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1 CURSO DE BACHARELADO EM SERVIÇO SOCIAL MODALIDADE – EaD NOME DA ALUNA: RU: A CONSTITUIÇÃO HISTÓRICA DO SERVIÇO SOCIAL A falta de entendimento sobre a verdadeira função e atuação do Serviço Social é comum na atualidade. Esse processo decorre devido ao pensamento errôneo de que a profissão se faz a partir de relações de caridade. Antes de iniciar o curso eu não tinha total clareza da dimensão do Serviço Social. Depois de ter pesquisado mais sobre a profissão, percebi que o Serviço Social tem inúmeras possibilidades de inclusão e atuação, viabilizando os direitos sociais, civis, políticos e econômicos de toda população. Esses profissionais fazem as intervenções necessárias, analisando, elaborando e coordenando programas e projetos, buscando a garantia de qualidade de vida, da dignidade, da equidade e integridade para todos, sempre em busca de uma sociedade mais justa e igualitária. O processo de profissionalização do Serviço Social teve sua origem ligada na Doutrina Social da Igreja Católica, no ideário franco-belga de ação social e no pensamento de São Tomás de Aquino (séc. XII). No contexto de expansão do mundo capitalista, em um processo de resgate da hegemonia da Igreja Católica, a “questão social” era considerada um problema de ordem moral e religiosa, a contribuição do Serviço Social incidiria sobre valores e comportamentos, intervindo e priorizando a formação da família 2 e do indivíduo para a solução dos problemas e atendimento de suas necessidades, na perspectiva de sua integração às relações sociais vigentes (YAZBEK, 2009, p.3, 4). A ligação do Serviço Social com a Igreja, em sua origem, impedia a profissão de se aproximar do paradigma materialista do positivismo que não admitia o caráter idealista religioso, proposto pela Igreja, pois tanto o positivismo quanto o Serviço Social se consolidam a partir do paradigma da industrialização na década de 1930, com o aparelhamento técnico/científico dado à educação como um todo. Esse processo de industrialização teve como consequências agudas desigualdades, o empobrecimento, crescimento urbano, violação de direitos entre outras expressões dessa realidade. Todos esses embates da "questão social", demanda um profissional capacitado a fim de propor soluções. Dentro do conservadorismo católico, não se ofereciam ferramentas suficientes para que o assistente social atuasse nessa nova realidade advinda da sociedade industrializada. Eram necessários, portanto, métodos e procedimentos que garantissem caráter científico à profissão. A partir dos anos 40 o Serviço Social brasileiro começa a ser tecnificado. As primeiras escolas de serviço social no Brasil foram criadas nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro, baseadas no modelo franco-belga e no norte-americano de caráter conservador de abordagem individual e psicologizante. (SOUZA, MEIRELLES, LIMA, 2016, p.174). Um marco para a categoria profissional, pois com o tempo assumiram a assistência social e legalizaram a existência da profissão no país. A partir da década de 1960 alguns profissionais do Serviço Social adotaram a fenomenologia, uma corrente filosófica segundo Souza, Meirelles, Lima (2016, p. 208-2014) que priorizava “a descrição de vida das pessoas em seu cotidiano e a interpretação que elas próprias fazem de suas vivências”. Tendo como pressuposto a descrição da experiência humana em sua concretude, procurou “consolidar uma crítica ao positivismo reinante” de caráter manipulador e instrumental, que levava em conta as relações aparentes dos fatos em sua objetividade e imediaticidade. A fenomenologia se tornava uma linhagem teórica alternativa 3 a função da profissão, exaltando o papel do assistente social por meio do diálogo com os indivíduos, valorizando suas vivências e "suas próprias interpretações da realidade”. Essa linha de pensamento pode ser entendida a luz da subjetividade, na perspectiva de que a responsabilidade de todas mazelas ou sucessos residia no sujeito, porém deixava a desejar para o processo de trabalho do profissional de Serviço Social, desconsiderando determinações sócio-históricas, culturais entre outras. As restrições da Ditadura Militar trouxeram um caráter modernizador à profissão, ao profissional cabia responder as expressões da questão social com ações pontuais e individualizantes, buscando o enquadramento e ajustamento dos usuários, com ações disciplinadoras e preventivas. Conforme os autores citados a aproximação do Serviço Social ao marxismo ocorre nas décadas de 1960-1970, porém tal incorporação ao pensamento de Marx ocorreu de forma equivocada, diluindo-se em doutrinas e regras a serem seguidas. O Serviço Social atuou com esta proposta ajustadora até a década de 1970, quando se processou o “Movimento de Reconceituação” do Serviço Social, na busca de modelos metodológicos adequados a realidade latino-americano. Este movimento começa a produzir de forma crítica, literaturas específicas sobre o Serviço Social, questionando sua prática institucional e seus objetivos de adaptação social advindos da Europa e dos Estados Unidos, com práticas burocráticas meramente executivas e paliativas, ultrapassadas, funcionais à manutenção da ordem vigente, dando início a uma vertente de ruptura com o Serviço Social tradicional (SOUZA, MEIRELLES, LIMA, 2016, p. 194-251). A profissão do Serviço Social adentra na década de 1980 de forma diferente de sua trajetória histórica. Vincula-se ao interesse das classes trabalhadoras e suas vanguardas, e entidades buscam uma legitimidade, aliando-se à transição democrática dos anos 80 no Brasil. No início da década de 1980 que a teoria social de Marx é adotada, se tornando referência analítica pelo Serviço Social. Esta teoria compreende “o ser social a partir de mediações”, aceitando fatos e dados como indicadores, percebendo a realidade 4 contraditória das relações sociais de forma dialética. Este referencial permeia as ações voltadas à formação e a ação da profissão no país, suas produções teóricas, reflexões e posicionamentos ideopolíticos, apropriando-se do pensamento de Antônio Gramsci e de outros historiadores marxistas contemporâneos. Exigências em nível de pós-graduação, de instituições portuguesas e países como Argentina, Uruguai e Chile permitem ampliar a influência do pensamento do profissional brasileiro na América Latina. (YAZBEK, 2009, p.10-11). Conforme a autora mencionada “os anos 80 e 90 foram adversos para as políticas sociais” com “avanço da regressão neoliberal” redirecionando as intervenções do Estado à questão social, expressas pela precarização no mercado de trabalho e a desestabilização dos sistemas de proteção social. Surgindo questões novas à profissão na década de 90, “a opção neoliberal na área social passa pelo apelo à filantropia e à solidariedade da sociedade civil, e por programas seletivos e focalizados de combate à pobreza no âmbito do Estado” e a exclusão social. Nesse contexto “cresce o denominado terceiro setor” de iniciativa privada sem fins lucrativos (YAZBEK, 2009, p.15,16). Em um campo de lutas e desafios todas essas transformações com seus processos de globalização “vão encontrar um Serviço Social consolidado e maduro na sociedade brasileira”, com avanços, que construiu um projeto ético político da categoria profissional que é “reafirmado pelo Código de Ética de 1993, pelas Diretrizes Curriculares de 1996 e pela Legislação que regulamenta o exercício profissional” (YAZBEK, 2009, p.15-18). Em relação as referências teóricas-metodológicas, entre tensões e ambiguidades, foram confrontadas com a crise dos modelos analíticos, explicativos nas ciências sociais, com interferências conflituosas do pensamento pós moderno, que questionava os paradigmas marxista e positivista, restaurando o pensamento conservador (YAZBEK, 2009, p.24). 5 A semelhança do surgimento do Serviço Social, tanto no Brasil como na Europa, teve sua origemem causas estruturais, porém seu desenvolvimento e concretização ocorrem de forma diferenciada, dentro de cada contexto. Apesar dos avanços, esses últimos anos não romperam com características neoliberais que se expandiram desde a década de 90 (YAZBEK, 2009, p.23). Tal estudo possibilitou aproximar-se da realidade histórica do Serviço Social, um processo envolvendo a existência da “questão social”, resultado do conflito da relação entre capital e trabalho com seus processos de globalização, originado e consolidado através do modo de produção capitalista, que em nenhum momento se desvinculou de concepções teóricas e ideológicas predominantes em cada conjuntura político-econômica, pois a herança conservadora permanece presente até os dias atuais, não impedindo o diálogo com outras matrizes de pensamento social. Acerca da criação da profissão cabe o desafio de desmistificar conceitos vinculados à profissionalização da filantropia. Ao se aproximar dessa temática o trabalho contribuiu para minha formação acadêmica no sentido que em um cenário de transformações, e da necessidade constante de análise do movimento histórico da sociedade, com bases teóricas centradas na tradição marxista, se torna fundamental o aprimoramento intelectual da profissão, com capacidade ética e competência técnica no âmbito da pesquisa e da produção de conhecimentos, tendo uma visão ampla da realidade, um profissional qualificado para atendimento às expressões da questão social, identificando demandas no cotidiano, contribuindo para preservação e efetivação de direitos. Referências bibliográficas: SOUZA, Daniele Graciane De; MEIRELLES, Giselle Ávila Leal De; LIMA, Silvia Maria Amorim. Produção capitalista e fundamentos do Serviço Social (1951-1970). Curitiba: InterSaberes, 2016. 6 YAZBEK, Maria Carmelita. Os fundamentos históricos e teórico metodológicos do Serviço Social brasileiro na contemporaneidade. In: Serviço Social: direitos sociais e competências profissionais. Brasília: CFESS; ABEPSS, 2009. DEVOLUTIVA É com grande prazer que analisamos seu trabalho! Seu texto possui ótima qualidade. Trabalho muito bem construído, abordando o tema proposto de forma atrativa e transparente, levando ao leitor uma grande facilidade de interpretação, parabéns! Orientamos apenas que devido ao caráter formal e impessoal dos textos acadêmicos evite construir a oração na primeira pessoa do singular. O mais adequado é construí-la com o "nós" ou utilizar outros recursos que tornem o texto impessoal. Exemplos: conclui- se que, percebe-se pela leitura do texto, é válido supor, verificar-se, entre outros. Esta é a forma usual para a exposição dos trabalhos. Fique bem!
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