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TEXTO COMPLEMENTAR Disciplina: Fundamentos de Ecologia: Ecossistema e biodiversidade Professora: Claudia Ferreira dos Santos Ruiz Figueiredo O milho é uma espécie domesticada? A domesticação, como termo associado a vegetais, pode parecer estranho, mas se baseia no processo em que espécies são geneticamente modificadas ao longo do tempo por seres humanos. O processo de domesticação envolve a seleção dos melhores produtos – sejam eles frutos, sementes ou folhas – e otimiza o manejo para que as plantas possam ser cultivadas, ressaltando características de interesse para utilização humana. A história da domesticação do milho é um dos eventos evolutivos fundadores que tiveram um impacto enorme na vida e na história humana. Passar um dia inteiro sem comer milho, mesmo indiretamente, é quase uma missão impossível. Considera-se que esse cereal seja responsável por 6% das calorias consumidas pela população humana mundo afora, sem falar no que entra como ração na pecuária e está oculto em alimentos processados, ele é utilizado na indústria farmacêutica, geração de energia, entre outras aplicações. Muito antes de existirem as grandes espigas amareladas disponíveis hoje em feiras e supermercados, o ancestral do milho era uma planta mexicana com poucos grãos que se soltavam facilmente da espiga e uma casca praticamente intransponível. Povos antigos no sudoeste do México encontraram uma grama selvagem chamada teosinto, que apresentava espigas menores do que um dedo mindinho, com apenas um punhado de grãos pedregosos. Mas, os agricultores indígenas viram potencial no grão, adicionando-o a suas dietas e colocando-o no caminho para se tornar uma cultura domesticada que agora alimenta bilhões de pessoas. O processo de domesticação do milho mudou radicalmente suas origens. As sementes do teosinto selvagem eram envoltas em cascas duras e dispostas em um espigão com cinco a sete fileiras, um espigão que se estilhaça quando o grão estava maduro para dispersar sua semente. O milho moderno tem centenas de grãos presos a uma espiga que está completamente coberta por cascas. Seres humanos já usavam e manipulavam a forma selvagem do milho, um capim chamado teosinto, por volta de 9 mil anos atrás no México. Há cerca de mil anos, uma segunda cepa da planta, geneticamente diferente e já completamente adaptada ao consumo, veio do México e passou a ser plantada no norte da Amazônia. Sugerindo que o encontro das duas cepas pode ter acontecido no Brasil. O processo de seleção e domesticação dessa espécie vegetal ainda não havia sido finalizado no México quando as variedades começaram a ser difundidas para a América do Sul, onde ocorreu a “moldagem” final do milho na região sudoeste da Amazônia. Isso significa uma revisão na história da domesticação de uma das mais importantes culturas do mundo, revelando que os agricultores mexicanos e do sudoeste da Amazônia continuaram a melhorar a cultura ao longo de milhares de anos, até que a planta fosse totalmente domesticada nessas regiões. A história evolutiva das plantas domesticadas em longo prazo as torna adequadas para o ambiente humano de hoje. Entender essa história permite trazer ferramentas para avaliar o futuro do milho, enquanto a humanidade continua a modificar de maneira drástica o ambiente global na tentativa de aumentar a colheita para atender à crescente demanda por alimento em todo o planeta. Hoje em dia tem tanta diversidade, tipos diferentes de milho, porque cada cultura humana tem suas preferências. Um gosta de milho mais redondo, outro mais comprido, outros com sementes vermelhas, outro rajada, outro amarela. Esse olhar diferente da diversidade cultural também se reflete na variedade dos cultivos. Com o passar do tempo, porém, a seleção por preferência deu lugar à vantagem comercial, o milho amarelo se tornou padrão e muitas das diferentes variedades de milho passaram a correr risco de desaparecer. Existe importância em dois aspectos de conservação. Um é realizado pelos índios, que por milênios selecionaram, cuidaram e cultivaram o cereal, com um processo cuidadoso de seleção e adaptação ao ambiente. Outro é um banco de sementes, que no caso do Brasil é mantido pela Embrapa, com capacidade para 700 mil amostras congeladas a 20 graus Celsius negativos, uma reserva estrategicamente essencial dos alimentos que formam a base da alimentação. E por que é importante saber e estudar a diversidade genética do milho? Diversidade genética é o número total de características genéticas encontradas no genoma de indivíduos de uma espécie. Na produção de alimentos, a diversidade genética é fundamental para fornecer um sistema de segurança alimentar, uma vez que a partir dela é possível adaptar as plantas a diferentes regiões, doenças e estresses ambientais. Com a evolução da ciência nos tempos mais modernos, os pesquisadores passaram a usar diferentes estratégias de melhoramento. O cruzamento feito entre diferentes genótipos de milho começou a dar origem aos milhos híbridos, que trouxeram maior vigor e produtividade para a cultura. Ao empregar ferramentas genômicas, também se pode identificar quais genes são responsáveis por essas características e identificar, por exemplo, híbridos que possam ser tolerantes à seca. O emprego dessas estratégias permitiu melhorar diversas características na cultura do milho, como produtividade, eficiência no uso de nutrientes do solo, tolerância à seca, resistência a patógenos e muitos outros benefícios. O avanço do conhecimento científico também permitiu o desenvolvimento das plantas transgênicas. O primeiro milho transgênico foi desenvolvido na década de 1980, desde então, plantas de milho transgênicas carregando, principalmente, características de resistência a insetos e tolerância a herbicidas foram desenvolvidas e desde 1996 são cultivadas e comercializadas em muitos países. O Brasil é o terceiro maior produtor de milho no mundo, com produção de 101,9 milhões de toneladas em 2019/2020. Além da utilização como alimento, a cultura do milho tem sido impulsionada pelo setor de bioenergia. A produção de etanol de milho foi de 1,4 bilhões de litros na safra 2019/2020 e se espera um aumento de 86% para a de 2020/2021. O milho é a segunda maior cultura cultivada em território nacional, sendo 88,4% da área plantada com variedades transgênicas. Fontes de texto e figuras: adaptados de: https://www.embrapa.br/busca-de-noticias/-/noticia/40019246/cientistas-se-baseiam- em-evidencias-geneticas-e-arqueologicas-para-uma-nova-versao-da-historia-do-milho https://croplifebrasil.org/noticias/diversidade-genetica-dos-alimentos-milho/ https://revistapesquisa.fapesp.br/caminhos-do-milho-2/ http://www.pioneersementes.com.br/media-center/noticias/5670/brasil-apresenta- maior-crescimento-global-na-adocao-de-transgenicos https://www.embrapa.br/busca-de-noticias/-/noticia/40019246/cientistas-se-baseiam-em-evidencias-geneticas-e-arqueologicas-para-uma-nova-versao-da-historia-do-milho https://www.embrapa.br/busca-de-noticias/-/noticia/40019246/cientistas-se-baseiam-em-evidencias-geneticas-e-arqueologicas-para-uma-nova-versao-da-historia-do-milho https://croplifebrasil.org/noticias/diversidade-genetica-dos-alimentos-milho/ https://revistapesquisa.fapesp.br/caminhos-do-milho-2/ http://www.pioneersementes.com.br/media-center/noticias/5670/brasil-apresenta-maior-crescimento-global-na-adocao-de-transgenicos http://www.pioneersementes.com.br/media-center/noticias/5670/brasil-apresenta-maior-crescimento-global-na-adocao-de-transgenicos
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