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CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR LEI ORDINÁRIA OU LEI COMPLEMENTAR?

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CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR
Lei ordinária ou Lei complementar?
Através de seu art. 59, a Constituição Federal estabelece que: 
Art. 59, CF . O processo legislativo compreende a elaboração de:
I - emendas à Constituição;
II - leis complementares;
III - leis ordinárias;
IV - leis delegadas;
V - medidas provisórias;
VI - decretos legislativos;
VII - resoluções.
Tal dispositivo, portanto, dispõe as espécies de normas a serem construídas pelo processo legislativo brasileiro. Nesse âmbito, o objetivo desse trabalho é delimitar uma clara explicação sobre duas espécies especificas: as leis ordinárias e as complementares, e sua associação com o Código de Defesa do Consumidor.
O Código de Defesa do Consumidor se trata de um conjunto sistemático de leis que tem como principal objetivo, intuitivamente, a defesa do consumidor, considerando este hipossuficiente técnica e financeiramente quando relacionado aos fornecedores. Sua eficácia tem respaldo constitucional, na medida em que, em seu art. 170, ela institui a defesa do consumidor no status de direito e garantia fundamental do cidadão brasileiro.
Para definir se o Código de Defesa do Consumidor se classifica como Lei Ordinária ou Complementar, primeiro é necessário que as diferenças entre essas duas espécies normativas sejam estabelecidas.
Segundo Leal apud Bacha[footnoteRef:1], as leis complementares são aquelas que se destinam meramente à complementação dos princípios básicos enunciados através da Constituição Federal, sem as quais determinados dispositivos constitucionais não podem ser aplicados. São, por si, leis integrativas de normas constitucionais cuja eficácia é limitada, sendo composta de um princípio institutivo ou de criação de órgãos, sujeitas à aprovação pela maioria absoluta dos membros das duas casas do Congresso Nacional[footnoteRef:2]. [1: BACHA, Sergio Reginaldo. Constituição Federal: leis complementares e leis ordinárias. Hierarquia? Belo Horizonte: Fórum, 2004, p. 32] [2: SILVA, José Afonso da. Aplicabilidade das normas constitucionais. 3. ed. São Paulo: Malheiros, 1998] 
Logo, as características mais marcantes da lei complementar se concentram em sua forma de aprovação e na taxatividade quanto às matérias em que podem ser atribuídas essa modalidade normativa. O constituinte, no exercício de seu poder, atribuiu de forma expressa quais matérias devem ser reguladas por essa espécie legislativa, estando a aprovação desta submetida por quórum de deliberação superior às das leis ordinárias[footnoteRef:3]. [3: CHEHAB, Gustavo Carvalho. A lei complementar no direito brasileiro. SENADO, 2017. Disponível em: https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/496567/000940658.pdf?sequence=1&isAllowed=y. Acesso em 06 de set. de 2021] 
Assim, a título de exemplificação, sobre as leis complementares, dispõe a Constituição Federal:
Art. 59, CF, Parágrafo Único: Lei complementar disporá sobre a elaboração, redação, alteração e consolidação das leis.
[...]
Art. 93. Lei complementar, de iniciativa do Supremo Tribunal Federal, disporá sobre o Estatuto da Magistratura [...]
[...]
Art. 121. Lei complementar disporá sobre a organização e competência dos tribunais, dos juízes de direito e das juntas eleitorais.
§ 1º - Os membros dos tribunais, os juízes de direito e os integrantes das juntas eleitorais, no exercício de suas funções, e no que lhes for aplicável, gozarão de plenas garantias e serão inamovíveis.
§ 2º - Os juízes dos tribunais eleitorais, salvo motivo justificado, servirão por dois anos, no mínimo, e nunca por mais de dois biênios consecutivos, sendo os substitutos escolhidos na mesma ocasião e pelo mesmo processo, em número igual para cada categoria.
§ 3º - São irrecorríveis as decisões do Tribunal Superior Eleitoral, salvo as que contrariarem esta Constituição e as denegatórias de habeas corpus ou mandado de segurança.
§ 4º - Das decisões dos Tribunais Regionais Eleitorais somente caberá recurso quando:
I - forem proferidas contra disposição expressa desta Constituição ou de lei;
II - ocorrer divergência na interpretação de lei entre dois ou mais tribunais eleitorais;
III - versarem sobre inelegibilidade ou expedição de diplomas nas eleições federais ou estaduais;
IV - anularem diplomas ou decretarem a perda de mandatos eletivos federais ou estaduais;
V - denegarem habeas corpus , mandado de segurança, habeas data ou mandado de injunção.
[...]
Art. 134[...] § 1º Lei complementar organizará a Defensoria Pública da União e do Distrito Federal e dos Territórios e prescreverá normas gerais para sua organização nos Estados, em cargos de carreira, providos, na classe inicial, mediante concurso público de provas e títulos, assegurada a seus integrantes a garantia da inamovibilidade e vedado o exercício da advocacia fora das atribuições institucionais. 
[...]
Art. 142 § 1º Lei complementar estabelecerá as normas gerais a serem adotadas na organização, no preparo e no emprego das Forças Armadas.
[...]
Art. 146-A. Lei complementar poderá estabelecer critérios especiais de tributação, com o objetivo de prevenir desequilíbrios da concorrência, sem prejuízo da competência de a União, por lei, estabelecer normas de igual objetivo.
Discorre Celso de Mello[footnoteRef:4] que “só cabe lei complementar, no sistema de direito positivo brasileiro, quando formalmente reclamada a sua edição por norma constitucional explícita”. [4: ADI 789, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 2651994, Plenário, DJ de 19121994.] 
Sobre a aprovação de referida lei, destaca-se o art. 69 da Constituição Federal, o qual estabelece que “as leis complementares serão aprovadas por maioria absoluta”.
As leis ordinárias, por sua vez, são aquelas entendidas como comuns, gerais, típicas ou abstratas[footnoteRef:5] [5: BACHA, Sergio Reginaldo. Constituição Federal: Leis Complementares e Leis Ordinárias. Hierarquia? Belo Horizonte: Fórum, 2004.] 
Quanto às leis ordinárias, entretanto, as disposições constitucionais se apresentam de maneira diferente. Primeiramente, ressalta-se que sua aprovação é ensejada a partir de maioria simples nas casas legislativas, diferente das leis complementares, que se aprovam a partir da maioria absoluta. Sobre isso, destaca-se:
“Tratando-se de lei ordinária, a aprovação do projeto de lei condiciona-se à maioria simples, dos membros da respectiva Casa, ou seja, somente haverá aprovação pela maioria dos votos, presente a maioria absoluta de seus membros, nos termos do art. 47 da Constituição Federal. Note-se que o quórum constitucional de maioria simples corresponde a um número variável, pois dependendo de quantos parlamentares estiverem presentes, este número poderá alterar-se. O que a Constituição Federal exige é o quórum mínimo para instalação da sessão. Dessa forma, presentes, no mínimo, a maioria absoluta dos membros da respectiva Casa Legislativa, o projeto de lei poderá ser posto em votação, aplicando-se como quórum de votação a maioria dos presentes. Devemos, portanto, diferenciar o quórum para instalação da sessão, do quórum de votação de um projeto de lei ordinária”[footnoteRef:6] [6: MORAES, Alexandre. Direito Constitucional. 29. ed. São Paulo: Atlas, 2013.] 
Além disso, outra coisa que a diferencia da lei complementar se reflete na matéria a qual está designada, a saber: residualmente, todas aquelas não designadas às leis complementares, aos decretos legislativos ou às resoluções. A diferença entre as leis complementares e ordinárias, logo, se dá tanto de maneira formal quanto de maneira material.
Feita essa diferenciação, vamos, agora, ao cerne do texto: Quanto ao Código de Defesa do Consumidor (CDC), em qual espécie legislativa ele se encaixa?
Bom, em sentido mais abrangente (lato), podemos dizer que o Código de Defesa do Consumidor se trata de lei complementar, uma vez que complementa o disposto na Constituição Federal. Ou seja, uma vez que o CDC trata de defesa e proteção ao consumidor, ele estaria complementando o direito fundamental à proteção e defesa no ato das relações consumeristas. Ocorre que tal análise é feita de maneiramuito mais profunda. 
Para diferenciar as duas espécies, já foi exposto que dois pontos principais devem ser observados: a) matéria sobre a qual legisla; e b) quórum de aprovação. 
Ao primeiro tópico, entretanto, devemos dar maior atenção. Bom, a partir dele, já temos a noção de que a tendência do Código de Defesa do Consumidor se volta ao caráter de lei ordinária. Isso porque, assim como o visto, a lei complementar é taxativamente designada pela Constituição federal a algumas matérias. Ocorre que, no caso da defesa ao consumidor, não há taxatividade, nem com relação à edição de lei especial de caráter complementar nem de qualquer outro caráter. Assim, residualmente, restaria a edição do CDC através de lei ordinária.
Nesse sentido: 
Não é dado ao legislador eleger determinada matéria como de lei complementar se a Constituição não a definir como tal. Se isso ocorresse, estar-se-ia mudando a Constituição por lei complementar. Daí se entender que o Código Civil e o Código de Defesa do Consumidor são leis ordinárias.
Considera-se a matéria de consumo como direito fundamental, mas nem todos os direitos fundamentais são regulados por lei complementar. Entende-se, então, que o constituinte, ao estabelecer, no art. 170, V, da CF, o princípio de defesa do consumidor, fez uma norma direcionada para o legislador. Matéria de consumo deve ser regulada por princípios próprios, aplicando-se as regras dos direitos fundamentais; daí a necessidade de se aplicar um microssistema com proteção própria, com tratamento diferenciado[footnoteRef:7]. [7: NORONHA, João Otávio de. Crise de fontes normativas: Código Civil x Código de defesa do Consumidor. Justiça e Cidadania, 2011. Disponível em: https://editorajc.com.br/crise-de-fontes-normativas-codigo-civil-x-codigo-de-defesa-do-consumidor-parte-1/. Acesso em 07 de set. de 2021] 
Visto o supramencionado, portanto, nota-se que o Código de Defesa do consumidor, em sentido estrito, não tem caráter de lei complementar, mas sim de lei ordinária.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BACHA, Sergio Reginaldo. Constituição Federal: Leis Complementares e Leis Ordinárias. Hierarquia? Belo Horizonte: Fórum, 2004.
ADI 789, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 2651994, Plenário, DJ de 19121994.
CHEHAB, Gustavo Carvalho. A lei complementar no direito brasileiro. SENADO, 2017. Disponível em: https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/496567/000940658.pdf?sequence=1&isAllowed=y. Acesso em 06 de set. de 2021
MORAES, Alexandre. Direito Constitucional. 29. ed. São Paulo: Atlas, 2013.
NORONHA, João Otávio de. Crise de fontes normativas: Código Civil x Código de defesa do Consumidor. Justiça e Cidadania, 2011. Disponível em: https://editorajc.com.br/crise-de-fontes-normativas-codigo-civil-x-codigo-de-defesa-do-consumidor-parte-1/. Acesso em 07 de set. de 2021
SILVA, José Afonso da. Aplicabilidade das normas constitucionais. 3. ed. São Paulo: Malheiros, 1998

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