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Jean Cloude PSICOLOGIA CANINA Entenda o comportamento dos cães 2 Jean Cloude 3 A ideia deste livro é promover mudanças: mudança de atitude, de rumo, de hábito, de comportamento. Mude a forma de ver a natureza, as pessoas, os animais. Os cães ajudam a mudar. Os cães podem proporcionar a você um modo diferente de perceber o mundo. Mude para melhor! 4 MUDE Mude, mas comece devagar, Porque a direção é mais impor tante que a velocidade Dê os teus sapatos velhos Procure andar descalço alguns dias Veja o mundo de outras perspectivas Não faça do hábito um estilo de vida Ame a novidade Corrija a postura Coma um pouco menos, Escolha comidas diferentes, Escolha um novo lado, um novo método Arrume um outro emprego, Uma nova ocupação, Mais prazeroso, mais digno Se você não encontrar razões para ser livre, invente-as O mais impor tante é a mudança, o movimento, O dinamismo, a energia. Só o que está mor to não muda. (Este texto, ou par te dele, vem sendo largamente divulgado na internet e já teve sua autoria atribuída a alguns autores diferentes, este é apenas um trecho do texto original). 5 AGRADECIMENTOS A Deus, por me dotar com esta aptidão. Por amar todos os animais, especialmente os cães. Por me dar a opor tunidade de aprender a paciência, persistência e autodomínio, qualidades fundamentais para desenvolver o meu trabalho. A meu avô Carlito, que me ensinou a respeitar e amar os animais de uma maneira bastante natural. Por todas as fér ias escolares inesquecíveis que passei a seu lado. Observando-o com grade reverência e amor, aprendi quase tudo o que sei sobre respeito às pessoas, à natureza e aos animais apenas por observá-lo, pela ótica de um garoto muito jovem, mas muito atento às coisas de seu interesse. 6 Aos meus pais. À minha mãe, por me ensinar a pesquisar e aprofundar, pelos e s t u d o s , a s s u n t o s q u e e u j u l g a s s e impor tante, independentemente do tema. E ao meu pai, por me aproximar de uma maneira realmente instintiva dos cães. À minha esposa Kelly, que sempre sorriu e chorou a meu lado, que sofreu e acreditou em mim quando até mesmo eu duvidava. À minha filha, minha linda filha Sophia, que ressaltou a impor tância da paciência, do amor e do aprendizado constante. Ao meu edi tor Alessandro Fa le i ro Marques, pela paciência e sensibilidade em ajudar a transformar minhas idéias em um livro. Aos meus amigos, aos poucos verdadeiros amigos que continuaram a meu lado, todos estes anos, acreditando, respeitando, amando e nutrindo nossa amizade, apesar de mim. 7 AGRADECIMENTO ACADÊMICO Aos amigos e professores que par ticiparam esclarecendo pontos de vista científicos que auxiliaram no entendimento do compor tamento dos cães e aumentaram a compreensão anatômica, fisiológica, patológica e diversos outros assuntos impor tantes para compreensão dos cães: Elaine Baptista Barbosa, médica veterinária; Geraldo Juliani, médico veterinário, mestre em Reprodução Animal, doutor em Ciência Animal e professor de Anatomia; Pillar Gomide do Valle, médica veterinária, mestra em Clínica e Cirurgia Veterinária; Larissa Cescon, médica veterinária; Aldair Junio Woyames Pinto , médico veterinário, pós-doutor em Patologia Investigativa, VP Anclivepa Minas Gerais, VP da Sociedade Mineira de Medicina Veterinária, professor FEAD, Newton e Uni BH de Patologia Veterinária; Luiza Cervenka de Assis, bióloga, mestra em Compor tamento Animal pela UFRN. 8 AGRADECIMENTO Ao amigo Walter Tosta Fundador da UNIPABE por ajudar a transformar essa ideia em um livro digital. 9 OBJETIVO Meu objetivo é compar tilhar as técnicas sobre Psicologia Canina em todo Brasil, para ajudar cães e humanos a terem uma relação mais natural e completa, para que, nessa relação, ambos sejam cada vez mais felizes e equilibrados. 10 JEAN CLOUDE Nasci em Salvador, Bahia, Brasil, no fim da década de 1970. Ainda garoto, concebi a ideia do que seria quando adulto, embora, aos 8 anos de idade, já nutria o desejo de ser médico veterinário. Foi por influência do meu pai que fiquei ainda mais apaixonado por cães. Quando garoto, minhas melhores companhias eram Babam, um fila brasileiro; Quila, uma dobermann; Rulf, um pastor-alemão; Brutos, outro fila; Átila, uma pastora-alemã-capa- preta, e vários outros cães com os quais aprendi muito com o s imples ato da observação. Naturalmente, naquela época, eu me diver tia mais do que aprendia. Eram tantos cachorros que meu pai era conhecido como Félix dos Cães. 11 Com meu avô materno, Carlito Silva, aprendi a apreciar a natureza e a lidar com os animais da forma mais respeitosa possível. Todas as minhas férias escolares eram ansiosamente aguardadas para viajar para o interior da Bahia, onde moravam meus avós, um distrito de Entre-Rios. Lá eu montava os cava los da fazenda , ordenhava vacas, lidava com cães de caça e pastoreio que rondavam a roça, subia em árvores, tomava banho de rio e aprendia, da forma mais instintiva, a lidar com toda a vida n a t u r a l à m i n h a v o l t a ; u m m u n d o completamente novo e, ao mesmo tempo, tão familiar. Em Salvador, em casa, meu pai sempre lidou com cães de guarda, e eu comecei a formular a ideia de que ter cães apenas para companhia seria algo realmente agradável. Eu poderia ir para uma praça com meu cachorro e fazer novas amizades, poderia parar em uma roda de amigos com meu cachorro e todos poderiam acariciá-lo. Jean Cloude http://www.caoequilibrado.com 12 Mas, ao mesmo tempo, ter um cão assim tão brando era quase inaceitável para aquela época, porque os cães basicamente só tinham uma função: a guarda. Em 1994, iniciei uma jornada em busca de uma melhor compreensão a respeito dos cães e comecei a estudar s o b r e P s i c o l o g i a Canina, a fim de a l c a n ç a r m e u objetivo. Então comecei a me interessar por todos o s a s s un to s que p o d e r i a m supostamente me levar a um caminho em que poderia transformar um cão instável em equilibrado. Na época, sem internet e com recursos limitados, fiz proveito de tudo a meu alcance. Jean Cloude http://www.caoequilibrado.com 13 Devorei tudo sobre vida selvagem de canídeos que poderiam ser aplicados a cães domésticos, fiz cursos, li livros, observei os cães sobre um novo prisma e tentei usar todos os instintos que havia aprendido até ali, com meu pai, com meu avô e com os próprios cães. Então, um dia, surgiu uma chance de pôr em prática tudo o que havia treinado até al i . Uma vizinha nossa tinha necessidade de ajuda. Ela tinha um pastor- alemão chamado Cadilo, que precisava caminhar, mas ninguém conseguia, uma vez que a maior par te dos moradores daquela casa eram simpáticas senhoras muito frágeis para aguentar o tranco de um robusto pastor-alemão. Eu me ofereci para reabilitá-lo e, como o homem que pisava na Lua, eu não sabia exatamente se o que eu faria ali daria cer to. Na primeira vez que abordei Cadilo, ele murchou as orelhas e as dobrou para trás da cabeça, salivou e tremeu de tanta raiva e frustração, por causa da quantidade de energia acumulada por falta de exercício. Jean Cloude http://www.caoequilibrado.com 14 Havia muita agressividade em seu olhar. Fitou- me nos olhos como um predador que deseja uma presa. Quando ele começou a rosnar, parecia-me o maior pastor-alemão que eu já tinha visto na vida. Nós dois tremíamos: ele de raiva, e eu de medo, ansiedade e vontade de que a reabilitação desse cer to. Arrependi-me na hora em que o vi, mas eu não poderia desistir àquela altura. Meu desejo de ajudar e pôr em prática tudo o que havia acumulado até aquele momento era maior do que qualquer medo. Além disso, havia aquelas senhoras que me encaravam com um ar de esperança. Encarei o desafio e, como numa dança, tomei muitos pisões nos pés nos primeiros passos da caminhada, mas depois nos ajeitamos. Deixei bem definido quem conduzia quem naquele passeio e conseguiouvir o som do relaxamento, língua para fora, a entrada e saída de ar por sua boca que fazia o típico barulho de um cão cansado, desestressado e feliz. Jean Cloude http://www.caoequilibrado.com 15 A reabilitação estava dando cer to. Foi aí que logo aprendi que cão cansado é cão feliz. Depois de vários dias de caminhada e alguns banhos (Salvador é muito quente, é quase verão o ano todo, e os banhos eram uma atividade positiva para ele me associar a coisas boas), C a d i l o s e t o r n o u u m b o m a m i g o e , tecnicamente, o meu primeiro cliente. Eu me senti poderoso. As técnicas funcionaram tão bem e tudo fazia tanto sentido que comecei a fa lar daque las ide ias que soavam tão incompreensivelmente loucas para a maioria dos meus ouvintes. Naquele ano, além de uma revista de cães (Cães & Cia. da qual, mais tarde, vários anos depois, eu iria me tornar colunista) que já falava de técnicas bastante naturais, que já se referia ao dominante como cão alfa e coisas assim, tive a sor te de encontrar no Dr. Bruce Fogle um verdadeiro nor te para minha busca. Anos mais tarde, aquela busca se tornou o cerne da minha carreira e da minha prática com os cães. Jean Cloude http://www.caoequilibrado.com 16 E todo aquele turbulento início hoje faz muito sentido. Sou fundador do Centro de Psicologia Canina em Minas Gerais, com uma matilha de cerca de 14 cães para ajudar a reabilitar outros cães. Em 2012, ingressei num grande sonho. A fim de ter um abalizamento científico sobre o que sempre fiz, iniciei o curso de Medicina Veterinária na faculdade. No mesmo ano, estreei na televisão, no SBT MG, o P r o g r a m a Reabilitador de Cães, com a finalidade de a j u d a r humanos e seus cães a te rem uma relação mais equilibrada e feliz. Trabalho com Psicologia Canina desde 1994, mas somente depois de dez anos, eu me aprimorei, aprofundei, profissionalizei-me e construí minha carreira. Jean Cloude http://www.caoequilibrado.com 17 Embora meu trabalho envolva a saúde mental dos cães, e eu possa afirmar que trabalho com Psicologia Canina, não uso a termologia “psicólogo de cães”, sou intitulado terapeuta canino, uma vez que realizo estratégias terapêuticas para melhorar a vida dos cães e seus humanos. Tenho várias matérias publicadas nos jornais Hoje em Dia, Estado de Minas e Jornal da Pampulha, nas revistas Veja e Encontro, e tenho a honra de ser colunista da revista Cães & Cia., periódico que tanto li quando eu era garoto. Sou colunista da revista Bicho Meu, que ajudou a divulgar ainda mais as técnicas de reabilitação canina em Minas Gerais. Sou também colunista da revista Aqui, do jornal Estado de Minas, palestrante, seminarista e ministro cursos sobre Psicologia Canina. Realizo programa de rádio como o Quadro Animal, na Rádio Globo de Minas Gerais. Tenho algumas par ticipações no programa Graffite (98 FM), do meu amigo Dudu, Rodrigo Rodrigues, Rafael Mazzi e Caju, além Jean Cloude http://www.caoequilibrado.com 18 de outros progr amas d a R á d i o 98 FM dos q u a i s par ticipei. E m e orgulho do primeiro programa de televisão aber ta no Brasil a falar sobre Psicologia Canina, o programa Reabilitador de Cães, no SBT MG. Em 2016, a Faculdade Newton Paiva de Belo Horizonte em MG iniciou o primeiro curso de Extensão de Psicologia Canina ministrado por mim e aber to ao público, além dos estudantes de Medicina Veterinária. Fui convidado a ser um dos instrutores da ROCCA, o Canil da Polícia Militar de Minas Gerais, um dos mais respeitados do Brasil. Além de colegas, eles se tornaram minha família. Jean Cloude http://www.caoequilibrado.com 19 Os comandantes, tenente-coronel Cinério, depois, o comandante major Geisel , os tenentes Albuquerque e Jadir, além dos amigos, os sargentos Pires e Charles, e meu am igo , o cabo Wi l l e kem , to r na r am-se parceiros de trabalho. Tenente Jadir e Jean Cloude em homenagem da ROCCA. Jean Cloude http://www.caoequilibrado.com 20 Tenho a honra também de compor o corpo de instrutores do COC, canil do BOPE da PM do Paraná, a convite de meu amigo, o capitão Zancan, que se tonaram igualmente uma família de bons amigos para mim. Em 2017, fui nomeado coordenador de Defesa dos Animas, vinculado à Secretaria de Meio Ambiente da Pre fe i tur a de Be lo Horizonte, o que me aproximou ainda mais da causa ambiental e sobretudo da causa animal. Capitão Zancan e amigos do Canil do BOPE do Paraná Jean Cloude http://www.caoequilibrado.com 21 SUMÁRIO Capítulo 1 - Impor tante para você e para seus cães Capítulo 2 - Psicologia canina Capítulo 3 - Você feliz com seu cão, seu cão feliz com você Capítulo 4 - Líderes amorosos Capítulo 5 - Estado mental dos humanos versus energia dos cães Capítulo 6 – O idioma dos cães Capítulo 7 - O grande erro Capítulo 8 - Fórmula para entender os cães Capítulo 9 - Como as pessoas percebem os cães Capítulo 10 - Como devemos perceber os cães Capítulo 11 - Equilíbrio para você e para os cães Capítulo 12 - Como “funcionam” os cães Capítulo 13 - Como abordar os cães Capítulo 14 - Agressividade Capítulo 15 - Como lidar com as fobias Capítulo 16 - Energia em equilíbrio 22 Capítulo 17 - Fórmula para o equilíbrio Capítulo 18 - A impor tância das caminhadas Capítulo 19 - Hora de passear Capítulo 20 - Como colocar a guia ou coleira Capítulo 21 - Sua atitude durante o passeio Capítulo 22 - Disciplina Capítulo 23 - Quando fazer carinho Capítulo 24 - A hora de comer Capítulo 25 - O que pode e o que não pode Capítulo 26 - O canil Capítulo 27 - Despedidas e chegadas Capítulo 28 - Liderança amorosa e adequada Capítulo 29 - Saiba escolher seu cão pelo nível de energia Capítulo 30 - Castração, o tabu Capítulo 31 - Cocô e xixi no lugar cer to Sumário 23 Capítulo 1 Impor tante para você e para seus cães As sugestões e instruções a seguir servirão para posicionar hierarquicamente o humano como um tutor mais responsável, um treinador mais compreensível e um líder mais amável em relação aos cães. Não me refiro ao pensamento especialista, no qual alguns humanos têm a crença absoluta de superioridade da espécie humana diante das demais. Refiro-me à ideia hierárquica, entre humanos e cães, haja vista que a posição dentro de uma matilha ou alcateia é algo muito impor tante para os canídeos, semelhante às posições hierárquicas familiares. As or ientações a seguir têm por intuito posicionar o humano como líder em relação a seu cão, que, dentro da estrutura e conceito de vida satisfatória para o próprio cão, ele deverá se encaixar como par te da matilha e não como chefe dela. 24 Se quiser permitir, no entanto, que seu cão g e r e n c i e a r e l a ç ã o e n t r e v o c ê s , manifestando latidos, rosnados e até mesmo mordendo você e membros da sua família, basta continuar a acreditar que o amar do ponto de vista humano e tratá-lo como uma pessoa ou como um bebê humano trará equilíbrio e uma melhor qualidade de vida para ele, sem acrescentar nenhum tempero a essa receita. Mas caso decida orientar seu cão, conduzi-lo a uma melhor qualidade de vida, se estiver realmente preocupado com o bem-estar dele e se deseja de fato tratá- lo com dignidade e respeito, fique atento ao q u e o t r e i n a m e n t o b a s e a d o e m compor tamento canino sugere e esteja disposto a atender às necessidades mais básicas dos seus cães do ponto de vista correto, ou seja, dos canídeos, como: Capítulo 1 - Importante para você e para seus cães 25 a) atividades físicas diárias, de a c o r d o c o m c a d a r a ç a e respeitando a capacidade física de cada indivíduo; b) d isc ip l ina , estabelecendo, assim, pequenas regras entre vocês; c) carinho, que vem das formas mais var iadas, como comida, água, abrigo, afeto e caminhadas constantes. Capítulo 1 - Importante para você e para seus cães 26 As instruções a seguir servirão para tornar você o líder ideal de seu cão ou de quaisquer cães com os quaisvenha a ter contato, por seu trabalho ou em quaisquer momentos de lazer, mesmo com cães que vo cê nun c a t e ve qu a l q ue r t i po de proximidade. Se está tendo acesso a este material é porque você está em apuros com seu cachorro ou é apaixonado por esse universo canino. Em ambas as situações, seja bem-vindo a um conhecimento intuitivo e científico que facilitará sua comunicação com os cães. Mas , sobretudo, se está lendo estas informações por causa dos pequenos e grandes problemas que tem com seus cães, ou com cachorros em geral, o primeiro passo é seguir uma ordem universal para o equi l íbr io e bem-estar dos cães, que englobam três atitudes irrefutáveis para um bom treinamento e equilíbrio mental dos seus cães. Capítulo 1 - Importante para você e para seus cães 27 Pratique: 1º) atividades físicas regulares com seus cães; 2º) estabeleça algumas regras entre vocês; 3º) faça carinho apenas quando realmente merecerem (merecer aqui quer dizer quando os cães estiverem em um d e t e r m i n a d o e s t a d o m e n t a l b r a n d o e respeitoso). S e m p r e n e s s a ordem e compondo todos os elementos. Deve-se lembrar também de que, a par tir do início do treinamento, seu cão entra em um estágio de reabilitação, o que quer dizer que você e ele cumprirão o passo a passo suger ido, para vocês gozarem de uma relação de confiança e respeito mútuo. Capítulo 1 - Importante para você e para seus cães 28 De forma geral, os cachorros e seus humanos levam tempo para se adaptarem à nova forma natural de se relacionarem seguindo as instruções do pr isma da P s i c o l o g i a Canina. V a m o s imaginar um prazo vir tual d e s e i s semanas de reab i l i t a ç ão o u d e treinamento. E m a l g u n s casos, será menos tempo e, em outros, será bem mais. O impor tante é não desistir do seu cachorro. Afinal, temos os cães que precisamos ter em nossas vidas. Capítulo 1 - Importante para você e para seus cães 29 Capítulo 2 Psicologia Canina Não estamos sugerindo que hoje, no Brasil, no iníc io deste século XXI, haja um psicólogo canino. Embora trabalhemos com Psicologia Canina, não nos autointitulamos com e s s e t e r m o . A n t e s , podemos entender que q u e m t r a b a l h a c o m compor tamento canino pode ser visto como adestrador, treinador ou terapeuta canino, que irá, mediante sessões terapêuticas de t re inamento, cr iar est r atég ias par a a reabilitação de um ou mais compor tamento indesejado e, ou, nocivo de um cachorro. A própria definição de Psicologia, a ciência que trata dos estados e processos mentais, 30 do compor tamento do indivíduo e de suas interações com um ambiente físico e social. É o conjunto dos caracteres psicológicos marcantes de um indivíduo ou de um grupo. Logo, quando nos referimos à Psicologia Canina (embora não seja reconhecida academicamente “ainda” no Brasil, mas em várias par tes do mundo esse termo não apenas é aplicado como bastante estudado), e s t a m o s t r a t a n d o d o c o n j u n t o d e obser vações dos estados e processos mentais dos cães, do compor tamento do indivíduo e de suas interações com um ambiente físico e social, e o que podemos fazer durante o treinamento para tornar nossa comunicação mais clara na relação entre humanos e cães. Acredito que, em pouco tempo, teremos disciplinas específicas dentro dos cursos de Medicina Veterinária, para avaliarem-se os compor tamentos e processos mentais dos cães, a fim de analisar seu bem-estar e Capítulo 2 - Psicologia Canina 31 melhor a r o seu mane jo dur an te os treinamentos e aplicações. A c r e d i t o t a m b é m q u e , l o g o , s e r ã o necessários cursos de nível superior e especialização no Brasil sobre Psicologia Canina, afinal somos a segunda maior população de cães do mundo, atrás apenas dos EUA. Assim, precisamos entendê-los técnica e cientificamente melhor. Estamos trabalhando para que isso aconteça o quanto antes. Para tranquilizá-lo em relação ao que está lendo e para saber se a aplicação dessas técnicas funcionará com seus cachorros ou com cães com que terá contato durante sua vida ou seu trabalho, é impor tante saber e entender por que a Psicologia Canina funciona muito bem com os canídeos domésticos, com os cães de forma geral, e os motivos pelos quais podemos ter cer teza de que funcionará com seus cachorros e com você. Capítulo 2 - Psicologia Canina 32 As técnicas sugeridas aqui são apenas observações de como canídeos selvagens se compor tam em suas alcateias e matilhas e, a par tir daí, aplicá-las em nosso convívio, com nossos cães, em nossos lares, com a mesma psicologia que eles utilizariam se estivessem em seu habitat, sem qualquer interferência humana. A Psicologia Canina funciona naturalmente porque todos os cães, de todas as raças que c o n h e c e m o s n o m u n d o m o d e r n o , originaram-se do mesmo lugar : o canídeo selvagem, o lobo-cinzento que deu origem a outros canídeos e a todos os cães que conhecemos. Toda l inhagem genét ica dos canídeos apontam para a mesma direção, os cães domésticos (Canis lupus familiaris) são uma s ube spéc i e de s cenden t e do s l obo s - cinzentos (Canis lupus) que deu origem aos siberianos (Canis lupus arctos) e australianos (Canis lupus dingo), que foram os primeiros Capítulo 2 - Psicologia Canina 33 animais a serem domesticados pelo homem, selecionados de acordo com as diversas finalidades esperadas por seus criadores, como proteção, caça, pastoreio e faro. Os cães domésticos, os Canis lupus familiaris, são da mesma espécie ou subespécie canina que os deixam mais próximo da vida selvagem do que supomos, são seres instintivos. E a maior prova de que são da mesma espécie ou subespécie é que, se a anatomia permitir, lobos e cães podem c o p u l a r e g e r a r f i l h o s f é r t e i s q u e continuarão a procriar, isto é, biológica e tecnicamente, o que faz caracterizar animais da mesma espécie é o fato de conseguirem gerar filhos fér teis. No mundo todo, há diversas raças de cachorros. Uma das organizações mundiais dedicadas ao estudo científico dos cães é a Federação Cinológica Internacional (FCI), que catalogou cerca de 350 raças, sendo Capítulo 2 - Psicologia Canina 34 que há diversas outras no mundo afora que não são (ainda) aceitas mundialmente, mas têm o seu reconhecimento pelas mais de 80 associações nacionais, como é o caso das raças brasileiras, que são atestadas pela Con feder ação Br a s i l e i r a de C ino f i l i a (CBKC). Essas entidades são as responsáveis por definir regras para a criação, registro e e m i s s ã o d e p e d i g r e e s , q u e s ã o o s cer tificados da linhagem genética e atestado de enquadramento nos padrões definidos p a r a a r a ç a e e x i b i ç ã o d a s r a ç a s reconhecidas. Além dos SRD (sem raça definida), que são os nossos amados vira- latas. Os de raça definidas são agrupadas em dez g r u p o s o f i c i a i s , c o m c a r a c t e r í s t i c a s semelhantes de acordo com a função, tipo físico ou história: grupo 1: cães pastores e boiadeiros: pastor- Capítulo 2 - Psicologia Canina 35 alemão, o border collie, o bouvier-de-flandres, entre outras; grupo 2: cães de guarda, trabalho e utilidade: cães do tipo pinscher, molossos e cães de montanha (cães de guarda e defesa, trabalho e utilidade como rottweiler e são- bernardo, respectivamente); grupo 3: cães terriers (do latim “terra”): cães que caçam na “terra”, em tocas, os fox terrier e yorkshire terrier são bons exemplos; grupo 4 : dachshunds ( t e cke l s ) : c ães desproporcionalmente alongados, bassês e de p a t a s c u r t a s , como o s f amoso s “salsichinhas” ou “cofap”; grupo 5: spitz e cães do tipo primitivo: os notórios cães nórdicos, com força para trenó, ou os de caça e pastoreio, como o akita, husky siberiano, samoieda, malamute do Alasca e chow-chow; Capítulo 2 - Psicologia Canina 36 grupo 6: cães sabujos efarejadores além de raças semelhantes: cães com excepcional resistência física e inigualável olfato e capacidade de perseguição: beagle, bassê hound e dálmata são excelentes exemplos; grupo 7: cães apontadores: cães de caça moderna com armas de fogo, os quais apontam a caça, a exemplo do pointer inglês, braço-alemão e weimaraner; grupo 8: retrievers, os recuperadores de caça, levantadores e cães-d’água: cães que buscam a caça, a fazem voar (daí os levantadores) e que não se intimidam e até gostam muito de entrar na água para buscar a presa abatida. Os golden retriever, labrador, cocker spaniel são bons exemplos; grupo 9: cães de companhia: cães pequenos para facilmente acompanhar seus tutores, como as raças chihuahua, shih-tzu, buldogue francês, lhasa apso, maltês, pug, poodle, pequinês, entre outros; Capítulo 2 - Psicologia Canina 37 grupo 10: galgos (lébreis): cães ágeis como lebres, mas também elegantes, com seu representante mais famoso sendo o afghan hound (galgo afegão). Todos os acima citados, e mais um décimo primeiro grupo ainda não definido e não mencionado com raça definida, ou SRD (sem raça definida), advêm do mesmo ancestral. E m b o r a o s c ã e s n ã o s e j a m l o b o s domesticados, o hábito alimentar, a gestação e o compor tamento geral para brincadeiras, dominação, submissão e comunicação são os mesmos de seus parentes distantes: os lobos. Eis os motivos pelos quais tudo o que será feito durante a reabil itação funcionará naturalmente para seus cães e para você são as mesmas razões que fazem da reabilitação um processo compreensivo e duradouro para os cachorros, pois, para Capítulo 2 - Psicologia Canina 38 eles, essas técnicas soam de forma natural. Para eles, tais informações são velhas conhecidas de um parente não muito distante, uma vez que estão inscritas em seu DNA, e nós apenas estamos recordando-os de como eles devem se compor tar e, obviamente, esses lembretes valem mais para nós do que para eles. Estou aqui para compar tilhar conhecimento, para tratar de compor tamento canino e, sobretudo, para provocar sua compreensão e relação com nossos “melhores amigos”. Até cer to ponto, par te do que apresentarei você já ouviu em algum lugar e, com cer teza, sabe conceitualmente o que deve fazer. A questão agora é pôr em prática. Então o que você está fazendo com essas informações nas mãos? Apenas se reorganizando e cr iando a consciência de que você não pode e não deve ter o conhecimento apenas conceitual, ou seja, não deve apenas saber o que deve Capítulo 2 - Psicologia Canina 39 fazer, você terá de se ajudar e ajudar seu cachorro a saber como se compor tar, pois de nada adiantará saber como fazer se não o realizar. A par tir de agora, com as informações organizadas, você tomará ação, passo a passo, para ter um cão equilibrado e construir uma relação de confiança e respeito com seu melhor amigo. E par te desse equilíbrio depende mais de você do que do seu cachorro. A primeira observação a respeito do reino animal é que todo animal tem sua própria psicologia, seu próprio conjunto de atos compor tamentais , ut i l izando-se de um coerente “vocabulário” para se comunicar de maneira instintiva e racional, dentro de um grau diferente de complexidade dos humanos. Cavalos, aves, crocodilos, gorilas, seres humanos e cães têm sua própria psicologia, que é justo sua forma natural de Capítulo 2 - Psicologia Canina 40 se compor tar e comunicar. E seguir a forma natural é como nadar a favor da correnteza. Muitas vezes, cremos que nossos cães são p e q u e n o s s e r e s h u m a n o s , o u “ s e r humaninhos”, que serão mais bem tratados se os considerarmos como humanos, e é aqui nesse ponto que cometemos o p r i m e i r o e r r o , p o i s , a s s i m , n ó s o s h u m a n i z a m o s o u t e c n i c a m e n t e o s antropomorfizamos. De forma geral, somos levados a crer que tratar outros animais não humanos como humanos é respeitoso e adequado. Mas quem nos disse isso? Quem informou que tratar um golfinho como humano é tratá-lo bem? Se entendermos a psicologia animal de cada espécie e respeitá-los pelo que são, o s an ima i s n ão humanos i r i am nos agradecer. No caso dos cães, se os tratarmos apenas como cachorros, respeitaremos seu estado natural e, por esse comportamento, mostrar o Capítulo 2 - Psicologia Canina 41 q u ã o g o s t a m o s d e l e s , q u a n t o o s compreendemos, e assim conseguiremos conviver melhor com eles, justamente por entender como percebem o mundo. Compreenderemos seu compor tamento, suas atitudes e aprenderemos que eles não são imprevisíveis como pensa a maioria das pessoas. Eles são surpreendentes com a velocidade com que ap rendem . Ba s t a que nós promovamos tais mudanças para esse aprendizado. E, juntos, aprenderemos muito. Capítulo 2 - Psicologia Canina 42 Capítulo 3 Você feliz com seu cão, seu cão feliz com você. A aplicação da Psicologia Canina será por estratégias terapêuticas de reabilitação e, e m b o r a q u a s e s e m p r e o t e r m o “reabilitação” está ligado a restauração física do corpo, neste ar tigo, no entanto, faremos uso dessa expressão direcionada para saúde mental, afinal mente saudável é corpo saudável. Antes de dizer escancaradamente o que é e como podemos reabilitar um cão, temos de en t ende r qua i s s ão o s r e f l e xo s de compor tamento de um cachorro que é psicologicamente instável, que precisa de ajuda e deve ser direcionado por meio de um treinamento e de uma reabilitação. Já viu um cão correr em círculo atrás da própria cauda? Quando não é um problema 43 neurológico, pode até parecer “engraçado e bonitinho”, mas, quando ele faz isso sem p a r a r e p o r muito tempo, é incômodo para ele e para quem o observa. Ou e n t ã o , j á o b s e r v o u u m c ã o c a v a r , mesmo que seja o tapete da sala? Roer sapatos, sofá e quase tudo o que encontra? Ou já viu um cão sem motivo aparente rosnar por causa de um osso velho, latir ininterruptamente ou ficar ansioso, medroso, repentinamente agressivo com outros cães e até com você? Será que algum desses aspectos descreve os seus cães? Pois bem, todos esses traços de “mau” compor tamento é instabilidade mental, e Capítulo 3 - Você feliz com seu cão, seu cão feliz com você. Imagem da Internet 44 todos esses casos terão de ser tratados. N o t e m q u e c ã e s c o m p r o b l e m a s compor t amen t a i s t i ve r am seu s a to s a l i m e n t a d o s p o r s e u s t u t o r e s q u e normalmente ignoraram ou estimularam o compor tamento de seus cachorros. Todos os cães com esses problemas ou casos semelhantes têm de ser direcionados para reabilitação. Essa reabilitação é feita com base na Psicologia Canina, que é a observação de como canídeos selvagens ou domésticos se compor tam em suas matilhas/alcateias e, a par tir daí, aplicar em nosso convívio, com nossos cães, em nossos lares, a mesma psicologia que eles utilizariam se estivessem em seu habitat. O dócil cãozinho que dorme no sofá da sala tem a mesma forma de pensar dos canídeos selvagens, a mesma duração de gestação, o mesmo hábito alimentar (são carnívoros; do ponto de vista Capítulo 3 - Você feliz com seu cão, seu cão feliz com você. 45 c ien t í f i co , os cães não prec i s am de carboidratos na sua dieta regular, pois a quantidade necessária de glicose é suprida via glicogênese, que se dá satisfatoriamente em uma dieta rica em lipídeos e proteínas.), a mesma genética e o mesmo conjunto de compor tamento corporal e mental. O trabalho de reabilitação é diferente do adestramento, pois o adestramento resolve o problema do ponto de vista dos humanos; a reabilitação com base na Psicologia Canina resolve o problema do ponto de vista dos cães. Concorda que os cães latem da mesma forma no mundo inteiro? Apenas nós humanos temos idiomas diferentes, os animais não. De forma geral, os leões rugem da mesma formaem qualquer lugar do planeta, os cavalos relincham da mesma forma em qualquer fazenda do mundo. Capítulo 3 - Você feliz com seu cão, seu cão feliz com você. 46 Nós tratamos leões e cavalos como leões e c a v a l o s . A p e n a s o s c ã e s r e c e b e m tratamento diferenciado de outros animais, d o p o n t o d e v i s t a h u m a n o . S ã o humanizados por seus tutores, e por isso a maior ia dos cães que vivem com os humanos tendem a serem psicologicamente instáveis, pois usamos a psicologia humana com eles, quando deveríamos tratá-los com respeito e dignidade, tratá-los tão pura e simplesmente como devem ser tratados: como cães. Tê-los com respeito e dignidade não significa cobri-los de amor e afagos sem limites, a todo o tempo. Devemos amá-los, p r e c i s amos amá - l o s , ma s um pon to impor tantíssimo é ter muito cuidado com a quantidade de vezes que acaricia seu cão nesse processo de reabilitação. Afagar uma mente estável é perfeito, mas alimentar uma mente instável é desastroso. Capítulo 3 - Você feliz com seu cão, seu cão feliz com você. 47 Talvez esteja ajudando ou trabalhando com um c ão a g r e s s i vo , e s e , du r an t e a reabilitação desse indivíduo, ele receber a f a go s n a ho r a e r r ad a , e l e pode r á compreender o carinho equivocadamente e voltar a morder ou regredir ainda mais por entender que está recebendo recompensa por seu estado mental agressivo. Há alguns anos, ajudei uma senhora muito simpática que tinha um poodle que mordia suas visitas quando entravam em casa. Passaram-se duas semanas da minha vis ita , e ele t inha progredido muito pouco. Quando combinei de voltar para observá-la como ela e seu poodle estavam recebendo as pessoas em sua residência, vi a seguinte cena: quando seus familiares entravam em casa, seu cãozinho latia e rosnava a esmo. A simpática senhora, para acalmá-lo, em vez de deixá-lo no chão, segurando-o em uma guia, de forma branda e firme, corrigindo Capítulo 3 - Você feliz com seu cão, seu cão feliz com você. 48 quando fosse necessário, conforme eu havia demonstrado na primeira visita, ela o punha no colo e o acariciava enquanto ele tentava afugentar suas visitas. Os afagos tinham um efeito reverso ao consolo. Ele latia, rosnava e tentava morder ainda mais, porque, na cabeça dele, do ponto de vista dele, bastava compor tar-se assim que recebia recompensas afetuosas de sua amável humana. Então combinei com ela e com todos os outros prospectivos clientes que viessem a consultar, que cor tassem e, ou, reduzissem durante a reabilitação qualquer tipo de afago exagerado ou excitado (essa é a par te difícil do treinamento) que pudessem confundir o cão ou tirá-lo do caminho que os levaria ao equilíbrio e à calma. O afeto no universo canino, como nós o fazemos e encaramos, não os leva ao equilíbrio natural. Nós nos compor tamos Capítulo 3 - Você feliz com seu cão, seu cão feliz com você. 49 assim com base na nossa experiência, com a experiências de primatas que somos, que afagam e acariciam, e gritam e dá palmadas para consolar e disciplinar, respectivamente. Mas a perspectiva canina é outra. Para entender a Psicologia Canina, terá de aceitar e entender que há vários tipos de psicologia, de diferentes animais, e terá de passar a respeitar as diversas formas de compor tamento de cada espécie. Capítulo 3 - Você feliz com seu cão, seu cão feliz com você. 50 Capítulo 4 Líderes Amorosos Amo cães, sempre amei , neste exato momento , enquan to e sc revo, a uma temperatura agradável de 17 graus e uma chuva fina que consigo ver através das por tas de vidro de minha sala, caindo na grama do nosso jardim, tenho sob minha blusa de frio uma chihuahua de 4 anos que se chama Lupita Ramos, em homenagem a Dakota Fanning, no fi lme “Chamas da Vingança”, a quem o personagem de Denzel Washington chamava carinhosamente de Pita. Imagem da Internet 51 Nós também chamamos nossa chihuahua c a r i n ho s amen t e de P i t a e s omen t e decidimos ter um cão de por te tão pequeno assim para mostrar que, apesar de ser muito mimada por todos da minha família, se aplicássemos bem as regras ditadas pela Psicologia Canina, poderíamos ter um cão de “colo” equi l ibr ado e submisso. Uma cadela que nunca foi reabilitada porque nunca precisou, mas sempre foi adver tida e orientada para que fosse apenas uma cadela, um cão, um cãozinho de colo, não um monstro que dita as próprias regras, que late e morde a esmo, sem ouvir ninguém e impossível de se controlar. Para os outros cães, de colo ou não, que não ouvem seus humanos (seus tutores), para os que latem, choramingam, rosnam e mordem, existe a “reabilitação”, que se serve das regras básicas do universo canino Capítulo 4 - Líderes Amorosos 52 e do universo do reino animal. Entendemos que quase sempre o termo “reabilitação” está ligado à restauração corporal, no e n t a n t o f a r e m o s u s o d e s s e t e r m o direcionado para a saúde mental, assim teremos mente e corpo saudáveis. Atualmente foi retirado dos cães suas funções, seu trabalho e seus objetivos, e isso os deixam entediados, junto com o tédio, vêm ideias mirabolantes para quebrar a monotonia. Alguns cães descobrem que podem latir até se cansar, outros rodopiam o u f i c a m o b c e c a d o s p o r b o l i n h a s , brinquedos e até feixes de luz. E esses compor tamentos não são típicos apenas no universo dos cães, nós, humanos, também ficamos entediados e procuramos formas de distrações ao tédio, em escalas diferentes. Em uma fila, enquanto esperam, algumas pessoas roem as unhas; em casa, alguns, quando estão entediados, ingerem bebidas Capítulo 4 - Líderes Amorosos 53 alcoólicas, usam WhatsApp sem nenhum controle, outros fumam e ainda outros usam drogas. O círculo vicioso se instaura de acordo com a gravidade da falta do que fazer e de acordo com seu desequilíbrio psicológico, mas quase todas as pessoas citadas aqui precisam de algum tipo de ajuda ou reabilitação. A maioria dos traços citados acima de compor tamento humano é instabilidade psicológica, problemas à saúde mental, que quase sempre está l igado à fa l ta de atividades saudáveis, e quase todos esses casos terão de ser tratados, acompanhados por profissionais que desejam ajudar. No caso dos cães com problemas e casos semelhantes, análogos aos dos humanos, também haverá necessidade de ajuda para redirecionamento compor tamental. O dócil cãozinho que dorme em sua cama com você, mesmo a Pita que se abriga e se Capítulo 4 - Líderes Amorosos 54 aquece na minha região abdominal, debaixo da minha blusa de frio, tem a mesma forma de pensar dos lobos, o mesmo período de gestação (cerca de 62 dias), o mesmo hábito alimentar (são carnívoros), a mesma g e n é t i c a , o s m e s m o s t r a ç o s d e compor tamento e a mesma psicologia. Reabilitação não é adestramento. Embora o adestramento seja proveitoso e diver tido para cães e seus humanos, a finalidade é outra, é condicionamento e reforço da memória motora. A reabilitação com base na Psicologia Canina resolve o problema do ponto de vista dos cães. Tenta entender a falta que o cachorro apresenta e preencher com algo completamente natural. No adestramento, utilizam-se de muitas palavras e estímulos empolgantes: “senta”, “fica”, “deita”, “vem”. Na reabilitação, há uma conversa silenciosa e sem palavras com os cães, usando o idioma universal do mundo Capítulo 4 - Líderes Amorosos 55 animal: a sua energia constante. Sentimo-nos mal pessoalmente quando vemos um cão sob estresse ou quando os vemos brigar com outros cães, mas eles não se sentem assim com isso. Para eles, é um rito de dominação e submissão. Eles terminam a luta e definem quem lidera e quem segue. QUANTO MENOS VOCÊ FALAR, MAIS OS CÃES VÃO ENTENDER A energia que envolve os cães e a situação é o que realmente importa para eles. Por isso a energia, a forma de liderar é sempre firme e assertiva.Eles não titubeiam em liderar, em ditar as regras, e isso os deixam unidos como família e matilha. Há regras e disciplina sem ressentimentos, sem mágoas, apenas com redirecionamento pragmático da nova liderança. Energia é a chave para essa comunicação. Capítulo 4 - Líderes Amorosos 56 Havia, por exemplo, um cachorro que se compor tava mal na guia, pois, para ele, o objeto servia apenas para ir ao médico veterinário realizar consultas “tor turantes” do ponto de vista de um cachorro, e, na outra ponta da guia, havia sempre um humano receoso que segurava a guia com uma carga negativa de energia, acreditando que aquela era uma experiência traumática e d o l o r o s a p a r a o c ã o , t r a n s m i t i a exatamente essa ideia e piorando cada vez mais o cenário das consultas médicas. O cachorro não tinha outra opção a não ser se sentir estressado nessas circunstâncias. Embora o cão não soubesse do que se t r a t a v a , a s s i m i l a v a e s s a e n e r g i a negativamente e reagia a ela, e a guia era sempre traumática, porque era um símbolo de agulhadas e injeções. Até eu ser convidado para ajudá-los a mostrar para o cão que a guia era uma Capítulo 4 - Líderes Amorosos 57 experiência agradável: um passeio, sem agulhadas, sem toques indesejados. De maneira que, mais tarde, depois de um longo e desestressante passeio, associei a guia a experiências positivas e sem qualquer dó pelo cão, pelo motivo óbvio: não estávamos infligindo nenhuma tor tura física ou mental, apresentamos a consulta sob um p r i sma comp le t amen te novo , nós o tratamos sem receio ou tensão assim como outros cães fariam. A solução era mais simples do que se imaginava, uma longa caminhada positiva antes de ir para clínica. A ideia era que, se outro cão o levasse ao médico veterinário, diria: “Chegamos”. Ao terminar o exame, lamberia os machucados das injeções e continuaria a ordem natural das coisas, sem pânico, sem carga negativa. M a s o s h u m a n o s m a x i m i z a v a m a s experiências, traumatizavam-no e criavam no seu cachorro um pânico desnecessário. Capítulo 4 - Líderes Amorosos 58 Quando está passeando com seu cão e outra pessoa vem da direção oposta e retira o cão de pequeno por te do chão, criando uma dessocialização, essa pessoa olha para você e diz: “Ele está com medo”. Ela está alimentando um compor tamento negativo que até então o cachorrinho não tinha desenvolvido. Agora o cachorrinho está no colo, latindo de insegurança e medo, e, da próxima vez que ele vir um cão grande, olhará para seu tutor e perguntará: “Não vai me pegar no colo?”. Pois o cachorrinho, nesse momento, está entre ansioso, medroso e dominante. Todas as energias negativas necessárias para t e r u m c ã o desequilibrado. Capítulo 4 - Líderes Amorosos Imagem da Internet 59 Nessa e em outras situações, o amor não se aplica. Antes, você precisa ter uma atitude firme e positiva, como aconteceria no universo canino. O amor demasiado como o conhecemos e que serve naturalmente de consolo no universo humano não se aplica aos cães. É óbvio que afagar e consolar os cães é impor tante, mas a questão é se estamos atentos ao estado metal dos cachorros antes de fazermos isso. Se realmente os amamos, não vamos desistir deles, pois é exatamente isso que fazem algumas pessoas. Seus cães relutam com a guia, e elas, de maneira cômoda, dizem: “Meu cão não gosta de passear, então não preciso sair com ele”, mas isso não é a realidade. Todos os cães adoram caminhar. Migrar faz par te de seu DNA, e isso é comprovado pelo mesmo cão que não gosta de coleira, mas que enlouquece de empolgação pelo simples fato de você abrir Capítulo 4 - Líderes Amorosos 60 o por tão de casa. Nesse exato momento, sua firmeza e paciência em ajudá-lo com a guia ou com qualquer outro objeto que causa medo e problemas tem de ser maior do que seu suposto amor e pena que sente p e l o c a c h o r r o . M e s m o p o r q u e , s e demonstrações de amor e sentimento de dó pelos cães resolvessem todos os problemas de compor tamento, eu não teria clientes nem pacientes. Não confunda, por tanto, afagar seu cão com r e s o l v e r s e u s p r o b l e m a s d e compor tamento. Acredite: ele gosta tanto de uma volta na praça quanto de carinho na barriga, mas, para fins terapêuticos, a volta na praça é bem melhor. É como seu filho de 6 anos que adora um tablet, mas que vai preferir brincar no parquinho com outras crianças. Capítulo 4 - Líderes Amorosos 61 Capítulo 5 Estado Mental dos Humanos versus Energia dos Cães Sugerimos frequentemente que os humanos alimentem e emanem uma energia calma ao lidar com os cães. Essa energia é algo muito mais palpável do que você imagina. No univer so humano, enviamos sinais constantes para outras pessoas que dizem muito a nosso respeito: se somos tímidos ou extrover tidos, se estamos tristes ou a legres . E a lgumas pessoas t re inadas empregam esses sinais que emitimos para usá-los a seu favor, em tentar nos vender algo ou na ar te da conquista, por exemplo. 62 Quando falamos sobre a energia que emanamos para os nossos cães, é algo muito parecido com isso. Com todo respeito ao mundo esotérico, não estamos falando de uma “energia” incompreensível aos olhos dos céticos. Estamos relacionando “ e n e r g i a ” a o c o n j u n t o d e r e a ç õ e s fisiológicas e químicas que ocorrem no seu organismo material, quando você passa por experiências emocionantes, empolgantes, estressantes ou tristes, e que seu corpo r e a ge de fo r ma f í s i c a e f i s i o l ó g i c a , produzindo e exalando uma cadeia de reações químicas e elétricas perceptíveis ao mundo, sobretudo ao mundo e universo animal; neste caso específico, os cães. Nós, animais humanos, também somos dotados dessa percepção instintiva, só que as ignoramos constantemente. Imagine-se por um instante em uma delicada situação: você chega à casa de um amigo, aciona o Capítulo 5 - Estado Mental dos Humanos vs. Energia dos Cães 63 i n t e r r u p t o r d o i n t e r f o n e e e l e , reconhecendo sua voz, diz: “Entre, que já estou terminando de me arrumar”. Quando entra e fecha o por tão atrás de você, subitamente aparece diante de seus olhos um pastor-alemão que seu querido amigo se esqueceu de colocar no canil para que suas visitas entrem em segurança. Uma vez que os pastores-alemães são conhecidos por sua impecável inte l igência e incomparável habilidade de ser um perfeito cão de guarda, é natural que uma nuvem de preocupações se apodere de você. A questão agora é: você não consegue fugir à situação em que se encontra, embora você quisesse sumir desse ambiente . Seu amigo ainda está dentro de casa, terminando de se arrumar e nem imagina o que está acontecendo ou o que vai acontecer. Você também não sabe o que vai ocorrer, mas imagina. Você não pode gritar por ele nem pedir ajuda, você não Capítulo 5 - Estado Mental dos Humanos vs. Energia dos Cães 64 pode fazer nenhum movimento brusco, porque não sabe como aquele cão de guarda reagirá. Embora o pastor-alemão somente o esteja analisando ainda, você pode (ou pensa que pode) prever o desfecho dessa situação. Nesse e x a t o momento, seu corpo reage a uma condição tão estressante, típica de caça e c a ç a d o r , l iberando um neurotransmissor muito especial chamado acetilcolina, conhecido com ACh, utilizado pelos neurônios que inervam os músculos que servem para impulsionar uma SINAPSE, que é o ponto de união entre as células nervosas e as células efetoras (músculos ou glândulas), Capítulo 5 - Estado Mental dos Humanos vs. Energia dos Cães 65 que dará cond ições de ut i l i zar seus músculos caso precise lutar ou fugir. . As sinapses podem ser elétricas, a par tir de um potencial de ação, ou químicas, pela ação de neurotransmissores. Além desse neurotransmissor ACh, há também a adrenalina e noradrenalina, que servem como resposta de luta ou fugaque é acionada e posteriormente liberada a par tir da medula adrenal, que fica localizada acima dos rins (daí o friozinho na barriga quando sentimos uma sensação parecida com medo), que libera 80% de epinefrina e 20% de norep ine f r i na ( ad rena l i na e noradrenalina). Isso ocorre porque seu organismo entende e toma providências para uma provável fuga ou luta que é instintivamente iminente. Toda essa reação química e, ou, elétrica ocorre alterando inevitavelmente sua energia corporal e seu estado mental e físico. O seu cheiro muda. Capítulo 5 - Estado Mental dos Humanos vs. Energia dos Cães 66 Você havia chegado com uma energia na casa de seu amigo, e agora, diante de uma situação de estresse, você apresentou outra. Os an ima i s percebem essa mudança q u í m i c a , p o i s e l e s t ê m u m f a r o superaguçado e notam toda e qualquer mudança que ocorra ao seu redor, o que inclui a transformação em seu corpo. Como sua energia mudou, você “agiu”, e agora resta ao cão “reagir” a você, e à sua energia. Se esse pastor-alemão for um t r e i n a d o c ã o d e g u a r d a , e l e n ã o racionalizará com você ou perguntará por que você está tão nervoso ou nervosa; simplesmente ele vai predá-lo, porque você apresenta uma energia típica encontrada nas presas. Se ele for um cão medroso, embora sua genética o empurre para ser um cão de guarda, talvez ele tenha vivido experiências negativas e traumáticas na presença de Capítulo 5 - Estado Mental dos Humanos vs. Energia dos Cães 67 humanos. Se ele for assim, ele não se sentirá à vontade próximo de uma pessoa estranha com esse t ipo de ener g ia e che i ro estressante, então ele fugirá de você. Mas se ele for um cão socializado com pessoas e esteja acostumado a receber as visitas em sua casa, ele perceberá seu estresse. Talvez venha cheirar os odores que exalam de você nesse momento e que pulam para o nariz dele pelos seus poros e pode ser que ele se sente a seu lado, quem sabe demonstre um pouco de empolgação ou talvez se retire repentinamente como surgiu. Mas o desfecho da história é outro. Seu amigo chega e informa que aquele é Bob, o filhotinho que cresceu muito nas últimas semanas e que você conhece bem, mas que seu medo não deixou você raciocinar ou pensar direito. Então você solta um longo e aliviado suspiro, e sua energia volta ao Capítulo 5 - Estado Mental dos Humanos vs. Energia dos Cães 68 normal. Quando falarmos de energia a par tir daqui, saberá do que estou falando. - MICROFISIOTERAPIA - A técnica da microfisioterapia foi desenvolvida na França por dois fisioterapeutas e osteopatas: Dan i e l G ro s j e a n e Pa t r i c e Ben i n i . A microfisioterapia permite ao terapeuta identificar os rastros deixados por agressões nos diferentes tecidos do organismo, por meio de movimentos palpatórios específicos seguindo mapas corporais. Recentemente essa técnica vem sendo aplicada à Medicina Veterinária. Solicitei que a médica veterinária, Dr.ª Larissa Cescon, da Universidade Estadual do Centro- Oeste do Paraná (Unicentro), falasse-nos cientificamente como tem utilizado a ciência da energia em seu trabalho inovador no Brasil. Capítulo 5 - Estado Mental dos Humanos vs. Energia dos Cães 69 Assim como a sua energia foi sentida pelo cão acima citado, os seres humanos também têm capacidade de sentir a energia de um determinado ambiente, de uma forma muito inferior que os animais. Pense você quando acorda bem-disposto, em um dia alegre que tem tudo para ser um dia feliz, e, por uma infelicidade, você encontra uma pessoa que não está na mesma situação, apresentando-se aparentemente es t ressada e l i be rando hormônios ditos como do estresse, o cortisol. I s s o v a i f a z e r c o m q u e v o c ê , inconscientemente, absor va um pouco dessa energia e transforme seu bom humor, muitas vezes causando um desgaste físico que não se sabe a causa. Agora você já sabe que a troca de energia entre as pessoas pode causar esses tipos de sintomas, como cansaço, desgaste físico e mental, e até mesmo tristeza. O contrário também é verdadeiro. Quando você encontra alguém empolgado, Capítulo 5 - Estado Mental dos Humanos vs. Energia dos Cães 70 alegre, um verdadeiro entusiasta, em muitos casos , você instantaneamente se alegra também. Os grandes nomes das relações humanas afirmam que você é a média das cinco pessoas com quem mais convive. Isso quer dizer que o ambiente em que você vive, ou seja, a energia em que você está inserido tem um enorme impacto em quem você se torna. É importante saber como funciona nos humanos para entender que, nos animais, é exatamente da mesma maneira, porém de uma forma muito mais intensa, porque os animais agem pelo instinto e conseguem sentir essa energia de uma forma muito mais aguçada e eficaz. Portanto, toda vez que chegamos estressados em casa, dividiremos essa energia com nossos companheiros de quatro patas, que absor verão essa informação com bastante eficiência e, por consequência, poderão vir a ficar estressados também e Capítulo 5 - Estado Mental dos Humanos vs. Energia dos Cães 71 mudar o comportamento, ficando quietos no canto, não responsivos a estímulos externos e, muitas vezes, adotarem atitudes que os levarão a patologias, como dermatites por lambedura, entre outras, pois é a forma que o seu melhor amigo tem de responder a isso, liberando a energia que recebeu. Podem surgir outras formas de demonstrações , como agressividade, ansiedade, agitação. É claro que a energia é apenas um dos fatores que podem estressar os animais , por isso a importância deste capítulo. E cada vez que o animal tem essa mudança drástica de energia, o corpo guarda essa informação nas células, a fim de criar uma memória celular para se prevenir caso isso venha a acontece r novamente , o que chamamos de cicatriz patológica. O somatório dessas cicatrizes se desenvolve em patologias diversas, é o que chamamos de somatização, o somatório de emoções vividas ou tentativas Capítulo 5 - Estado Mental dos Humanos vs. Energia dos Cães 72 frustradas de ajudar o seu tutor. Nós, humanos, conseguimos liberar a energia, procurar ajuda, conversar sobre os problemas com alguém, mas o nosso melhor amigo, que faz tudo por nós, não! Ele sofrerá tudo o que você sofre, calado. Com isso, o surgimento de técnicas não invasivas e que olhem para o animal não humano como um todo, não somente para a patologia ou sinais clínicos, é muito bem-visto nos dias atuais, como a microfis ioterapia veter inár ia, que é uma técnica de terapia manual. Há muito mais explicação por trás de uma doença do que apenas seus sinais clínicos. A técnica da microfisioterapia foi desenvolvida na França por dois fisioterapeutas e osteopatas, Daniel Grosjean e Patrice Benini. Osteopatia (do grego osteon, “osso”, e pathos, “doença”) é uma prática de medicina alternativa, que cons i s te na ut i l i zação de técn icas de mobilização e manipulação articular, bem Capítulo 5 - Estado Mental dos Humanos vs. Energia dos Cães 73 como de tecidos moles. Osteopatia é um sistema autônomo de cuidados de saúde pr imár io, que se baseia no diagnóstico diferencial bem como no tratamento de várias disfunções e prevenção da saúde, sem o a u x í l i o d e f á r m a c o s o u c i r u r g i a . O embasamento teór ico e científ ico dessa técnica iniciou-se pelo estudo da embriologia, ontogenia, filogenia e anatomia, com objetivo de tratar a causa das doenças e patologias, não apenas seus sintomas. Sua aplicabilidade à Medicina Veterinária veio por meio da adaptação da técnica pelos mapas criados por Michel Zaluski, que desenvolveu mapas corporais específicos, que refletem os traços de uma disfunção causada por um agente agressor, que o organismo não conseguiu se recuperar por conta própria, uma vez que o corpo tem condições de promover a autocura. Essa d i s função se rá armazenada pe lo organismo como informação da memóriaCapítulo 5 - Estado Mental dos Humanos vs. Energia dos Cães 74 celular, como já foi falado, atrapalhando o bom funcionamento das células. Agora pense em várias células com disfunção dentro do organismo e que não desempenham sua real função. Elas acabam por adoecer e, em alguns casos , mor rem. As doenças , sintomas e disfunções do organismo se dão por essas célu las doentes em grandes quantidades. Isso é o que chamamos de cicatriz patológica, que altera a vitalidade e função do tecido agredido, podendo essa m a r c a s e r p a l p á v e l p e l o t e r a p e u t a , manifestando um ou mais sinais clínicos (sintomas) físicos, psíquicos ou emocionais sobre o local da agressão. A microfisioterapia permite ao terapeuta identificar os rastros deixados por agressões nos diferentes tecidos do organismo, por meio de movimentos palpatór ios especí f icos , seguindo mapas corporais. Uma vez localizada e identificada a cicatriz, o terapeuta passa uma nova Capítulo 5 - Estado Mental dos Humanos vs. Energia dos Cães 75 informação ao corpo, mediante movimentos de liberação do tecido, para que então seja estimulado a desencadear os processos de autocorreção, auxiliando no restabelecimento da vitalidade e função do tecido. É semelhante a uma limpeza do corpo, e pode causar algumas manifestações que aparecem como um s i na l de l i be ração das memór i a s agressoras. Portanto, sempre que entrar em contato com um animal, saiba que ele percebe quais são seus reais sentimentos e, se for seu amigo, vai fazer de tudo para comparti lhar desse sentimento com você. Isso nem sempre é positivo, como em casos de medo, ansiedade, estresse. Ou ele vai absor ver e somatizar essa energia, esses hormônios que são altamente perceptíveis, ou ele vai atacar, porque não está adaptado a tal situação. Capítulo 5 - Estado Mental dos Humanos vs. Energia dos Cães 76 Capítulo 6 O Idioma dos Cães Apenas nós , an imais humanos , temos idiomas diferentes em relação às regiões que moramos no planeta. Os animais não humanos se comunicam do mesmo jeito, em qualquer lugar do mundo, respeitando as limitações de cada espécie. Nós tratamos a maioria das espécies pelo que são. No caso dos cães, abrimos uma exceção. Eles são humanizados por seus tutores. E, em muitos casos, por esse motivo, a maioria dos cachorros que vivem com os humanos tendem a serem psicologicamente instáveis, pois usamos a psicologia humana com eles. Quando deveríamos tratá-los com respeito, deveríamos tratá-los como cães. A palavra técnica para o que fazemos com o s c ã e s a e s s e r e s p e i t o é A N T R O P O M O R F I S M O , o u s e j a , humanizamos os cães de nossa relação pessoal. 77 O ideal para respeitarmos outra espécie é descobrir o que é fundamental para eles. A forma de descobrir o que é impor tante para os cães é saber como eles agem e percebem o mundo à sua volta. P o r e s s e m o t i v o e v i t e o ANTROPOMORFISMO: a raiz da maioria dos problemas. Essa palavra é a junção de duas palavras gregas: anthropos (homem) e morphe (forma). O antropomorfismo é uma Capítulo 6 - Idioma dos Cães Imagem da Internet 78 f o r m a d e p e n s a m e n t o q u e a t r i b u i caracter íst icas ou aspetos humanos a deuses, elementos da natureza e a animais. Nesse caso, não nos referimos a deuses, objetos ou elementos da natureza, e sim aos animais, aqui especificamente aos cães. É quando começamos a ver em nossos cachorros nossas emoções refletidas neles. Por exemplo, quando olhamos para um cão quieto e imaginamos que ele está triste, então resolvemos brincar com ele e, em seguida, reclamamos por causa de sua empolgação. Ou quando percebemos um cachorro concentrado demais e começamos a adivinhar seus sentimentos, imaginando que ele está deprimido, triste ou insatisfeito com sua vida, daí decidimos que o que vai melhorar seu humor é comprar uma roupinha ou fazer uma festa de aniversário para ele. Essas são decisões que gostaríamos que alguém tomasse por nós se Capítulo 6 - Idioma dos Cães 79 estivéssemos tr istes assim. São apenas nossas emoções que estão em questão. A pergunta é: o que fazer de verdade para agradar um cão? Como entender se o que estamos fazendo agrada o nosso melhor amigo? É impor tante lembrar que antropomorfismo não está ligado à falta de cuidados com um cão. Talvez seu cachorro tenha pelos cur tos e, em época de fr io, precisa de mais cober tor na caminha. Isso não tem nada a ver com humanização do animal, tem a ver com satisfazer uma necessidade básica dos cães. Ou talvez seu cachorro seja um filhote e precisa de outras providências para se sent i r aquec ido e seguro. Essas são provisões que precisamos tomar, já que escolhemos ser tutores. E aqui uma dica interessante que uso bastante. Muitas pessoas perguntam o que fazer para o cachorro filhote se acostumar Capítulo 6 - Idioma dos Cães 80 com a caminha que acabaram de comprar. Bem, a verdade é que não somente cães filhotes, mas também cães adultos têm dificuldade em se adaptar à caminha que seus humanos compraram para eles, com aquele cheiro industrializado tão agradável para nós, mas tão estranhos a nossos cães. Os cães preferem ficar no sofá ou em sua cama por causa do cheiro que você deixa nesses lugares e que fazem esses objetos serem tão familiares. Assim, quando você não está em casa, seu cachorro prefere se deitar em lugares com cheiro familiar a ele, ambientes que tenham o cheiro de seus humanos. Quase sempre, nesses lugares, existem restos de sua pele e de comida em proporções microscópicas, mas que, para o s e u c ã o c o m e x c e l e n t e f a r o , s ã o suficientemente convidativos para ele se deitar. Então, o que fazer para o filhote se acostumar com a caminha e parar de subir Capítulo 6 - Idioma dos Cães 81 em sua cama, além de lhe proporcionar mais confor to? Pegue uma garrafa PET, encha com água a uma temperatura que imite o calor do seu corpo ou de um corpo “materno” para o filhote. Vista na garrafa uma camisa sua, usada por você, com seu cheiro, de preferência não muito nova, pois ele poderá brincar e rasgar, e coloque-a ao lado do filhote, em contato com a pele dele, para ele ter a sensação de que você está literalmente dormindo ao seu lado. A temperatura e o cheiro familiar vão tornar o ambiente aconchegante para ele. Lembre- se de retirar a garrafa PET depois que água esfriar, para não diminuir a temperatura corporal do filhote. Além disso, sente-se de vez em quando na caminha dele, pois, quanto mais cheiro seu estiver impregnado em sua caminha, mais confor tável e familiar o espaço ficará para nossos melhores amigos. Se o cão for adulto, em muitos Capítulo 6 - Idioma dos Cães 82 casos, dispensa-se a garrafa PET e basta vestir com sua camisa uma almofada ou o próprio estofado da caminha. Dessa forma, a caminha será tão atrativa quanto sua cama, e ele terá um descanso agradável e com um cheiro muito familiar : o seu. Percebeu a nítida separação e diferença de cuidados básicos e humanização dos cães? A resposta está ligada diretamente à espécie com a qual estamos l idando. E, para perceber o que é melhor para um cão, pense no mundo do ponto de vista dos cães. Tente imaginar como canídeos iriam se compor tar em uma vida livre na natureza. Naturalmente, o habitat de nossos cães são nossas casas, mas lembre-se também de que seu parente direto ainda vive livre na natureza, e como eles são geneticamente iguais, devem ter necessidades parecidas. Se seu cachorro está estressado, agressivo, Capítulo 6 - Idioma dos Cães 83 agitado, com disposição destruidora ou algum distúrbio de compor tamento, como obsessão ou empolgação, o que ser ia rotineiro para ele ter de volta o equilíbrio natural? Na maioria dos casos, cães assim têm pouca atividade física, haja vista que todos os cachorros nasceram para algum tipo de trabalho. Então, em vez de apenas os consolar com carícia oupresentes e festas de aniversário, pegue a coleira e vá fazer um logo passeio com seu cão (de acordo com a disposição física de cada indivíduo). Mais à frente, falaremos de como esse passeio deve ser estruturado e a impor tância da saída para manter o equilíbrio na relação entre humanos e cachorros. Minha intenção é falar como devemos perceber nossos cães e os passos para tê-lo mentalmente saudável. Como animais, eles não falam, não usam palavras, mas se Capítulo 6 - Idioma dos Cães 84 comunicam através de energia constante. A energia representa o que você é e o que emana para eles a cada momento. Por isso, mantenha-se sempre calmo e firme ao lidar com cães, não apenas calmo, ou calmo e passivo, antes, permaneça sempre calmo e asser tivo, calmo e positivo. Assim, a resposta do cachorro à sua energia será sempre um conjunto de compor tamentos deles, dos cães, a você, que deve revelar no cão sempre uma energia calma e respeitosa. De forma geral, o que alimentaremos ao nos relacionarmos com os cães em primeiro lugar é uma energia calma, para ambos, para você e para seu cachorro. A diferença em relação ao que desejamos é que, no caso dos humanos, que pretendem liderar seus cães, devem permanecer calmos e firmes, ou seja, ao dizer “NÃO” para estabelecer um comando ao cachorro, não precisará gritar, apenas diga de forma branda e firme. Capítulo 6 - Idioma dos Cães 85 Lembre-se: o cão vai nos escutar mais quando falarmos menos. Nunca use o nome do cachorro, associado a um comando restr itivo ou disciplinar. O nome será utilizado sempre para experiências positivas. Dessa forma, toda vez que o cão ouvir o próprio nome, correrá para per to de você, p o i s entendeu e assimilou que s e u n o m e r e p r e s e n t a b o a s exper iências , t a l v e z u m petisco ou a hora de caminhar, ou até mesmo um afago. Ao passo que a energia de um cão, que será influenciado direta e positivamente por você, deverá ser sempre calma, igual a você, deverá haver uma pequena diferença. Ele deverá ser submisso, diferente de sua Capítulo 6 - Idioma dos Cães 86 disposição em direc ioná- lo, que será sempre com uma energia asser tiva. Resumidamente, você fica sempre calmo e firme, e seu cão calmo e submisso. Guarde bem: os cães influenciarão você, ou você influenciará os cães. Capítulo 6 - Idioma dos Cães 87 Capítulo 7 O Grande Erro Este é, sem dúvida, o mais frequente erro q u e a s p e s s o a s c o m e n t e m a o s e relacionarem com os próprios cães ou com os cachorros de uma maneira geral. Quase que como um todo, os cães atualmente ganharam outro espaço em nossas vidas. Em minha época de criança (década de 1980), os cães eram, em sua maioria, para guarda, para caçar, para pastorear o gado ou para algum tipo de trabalho. Dormiam do lado de fora de casa e, quase nunca, comiam ração ou iam ao médico veterinário. Naturalmente, em vários aspectos, a vida dos cães melhorou muito. Houve uma evolução na área da saúde, da nutrição e do interesse do bem-estar animal, e da maioria dos animais não humanos, e que trouxe muitos benefícios. E naturalmente não queremos regredir no que já melhoramos 88 em relação à vida dos cachorros. Hoje eles dormem dentro de casa, e entendemos que isso também pode ser muito positivo para ambos na relação. Hoje os cães adquiriram outro perfil de convivência com os humanos: dormem dentro de casa, muitas vezes em nossas camas, usam roupas e sapatinhos, joias, tomam banho de sais, ofurô e têm festas de aniversário. Os cachorros estão em outro patamar de tratamento, mas estão cada vez mais estressados e cheios de problemas compor tamentais . Muito parecido com nossos filhos que, cada vez mais, comem McDonald’s, ganham iPhones, vivem no WhatsApp e Youtube, mas estão cada vez mais insatisfeitos. Normalmente os cães estão no lugar dos filhos que cresceram e saíram de casa, estão no lugar de filhos para casais jovens ou casais alternativos que ainda não têm um Capítulo 7 - O Grande Erro 89 bebê humano em casa, ou os cachorros são tratados como netos por casais mais velhos e são a companhia perfeita para quem mora soz inho. Resumindo, os cachor ros se tornaram um recipiente perfeito para nós depositarmos todo nosso amor que não conseguimos direcionar para outro lugar ou para outra pessoa. Algumas vezes, sofremos frustrações amorosas, na vida pessoal e, mais uma vez, derramamos todo nosso amor neste receptáculo especial: os nossos cães. E, por esses motivos, as pessoas atualmente percebem ou veem os cães de uma forma diferente, deturpada, e se convencem de que essa é a melhor maneira de tratar seus cães, porque gostariam de ser tratados assim por sua última frustração amorosa ou porque queriam ser tratados dessa forma por seus pais ou amigos, enfim. Os cães são tratados de um jeito que, embora não seja a Capítulo 7 - O Grande Erro 90 forma ideal, eles, os seus obcecados tutores, convenceram-se do contrário. Além do que a p o s s i b i l i d a d e d e a m a r o s c ã e s incondicionalmente até cer to ponto é fácil. Basta você imaginar que, em qualquer re lac ionamento humano, há troca de sentimentos positivos e negativos, e isso, por si só, nos faz amar e odiar o outro quase que na mesma medida. No caso dos cães, nós os amamos desmedidamente, po rque somen te expe r imen t amos o sentimento positivo do amor. O grande e mais chocante erro de todo relacionamento é esperar aquilo que a outra par te não pode nos oferecer, por mais que haja boas intenções. No caso da relação entre humanos e cães, muitos t u t o r e s e x p e r i m e n t a m e x p e r i ê n c i a s negativas dos seus cães não porque eles são maus, e sim porque seus tutores dão para eles e esperam de volta um proceder típico Capítulo 7 - O Grande Erro 91 de uma convivência e tratamento entre humanos. Então falaremos de uma fórmula para entender os cães, mas sabemos que esta não é uma ciência exata, o que quer dizer que sempre utilizaremos o mesmo escopo para analisar os cães sabendo das nuanças e diferenças que podem ocorrer no processo de reconhecimento de cada indivíduo, tanto do cão quanto de seu tutor. Mas levaremos sempre alguns pontos em consideração, instruções óbvias que são ignoradas ou desconhecidas pela maioria das pessoas. Informações que podem evitar o mau compor tamento dos cães, o qual p o d e s e r i g n o r a d o o u a t é m e s m o estimulado pelos humanos. O maior de todos os erros é imaginar que o s c ãe s é uma ex t en s ão de no s s a per sonal idade e que eles devem nos devolver todo investimento emocional que depositamos neles. Os cães vão nos amar Capítulo 7 - O Grande Erro 92 pelo que somos e não por uma troca de sentimentos imposta em uma negociação emocional. Lembre-se sempre: por sermos espécies dist intas, haverá necessidades diferentes a serem supridas aos cães. Capítulo 7 - O Grande Erro 93 Capítulo 8 Fórmula para entender os Cães As pessoas percebem os cães de uma maneira muito convencional, cômoda e conveniente para elas mesmas. Conhecem- nos como Bob, seu border collie , um cachorro de estimação e membro honorário da família. Nossa proposta aqui é apresentar os cães para que você possa fazer uma abordagem adequada para os animais que v i vem com você em casa e ou t ros cachorros que eventualmente venha a ter contato. Como as pessoas percebem os cães: a) Percebem como nome, cor ou forma; b) Percebem como raça; c) Percebem como espécie; d) Percebem como membros da família. 94 Como devemos perceber os cães. a) Perceber como animais não humanos (guiados pelos instintos que também somos dotados, mas os quais ignoramos); b) Perceber como espécie; c) Perceber como raça; d) Perceber como nome e membros da família multiespécie. Se nunca nos esquecermos dessa ordem, da última lista, de como ver ou perceber os cães, você evitará acidentes e incidentes, e, por se lembrar sempre do básico primeiro, que oscães são animais não humanos e que, de vez em quando, eles reagirão instintivamente, de forma animalesca, como é típico do universo e da natureza dos animais e dos cachorros, você evitará mordidas e brigas entre eles e entre nós. Capítulo 8 - Fórmula para entender os Cães 95 Entender o cão pr imeiramente como “an ima l não humano” , depo i s como “espécie”, depois como “raça” e, por fim, por seu “nome” é recordar tudo de i m p o r t a n t e a c e r c a d o s c a n í d e o s e representa o início de um relacionamento respeitoso entre cães e humanos, no qual não fazemos confusão sobre quem é o cão e qual é seu impor tante papel em nossas vidas. Sei que, para muitos, à primeira vista, parece cruel demais encarar nossos cães como animais, mas tente recordar quando seu lindo buldogue francês rosna para você apenas por tentar chegar per to de sua comida. Ou busque se lembrar de quando seu labrador pula nas suas visitas e não escuta seus comandos para ficar quieto. Ou então procure recordar quando seu border collie o arrasta pelo passeio. Ou quando seu pastor malinois deseja atacar pessoas na rua. Capítulo 8 - Fórmula para entender os Cães 96 Ou seu buldogue inglês tenta atacar o cão da casa ao lado. Bem, talvez analisando por esse prisma, essas atitudes isoladas demonstram que, dentro de cada cão, reside um lado bastante animal e natural para ele . E se , em momentos ass im, você não consegue dominá-lo pelo nome, é por que há uma lacuna na compreensão correta de seus cães. Se você dominar isso, entenderá a conexão que sempre sonhou e que sabe ou deveria supostamente saber que é justamente por t r a t á - l o s c o m o h u m a n o s q u e t e m contr ibuído para seu desequil íbr io de compor tamento, apenas porque, do nosso ponto de vista, tê-los como humanos seria a melhor forma de cuidar deles. Mas assim você se esquece do básico, esquece qual é a espécie do animal e, por isso, trata-o com desrespeito unicamente por não ter Capítulo 8 - Fórmula para entender os Cães 97 entendido e atendido às suas necessidades básicas. Por esse motivo, não vai se conectar da mesma forma que eles se conectam entre si. Por falta da mais primitiva das compreensões, ver o óbvio, que eles são cães e somente pedem para ser tratados assim. Par ticularmente eu acho interessante a tentativa da humanidade de conver ter a lguns valores , como se os humanos (principais responsáveis pela destruição do planeta) soubessem o que estão fazendo, e agem assim para dar conotação de que o nosso tratamento dispensado é o melhor do mundo. Há algum tempo falando sobre educação ambiental, algumas pessoas insistiram em mudar o termo para educação humanitária, e querem nos fazer crer que esse termo se aplica melhor do que qualquer outro, como se tratar alguém ou alguma coisa de Capítulo 8 - Fórmula para entender os Cães 98 maneira humana seja mais evoluído do que se tratarmos pelo que ela é, quer seja uma árvore ou um cavalo. De maneira direta, pare de querer tratar seu cachorro como gente, por você imaginar que essa seja a melhor maneira para eles. Deve aprender a se relacionar com eles. Relacionar com os cães é muito simples. Os animais (e quase tudo na natureza) são mu i to s imp les , os acontec imentos e fenômenos naturais seguem uma ordem óbvia, sem entrelinhas. Nós, humanos, somos mais complicados, e isso prejudica nossa comunicação. Ass im percebemos a necess idade de aprender a linguagem deles, de atender às suas necessidades e de percebê-los pelo que são, na ordem correta. Imagine que tenha um amigo de outro país em sua casa, naturalmente um dos dois tem de falar o idioma do outro, senão a Capítulo 8 - Fórmula para entender os Cães 99 c o m u n i c a ç ã o e n t r e v o c ê s f i c a r á incompreensível. Ela ocorrerá, mas será com muito ruído. Com os nossos cães se dá o mesmo, obviamente não podemos exigir que os cachorros aprendam nossa linguagem. Essa é nossa obrigação intelectual, uma vez que fomos nós que convidamos os cães a viverem conosco. Assim é nosso dever entendê-los e aceitá-los com dignidade e respeito, compreendendo-os como animais não humanos , e i sso fac i l i tará nossa c o m u n i c a ç ã o . S e f i z e r m o s i s s o , demonstraremos respeito por eles e por seu lugar na natureza. Uma das coisas mais impor tantes que devemos entender e aceitar a respeito dos cães é que eles não ficam projetando o futuro ou presos ao passado. Eles vivem o presente e, embora tenham suas memórias, vivem o que se apresenta agora. Capítulo 8 - Fórmula para entender os Cães 100 Nós humanos somos a única espécie que não experimenta intensamente o presente. Nós não vivemos o momento, os cachorros e qualquer outra espécie do reino animal vivem o momento. Se estão com fome, comem; se estão com sono, dormem. Diferentemente dos humanos, que, se estão com sono, esperam até domingo para dormir melhor. Ou, se amam, esperam até a pessoa amada par tir para entenderem isso, e aí é tarde demais. Isso é uma das coisas aprendidas com os cães: viver o momento. Por isso, quando alguém me traz um cão que aprendeu a atacar um humano ou a investir contra outro cachorro, não o vejo assim; tenho-o como um cão que precisa de ajuda. Eu não o vejo pelo que fez, porque ele não agiu assim premeditadamente. Ele atacou porque aprendeu, durante sua experiência de vida, que atacar seria a solução para sobreviver, se for o caso de um Capítulo 8 - Fórmula para entender os Cães 101 cachorro de rua, ou se ele aprendeu que essa é uma maneira de dominar e manipular os humanos e outros cães à sua volta. S e p u d é s s e m o s a r r i s c a r e f a l a r matematicamente em porcentagem e se fosse poss íve l medir o tempo ass im, arriscaria dizer que, em 60% de nosso t empo, e s t amos p re so s ao pa s s ado , perdemos 30% projetando o futuro, e vivemos apenas 10% no presente. Os cães são diferentes: eles vivem 100% do p r e s e n t e , e l e s v i v e m o a g o r a . S u a experiência total é o que condicionamos o cão a fazer no momento do treinamento. A única coisa que eles vão querer saber é se o treinamento que acabou de receber vai continuar valendo daquele momento em diante. Por exemplo, se você treina seu cão a não sair pelo por tão da garagem quando você sai de carro, ele pode até desafiar você no Capítulo 8 - Fórmula para entender os Cães 102 dia seguinte, porque o que ele quer saber é: o que está valendo quando você abrir o por tão da garagem hoje? É o treinamento r e c e b i d o n o d i a a n t e r i o r o u o condicionamento do que sempre fez ao ver o por tão aber to? Talvez ele tente fugir pelo por tão se for um cão um pouco mais tenaz, mas pode ser que ele se dobre rapidamente ao treinamento. Possivelmente tenha de repetir uma dezena de vezes ou quiçá desista no primeiro dia. Isso acontece porque ele não está preso ao que sempre fez ou projetando o que fará. Ele apenas quer saber do agora, ele somente quer saber se faz o que era condicionado a fazer ao ver o por tão aber to, ou se irá se dobrar ao treinamento que acabou de receber e ficar sentado, observando você sair de carro enquanto o por tão abre e fecha normalmente. Eis o motivo de alguns casos serem mais difíceis que os outros. Capítulo 8 - Fórmula para entender os Cães 103 Têm a ver com a tenacidade dos cães e a indisciplina dos tutores. Isso não significa que os cães são menos que os humanos ou mais que os humanos, o que quero fazê-lo entender, caro leitor, é que eles são uma espécie diferente, e se não o virmos como a espécie que são, eles não serão felizes. E não teremos uma v ida equi l ibr ada e centrada com nossos cães. Isto é o que quero que aprendam dos cães: que os vejam como eles são. Que vivam o presente intensamente no treinamento dos cães e que se concentrem mais nos acer tos do que nos erros durante o treinamento. Os cães devem ser vistos primeiro como animais não humanos; depois
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