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MICROBIOLOGIA Marina Denise Araujo Orguin Fundamentos de microbiologia Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Listar os eventos que culminaram com o desenvolvimento da microbiologia. Diferenciar os tipos celulares estudados pela microbiologia. Caracterizar célula procarionte e eucarionte. Introdução A microbiologia é um ramo da biologia que estuda os micro-organismos que não são vistos a olho nu e que só podem ser observados com o auxílio de microscópico. Essa denominação é derivada das palavras gregas mikros (pequeno), bios (vida) e logos (ciência). A microbiologia representa um grande e diverso grupo de organismos que existem em células isoladas ou em aglomerados, estudando todos os micro- -organismos e segmentando-se em áreas específicas: bacteriologia, micologia, virologia e parasitologia. Anteriormente, os organismos eram classificados somente em dois reinos, Plantae e Animalia, correspondentes a plantas e animais respec- tivamente. Com o desenvolvimento das ciências biológicas, procurou-se um sistema de classificação natural capaz de agrupar os organismos de acordo com suas relações ancestrais. Dessa forma, originaram-se os domínios Bacteria, Archaea e Eukarya. O domínio Bacteria compreende as eubactérias; o domínio Archaea compreende as Archaea-bactérias, e o domínio Eukarya compreende outros quatro reinos: Protista, Fungi, Plantae e Animalia. Há, ainda, uma categoria de micro-organismos que não se encaixam nessas classificações: micro-organismos acelulares, filtráveis, muito pequenos e parasitos intracelular obrigatórios, os vírus (PELCZAR JR.; CHAN; KRIEG, 2005). Temos uma tendência a pensar que esses pequenos seres estão asso- ciados a infecções, alimentos deteriorados e doenças mais graves, mas, além disso, uma pequena parte deles causa patologias em humanos e animais e a maioria dos micro-organismos auxilia no equilíbrio da vida no nosso meio ambiente. Neste capítulo, você vai conhecer os principais eventos que contribuí- ram com o desenvolvimento da microbiologia, vai aprender a diferenciar os tipos celulares e vai conhecer as características das células procariontes e eucariontes. Principais eventos no desenvolvimento da microbiologia A microbiologia como a conhecemos atualmente só foi possível quando Antony Van Leeuwenhoek, no ano de 1674, desenvolveu o primeiro mi- croscópio. Van Leeuwenhoek usou um pequeno equipamento criado por ele para observar microrganismos vivos, em amostras de solo, água de rios, infusões de pimenta, saliva, fezes, entre outros, os quais ele nomeou como “animálculos”, pois acreditava que se tratavam de pequeninos animais vivos. O cientista alemão, então, escreveu diversas cartas para a Sociedade Real Inglesa descrevendo os seres que ele observava através de seu pequeno mi- croscópio — alguns dos “pequeninos animáculos” eram o que conhecemos hoje como protozoários de vida livre. Foram essas cartas que deram início à microbiologia, pois permitiram que a sociedade obtivesse o conhecimento da existência de pequenos seres microscópicos (PELCZAR JR.; CHAN; KRIEG, 2005). Veja, na Figura 1, o microscópio de Robert Hooke (1635-1703), que aper- feiçoou a invenção de Van Leeuwenhoek. Fundamentos de microbiologia2 Figura 1. O microscópio de Hooke e uma ilustração do autor para a frutificação de bolores. Fonte: Madigan et al. (2016, p. 13). Teoria da biogênese Com a descoberta de Leeuwenhoek, surgiram duas teorias controversas, a teoria da abiogênese (geração espontânea) e a teoria da biogênese. A primeira delas defendia que os “animálculos” se originavam da composição de plantas e tecidos de diversos animais. Já a teoria da biogênese, muito defendida pelo francês Louis Pasteur, foi demonstrada através de dois experimentos no qual o cientista conseguiu demonstrar a impossibilidade da geração espontânea. Em seu primeiro experimento, Pasteur pegou diversos frascos e encheu com caldo de carne e ferveu; depois, deixou os frascos abertos para que esfriassem. 3Fundamentos de microbiologia Em poucos dias, observou que os todos os frascos tinham sido contaminados com micro-organismos e os frascos que ele manteve fechados, após terem sido fervidos, estavam livres de contaminação. A conclusão a que chegou diante dessa observação foi que os micro-organismos estavam presentes no ar e eram responsáveis pela contaminação. No segundo experimento, colocou meio de cultura em frascos com pescoço em forma de S e procedeu da mesma forma que já havia realizado no experimento anterior: ferveu os frascos e deixou-os esfriar. Depois de meses esperando, Pasteur não observou nenhuma forma de vida e concluiu que o pescoço em forma S impedia que qualquer micróbio que estivesse presente no ar entrasse em contato com o meio. Os experimentos de Pasteur comprovaram que os micro-organismos não podem surgir de matéria não viva (PELCZAR JR.; CHAN; KRIEG, 2005). A teoria dos microrganismos das doenças Diversas descobertas contribuíram para a compreensão da causa das doenças. Em 1835, Agostino Bassi demonstrou que a doença do bicho-da-seda era cau- sada por um fungo. Alguns anos depois, Pasteur acreditava que outra doença do bicho-da-seda era causada por protozoário. Em 1840, ocorreu um marco no controle de infecções quando Ignaz Semmelwise instituiu a lavagem das mãos para prevenir a transmissão da febre puerperal entre pacientes, doença que ocorria nas maternidades e que matou milhares de mães e crianças. Em 1860, Joseph Lister usou desinfetante químico para prevenir a infecção de feridas cirúrgicas após observar o experimento de Pasteur, que demonstrava que a presença de micro-organismos no ar pode estragar alimentos e causar doenças em animais. Outro marco importante da microbiologia ocorreu em 1876, quando Robert Koch comprovou que uma bactéria causava o antrax e instituiu alguns passos experimentais, chamados postulados de Koch, usados para provar que um micro-organismo específi co causa uma doença específi ca (PELCZAR JR.; CHAN; KRIEG, 2005). Conheça mais sobre a história de Robert Koch e os postulados de Koch no link a seguir. https://qrgo.page.link/WtxBt Fundamentos de microbiologia4 Quimioterapia moderna A quimioterapia é o tratamento com compostos químicos em que os quimiote- rápicos utilizados para tratar doenças infeciosas podem ser fármacos sintéticos ou antibióticos. Os antibióticos são produzidos por bactérias e fungos com ação bactericida ou bacteriostática sobre outros micro-organismos. Em 1910, Paul Ehrlich desenvolveu um fármaco sintético de arsênico para tratar a sífilis. Alguns anos depois, Alexandre Fleming descobriu o primeiro antibiótico ao observar que o fungo Penicillium tinha produzido um antibiótico capaz de matar a bactéria Staphylococcus aureus. Mais tarde, em 1940, a penicilina foi testada clinicamente e produzida em grande escala (PELCZAR JR.; CHAN; KRIEG, 2005). O uso indiscriminado de antibióticos tem favorecido a pressão seletiva de bactérias multirresistentes. Essas bactérias já não respondem a terapias mais potentes. Contudo, a prevenção ao surgimento de resistência aos antimicrobianos precisa envolver pacientes e profissionais que atuam na área da saúde. Veja, no link a seguir, o que podemos fazer para ajudar nesta luta. https://qrgo.page.link/NsotK Tipos celulares estudados pela microbiologia As células microbianas são compartimentos vivos que interagem com o meio circundante e com outras células de forma dinâmica. Formas e estruturas celulares bacterianas As bactérias podem se apresentar com diversos formatos (Figura 2), como, por exemplo, cocos ou bacilos variando de tamanho de 0,4 μm, como é o caso do Mycoplasma genitallium, a 4 μm, como o Bacillus megaterium. Aquelas que apresentam formato esférico (cocos) são divididas de acordo com o seu arranjo. Quando se apresentam em isolados, são chamados de micrococos; 5Fundamentos de microbiologia quando estão aospares, são diplococos; quando estão em cadeias, são cha- madas de estreptococos; por fi m, quando estão em cachos, são conhecidas como estafi lococos (MADIGAN et al., 2016). Figura 2. Figura representando as diversas formas das células bacterianas. Ao lado de cada figura, há uma fotomicrografia de fase demonstrando a morfologia. Fonte: Madigan et al. (2016, p. 33). A infecção urinária de etiologia bacteriana acomete uma grande parcela de mulheres nas mais variadas faixas etárias, principalmente nos períodos pré e pós-gestacional. A literatura descreve que a Escherichia coli, uma bactéria que possui seu formato em bacilo Gram-negativo, é responsável pela ocorrência de 80 a 90% dos casos de infecções do trato urinário (ITU) primária e 70 a 80% dos casos de ITU de repetição (CARVALHO et al., 2018) (Figura 3). Fundamentos de microbiologia6 Figura 3. (a) Microscopia óptica de bacilos Gram-negativos (Escherichia coli) (1.200x); (b) Microscopia eletrônica de bacilos Gram-negativos (3.000x). Fonte: Höfling e Gonçalves (2009, p. 34). Células procarionte e eucarionte Uma célula procarionte tem por característica a ausência de núcleo em seu interior; dessa forma, o material genético dessa célula encontra-se livre no citoplasma — na maioria das vezes, estamos nos referindo a eubactérias. Já as células eucariontes são aquelas que apresentam uma estrutura organizacional mais complexa e incluem os fungos e protozoários. Veja, no Quadro 1 e na Figura 4, as principais características de cada uma delas. Fonte: Adaptado de Madigan et al. (2016). Características Procarionte Eucarionte Núcleo Ausente Presente Nucléolo Ausente Presente Cromossomo Único Múltiplos Citoplasma Sem citoesqueleto Com citoesqueleto Organelas Nenhuma Várias Organização celular Principalmente unicelular Principalmente multicelular Quadro 1. Diferença entre as células procariontes e eucariontes 7Fundamentos de microbiologia As células bacterianas apresentam estruturas fundamentais presentes em todas as bactérias, quais sejam: membrana citoplasmática, parede celular, nucleoide, citoplasma e ribossomos, responsáveis pela síntese de proteínas. No entanto, algumas bactérias podem apresentar estruturas acessórias como cápsula, fímbria, flagelo, pili, plasmídeos, endoporos e adesinas. Tais estruturas facilitam a colonização do hospedeiro (MADIGAN et al., 2016). Figura 4. Estrutura de uma célula microbiana (procariota) e uma célula complexa eucariota. Fonte: Madigan et al. (2016, p. 3). Um exemplo de uma estrutura acessória importante em uma célula procarionte é o endosporo, que se trata de uma forma de resistência de alguns gêneros bacterianos. A esporulação confere alta resistência ao calor, alta resistência a inativação química, dessecação, radiação e ácidos. É o caso do Clostridium botulinum, bacilo Gram-positivo, anaeróbio, esporulado causador do botulismo, uma doença neuroparalítica grave. Fundamentos de microbiologia8 CARVALHO, F. L. O. et al. Infecção urinária de repetição e os aspectos gerais, micro- biológicos e imunológicos associados à saúde da mulher. Revista de Saúde ReAGES, v. 1, n. 3, p. 24–30, 2018. HÖFLING, J. F.; GONÇALVES, R. B. Microscopia de luz em microbiologia: morfologia bac- teriana e fúngica. Porto Alegre: Artmed, 2009. MADIGAN, M. T. et al. Microbiologia de Brock. 14. ed. Porto Alegre: Artmed, 2016. PELCZAR JR., M. J.; CHAN, E. C. S.; KRIEG, N. R. Microbiologia: conceitos e aplicações. 2. ed. São Paulo: Makron Books do Brasil, 2016. v. 2. 9Fundamentos de microbiologia
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