando pensamos, por exemplo, em uma distribuição etária, devemos considerar que populações de ciclo longo podem ser divididas em três períodos ecológicos: pré- reprodutivo, reprodutivo e pós-reprodutivo. Cada um desses períodos, tem seu comprimento determinado pela sua história de vida e vai influenciar as taxas de natalidade e de mortalidade na população. A análise dessa história de vida da população permite aos ecólogos de populações terem uma ideia do comportamento da história de vida de uma população. Analisando essas informações, podemos tomar decisões que ajudem determinadas populações a aumentarem suas taxasde sobrevivência, favorecendo um número maior de reproduções bem-sucedidas, que resultem em indivíduos sadios e reprodutivos. Além disso, podemos, com essas informações, reduzir o número de mortes, por um cuidado maior com as fases iniciais da vida de organismos que por algum impacto antrópico, por exemplo, estão com suas taxas de mortalidade aumentadas. COMENTÁRIO Sob outro ponto de vista, podemos pensar também no controle de populaçõ exóticas) num ambiente sem predadores e competidores específicos, que a reprodução, tornando-se danosas ao desenvolvimento de populações de es MÉTODOS DE ACOMPANHAMENTO POPULACIONAL Os métodos mais comuns de amostragem no estudo de Ecologia de Populações são de lotes de amostras, como a contagem de indivíduos arbóreos dentro de parcelas de tamanho padronizado; de transectos, por métodos baseados em monitoramentos ao longo do tempo; e os métodos de captura e recaptura. O método de captura e recaptura é o mais usado no acompanhamento de populações de animais. Esse método envolve a amostragem de marcação e uma amostragem de recaptura e pode ser feita tanto com plantas como com animais. Foto: Jonathan Miller/pixabay.com Um dos métodos mais comuns de marcação de mamíferos em estudos populacionais é o uso de brincos numerados. O método mais simples foi desenvolvido por C. G. J. Petersen em 1898 e usado pela primeira vez por F. C. Lincoln em 1930, motivo pelo qual é conhecido como método Lincoln & Petersen. Ele envolve uma sequência de ações: CAPTURA (PRIMEIRA AMOSTRAGEM) MARCAÇÃO SOLTURA RECAPTURA (SEGUNDA AMOSTRAGEM) O intervalo de tempo entre as duas amostragens deve ser curto, pois assumimos no uso desse método que uma população é fechada, ou seja, não pode haver mortes, nascimentos ou migrações. Assim, para calcular o tamanho da população (N), esse método conta com três parâmetros: M = número de indivíduos marcados na primeira amostragem; C = número de indivíduos capturados na segunda amostragem; R = número de indivíduos com marcas capturados na segunda amostragem. Podemos, então, compor uma fórmula que envolve todos esses parâmetros: N / M = C / R, LOGO, N = (C X M) / R EXEMPLO Suponha que queiramos estimar o tamanho populacional de preás de um fra populações, depois de instalar uma porção de armadilhas, capturou e marco amostragem (M=16). Estes foram então soltos no fragmento. Passado algum de armadilhas, uma segunda amostragem foi feita e foram capturados 20 ind estavam com marcas (R=5). Substituindo os valores encontrados no estudo na fórmula, obtém-se o taman 64 Logo, nesse fragmento, estimamos que o tamanho da população de preás s É importante lembrar que essa estimativa leva em conta algumas pressuposições, ou seja, que a população seja fechada, que todos os animais tenham chances iguais de serem capturados na primeira amostragem, que a marcação não deve afetar a chance de o animal ser recapturado e, por fim, que os animais não podem perder as marcações entre os dois períodos amostrais. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. QUAIS SÃO OS PARÂMETROS FUNDAMENTAIS QUE OS PRINCIPAIS MÉTODOS DE ESTIMATIVA DE TAMANHO POPULACIONAL LEVAM EM CONTA? A) Número de filhotes. B) Densidade absoluta e densidade relativa. C) Número de fêmeas. D) Densidade de machos. E) Número de migrantes. 2. QUANDO UTILIZAMOS A METODOLOGIA DE CAPTURA E RECAPTURA PRECISAMOS ASSUMIR QUE: A) a população se reproduziu no período entre as amostragens. B) a população recebe imigrantes. C) a população é composta só por fêmeas. D) a população é fechada. E) indivíduos da população morreram no período entre as amostragens. GABARITO 1. Quais são os parâmetros fundamentais que os principais métodos de estimativa de tamanho populacional levam em conta? A alternativa "B " está correta. Os dois parâmetros fundamentais são densidade absoluta e densidade relativa, que serão utilizados em fórmulas matemáticas para estimar o tamanho de populações em ambientes naturais. 2. Quando utilizamos a metodologia de captura e recaptura precisamos assumir que: A alternativa "D " está correta. No método de captura e recaptura assumimos que uma população é fechada, ou seja, não pode haver mortes, nascimentos ou migrações. CONCLUSÃO CONSIDERAÇÕES FINAIS Aprendemos sobre o manejo e a conservação da vida silvestre, descobrimos como surgiram as primeiras áreas de preservação e conservação da natureza e a diferença entre esses dois termos. Conhecemos também as principais leis que regem a proteção do meio ambiente no Brasil. Além disso, nós estudamos os feitos da fragmentação sobre os habitat e as comunidades animais e todo o arcabouço teórico utilizado pela Ecologia de paisagens, campo novo de estudos e de atuação do biólogo, para compreender os efeitos da ação humana na paisagem. Por fim, aprendemos sobre os métodos de conservação e manejo da vida silvestre, como podemos estimar as populações e os aspectos importantes a serem observados nelas. AVALIAÇÃO DO TEMA: REFERÊNCIAS BEGON, M.; TOWNSEND, C. R.; HARPER, J. L. Ecologia: de indivíduos a ecossistemas. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2007. Página 614. D´EON, R. G.; GLENN, S. M.; PARFITT, I.; FORTIN, M. J. Landscape connectivity as a function of scale and organism vagility in a real forested landscape. Conservation Ecology, v. 6, n. 2, 2002, p. 10. FILHO, J. A. Manejo Ambiental: o aprofundamento dos conhecimentos específicos e a visão holística. 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Primeira Aproximação. Geomorfologia, de Aziz Ab'Saber, v. 52, p. 1-23, 1977. Pesquise por Estratégia Nacional para a conservação ex situ de espécies ameaçadas da flora brasileira, disponível no site do ICMBIO. Leia o artigo Efeitos da fragmentação de ecossistemas: a situação das unidades de conservação, de Fernando Antonio dos Santos Fernandez, nos Anais do Congresso Brasileiro de Unidades de Conservação. Universidade Federal do Paraná, Curitiba. v. 1, p. 48-68, 1997. CONTEUDISTA Luis Renato Rezende Bernardo CURRÍCULO LATTES javascript:void(0);
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