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Guia de Comportamento Canino

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GUIA DE COMPORTAMENTO CANINO: 
O problema do seu cão pode ser você 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
EVANDER BUENO DE LIMA PhD 
 
 
 
 
 
GUIA DE COMPORTAMENTO CANINO: 
O problema do seu cão pode ser você 
 
 
 
 
 
 
 
1a EDIÇÃO 
SÃO PAULO 
TODAS AS MUSAS 
2016 
 
Editor: Flavio Felicio Botton 
Supervisão Editorial: Fernanda Verdasca Botton 
Capa e diagramação: Studio Vintage Br 
Ilustrações: Betto Rodrigues 
Evander Bueno de Lima © 
 
 
 
 
É proibida a reprodução total ou parcial desta obra sem a prévia autorização dos autores. 
 
 
 
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) 
Kátia Aguilar CRB – 8/8898 
 
L628g 
Lima, Evander Bueno de. 
 Guia de comportamento canino: o problema do seu cão pode ser você/Evander 
Bueno de Lima; Prefácio de: Daniele dos Santos Martins; Ilustrações de: Betto 
Rodrigues. São Paulo: Todas as Musas, 2016, 
 98p. 
 
 Bibliografia 
 ISBN 978-85-64137-75-2 
 
 1. Cães – Comportamento – Medicina veterinária 2. Medicina veterinária – Cães 
3. Cães - comportamento I. Lima, Evander Bueno de; II. Martins, Daniele dos 
Santos; III. Rodrigues, Betto. 
 
CDD 636.7 
Catálogo Sistemático 
Cães – Comportamento – Medicina veterinária 636.7; Medicina veterinária - Cães 
636.089; Cães – comportamento 636.7. 
 
Direitos de edição: Editora Todas as Musas 
C.N.P.J. 12.650.462/0001-33 
www.todasasmusas.org 
todasasmusas@gmail.com 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico este livro a minha família e a minha esposa. 
Nunca acreditaram em nós e, de cada prato de comida vazio, de cada 
migalha de arroz que repartíamos, nos tornamos fortes e vencemos todas as 
adversidades. Isto nada e ninguém nunca poderá nos tirar. Não há 
dificuldade maior do que a determinação humana. Sonhamos, persistimos, 
trabalhamos e conquistamos. Somos do tamanho de nossos sonhos. 
 
A Gabriela dos Santos Bueno, minha amada esposa que me faz um homem 
melhor a cada dia de convivência. Sem você nada seria possível. Te amo 
 
 
SUMÁRIO 
 
PREFÁCIO, por Daniele dos Santos Martins ....................................................................... 5 
QUE O CACHORRO É O “MELHOR AMIGO DO HOMEM” JÁ SABEMOS HÁ MUITO TEMPO, 
MAS SERÁ A RECÍPROCA VERDADEIRA?, por Marco Antonio Gomes Del’ Aquilla .............. 7 
PALAVRA DO EDITOR, por Flavio Botton ........................................................................... 9 
APRESENTAÇÃO ............................................................................................................. 11 
INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 13 
COMO PENSAM OS CÃES ............................................................................................... 19 
LIDERANÇA: O LÍDER DA MATILHA ................................................................................ 21 
TESTE DE PERSONALIDADE ........................................................................................... 25 
ÓRGÃO VOMERONASAL .................................................................................................. 29 
CÃES TÊM CIÚMES? ....................................................................................................... 31 
ANTROPOMORFISMO ...................................................................................................... 37 
EDUCANDO O CÃO COMO MEMBRO DA FAMÍLIA. ENSINANDO OS LIMITES. ................. 41 
ENSINANDO A NÃO ENTRAR EM CASA. .......................................................................... 43 
ENSINANDO A NÃO PEGAR OBJETOS COMO CHINELOS, SAPATOS, ETC. ...................... 45 
ENSINANDO A URINAR NO LOCAL CORRETO ................................................................. 47 
AFECÇÕES CAUSADAS POR CRUZAMENTOS INDISCRIMINADOS EM CÃES ................... 51 
ALGUMAS RAÇAS E SUAS PREDISPOSIÇÕES GENÉTICAS .............................................. 53 
SOCIALIZAÇÃO DOS CÃES .............................................................................................. 56 
TESTE DE QI CANINO ..................................................................................................... 59 
TESTE DE CAMPBELL ..................................................................................................... 77 
TESTE DE VOLHARD ...................................................................................................... 85 
CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................... 93 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS .................................................................................... 95 
 
 
5 
PREFÁCIO 
 
Profa. Dra. Daniele dos Santos Martins 
 
Mestra e doutora em Anatomia dos Animais Domésticos e Silvestres pela Universidade de São Paulo. 
Formada em Medicina Veterinária, é Presidente da Comissão de Ética no Uso de Animais 
CEUA/FZEA/USP e docente responsável pelas disciplinas de Bem-Estar Animal, Animais Silvestres e 
Criação de Animais de Laboratório, Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos (USP). 
 
Desde que nasci, já havia em minha casa um cão, o “Freeway”, um pequinês de cor preta, 
que morou conosco até os meus 7 anos e que devia ter por volta de 14 anos quando se foi. A 
melhor lembrança que tenho desse pequeno peludo, o famoso cão (pelo menos na minha 
família) que batia “palmas” na hora “do parabéns”, era a de eu e minha irmã colocando-o 
para dormir no carrinho de boneca, com direito a cobertor e touca. Tenho certeza de que foi 
ele que me ensinou a ter um carinho especial pelos cães. 
Quando comecei a me questionar sobre algumas coisas, fui tentar entender como nós 
havíamos conseguido treinar Freeway a “bater palmas” e a ficar quieto no carrinho de 
boneca. Foi assim, acredito eu, que começou meu interesse pelo comportamento animal. 
A palavra comportamento pode ser entendida como uma designação genérica de uma 
reação frente a um estímulo presente e relacionada à presença ou influência de alguma 
coisa ou algo, podendo muitas vezes ser confundida com treinamento. O comportamento 
consiste em atos que o animal exibe, uma ação que é modificada no cão, dependendo da sua 
função: animal de família, visto como um filho; um cão de guarda; um cão de companhia; 
um cão esquecido no quintal entre outras possibilidades. 
Esta mudança ocorre desde a domesticação da espécie, que se deu simultaneamente em 
várias partes do globo durante o Mesolítico, o que ocasionou, no Neolítico, o aparecimento 
por seleção de várias raças. Desde então, o cão passou a ser utilizado para várias e 
diferentes tarefas, dentre elas, acompanhar o homem, que usufruiu da sua conveniência, 
descobrindo que muitas vezes ambos podem sofrer dos mesmos males. 
Assim, desde sua evolução, o homem enxerga os cães todos da mesma forma, devendo 
eles ter o mesmo comportamento sempre e, porque não dizer, sendo previsíveis. Entretanto, 
temos que levar em consideração o temperamento ligado à raça ou a falta dela, 
 
6 
comportamento aprendido pelo animal no período de socialização, comportamento 
aprendido pela vivência do animal e comportamento humanizado, que delineamos em 
nossos animais. 
E é nesta premissa que este livro apresenta uma valiosa contribuição para entendermos 
essa humanização a qual estamos submetendo nossos cães. Devemos sempre partir do 
princípio de que, por mais que eles pareçam nossos filhos, eles são de outra espécie e isso 
deve ser levado em conta. Falo isso sempre pensando no bem-estar do animal, que tem 
como princípio as 5 liberdades: o animal deve ser livre de fome e sede; livre de medo e 
estresse; livre de dor e doenças; livre de desconforto e ter a liberdade de expressar seu 
comportamento natural. 
Esta última liberdade mostra o quão importante é entendermos qual é o comportamento 
natural do cãoe o que estamos fazendo com nosso animal quando o submetemos ao 
processo de humanização. 
A recomendação para leitura do presente livro encontra barreira em um aspecto 
educacional rotineiramente enfrentado pelos médicos veterinários, pois eles não são 
ensinados a analisar possíveis transtornos comportamentais em cães e qual seria sua 
posição na família humana. Eles recebem apenas ensinamentos quanto a tratar a doença, 
sem pensar no fundo psicológico que a mesma desencadeou. 
Tive o prazer de ser uma das primeiras a receber a edição e a apresentação de um Teste 
de dominância a ser realizado por proprietários e/ou médicos veterinários. Isso me deixou 
particularmente curiosa, uma vez que o teste mostra de forma clara e objetiva como 
podemos avaliar nossos animais. 
A finalidade do livro é tratar de maneira natural que o problema do seu cão pode ser 
você, por meio de capítulos que falam sobre antropomorfismo e liderança, bem como 
procuram demonstrar cientificamente o que realmente está acontecendo quando você 
acredita que o seu cão está demonstrando ciúmes. O livro oferece ainda ao leitor 
ensinamentos sobre comandos básicos, tais como não entrar em casa ou não pegar 
pertences. 
Por tais razões, considero a leitura desta obra necessária para todos aqueles que, como 
eu, são apaixonados por cães e buscam sempre a melhor maneira de mantê-los em nossa 
família, e para os colegas de profissão, médicos veterinários, considero uma importante 
leitura para atualizarmos nossas consultas e diagnósticos. 
7 
 
QUE O CACHORRO É O “MELHOR AMIGO DO HOMEM” JÁ 
SABEMOS HÁ MUITO TEMPO; MAS SERÁ A RECÍPROCA 
VERDADEIRA? 
 
Prof. Dr. Marco Antonio Gomes Del’ Aquilla 
 
PhD, Pesquisador Neurocientista 
LINC - Laboratório Interdisciplinar de Neurociências Clínicas 
UNIFESP 
 
A relação quase simbiótica entre cães e humanos existe há milênios; estima-se que se 
passaram cerca de 100 mil anos desde a domesticação dos primeiros lobos, o que se traduz 
em um longo e proveitoso período de convivência amistosa. Essa relação foi e continua a ser 
tão profícua simplesmente por que se revelou vantajosa para a sobrevivência de ambas as 
espécies; enquanto os humanos propiciavam proteção e convívio social, os cães os ajudavam 
em suas tarefas de caça. Sucessivas mudanças adaptativas fizeram com que os cães se 
tornassem progressivamente mais propensos a viver com humanos e, claro, humanos com 
os cães. 
Com o passar do tempo, esses animais passaram de utensílios de caça a um 
companheiro multitarefas: guardiões, soldados, policiais, guias, coterapeutas, “filhos”, mas 
principalmente Amigos, aqui escrito mesmo com letra maiúscula, dada sua importância nas 
nossas vidas. 
Nos últimos anos, a etologia canina vem ganhando espaço no meio científico. Vários e 
importantes estudos têm sido publicados focando, principalmente, no que se refere a uma 
psicologia canina vista de forma pura e isolada. 
Este livro nos traz uma importantíssima contribuição no entendimento do 
comportamento canino sob uma óptica totalmente inovadora. O autor nos agracia com o 
brilhantismo de suas ideias, brindando o leitor com um pouco de sua experiência. A 
corajosa abordagem por ele apresentada tira o homem da sua romântica e confortável 
posição de exclusivo benfeitor dessa relação. Esta obra apresenta, de forma clara, precisa e 
calcada em uma sólida fundamentação teórica, que nós, humanos, somos os verdadeiros 
beneficiários e que esses benefícios recebidos se estendem para muito além do materialismo 
 
8 
servil. 
O antropomorfismo, distanciado de uma abordagem meramente ilustrativa e descritiva, 
visto aqui sob uma perspectiva crítica, porém prática, nos coloca em “xeque” e leva o leitor a 
uma reflexão sobre seu papel e possíveis “malefícios” nesse convívio ancestral, se não 
cuidados os devidos papéis de cada uma das espécies. O que os cães esperam e o que os 
homens desejam? 
Um trabalho que desconstrói algumas certezas já há muito edificadas e acomodadas. 
Página a página descortinam-se problemas e são apresentadas reflexões e soluções frente às 
quais nossos manuais de “bem viver entre espécies” se tornam questionáveis. 
Fundamentado em importantes testagens e apresentando orientações e dicas de 
treinamento, o livro se revela, também, um fundamental guia prático e de fácil consulta 
para o leitor. 
Confesso que, ao ter o privilégio de ser umas das primeiras pessoas a ler este livro, foi 
muito difícil acordar na manhã seguinte. Fui, madrugada adentro, me deliciando a cada 
capítulo em que eram revelados princípios de uma etologia revisitada e de como a 
compreensão de nossas atitudes e comportamentos, muitas vezes idiossincráticos, pode nos 
ajudar a entender as forças e as fraquezas da relação do homem com seu cão. Simplesmente 
uma leitura essencial para todos que amam seus Amigos. 
9 
 
PALAVRA DO EDITOR 
 
Prof. Dr. Flavio Botton 
 
Doutor e Mestre em Literatura Portuguesa pela Universidade de São Paulo. 
Editor da Editora Todas as Musas 
 
Um grande amigo, de longa data, revisor de textos que trabalhava em seu apartamento, 
certa vez teve um problema sério com vizinho que possuía um animal de estimação, um 
cãozinho, não sei de que raça. 
O vizinho dele, do apartamento de cima, trabalhava fora durante todo o dia e, às vezes, à 
noite. Todos já imaginam como segue esse relato. O pobre animal, abandonado pelo dono, 
gania, chorava e latia por toda a tarde, dificultando muito o trabalho do revisor que precisa 
de uma concentração acima do normal na leitura que faz de qualquer texto. 
Meu amigo começou a reclamar com síndicos, porteiro e com o dono do animal. Em 
muitas discussões, ele foi acusado de não gostar de animais! Ao contar para mim as 
ocorrências, dizia indignado: “O sujeito abandona o cachorro o dia todo chorando e eu é que 
não gosto de animais!”. 
Quando li pela primeira vez o livro de Evander Bueno de Lima, lembrei-me tanto desse 
meu amigo... Como teria sido bom poder presentear aquele homem que achava que amava o 
seu cão com “o problema do seu cão pode ser você”. 
O tenente Evander me fez pensar em um procedimento fundamental para o qual eu não 
estava preparado. Se nós gostamos tanto de animais, nós precisamos aprender sobre eles! 
Parece óbvio, mas não é. E nem um pouco. Bastaria perguntar aos donos de animais 
quantos livros sobre o assunto “animais de estimação” eles já leram. 
As minhas grandes paixões são a literatura e arte. Confesso, sem falsa modéstia, que já li 
uma infinidade de obras sobre esses assuntos e tiro grande proveito disso no meu 
relacionamento pessoal e profissional com a arte e com a literatura. 
Sendo assim, como podemos pensar que alguém tem grande paixão pelos animais ou um 
imenso amor pelo seu próprio animal e nunca procurou se informar sobre ele? 
Tenho certeza de que muitas pessoas irão dizer que “meu cachorro é que nem gente”, não 
é preciso aprender sobre relacionamento com gente, “eu já sei tudo”. Dirão também: “o amor 
dele é incondicional”. 
 
10 
Para os que dizem isso, a leitura do livro de Evander Bueno de Lima é de uma urgência 
premente. 
E, agora, após a leitura, eu sei que eles estão duplamente enganados. Enganam-se a si 
mesmos e prejudicam tremendamente os seus animais. 
O primeiro engano é não perceber que cães não são gente. Eles são animais e são 
maravilhosos por isso. Mas são animais diferentes de nós e, para usufruir e ser generoso e 
honesto com eles, é preciso entendê-los. Apenas um especialista, alguém que tenha 
estudado o comportamento do animal pode nos ensinar isso. Assim o faz o professor doutor 
Evander Bueno de Lima, com uma prosa técnica e bem fundamentada, mas gostosa e fácil 
de ler. 
O segundo engano é testar o amor incondicional deles. Descobrir que o amor é 
incondicional é testá-lo sobre todas as condições, sejam elas de abandono do animal, de 
submetê-lo a ambientes sem estímulos, sem atividades e sem atenção. O amordo animal 
pode ainda assim continuar, mas o dono não pode se orgulhar disso, muito pelo contrário, 
deve se envergonhar horrivelmente. 
Aquele dono, vizinho de meu amigo revisor, ao chegar ao seu apartamento falava, aos 
berros, com o pobre cão abandonado: “Papai chegou, neném, vem aqui!!”. 
E (todos sabemos que é sempre assim) o animalzinho corria aos pés dele e se deleitava 
com os cinco minutos de atenção, após horas intermináveis de abandono. 
Tivesse ele lido o capítulo sobre antropomorfismo deste livro... 
E se tantos outros donos que projetam seus anseios, medos e deficiências em seus 
animais, ah, se eles tivessem se perguntado: “consigo fazer de uma tartaruga um 
cachorro?”. 
Tudo seria mais fácil, pelo menos para os animais, mas, sobretudo, teriam sido mais 
honestos com eles mesmos. 
Ter um animal de estimação e ler sobre como entender as necessidades dele é de extrema 
importância, de uma importância que eu nunca havia sido capaz de dimensionar até 
conhecer o professor Evander. 
A Editora Todas as Musas orgulhosamente coloca nas mãos de seus amigos e leitores a 
obra do professor doutor Evander Bueno de Lima, desejando uma boa leitura e um 
relacionamento mais saudável entre homens e animais. 
Guia de Comportamento Canino 
 
11 
 
APRESENTAÇÃO 
 
Minhas experiências em comportamento animal, mais especificamente com o canino, sem 
que se percebesse, tiveram seu início em minha infância na cidade de São João da Boa Vista 
-SP, com meus primeiros cães. Primeiro, o Aritana, um pastor alemão que, naquela época, 
era bravo, na minha concepção. Segundo, o Stivie, SRD (sem raça definida), dócil e amigo, 
que recebia minha mãe ao chegar do trabalho todos os dias na praça do bairro. Havia 
também Menina, outra SRD, amável e companheira, que me fazia companhia, seguindo-me 
quando eu ia até à casa de minha saudosa avó. 
Esses animais me ensinaram desde cedo a importância do respeito à hierarquia, a 
cumplicidade do encontro e a responsabilidade da proteção, respectivamente. Essas 
características são inatas desta adorável espécie, que, com sua inteligência e 
companheirismo, fizeram apaixonar-me, cada dia mais, pelo meu trabalho e por estes seres 
tão especiais. 
Logo após me formar na faculdade de medicina veterinária, durante minhas consultas 
clínicas, muitas vezes me deparei com proprietários pedindo ajuda em relação ao 
comportamento de seus cães. Problemas de agressividade, latidos excessivos, fobia de 
chuva, trovões ou tempestades, medo de fogos de artifícios. Foi, enfim, uma grande 
diversidade de comportamentos que me fizeram buscar livros e tornar-me um estudioso da 
área para poder melhor entender o comportamento canino e melhor ajudar meus clientes 
para que conseguissem um convívio harmonioso e equilibrado dentro da casa. 
Neste tempo, descobri que entender como os cães pensam e ensinar isto aos clientes em 
minhas consultas ou mesmo aos colegas veterinários, adestradores ou cinófilos por meio de 
seminários ou palestras, foi a melhor forma de ajustar esta convivência. Isto também me 
levou a escrever este guia, que tem apenas a intenção de compartilhar os caminhos iniciais 
do comportamento canino de uma forma básica e prática, podendo ser praticada por todos 
aqueles que pretendem ter um ou mais cães em casa. 
Dessa forma, espero despertar as mesmas concepções e emoções que percebo em minhas 
consultas de comportamento. O que é preciso é basicamente que se traga do inconsciente ao 
consciente a noção de que tudo o que está sendo dito é simples, fácil e óbvio. Basta apenas 
a mudança do comportamento do proprietário para que o animal mude no mesmo momento. 
 
Evander Bueno de Lima 
 
12 
Guia de Comportamento Canino 
 
13 
 
INTRODUÇÃO 
 
Atualmente, o animal de estimação que temos em nossos lares deixou de ser uma 
simples companhia para nossos filhos ou mesmo um imponente cão de guarda para a nossa 
casa e tornou–se algo muito mais profundo e afetivo, quase como um membro da família. 
Os animais, em especial os cães, vêm ocupando um lugar cada vez mais importante nos 
lares de toda a população. O cão talvez seja o mais antigo animal domesticado pelo ser 
humano. Teorias postulam que ele surgiu da domesticação do lobo cinzento asiático pelos 
povos daquele continente há cerca de 100.000 anos. Ao longo dos séculos, por meio da 
domesticação, realizou-se uma seleção artificial dos cães pelas suas aptidões, características 
físicas ou tipos de comportamentos. 
O cão é um animal social 
que, na maioria das vezes, 
aceita o seu dono como o chefe 
da matilha. Ele possui várias 
características que o tornam de 
grande utilidade para o ser 
humano, possui excelente olfato 
e audição, é um bom caçador e 
um corredor vigoroso, é 
inteligente, relativamente dócil e 
obediente ao ser humano e 
possui também excelente 
capacidade de aprendizagem. 
Desse modo, o cão pode ser 
adestrado para executar grande 
número de tarefas úteis ao 
homem, como a caça, pastorear 
rebanhos, guarda para vigiar 
propriedades ou proteger 
pessoas, farejar diversas coisas 
(drogas, pólvora, câncer, 
Evander Bueno de Lima 
 
14 
sangue, hormônios, ferormônios, etc), resgatar afogados ou sobreviventes em terrenos 
adversos, guiar cegos, puxar pequenos trenós. Mas, hoje em dia, uma das suas principais 
atribuições é servir como cão de companhia, momento em que se pode gozar do prazer do 
seu amor incondicional. Estes, com certeza, são alguns dos motivos que estimularam a 
criação da famosa frase: “O cão é o melhor amigo do homem”. Não se tem conhecimento de 
uma amizade tão forte e duradoura entre espécies distintas quanto a do homem e a do cão. 
Atualmente, o cães tem também sido amplamente utilizados como coterapeutas para 
diversas afecções e isto faz, certamente, com que eles tenham um papel cada vez mais 
significativo em nossas vidas por meio da terapia assistida por animais (TAA). Existem 
instituições como o Instituto de Etologia Aplicada e Psicologia Animal (IEAP), na Suíça, que 
se trata de uma fundação privada de pesquisa e educação, que tenta convencer desde 
ministros da saúde de países do primeiro mundo até líderes de pequenas comunidades na 
África do Sul a investir em programas de TAA, já que foram comprovados os benefícios 
dessa terapia à nossa saúde. Há também um projeto realizado pelo Instituto de Psicologia 
da Universidade de São Paulo (IP-USP), onde tive o prazer de iniciar os serviços que tinham 
por objetivo utilizar um cão da MARINHA DO BRASIL para trabalhar com crianças autistas. 
Esse projeto gerou diversas publicações científicas comprovando mais esta maravilhosa 
aptidão, em que o cão/animal consegue ultrapassar barreiras e abrir portas intransponíveis 
ao terapeuta humano. 
Independentemente do motivo pelo qual o cão está na sua casa ou no seu trabalho, 
entender como seu animal pensa e age torna-se fundamental para um convívio harmonioso 
e, principalmente, faz com que o animal se adapte à casa e à família, evitando assim 
comportamentos indesejáveis como a coprofagia (comer fezes), urinar e defecar por toda a 
casa, latir excessivamente e desnecessariamente, destruir objetos, ter medo de trovões ou 
fogos de artifícios, roubar comida da mesa, demonstrar hiperatividade entre outras. Todos 
esses comportamentos podem ser potencializados se o proprietário não entender porque seu 
animal o está realizando e podem, por outro lado, ser atenuados ou mesmo evitados se os 
donos agirem de maneira correta perante os seus animais. 
O principal motivo que me leva a escrever sobre este assunto é a observação casuística, 
empírica e científica que acumulo nestes anos de estudos e trabalhos com comportamento 
canino. Em minha experiência, 99% (casuística empírica do autor) dos problemas relatados 
em minhas consultas sobre os problemas enfrentados em casa com estes animais, na 
verdade, não são deles, mas sim de seus donos, os quais, após algumas horas de conversae 
Guia de Comportamento Canino 
 
15 
demonstrações de comportamento canino, acabam aceitando o quão culpados são, embora 
alguns, mesmo depois, continuem agindo e educando de forma errada seus animais. 
Note que usei o termo culpa propositalmente, pois a intenção é, desde o início, mostrar 
que o cão é um animal extremamente responsivo àquilo que o submetemos e praticamente 
todo o seu comportamento está diretamente ligado à forma pela qual nos relacionamos com 
ele. Esse relacionamento pode potencializar uma ação ou comportamento ou extingui-lo, 
momento em que um bom adestrador será de grande valia para ajudar no equilíbrio dessa 
relação interespécie, pois o meio forma o indivíduo. 
É muito comum fazermos a seguinte pergunta ao cliente: “você consegue fazer de uma 
tartaruga um cachorro?” Imagine a cena: uma tartaruga na coleira e você passeando com 
ela ou jogando uma bolinha para ela buscar e ficar esperando ela trazer de volta. Ou ainda, 
sua tartaruga tomando conta da sua casa como um cão de guarda. Seria muito cômica a 
cena, não é mesmo? Talvez seja uma cena perfeita para desenhos animados, mas ela nunca 
ocorrerá na vida real. A impossibilidade de isso acontecer se dá devido à anatomia da 
tartaruga e, principalmente, pelo fato de seu cérebro não estar moldado para estas 
atividades. 
Da mesma forma, pergunto: “conseguem fazer de seu cão um ser humano?” Infelizmente, 
nessa hora sempre existem pessoas que acreditam que seus cães “só faltam falar”. Por outro 
lado, a grande maioria dos clientes dão risadas e começam a entender o significado de 
humanizar os animais e compreendem que estão dando características que não pertencem a 
eles. Isto pode trazer desiquilíbrios dentro de um lar, o que torna a convivência, que deveria 
ser prazerosa, em algo perturbador para o cão e para os seres humanos da família. 
O antropomorfismo é exatamente isto: dar características humanas ao animal. Homem é 
homem, cão é cão, não temos como fazer de um o outro nem vice e versa. Isto não significa 
que devamos viver afastados desses amáveis seres, pois, hoje em dia, o animal de 
estimação, aqui representado pelo cão, se tornou um ente querido em nossos lares. Porém, 
para manter a relação saudável, não podemos esquecer-nos das distintas naturezas dessas 
espécies. 
 
 
 
 
Evander Bueno de Lima 
 
16 
 
 
Nesse relacionamento, o desequilíbrio começa a acontecer quando algo na casa, ou ao 
menos uma pessoa, passa a mudar para se “adaptar ao animal”. Na verdade, o que deveria 
acontecer é que o animal deveria se adaptar às pessoas e ao ambiente em que está sendo 
inserido. Assim, o proprietário do animal exerceria o papel de líder da matilha. É muito 
importante não se esquecer da sua natureza, pois quando digo que o cão deve se adaptar ao 
lar, temos que buscar respeitar as exigências psicológicas e físicas de seu cão. Isto, pode 
apostar, faz uma enorme diferença no comportamento do animal e, sem medo de errar, 
posso afirmar que este talvez seja o limite entre a saúde e a doença, pois um ambiente pobre 
Guia de Comportamento Canino 
 
17 
em atividades e opções pode ser o início de uma vida perturbadora e triste para nosso 
amigo, desencadeando problemas como ansiedade, estresse, transtornos obsessivos 
compulsivos, entre outros. Exemplificando. Se, na minha casa, sempre deixei a porta da 
cozinha aberta e agora estou fechando-a para que o novo membro da família não entre e 
fique no quintal/lavanderia, estou inconscientemente ensinado o contrário a ele. Estou 
explicitamente dizendo ao cão que, quando a porta estiver aberta, ele pode entrar. 
Veja então que o limite não deve ser físico, mas sim psicológico. Temos que ensiná-lo 
qual é o limite e quando ele pode entrar, educando-o, mostrando firmeza e liderança no 
comando. Não se esqueça principalmente de que existe a forma certa e correta de fazê-lo 
para que aquilo que você pretende ensinar não fique confuso na cabeça do animal. Para 
isto, temos que entender como a mente do animal funciona, como o cão pensa e age, de 
acordo com tudo que acontece ao seu redor. 
 
 
Lembre-se sempre: o cão deve se adaptar ao nosso lar e não o contrário. 
 
Evander Bueno de Lima 
 
18 
Enfim, pensando em oferecer condições para que se consiga um bom equilíbrio familiar 
entre o animal e seus donos, escrevo este livro para todos aqueles que são apaixonados por 
esta espécie, mostrando a forma básica de raciocínio canino, com a intenção de buscar 
ações que alcancem o equilíbrio nessa relação e tragam benefícios para a toda família. 
É sempre importante ressaltar que, na sociedade de hoje, como já dissemos, o animal de 
estimação virou um membro da família e quando falo sobre “equilíbrio para toda a família”, 
é obvio que o animal está inserido neste contexto. Ele precisa ter suas necessidades 
respeitadas e atendidas e elas são basicamente e psicologicamente as mesmas que as 
nossas. O animal necessita de atividades físicas, interações sociais, ambiente rico em 
atividades e alimentação adequada entre outras coisas. 
Guia de Comportamento Canino 
 
19 
 
COMO PENSAM OS CÃES 
 
Como entender um cão, se eu não sei como ele pensa? Como posso dominá-lo ou deixar 
de ser dominado por ele, se ele sempre faz aquela carinha do gato de botas1 com a qual 
consegue tudo o que quer de mim? 
Esta é uma pergunta que muito frequentemente meus clientes fazem e eu posso ver a 
agonia em seus olhos, tentando realmente aprender o que e como fazer para começar a 
entender a educar seu cão. Para isto, é importante que, no mínimo, tenhamos uma noção 
básica sobre como ele pensa. 
Se avaliarmos o cérebro de um cão juntamente com o cérebro humano, vamos perceber 
que, morfologicamente, ambos são muito semelhantes. Muitos pesquisadores afirmam que a 
diferença entre eles é quantitativa e não qualitativa. Nosso cérebro, porém, possui uma 
capacidade infinitamente maior para utilizar o raciocínio lógico (área frontal do cérebro), 
enquanto os cães possuem enorme capacidade para utilizar a sua parte instintiva, o sistema 
límbico (área central do cérebro). Essa característica dá ao animal uma enorme capacidade 
de raciocínio associativo e, basicamente, toda sua forma de pensar e agir estará vinculada a 
essa forma de raciocínio. Isso passa despercebido para a grande maioria dos proprietários 
de animais. 
Um cão vivendo dentro de casa com uma família de humanos pensa da mesma maneira 
que os seus ancestrais, os lobos. Embora existam autores que acreditem que os cães nos 
veem como seres humanos, eu prefiro ainda acreditar na maioria dos artigos científicos 
publicados em revistas de alta conceituação técnica em suas áreas, pois eles conseguem 
provar por estudos etológicos / neuropsicológicos, deixando a subjetividade de lado, que é 
preciso conviver com os cães seguindo a sua natureza. 
Assim, entre supor que ele raciocine que sou um humano e ele é um cão, prefiro pensar 
que ele não tem esse raciocínio discriminatório. 
O nosso relacionamento vai realmente se embasar na sua socialização e tudo o que 
ocorrer com ele, entre nós e com o ambiente, pois, como seres vivos, somos uma eterna 
 
1 O GATO DE BOTAS é um personagem dos filmes de Shrek. Como muitos personagens de Shrek, ele 
faz uma referência a um conto clássico, O Gato de Botas, de Charles Perrault. No desenho, o gato faz 
uma feição de animal abandonado e pedinte para conseguir o que quer, levando-nos a uma compaixão 
e empatia incontroláveis, fazendo-nos ceder aos seus desejos. 
http://pt.wikipedia.org/wiki/O_Gato_de_Botas
http://pt.wikipedia.org/wiki/Charles_Perrault
Evander Bueno de Lima 
 
20 
adaptação a estímulos externos, controlados por uma “sopa” de neurotransmissores que faz 
cada ser vivo um ser único. 
 
Guia de Comportamento Canino 
 
21 
 
LIDERANÇA: O LÍDER DA MATILHA 
 
Há muito de romantismo e antropomorfismo em torno do cão. Existem estudosfeitos com 
ressonância magnética, que buscam mapear as atividades cerebrais do cão no momento em 
que se estimulam atividades lúdicas, para se fazer uma analogia com o cérebro humano. 
Porém, por mais semelhanças que se encontre, o cão raciocina e age por associação, 
utilizando-se basicamente de uma lei da psicologia comportamental operante, que veremos 
mais adiante, denominada LEI de THORNDIKE2 ou LEI DO EFEITO. Ao lado disto, está 
também a associação da liderança do grupo. 
Ou ele manda ou é mandado, ou ele é o líder da matilha ou subordinado. É basicamente 
e determinantemente assim, pois todo o relacionamento vai depender desta hierarquia e 
tudo o que acontecer estará diretamente relacionado a isto. Será assim, mesmo que não 
percebamos, mas, para eles, isso está presente 24 horas por dia. 
Se, naturalmente, ele for um animal submisso, sua rotina será a de sempre conquistar 
seu dono, executando associações que fazem com que o proprietário acredite veemente que 
seu cão “só falta falar”. Por outro lado, se o cão tiver um instinto3 dominante, o que por sua 
vez proporcionará a este animal uma personalidade4 mais forte e territorialista, ele sempre 
estará desafiando o dono. Nesse caso, o conhecimento básico, por parte do proprietário, de 
que forma esses animais pensam é fundamental para uma vida familiar equilibrada e 
 
2 EDWARD LEE THORNDIKE, psicólogo norte-americano. Iniciou seus estudos de psicologia na 
Universidade de Harvard (EUA). Um dos aspectos da psicologia que particularmente o fascinava era o 
estudo do aprendizado dos animais. Thorndike esteve na origem do surgimento do condicionamento 
operante. 
3 INSTINTO designa, em psicologia, etologia, biologia e em outras ciências afins, as predisposições 
inatas para a realização de determinadas sequências de ações (comportamentos), caracterizadas, 
sobretudo, por uma realização estereotipada, padronizada, pré-definida. Devido a essas características 
supõe-se uma forte base genética para os instintos, ideia defendida já por Darwin. Os mecanismos que 
determinam a influência genética sobre os instintos não são completamente compreendidos, uma vez 
que se desconhecem as estruturas genéticas que determinam sua heritabilidade. 
O termo instinto foi usado nas primeiras traduções da obra de Freud para o inglês a fim de traduzir o 
termo alemão trieb. Esse uso do termo instinto não corresponde ao conceito psicanalítico e foi por isso 
substituído pelo termo mais próprio de pulsão (ing. drive). 
4 PERSONALIDADE é o conjunto de características psicológicas que determinam os padrões de pensar, 
sentir e agir. A formação da personalidade é um processo gradual, complexo e único a cada indivíduo. 
Da mesma forma, a formação da personalidade é processo gradual, complexo e único a cada animal. 
Evander Bueno de Lima 
 
22 
saudável, em que os líderes são as pessoas da casa e não o cão. 
Ter um animal que pode morder as pessoas da casa por não ter sido educado e 
socializado da forma correta faz, com o passar do tempo, que isto se torne um perigo 
constante dentro de nossos lares, principalmente se houver crianças ou outros animais. A 
convivência, que deveria ser algo prazeroso, pela companhia desses maravilhosos e 
encantadores membros da família, torna-se um incômodo e um transtorno muito grande 
para todos da casa. E vale ainda ressaltar que a culpa não é do animal. 
Afastar a forma de pensar dos cães de seus ancestrais ou daquilo que eles naturalmente 
são seria negar parte da ciência que prova, nos dias de hoje, pelo seu mapeamento genético, 
sua hereditariedade. Sem que seja preciso nos alongar no assunto, eu diria que a grande 
diferença está no fato de uma espécie estar totalmente domesticada e a outra ser ainda 
selvagem. E assim se dá também com matilhas selvagens que mimetizam comportamentos 
das alcateias. 
Em nossos lares, o instinto do animal funciona da mesma forma como se ele estivesse na 
mata, vivendo de forma selvagem. Assim, ao chegar a nossa casa, ele estará avaliando se 
será o líder e a quem tem que desafiar. A competitividade e a luta (na maioria das vezes 
psicológica) para firmar seu território estão no instinto do líder. 
Imaginemos o encontro de um cão líder de uma matilha com outro que está com intenção 
de “tirar seu reinado”. Engana-se quem pensa que eles irão logo para uma briga física. Na 
verdade, existem algumas fases antes de eles se atacarem fisicamente, se machucarem e 
ficarem dependendo da gravidade dos machucados para sobreviverem. Para evitar esse 
confronto físico, o cérebro, ao longo de sua evolução, se moldou para sempre defender a vida 
e isto, na lei da natureza, é fundamental para a sobrevivência da espécie. Eles não se 
arriscam de imediato sem antes terem a certeza de que vão ganhar a briga e de que o outro, 
ao final, vai perceber que estava errado em sua avaliação. Se, toda a vez que o líder fosse 
desafiado, ele tivesse que utilizar o confronto físico, é claro que, com o tempo, ele não 
resistiria. Por mais forte que ele fosse, em curtos espaços de tempo, levando algumas 
mordidas, mesmo que sejam de raspão, ao final, aquele simples arranhão viraria uma 
grande ferida, onde as moscas depositariam suas larvas e lá se desenvolveria uma miíase 
que iria devorá-lo por inteiro. 
O primeiro confronto é o visual. Um animal encara o outro, olhando-o fixamente nos 
olhos. O primeiro a desviar o olhar já dá indícios de submissão. Na maioria das vezes, o 
confronto acaba nesse ponto. Fala mais alto o instinto dos animais: o desafiante desiste de 
Guia de Comportamento Canino 
 
23 
continuar na briga pela liderança da matilha e opta por esperar por uma oportunidade 
melhor. 
Porém, vamos imaginar que o desafiante não tenha se intimidado com o olhar intenso e 
assustador de seu adversário e nenhum dos dois deixa de encarar o outro, mantendo o olho 
no olho do oponente. O líder da matilha não vai entregar sua família sem muita luta e o 
desafiante está convicto de que aquele grupo vale a pena e que ele vai ganhar a briga. Nessa 
hora, o confronto físico vai se aproximando e o corpo inteiro se prepara para um confronto 
que pode ser fatal, pois as mencionadas tentativas inconscientes de defesa da vida pelo 
cérebro não estão adiantando. 
O confronto não se dá mais apenas do olhar, mas passa ser também sonoro, incluindo a 
exposição dos dentes caninos e a captação de feromônios e de todos os hormônios que 
possam estar envolvidos na briga e na defesa da vida. Esses hormônios são emitidos pelo 
sistema nervoso autônomo simpático e são captados pelo órgão vomeronasal (veremos isso 
detalhadamente mais adiante). 
Se, após estas ações (olhar, sonoro/exposição de caninos e órgão vomeronasal), nenhum 
dos dois desistir, o cérebro ainda lançará uma última tentativa antes das dilacerações de 
um confronto físico: o blefe. Normalmente, uma mordida sem intensidade, mas com 
ferocidade, parte do líder da matilha para tentar afastar o desafiante. Porém, se o desafiante 
ainda estiver convicto da necessidade da briga, o blefe será recíproco e então o confronto 
físico começa. O mais forte vencerá, podendo a matilha ter um novo líder ou não. 
Essa sequência de momentos tensos de confronto tem um limiar muito tênue entre uma 
fase e outra. Elas podem ser muito rápidas, de apenas alguns segundos, ou podem demorar 
um tempo maior. Porém, nenhum cão saudável irá atacar sem fornecer esses avisos antes. 
Os ataques que fogem deste ritual da natureza geralmente indicam uma afecção 
comportamental determinada pelo gene da agressividade, identificado normalmente em cães 
de raças de cores escuras (pois sua formação embriológica está relacionada conjuntamente 
aos genes da cor). Em todos esses anos em que trabalho com terapia comportamental, 
identifiquei alguns casos e, na maioria das vezes, em cães da raça Cocker Spaniel (caramelo 
ou preto). Vale ressaltar que esta incidência tem aumentadomuito devido ao cruzamento 
indiscriminado de criadores irresponsáveis em busca de dinheiro com a venda desses 
animais (veremos mais sobre isso mais adiante também). 
Sempre afirmo, em aulas ou palestras que ministro, que não existe cão saudável 
agressivo, o que existe são animais predispostos ao territorialismo e que têm essa 
Evander Bueno de Lima 
 
24 
característica potencializada. Da mesma forma, há animais que não foram socializados e 
manifestam com maior intensidade, por isso, afecções comportamentais (gene da 
agressividade, disfunções hormonais), o que é completamente diferente de condenar uma ou 
outra raça como sendo agressiva. Um ambiente saudável, independente do drive5 do 
animal, molda a personalidade de um cão, deixando-o sempre sociável, mesmo sendo um 
cão operacional da Polícia Militar ou um cão de guerra das Forças Armadas. 
 
 
5 DRIVE são os diferentes tipos de instintos inerentes aos cães. Esses instintos influenciam o 
comportamento dos cães, definindo a maneira pela qual eles irão reagir a uma situação específica e 
sua personalidade. Os drives podem ser influenciados pela genética e podem ser moldados pelo 
ambiente, educação e socialização que receberão. 
Guia de Comportamento Canino 
 
25 
 
TESTE DE PERSONALIDADE 
 
Sempre obtive êxito com um teste empírico aplicado nos cães para julgar se são 
geneticamente afetados pelo gene da agressividade ou se são apenas potencializados a 
serem agressivos. O relato que faço em seguida não tem a intenção de fazer deste teste um 
modelo. Procuro apenas compartilhar uma prática que sempre deu certo no meu trabalho. 
Trata-se de um confronto psicológico montado de forma muito rápida. É tão simples que o 
proprietário do animal, mesmo estando presente, não percebe que foi realizado. Com o teste, 
já tenho dados o suficiente para saber o quão trabalhosa será a consulta de comportamento, 
a dinâmica necessária, os cuidados que terei que usar e a personalidade do cão. Sobre a 
personalidade do animal, nunca é demais enfatizar que, na maioria das vezes, o animal tem 
os comportamentos potencializados pelo ambiente em que vive, seja pela inércia de seu 
dono ou por ter sido educado de forma errada (e muitas vezes isso é feito de propósito). 
Vejamos como é feito, sempre seguindo a natureza do cão e o desafio de liderança, que já 
foi mencionado. Começo olhando em seus olhos e observando qual será sua reação. Se o cão 
latir sem desviar seu olhar, digo apenas um “não” um pouco mais forte, levantando minha 
mão em sua direção e me insinuando a avançar em direção a ele. Observo quanto tempo ele 
demora em desviar o olhar dos meus olhos. Isto acontece de forma muito rápida, não dura 
mais que uns 10 segundos. Apenas esse procedimento já é o suficiente para que eu consiga 
classificar a sua reação em três categorias: 
A primeira denota uma personalidade bastante dócil e de fácil manuseio. O animal 
demonstra isso desviando seu olhar do meu no momento em que olho para ele, podendo ele 
voltar a me olhar, mas apenas para verificar se continuo a olhá-lo. Se eu continuo, ele 
automaticamente desvia novamente o olhar, junto com o desvio da sua cabeça. 
A segunda denota uma personalidade mais forte, mais territorialista. Com este cão, terei 
mais trabalho e precisarei de muito mais paciência e cuidado para manuseá-lo. É preciso 
criar um laço afetivo forte para ficar tranquilo, seguro e com a certeza de que não vou ser 
mordido. Quando olho nos seus olhos, ele me encara por um tempo maior, podendo rosnar, 
latir e desviará os olhos dos meus sem que sua cabeça gire, ficando firme em minha direção, 
de prontidão para a mordida blefe. 
A terceira reação que o cão poderá ter será a de confronto. Ele não desviará o olhar e vai 
me morder, sem blefar. Este animal provavelmente é portador do gene da agressividade. 
Evander Bueno de Lima 
 
26 
Será muito importante que os proprietários se conscientizem que, se o espaço desse animal 
for invadido, haverá uma grande chance de quem o fizer ser mordido e se machucar. 
É muito importante, quando vamos realizar este teste, estarmos completamente seguros 
de que, se algo sair errado, não seremos atacados. Se houver a dúvida, o cão perceberá o 
temor, sua coragem para nos intimidar irá aumentar e, em contrapartida, o nosso medo irá 
crescer. Nesse contexto, obviamente, não conseguiremos um resultado confiável. 
Nas consultas, o proprietário sempre está segurando seu animal. Quando sou chamado a 
um canil, há uma grade entre nós e o animal. Se tiver que entrar em seu ambiente, sempre 
coloco uma manga de treinamento, que ele poderá morder se quiser e eu poderei enfrentá-lo 
“psicologicamente” sem medo, gritando com ele e sem tirar os meus olhos dos olhos dele. 
Alguns leitores poderão questionar se esta terceira reação é realmente indicativa do gene 
da agressividade ou se estou diante de um verdadeiro cão Alpha. Eu acredito, porém, que 
mesmo um lobo ou cão selvagem, quando sozinho, enfrentando um animal bem maior que 
ele, terá o seu cérebro protegendo a vida, aconselhando-o a evitar o confronto. Isso não 
acontece na presença do gene da agressividade. 
Certa vez, quando estava ministrando disciplinas ligadas à medicina veterinária e 
comportamental de cães de guerra para os fuzileiros navais no primeiro curso de “Cães de 
Guerra da Marinha do Brasil”, na base de Aramar, fui chamado para comparecer ao 8o 
Distrito Naval para atender uma cadela da raça Rottweiller que ninguém conseguia tirar de 
sua baia, devido à sua suposta agressividade. Lá chegando, realmente havia um animal que 
aparentava extrema agressividade. Porém, após fazer o teste de agressividade, percebi ser 
apenas um cão que estava sendo potencializado a agir daquela forma. Entrei com a manga 
de treinamento em sua baia, sem desviar, em nenhum momento, o olhar dos olhos dela e 
dizendo em tom alto a palavra “não”. Ela recuou e consegui passar a coleira em seu pescoço, 
agradando-a e a levando para passear. Começamos aí a formar um vínculo entre nós. Vale 
lembrar que o adestrador dela estava fazendo o curso para se tornar mais um excelente 
profissional e cinófilo, como é da tradição daquele curso. 
Houve ainda outra oportunidade, agora ministrando o mesmo curso, mas para o 
Batalhão de Infantaria da Força Aérea Brasileira (BINFA), de São José dos Campos-SP. 
Cheguei sozinho ao canil e dei de frente com um cão da raça Rottweiller dentro de uma baia. 
O cão parecia o verdadeiro Cérbero6 e, como instigou minha curiosidade, fui ao seu 
 
6 CÉRBERO - Na mitologia grega, Cérbero ou Cerberus (em grego, Κέρβερος – Kerberos = “demónio do 
poço”) era um monstruoso cão de múltiplas cabeças que guardava a entrada do inferno (mundo 
Guia de Comportamento Canino 
 
27 
encontro para aplicar o teste de agressividade. O cão se classificou com louvor na segunda 
categoria. 
Mais tarde, no momento em que estava ministrando a aula de comportamento canino, 
havia um aluno da Polícia Militar do Estado de São Paulo que, não acreditando em mim e 
sem saber que já havia feito o teste naquele cão, me desafiou a pegá-lo, dizendo que era 
impossível controlar aquele animal. Descobri então que o cão havia chegado no dia anterior 
ao canil. Fora necessário um caminhão com dois cambões7 e dois adestradores segurando o 
animal, que aparentemente fora expulso até da porta do inferno (que absurdo, e sendo 
trazido por duas pessoas que se diziam profissionais do adestramento). Ao fim, foram três 
horas de aula com o Cérbero ao meu lado, sem focinheira, sem cambão e se parecendo mais 
com o Snoopy8 incompreendido que com qualquer outra coisa. Um excelente exemplo 
didático para a ocasião. Bem, como todo desafio conquistado merece uma recompensa, no 
final da aula, tivemos um belo churrasco e, obviamente, como é da tradição militar, o boy 9 
“pagou” muita flexão de braços,castigo obrigatório nas Forças Militares. 
 
 
 
inferior), o reino subterrâneo dos mortos, deixando as almas entrarem, mas jamais saírem, e 
despedaçando os mortais que por lá se aventurassem. 
7 CAMBÃO – Instrumento útil que, usado por quem sabe, pode segurar cães e contê-los com 
segurança para quem o faz. 
8 SNOOPY – Apareceu pela primeira vez em 1950, criado nos Estados Unidos pelo cartunista Charles 
Schulz. Era inicialmente personagem de tiras de jornais, mas alcançou um sucesso tão grande que se 
tornou desenho animado em 1965. 
9 BOY – Palavra da língua inglesa que significa menino. No meio militar brasileiro, é usado como gíria, 
denotando inexperiência, independente da patente. Usado pejorativamente também para uma pessoa 
que está tendo atitude infantil, seja no julgamento ou ação. 
Evander Bueno de Lima 
 
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Guia de Comportamento Canino 
 
29 
 
 
ÓRGÃO VOMERONASAL 
 
O órgão vomeronasal, ou órgão de Jacobson, encontra-se conectado à cavidade bucal pelo 
ducto incisivo (com exceção dos equinos). A função desta estrutura é aumentar a 
sensibilidade de quimiorrecepção nas espécies domésticas e selvagens. Esta estrutura ajuda 
a detectar mensagens na forma de odor e também a medir interações sociais, tais como 
acasalamento, cuidados com a prole e agressividade com rivais. Mais especificamente, 
componentes líquidos e aerossóis de baixa volatilidade, denominados feromônios, podem ser 
detectados, influenciando as funções hormonais e reprodutiva, assim como o 
comportamento sexual de machos e fêmeas. 
Os feromônios distinguem-se dos hormônios, que são liberados internamente e exercem 
influência sobre o metabolismo do indivíduo. Já os feromônios são liberados externamente, 
com atividade sobre indivíduos da mesma espécie. Os feromônios podem adentrar no órgão 
em questão via lambedura, ingestão oral ou inalação direta. Os sinais concebidos pelo 
epitélio vomeronasal são enviados para um bulbo olfatório acessório, que, na maior parte 
das espécies, age como o primeiro centro de integração neural para o sistema sensorial 
vomeronasal. 
A capacidade olfativa do cão é tão surpreendente que ele consegue até diagnosticar o 
câncer com base no hálito de um paciente. Ele possui cerca de 200 milhões de células 
receptoras de odores, contra apenas 5 milhões presentes nos homens, o que os torna 
farejadores 40 vezes mais eficientes que nós. 
Esses odores, quando capturados pela sua respiração, são capazes de identificar o mais 
leve aroma e transformá-lo em mensagens químicas mandadas ao cérebro, que possui uma 
boa parte dedicada à interpretação de cheiros. 
Em seres humanos, estudos anatômicos têm evidenciado que o órgão vomeronasal 
regride ao passo que o feto se desenvolve. O mesmo ocorre em outros mamíferos, como os 
primatas, cetáceos e certas espécies de morcegos. 
Evander Bueno de Lima 
 
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Em seres humanos adultos, não há presença de evidências científicas de conexão neural 
entre o vomeronasal e o sistema nervoso central. Existe, porém, a presença de uma 
diminuta estrutura no septo nasal de alguns indivíduos e a presença do osso vômer, o que 
leva um grupo de pesquisadores a acreditar que essa estrutura represente um órgão 
vomeronasal funcional. 
Guia de Comportamento Canino 
 
31 
 
 
CÃES TÊM CIÚMES? 
 
Há alguns poucos estudos sugerindo a presença de ciúmes nos cães, normalmente 
disseminados por algumas mídias sensacionalistas e por relatos de casos que acabam por 
tomar uma proporção descabida. Esse conjunto tenta criar uma suposta verdade. Porém, a 
bem da questão, existe uma infinidade de artigos científicos, tanto no Brasil quanto no 
exterior, que comprova que a única espécie que tem ciúmes é o ser humano. Sendo assim, 
até que se prove o contrário, sou um fiel adepto da crença de que não existem ciúmes em 
cães. Pelo que se lê, a grande maioria de pesquisadores, sejam veterinários, médicos, 
biólogos ou psicólogos, também são contra a ideia da presença de ciúmes nos cães. Acredito 
ser mais um grande problema de antropomorfismo do que realmente o sentimento em si. 
São muitos os clientes que me procuram para relatar “sérios” problemas destes supostos 
ciúmes com seus cães. Volto a afirmar que os cães são, em grande parte, o reflexo de seus 
donos, que depositam nesses pobres animais todos os seus problemas emocionais. Caberia 
aí deixar aos psicólogos – especializados em humanos – fazerem seu trabalho. Sempre digo 
em minhas consultas e aos colegas de profissão que o cão deveria entrar em meu 
ambulatório e, ao lado, paralelamente, o proprietário deveria sentar no divã do psicólogo ou 
psicanalista. Assim seria o paraíso para o terapeuta veterinário e a solução do problema do 
cão. 
Nesses casos, sempre inicio a conversa pedindo para que o proprietário me responda se 
ele (a) é ciumento (a) e que me descreva o que ele (a) sente quando está com ciúmes. Em 
seguida, vem, por parte do proprietário, a descrição de um aglomerado de sentimentos 
envolvendo amor, ódio, vingança, planejamento para o futuro (“agora, vou fazer desta 
forma”), autopiedade (“coitado de mim, eu não merecia isto”) entre tantos outros. 
Pergunto então se ele realmente acredita que o cão tem os mesmos sentimentos, ainda 
que minimamente. Perceba que, se esses sentimentos não existirem no cão, não se trata de 
ciúmes, mas sim de um comportamento potencializado, em que o cão ganha, no final, a tão 
esperada interação social. Os cães são animais sociáveis e por isto querem estar sempre 
próximos, recebendo atenção. Assim, ao descobrirem que, com este comportamento (que o 
dono identifica como “ciúmes”), eles acabam ganhando um “tadinho, está com ciúmes, vem 
cá com a mamãe/papai”, juntamente com afagos e beijos a mais, eles o farão repetidamente. 
 
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Guia de Comportamento Canino 
 
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Esse comportamento irá potencializar este tipo de situação e palavras, virando um start 
comportamental, controlado pelo sistema nervoso autônomo, o que nos leva ao 
condicionamento clássico de Ivan Pavlov10. 
Lembre-se de que os cães possuem uma inteligência associativa muito grande, mas não 
planejam seu futuro. Eles não têm autopiedade e vivem com suas memórias e associações 
dia após dia. 
Para exemplificar este sentimento, costumo citar as situações em que os animais 
algumas vezes são expostos a perigos por alguns proprietários, acredito que não por 
maldade, mas sim por distração. Como por exemplo, deixá-lo preso dentro do carro sob um 
sol escaldante, enquanto faz compras e, ao voltar, nota-se que o cão está fatigado, 
estressado e desidratado, sem forças sequer para levantar. Ainda assim, ele consegue 
abanar sua cauda de felicidade por ver seu dono que o deixou preso nestas condições 
inóspitas. Vendo isso pergunto: É possível haver neste ser vivo um sentimento diferente de 
um amor incondicional? E se fosse um ser humano, submetido por outro, a estas mesmas 
condições, como o receberia? 
Cães não guardam rancor nem ficam magoados por terem sido repreendidos. O fato de 
não terem recebido carinho e atenção, no momento em que agrado outro animal ou pessoa, 
não irá gerar sentimento de animosidade. Acredito que se trata de sentimentos menos 
complexos, em que a sua demonstração de “ciúmes” é apenas um comportamento de 
interação social, potencializado por nossas atitudes conscientes e inconscientes. 
Conscientes, no momento em que se fala: “tadinho, o Tob está com ciúmes, vem aqui”, e isto 
o faz perceber que a atitude que teve gerou a atenção de que ele tanto gosta. E, 
inconscientemente, quando eu transfiro para o animal o que eu sentiria se esta situação 
estivesse acontecendo comigo. 
 
10 Ivan Petrovich Pavlov – Foi premiado com o Nobel de Fisiologia ouMedicina, de 1904, por suas 
descobertas sobre os processos digestivos de animais. Ivan Pavlov veio, no entanto, a entrar para a 
história por sua pesquisa em um campo que se apresentou a ele quase que por acaso: o papel do 
condicionamento na psicologia do comportamento (reflexo condicionado). Na década de 1920, ao 
estudar a produção de saliva em cães expostos a diversos tipos de estímulos palatares, Pavlov 
percebeu que, com o tempo, a salivação passava a ocorrer diante de situações e estímulos que 
anteriormente não causavam tal comportamento (como, por exemplo, o som dos passos de seu 
assistente ou a apresentação da tigela de alimento). Curioso, realizou experimentos em situações 
controladas de laboratório e, com base nessas observações, teorizou e enunciou o mecanismo do 
condicionamento clássico. 
Evander Bueno de Lima 
 
34 
Desta forma, acredito que o animal demonstre um comportamento de ciúmes, mas não 
que ele tenha o sentimento de ciúmes. É preciso perceber que, de um comportamento 
associativo, por meio do qual se consegue maior interação social e atenção, até chegar ao 
sentimento de ciúmes, existe uma distância evolutiva muito grande. 
 
Mais uma vez, vejo o antropomorfismo como um grande problema comportamental para 
os cães, pois essa atitude faz com que eles adquiram um comportamento não específico à 
sua espécie, promovendo um desiquilíbrio familiar. 
Quantas famílias não deixam de sair ou passear por causa de seu cão de estimação que 
não pode ficar sozinhos em casa? E quantas me procuram porque não podem viajar, caso 
contrário seu animal faz greve de fome? 
Nesse último caso, sempre pergunto ao cliente se ele já ouviu alguma vez, em algum 
noticiário no telejornal, um repórter informando que um cão em depressão tenha se matado 
Guia de Comportamento Canino 
 
35 
por fazer greve de fome em protesto a viagem da família? Nunca, não é mesmo? E, 
realmente, o animal não entra em depressão porque a família foi viajar sem ele e nem fica se 
sentindo excluído e, por isso, para de comer, tamanha a sua autocomiseração. 
Na verdade, se os outros membros da família ficarem, por exemplo, duas semanas fora, o 
cão realmente pode vir a diminuir muito a quantidade de alimento ingerido e até a perder 
peso. Porém, isso não ocorre por depressão, mas sim porque o cão tem capacidade de 
ingerir apenas a quantidade calórica que necessita para a manutenção basal do seu 
organismo. Só que, muitas vezes, nos lares ou canis, o alimento passa a ser um motivo de 
brincadeira e distração em ambientes pobres de atividades e de interação social com seu 
dono, e isso leva o cão a ingerir mais alimento industrializado que realmente seu organismo 
necessita, levando-o ao sobrepeso. 
No caso da família que utiliza o alimento para a interação com o animal, sempre os 
estimulando a comerem mais que o necessário, quando eles estão ausentes, essa interação 
não acontece e o animal come apenas o que o organismo necessita para sobreviver e, por 
isso, emagrece. 
Mais uma vez, as nossas dependências psicológicas nos fazem acreditar que o animal 
emagreceu sentindo a nossa ausência, e mais uma vez, o antropomorfismo está presente de 
forma prejudicial ao relacionamento familiar. 
 
Evander Bueno de Lima 
 
36 
Guia de Comportamento Canino 
 
37 
 
 
ANTROPOMORFISMO 
 
Antropomorfismo é a atitude de se atribuir características humanas (ou que se presume 
serem humanas) a outros animais, a objetos inanimados, fenômenos da natureza, estados 
materiais, objetos ou conceitos abstratos, como organizações, governos, espíritos ou 
divindades. 
O termo é uma combinação de duas palavras, antropos (homem) e morfé (forma), e 
acredita-se que tenha sido originalmente cunhado pelo filósofo grego Xenófanes, que 
procurava descrever a semelhança entre crentes religiosos e seus deuses. 
Atualmente, os animais de estimação estão assumindo um papel diferenciado nas 
relações intrafamiliares no que se refere, principalmente, a esta humanização exagerada. 
Entre outras razões, essa relação é impulsionada, segundo Oliveira (2006), também pela 
relação de mercado entre homem e animal de estimação. Indo ao encontro de Miller (2002) e 
de Carvalho (2012), aquele autor concluiu que proprietários que possuem maior vínculo 
antropomórfico com seus animais tendem a gastar mais dinheiro com eles. 
O antropomorfismo é definido também como a atitude de atribuir-se um estado mental 
humano (pensamentos, sentimentos, motivações e crenças) a animais não humanos. Essa 
atitude, segundo Serpell (2013), está presente de maneira praticamente universal entre os 
possuidores de animais, inclusive entre os proprietários de animais de estimação. 
Nessa perspectiva, enquadram-se aqueles proprietários que veem seus animais de 
estimação como membros da família, chegando, em muitos casos, a serem tratados como 
filhos humanos (COHEN, 2002; CORNWELL et al., 2008; HILL et al., 2008; HOLBROOK, 
2008; KENNEDY; MOSTELLER, 2008). 
Nesse caso, o papel desses animais, no contexto familiar, é o de satisfazer às 
necessidades humanas de companhia, amizade, amor incondicional e afeto (DOTSON; 
HYATT, 2008). Já Smith (2009), descreve a relação entre homem e animal de estimação 
como sendo caracterizada por um excessivo cuidado durante um longo período de tempo, 
em que os animais de estimação estão inclusos nas normas do amor familiar, bem como na 
idealização de uma grande amizade por parte do proprietário. 
Evander Bueno de Lima 
 
38 
O ato de o cão fornecer amor, segurança e, principalmente, suporte emocional para um 
membro ou para toda a família, surge como um grande benefício para o ser humano 
(ECKSTEIN, 2000). 
Mosteller (2008) corrobora três subtipos de relações, inicialmente descritos por 
Hirschman (1994), entre homens e os animais de estimação. No primeiro subtipo, os 
animais são apresentados com uma extensão da pessoa (Self11), de modo que o 
comportamento do animal é utilizado para representar as características do comportamento 
do proprietário. Como exemplo, um cão dócil e amável com crianças dá a impressão de que 
seu dono tem as mesmas características. No segundo, os animais são tratados como 
extensão da família, não sendo considerados como posse, mas sim como um membro 
familiar, participando de atividades diárias da família. Assim, assistem televisão, têm acesso 
a todos os locais do domicílio e, até mesmo, são motivo de festas familiares. No terceiro, o 
animal é tido como um amigo e desperta grande apego emocional em seu proprietário. 
Enfim, chegamos a um ponto que acredito ser fundamental para o grande desequilíbrio 
que muitos proprietários relatam no relacionamento interespécie. Como já dissemos, o 
grande problema comportamental dos animais domésticos, em sua grande maioria, é, na 
verdade, problema dos proprietários que, a meu ver, tentam suprir necessidades e carências 
emocionais humanas por meio de seus cães de estimação. Assim, acabam adotando-os 
como filhos, colocando sapatinhos e gravatas, e fazendo bolo de aniversário e grandes 
festas, ingenuamente acreditando que o raciocínio do animal está entendendo tudo e que, 
sendo assim, ele será mais grato ou dará mais carinho e amor. 
O período de socialização dos cães tem um enorme reflexo no decorrer de sua vida e no 
relacionamento que ele terá com outros humanos e animais. Segundo Lantzman (2007), 
corroborado por Bekoff (2010), o período para termos o estabelecimento de uma relação 
afetiva sadia deve ser de, no mínimo, 45 dias de convivência com a mãe. Ser separado 
precocemente de sua família pode desencadear diversas frustrações no animal e isso pode 
vir, futuramente, a provocar alguns comportamentos fora do normal. 
Em seres humanos, frustrações de primeira infância podem refletir na forma como eles 
desenvolverão suas relações futuras que serão, possivelmente, torneadas por um sentimento 
de carência. Em função desta característica emocional, estes indivíduostendem a adquirir 
animais que possuam atributos que requeiram maiores cuidados, como os menores animais 
 
11 SELF – Projeção de si mesmo. 
Guia de Comportamento Canino 
 
39 
da ninhada, os isolados, os abandonados, os extremamente jovens e/ou debilitados em 
função de sequelas físicas ou com algum histórico de sofrimento12. 
Noto, nas consultas de comportamento, uma enorme necessidade, por parte do 
proprietário, de colocar nos cães sentimentos inexistentes neles (ciúmes, autopiedade etc.). 
É como uma válvula de escape, uma fuga da realidade, como uma supressão de ansiedade. 
E tudo isso acaba se transferindo para seu cão, como uma dependência doentia e 
desnecessária. Por sorte, a grande maioria dos clientes entende que realmente são eles os 
grandes culpados pelo comportamento equivocado, necessitando de poucas sessões para 
notarem o quanto o comportamento que os levou à queixa era, nada mais e nada menos, 
que uma ação potencializada. Depois de reparada essa ação, percebe-se uma mudança 
saudável na vida da família. 
Quando não corrigida a ação, por uma minoria de clientes que acreditam fielmente que 
seu animal só falta falar, o cão, ao demonstrar o afeto que o dono deseja, também reforça o 
desenvolvimento de um comportamento ansioso em si próprio, passando a sentir-se bem 
apenas com a presença do cuidador excessivamente atencioso (BEHAN, 2012). 
Sempre corroborei a ideia de Behan (2012), em que ele afirma que o seu cachorro é seu 
espelho. Por esse motivo, quando um cliente entra em minha sala, reclamando que seu cão 
é muito chato, sempre brinco, antes de se prolongarem as reclamações, dizendo que é 
melhor esperar a consulta terminar, pois seu cão é, na verdade, seu reflexo. Obviamente, 
esta afirmação possui muitas variáveis, mas noto realmente haver uma enorme semelhança, 
quando os proprietários resolvem contar que agem da mesma forma. 
Essa dependência, que o proprietário/cuidador desenvolve ao perceber que o animal 
depende dele, intensifica a Teoria do Apego. Essa ideia se caracteriza pela tendência da 
espécie humana a desenvolver relações de apego, herdadas de uma função biológica de 
sobrevivência no ambiente evolucionário de adaptação desde o nascimento. O apego é uma 
disposição para buscar proximidade e contato com uma figura específica e seu aspecto 
central é o estabelecimento do senso de segurança. Seu princípio mais importante declara 
que um recém-nascido precisa desenvolver um relacionamento com, pelo menos, um 
cuidador primário para que seu desenvolvimento social e emocional ocorra normalmente. A 
Teoria do Apego é um estudo interdisciplinar que abrange os campos das 
teorias psicológica, evolutiva e etológica. Dessa forma, o proprietário desenvolve uma relação 
 
12 Para maiores informações sobre esse assunto ver: FREUD, (1995); GRAEFF, (1993); MICHAUX, 
(1968); NORWOOD, (1985) ou RAPPAPORT; FIORI; HERZBERG (1981). 
Evander Bueno de Lima 
 
40 
com o cão na qual tenta suprir todas as necessidades do animal, antes mesmo que elas 
surjam, não tomando ciência de que, de fato, a necessidade que está latente de suprimento 
é a do próprio cuidador, uma vez que sua relação de apego não foi contingente na infância. 
Em outras palavras, ele tenta, dessa forma, preencher a sua própria insegurança (RIBAS; 
MOURA, 2004). 
Esse relacionamento e a insegurança do proprietário são transmitidos ao cão. O animal 
absorve a informação e traduz o que compreende por meio do comportamento ansioso, 
inquieto, levando aos sinais da Síndrome de Ansiedade de Separação (SAS), requerendo a 
atenção máxima da figura de apego na qual desenvolveu seu vínculo mais próximo, no caso, 
o proprietário (MILLAN, 2007). 
Essa relação homem – cão, envolta de antropomorfismo e humanização demasiada nos 
cães, com hipervinculação excessiva e frustrações psicológicas primárias humanas, levará 
ao estabelecimento de alterações psicológicas e comportamentais nos cães. Assim, os 
proprietários se tornam potencializadores dos sintomas no animal por não compreenderem 
ao certo a origem de seus próprios sentimentos e por desenvolverem um nível de afeto 
exacerbado em relação ao seu cão, voltado às suas próprias necessidades, que o impedem 
de agir e intervir adequadamente na busca da promoção da saúde psicológica do cão 
(PEREIRA, 2014). 
Grande parte das ideias sobre o antropomorfismo apresentadas aqui, foram escritas 
baseando-se no belíssimo trabalho da psicóloga e médica veterinária Dra. Juliana Dias 
Pereira, uma estudiosa sobre a SAS (Síndrome de Ansiedade de Separação) que demonstra 
muito talento e competência para escrever sobre o assunto e também do pesquisador 
Roberto Luiz da Silva Carvalho, Professor da Universidade Federal do Amazonas, que estuda 
os aspectos sociais e a relação entre animais de estimação e consumo. 
Guia de Comportamento Canino 
 
41 
 
 
EDUCANDO O CÃO COMO MEMBRO DA FAMÍLIA. 
ENSINANDO OS LIMITES. 
 
Ao pensarmos em adquirir o nosso cãozinho, já devemos ter em mente a linha do 
raciocínio associativo e do reforço positivo. Apenas assim, a aquisição se dará de maneira 
responsável e consciente. Devemos, desde o primeiro momento, planejar sua educação e seu 
condicionamento à nossa casa e às pessoas que nela habitam. 
Lembre-se sempre de que, para manter o lar equilibrado com a chegada de um cão, é 
preciso realizar essa adaptação do animal. 
Para isto, temos que educá-lo bem e ensinar a ele o que pode e o que não pode ser feito 
de forma ativa. É preciso colocar em prática a Lei do Efeito, por meio de vários exercícios 
que vão guiar as suas ações e ajustá-lo à rotina na casa. O mesmo pode ser dito quanto ao 
seu comportamento, pois o meio em que vive sempre terá uma enorme influência no molde 
do seu caráter. 
Algumas coisas jamais podem ser feitas na educação de seu animal. Então, antes de 
começar a educá-lo, preste muita atenção nos seguintes pontos: 
- Não use frases longas, isso vai deixá-lo confuso. Utilize palavras curtas e sempre as 
mesmas para as mesmas ações; 
- Ao repreendê-lo, não diga seu nome. Por exemplo: “Tob, seu feio, não faça isso”. 
Lembre-se de que o cão tem um raciocínio associativo. Ser repreendido ouvindo seu próprio 
nome pode fazer com que ele constitua uma personalidade insegura. Imagine que ele houve: 
“Tob, não faça isso”, mas também escuta “Vem cá, Tob, meu querido”. “Tob” passa a ser a 
palavra a qual ele fixará, mas sem saber o que vem depois. É muito comum ver proprietários 
chamando seu cão e o mesmo relutando para atender até que perceba se vai receber uma 
ação aversiva ou não. Em contrapartida, quando for recompensá-lo ou agradá-lo, repita 
bastante seu nome, pois isso ficará fixado como algo positivo. Assim, ele virá sempre que for 
chamado. 
Como dissemos, e nunca é demais repetir, para educar o animal, precisamos fazer com 
que ele se adapte a casa e às pessoas e não ao contrário. Assim, se, por exemplo, antes da 
vinda do cãozinho, como citado no início do livro, a porta da cozinha ficava aberta quando 
havia alguém lá e agora, com sua chegada, estamos fechando-a para que ele não entre, na 
Evander Bueno de Lima 
 
42 
verdade estamos ensinando que, quando a porta estiver aberta, é para ele entrar (e 
começamos errado, pois estamos mudando a rotina da casa). 
O que devemos fazer é educá-lo, mostrando que ele só pode entrar quando for chamado. 
Da mesma maneira, ele só pode sair quando dermos o comando a ele. Parece complicado, 
mas é tão simples e rápido que bastam apenas algumas repetições de treinamento para que 
ele consiga entender o que queremos. 
Vários são os exercícios que poderiam ser descritos como exemplificação de 
adestramentos específicos, mas o intuito dos que se seguem é que sejam apenas uma forma 
de fixarmos e entendermos melhor como devemos conduzir a educação do animal, deixando 
sempre claro o quequeremos dele. 
Existem muitas publicações de adestradores que ensinam várias técnicas de 
adestramento para serem realizados em casa. Sugiro estes livros ou até mesmo a 
contratação de um profissional adestrador para que se consiga educar o animal da melhor 
forma possível. O intuito deste livro é mostrar a forma de raciocínio dos animais, assim 
como apontar algumas observações sobre seus cruzamentos e algumas técnicas de 
avaliações comportamentais. 
Dentro desse intuito, podemos realizar os exercícios que seguem. 
Guia de Comportamento Canino 
 
43 
 
ENSINANDO A NÃO ENTRAR EM CASA. 
 
Sente em uma cadeira na cozinha e deixe o animal para fora com a porta aberta sem se 
preocupar com ele. No momento em que ele estiver passando a cabeça do batente da porta, 
é hora de repreendê-lo com energia. Olhe no olho dele e diga a palavra “não” ou mesmo 
“para fora”, com uma entonação forte de quem realmente está mandando e quer que isso 
seja cumprido. Ele pode ainda não entender, então se levante e coloque-o de maneira firme 
para fora da cozinha novamente. Observe bem a reação dele. Se, no momento da bronca ou 
mesmo poucos instantes depois, ele vier brincando, você está fazendo de forma errada. Ele 
não está respeitando você e não o está vendo como o líder. Isso quer dizer que ele entenderá 
essa situação como uma interação social e isso potencializará o ato dele entrar. 
Ao contrário, se ele ficou um pouco assustado ou confuso com a sua entonação de voz e 
com a sua atitude, então volte para seu lugar na cadeira e aguarde novamente sem dar 
atenção a ele até que ele volte e tente entrar novamente. Aguarde sua cabeça passar do 
batente da porta (alguns adestradores indicam colocar uma linha limítrofe entre um batente 
e outro) e, quando isto acontecer novamente, tenha a mesma atitude enérgica com a voz e, 
se preciso, fisicamente. 
A partir da segunda tentativa, ele começara a entender o limite em que não está 
atrapalhando o líder e então em poucas outras tentativas, ele estará deitado com a cabeça 
no limite permitido (no caso o batente da porta). 
É muito importante, ao fazer esse ou qualquer outro exercício, que as ordens sejam 
claras e objetivas. Caso contrário, seu animal ficará confuso e você não terá sucesso na 
educação. Assim, não se deve dizer o “não” enquanto ele estiver andando no quintal e nem 
quando estiver indo em direção à porta. Lembre-se de apenas se manifestar no momento em 
que a cabeça dele passar o batente. Desta forma, ele entenderá de imediato qual é o seu 
limite. 
No momento em que ele estiver calmo e no seu limite, agrade-o, elogie-o ou mesmo dê a 
ele um biscoito de cão como reforço positivo. Isto fará ele se sentir mais estimulado em 
obedecer (Lei do Efeito). 
Não imagine que conseguindo fazer isso ele jamais entrará em sua cozinha, pois, quando 
estiver sozinho, ele irá entrar se a porta estiver aberta. A grande intenção dos exercícios é 
mostrar de quem é a liderança e colocar limites. Acreditem! Essa demonstração de liderança 
Evander Bueno de Lima 
 
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sempre estará ocorrendo, seja por parte dos proprietários, seja por parte do animal. Fazendo 
uma analogia, imagine uma criança que vai pegar um doce na cozinha na hora errada e 
seus pais dizem não. Se ela conhecer os limites, irá obedecer, porém, depois, se voltar à 
cozinha e ninguém estiver lá, ela irá comer o tão desejado doce. 
 
 
 
Guia de Comportamento Canino 
 
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ENSINANDO A NÃO PEGAR OBJETOS COMO CHINELOS, 
SAPATOS, ETC. 
 
Sente-se em um local e deixe um chinelo próximo a você e, sem dar atenção ao cão, mexa 
no objeto de forma que ele perceba e que possa se interessar. No momento em que ele for 
brincar com o chinelo, repreenda-o dizendo “não” de maneira firme e não permita esta 
brincadeira. Isto fará com que ele comece a perceber um efeito aversivo ao objeto. Isso o 
levará a uma associação de que não pode brincar com este ou qualquer outro objeto que 
estaremos usando para o condicionamento. 
Ao mesmo tempo, ofereça um brinquedo de cão que ele possa morder e recompense-o 
muito quando ele o pegar. Estimule-o e elogie-o para que ele associe algo positivo à ação e 
também para que perceba que, com esta ação, estará agradando o seu líder e formando uma 
interação social. 
 
Evander Bueno de Lima 
 
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Guia de Comportamento Canino 
 
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ENSINANDO A URINAR NO LOCAL CORRETO 
 
Este, com certeza, é um dos grandes problemas que os proprietários enfrentam quando 
adquirem um cão de estimação, seja o primeiro ou um novo. 
A micção desordenada em lugares como sofá, tapetes, pés de mesa, brinquedos, enfim, 
em qualquer parte da casa, deixa, além do cheiro desagradável, uma situação insustentável 
para um bom relacionamento. 
Como se sabe, o cão usa a micção para a demarcação de território. É também algo típico 
de cadelas no cio, pois esse ato deixa no ambiente muitos feromônios. 
A marcação de território é um comportamento apresentado por machos e fêmeas, mas a 
maior incidência desse tipo de ação ocorre com os machos. É com essa atitude que eles vão 
mostrar o quanto de testosterona têm para intimidar algum invasor ou mesmo colocar sua 
“marca registrada” no ambiente em que vivem. 
A castração dos cães é um fator que pode amenizar um pouco esse comportamento em 
cerca de 80% dos casos. Não há, pois, garantia de que a micção desordenada cesse e muitos 
cachorros seguem executando as ações características de marcação territorial mesmo depois 
de castrados. O ideal é que a castração seja realizada antes que o animal atinja sua 
maturidade sexual, já que assim as chances de que ele se torne um marcador de território 
frenético diminuem consideravelmente. No entanto, como dissemos, a castração não é uma 
garantia e, portanto, ensinar regras e impor limites para o seu animal continua sendo a 
melhor saída. 
Temos que nos atentar para as mudanças que ocorrem no ambiente, pois isso aguça o 
instinto canino e torna-se quase obrigatória uma nova demarcação com urina. Tudo o que 
for novo para o cão líder, como objetos ou até mesmo pessoas novas na casa, fará com que 
ele mostre que essa área já tem dono. 
Contando com um faro absolutamente aguçado, os cachorros têm, no cheiro de sua 
urina, o ingrediente perfeito para se comunicar com outros animais, mostrando que naquele 
local específico quem manda é ele. Por meio do olfato, outros animais que passarem pelo 
território demarcado poderão notar que não são bem-vindos naquele ambiente. 
No caso das fêmeas, a receptividade sexual é a principal mensagem enviada com esse 
comportamento, já que – assim como a urina dos cães machos – as substâncias e os 
feromônios presentes na urina das fêmeas no cio anunciam, por grandes distâncias, a sua 
Evander Bueno de Lima 
 
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disponibilidade para o acasalamento. Em casos assim, o controle do cão é ainda mais 
importante, já que a cadela pode atrair um grande grupo de machos, que tentarão marcar 
território a todo custo nas redondezas para garantir seu domínio sobre aquela fêmea. 
Cachorros que ficam muito sozinhos em casa e se sentem abandonados também podem 
desenvolver o comportamento de marcação territorial. Nem sempre isso é sinal do 
aparecimento de alguma complicação psicológica já que, ao ficar rodeado por espaços que 
contam com a sua “marca registrada”, os cães se sentem mais seguros, construindo e 
melhorando sua autoconfiança. 
Entre as principais características deste comportamento instintivo dos cães está o fato de 
que, na demarcação de território, a urina é liberada pelo animal em quantidade bem 
pequena – ao contrário de quando o animal precisa, simplesmente, fazer suas necessidades 
fisiológicas. 
Outro fator que pode ajudar a diferenciar uma ação de desobediência ou falta de 
treinamento da marcação territorial é, justamente, o local onde o “recado” é deixado. Móveis, 
outros cães e até mesmo pessoas podem acabar vítimas de uma urinada do cão que quer 
marcar território.

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