Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 Dor abdominal, diarreia e icterícia Síndrome Ictérica ANATOMIA DAS VIAS BILIARES FISIOLOGIA: O fígado sintetiza bile → canalículos biliares → ducto hepático E e D → ducto hepático comum → ducto cístico (onde vai ser armazenado na vesícula) → ducto colédoco (lançado no duodeno). Uma porção do colédoco passa por dentro da cabeça do pâncreas (explica colestase por câncer de cabeça de pâncreas) e se une com o ducto pancreático para desaguar na papilar de Vater, que drena para o duodeno. INTRODUÇÃO BILIRRUBINA: é produto da destruição das hemácias, especificamente da hemoglobina. E para ser eliminada pelo organismo necessita ser conjugada no fígado e posteriormente sofrer a ação da bile no intestino. A bilirrubina pode ser dividida em dois tipos: • BILIRRUBINA INDIRETA: (não conjugada) é a substância que se forma no momento da destruição dos glóbulos vermelhos no sangue e que depois é transportada para o fígado. • BILIRRUBINA DIRETA: (conjugada) corresponde à conjugação entre a bilirrubina e o ácido glicurônico (açúcar presente no fígado). No intestino, essa bilirrubina, sofre ação da bile, sendo eliminada na forma de urobilinogênio ou estercobilinogênio. METABOLISMO DA BILIRRUBINA FORMAÇÃO DA BILIRRUBINA As hemácias apresentam um tempo de vida médio de 120 dias e ao fim desse período, essas células são sequestradas e destruídas na polpa vermelha do baço. • A hemoglobina liberada é fagocitada pelos macrófagos esplênicos ou pelos órgãos do sistema reticulo endotelial. • A degradação da hemoglobina forma dois grupos: GLOBINA e HEME. • O grupo Heme é clivado em ferro livre e protorfirina. o FERRO LIVRE → transportado pela transferrina ou incorporado à ferritina. o PROTOPORFIRINA → precursora da bilirrubina. Obs. 85% da bilirrubina é proveniente da hemoglobina, sendo que 15% provém de outras proteínas que possuem o grupo heme: citocromo p450 e a mioglobina. • A PROTOPORFIRINA é convertida em BILIVERDINA pela enzima heme oxigenasse. • Pelo fato de a biliverdina ser uma forma instável, rapidamente se transforma em BILIRRUBINA LIVRE INSOLÚVEL (BLI). • Com isso, ela se liga rapidamente a ALBUMINA PLASMÁTICA para ser transportada pela corrente sanguínea. • Ligada a albumina a bilirrubina passa para a ser a 2 Dor abdominal, diarreia e icterícia forma solúvel (BILIRRUBINA INDIRETA ou NÃO CONJUGADA). METABOLISMO HEPÁTICO No fígado, o metabolismo da bilirrubina é dividido em 3 etapas: • CAPTAÇÃO: quando a bilirrubina indireta chega ao hepatócito, ela se dissocia da albumina e se liga a proteínas citoplasmáticas (ligandinas) que impedem seu retorno ao plasma. • CONJUGAÇÃO: mesmo ligada as proteínas plasmáticas a bilirrubina é insolúvel e precisa ser convertida rapidamente para evitar seu retorno ao plasma. Com isso, ocorre a conjugação com o GLUCORONÍDEO, por meio da enzima glicuronil- transferase, sendo transformada em BILIRRUBINA DIRETA/ CONJUGADA. • EXCREÇÃO: processo de liberação da bilirrubina conjugada para os canalículos biliares, dependente de ATP. Obs. Quando há distúrbio nos hepatócitos, esse é o primeiro processo a ser afetado, levando acúmulo de BILIRRUBINA DIRETA no hepatócito que regurgita para o plasma. FASE INTESTINAL • Nos canalículos biliares a bilirrubina direta será armazenada na vesícula biliar e posteriormente liberada no intestino delgado pela papila de vater. No intestino delgado dois mecanismos podem ocorrer: • Excreção da bilirrubina nas fezes ou • Metabolização da bilirrubina em urobilinogênio (>50%); METABOLISMO EM UROBILINOGÊNIO: • No intestino grosso, uma parte da bilirrubina é convertida pelas bactérias intestinais em UROBILINOGÊNIO, que é extremamente solúvel. • Esse urobilinogenio é reabsorvido pela mucosa gástrica, retornando ao fígado para posteriormente ser excretado pelos rins. • Outra parte da bilirrubina direta, presente no intestino delgado, é DESCONJUGADA pela betaglicuronisade em BILIRRUBINA INDIRETA, sendo reabsorvida para a circulação entero- hepática. Obs. Os derivados da bilirrubina sofrem oxidação nas fezes e na urina ao entrarem em contato com ar. Na urina, o urobilinogenio forma a UROBILINA e nas fezes a ESTERCOBILINA. FASE RENAL • Em condições normais não se encontra bilirrubina na urina. • A forma indireta está ligada à albumina que é muito grande para passar pela filtração renal. • Somente a bilirrubina direta, quando presente no sangue, é filtrada pelos glomérulos e aparece na urina. Obs 1. Casos de HIPERBILIRRUBINEMIA DIRETA (aumento da bilirrubina direta no plasma) causa colúria. Obs 2. Em pacientes com hepatite ou colestase, a secreção de bile está diminuída, dificultando a chegada da bilirrubina direta no intestino. Com isso, há uma redução da produção de urobilinogênio e consequente redução dessas nas fezes, tornando-as mais claras (ACOLIA FECAL). 3 Dor abdominal, diarreia e icterícia SÍNDROME ICTÉRICA ICTERÍCIA Sinal clínico que se caracteriza pela presença de mucosa, pele e escleras amareladas em consequência do aumento de bilirrubina no sangue. • A coloração amarelada de pele e mucosas geralmente ocorre quando a bilirrubina sérica ultrapassa 2,5 mg/dl (valor normal: 0,3 – 1,0 mg/dl). EPIDEMIOLOGIA • Mais comum em recém-nascidos e idosos, se comparado aos adultos. • 20% dos bebês nascidos a termo apresentam icterícia na primeira semana de vida, devido ao processo imaturo de conjugação hepática. • A hepatite A foi considerada a causa mais grave de icterícia em crianças. • No idosos as causas mais graves são doença hepática induzida por drogas e obstrução biliar maligna. • Homens tem prevalência aumentada de cirrose alcóolica e não alcoólica, hepatite B crônica e malignidade do pâncreas. • Já as mulheres tem prevalência de cálculos biliares, cirrose biliar primária e câncer de vesícula. ETIOLOGIAS HIPERBILIRRUNEMIA NÃO CONJUGADA AUMENTO DA PRODUÇÃO: • Hemólise – esferocitose, anemia falciforme, anemia hemolítica autoimune. • Eritropoiese ineficaz – as hemácias sofrem apoptose antes do tempo, acumulando bilirrubina indireta. Obs. Quando a B.I aumenta, o paciente relata que a urina fica mais escura e as vezes mais escuros. (aumento da produção de urobilinogênio) DIMINUIÇÃO DA CAPTAÇÃO HEPÁTICA: Tem-se uma produção normal da bilirrubina, entretanto ocorre uma dificuldade no seu transporte até os hepatócitos, devido a redução de proteínas plasmáticas. Isso ocorre nos casos: • Drogas (rifampicina); • Jejum; • Sepse. DIMINUIÇÃO DA CONJUGAÇÃO: Atividade reduzida da enzima glicuronosil transferase, que é responsável por conjugar a bilirrubina indireta ao glucoronídeo, formando a bilirrubina direta. Isso ocorre por deficiências hereditárias: • Síndrome de Gilbert – leve redução da enzima (níveis séricos de bilirrubina < 6mg) • Síndrome de Crigler-Najjar tipo 1 - moderada redução das enzimas (níveis séricos da bilirrubina >6mg) • Síndrome de Crigler-Najjar tipo 2 (ausência da enzima (níveis séricos >20mg – fatal). HIPERBILIRRUBINEMIA CONJUGADA DIMINUIÇÃO DA EXCREÇÃO: • Quando a produção, transporte, captação e conjugação estão normais, a bilirrubina indireta está ok, logo, a causa por estar na bilirrubina direta. • Defeito na excreção da bilirrubina do hepatócito para vesícula biliar ou da vesícula para o intestino grosso. Defeitos Intra-hepáticos: • Doenças hereditárias: o Síndrome de Dubin- Johnson; o Síndrome de Rotor. • Desordens adquiridas: o Doença hepatocelular; o Drogas (ACOs, metiltestosterona); o Sepse. Drogas Hepatotóxicas: • Antidiabéticos orais; • Tratamento de dislipidemias (estatina); • Psicotrópicos; • Antirretrovirais; • Antibióticos. 4 Dor abdominal, diarreia e icterícia Obstrução biliar extra-hepática:• Obstrução mecânica das vias biliares extra- hepática, o que não permite que a bilirrubina caia no duodeno. • Pode ocorrer por um cálculo, estenose ou tumor. Obs. Pode ocorre situações em que o defeito está em mais de uma fase do metabolismo da bilirrubina. Exemplo em casos de doença hepatocelular (cirrose, hepatite) ou sepse, pois a captação, conjugação e excreção estão prejudicadas. DIAGNÓSTICO 1. COLHER A HISTÓRIA CLÍNICA DA PACIENTE: a) Idade do paciente: • Jovens – hepatites e doenças hemolíticas; • Adultos – hepatites, hepatotoxina e doenças do trato biliar. b) Perda peso → cirrose ou neoplasia; c) Sintomas prodrômicos → pensar em hepatites virais: • Anorexia; Náuseas; • Mal-estar; Fadiga; • Mialgia; Artralgia; • Vômitos; • Febre baixa. d) Cálculo obstruindo via biliar: • Febre; Calafrio; • Dor abdominal no quadrante superior direito. e) Prurido → doenças colestáticas. f) Bile na urina → aumento da bilirrubina indireta; g) Acolia fecal → fluxo de bile no intestino interrompido; h) Confusão mental → cirrose hepática descompensada. i) Gestação: • Colestase gravídica; • Esteatose aguda da gravidez; • Eclampsia, pré-eclâmpsia e síndrome de HELP. j) Cirurgias prévias; k) História familiar; l) Uso de medicamento; m) Uso de álcool; n) Uso de drogas; o) Epidemiologia para leptospirose; p) Fator de risco para hepatite e HIV; q) Viagens recentes. 2. REALIZAR O EXAME FÍSICO: • Observar esclera; • Observar se há xantomas → comum em doenças colestáticas; • Aumento das parótidas → etilismo crônica; • Esplenomegalia → exclui a icterícia obstrutiva. • Sinal de Murphy: ✓ Palpa-se o ponto biliar/ cístico, no hipocôndrio direito e pede-se para o paciente inspirar profundamente. ✓ Ao inspirar, o diafragma faz com que o fígado desça e a vesícula biliar seja palpada pela mão ✓ Se houve colecistite, o paciente sentirá muito dor e acabará expirando. 5 Dor abdominal, diarreia e icterícia • Sinal de Couvoisier-Terrier: o Vesícula biliar palpável e indolor em paciente ictérico. 3. PARTIR PARA OS EXAMES LABORATORIAIS Objetivo dos exames: descobrir se o que está elevando é a bilirrubina direta ou indireta, para posteriormente analisar as causas. Primeiros exames solicitados: • Bilirrubina total e frações (direta e indireta); • Hemograma e reticulócitos; • Aminotransferases (TGO e TGP); • Gama GT; • Fosfatase alcalina; • Albumina; • Tempo de protrombina. HIPÓTESE 1 - Aumento da B.I + redução da hemoglobina → sugere hemólise. HIPÓTESE 2 - Fosfatase alcalina e aminotransferases normais → icterícia não se deve a lesão hepática ou doença biliar. ✓ Pensar em hemólise; ✓ Distúrbios hereditários associados à hiperbilirrubinemia indireta → Síndrome de Gilbert ou Crigler-Najjar; ✓ Distúrbios hereditários associados a hiperbilirrubinemia conjugada → Síndrome de Dubin- Johnson ou Síndrome de Rotor. HIPÓTESE 3 – Elevação da fosfatase alcalina: ✓ Obstrução biliar; ✓ Colestase intra-hepática; ✓ Doenças hepáticas granulomatosas (tuberculose e sarcoidose). HIPÓTESE 4 – Elevação das aminotransferases → icterícia causada por uma doença hepatocelular intrínseca. HIPÓTESE 5 – Tempo de protrombina (INR) elevado: ✓ Absorção intestinal de vitaminas prejudicada (icterícia obstrutiva) → resolução com administração de vitamina K; ✓ INR elevado que não resolve com administração de vita. K → doença hepatocelular moderada a grave. Segunda etapa - exames específicos: • Sorologias para hepatites virais; • Auto anticorpos: anticorpo antimitocondria (presente na cirrose biliar primária), anticorpos antimusculo liso e anti-LKM (presentes na hepatite auto-imune); • Perfil de ferro, nível de ferro, ferritina e índice de saturação transferrina (hemocromatose); • Ceruloplasmina (doença de Wilson); • Dosagem de alfa-1-antitripsina (deficiencia de alfa-1- antitripsina). Terceira e Ultima etapa do diagnóstico – exames de imagem: • USG; • TC com contraste intravenoso; • Colangiopancreatografia endoscópica retógrada. TRATAMENTO • Para tratar a icterícia, é necessário tratar a doença que levou ao seu surgimento. • Geralmente, o tratamento é orientado pelo gastroenterologista, hepatologista ou hematologista, e incluem medidas para desobstruir as vias biliares, uso de medicamentos para combater infecções, interrupção de medicamentos tóxicos ao fígado ou imunossupressores para controlar doenças que causam hemólise. • O médico também poderá orientar medidas protetoras, como ingerir muita água e diminuir o consumo de comidas gordurosas para evitar o desconforto abdominal. 6 Dor abdominal, diarreia e icterícia • Para controlar a coceira causada pelo excesso de sais biliares, podem ser indicados medicamentos como anti-histamínicos ou colestiramina. COLESTASE DEFINIÇÃO É a interrupção do fluxo biliar para o intestino, com refluxo de todos os componentes da bile para a corrente sanguínea. ETIOLOGIA COLESTASE INTRA-HEPÁTICA/ NÃO OBSTRUTIVA • Originadas no interior do fígado. • Metabólicas – reação aos anticoncepcionais e esteroides anabolizantes, colestase da gravidez, infecções virais. • Mecânicas – colestase segundaria a obstrução do fluxo biliar intra-hepático. ✓ Cirrose biliar primária → destruição dos ductos biliares, inflamação e fibrose periductal. ✓ Metástases hepáticas → nódulos tumorais que comprimem os ductos biliares. ✓ Doença de Hodgkin → lesão destrutiva dos ductos biliares e formação de cicatrizes fibróticas. ✓ Cálculos intra-hepáticos; ✓ Doença de Caroli → Dilatação dos ductos intra-hepáticos. COLESTASE EXTRA-HEPÁTICA/ OBSTRUTIVA • Obstrução mecânica do fluxo da bile. • Obstrução dos ductos biliares ou hilo hepático. • Malignas: ✓ Colangiocarcinoma, câncer pancreático (cabeça), câncer de vesícula biliar, câncer da ampola de Vater, malignidade de linfonodos portais. • Benignas: ✓ Coledolitíase, pós-cirúrgico, colangite esclerosante primária, pancreatite crônica, colangiopatia da AIDS, Síndrome de Mirizzi, doença parasitária (ascaridíase). QUADRO CLÍNICO A bile não consegue chegar ao intestino e isso leva ao refluxo dela para o plasma, gerando algumas consequências: • Icterícia – acúmulo de bilirrubina no sangue; • Colúria – a bilirrubina direta é hidrossolúvel, sendo filtrada pelos rins, conferindo uma urina escurecida. • Acolia fecal – a bilirrubina confere cor as fezes, se ela não chega ao intestino as fezes ficam claras. • Esteatorreia – a bile não chega ao intestino para digerir a gordura. • Prurido – acúmulo de sais biliares na pele. • Xantomas – lesões de alto relevo na pele, formada por gorduras.
Compartilhar