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Campina Grande – PB Novembro de 2021 Faculdade Rebouças de Campina Grande Graduação em Medicina Veterinária Disciplina: Terapêutica Veterinária Professor: Helder Camilo FITOTERAPIA APLICADA NA MEDICINA VETERINÁRIA Gabrielly Soares da Silva; Natanael Francisco dos Santos; Thallya Silva dos Santos; Thaysa Karolina de Barros Neves; Thiago Bernardo Alves. RESUMO O uso de plantas medicinais vem aumentando gradativamente devido ao alto custo dos fármacos industrializados, o difícil acesso da população à assistência médica veterinária, e também a incidência do uso de produtos de origem natural. Por isso, torna-se necessário saber seus possíveis efeitos com a finalidade de estabelecer sua utilização correta. Diante da escassez de pesquisas na área da medicina veterinária, este trabalho tem a finalidade de evidenciar a importância da fitoterapia como forma de tratamento terapêutico para animais. Foi realizado um levantamento bibliográfico referente ao uso de fitoterápicos e da maconha (Cannabis Sativa L.) na medicina veterinária. Com isso, foi possível concluir que este método é considerado um tratamento bastante eficaz, acessível e de baixo risco. Palavras-chave: Fitoterapia, Veterinária, Cannabis. 1. INTRODUÇÃO A fitoterapia é a ciência que utiliza plantas para o tratamento e a prevenção de várias doenças. Essa terapia medicinal tem evoluído ao longo dos tempos, desde o período pré- histórico até as formas farmacêuticas mais conhecidas e vem se consolidando muito na medicina veterinária tanto na clínica de animais de companhia quanto na de animais de produção, colaborando na economia principalmente na região do Nordeste brasileiro. Esta modalidade fitoterápica, comparada a outros tipos de medicamentos, mostra uma ação mais lenta e mais profunda ocasionando um processo de cura mais vantajoso para o paciente e contribuindo para que o corpo elimine e se desintoxique, não havendo agressão ao meio ambiente, não oferecendo perigo ao homem e cuidando também do problema do paciente mantendo um baixo índice de toxicidade e de efeitos colaterais. Na medicina veterinária, o uso da Cannabis Sativa L. (maconha) em tratamentos vem sendo discutido e estudado uma vez que são comprovadas as suas ações terapêuticas. Existem relatos favoráveis a respeito dos efeitos benéficos do canabidiol (CBD) no tratamento da dor, doenças dermatológicas, doenças imunomediadas, osteoartrite, câncer (KOGAN et al., 2019), glaucoma, epilepsia e raiva em cães (VIANA 2020). Na produção animal, pode-se observar o uso das sementes de maconha como suplementação alimentar de frangos de corte e de bovinos, ajudando em seu desenvolvimento e no ganho de peso. Dessa forma, o presente estudo teve como objetivo evidenciar o uso da fitoterapia como vantajoso e necessário, visto que o tratamento com plantas medicinais se mostra eficiente, de baixo risco e também acessível, pois a natureza oferece gratuitamente estes recursos para cura e tratamento de diversas patologias presentes na área da medicina veterinária. Além de trazer informações sobre o uso da Cannabis Sativa L. na terapêutica para animais de estimação e de produção. 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.1. História da Fitoterapia A palavra fitoterapia vem do grego Phytos therapeia, que significam planta e terapia respectivamente, e está relacionada ao estudo das plantas medicinais e suas aplicações na cura das doenças (UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUÍZ DE FORA - UFJF, 2016). A fitoterapia é uma das práticas terapêuticas mais antigas da humanidade, tendo sua origem tanto no conhecimento popular, quanto na experiência científica. A evidenciação das propriedades curativas das plantas e suas utilizações ocorreu através da intuição e da observação de animais doentes que buscavam a cura através das plantas (OLIVEIRA & SILVA, 1994). No Brasil, a utilização das plantas no tratamento de enfermidades teve influências das culturas indígena, africana e europeia e tem evoluído ao longo dos tempos. A indústria farmacêutica veterinária teve seu início entre 1980 e 1990 e nesse período ocorreram grandes fusões e aquisições vista a necessidade de novos produtos no mercado como vacinas e medicamentos veterinários (WAACK, 2000; SILVA, 2009). Entretanto, apesar do país ter a maior biodiversidade genética vegetal do mundo, há no mercado farmacêutico apenas 1% de medicamentos fitoterápicos para uso animal. Cerca de trezentas plantas são consideradas no depósito terapêutico nacional, sendo reconhecidas como propriedades medicinais. Ainda assim, há uma desvalorização e não aceitação como uma possibilidade viável para a terapêutica animal (LORENZI; MATOS, 2002). Há meio século ocorre a predominância do uso da medicina tradicional juntamente com os remédios sintéticos. Porém, as pessoas tem voltado a colocar sua atenção nos medicamentos naturais e isso traz uma consciência mais ecológica, com o equilíbrio do homem com o meio, havendo menos efeitos tóxicos dos remédios, e estes sendo substituídos pela fitoterapia comprovada (BALBACH et al., 1993). No dia 10 de agosto de 2021, entrou em vigor a 2ª edição do Formulário de Fitoterápicos da Farmacopeia Brasileira (FFFB), divulgada pela ANVISA, contendo a nova lista de produtos tradicionais fitoterápicos passíveis de notificação, contando com linha de produção, medicamento e especificação. 2.2. Fitoterapia na Medicina Veterinária Na medicina veterinária, a utilização de plantas medicinais está presente no tratamento e prevenção das enfermidades rotineiras na criação de animais, sendo uma atividade que passa entre várias gerações e vem sendo utilizada cada vez mais, principalmente na zona rural. A utilização das plantas medicinais na terapêutica veterinária foi marcada como uma opção de tratamento segura e de baixo custo. Considerando a criação extensiva, as complicações no manejo do rebanho, como a ocorrência de várias doenças, são vistas como um dos fatores que impedem o crescimento da produção. Há também o surgimento de ectoparasitas e endoparasitas que costumam contaminar os rebanhos e são difíceis de controlar, causando queda na produtividade, atrapalhando a venda de produtos e causando a morte prematura de animais. O controle de doenças e parasitas, em sua grande maioria, é realizado por meio de tratamentos químicos utilizando medicamentos altamente tóxicos e isso, além de aumentar os custos de produção, também expõe a saúde animal, humana e ambiental. Portanto, os fitoterápicos podem desempenhar um papel importante, principalmente quando são solicitados produtos orgânicos nas propriedades (LIMA et al., 2006). Já em relação a utilização em cães e gatos, buscando a diminuição de efeitos colaterais provocados pela alopatia e no anseio de novas técnicas, os tutores conseguem encontrar no mercado diferentes produtos e bons profissionais na área da medicina veterinária (MOLIN, 2006). Os medicamentos à base de maconha revelam-se seguros (DINIZ-OLIVEIRA, 2019), porém, a intoxicação desses animais de estimação pode ocorrer em casos de ingestão acidental de alimentos que contém essa planta em sua composição, ocorrendo com maior frequência em canídeos (FITZGERALD, 2013). A procura pela fitoterapia muitas vezes está associada ao fato de que os produtos da indústria farmacêutica são passíveis a causar efeitos indesejáveis, além de serem de alto custo, o que leva também a prejuízos em decorrência do uso excessivo dos medicamentos. Esse recurso terapêutico atualmente se apresenta como alternativa de cura menos agressiva ao paciente e viável para os animais e também para a maioria das pessoas. A fitoterapia veterinária possui a mesma aplicabilidade que a humana e pode ser usada no tratamento de várias doenças nas formas farmacêuticas de banho, compressas, óleos, inalatórioe creme (VÉGAS, 2007). Na medicina veterinária, os estudos sobre produtos fitoterápicos ainda são poucos desenvolvidos e para que haja a comprovação da eficácia de uma planta, é de grande importância a validação científica dos fitoterápicos na etapa inicial obrigatória para a utilização correta de plantas medicinais ou de seus compostos ativos. A ideia de que os tratamentos com plantas é somente fazer um chá de folhas, tende a fazer com que as pessoas utilizem partes da planta sem o princípio ativo, quantidade exagerada ou insuficiente, podendo ocasionar insucesso no tratamento ou indisposição passageira, tendo em vista que as plantas podem apresentar toxicidade. É extremamente importante a conscientização de que os fitoterápicos são medicamentos e, portanto, é necessário estabelecer critérios para a sua comercialização e consumo (MARINHO et al., 2007). Podemos citar muitas vantagens na utilização da fitoterapia, como a relação do custo e benefício, a acessibilidade e o resultado eficaz e menos agressivo. Além disso, obtém-se a vantagem de evitar a resistência aos fármacos, já que existe a possibilidade de empregar novas substâncias na quais os patógenos não tiveram contato. 2.3. Cannabis Sativa L. (maconha) na Medicina Veterinária Cannabis é uma planta popularmente conhecida como maconha, originária da Ásia e pertencente à família Cannabaceae. O uso medicinal do canabidiol (CBD), substância localizada na maconha, foi regulamento em 2015, pela a ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). O assunto sobre a utilização da maconha medicinal ainda é muito restrito e polêmico pela população. Na terapêutica, a utilização da maconha medicinal tem sido ampliada e vem gerando discussões prósperas sobre o tema, tendo em vista que as ações terapêuticas comprovadas passaram a ser objeto de interesse por parte das Academias Científicas e Centros de Pesquisa (PERNONCINI, 2014). No Brasil, o conhecimento sobre a maconha medicinal na área da medicina veterinária ainda é escasso, ao contrário da medicina humana, que a utilização de canabinoides com finalidade terapêutica já é um assunto popularmente mais comentado. Na medicina veterinária, os extratos de Cannabis sativa L. já são prescritos. Gyles (2016) descreveram o canabidiol como uso terapêutico em animais de estimação, para tratamentos de glaucoma, de processos inflamatórios em geral e também de doenças respiratórias. Existem relatos favoráveis a respeito dos efeitos benéficos dessa substância no tratamento da dor, doenças dermatológicas, doenças imunomediadas, osteoartrite, câncer (KOGAN et al., 2019), glaucoma, epilepsia e raiva em cães (VIANA 2020). Na produção animal, as sementes de maconha podem ser utilizadas como suplementação alimentar de frangos de corte, mostrando eficiência no desenvolvimento da ave (VISPUTE, 2019). Nos bovinos, foi constatado melhora no ganho de peso do animal (HESSLE, 2008). As formas de utilização podem variar entre pomadas, colírios, extratos administrativos por via oral, ou utilização das sementes como ração o (LANDA, 2016). A administração da maconha realizada de forma acidental, sem orientação técnica e qualificada e por descuido dos tutores pode ocasionar intoxicação, principalmente em cães e gatos. Existe uma legislação que contempla a necessidade real dos pacientes terem acesso a esses medicamentos. Portanto, para que não haja efeitos indesejados, o uso responsável, amparado por leis eficientes e embasado em pesquisas sérias, é de fundamental importância (MEOLA, 2012). O médico veterinário é o profissional mais indicado para orientar na utilização. 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS Devido a importância dos fitoterápicos e também a carência de estudos relacionados aos mesmo e a utilização da maconha na área da medicina veterinária, é extremamente importante a ampliação do conhecimento e de pesquisas sobre essa temática, tendo em vista que grande parte da população que não possui recursos financeiros para compra de medicamentos ou para prosseguir com o tratamento de uma determinada doença fazem uso desse método de maneira indiscriminada. Portanto, é fundamental a educação e conscientização da população em relação a utilização das plantas medicinais, orientando os tutores quanto a administração de medicamentos fitoterápicos em animais para que haja eficácia no tratamento e não ocorram efeitos colaterais. 4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BALBACH, B. D. As hortaliças na medicina natural. Itaquaquecetuba: Vida Plena, 1993. p. 28. BARBOSA, Jônia Maria Martins Marques. Uma abordagem da Fitoterapia na Medicina Veterinária. Patos - PB, 2011 Monografia (Medicina veterinária) - UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE. Disponível em: http://www.cstrold.sti.ufcg.edu.br/grad_med_vet/mono2011_1/jonia_maria_martins_marques _barbosa.pdf. Acesso em: 3 nov. 2021. DINIS-OLIVEIRA, R. J. “A Perspetiva da Toxicologia Clínica Sobre a Utilização Terapêutica da Cannabis e dos Canabinoides”, in Acta Médica Portuguesa, v. 32, n. 2, p. 87-90, fev, 2019. FITZGERALD, K. T.; BRONSTEIN, A. C.; NEWQUIST, K. L. “Marijuana Poisoning”, in Topics in Companion Animal Medicine. v. 28, n. 1, p. 8-12, fev, 2013. GOVERNO FEDERAL. Produtos tradicionais fitoterápicos passíveis de notificação de acordo com as formulações publicadas na 2 a edição do Formulário de Fitoterápicos da Farmacopeia Brasileira. gov.br. 21 p. Disponível em: https://www.gov.br/anvisa/pt- br/setorregulado/regularizacao/medicamentos/fitoterapicos-dinamizados-e- especificos/informes/fitoterapicos/texto-tecnico-estatico-para-publicar-na-pagina-da-area.pdf. Acesso em: 3 nov. 2021. GYLES, C. “Marijuana for pets?”, in The Canadian Veterinary Journal, v. 57, n. 12, p. 1215-1218, 2016. HESSLE, A. et al. “Cold-pressed hempseed cake as a protein feed for growing cattle”, in Acta Agriculturae Scandinavica, Section A - Animal Science. v. 58, n. 3, p. 136-145, out, 2008. KOGAN, L. R. et al. “US veterinarians’ knowledge, experience, and eerception regarding the use of Cannabidiol for canine medical conditions”, in Frontiers in Veterinary Science, v. 5, n. 338, p. 1-11, jan, 2019. LANDA, L.; SULCOVA, A.; GBELEC, P. “The use of cannabinoids in animals and therapeutic implications for veterinary medicine: a review”, in Veterinari Medicina, v. 61, n. 3, p. 111-122, mês, 2016. LIMA, J. L. S et al. Plantas medicinais de uso comum no Nordeste do Brasil. Mapa. Campina Grande: UFCG, 2006. p. 2, 60, 66. LORENZI, H.; MATOS, F. J. A. Plantas medicinais no Brasil - nativas e exóticas. Nova Odessa: Instituto Plantarum. 2002. MARINHO, M. L. et al. 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