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A LEI 4.320 COMENTADA E A LEI DE RESPONSABILIDADE FISCAL Copyright 2019 (c) Heraldo da Costa Reis, José Teixeira Machado Jr. 36ª edição Revista e Atualizada por Heraldo da Costa Reis Coordenação Editorial Ewerton Antunes, Helouise Costa Ilustração de capa Ewerton Antunes IBAM – Instituto Brasileiro de Administração Municipal Rua Buenos Aires nº 19 – Centro – 22070-021 – Rio de Janeiro/RJ Tel. (21) 2142-9797 – E-mail: ibam@ibam.org.br – Web: www.ibam.org.br Depositado na Reserva Legal da Biblioteca Nacional Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial, de qualquer forma ou por qualquer meio, inclusive quanto às características gráficas/editoriais. A violação dos direitos de autor (Lei nº 9.610/98) é crime estabelecido pelo art. 184 do Código Penal. Versão eBook ebooks.nextmidia.com.br Dados da Catalogação Internacional na Publicação (CIP) R375 Reis, Heraldo da Costa A lei 4.320 comentada e a lei de responsabilidade fiscal / Heraldo da Costa Reis; José Teixeira Machado Júnior. – 36. ed. rev. e atual. por Heraldo da Costa Reis – Rio de Janeiro: IBAM, 2019. Porto Alegre, RS : Edição do Autor, 2019. 2200Kb, ePub. ISBN: 978-85-7403-063-0 Inclui referências 1. Orçamento. 2. Direito financeiro - Brasil. 3. Responsabilidade fiscal. I. Machado Júnior, José Teixeira. II. Instituto Brasileiro de Administração Municipal. III. Título. CDU 336.1 Ficha catalográfica elaborada por Cinthia Pestana Viana CRB-7/6431 Biblioteca do IBAM mailto:ibam@ibam.org.br http://www.ibam.org.br https://ebooks.nextmidia.com.br Table of Contents APRESENTAÇÃO DO IBAM E DA OBRA APRESENTAÇÃO DO AUTOR APRESENTAÇÃO Lei nº 4.320, de 17 de março de 1964 DISPOSIÇÃO PRELIMINAR TÍTULO I DA LEI DE ORÇAMENTO Capítulo I DISPOSIÇÕES GERAIS Capítulo II DA RECEITA Capítulo III DA DESPESA TÍTULO II DA PROPOSTA ORÇAMENTÁRIA Capítulo I CONTEÚDO E FORMA DA PROPOSTA ORÇAMENTÁRIA Capítulo II DA ELABORAÇÃO DA PROPOSTA ORÇAMENTÁRIA TÍTULO III DA ELABORAÇÃO DA LEI DE ORÇAMENTO TÍTULO IV DO EXERCÍCIO FINANCEIRO TÍTULO V DOS CRÉDITOS ADICIONAIS Notas TÍTULO VI DA EXECUÇÃO DO ORÇAMENTO Capítulo I DA PROGRAMAÇÃO DA DESPESA Capítulo II DA RECEITA30 Capítulo III DA DESPESA TÍTULO VII DOS FUNDOS ESPECIAIS41 TÍTULO VIII DO CONTROLE DA EXECUÇÃO ORÇAMENTÁRIA Capítulo I DISPOSIÇÕES GERAIS Capítulo II DO CONTROLE INTERNO Capítulo III DO CONTROLE EXTERNO TÍTULO IX DA CONTABILIDADE Capítulo I DISPOSIÇÕES GERAIS Capítulo II DA CONTABILIDADE ORÇAMENTÁRIA E FINANCEIRA Capítulo III DA CONTABILIDADE PATRIMONIAL E INDUSTRIAL Capítulo IV DOS BALANÇOS57 TÍTULO X DAS AUTARQUIAS E OUTRAS ENTIDADES TÍTULO XI DISPOSIÇÕES FINAIS ANEXOS PORTARIA Nº 42, DE 14 DE ABRIL DE 1999 MINISTÉRIO DO ORÇAMENTO E GESTÃO PORTARIA Nº 665, DE 30 DE NOVEMBRO DE 2010 ANEXO 12 BALANÇO ORÇAMENTÁRIO ANEXO 13 BALANÇO FINANCEIRO ANEXO 14 BALANÇO PATRIMONIAL ANEXO 15 Demonstração das Variações Patrimoniais ANEXO 18 Demonstração dos Fluxos de Caixa ANEXO 19 Demonstração das Mutações no Patrimônio Líquido ANEXO 20 Demonstração do Resultado Econômico NOTAS APRESENTAÇÃO DO IBAM E DA OBRA O IBAM, ao longo de sua história, tem se destacado pela produção e difusão de conhecimentos em áreas de relevância para a gestão pública sendo, uma delas, a de administração financeira e contábil, especialmente importante e com característica atemporal, acompanhando o surgimento de novas metodologias e instrumentos para o desenvolvimento da gestão pública. A publicação da Lei 4320 Comentada tem se mostrado, em todas as suas edições, até esta de número 36, como instrumento valoroso dentro deste contexto, para a satisfação do IBAM como instituição que incentiva e promove projetos junto à administração pública e dos vários leitores que têm se beneficiado desta obra ao longo dos anos. Com muita sensibilidade pela importância técnica da Lei 4320 Comentada, destacamos a valiosa contribuição do professor Jose Teixeira Machado Jr. na elaboração das primeiras edições deste livro. Jose Teixeira teve carreira técnica e gerencial, chegando a ocupar o cargo de Diretor Adjunto da instituição, e cujo legado é compartilhado, até hoje, entre gestores, técnicos, especialistas e estudantes de todo país. Heraldo da Costa Reis nos presenteia com a autoria desta obra desde a sua primeira edição. Acadêmico de grande prestígio na UFRJ, é um dos precursores no tema gestão governamental no IBAM e nas pesquisas sobre orçamento, contabilidade e finanças públicas no país. APRESENTAÇÃO DO AUTOR Heraldo da Costa Reis é um dos precursores dos estudos orçamentários, contábeis e financeiros aplicados à administração pública no Brasil. É um dos pioneiros no tema da gestão governamental no IBAM e, com brilhantismo, contribuiu para a consolidação do Instituto e de seu modo de atuação e funcionamento no Brasil e no exterior.Participou dos primórdios da Comissão de Normas para a Administração Pública do Conselho Federal de Contabilidade, o que o coloca como um dos formadores da modernização da contabilidade no país. Construiu sólida carreira acadêmica, tanto no IBAM como na Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, onde orientou incontáveis trabalhos de alunos de graduação e mestrado, formando gerações de gestores financeiros. APRESENTAÇÃO Assinar a apresentação da 36ª edição de um livro traz satisfação e orgulho. Quando a obra possui conteúdo eminentemente técnico, explorando tema árduo e complexo, o fato de chegar a esse número de edições confirma sua qualidade, reconhecida por aqueles que trabalham na área ali tratada e por outros leitores que, mesmo não sendo especialistas, se interessaram pelo que está escrito, seja porque receberam sugestão, seja porque conhecem o autor e respeitam seus ensinamentos. O autor, aliás, faz jus a esse reconhecimento. O Prof. Heraldo da Costa Reis tem longa trajetória no ambiente financeiro, contábil e orçamentário, em salas de aula de universidades e do próprio IBAM, proferindo palestras em encontros, atuando em projetos junto à Administração Pública e transmitindo seus conhecimentos em outras oportunidades variadas. É escritor de distintas publicações também bem-sucedidas, de artigos para revistas, de número expressivo de pareceres, de anteprojetos de leis e de documentos que versam sobre finanças públicas, em seus diversos desdobramentos. Acumulou, assim, vasta experiência, que se atualiza permanentemente. A Lei 4.320 Comentada é exemplo nesse sentido, posto que a partir de sua primeira edição, que surgiu da parceria com o Prof. José Teixeira Machado Jr., recebeu em suas safras seguintes alterações para se manter em concordância com as mudanças legais e conceituais, como a inclusão de comentários sobre a Lei de Responsabilidade Fiscal (Lei Complementar nº 101/2000), diploma que possui clara ligação com a lei que intitula a obra objeto desta apresentação. O orgulho mencionado no primeiro parágrafo deste texto é compartilhado pelo IBAM, que tem a honra de contar com a presença do Prof. Heraldo há vários anos, nos quais contribuiu para que o Instituto ficasse conhecido e respeitado pelos órgãos governamentais de todas as esferas. Nessa vinculação, o autor ocupa com todo merecimento lugar de destaque no corpo técnico em face da participação em atividades como as lembradas em frases anteriores, cabendo no presente momento destacar o título ora apresentado. O IBAM está convicto de que colaborar para que os comentários à Lei nº 4.320 sejam postos à disposição de quem por eles se interessar é ato que auxilia o reconhecimento de sua seriedade de objetivos. Paulo Timm Superintendente Geral Lei nº 4.320, de 17 de março de 1964 Estatui Normas Gerais de Direito Financeiro para elaboração e controle dos orçamentos e balanços da União, dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal.DISPOSIÇÃO PRELIMINAR Art. 1º . Esta lei estatui normas gerais de direito financeiro para elaboração e controle dos orçamentos e balanços da União, dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal, de acordo com o disposto no art. 5º, inciso XV, letra b, da Constituição Federal. A Lei 4.320, de 17 de março de 1964, conjuga dois sistemas de informações para o controle: o orçamento e a contabilidade. O orçamento, entretanto, evoluiu para aliar-se ao planejamento, do qual surgiu a técnica do orçamento-programa como especialização devendo, na prática, operar como elo entre os sistemas de planejamento e de finanças. Com isto torna-se possível a operacionalização dos planos, porque os monetariza, isto é, coloca-os em função dos recursos financeiros disponíveis, permitindo que o planejador não extrapole os recursos disponíveis. Esta é, sem dúvida, a ideia central da Lei de Responsabilidade Fiscal. Assim, o orçamento apresenta-se fundamentalmente como um instrumento de que o administrador dispõe para equacionar o futuro em termos realísticos, como um curso de ação, um programa operacional. A integração planejamento/orçamento é a tônica capaz, hoje em dia, de consertar as distorções administrativas e remover os empecilhos institucionais que dificultam a modernização dos métodos e processos administrativos no Brasil. A contabilidade, modernamente, é um processo gerador de informações sobre o que a Administração realizou, realiza ou realizará em termos financeiros. Existe, porém, diferença entre as duas técnicas: enquanto a contabilidade é o instrumento que possibilita informação para tomada de decisões, controle e avaliação de desempenho, o orçamento deverá assegurar informações sobre políticas e programas, para possibilitar o controle gerencial, aliadas a um sistema de quantificação física para a mensuração das ações governamentais1. O orçamento, portanto, é uma técnica cujo maior significado moderno consiste precisamente em ligar os sistemas de planejamento e de finanças pela expressão quantitativa financeira e física dos programas de trabalho de todas as esferas de governo. Modernamente o orçamento é mais que uma consolidação de planos físicos e de recursos das mais variadas naturezas: é um instrumento de trabalho. Neste sentido, é possível utilizar o orçamento como meio de identificação de descentralização administrativa, de delegação de competência e de apuração de responsabilidades, não só da organização, mas também dos gestores, de modo que a sua aprovação, aliada à aprovação dos regimentos internos dos órgãos, signifique também a autorização para a ação e, concomitantemente, o início do processo de controle. Daí porque entendermos que o orçamento é também um instrumento de controle gerencial, visto que possibilita informações para comparações e avaliações de caráter gerencial, tais como as da economicidade, da eficiência, da eficácia e da efetividade. A concepção moderna do orçamento em base gerencial traduz os órgãos como centros de responsabilidades ou de resultados e até de informações pelos quais se identificam as responsabilidades decisórias dos respectivos gestores, segundo a utilização dos recursos que lhes são confiados, para possibilitar a execução das ações nas áreas de responsabilidade em que o Estado desempenha suas atribuições. Evidentemente, essas responsabilidades são avaliadas mediante a utilização de indicadores de qualidade adequados às áreas em que atuam2. Entretanto, é necessário que o orçamentista, antes de elaborar o orçamento, estude a organização da entidade jurídica (entidade central, autarquias, fundações e empresas), e dê-lhe uma visão de atuação integrada dos órgãos que a compõem, bem como evidencie a forma ou as formas de gestão financeira adotada(s) para o(s) seus(s) recursos(s)3. Como é sabido, a lei abrange a União, os Estados, os Municípios e o Distrito Federal, o que possibilita a existência de normas homogêneas para todo o País e facilita o levantamento de dados estatísticos financeiros e de realização dos programas de trabalho, bem como a consolidação dos orçamentos e balanços do setor público brasileiro. A remissão à Constituição do Brasil é ainda à da Carta de 1946, mas a Constituição de 1988 alterou-lhe substancialmente a redação, como se pode ver a seguir: Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre: I - direito tributário, financeiro, penitenciário, econômico e urbanístico; II - orçamento. Depreende-se, do entendimento do caput do artigo mencionado, que os Estados e o Distrito Federal poderão legislar concorrentemente com a União sobre matérias orçamentária e financeira. Neste caso, a competência da União limitar-se-á a estabelecer normas gerais as quais não excluem a competência suplementar dos Estados. No caso de inexistir tal lei federal sobre normas gerais, os Estados e o Distrito Federal exercerão a competência legislativa plena para atender às suas peculiaridades. Quanto a este fato, torna-se desnecessário o exercício dessa competência plena, porquanto esta lei continua em plena vigência até que outra venha revogá-la expressamente. No caso de inexistir tal lei federal sobre normas gerais, os Estados e o Distrito Federal exercerão a competência legislativa plena para atender às suas peculiaridades, embora seja desnecessário o exercício dessa competência plena, porquanto esta lei continua em plena vigência até que outra venha a revogá-la expressamente. De acordo com o art. 30, II, da Constituição do Brasil, o Município poderá legislar suplementarmente, no que couber, à legislação federal ou estadual, ou seja, estabelecer normas específicas de controle interno e de administração financeira e orçamentária. Esclareça-se que o § 9º, do art. 165, da Constituição determina que caberá à lei complementar: I - dispor sobre o exercício financeiro, a vigência, os prazos, a elaboração e a organização do plano plurianual, da lei de diretrizes orçamentárias e da lei orçamentária anual; II - estabelecer normas de gestão financeira e patrimonial da administração direta e indireta, bem como condições para a instituição e funcionamento de fundos. A Lei Complementar acima mencionada disporá sobre critérios e formas de liberação dos recursos dos Poderes Legislativo, Judiciário e Ministério Público, conforme determina o artigo 168 da Constituição Federal. No âmbito dos Municípios, as relações financeiras Executivo/Legislativo submeter-se-ão às disposições do art. 29-A, incisos e parágrafos respectivos, da Constituição da República. Assim, enquanto a lei complementar mencionada não for aprovada, as normas desta lei continuam em pleno vigor, não podendo ser modificadas a não ser por lei de igual hierarquia, e não por lei de diretrizes orçamentárias, como vem acontecendo atualmente. O dispositivo ora em comento traz à luz um princípio muito estudado em contabilidade privada, mas não lembrado nos estudos da contabilidade e do orçamento governamentais: o princípio da entidade4. Este princípio se fundamenta no fato de que o orçamento e a contabilidade são instrumentos que possibilitam informações sobre transações/operações das entidades jurídicas governamentais, tais como expressas no caput do artigo, inclusive das suas fundações, autarquias, empresas públicas e sociedades de economia mista, as quais produzem reflexos sobre os respectivos patrimônios. Entretanto, e esta observação é importante, o Estado (em sua acepção ampla) é também um ente econômico, alémde social, daí porque os orçamentos de todas as organizações governamentais serem aprovados por uma só lei, conforme o disposto no art. 165, § 5º, da Constituição da República, que lança as bases do orçamento e dos balanços consolidados. Com o advento da Lei de Responsabilidade Fiscal, há muito exigida pela sociedade, algumas normas passaram a reger certos procedimentos regulados por esta lei, uma vez que, além de dispor sobre o comportamento ético do gestor público no trato com o patrimônio público que lhe é confiado, e de dispor sobre normas de Finanças Públicas, conforme o Capítulo II, do Título VI da Constituição da República, ela vai além, posto que abraça procedimentos de natureza técnico-econômica que envolvem análises do custo-benefício e do Fluxo de Caixa; contabilidade financeira melhor planejada; contabilidade gerencial para possibilitar informações para a avaliação de desempenho sob os enfoques da eficiência, da economicidade, da eficácia e da efetividade. TÍTULO I DA LEI DE ORÇAMENTO Capítulo I DISPOSIÇÕES GERAIS Art. 2º. A Lei de Orçamento conterá a discriminação da receita e despesa, de forma a evidenciar a política econômico-financeira e o programa de trabalho do Governo, obedecidos os princípios de unidade, universalidade e anualidade. § 1º. Integrarão a Lei de Orçamento: I – Sumário geral da receita por fontes e da despesa por funções do Governo; II – Quadro demonstrativo da Receita e Despesa segundo as Categorias Econômicas, na forma do Anexo 1; III – Quadro discriminativo da receita por fontes e respectiva legislação; IV – Quadro das dotações por órgãos do Governo e da Administração. § 2º. Acompanharão a Lei de Orçamento: I – Quadros demonstrativos da receita e planos de aplicação dos fundos especiais; II – Quadros demonstrativos da despesa, na forma dos Anexos 6 a 9; e III – Quadro demonstrativo do programa anual de trabalho do Governo, em termos de realização de obras e de prestação de serviços. Este artigo é de suma importância, porque nele se encontram os fundamentos da evidenciação orçamentária, ou seja, segundo sua linguagem, a lei de orçamento deverá evidenciar a política econômico- financeira e o programa de trabalho do Governo, os quais devem ser executados por órgãos e entidades da Administração direta, indireta e fundacional. No entanto, tal redação poderia, no nosso entendimento, ser mais ampla, da seguinte forma, por exemplo: Os orçamentos públicos conterão a receita e a despesa classificadas, de forma a evidenciar as políticas e os programas de trabalho do Governo, em congruência com os objetivos da entidade jurídica. Em realidade, este artigo sofreu profunda modificação em razão do que dispõem os §§ 5º ao 8º do art. 165, da Constituição do Brasil, que restabelece os princípios mencionados no seu contexto. De fato, de agora em diante, os orçamentos das entidades de Administração indireta e fundacional integrarão a lei de orçamento anual, sendo votados e aprovados como lei pelo Legislativo. O artigo exige obediência aos princípios da entidade, da unidade, da universalidade e da anualidade, os quais são também estabelecidos na Constituição, cujo art. 165 e respectivos parágrafos ainda se referem à obediência ao princípio da exclusividade. Esclareça-se, contudo, que a lei dispõe sobre outro princípio que, em realidade, constitui-se no próprio objetivo do orçamento: o da evidenciação, ou seja, o de revelar com clareza o que o governo pretende realizar para cumprir as suas responsabilidades perante a sociedade. Assim, não é escopo deste livro empreender uma discussão a respeito dos chamados princípios orçamentários em sua totalidade, uma vez que, sobre os quais, já existe abundante literatura que o leitor interessado poderá consultar, mas sim ressaltar a importância, nem sempre abordada pelos estudiosos, de alguns desses princípios, como os que estão sendo e serão mencionados ao longo deste trabalho. A aplicação dos princípios orçamentários é da maior importância, principalmente os três primeiros, porque estão relacionados com a visibilidade orçamentária resgatada pela Constituição e deve ser compreendida em relação a cada orçamento. Assim, o orçamento de um ente federativo ou pessoa de direito público interno deve ser uno, isto é, o ente deve possuir apenas um orçamento, e não mais que um, para dado exercício financeiro, o qual conterá todas as suas receitas e despesas e outros recursos. Mas, se esse ente federativo possuir uma autarquia ou uma fundação, ainda que integre o orçamento consolidado e aprovado pela lei, conforme dispõe o art. 165, § 5º da Constituição da República, o orçamento dessa entidade autônoma, administrativa e financeira, durante a sua execução, estará desligado do orçamento central, tendo sua própria evidenciação, unidade, universalidade e anuidade. Entretanto, como se deseja conhecer o volume de recursos a ser utilizado ou o que foi movimentado (da entidade econômica), por meio dos órgãos de Administração direta, indireta e fundacional seja por meio das fundações ou das autarquias, necessária se faz a consolidação dos balanços dessas entidades, a partir das áreas em que executaram os programas sob as suas responsabilidades. Assim, o preceito constitucional estará sendo devidamente observado5. Modernamente, dizemos que o método orçamentário possui duas características fundamentais: a da abrangência e a da quantificação. Por abrangência, consideramos que nenhuma atividade de um ente público pode prescindir do orçamento. Em outras palavras, o orçamento é um método de trabalho utilizado por todas as unidades que constituem a entidade, no qual essas unidades expressam seus programas de trabalho em termos financeiros. Em linguagem simples, diríamos que, numa boa Administração, nada escapa ao orçamento. A quantificação é a característica segundo a qual todos os ingredientes que entram no orçamento são devidamente expressos em números, ou para exprimir dinheiro, ou para expressar volume de serviços ou de bens a produzir. Pela quantificação, o orçamento entra no rol daqueles métodos que, como a estatística, utilizam as regras da matemática, em forma de matrizes. Com estas características o orçamento torna-se verdadeiro modelo econômico, mediante o qual identificam-se ações, metas fisicamente quantificadas e recursos que são utilizados pelos gestores, como consequências de decisões formadas. São os mencionados centros de responsabilidade. Pelos §§ 1º e 2º e respectivos incisos do art. 2º, a Lei 4.320 distingue certos quadros que integram, isto é, que formam o próprio orçamento, e outros que apenas o acompanham, ou seja, servem para esclarecer melhor a política econômico-financeira e os programas do Governo. Uns e outros, porém, são obrigatórios. Há pouco o que comentar, uma vez que os parágrafos indicam os sumários e quadros que devem estar presentes à lei de orçamento, muitas vezes com os respectivos modelos, a fim de orientar não só os elaboradores dos orçamentos, mas também servir como meio para facilitar o levantamento das estatísticas financeiras. De modo geral, não tem havido maior dificuldade no preenchimento desses quadros, porque as dúvidas que surgem são mais relacionadas à classificação das receitas e das despesas. Assim, resolvido o problema das classificações, o preenchimento dos quadros é mera rotina. Para a demonstração da Receita e da Despesa vigoram atualmente os modelos aprovados pela Portaria STN-MF nº 560, de 14 de dezembro de 2001, que introduziu o manual de elaboração do relatório resumidoda execução orçamentária. Em relação aos fundos especiais, de que trata o § 2º, I, estes terão os seus respectivos planos de aplicação acompanhando o orçamento geral e a própria lei orçamentária6. Sobre estes, faremos comentários aos arts. 71 a 74, no capítulo que lhes é dedicado nesta lei. A estrutura orçamentária atual, de acordo com a Constituição, art. 165, § 5º, está assentada em três orçamentos: fiscal, da seguridade social e de investimentos nas empresas em que o ente federativo ou entidade de administração indireta detenha a maioria do capital. A Lei de Responsabilidade Fiscal introduziu mudanças na Lei de Orçamento, dentre as quais se destaca a Reserva de Contingência, cuja forma de utilização e montante, calculado com base na Receita Corrente Líquida, será estabelecido na Lei de Diretrizes Orçamentárias. É de se destacar que a Lei Orçamentária deverá conter, em meio aos outros e separadamente, dispositivos sobre refinanciamento da dívida pública. Art. 3º. A Lei de Orçamento compreenderá todas as receitas, inclusive as de operações de crédito autorizadas em lei.7 Parágrafo único. Não se consideram para os fins deste artigo as operações de crédito por antecipação de receita, as emissões de papel-moeda e outras entradas compensatórias no ativo e passivo financeiros. O artigo 3º é consequência do artigo anterior e de disposições constitucionais que impõem o princípio da universalidade à receita, e inclusão no conjunto desta, das operações de crédito autorizadas em lei. Tratam-se de operações de crédito vinculadas às despesas orçamentárias – observadas as disposições dos arts. 7º, 43, § 1º, IV e 98, parágrafo único desta lei e do art. 165 e seu § 8º, bem como do art. 167, III, da Constituição. Diferem, como se depreende do exame do parágrafo único, das operações de crédito por antecipação da receita, as quais não alcançam o orçamento, como veremos a seguir. O parágrafo único tem por finalidade fazer excluir da lei de orçamento certos ingressos que nada mais são do que fatos de gestão financeira que, embora previsíveis por antecipação, não constituem receitas na sua real expressão técnica. Dentre eles, cumpre citar: 1. as operações de crédito por antecipação da receita orçamentária (mero fato financeiro e não fonte originária de receita); 2. as emissões de papel-moeda, assunto de política econômica, pertinente exclusivamente ao Governo Federal; 3. outras entradas compensatórias no ativo e passivo financeiros, que se referem apenas aos fatos que repercutem nesses grupamentos de contas, não originários da execução orçamentária. Exemplo: retenções para cauções e consignações à previdência de funcionários e servidores. São, pois, valores financeiros que se movimentam extra orçamentariamente, conforme define o art. 105 desta Lei, e que merecem um controle especial a fim de que não se misturem com os recursos financeiros que são de propriedade da entidade governamental. Art. 4º. A Lei de Orçamento compreenderá todas as despesas próprias dos órgãos do Governo e da Administração centralizada, ou que por intermédio deles se devam realizar, observado o disposto no artigo 2º. Este artigo visa explicitar a compreensão de todas as despesas no orçamento, assim como é um corolário do art. 2º, no que respeita ao princípio da universalidade e conforme estabelece o art. 165, § 5º, da Constituição do Brasil. Conjugando os três artigos anteriores, verifica-se que um orçamento, no Brasil, deve ser realmente universal, ou abrangente, no sentido dos objetos de despesa e das fontes de receita, conforme disposto no art. 2º. Art. 5º. A Lei de Orçamento não consignará dotações globais destinadas a atender indiferentemente a despesas de pessoal, material, serviços de terceiros, transferências ou quaisquer outras, ressalvado o disposto no artigo 20 e seu parágrafo único. O dispositivo traduz a ideologia assente contra as dotações globais, enfatizando outro princípio da teoria clássica do orçamento público: o princípio da especialização ou discriminação da despesa. Se a lei foi vacilante, não tomando um partido definido para considerar o programa como base para a elaboração do orçamento, a atual Portaria Ministerial nº 42, de 1999, por sua vez, vem dar consistência aos programas de trabalho como ações de planejamento e orçamentação de competência das entidades governamentais, de tal modo que os objetos de despesa, como pessoal, material etc., devem agora aparecer sempre vinculados a um programa e nunca de modo isolado e global. Teoricamente, teríamos chegado assim a uma solução para o grau de discriminação dos orçamentos públicos: nenhuma dotação global deverá ser alocada por meio do orçamento para atender indiferentemente a despesas de pessoal, material e outras que deverão contribuir para a concretização de objetivos delineados. Somente assim se poderá fazer avaliações do desempenho gerencial em termos de economicidade, eficiência, eficácia e efetividade. Antes de passar para o art. 6º, é interessante notar que a Lei 4.320/64 aboliu a expressão verba, passando a adotar mais apropriadamente dotação e créditos orçamentários (art. 90). Na verdade, podemos notar uma vacilação de conceito entre os termos: dotação, crédito orçamentário e verba. Como a última está eliminada da terminologia orçamentária brasileira, fixemo-nos nas duas primeiras. Dotação deve ser a medida, ou quantificação monetária do recurso aportado a um programa, atividade, projeto, categoria econômica ou objeto de despesa. Este é o seu sentido. O crédito orçamentário é, então, a autorização por meio da lei de orçamento ou de créditos adicionais para a execução de programa, projeto ou atividade ou para o desembolso de quantia aportada a objeto de despesa, vinculado a uma categoria econômica, e, pois, a um programa. Assim, o crédito orçamentário é portador de uma dotação e esta tem o limite autorizado e quantificado monetariamente. Art. 6º. Todas as receitas e despesas constarão da Lei de Orçamento pelos seus totais, vedadas quaisquer deduções. § 1º. As cotas de receitas que uma entidade pública deva transferir a outra incluir-se-ão, como despesa, no orçamento da entidade obrigada à transferência e, como receita, no orçamento da que as deva receber. § 2º. Para cumprimento do disposto no parágrafo anterior, o cálculo das cotas terá por base os dados apurados no balanço do exercício anterior àquele em que se elaborar a proposta orçamentária do Governo obrigado à transferência. O artigo explicita o princípio da universalidade, estabelecendo a obrigatoriedade de figurar no orçamento, pelas suas respectivas totalidades, as receitas e as despesas que deverão ser realizadas pela entidade pública, sem quaisquer deduções. O orçamento não seria universal se as receitas e despesas nele figurassem com deduções. Isto quer dizer que, mesmo que uma receita seja afetada por uma dedução, a mesma deverá aparecer pelo seu total e a afetação figurar na despesa. Esclareça-se, contudo, que as deduções podem ser do tipo desconto por pagamentos de obrigações por antecipação, o que, evidentemente, deve ser feito como despesa. Para robustecer o que se encontra no caput do art. 6º, a Lei 4.320 passa, de logo, a dar regras sobre classificação das transferências nos §§ 1º e 2º, embora fora do capítulo próprio. A disposição contida no parágrafo 1º é a regra mais lógica e simples. A dúvida poderia surgir em face da nova distribuição de rendas na Constituição do Brasil. São as chamadasrendas partilhadas ou distribuídas como o Fundo de Participação dos Municípios (FPM). A nosso ver, porém, essa movimentação de recursos constitui-se de transferências da União para os Municípios e, assim, cai na regra deste, isto é, para a União são despesas e para os Municípios, que as recebem, constituem receita. O mesmo ocorrerá com as demais movimentações de recursos determinadas pela Constituição, tais como da União para os Estados e destes para os Municípios. Contudo, a Portaria STN-MF nº 163, de 4 de maio de 2001, com as modificações, mediante o seu art. 7º, veda a alocação no orçamento de recursos a título de transferências para unidades integrantes dos orçamentos fiscal e da seguridade social, devendo esses recursos serem alocados diretamente no orçamento da entidade responsável pela execução das ações correspondentes. A vedação mencionada tem o seu respaldo na alegação de evitar duplicidades no momento da consolidação dos balanços das entidades receptoras dos recursos com os da entidade central ou transferidora dos recursos orçamentários. As seguintes questões, entretanto, ficam no ar para as possíveis respostas dos elaboradores da Portaria: (1) É função de Portaria vedar ou proibir alguma coisa? (2) Onde se verifica o perigo da duplicidade na consolidação de balanços, pelo simples fato de se transferir um recurso de uma entidade jurídica para outra? O que precisa ficar claro é que a autarquia, a fundação ou outra entidade qualquer possui características próprias que lhes são deferidas pela lei: personalidade jurídica e autonomia de gestão. As transferências da entidade central para outra descentralizada retratam relações entre entidades jurídicas, ainda que integrantes de uma mesma estrutura organizacional do ente federativo, e não meras transações financeiras que devem ser refletidas pela contabilidade. Este conjunto, na teoria das consolidações, denomina-se entidade econômica, que não possui autonomia de gestão e nem personalidade jurídica. Esta é a diferença. Demais disso, as contas que refletem as relações jurídicas denominam-se contas recíprocas, porque de um lado retratam direitos e, do outro, obrigações, as quais, no momento da consolidação, são eliminadas. O fluxo de informações entre as três esferas de Governo torna hoje obsoleto o parágrafo 2º e consequentemente a regra técnica proposta, frente aos mecanismos estabelecidos pela Constituição vigente, especialmente no que se refere ao FPM. A evolução da técnica de previsão orçamentária pode hoje, perfeitamente, utilizar outros elementos mais atuais e métodos mais aperfeiçoados para o cálculo das transferências. Seria melhor deixar à prática a solução de problemas dessa natureza. Problema da maior importância é o que se revela pela Portaria STN nº 48, de 31 de janeiro de 2007, que estabelece para os Estados, Distrito Federal e Municípios, como decorrência do que dispõe a Lei Federal n. 11.494, de 20 de junho de 2007, os procedimentos contábeis para registro dos recursos destinados ao Fundo de desenvolvimento da Educação Básica e Valorização dos Profissionais da Educação – FUNDEB. No art. 4º da referida Portaria são indicadas como fontes de receitas do FUNDEB, que, em realidade, não são fontes de receitas, mas as receitas das quais sairão as parcelas que constituirão as suas disponibilidades, deverão ser registradas contabilmente pelos seus valores brutos respectivos. Já o art. 6º da mesma Portaria dispõe que os valores percentuais da arrecadação das receitas e aqueles retidos automaticamente das transferências, ambos destinados ao FUNDEB, na forma do art. 4º, serão registrados em conta contábil retificadora da receita orçamentária, criada especificamente para este fim, cujo código será o mesmo da classificação orçamentária, com o primeiro dígito da receita prevista. A proposta orçamentária conterá a classificação própria da receita com a apresentação da previsão bruta e as deduções para a formação do FUNDEB, ficando a despesa fixada com base no valor líquido da receita prevista, conforme está prescrito no § 1º daquele art. 6º, anteriormente referido. Quer dizer, a Portaria atual comete os mesmos equívocos da anterior e é claro e evidente que as orientações nela contidas vão de encontro ao que dispõe esta Lei, no artigo ora em comento, que determina que o orçamento não poderá conter deduções na receita e na despesa, as quais aparecerão na despesa e na receita prevista, respectivamente. Duas situações se apresentam nas operações com o FUNDEB: (1) a contribuição das entidades referidas na legislação própria (Estados, Municípios e Distrito Federal) para a formação do dito fundo, que deve ter o tratamento de investimento ou de uma aplicação financeira temporária (e não de uma simples dedução da receita, como está na Portaria) e que, como tal, deve ser contabilizada como um ativo financeiro, e (2) a retribuição que essas entidades recebem pela quantidade de alunos matriculados no ensino fundamental, que é efetivamente a receita do FUNDEB e, por isto mesmo, deve ser incluída no cálculo da Receita Corrente Líquida. Entretanto, dependendo da quantidade de alunos matriculados no Município, esta receita pode não se efetivar, e, neste caso, será registrada como simples devolução da contribuição, ou se for menor que o valor contribuído, o registro será prejuízo financeiro apurado8. O procedimento da Portaria STN nº 48/2007, acima mencionada, além das distorções nas informações sobre as receitas de transferências constitucionais das quais resultam as contribuições para a formação do FUNDEB, tem causado outros tipos de problemas, dos quais destaca-se aquele relacionado com o cálculo da despesa total do Poder Legislativo, no âmbito do Município, que é feito conforme determinado no art. 29-A, da Constituição da República, mas com base na receita líquida, ou seja, após o desconto dos 15% (quinze por cento), quando, em realidade, deve ser feito sobre o valor bruto das transferências. Art. 7º. A Lei de Orçamento poderá conter autorização ao Executivo para: I – Abrir créditos suplementares até determinada importância, obedecidas as disposições do artigo 43; e II – Realizar em qualquer mês do exercício financeiro operações de crédito por antecipação da receita, para atender a insuficiências de caixa. § 1º. Em casos de déficit, a Lei de Orçamento indicará as fontes de recursos que o Poder Executivo fica autorizado a utilizar para atender à sua cobertura. § 2º. O produto estimado de operações de crédito e de alienação de bens imóveis somente se incluirá na receita quando umas e outras forem especificamente autorizadas pelo Poder Legislativo em forma que juridicamente possibilite ao Poder Executivo realizá- las no exercício. § 3º. A autorização legislativa a que se refere o parágrafo anterior, no tocante a operações de crédito, poderá constar da própria Lei de Orçamento. Constituem os incisos exceções ao princípio da exclusividade, consagrado na Constituição (art. 165, § 8º) e que veda a inclusão na lei orçamentária de matéria estranha ao orçamento, como se praticou no Brasil, antes da reforma constitucional de 1926. Assim, a lei orçamentária poderá conter dispositivos que autorizem o Poder Executivo a abrir créditos suplementares e a realizar operações de crédito, inclusive por antecipação da receita orçamentária. Desse modo, a Lei 4.320 apenas regulamenta o ordenamento constitucional, com as seguintes coordenadas delimitadoras: Abrir créditos suplementares até determinada importância, que fica como uma faculdade do Legislativo conceder. O que a Lei não pode é autorizarcrédito ilimitado, porque está incluído na vedação do inciso VII do art. 167 da Constituição, cujo valor será estabelecido mediante um teto certo e fixo em moeda ou em percentual. Acrescente-se a proibição contida no § 4º, do art. 5º da Lei de Responsabilidade Fiscal, de incluir crédito com finalidade imprecisa ou com dotação ilimitada. A indicação de recursos desde que obedecidas as disposições do artigo 43.Isto significa que o Executivo pode abrir créditos suplementares com indicação dos recursos correspondentes, na forma da linguagem adotada pela Constituição, conforme o inciso V do art. 167. Como o Executivo vai encontrar tais recursos é problema a ser discutido mais adiante, ao tratarmos do mencionado art. 43 desta lei, onde são indicadas as fontes de recursos para atender à abertura de créditos adicionais suplementares e especiais. A autorização legislativa. Pela própria Lei 4.320, conforme o artigo em análise, e pela Constituição, no seu art. 167, inciso V, o Executivo não pode abrir créditos suplementares sem prévia autorização legislativa e, note-se, a mesma regra subsiste para os créditos especiais. Apenas a Lei 4.320, para ganhar tempo e na esteira da Constituição, permite que a autorização para abrir créditos suplementares possa ser dada na própria lei de orçamento. Entretanto, a autorização para a abertura de créditos adicionais suplementares precisa considerar a existência de formas de gestão financeira existentes para utilização de recursos, como decorrência do disposto no § 1º do art. 43, desta Lei. Daí a necessidade de que o dispositivo autorizativo na lei orçamentária contenha um parágrafo que exclua os recursos vinculados a programas especiais de trabalho (fundos especiais) ou a convênios9. No que concerne às operações de crédito por antecipação da receita, as mesmas podem ser realizadas pelos entes federativos em qualquer mês do exercício financeiro, observando-se no entanto a vedação explicitada no art. 167, III, da Constituição vigente e na própria Lei de Responsabilidade Fiscal. O dispositivo em questão dispõe que a operação de crédito mencionada é para atender à insuficiência de caixa. Trata-se, na espécie, de operação financeira de Tesouraria com efeitos no Ativo e no Passivo Circulantes (Financeiros), cujo produto não está vinculado a qualquer despesa ou compromisso. A sua movimentação se faz de forma extraorçamentária. As operações de crédito por antecipação de receita devem ser sempre precedidas de autorização em lei específica ou na própria lei orçamentária. Tais antecipações terão as suas destinações determinadas na LDO, que não deverão ser diferentes do que já está determinado nesta Lei. A própria Lei de Responsabilidade Fiscal já dispõe sobre a destinação da ARO. Outrossim, lembra-se que a realização da ARO sujeita-se às normas da Resolução nº 43/02 do Senado da República. As operações de crédito por antecipação podem ser garantidas com a vinculação de impostos de competência da esfera governamental que a realizar, conforme o disposto no art. 167, IV e § 4º, da Constituição Federal. O dispositivo ora comentado nada mais é que uma exceção ao princípio da exclusividade, que não permite a inclusão de matéria estranha no orçamento, seja na previsão da receita, seja na fixação da despesa. Quanto à matéria estranha proibida, podemos citar alguns exemplos: • instituir tributos; • autorizar reformas administrativas; • promover aumentos de pessoal; • criar cargos ou despesas com pessoal; • promover modificações nas alíquotas tributárias; • transpor recursos de uma dotação orçamentária para outra, excluídos os casos previstos em lei; • abrir ou criar elementos de despesas, programas, projetos ou atividades. O déficit a que se refere o parágrafo 1º só pode ser apurado pela diferença entre as despesas fixadas e as receitas previstas, excluídas as operações de crédito, pois que estas já constituem meios de financiar os déficits orçamentários, como disposto no art. 98, desta lei. Entretanto, é bom que se diga que, por princípio, as leis orçamentárias não devem aprovar orçamentos deficitários. Vale a pena lembrar que um dos meios de se evitar os déficits é atualizar anualmente as bases de cálculo das receitas e estabelecer prioridades para os gastos com base em uma programação, conforme dispõem esta Lei e a Lei de Responsabilidade Fiscal, bem como evitar os desperdícios, os verdadeiros causadores do déficit fiscal. A Lei de Responsabilidade Fiscal, pelo seu teor, procura fazer com que o gestor público se conscientize da necessidade da adoção de uma gestão responsável visando ao equilíbrio das contas governamentais. Assim, nesses termos, fica muito difícil aceitar um déficit sem uma justificativa plausível. Quando as metas fiscais mostrarem tendência de um possível desarranjo nas contas, o gestor governamental providenciará as medidas cabíveis com vistas às correções dos desvios detectados, cujos critérios e parâmetros já deverão estar previstos na LDO, dentre os quais as limitações ou restrições que devem ser impostas às despesas a serem realizadas, conforme o disposto no art. 9º da Lei de Responsabilidade Fiscal. O dispositivo constante do § 2º é altamente moralizador, a fim de evitar que os agentes governamentais ou das entidades de direito público interno incluam em suas propostas estimativas de operações de crédito e de alienação de bens imóveis apenas para constar, para encobrir déficits. Desta forma, tais operações somente se incluirão nos orçamentos quando forem especificamente, umas e outras, autorizadas pelo Poder Legislativo, em forma que juridicamente possibilite ao Poder Executivo realizá-las no exercício. De outra forma, seria engodo para encobrir déficits. As operações de crédito de que tratam os §§ 2º e 3º em análise são as que se classificam entre as receitas de capital e se destinam a atender especificamente a obras e serviços públicos, conforme estabelece o art. 98 desta Lei, com a observação do disposto no art. 167, III, da Constituição da República. Essas operações são orçamentárias e podem ser autorizadas na lei orçamentária ou mediante lei específica, devendo, entretanto, serem observadas as disposições dos arts. 165, § 8º e 167, inciso III da Constituição do Brasil e da Resolução nº 43/2002, do Senado Federal. Conquanto possa existir uma Resolução do Senado da República dispondo sobre limites de OC, a Lei de Responsabilidade Fiscal também impõe restrições para essas operações pelos entes federados, conforme as disposições contidas nos arts. 29 – 40, e respectivos parágrafos, incisos e alíneas, da Lei de Responsabilidade Fiscal, que dispõe pelo seu art. 44 sobre a destinação do produto da alienação de bens imóveis, com a qual não se concorda, ou seja, a aplicação exclusiva do produto em despesas de capital ou em gastos previdenciários, se a lei local assim dispuser, posto que vai de encontro ao que está estabelecido nos arts. 24 e 30, incisos e parágrafos respectivos, da Constituição da República10. Art. 8º. A discriminação da receita geral e da despesa de cada órgão do Governo ou unidade administrativa, a que se refere o artigo 2º, § 1º, incisos III e IV, obedecerá à forma do Anexo 2. § 1º. Os itens da discriminação da receita e da despesa, mencionados nos artigos 11, § 4º, e 13, serão identificados por números de código decimal, na forma dos Anexos 3 e 4. § 2º. Completarão os números do código decimal referido no parágrafo anterior os algarismos caracterizadores da classificação funcional dadespesa, conforme estabelece o Anexo 510. § 3º. O código geral estabelecido nesta lei não prejudicará a adoção de códigos locais. O artigo cuida apenas de aprovar um modelo, cujo preenchimento é dos mais simples. Entretanto, atualmente, a discriminação das receitas e das despesas da União e dos demais entes federativos e respectivas entidades de direito público, interna descentralizadas, e fundações, obedecerá à forma da Portaria STN nº 163/2000, com as suas modificações, as quais introduziram mudanças nas classificações daqueles itens orçamentários. É relevante informar que a mencionada Portaria STN nº 163/2001, no que respeita as Despesas, a par da reestruturação das classificações, introduziu alguns conceitos que, de acordo com o seu artigo 3º, são os seguintes: • As categorias econômicas Despesas Correntes e Despesas de Capital continuam com os mesmos conceitos, ou seja, medir a contribuição do Estado para o desenvolvimento e crescimento da sua economia e das suas atividades em prol da sociedade. Assim, a natureza da despesa se identificará com tipo de aplicação e com o objetivo pretendido. • Grupos de natureza de despesa é conceituado como a agregação de elementos de despesa que apresentam as mesmas características quanto ao objeto de gasto. • Modalidade de aplicação, tem por finalidade indicar se os recursos são aplicados diretamente por órgãos ou entidades no âmbito da mesma esfera de governo ou por outro ente da Federação e suas respectivas entidades descentralizadas, e objetiva, precipuamente, possibilitar a eliminação da dupla contagem dos recursos transferidos ou descentralizados. • O elemento de despesa é conceituado como aquele que tem por objetivo identificar os objetos de gasto, tais como vencimentos e vantagens fixas, juros, diárias, material de consumo, serviços de terceiros prestados sob qualquer forma, subvenções sociais, obras e instalações, equipamentos e material permanente, auxílios, amortização e outros de que a administração pública se serve para a consecução dos seus fins. Em verdade, a sistemática atual de classificação, deixando de lado as discussões em torno dos aspectos formais, facilita, sem dúvida alguma, o seu entendimento com a possibilidade de identificar, por exemplo, a destinação de material de consumo se para as Despesas Correntes, quando tratar-se de manutenção e operacionalização de atividade qualquer, ou para obras e instalações e, portanto, como, Despesas de Capital, além de facilitar a identificação da função, subfunção e programas da administração. A conceituação do elemento de despesa é a mesma desta lei, não tendo havido mudanças no seu entendimento. Entretanto, introduzir a tal modalidade de aplicação com o conceito que lhe foi dado é ir de encontro ao entendimento do princípio da entidade aplicado ao orçamento e à contabilidade, expresso no artigo 1º desta Lei. A legislação pertinente, ou seja, esta Lei – a Lei 4.320 – e a LRF, preservou os códigos locais, sem, entretanto, torná-los obrigatórios. Assim, a adoção de códigos locais para a classificação dos programas, projetos e atividades e itens de despesas (desdobramentos dos elementos da despesa), a serem executados pelas entidades de direito público interno deu vida a estas classificações. Com efeito, o código do programa de trabalho passa a ter uma parte nacional, a que já nos referimos, e outra local, relativa aos respectivos projetos e atividades em cada área de Governo. O código local, que era indefinido na redação original da Lei 4.320/64, passa a ter consistência, significação e função definida com a Portaria nº 163/2001. Capítulo II DA RECEITA Art. 9º. Tributo é a receita derivada instituída pelas entidades de direito público, compreendendo os impostos, as taxas e contribuições nos termos da Constituição e das leis vigentes em matéria financeira, destinando-se o seu produto ao custeio de atividades gerais ou específicas exercidas por essas entidades. Este capítulo trata da receita das entidades de direito público interno, centralizadas e descentralizadas, definidas no art. 1º desta Lei, uma vez que estas últimas também se sujeitam às normas da Lei 4.320. A lei não define receita, limitando-se a determinar e estabelecer uma classificação econômica, sobre a qual falaremos nos artigos próprios. A receita, na Administração Pública, se origina tanto em decorrência do poder de império da entidade de direito público interno, como do poder de gerir seu patrimônio econômico-administrativo. Podemos, desde logo, definir receita nos seguintes grupos: a) em sentido lato, como um conjunto de entradas financeiras no Patrimônio, oriundas de fontes diversificadas, conquanto possam existir reivindicações de terceiros sobre alguns desses valores; b) em sentido estrito, como um conjunto de recursos financeiros obtidos de fontes próprias e permanentes, que integram o Patrimônio na qualidade de elemento novo, que lhe produzem acréscimos financeiros, sem, contudo, gerar obrigações, reservas ou reivindicações de terceiros (Passivos). Essas receitas resultam de leis, contratos, convênios, de tributos de lançamento direto e outros. Isto significa que operações de crédito e outras das quais, por exemplo, possam surgir obrigações com terceiros, e até alienações de bens que envolvam recuperação do custo de aquisição ou valor atual11, não serão consideradas receitas propriamente, ou seja, no seu conceito real, de acordo com a conceituação mencionada, ainda que estejam incluídas no orçamento. O capítulo inicia-se com uma definição de tributo, uma das fontes de recursos financeiros com que conta o Poder Público. Trata-se de fonte de receita de competência exclusiva da União, dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal, tal como definida na Constituição do Brasil (Ver cap. Do sistema tributário nacional, arts. 145/149-A) e no Código Tributário Nacional (Lei nº 5.172, de 25 de outubro de 1966). A conceituação contida neste artigo não nos parece boa, prendendo-se a uma classificação sem maior rigor científico. Refere-se ao caso específico do tributo, prestação pecuniária compulsória, em moeda corrente ou cujo valor nela se possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada. De conformidade com as disposições do art. 5º do Código Tributário Nacional, os tributos classificam-se em impostos, taxas e contribuição de melhoria, sabendo-se que: Imposto é um tributo cuja obrigação tem por fato gerador uma situação independente de qualquer atividade estatal específica, relativa ao contribuinte. As taxas pressupõem uma atividade governamental, seja em função do exercício regular do poder de polícia, seja pela prestação de serviço público, específico e divisível, efetivamente prestado ao usuário ou posto à sua disposição. A contribuição de melhoria, por fim, é o tributo decorrente de obras públicas, conforme mandamento constitucional. Entretanto, como decorrência da aplicação do art. 149, parágrafos e incisos respectivos, da Constituição da República, são classificados como tributos: a) as contribuições sociais, como o PASEP, PIS, COFINS, CPMF e a CONTRIBUIÇÃO SOCIAL SOBRE O LUCRO LÍQUIDO, bem como as contribuições econômicas como a CIDE, por exemplo, todas de competência exclusiva da União; b) as contribuições previdenciárias instituídas pelos Estados, Distrito Federal e pelos Municípios, cobradas dos seus servidores, para o custeio, em benefício destes, do regime previdenciário de trata o art. 40, da Constituição da República, cuja alíquota nãoserá inferior à da contribuição dos servidores titulares de cargos efetivos da União. O art. 149-A, da Constituição da República, dispõe que os Municípios e o Distrito Federal poderão instituir contribuição, na forma das respectivas leis, para o custeio do serviço de iluminação pública, observado o disposto no art. 150, I e III, daquela Constituição. Conforme o disposto neste artigo em comento, a destinação do produto dos tributos parece, à primeira vista, ferir as disposições legais referentes à Unidade de Tesouraria de que trata o art. 56 desta lei. A lei, contudo, pretendeu objetivo diferente. Como regra geral, o produto da arrecadação dos tributos, digamos, de natureza fiscal (os impostos, as taxas e a contribuição de melhoria), destina-se tanto ao custeio de atividades gerais, quanto ao de atividades específicas exercidas pelo Poder Público. Não há que se falar em vinculação, quando o produto da arrecadação se destinar às atividades gerais da entidade. Aliás, é preciso entender que qualquer receita já nasce vinculada, inclusive os tributos de modo geral. Explica-se: a receita, na sua expressão real, independentemente da sua origem, é vinculada naturalmente aos objetivos gerais da entidade. A vinculação específica só ocorrerá na hipótese de destinação parcial ou total do produto da arrecadação desses tributos a atividades específicas, estabelecidas em lei, conforme art. 71 desta lei, que trata da constituição dos Fundos Especiais e, neste caso, há que se considerar o disposto no inciso IV do art. 167 da Constituição do Brasil. Com referência às contribuições sociais e econômicas (tributos extrafiscais), acima mencionadas, as destinações estarão determinadas nas respectivas leis institucionalizadoras, não podendo, em hipótese alguma, serem desviadas para algo diferente daquilo que a lei lhe determinara. Em realidade, as atividades às quais se destinarão constituem-se em programas especiais de trabalho, conforme expressos nos arts. 71 a 74 desta Lei. O art. 148, incisos e parágrafo único, da Constituição da República, dispõe sobre os empréstimos compulsórios, de competência exclusiva da União, cujo produto se destina: a) a atender a despesas extraordinárias, decorrentes de calamidade pública, de guerra externa ou sua iminência; b) a investimento público de caráter urgente e de relevante interesse nacional, observado o disposto no art. 150, III, b, também da Constituição da República; A aplicação dos recursos provenientes de empréstimo compulsório será vinculada à despesa que fundamentou sua instituição. A Lei de Responsabilidade Fiscal, além de se ocupar com a instituição, previsão e efetiva arrecadação de todos os tributos de competência da entidade federativa, estabelece, pela Portaria Interministerial nº 163/2001, já citada, a classificação das receitas governamentais. Esclareça-se que o ente federativo não deve se limitar à sua receita tributária, conquanto esta possa representara sua fonte principal, mas deverá estender-se às demais para que as metas fiscais sejam alcançadas sem solução de continuidade. A referida LRF, pelo seu art. 2º, IV, introduziu o conceito de Receita Corrente Líquida (RCL), que é o somatório de todas as receitas correntes deduzidas: a) as transferências constitucionais, conforme disposto na Seção VI – Repartição das Receitas Tributárias, e ainda as mencionadas nos incisos I e II do art. 195 e o art. 239 da Constituição; b) a contribuição dos servidores para o custeio do seu sistema de previdência e assistência social e as receitas provenientes da compensação financeira mencionada no § 9º, art. 201 da Constituição Federal. O § 1º, entretanto, determina a inclusão no cálculo da RCL os valores pagos e recebidos em decorrência da LC nº 87, de 13 de dezembro de 1996, e do fundo previsto pelo art. 60 do ADCT. Conquanto esteja elencada como uma espécie tributária, em razão da obrigatoriedade da sua cobrança e pagamento, cabe salientar a nossa estranheza com relação às contribuições previdenciárias dos servidores posto que, reconhecida como entrada financeira extraorçamentária na entidade central ou outra como autarquias, fundações, desde que não seja o regime próprio de previdência, não há como deduzi-la para a apuração da Receita Corrente Líquida. Cabe aqui, entretanto, um esclarecimento, com respeito ao FUNDEB: tem- se dito que esta receita não é considerada para o cálculo da RCL, porque estar-se-ia contando em duplicidade. Isto não é verdade. O FUNDEB é a retribuição que os Estados e os Municípios auferem em razão da quantidade de alunos matriculados no ensino fundamental. Em realidade, pode acontecer que uma dessas entidades receba a retribuição juntamente com a parcela de contribuição que corresponde às retenções de 20% das transferências constitucionais a que têm direito. Esta diferença é o que se considera a receita do FUNDEB. Mas, também, podem não recebê-la, ou seja, a contribuição pode retornar sem o FUNDEB agregado, assim como recebê-la diminuída e, neste caso, a entidade sofrerá um prejuízo, que deve ser contabilizado extraorçamentariamente como uma diminuição do Patrimônio Líquido1213. As previsões das receitas observarão as normas técnicas e legais, além de observarem os efeitos das alterações na legislação, da variação do índice de preços, do crescimento econômico ou de qualquer outro fator relevante e serão acompanhadas de demonstração de sua evolução nos últimos três anos, da projeção para os dois seguintes àquele a que se referirem, e da metodologia de cálculo e premissas utilizadas. As previsões poderão ser corrigidas pelo Poder Legislativo desde que haja comprovação de erro ou omissão de ordem técnica ou legal. Esta disposição decorre do mandamento constitucional contido no art. 166, § 3º, III, a e b, da Constituição da República. Geralmente, as previsões de receitas e despesas são feitas tomando-se por base o conceito de caixa única, sem, contudo, considerar as peculiaridades das atividades da organização. A metodologia que se mencionará é mais fácil de ser aplicada no âmbito dos Municípios, o que não significa que não possa ser empregada em outras esferas governamentais, inclusive nas unidades descentralizadas. Ao invés de se projetar receitas no conceito da caixa única, o orçamentarista classificará as atividades da organização governamental nos seguintes grandes grupos, quais sejam: 1. Grupo de atividades geradoras de receitas, sem dependência a gastos; 2. Grupo de atividades geradoras exclusivamente de despesas e/ou custos e produtos, sem relação com receitas; 3. Grupo de atividades geradoras de receitas e despesas e/ou custos e produtos. O emprego desta metodologia, sem dúvida alguma, permitirá um orçamento mais gerencial e facilitará a identificação de atividades que podem ser autossuficientes ou aquelas que dependem de recursos financeiros para ter condições de funcionamento. Medida da maior importância da LC 101/2000, conforme o disposto no art. 12, § 3º, é a que se refere a colocação à disposição dos demais Poderes e do Ministério Público, no mínimo 30 (trinta) dias antes do prazo final para o encaminhamento de suas propostas orçamentárias, os estudos e as estimativas das receitas para o exercício subsequente, inclusive da receita corrente líquida, e as respectivas memórias de cálculo. Até 30 dias após a publicação da lei de orçamento, as receitas serão desdobradas em metas bimestrais de arrecadação, explicitando em separado as medidas cabíveis de combate à evasão e à sonegação, da quantidade e valores de ações ajuizadas para a cobrança da dívida ativa, bemcomo da devolução dos créditos tributários passíveis de cobrança administrativa. A renúncia à receita oriunda de anistia, remissão, subsídio, crédito presumido, concessão de isenção em caráter não geral, alteração de alíquota ou modificação de base de cálculo que implique redução discriminada de tributos ou contribuições, também é alvo de norma por parte da Lei de Responsabilidade Fiscal – art. 14 e §§ –, ou seja, a concessão ou ampliação de incentivo ou benefício de natureza tributária deverá estar acompanhada de estimativa do impacto financeiro no exercício em que deva iniciar sua vigência e nos dois seguintes, atender ao disposto na Lei de Diretrizes Orçamentárias e a pelo menos uma das seguintes condições: 1. demonstração pelo proponente de que a renúncia foi considerada na estimativa de receita da Lei Orçamentária, que não afetará as metas fiscais; 2. estar acompanhada de medidas de compensação, no período mencionado, por meio do aumento da receita, proveniente da elevação de alíquotas, ampliação da base de cálculo, majoração ou criação de tributo ou contribuição. Acrescente-se que, se o ato de concessão ou ampliação do incentivo ou benefício de que trata o artigo 14 da LC 101/2000 decorrer da condição contida no inciso II, o benefício só entrará em vigor quando implementadas as medidas referidas no mencionado inciso. Com as mudanças nos procedimentos de contabilidade no reconhecimento da receita, independentemente da origem, em razão da adoção do regime de competência, cabe aqui alertar a Administração dos entes federativos e das suas entidades descentralizadas, como autarquias e fundações, para a necessária organização ou reorganização das rotinas que levam à integração da Contabilidade com os demais setores da organização, uma vez que não podemos pensar que a Contabilidade atue como uma atividade isolada14. Art. 10. VETADO. (Ver Constituição do Brasil) Art. 11. A receita classificar-se-á nas seguintes categorias econômicas: Receitas Correntes e Receitas de Capital. § 1º. São Receitas Correntes as receitas tributárias, de contribuições, patrimonial, agropecuária, industrial, de serviços e outras e, ainda, as provenientes de recursos financeiros recebidos de outras pessoas de direito público ou privado, quando destinadas a atender despesas classificáveis em Despesas Correntes. § 2º. São Receitas de Capital as provenientes da realização de recursos financeiros oriundos de constituição de dívidas; da conversão em espécie, de bens e direitos; os recursos recebidos de outras pessoas de direito público ou privado destinados a atender despesas classificáveis em Despesas de Capital e, ainda, o superávit do Orçamento Corrente. § 3º. O superávit do Orçamento Corrente, resultante do balanceamento dos totais das receitas e despesas correntes, apurado na demonstração a que se refere o Anexo 1, não constituirá item da receita orçamentária. § 4º. A classificação da receita obedecerá ao seguinte esquema n.14: RECEITAS CORRENTES Receita Tributária Impostos Taxas Contribuições de Melhoria Receita de Contribuições Receita Patrimonial Receita Agropecuária Receita Industrial Receita de Serviços Transferências Correntes Outras Receitas Correntes RECEITAS DE CAPITAL Operações de Crédito Alienação de Bens Amortização de Empréstimos Transferências de Capital Outras Receitas de Capital O artigo apresenta a classificação da receita orçamentária, hoje regulada pela Portaria nº 163, de 4 de maio de 2001, com as modificações que lhes foram introduzidas e já mencionadas nos dispositivos anteriores, a qual se visualiza no anexo I desta Lei. Ao contrário da despesa que sempre foi motivo de preocupação por parte dos técnicos de orçamento na busca de um esquema capaz de refletir com exatidão as transações governamentais, a classificação da receita, com as características originárias que lhe deu a Lei 4.320/64, não chegou a sofrer grandes modificações, tal como se vê a seguir: RECEITAS CORRENTES Receita Tributária Impostos Taxas Contribuições de Melhoria Receitas de Contribuições Receita Patrimonial Receita Agropecuária Receita Industrial Receita de Serviços Transferências Correntes Outras Receitas Correntes RECEITAS DE CAPITAL Operações de Crédito Alienação de Bens Amortização de Empréstimos Transferências de Capital Outras Receitas de Capital Esta nova classificação visa a possibilitar uma perfeita identificação da origem dos recursos orçamentários, bem como estabelecer coerência entre as rubricas utilizadas nos orçamentos públicos e nas contas nacionais, permanecendo no entanto a dicotomia básica inicial: operações correntes e operações de capital, como se vê no esquema seguinte: • Operações Correntes 1. Receitas Correntes 3. Despesas Correntes • Operações de Capital 2. Receitas de Capital 4. Despesas de Capital As operações correntes dizem respeito a todas aquelas transações que o Governo realiza diretamente ou por meio das suas ramificações, ou melhor, por intermédio dos seus órgãos e das suas entidades de Administração indireta (autarquias etc.) e de cujo esforço resultam as condições de funcionamento de todas as suas atividades, bem como podem resultar acréscimos financeiros no seu patrimônio econômico- administrativo. Sob a ótica econômica, entretanto, as operações correntes, por não constituírem bens de capital, ao se converterem em moeda, se consomem no mercado. Exemplo clássico é o dos vencimentos dos funcionários que, recebidos, entram de imediato na corrente ou fluxo do mercado, não produzindo algo materializável para o patrimônio governamental, conquanto possam contribuir para o crescimento da economia e manutenção e operacionalização de todas as atividades da organização governamental. Ainda exemplificando: as dotações para atender ao professorado serão classificadas em despesas correntes pois nada de material será construído, não obstante a importância do ensino. O dinheiro pago a este grupo profissional se esvai diretamente no mercado. Daí a importância da classificação funcional-programática que indica, de imediato, o setor em que o Governo apropria suas despesas. No campo da receita, o imposto arrecadado é classificado como uma receita corrente, porque ele não se origina de qualquer bem de capital, mas da obrigação social dos cidadãos de contribuírem para a manutenção da coisa pública; e o produto da sua arrecadação não está vinculado a destinações específicas, ressalvadas as disposições contidas no inciso IV do art. 167 da Constituição do Brasil. Sob o ângulo patrimonial, as operações correntes (receitas e despesas correntes) têm semelhança com aquelas operações das empresas privadas que se refletem por diferença sobre o patrimônio e aparecem na demonstração dos resultados. O importante na espécie, porém, é o ângulo funcional, segundo o qual grande volume das despesas correntes – pagamento a professores, médicos, engenheiros, enfermeiros, odontólogos etc. – constitui benefícios às populações e, em contrapartida, a receita fornece os recursos financeiros para tais pagamentos. São correntes as operações que traduzem obtenções de recursos financeiros classificados como receitas correntes e que se destinem, dentre outras, às aplicações de manutenção e funcionamento das atividades meio e fim, classificadas como despesas correntes. Entretanto, é bom que, no momento de classificar e registrar as operações tidas como correntes do exercício em que se originam, sejam destacadas aquelas que se classificam como de exercícios anteriores, de acordo com o que estabelece o art. 37 desta Lei. Por sua vez, as operações de capital são todas as demais.Há uma tendência, também de natureza contábil, para considerar como operações de capital aquelas que dão em resultado uma movimentação de registro no ativo e no passivo. Assim, a aquisição e a venda de um prédio são operações de capital, porque no primeiro caso aumenta o Ativo Imobilizado e sai dinheiro e/ou aumenta a exigibilidade, se o prédio foi comprado em parte a prazo; no segundo caso, há diminuição do Ativo Imobilizado e entrada de dinheiro ou de crédito, se a venda se fez em parte a prazo. Em resumo, são operações de capital: 1. as que provenham da alienação de um bem de capital; 2. as que dêem em resultado um bem de capital; 3. as que estejam, na lei, definidas como operações de capital (obtenção de empréstimos – receita; concessão de empréstimos – despesas; recebimento das amortizações de empréstimos concedidos – receita); 4. as que estejam, por ato do Poder Público, vinculadas à constituição ou à aquisição de bens de capital (transferências que a entidade concedente vincula a um bem de capital). Como se vê, os critérios para distinguir as operações correntes das de capital são ora de natureza econômica, ora administrativa ou legal, inclusive as relacionadas com recursos transferidos, desde que a entidade beneficente fixe no que a entidade beneficiada deva empregar o dinheiro. Sob a ótica da contabilidade, entretanto, independentemente da natureza, do objeto e do objetivo pretendidos, as operações serão evidenciadas pelos efeitos produzidos na estrutura do patrimônio da entidade governamental. As operações correntes se destinam à manutenção e ao funcionamento de serviços legalmente criados. São essencialmente operacionais. Conquanto não sejam classificadas como Despesas Correntes, as Depreciações calculadas sobre os bens tangíveis refletem as respectivas contribuições para a manutenção das atividades meio e fim. As operações de capital têm por finalidade concorrer para a formação de um bem de capital, citando-se como exemplo as obras de asfaltamento, as construções de rodovias, de escolas, de hospitais e outras. Mas também contribuem para a manutenção e operacionalização das atividades meio e fim da entidade governamental. Como vimos, a Lei 4.320, pelo art. 11, e a LRF, para fugir ao teoricismo inútil, expressam-se pelas categorias econômicas que têm um conteúdo, ora administrativo, ora econômico. Isto simplificou a prática, pois, ao determinar a constituição das Receitas Correntes a legislação simplesmente evitou qualquer conceito doutrinário e especificou quais são os itens que as constituem: 1. receita tributária, no âmbito de cada esfera governamental, é aquela oriunda da sua competência de tributar, conforme o disposto na Constituição; 2. receita de contribuições é a resultante de contribuições sociais e contribuições econômicas; 3. receita patrimonial refere-se ao resultado financeiro da fruição do patrimônio, seja decorrente de bens mobiliários ou imobiliários, seja advinda de participação societária, seja oriunda de superávits apurados nas operações de alienações de bens patrimoniais, quando a recuperação do valor atual do bem alienado é pelo seu valor total. Neste caso, em particular, quando a recuperação é apenas parcial, a sua diferença negativa é levada a débito da conta de apuração do resultado econômico do exercício como um valor extraorçamentário; 4. receita agropecuária é a resultante das atividades ou explorações agropecuárias, envolvendo as produções vegetal e animal e seus derivados, bem como atividades de beneficiamento ou transformações desses produtos, em instalações existentes nos próprios estabelecimentos; 5. receita industrial é a proveniente de atividades industriais, definidas como tais pela Fundação IBGE e exploradas diretamente pelo ente governamental; 6. receita de serviços é a derivada de prestação de serviços, de comércio, transportes, comunicações, serviços hospitalares etc.; 7. receitas transferidas são as provenientes de recursos financeiros recebidos de outras pessoas de Direito público ou privado, quando destinadas a atender a despesas de manutenção e funcionamento, conforme condições estabelecidas pela entidade repassadora, ou pela própria administração da entidade, de acordo com suas necessidades. Estas receitas, pelo disposto neste parágrafo, destinam-se a atender a despesas classificáveis em Despesas Correntes. Por outro lado, os recursos recebidos de outras pessoas de Direito público ou privado como transferências de capital, são destinados a atender a despesas classificáveis em Despesa de Capital. Para exemplificar: se um Prefeito recebe da União uma dotação para construção de um edifício onde será instalada uma unidade operacional de ensino, esta dotação será classificada como Receita de Capital – Transferência de Capital, por isso que ela deverá ser aplicada em um bem de capital, uma construção. O círculo está aparentemente fechado. Assim, a classificação obedece à sua destinação, o que dificulta sobremaneira a gestão orçamentária e a programação governamental. 8. outras receitas correntes são as provenientes de multas, juros de mora, indenizações e restituições, receita da cobrança da dívida ativa e outras. 9. Ainda o superávit do Orçamento Corrente. Pelo § 3º, a lei pretende que se confrontem as somas de todas as receitas correntes e de todas as despesas correntes. Desse confronto, o resultado positivo constitui o que a lei chama de superávit do Orçamento Corrente. Este confronto é apresentado em uma demonstração sob o nome de Anexo 1, que, aliás, é muito interessante, porque quase sempre põe em foco o fato de que os entes governamentais possuem superávit no orçamento corrente. Uma coisa parece contraditória: é que a lei classifica este superávit como receitas de capital, conforme comentamos acima, mas neste parágrafo diz que tal superávit não constituirá item da receita orçamentária. Na verdade, não há contradição. Apurada a diferença no conjunto das operações correntes, esta diferença é adicionada às Receitas de Capital, não constituindo, portanto, recurso orçamentário, pois, de outra forma, estaria sendo computada duas vezes como receita, no orçamento corrente e no orçamento de capital. Significa apenas que parte do orçamento corrente passa a financiar o orçamento de capital. O Anexo 1 apenas indica a tendência de o orçamento das operações correntes produzir ou não superávit, ou se será equilibrado ou deficitário. Na primeira hipótese, o saldo positivo das operações correntes será adicionado às Receitas de Capital, a fim de que estas atendam às Despesas de Capital. Não se trata de uma nova fonte de receita. Não serve, pois, para abertura de créditos suplementares ou especiais. Em caso contrário, isto é, se a diferença entre o total das receitas correntes for menor que o das despesas correntes, estaremos frente a Déficit do Orçamento Corrente, que será escriturado no campo das despesas de capital. Na prática, podem surgir problemas sérios. É claro que a Receita Corrente pode financiar Despesas de Capital por meio do superávit do Orçamento Corrente. Pode a Receita de Capital financiar Despesa Corrente? Não é o caso normal, nem aconselhável. As Receitas de Capital, por sua vez, são as que provêm: I. da realização de recursos financeiros oriundos de constituição de dívidas. Todo empréstimo vinculado a obras e serviços públicos é uma receita de capital. Entretanto, a Constituição da República, pelo seu art. 167, III, que introduziu a regra de ouro proíbe a realização de operações de crédito que
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