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A escrita das mulheres nas literaturas de Língua


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A escrita das mulheres nas literaturas de Língua Portuguesa
“A língua é uma espécie de segunda pele, impressão digital, pessoal, mas transmissível, contagiosa, poderia mesmo dizer-se” (Paula Tavares, poeta angolana)
Portugal
De acordo com estudo de Rita Lemaire, elaborado na década de 80, pode-se creditar a mulheres o início da literatura lusófona;
Pela tese de Lemaire, dentre os textos remanescentes da lírica medieval pertencente à literatura da Língua Portuguesa, constam os que se originaram de manifestação feminina, coletiva e anônima;
Textos esses que depois foram apropriados por homens que os transcreveram e adaptaram ao gosto vigente, anexando seu nome a eles.
Rita Lemaire faz referência às “Cantigas de amigo” como parte da tradição lírica amorosa praticada por mulheres, que circulava entre outras manifestações orais.
A tentativa de apreender a configuração da mulher no imaginário literário e cultural português nos remeteria para a sua origem, nas cantigas dos trovadores galego-portugueses;
Em uma Idade Média com características bastante distintas das que encontramos no restante da Europa, em que a referência à figura feminina no universo artístico da corte é praticamente nula, na lírica trovadoresca, a mulher tem representação, ainda que dentro dos marcos da segregação;
Nas Cantigas de Amor, em que se reproduz o mito do amor infeliz e o sentimento é aprisionado e ritualizado de acordo com os códigos de uma cultura inscrita no masculino, percebe-se a existência de um texto perverso, no qual é possível ler o jogo entre o silêncio e a fala;
Enquanto a dor de amor masculina é falada, ganha um estatuto literário, a dor feminina é confirmada pelo silêncio e pela clausura física e social.
A lírica feminina, aparentemente dispunha de grande circulação na Alta Idade Média e correspondia a uma elaboração comunitária, cujo emissor exprimia sua perspectiva feminina, ativa e plena de desejo amoroso;
Esses poemas, localizáveis em coletâneas como o “Cancioneiro da ajuda”, organizado por Carolina Michaelis de Vasconcellos, no começo do século XX, apresentam características singulares que, conforme sugere Lemaire, nunca mais se repetiram na literatura:
Originalmente de circulação oral, eram formulados por mulheres, que colocavam sua perspectiva, mas não se identificavam, preferindo o anonimato e a dispersão na comunidade;
Os versos equivalem a “expressões variadas evocando uma jovem ativa, que toma iniciativas no domínio do amor e exprime, sob diversas formas, o seu desejo”, que é ativo e se torna uma exigência concreta;
A recitação dos poemas inclui o movimento corporal.
Apesar da perspectiva feminina se sobressair nesses poemas, ela não se apresenta de modo dominador, mas igualitário. Essas canções constituem o berço da lírica portuguesa.
O caráter fechado da sociedade portuguesa e de suas variantes, por muitas razões, quis determinar a autoria literária e/ou a atividade intelectual em geral como ações peculiares ao sexo masculino;
Assim, por longo tempo, foi da competência dos homens olhar, interpretar e orientar os sentimentos femininos em obras literárias;
A mulher era vista e sentida apenas pela ótica masculina;
Desse modo, eram desprovidos de valoração os possíveis questionamentos ou intervenções que as mulheres pudessem ensaiar sobre si e sua relação com o mundo no qual estavam inseridas.
http://revistamododeusar.blogspot.com/2013/12/irene-lisboa-1892-1958.html
Ainda no século XIX, produções literárias femininas, em Portugal, foram assinadas com pseudônimos masculinos;
Por exemplo, a portuguesa Irene Lisboa assinava como “Manoel Soares”;
Como novelista, contista e poetisa, Irene Lisboa se ocupa da angústia advinda da solidão que acomete as mulheres integrantes de sociedades;
https://www.escritas.org/pt/florbela-espanca
Procura retratar a vida popular lisboeta e serrana, com destaque para o desvelamento da situação da mulher culta, ativa e livre no retrógrado meio português dos primeiros anos do século XX, vivenciados intensamente por essa escritora.
Irene Lisboa (1892-1958) segue a poetisa Florbela Espanca na prática de ser intérprete de seu momento e autora na sua visão da intimidade feminina;
Tanto Florbela quanto Irene registram vários ângulos da posição social da mulher, sendo que Florbela dá preferência ao soneto como forma de abrigar o conteúdo lírico. 
Panorama da literatura portuguesa mais atual:
Destacam-se as escritoras Maria Judite de Carvalho, Fernanda Botelho, Isabel da Nóbrega, Yvette Centeno, Marta de Lima e Maria Ondina Braga.
Judite de carvalho é contista, novelista e sensível aos problemas impostos à mulher;
Destaque para a novela Os armários vazios (1966);
Cria um mundo exclusivamente feminino com as temáticas do pessimismo, da amargura e da solidão.
Fernanda Botelho: Xerazade e os outros – estilo irônico e poético. O inevitável conflito do homem com o seu ambiente.
Isabel da Nóbrega: Viver com os outros (1965) – Questões das relações humanas.
Yvette Centeno: Não só quem nos odeia – tema da incomunicabilidade. Vale-se da poética pessoana: Ricardo Reis sustenta a narrativa via intertexto.
Marta de Lima: O sabor da vida e Um dia são dias– sobre as reminiscências da existência
Maria Ondina Braga: A Personagem – constrói suas personagens no tema da solidão feminina. Evidencia a morte do amor entre homem e mulher pelo desenrolar do dia a dia. 
Novas Cartas Portuguesas
Maria Isabel, Maria de Fátima e Maria Teresa, jornalistas e já possuidoras de certo reconhecimento literário, escrevem Novas Cartas Portuguesas para questionar o cerco de imposições institucionais que ainda sitiavam a mulher portuguesa nos anos 70;
Inseridas num regime social de fortes desigualdades políticas, econômicas e de gêneros;
Quando essas autoras foram chamadas a tribunal pelo caráter obsceno da obra, tiveram apoio de mulheres francesas lideradas por Simone de Beauvoir, que organizou um protesto em frente à Embaixada Portuguesa em Paris. 
Novas Cartas Portuguesas desenvolve uma psicologia feminina a partir das reivindicações político-sociais, privilegiando o erotismo no amor e dando ao homem um papel negativo: o de agressor e de dominador;
A descoberta do corpo feminino, “dos profundos e desconhecidos bosques” feita pela própria mulher “ao usar ambas as mãos sobre o corpo” pode ser entendida como uma provocação que a obra das Marias faz das instituições seculares que dominaram e regularam o corpo feminino.
Na narrativa, Mariana descobre o momento erótico do prazer solitário e dos caminhos do seu corpo, na solidão da cela, onde as visitas do cavaleiro já não mais ocorrem. 
Maria Velho da Costa publicou Maina Mendes (1969) e Maria Tereza Horta publicou Ema (1985). Elas são duas das escritoras de Novas Cartas Portuguesas e seus romances caracterizam-se por serem pós-modernos e pela abordagem marcante que fazem sobre a questão feminina.
O romance Maina Mendes é constituído por 3 partes: “A mudez”, “O varão” e “A vaga”;
A primeira, à qual corresponde quase a metade do romance, narra desde a infância de Maina Mendes, a sua mudez intencional, a recuperação da fala, o baile em que conhece o futuro marido, a preparação para o casamento, o nascimento do filho e a morte da ama e amiga Hortelinda. 
Metonímia em Maina Mendes: Em algumas cenas, as personagens, especialmente as mulheres, são descritas por pequenas partes da roupa, do tecido, da cor ou do corpo;
Desindividualização das personagens;
Preocupação maior, por parte da autora, em “como contar” a história do que com a história em si;
A segunda parte do romance, “O varão”, é narrada pelo filho de Maina Mendes. A terceira, “A vaga”, de apenas 13 páginas, pela neta, e adquirem linearidade e objetividade na composição do enredo.
A protagonista, durante a infância, emudece como um artifício para se encerrar em seu mundo em protesto contra sua condição de mulher;
Após o nascimento do filho, passa 5 anos internada num sanatórioe, quando sai, vive em reclusão e silêncio, geralmente diante de uma janela, em situação de contemplação.
No romance Ema também há fragmentação e aproximação a um enredo cinematográfico;
A história conta com 2 eixos: o da tradição, representado pela trajetória de opressão das 4 Emas (a protagonista, sua avó, mãe e filha);
E o eixo do rompimento da tradição, com o assassinato do marido por Ema. 
As 4 Emas se repetem e se confundem, confirmando o que tradicionalmente acontecia na vida de todas as mulheres;
O efeito de fragmentação desses 2 romances é característica da pós-modernidade;
Ema passa diante da janela, de frente para a praça, onde vê estátuas de mulheres que lhe dão ideia de imobilidade.
Em Ema, como em Maina Mendes, predomina o espaço da casa;
As protagonistas passam a vida presas em casa, olhando pela janela o mundo que lhes é negado;
Ema vive seus momentos de conflito no corredor da casa, à porta do escritório do marido, cuja entrada lhe era proibida;
Por isso, abrir aquela porta e usufruir do espaço era seu grande desafio.
A atração dela pelo escritório consolida-se pelos livros, pelos objetos, como os 2 quadros de mulheres esfumaçadas que remetem ao mundo masculino;
É nesse espaço que ela mata o marido, depois de criar intencionalmente uma situação de confronto. 
Produção romanesca em Portugal pós 1974
Teolinda Gersão, professora universitária nascida em 1940 que vivenciou a repressão salazarista, o drama da guerra colonial, a revolução e as perplexidades pós-revolucionárias;
Seus romances falam indiretamente dessa realidade através de personagens comoventes, apesar de prosaícos e medíocres;
De 1981 a 1989, Teolinda publicou os romances O silêncio (1981), Paisagem com mulher e mar ao fundo (1982), Os guarda-chuvas cintilantes (1984) e O cavalo de sol (1989);
Estetização do fragmantário e preocupação com as transformações do sujeito na contemporaneidade. 
Em O silêncio, as personagens Lídia, Alcina, Lavínia e Ana são 4 representantes da mulher portuguesa pós 74, colocada entre o desejo e a convenção;
O romance levanta o questionamento de se seria a ditadura um fenômeno “macho”, viril.
A partir doa anos 70 começa um aumento de publicação de obras de mulheres poetas em Portugal, que constituem uma comunidade literária com outra perspectiva, por meio de um olhar feminino sobre o mundo e sobre a cultura em que estão imersas;
Podemos citar nesse grupo: Adília Lopes, Isabel de Sá, Isabel Cristina Pires, Teresa Rita Lopes, Ana Luísa Amaral, Inês Lourenço, Teresa Alvarez, Rosa Alice Branco e Fátima Maldonado. 
A obra das poetas de 70 e 80 questiona ideologias. Não há exatamente um discurso feminista, mas a problematização dos papeis sociais.
África
Algumas mulheres africanas têm acesso só tardiamente às condições de escrita e à literatura;
O momento histórico vivido hoje permite à mulher africana admitir-se como sujeito amoroso literariamente falando, sem deixar de lado sua condição político-cultural, o que por muito tempo foi o sentido maior da linguagem poética africana feminina;
Como não há mais a repressão colonial impondo padrões rígidos, o sujeito feminino pode se isentar da necessidade histórica de fazer do texto arma de combate ou palavra de ordem para a construção do corpo nacional;
Hoje, a mulher africana está mais livre, seja dos cercados da tradição ancestral ou das amarras da colonização.
Na África, no período de lutas pela libertação, mulheres escritoras produziram poesia atentas à missão que tinham como intelectuais, guias, mentoras e agentes de transformação.
Alda Lara, de Angola, e Alda Espírito Santo, de São Tomé, registram os anseios das lutas pela independência e preenchem, de forma significativa, os poucos espaços ocupados pela mulher escritora no tempo das lutas pela libertação.
Nessa mesma fase, Noémia de Souza, de Moçambique, esteve presente em antologias de poesia africana de Língua Portuguesa;
Embora sua produção poética tenha importância histórica e literária reconhecidas, parou de escrever em 1951 e só voltou em situações especiais.
Nos poemas de Noémia de Souza, de Moçambique, a voz que se anuncia é a da mulher comprometida com uma consciência de luta contra o sistema colonialista;
A força da palavra poética de Noémia de Souza se traduz de forma vibrante em poemas como “Deixa passar o meu povo”, que delineia uma figura de poeta comprometida com a causa que anima o poema;
Ideia do escritor com uma missão a cumprir;
Escrever era um imperativo político que resgatava as lutas dos negros espalhados pelo mundo.
Ana Paula Tavares, de Angola, desponta como o grande nome entre as poetas cujos textos revelam a produção do pós-independência;
As tradições da Huíla, região onde a escritora nasceu, estão nos poemas;
A sua formação em História e uma grande sensibilidade marcam o modo como a poeta observa os costumes das mulheres de sua etnia e os transporta para os poemas;
Seu primeiro livro, Ritos de passagem (1985) revela o olhar da historiadora sobre o lugar da mulher em sociedades que celebram rituais de iniciação e de passagem.
Esses rituais e costumes aparecem em sua poesia permeados de admiração e de espanto, já que ela pertenceu a uma dessas sociedades, mas não convive mais com ela;
Distanciou-se de costumes e vivências que, ao mesmo tempo, são e não são dela.
Os poemas de Tavares se distanciam daqueles produzidos pela geração da “poesia de combate”, particularmente por aqueles poetas que acompanharam o processo de libertação de Angola do colonialismo português.
No seu primeiro livro, a predileção pela descrição de frutos típicos de sua região é recortada por um viés erótico;
As cores e o sabor dos frutos são também imagens de um corpo que transcende em cheiros, em tessitura macia e em forte sensualidade.
No poema “Ex-Voto”, de Paula Tavares, o eu lírico assume um lugar de fala que está determinado pela incapacidade de as palavras darem conta de alcançar os significados que giram em torno de rituais.
O altar de pedra e paus, e o corpo adornado de pinturas ritualísticas e “penteado de missangas” são lugares onde se perpetuam regras, leis, hábitos seculares, mas também lugar de possível transgressão. 
Tavares confessa o seu espanto com relação a determinadas leis que, em sua cultura, determinam as diferentes funções que regulam a sociedade;
Revela também a severidade de tabus e normas que traçam os espaços da mulher nessas culturas. Ao mesmo tempo, o respeito ameniza seu espanto.
Referências
BACHELARD, Gaston. A poética do espaço. Tradução Remberto Francisco Kuhnun, Antônio da Costa Leal, Lídia do Valle Santos Leal. São Paulo: Nova Cultural, 1988.
BAUMAN, Zigmund. Modernidade líquida. Tradução Plínio Dentzian. Rio de Janeiro: Zahar, 2001.
BOURDIEU, Pierre. A dominação masculina. Tradução Maria Helena Kühner. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1999.
CUNHA, Helena Parente. Mulheres inventadas. Leitura psicanalítica de textos na voz masculina. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1994.
DUARTE, Constância Lima. SCARPELLI, Marli Fantini (Orgs.). Gênero e Representação nas literaturas de Portugal e África. Belo Horizonte: Pós-Graduação em Letras – Estudos Literários: UFMG, 2002. 
HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP&A, 2003.
LEITE, Ana Mafalda. Oralidades e escritas pós-coloniais: estudo sobre literaturas africanas. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2012.
ORLANDI, Eni P. As formas do silêncio: no movimento dos sentidos. Campinas: Ed. UNICAMP, 1995. 
SANTOS, Milton. Metamorfoses do espaço habitado. São Paulo: Hucitc, 1988.

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