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Eficácia e aplicabilidade das normas constitucionais Todas as normas constitucionais apresentam eficácia, algumas jurídica e social e outras apenas jurídica. Michel Temer observa que a “eficácia social se verifica na hipótese de a norma vigente, isto é, com potencialidade para regular determinadas relações, ser efetivamente aplicada a casos concretos. Eficácia jurídica, por sua vez, significa que a norma está apta a produzir efeitos na ocorrência de relações concretas; mas já produz efeitos jurídicos na medida em que a sua simples edição resulta na revogação de todas as normas anteriores que com ela conflitam” Classificação das normas constitucionais Vigência Existência da norma no mundo jurídico (em parte da doutrina, sendo equivalente à vigor; em outra parte, ligando o vigor à imperatividade, força vinculante). Uma norma está vigente se existe e não foi revogada. Validade Relação de conformidade entre a norma inferior e a norma superior. Eficácia jurídica Aptidão da norma para produzir efeitos, ou seja, é a norma jurídica apta a produzir efeitos ou ser aplicada em regra, toda norma tem eficácia jurídica. Efetividade (eficácia social) Aptidão da norma para produção concreta de efeitos, sendo a concreta observância da norma ao meio social que pretende regular. A norma jurídica pode existir, ser válida, vigente e eficaz, mas não necessariamente significa que será efetiva (eficácia social). Para isto, tem de cumprir a sua finalidade, ou seja, atender a função social para a qual foi criada. A classificação das normas constitucionais sempre foi um tema importante para o direito. Os norte americanos classificam as normas constitucionais em autoaplicáveis (self executing) e não aplicáveis (not self executing) As primeiras são desde logo aplicáveis As segundas dependem de leis ordinárias Classificação de José Afonso da Silva a. Normas constitucionais de eficácia plena: possuem aplicabilidade direita, imediata e integral, por não dependerem de legislação posterior para a produção de seus efeitos essenciais. Não admitem restrições infraconstitucionais, mas permitem a regulamentação (o que é criticado em parte da doutrina). Aproximam-se do que a doutrina clássica norte- americana chama de normas autoaplicáveis (self- executing, self-enforcing ou self- acting). Exemplos: normas que contenham proibições (art. 145, § 2º) ou vedações (art. 19); Que confiram isenções (art. 184, § 5º), imunidades (arts. 53 e 150, I a VI) ou prerrogativas (art. 128, § 5º, I); Que atribuam a entes federativos competências (art. 22 a 24). b. Normas constitucionais de eficácia contida: Possuem aplicabilidade direta e imediata, mas possivelmente não integral. Apesar de terem condições, desde a sua entrada em vigor, para produzir os efeitos por elas propostos, poderão sofrer redução ou restrição de sua abrangência em face da atuação legislativa ou de disposições da própria Constituição. Enquanto não houver a norma regulamentadora restritiva, terão aplicabilidade integral, como se fossem normas de eficácia plena passíveis de restrição. Costuma-se utilizar expressões como “nos termos da lei”, “na forma da lei” para a definição de direitos restringíveis, apesar de esta não ser uma regra. Também chama eficácia redutível ou restringível Exemplos: Restrição/suspensão da liberdade de reunião (art. 5º, XVI) em face da decretação de estado de defesa ou de sítio (art. 136, § 1º e 139); Restrição do direito de greve de empregados da iniciativa privada (art. 9º, §1º) pela Lei nº 7.783/89, que definiu serviços e atividades essenciais; Restrição da liberdade profissional (art. 5º, XIII) por legislações que estabeleçam qualificações para o seu exercício (Estatuto da OAB) c. Normas constitucionais de eficácia limitada: No momento de sua entrada em vigor, só produzem a plenitude dos seus efeitos jurídicos pretendidos após sua integração, ou seja, pela emissão de atos normativos infraconstitucionais por Poder, órgão ou autoridade competente. São de aplicabilidade indireta, mediata e reduzida, uma vez que sua eficácia necessita de desenvolvimento. Ainda assim, as normas de eficácia limitada possuem eficácia negativa, razão pela qual não recepcionam legislação anterior incompatível e impedem a edição de normas em sentido oposto a seus parâmetros São divididas em dois grandes grupos: I. Normas de princípio institutivo (ou organizativo) II. Normas de princípio programático I. Normas de princípio institutivo (ou organizativo): contêm esquemas gerais de estruturação de instituições, órgãos ou entidades, indicando legislação futura que complete sua eficácia e lhes dê efetiva aplicação Novelino, ainda as divide em normas impositivas e normas permissivas, distinguindo-se pelo critério de discricionariedade de iniciativa do legislador Ex.: art. 18, § 2º; art. 33; art. 91; art. 113; art. 161, art. 163; art. 192 etc. II. Normas de princípio programático: Fixam diretrizes indicativas de fins e objetivos a serem atingidos, veiculando programas a serem implementados pelo Estado para a realização de fins sociais. Estão localizadas principalmente nos Títulos VII e VIII. Ex.: art. 196; art. 205; art. 215; art. 218 etc. Conclusões da classificação das normais I- Todas as disposições de uma constituição rígida são constitucionais; II - Todas as normas constitucionais são dotadas de eficácia jurídica e imediatamente aplicáveis nos limites dessa eficácia; III – Está superada a distinção das normas entre normas autoaplicáveis e não autoaplicáveis IV – As normas constitucionais podem ser classificadas em: a) Normas constitucionais de eficácia plena e aplicabilidade imediata b) Normas constitucionais de eficácia contida e aplicabilidade imediata, mas passíveis de restrição c) Normas constitucionais de eficácia limitada ou reduzida. A classificação de Maria Helena Diniz 1. Norma Eficácia Absoluta ou Supereficazes -Intangível - Não podem ser emendadas -Cláusula pétrea -Art. 60, §4º, CF/88: I - a forma federativa de Estado; II - o voto direto, secreto, universal e periódico; III - a separação dos Poderes; IV - os direitos e garantias individuais. 2. Norma Eficácia Plena - efeito imediato - são emendáveis (EC) - não precisam de complementação - não pode ser contida Exemplos: art. 14, §2º (voto – estrangeiro e serv. militar obrig.) art. 77 (eleição presidente) art. 69 (LC – maioria absoluta) art. 153 (impostos – União), art. 155 (impostos estados) * Não indica órgão, proc. para execução 3. . Norma Eficácia Relativa Restringível - aplicabilidade plena, imediata - pode ser restringida ou reduzida * Equivale a Norma Eficácia Contida do José Afonso Exemplos: art. 5º, inciso VIII (Lib. Crença) art. 5º, inciso XVI (D. reunião) art. 5º, inciso LX (publicidade atos processuais) art. 84 (atribuição Pres. Rep) art. 170, parágrafo único (lib. Atividade. Econômica) 4. Norma Eficácia Relativa Complementável ou Depende de complementação legislativa - Aplicabilidade mediata / efeito mediato - depende de lei posterior (LC ou LO) - Equivale a norma de eficácia limitada do José Afonso - Norma institutiva >>> instituições, órgãos... - Norma programática >>> programas Exemplos - Norma institutiva: art. 17, IV (parlamentar – partido político) art. 25, §3º (região metropolitana - estado) art. 43, §1º (regiões) Institutivo - Esquemas gerais (iniciais) de estruturação de instituições, órgãos ou entidades. Art. 18. § 2º Os Territórios Federais integram a União, e sua criação, transformação em Estado ou reintegração ao Estado de origem serão reguladas em lei complementar. Art. 22. Parágrafo único.Lei complementar poderá autorizar os Estados a legislar sobre questões específicas das matérias relacionadas neste artigo. Art. 25. § 3º Os Estados poderão, mediante lei complementar, instituir regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e microrregiões, constituídas por agrupamentos de municípios limítrofes, para integrar a organização, o planejamento e a execução de funções públicas de interesse comum. Exemplos - Norma programática: art. 205 (educação – d. todos) art. 218 (incentivo pesquisa) Programático - Veiculam programas a serem implementados pelo Estado. Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação. Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. Art. 215. O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização e a difusão das manifestações culturais. Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo- se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá- lo para as presentes e futuras gerações. Comparação de classificação José Afonso Eficácia plena, contida e limitada Principio institutivo e programático Maria Helena Diniz Eficácia absoluta, plena, relativa restringível e complementável Norma institutiva e programática Classificação de Jorge Miranda 1. Preceptiva exequíveis por si mesmas - Equivalente a norma de Eficácia Plena de José Afonso - Bastante em si 2. Preceptivas não exequíveis por si mesmas - Precisam da intervenção do legislador - Complementação pela lei - Dependem de fatores jurídicos e políticos 3. Norma programática - + fatores econômicos e sociais - Pressupostos de fato para concretizar Classificação de Uadi Lammêgo Bulos Norma eficácia exaurida ou esvaída -Aplicabilidade esgotada - já extinguiram prod. efeitos propostos Exemplo: ADCT (Ato Disp. Const. Transitórias) art. 2º (plebiscito dia 07/09/93) art. 14 (transf. território em estado Roraima e Amapá) art. 20 (180d para revisão d. servidores) Outras classificações - Maria Helena Diniz I - Normas supereficazes ou com eficácia absoluta: II - Normas com eficácia plena: III - Normas com eficácia relativa restringível: IV - Normas com eficácia relativa complementável ou dependente de complementação legislativa Outras classificações- Uadi Lammêgo Bulos - Normas de eficácia exaurida e aplicabilidade esgotada São aquelas que já extinguiram a produção dos seus efeitos Outras classificações- Jorge Miranda I - preceptivas exequíveis por si mesmas II - preceptivas não exequíveis por si mesmas III - programáticas As primeiras seriam as denominadas de eficácia plena; as segundas seriam as normas de princípios institutivos; e, por último, aparecem as normas programáticas, denominadas por José Afonso da Silva de normas de princípio programático
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