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REVOLUÇÃO 4.0 W B A 03 70 _v 1. 0 2 Paulo Eduardo Diniz Ricaldoni Lopes Londrina Editora e Distribuidora Educacional S.A. 2020 REVOLUÇÃO 4.0 1ª edição 3 2020 Editora e Distribuidora Educacional S.A. Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza CEP: 86041-100 — Londrina — PR e-mail: editora.educacional@kroton.com.br Homepage: http://www.kroton.com.br/ Presidente Rodrigo Galindo Vice-Presidente de Pós-Graduação e Educação Continuada Paulo de Tarso Pires de Moraes Conselho Acadêmico Carlos Roberto Pagani Junior Camila Braga de Oliveira Higa Carolina Yaly Giani Vendramel de Oliveira Juliana Caramigo Gennarini Nirse Ruscheinsky Breternitz Priscila Pereira Silva Tayra Carolina Nascimento Aleixo Coordenador Juliana Caramigo Gennarini Revisor Caio Fernando Sanas Editorial Alessandra Cristina Fahl Beatriz Meloni Montefusco Gilvânia Honório dos Santos Hâmila Samai Franco dos Santos Mariana de Campos Barroso Paola Andressa Machado Leal Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) __________________________________________________________________________________________ Lopes, Paulo Eduardo Diniz Ricaldoni L99r Revolução industrial 4.0/ Paulo Eduardo Diniz Ricaldoni Lopes, – Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S.A., 2020. 44 p. ISBN 978-65-86461-11-4 1. Tecnologia. 2. Indústria. 3. Empresarial. 4. Direito I. Título. CDD 303.483 ____________________________________________________________________________________________ Jorge Eduardo de Almeida CRB 8/8753 © 2020 por Editora e Distribuidora Educacional S.A. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Editora e Distribuidora Educacional S.A. 4 SUMÁRIO Era da informação e os meios de compartilhamento ________________ 05 Revoluções tecnológicas no Direito _________________________________ 19 Produção coletiva e compartilhamento de conhecimento ___________ 33 Disrupção por meio de aplicativos __________________________________ 46 REVOLUÇÃO 4.0 5 Era da informação e os meios de compartilhamento Autor: Paulo Ricaldoni Leitor crítico: Caio Sanas Objetivos • Apresentar os conceitos básicos para que você possa se familiarizar com as tecnologias fundamentais para a Revolução 4.0. • Aprimorar o pensamento questionador ao expor algumas divergências legais existentes sobre os temas apresentados. • Propiciar um desenvolvimento interdisciplinar entre tecnologia e Direito. 6 1. Introdução O desenvolvimento da tecnologia permitiu que distâncias geográficas e temporais fossem relativizadas de modo que mesmo estando em continentes distintos duas pessoas podem se comunicar e até trabalhar juntas como se estivessem presentes. Assim, o compartilhamento do conhecimento passou a ser disseminado e facilitado por redes de computadores. Para que a tecnologia se tornasse fundamental para a população, foi necessário que as redes de computadores se desenvolvessem para a internet comercial; e por meio da criptografia a segurança da informação fosse maximizada. Somente assim, criou-se o arcabouço necessário para o desenvolvimento da Inteligência Artificial de modo que os programas pudessem não substituir o ser humano, mas maximizar sua atuação profissional e pessoal. 2. A sociedade da informação Entre 1760 e o final do século XX, a humanidade passou por três grandes revoluções industriais: a primeira revolução teve seu início com a construção de ferrovias e utilização de máquinas a vapor na produção de bens, sendo a origem da produção mecânica. No final do século XIX, com a utilização da eletricidade e linhas de montagem, foi possível a produção em massa, caracterizando a segunda revolução. Por fim, a terceira revolução foi impulsionada pelo uso do meio digital (semicondutores, computadores e internet). Por sua vez, a 4ª Revolução tem como principal característica a união entre os meios digitais e físicos (Internet das Coisas (IoT), aprendizagem de máquina (machine learning) e Inteligência Artificial). Contudo, ao contrário das revoluções anteriores, que eram bem delimitadas tanto 7 no tempo quando no espaço, as inovações passam a ocorrer em uma velocidade jamais vista antes, simultaneamente em diversas partes do globo e alteram profundamente a forma que a humanidade vive, se relaciona e trabalha1. Quadro 1 – Quadro resumo Principais características Indústria 1.0. Mecanização e máquina a vapor. Indústria 2.0. Produção em massa e eletricidade. Indústria 3.0. Automação e eletrônicos. Indústria 4.0. Sistema físico-cibernético e fábricas inteligentes. Fonte: elaborado pelo autor. Durante as três primeiras revoluções industriais, o paradigma social até então existente tinha como objeto principal o acúmulo do capital. Mas, o advento da tecnologia e da internet comercial no final da década de 1980 foram o combustível necessário para romper a sociedade industrial e estabelecer a sociedade da informação, valorizando o conhecimento em primeiro lugar. Nessa nova era, não existem fronteiras geográficas para a comunicação e as inovações acontecem em velocidade acelerada. Ao final do século passado, se alguém quisesse buscar conhecimento sobre qualquer assunto, por exemplo, deveria se deslocar até uma biblioteca e procurar em seu acervo algum livro que tratava o assunto e dependendo do tópico, poderia não encontrar nada. Atualmente, no conforto de sua casa, qualquer pessoa pode pesquisar sobre 1 SHWAB, Klaus. A quarta Revolução industrial. São Paulo. Edipro: 2016. 8 praticamente qualquer assunto diretamente em seu computador ou até na tela de um celular. Devido aos avanços da tecnologia e meios de comunicação, o acesso e a difusão do conhecimento – metas principais do sistema – são maximizados, possibilitando um desenvolvimento da inteligência coletiva global. 3. Rede de computadores As redes de computadores possibilitam a comunicação entre dois ou mais dispositivos (computadores, notebooks, celulares etc.) conectados entre si por um simples cabo (LAN) ou até por conexões mais complexas em escala global (WAN) como a internet2. Por estarem conectados, podem se comunicar e compartilhar recursos, tais como arquivos de texto, planilhas, fotos, vídeos, impressoras e modens. Consequentemente, as redes de computadores agregam agilidade e praticidade para a sociedade, ou seja, de qualquer lugar no planeta é possível transferir e receber arquivos de outros continentes, acessar remotamente outro computador e reduzir custos ao compartilhar equipamentos e internet. Já pensou como as faculdades ou empresas fazem para que uma única impressora possa atender diversos usuários? Ao invés de cada usuário possuir uma impressora própria ou ter que enviar os arquivos (digitalmente por e-mail ou fisicamente por um pen drive) para o aparelho conectado à impressora, utilizando uma rede de computadores qualquer pessoa que tenha acesso ao sistema poderá solicitar a impressão de seus documentos na mesma impressora. 2 KING, Todd; BARRETT, Diane. Rede de computadores. Rio de Janeiro: LTC, 2010. 9 4. Criptografia Provavelmente você já forneceu seus dados em algum estabelecimento para efetuar uma compra ou conseguir descontos, mas já se perguntou o porquê disso? Utilizando desses dados, uma empresa consegue criar um perfil de compras de seus clientes para organizar melhor seus produtos nas gôndolas e maximizar suas vendas, ou, então, um fraudador consegue contrair empréstimos em nome das vítimas. Os dados se tornam tão importantes e sensíveis, que em 2018 foi promulgada a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) buscando a proteção das informações pessoais.Um dos pontos mais marcantes da legislação é a sua preocupação com os vazamentos de dados. Inclusive, prevê penalidades que chegam a 2% do faturamento da empresa no ano anterior, até a obrigação de eliminar os dados que foram objetos da infração (art. 52)3. Mesmo que todas as medidas sejam tomadas os vazamentos podem ocorrer, mas para aumentar a segurança e mitigar os danos utiliza- se a criptografia de dados, a qual possibilita que informações sejam codificadas por um sistema matemático, de maneira que fiquem embaralhadas e somente os detentores de chaves de segurança consigam decodificá-las. Para tanto, podem ser utilizadas dois tipos de criptografia: • Simétrica: existe somente uma chave que exerce as funções de codificar e descodificar o código. • Assimétrica: existem duas chaves e ambas possuem a capacidade de codificar ou descodificar o código, porém, não de maneira 3 BRASIL. Lei nº 13.709, de 14 de agosto de 2018. Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD). Diário oficial da União, Brasília, 14 ago. 2018. 10 simultânea, ou seja, a mesma chave que codifica não poderá descodificar a informação. 4.1 Assinatura digital Tradicionalmente um documento é assinado manualmente no papel, contudo, a criptografia possibilita que documentos eletrônicos sejam assinados por meio de assinaturas digitais. Utilizando essa tecnologia, é possível autenticar um documento da mesma forma que uma assinatura manual e com firma reconhecida no cartório, porém, sem gastar com taxas e emolumentos e sem a necessidade de se deslocar até o órgão público. Mesmo que o nome possa soar semelhante, a assinatura eletrônica não possui a mesma segurança que a digital, pois não será necessariamente criptografada, como no caso de uma rubrica escaneada ou o nome do assinante ao final de um e-mail. Para que uma assinatura digital seja válida é necessário que seja emitida por uma autoridade certificadora reconhecida e não esteja suspensa ou revogada. Somente assim, atuará como chave codificadora de todo o arquivo. Reconhecida pelo Decreto 8.539/20154, a assinatura digital é muito utilizada junto aos órgãos públicos (por exemplo Receita Federal e Juntas Comerciais), garantindo a autenticidade, integridade e validade jurídica de documentos e aplicações. Para advogados, a sua utilização também não é novidade, pois nos processos eletrônicos, todo o acesso e assinatura de documentos é feito por certificados digitais disponibilizados pela OAB de cada estado. 4 BRASIL. Decreto nº 8.539, de 8 de outubro de 2015. Dispõe sobre o uso do meio eletrônico para a realização do processo administrativo no âmbito dos órgãos e das entidades da administração pública federal direta, autárquica e fundacional. Diário oficial da União, Brasília, 8 out. 2015. 11 Em maio de 2018, a Terceira Turma do STJ, no julgamento do REsp 1.495.9205, entendeu que um contrato eletrônico assinado digitalmente pode ser considerado como título executivo extrajudicial. 5. A internet Os primórdios da internet foram desenvolvidas em 1969 com o nome ARPANET pelo Departamento de Defesa dos EUA, e tinha como objetivo conectar militares e departamentos de pesquisas de modo que fosse possível o compartilhamento de informações e equipamentos entre cientistas de todo o território norte americano6. Contudo, somente em dezembro de 1994, a Embratel (Empresa Brasileira de telecomunicações) disponibilizou para a população brasileira a possibilidade de acesso à Internet por linhas discadas a uma velocidade de apenas 4.8 bits por segundo. Para se ter ideia de quão lenta era a conexão, atualmente utilizam-se megabytes e gigabytes para determinar a sua velocidade, sendo que 1 megabyte equivale a 8 milhões de bits. Consciente da sua popularização e importância para o país, a Lei n. 12.965/20147 (Marco Civil da Internet – MCI) estabelece princípios garantias, direitos e deveres do uso da internet no país. Nos termos do inciso I do art. 5º do MCI, internet é: 5 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. RESP 1.495.920. Recurso especial. Civil e processual civil. Execução de título extrajudicial [...]. REsp. 1.495.920/DF. Min. Rel. Paulo de Tarso Sanseverino. 2018. Disponível em: https://stj. jusbrasil.com.br/jurisprudencia/595923192/recurso-especial-resp-1495920-df-2014-0295300-9/inteiro-teor-595923202. Acesso em: 9 mar. 2020. 6 KING, Todd; BARRET, Diane. Rede de computadores. Ob. cit. 7 BRASIL. Lei nº 12.965, de 23 de abril de 2014. Estabelece princípios, garantias, direitos e deveres para o uso da Internet no Brasil. Diário oficial da União, Brasília, 23 abr. 2014. https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/595923192/recurso-especial-resp-1495920-df-2014-0295300-9/inteiro-teor-595923202 https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/595923192/recurso-especial-resp-1495920-df-2014-0295300-9/inteiro-teor-595923202 12 O sistema constituído do conjunto de protocolos lógicos, estruturado em escala mundial para uso público e irrestrito, com a finalidade de possibilitar a comunicação de dados entre terminais por meio de diferentes redes. (BRASIL, 2014) Como ensinam George Leite e Ronaldo Lemos8, para a melhor compreensão do conceito trazido pela lei, alguns termos do enunciado devem ser explicados: • Protocolos lógicos: os computadores estarem conectados não é o suficiente para que as informações sejam compartilhadas, além disso, é preciso que também “falem a mesma língua”, ou seja, que possuam protocolos sincronizados, ou seja, os algoritmos que compõem esses protocolos devem determinar a ordem com que os dados serão transmitidos pelo remetente e traduzidos e processados pelo destinatário. • Uso público e irrestrito: a internet não pode possuir um dono ou controlador, devendo utilizar uma estrutura disponível para qualquer cidadão com acesso à mesma, sem qualquer tipo de restrição. • Terminais: qualquer dispositivo eletrônico capaz de acessar a internet como celulares, computadores, relógios inteligentes, notebooks etc. Ainda, o Marco Civil9 da Internet possui três princípios fundamentais para seu perfeito funcionamento, quais sejam, neutralidade da rede (art. 3º, inciso IV), liberdade de expressão (artigos 2º e 3º, inciso I) e privacidade (art. 3º, inciso II): 8 LEITE, George S.; LEMOS, Ronaldo. Marco Civil da Internet. São Paulo: Atlas, 2014. 9 BRASIL. Lei nº 12.965, de 23 de abril de 2014. Ob. cit. 13 Quadro 2 – Quadro resumo 2 Neutralidade da rede. Independentemente do conteúdo, localização, serviço ou meio de acesso, não poderá ocorrer: • Bloqueio do acesso. • Redução ou aumento da velocidade. • Redução ou aumento do preço. Liberdade de expressão. Não poderá haver qualquer censura de natureza política, ideológica ou artística. Muito embora seja um dos princípios basilares, não é absoluto e poderá encontrar limitações em caso de violações legais, como: • É vedado o anonimato. • É assegurado o direito de resposta. • No caso de dano moral ou matéria é cabível reparação. Privacidade. Para que a liberdade de expressão e a segurança das informações sejam garantidas, é assegurado o sigilo das informações. O provedor somente poderá quebrar a confidencialidade mediante ordem judicial. Fonte: elaborado pelo autor. 14 6. Deep Web A tradicional internet que a grande maioria da população acessa diariamente é conhecida como Surface Web e representa somente uma parte de todo o conteúdo disponibilizado na rede. Por outro lado, a maior porção da internet se encontra na parte pouco conhecida e que, para poder ser acessada, é preciso utilizar métodos específicos. Nesse contexto, por não ser indexada pelos mecanismos de busca e ser composta por diversas redes com protocolos não sincronizados, os dados não ficam registrados e a privacidade dos usuários é quase absoluta. Figura 1 – Tipos de navegação pela internet Surface Web Deep Web Dark Web Fonte: elaborado pelo autor. Normalmente é associada à práticas ilegais, como comércio de entorpecentes ou armasde fogo, tráfico de órgãos ou pessoas e até serviços de assassinatos. Porém, empresas e cidadãos comuns utilizam a Deep Web para manter informações sigilosas, textos científicos e projetos confidenciais de protótipos de novos produtos. Logo, quem acessa essa porção da internet não pretende necessariamente cometer crimes, mas busca não ser rastreado ou que seus arquivos não sejam encontrados. 15 Nesse sentido, foi criado o termo Dark Web que é orientada quase em sua totalidade para práticas criminosas com o Silk Road, um mercado ilegal de tráfico de drogas que foi encerrado em 2013 pelo FBI. Contudo, mesmo tendo sido fechado, com a facilidade do anonimato da Deep Web, logo foram criados sites com o mesmo intuito. 7. E-commerce Como o próprio nome sugere, o e-commerce ou comércio eletrônico é a modalidade de comercialização de produtos e serviços feitas diretamente na internet por meio de dispositivos eletrônicos. Nessa modalidade de negócio, ambas as partes possuem vantagens: o consumidor pode pesquisar o preço em diversas lojas em questão de minutos e fazer compras de qualquer lugar do mundo. Por sua vez, o fornecedor consegue manter seu negócio funcionando em tempo integral e sem os custos de manutenção de lojas em cada mercado que atua, consequentemente, ofertará preços mais competitivos. Em uma relação privada (sem entes públicos) existem quatro modelos de negócio em que o e-commerce é dividido: • B2C: empresas vendem produtos e/ou serviços para consumidores. • C2B: consumidores ofertam seus produtos ou serviços para empresas. • B2B: a negociação é feita entre empresas. • C2C: consumidores negociam entre si, como exemplo, no Mercado Livre ou eBay. 16 Ao se tratar de negócios do tipo C2B, B2B e C2C, como em regra, não caracterizam uma relação de consumo, não será aplicável o Código de Defesa do Consumidor. No caso das relações B2C, a legislação consumerista é aplicável. Para que o consumidor não seja prejudicado ou induzido ao erro, vez que somente terá contato com o produto ou serviço no momento em que este for entregue, nos moldes da lei, todas as informações disponibilizadas no site do fornecedor deverão ser claras, contendo detalhadamente todas as características e restrições ao uso. Inclusive, esse é um dos fundamentos de um dos direitos mais famosos do consumidor: o Direito de Arrependimento, no qual, sempre que a compra for feita fora do estabelecimento comercial, o consumidor poderá, no prazo de 7 (sete) dias do recebimento ou assinatura dos mesmos, requerer a troca ou devolução do produto com o consequente estorno do valor pago. 8. Inteligência Artificial Pode soar como ficção científica, mas a Inteligência Artificial está cada vez mais presente no cotidiano. O seu significado remete à máquinas que não somente executam uma função, mas analisam dados externos para decidirem qual será a melhor ação a ser tomada de acordo com cada situação. A partir da evolução da Inteligência Artificial surgiu o aprendizado de máquina (machine learning) no qual o próprio computador consegue identificar seus erros e acertos e sem qualquer programação melhorar sua atuação e tomar decisões mais assertivas. Alguns bons exemplos de sua utilização são os avançados veículos autônomos que se locomovem sem qualquer comando do motorista; o reconhecimento facial nas redes sociais em que pessoas são 17 identificadas nas fotos e marcações de perfis são sugeridas; e o marketing personalizado no qual ao realizar uma busca na internet, o produto consultado irá aparecer diversas vezes em outros sites. No Direito, também existem exemplos como o Robô-advogado, Ross que funciona como uma biblioteca virtual e é capaz de analisar milhares de casos já existentes quase imediatamente e selecionar quais são os mais relevantes para a situação necessária com sugestão de respostas fundamentadas. Outro exemplo dessa tecnologia é o sistema Victor, utilizado no Supremo Tribunal Federal (STF), que identifica quais recursos versam sobre temas de repercussão geral e verifica juízo de admissibilidade de forma que em questões de segundos, consegue realizar o serviço que um servidor gastaria em média 30 minutos. Em ambos os casos a máquina não irá julgar ou substituir o ser humano, mas aumentará a eficiência e velocidade dos trabalhos em escritórios e tribunais que, ao invés de ocupar seus profissionais com tarefas manuais e repetitivas, poderão alocá-los em serviços mais estratégicos que demandam análise humana. 9. Conclusão Percebe-se que na atualidade, as tecnologias são desenvolvidas e se tornam obsoletas em uma velocidade jamais vista antes, por exemplo, um produto lançado no mercado, especialmente smartphones, em um período de um ano já se torna ultrapassado. Todavia, não foi somente a tecnologia que se desenvolveu nesse período. A própria espécie humana que passou a valorizar o compartilhamento de conhecimentos para poder, deu um salto 18 em direção as imensas possibilidades de resolução dos problemas cotidianos e globais. Muito se fala sobre o risco, especialmente profissional, do ser humano ser substituído por máquinas, porém, tudo depende da forma com que a tecnologia será utilizada, pois, se corretamente poderá auxiliar para a melhor efetividade e redução de erros. Referências Bibliográficas BRASIL. Lei nº 12.965, de 23 de abril de 2014. Estabelece princípios, garantias, direitos e deveres para o uso da Internet no Brasil. Diário oficial da União, Brasília, 23 abr. 2014. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011- 2014/2014/lei/l12965.htm. Acesso em: 3 mar. 2020. BRASIL. Lei nº 13.709, de 14 de agosto de 2018. Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD). Diário oficial da União, Brasília, 14 ago. 2018. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2018/lei/L13709.htm. Acesso em: 9 mar. 2020. BRASIL. Medida Provisória nº 2.200-2, de 24 de agosto de 2001. Institui a Infra- Estrutura de Chaves Públicas Brasileira–ICP-Brasil, transforma o Instituto Nacional de Tecnologia da Informação em autarquia, e dá outras providências. Diário oficial da União, Brasília, 24 ago. 2001. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/mpv/antigas_2001/2200-2.htm. Acesso em: 9 mar. 2020. BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. RESP 1.495.920. Recurso especial. Civil e processual civil. Execução de título extrajudicial (...). REsp. 1.495.920/DF. Min. Rel. Paulo de Tarso Sanseverino. 2018. Disponível em: https://stj.jusbrasil.com.br/ jurisprudencia/595923192/recurso-especial-resp-1495920-df-2014-0295300-9/ inteiro-teor-595923202. Acesso em: 9 mar. 2020. KING, Todd; BARRETT, Diane. Rede de computadores. Rio de Janeiro: LTC, 2010. LEITE, George S.; LEMOS, Ronaldo. Marco Civil da Internet. São Paulo: Atlas, 2014. SHWAB, Klaus. A quarta Revolução industrial. São Paulo. Edipro: 2016. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2014/lei/l12965.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2014/lei/l12965.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2018/lei/L13709.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/mpv/antigas_2001/2200-2.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/mpv/antigas_2001/2200-2.htm https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/595923192/recurso-especial-resp-1495920-df-2014-0295300-9/inteiro-teor-595923202 https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/595923192/recurso-especial-resp-1495920-df-2014-0295300-9/inteiro-teor-595923202 https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/595923192/recurso-especial-resp-1495920-df-2014-0295300-9/inteiro-teor-595923202 19 Revoluções tecnológicas no Direito Autor: Paulo Ricaldoni Leitor crítico: Caio Sanas Objetivos • Demonstrar a importância que os dados possuem na sociedade atual, especialmente no Direito. • Despertar a curiosidade para novas oportunidades que a tecnologia traz à esfera jurídica. • Aprimorar os conhecimentos do aluno sobre inovações disruptivas e incrementais. 20 1. Introdução A tecnológica estáse desenvolvendo em uma velocidade jamais vista antes, e um dos principais combustíveis para sua expansão são as informações transmitidas em cada um dos inúmeros dados que trafegam diariamente na sociedade. O Direito, muito embora tradicional, está em constante evolução e utiliza dessas inovações para melhorar sua atuação, bem como validar e garantir que direitos e garantias não sejam perdidos em prol dos avanços tecnológicos. 2. Banco de dados Durante a pré-história, mesmo que inconscientemente, o homem primitivo concebeu a importância de registrar o conhecimento ao desenhar pinturas nas cavernas. Milênios depois, o armazenamento de informações se aprimorou com o desenvolvimento da escrita e, posteriormente, com a criação do papel, criando as primeiras bibliotecas para que fosse possível armazenar informações de maneira organizada. Contudo, por mais que o papel tenha sido essencial durante séculos para a humanidade, possui consideráveis inconvenientes como a sua vida útil que se perde pelo decorrer do tempo, ou por acidentes como o grande incêndio que tomou a Biblioteca de Alexandria no ano 48 a.C. e acarretou na perda de incontáveis conhecimentos antigos que não possuíam cópias. Assim, com o desenvolvimento da tecnologia criaram-se formas de armazenar informações no meio eletrônico, possibilitando, além de uma maior durabilidade, a facilidade em se compartilhar essas informações quase que instantaneamente com qualquer parte do mundo. 21 Segundo William Alves (2014)1, o conceito de banco de dados não se refere apenas a um conjunto de dados, pois, dessa forma, uma frase poderia ser considerada como tal. Para ser considerado como um banco de dados, é necessário que tenha uma base de informação na qual os dados são originados, que estes representem o mundo real, ou seja, que qualquer alteração na realidade deverá alterar o banco de dados e, por fim, os usuários que o utilizem. Figura 1 – Conceito de banco de dados Fonte de informação. Usuários. Interação com a realidade. Fonte: elaborada pelo autor. Além disso, para trazer mais eficiência nas pesquisas, é importante que possuam conjunto lógico e ordenado de dados com algum objetivo, e não apenas dados aleatórios sem qualquer finalidade. Sua definição pode parecer complexa, mas você sabia que o pen drive que armazena fotos, arquivos, livros e diversos outros conteúdos é um banco de dados? Dependendo da quantidade de informações a serem armazenadas, podem ser desde pequenos cartões de memórias até potentes computadores de grandes empresas e. Além disso, utilizados para as mais diversas funções como arquivar dados pessoais, informações de pesquisas, livros, artigos científicos, filmes etc. 1 ALVES, William Pereira. Banco de dados. São Paulo: Érica, 2014. 22 No Direito, uma utilização muito importante dessa tecnologia é o Banco de Dados e Cadastros de Consumidores, previsto nos artigos 43 e 44 do Código de Defesa do Consumidor2 que garante ao consumidor o acesso às suas informações arquivadas por fornecedores e que elas sejam dispostas de forma clara, objetiva, verdadeira e de fácil compreensão. Inclusive, um direito muito comum é estipulado com base no parágrafo 1º do art. 43 do mesmo código, que determina que o período máximo em que o nome de alguém poderá constar no Cadastro de Órgãos de Restrição ao Crédito será de cinco anos. 3. Big Data Com os avanços tecnológicos oriundos da Sociedade da Informação, especialmente pela disseminação da internet e compartilhamento de informações, são criados e compartilhados terabytes (um terabyte equivale a mil gigabytes) de dados diariamente. Devido à essa imensidão de informações, tornou-se impossível que pessoas conseguissem analisar manualmente todo esse conjunto de arquivos, surgindo, assim, o chamado Big Data. Big Data pode ser definido como um vasto conjunto de dados que precisam de ferramentas para serem analisados, processados e armazenados. Conforme ensinam Izabelly Morais e outros autores (2018)3, os dados podem ser divididos em: • Estruturados: números datas e grupos de palavras. • Não estruturados: imagens, fotos e vídeos. • Semiestruturados: códigos de programação. 2 BRASIL. Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990. Dispõem sobre a proteção do consumidor e dá outras providências. Diário oficial da União, Brasília, 12 set. 1990. 3 MORAIS, Izabelly Soares et al. Introdução a Big Data e Internet das Coisas (IoT). Porto Alegre: SAGAH, 2018. 23 Ao escutar o termo pela primeira vez, é possível associar Big Data somente à capacidade de armazenar uma quantidade considerável de dados; porém, para realmente compreender seu conceito, é necessário ir além e focar no conceito dos 5 Vs: Figura 2 – Esquema associativo Volume Velocidade Variedade Veracidade Valor Fonte: elaborada pelo autor. O volume, como o próprio nome diz, é a quantidade de dados que são tratados em um período (e-mails, transações, conversas, fotos etc.). A velocidade é o tempo gasto para que os dados sejam analisados. Nesse sentido, um sistema ágil é de extrema importância, pois quanto maior o tempo gasto para verificar essas informações, acarretará um acúmulo de diversas outras aguardando por um tratamento. Dependendo da situação, poderá trazer prejuízos, como no caso de uma fraude que quanto maior o tempo gasto, maior será o dano causado. A variedade é a capacidade de tratar todos os tipos de dados que são apresentados simultaneamente, sejam eles estruturados, semiestruturados ou não estruturados. 24 A veracidade, diz respeito à necessidade de que os dados estejam condizentes com a realidade e sejam válidos. Inclusive, a velocidade é de extrema importância para esse quesito, pois um dado que hoje possibilita uma conclusão, amanhã poderá conduzir a outra completamente diferente. Por fim, o valor é a qualidade que os dados possuem, pois, de nada adianta ter uma ferramenta capaz de processar inúmeras informações em um curto período se não servirem para responder as perguntas necessárias. Portanto, Big Data não é só a capacidade de armazenar os dados, mas de conseguir no menor tempo possível analisar todos esses tipos de informações de maneira que possam, por meio de modelos analíticos, otimizar padrões e previsibilidades para tomada de decisões mais assertivas. 4. Comportamento das gerações X, Y e Z À medida em que eventos globais acontecem, que valores e visões são alterados e paradigmas quebrados, surgem as gerações que são, basicamente, delimitadas pelo conjunto de pessoas nascidas em um mesmo período. Muito embora não exista um consenso entre os autores quanto aos anos que englobam cada geração, as características que lhe são atribuídas são semelhantes. Interessante observar que em todas gerações, os filhos tentam viver de maneira diferente da que que seus pais viviam, para corrigir as supostas falhas da geração anterior, e consequentemente, criando problemas que serão criticados pelas futuras. 25 4.1 Geração X Nascidos entre o início de 1960 e final de 1970, vivenciaram os eventos históricos do golpe militar de 1964 no Brasil, o primeiro homem a pisar na Lua em 1969 e o início da computação. Por viverem em um período pós Grande Guerra e durante a Guerra Fria, acreditavam (mesmo que inconscientemente) que não teriam tanto acesso a bens materiais e, por isso, priorizavam valores como família e amigos. Devido às inseguranças das décadas anteriores, buscavam a estabilidade e bens de maior durabilidade. Por isso, até hoje, são mais resistentes a mudanças e, por buscar uma estabilidade financeira, deixaram seus sonhos de lado em troca de carreiras consolidadas e bem remuneradas, normalmente trabalhando durante toda a sua vida em apenas um local. 4.2 Geração Y São aqueles nascidos entre o início da década de 1980 e metade da década de 1990, assistiram à queda do muro de Berlim, o desastre de Chernobyl e o surgimento dos celulares. A primeirageração que nasceu já com a computação estabelecida no mundo, também buscam uma carreira de sucesso, mas exigem condições de trabalho em que possam equilibrar o convívio com sua família e amigos. Ao contrário da anterior, estão mais propensos ao risco, sendo considerados como uma geração acostumada com o digital, mas que faz questão do convívio pessoal. Tendo em vista toda a incerteza e dificuldades materiais da geração anterior, normalmente recebem diversas facilidades de seus pais que buscam garantir o que não puderam ter. Possuem habilidades multitarefas e buscam o aprendizado de maneira autodidata, porém, após vivenciar pais que tiveram que batalhar durante anos para 26 conseguir sua estabilidade financeira, se tornaram imediatistas e impacientes querendo que os resultados aconteçam naquele momento. Por estarem acostumados a ter tudo que querem, muitas vezes se sentem insatisfeitos e trocam diversas vezes de emprego. 4.3 Geração Z Por fim, a geração nascida entre a segunda metade da década de 1990 até o final da década de 2000, tiveram como grandes marcos históricos, como o atentado de 11 de setembro ao World Trade Center (EUA), o surgimento da internet móvel e a união entre o físico e o digital. É uma geração que desde sua infância, já está familiarizada com a internet e a tecnologia que fazem parte de seu cotidiano, por isso, não conhecem a vida antes dos computadores. Devido às facilidades de comunicação, não são apegados às fronteiras geográficas e, ao contrário da geração anterior, preferem a comunicação digital ao invés de pessoal. Buscam conhecimento em conteúdos curtos (vídeos e fotos), tendendo a um comportamento antissocial e individualista. Por fim, possuem uma grande preocupação com o ecossistema, sustentabilidade, recursos naturais e questões sociais, acreditando que precisam resolver os problemas deixados pelas gerações anteriores. 5. Inovações disruptivas e seus desafios no Direito Desde seus primórdios, a sociedade está em constante evolução: o fogo, a roda, a máquina a vapor, a eletricidade e a computação, cada qual em sua época são exemplos de desenvolvimentos que contribuíram para o progresso da humanidade. Também são inegáveis as contribuições das inovações tecnológicas dos últimos tempos, como os aplicativos 27 de transporte, entrega de alimentos, comunicação instantânea e troca de arquivos, que facilitam tarefas cotidianas na esfera pessoal e profissional4. Mesmo que o Direito seja uma das profissões mais tradicionais do país, sendo concedido o status de indispensável para a administração da justiça pela Constituição Federal de 19885, não pode se manter alheio a essas inovações, sob pena de se distanciar da sociedade e se tornar obsoleto. Você sabia que o judiciário se encontra saturado com milhares de processos em seu acervo e diariamente são distribuídas novas ações? Devido ao imenso número processual, se um litígio não é solucionado no tempo devido e toda essa situação é um reflexo da forma com que o Direito é trabalhado, somente se os aplicadores do Direito (advogados, juízes, promotores, defensores etc.) atuarem de forma diferente, esse problema poderá ser solucionado, tendo em vista que se continuar sendo feito da mesma maneira, provavelmente a solução não existirá ou demandará muito mais tempo. Assim, diversas invenções tecnológicas podem, devem e estão sendo usadas para maximizar o trabalho desses profissionais para dar efetividade ao processo, e em alguns casos, possibilitar que o conflito não seja judicializado. Contudo, as invenções especialmente disruptivas enfrentam diversos desafios para que possam ser aplicadas ao Direito sem que entrem em conflito com normas legais ou ocasionem violações aos direitos da sociedade. Além disso, por estarem inseridas em uma das áreas mais tradicionais do conhecimento a sua adesão pelos profissionais é mais complexa. 4 SHWAB, Klaus. Aplicando a Quarta Revolução Industrial. São Paulo: Edipro, 2016. 5 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Senado, 1988. Disponível em: http:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 10 mar. 2020. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm 28 5.1 Inovação incremental x Disruptiva A inovação pode ser dividida em duas categorias principais: incremental e disruptiva. Inovações disruptivas são aquelas que mudam consideravelmente as tecnologias existentes até o momento e redefinem a forma com que algo é utilizado. Um bom exemplo de inovação disruptiva é o processo judicial eletrônico, que alterou a forma de atuação de advogados e tribunais, os quais não mais necessitam de se dirigir aos fóruns para protocolar uma petição ou acessar os autos. Portanto, alterou profundamente a prática jurídica. Por sua vez, como o próprio nome sugere, inovações incrementais são aquelas que melhoram as tecnologias já existentes, incorporando novos elementos que aprimoram as funções originais. Mais uma vez, o processo judicial eletrônico é um bom exemplo: em seus primórdios somente era possível adicionar documentos em formato de texto ou PDF, porém, com o passar do tempo e devido às necessidades dos profissionais, foi possibilitado anexar vídeos e áudios, ou seja, se aprimorou uma ferramenta já existente. 5.2 Processo eletrônico e proteção de dados Permitir que os feitos tramitem em meio eletrônico resultou em uma maior celeridade processual e redução de custos. O art. 5, inciso LX da Constituição Federal, garante que os autos sejam públicos e, no meio eletrônico, esse acesso logicamente é facilitado sendo possível buscar por qualquer processo diretamente de seu computador. Por outro lado, a Lei Geral de Proteção de Dados6 busca proteger as pessoas naturais contra eventuais violações à sua liberdade, privacidade e personalidade, assegurando ao titular dos dados que estes somente sejam 6 BRASIL. Lei nº 13.709, de 14 de agosto de 2018. Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD). Diário oficial da União, Brasília, 14 ago. 2018. 29 tratados (qualquer ação efetuada sobre eles) de acordo com a finalidade informada e garantindo a sua proteção quanto a vazamentos. Igualmente, segundo a elo art. 7º, inciso III da LGPD,7 poderá ocorrer o tratamento de dados para que obrigações legais sejam cumpridas. Porém, o titular ainda deverá ser informado quais serão essas operações a serem executadas. Portanto, os tribunais possuem o desafio de aumentar a segurança das informações para que não ocorram violações aos dados pessoais, bem como se adequar à LGPD. 5.3 Jurimetria e máquinas preconceituosas A jurimetria pode ser definida como a utilização de estatística ao Direito para analisar um vasto banco de dados e reduzir o tempo gasto por um juiz ao buscar fundamentos para uma sentença ou um advogado encontrar jurisprudência para suas petições. Porém, em regra, a máquina acessa o banco de dados com todas as decisões já proferidas até o momento, que refletem o pensamento daquela sociedade; logo, irá apenas replicar todo o passado. O grande desafio é que a compreensão social está em constante mudança e paradigmas são quebrados, mas a máquina não saberá contabilizar essas alterações se o seu banco de dados não for atualizado. Por exemplo, até o reconhecimento da união estável como entidade familiar pela Constituição Federal em 2010, as decisões em sua maioria eram contrárias à declaração de união civil, porém, após a alteração legislativa, caso fosse ajuizada uma ação sobre o assunto e por meio da jurimetria fossem apresentados ao julgador fundamentos para sua decisão, não seriam criados precedentes favoráveis. Logo, um desafio será manter o banco de dados atualizados com mudanças sociais. 7 Ibidem. 30 5.4 Contratos inteligentes e imutabilidade contratual Contratos inteligentes (Smart Contracts) são códigos de computador desenvolvidos para, após o acionamentode um gatilho, auto executarem uma determinada função. O nome pode parecer complexo, mas uma máquina de refrigerante na qual você escolhe o produto e, após efetuar o pagamento, a bebida é liberada e trabalha com contratos inteligentes. A sua grande vantagem é a objetividade, ou seja, basta escolher quais as condições necessárias para seu cumprimento e quais as penalidades pelo adimplemento que ele já estará pronto para ser utilizado. Ao contrário dos contratos tradicionais, possui imutabilidade, ou seja, uma vez que for firmado, não poderá ser alterado. É nesse ponto que encontra-se um dos seus grandes desafios para ser implementado em situações mais complexas: após serem firmados, é muito comum que as partes, acrescentem aditivos alterando alguma obrigação, entretanto, como os contratos inteligentes não podem ser modificados, não poderão exercer sua autonomia privada nesses casos, nem ao menos requerer a rescisão. 5.5 Legaltech/Lawtech e cenários de incerteza Não se trata de inovações propriamente ditas, mas sim de startups que buscam com base na tecnologia criar produtos e serviços inovadores (incrementais ou disruptivos) para melhorar o universo jurídico, capazes de crescer em grande velocidade sem aumentar seus custos. Em seu cenário inovador, oferecem diversos tipos de negócio que utilizando tecnologias como Smart Contracts, Big Data, jurimetria, Blockchain e diversas outras possibilidades. Como uma das suas características principais é inovar, uma startup, independentemente da sua área de atuação, irá lidar com um mercado de incertezas. Uma empresa no modelo tradicional de negócio, poderá 31 se orientar com base em concorrentes já estabelecidos para replicar os acertos e melhorar os erros. No caso de uma Legaltech/Lawtech, normalmente, não é possível fazer benchmarking com outras empresas. Portanto, encontrará diversos desafios para sua perpetuação no mercado, principalmente quanto à regulamentação legal que será aplicada. 6. Conclusão Foi possível compreender que a tecnologia contribuiu para o progresso da sociedade nas três últimas gerações, solucionando problemas antigos, mas criando dilemas. Independentemente da área em que são utilizadas, devem estar sempre atentas para não violar nenhuma garantia ou ultrapassar alguma legislação. Muitas dessas inovações, por serem disruptivas, estão inseridas em cenários incertos em que ainda não existem exemplos para se espelhar, cabendo aos operadores do Direito identificar quais serão esses desafios e as maneiras de adequá-las ao ordenamento jurídico. Referências Bibliográficas ALVES, William Pereira. Banco de dados. São Paulo: Érica, 2014. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Senado, 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 10 mar. 2020. BRASIL. Lei nº 13.709, de 14 de agosto de 2018. Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD). Diário oficial da União, Brasília, 14 ago. 2018. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2018/lei/L13709.htm. Acesso em: 10 mar. 2020. BRASIL. Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990. Dispõem sobre a proteção do consumidor e dá outras providências. Diário oficial da União, Brasília, 12 set. 1990. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8078.htm. Acesso em: 10 mar. 2020. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2018/lei/L13709.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8078.htm 32 MORAIS, Izabelly S. et al. Introdução a Big Data e Internet das Coisas (IoT). Porto Alegre: SAGAH, 2018. SHWAB, Klaus. Aplicando a Quarta Revolução Industrial. São Paulo. Edipro: 2016. 33 Produção coletiva e compartilhamento de conhecimento Autor: Paulo Ricaldoni Leitor crítico: Caio Sanas Objetivos • Propiciar melhor entendimento sobre tecnologias de compartilhamento e os impactos causados na sociedade, sob a perspectiva do Direito. • Aperfeiçoar o senso crítico sobre as vantagens e desvantagens na produção compartilhada. • Apresentar estratégias de marketing digital jurídico na era da informação. 34 1. Introdução No novo paradigma social da era da informação, o conhecimento não tende mais a se manter exclusivo a poucos indivíduos, mas a população percebeu a importância do compartilhamento de dados que, além de permitir uma comunicação mais veloz, possibilitam que inovações sejam desenvolvidas constantemente. Dentro desse contexto de compartilhamento do conhecimento, estão inseridos, ainda, a transmissão peer-to-peer e a utilização de aplicativos de mensagens e redes sociais para que incontáveis trocas de dados e informações sejam profissionais ou pessoais. Originalmente, quando criados, tais aplicativos não apresentavam risco para a sociedade, porém, devido à utilização de forma indevida, exigem uma regulamentação legal preventiva e reativa dos operadores do Direito. 2. Produção coletiva de conhecimento e de software A tecnologia, especialmente após a popularização da internet, permitiu que distâncias geográficas e temporais fossem reduzidas. Dessa forma é possível manter contato com qualquer pessoa em qualquer parte do mundo quase que instantaneamente. Esse é um dos elementos fundamentais para que o compartilhamento de conhecimento possa ocorrer e as inovações na Era 4.0 aconteçam em velocidade tão acelerada. Ao contrário do que ocorria nas eras passadas, em que cada grupo de pesquisa desenvolvia seus trabalhos separadamente e, normalmente, os mesmos somente eram apresentados em congressos especializados, a produção coletiva de conhecimento e de software com utilização de 35 redes de computadores permite que seja possível em cada etapa do projeto o compartilhamento de informações. Assim, em conjunto com outros pesquisadores, possam alcançar de maneira mais célere os seus objetivos. Por analogia ao termo inovação aberta é possível compreender o significado da produção coletiva de conhecimento e de software. Esse tipo de inovação reflete o fenômeno no qual empresas não somente utilizam ideias e tecnologias de terceiros para seu próprio negócio, mas permitem que as suas ideias e tecnologias que não são aproveitadas sejam utilizadas por outros1. Isso não pode parecer muito relevante à princípio, mas imagine a seguinte situação: Para desenvolver um novo software jurídico que revolucionará o mercado do Direito é necessário descobrir quatro lógicas de computação que são fundamentais para seu funcionamento. Durante o desenvolvimento, para cada descoberta, gasta-se em média um ano. Supondo que existem quatro profissionais interessados em desenvolver esse produto, em uma situação na qual o conhecimento não é compartilhado, para cada indivíduo desenvolver esse produto, terá que descobrir todas as quatro lógicas. Consequentemente, cada um levará quatro anos para o desenvolvimento final do produto. Contudo, se cada um dos pesquisadores trabalhar em conjunto e compartilhar suas descobertas, o sistema estará pronto em apenas um ano. Em áreas como Saúde, quatro anos podem ser cruciais para a sobrevivência de pacientes de modo que o tempo gasto para a descoberta da cura de alguma doença pode ser a diferença entre a vida e a morte de alguns pacientes. 1 CHESBROUGH, Henry; BORGES, Marcel. Explicando a inovação aberta: Esclarecendo esse paradigma emer- gente para o entendimento da inovação. In: CHESBROUGH, Henry; VANHAVERBEKE, Wim; WEST, Joel. Novas fronteiras em inovação aberta. São Paulo: Blucher, 2018. p. 27-53. 36 Nesse novo contexto, as inovações não dependem somente dos próprios colaboradores de cada organização (particular ou pública), mas passam a ser desenvolvidas observando as necessidades e com a participação efetiva de terceiros externos às instituições (GABRICH & GABRICH, 2012).2 Ainda segundo os autores, a utilização da produção coletiva de conhecimento no Direito permite: • A ampliação da discussão sobre interpretação de normas para pacificação jurisprudenciale doutrinária. • Intercâmbio de experiências judiciais e extrajudiciais entre advogados, juízes, promotores e defensores públicos para aprimoramento de técnicas para a solução e prevenção do conflito. • Compartilhamento de opiniões, sugestões e revisão de livros, artigos, dissertações e teses. • Possibilidade de divulgação em tempo real de aulas e palestras pela internet, permitindo a participação ativa de alunos, professores e demais interessados, preferencialmente de maneira interdisciplinar. Por exemplo, em uma aula sobre Direito e Tecnologia, é possível que o professor do curso entre em contato via vídeo chamada com um programador especialista em segurança da informação para compartilhar questões práticas de proteção de dados. • Compartilhamento de ideias e conteúdos para criação de documentos, contratos e petições, possibilitando que os documentos estejam sempre atualizados e revisados. 2 GABRICH, Frederico de A.; GABRICH, Flávia B. M. Inovação aberta no Direito. In: GABRICH, Frederico de A. Inovação no Direito. Belo Horizonte: Universidade FUMEC. Faculdade de Ciências Humanas, Sociais e da Saúde, 2012. p. 349-388. 37 Inclusive, a criação coletiva de normas jurídicas já é uma realidade no Brasil. Por meio do site do e-cidadania, o Senado Federal possibilita que os projetos de lei que estejam em tramitação possam receber opiniões públicas, além de permitir que cidadãos enviem propostas de ideias legislativas. Entretanto, como explica Schwab3 principalmente entre empresas, tais colaborações não são simples de serem feitas, pois exigem investimentos para criação de estratégias, encontro de parceiros adequados, estabelecimento de meios de comunicação, alinhamento de processos e procedimentos e criação de modelos de negócio. Além disso, para que discussões futuras sobre patentes sejam evitadas, os acordos e contratos firmados entre as partes parceiras devem ser construídos de forma clara, objetiva e sem brechas para que cada qual tenha ciência de suas funções, responsabilidades e direitos. 3. Compartilhamento de arquivos peer-to-peer Peer-to-peer (p2p) ou ponto-a-ponto é o sistema de redes de computadores no qual cada computador possui a mesma hierarquia que os demais, ou seja, realiza funções de servidor e cliente ao mesmo tempo. Ao contrário de uma rede tradicional, não existe um equipamento responsável por armazenar e distribuir os dados do sistema, mas cada computador logado na rede ao mesmo tempo que realiza o download de algum arquivo também compartilhará outros dados salvos em sua máquina. Um exemplo da transmissão de dados p2p são os Torrents: nesse tipo de sistema, ao invés de o usuário realizar o download do arquivo de seu interesse diretamente de um servidor, baixa diversas partes dos arquivos em vários outros computadores e, consequentemente, 3 SHWAB, Klaus. Aplicando a Quarta Revolução Industrial. São Paulo. Edipro: 2016 38 também compartilha com outros usuários as partes dos arquivos que possui. Por exemplo: • Você precisa baixar um livro em domínio público composto pelas páginas de 1 a 9 e os usuários A, B e C possuem o documento. Utilizando um Torrent é possível realizar o download: • Das folhas 1, 2 e 3 de A. • Das folhas 4, 5 e 6 de B. • Das folhas 7, 8 e 9 de C. • Além disso, a partir do momento que as folhas são arquivadas no seu sistema, você também compartilhará o arquivo com outras pessoas. Uma das vantagens nesse tipo de sistema é a velocidade, pois enquanto um servidor único possui um limite de download, ocasionando em longos períodos de espera para conseguir a totalidade de um arquivo, na tecnologia p2p os dados são baixados simultaneamente de vários usuários, em que é possível adquirir o mesmo arquivo em menor tempo. Igualmente, caso exista algum defeito, mesmo que temporário, no servidor único não será possível realizar o download dos arquivos que se busca, mas em uma estrutura peer-to-peer, se algum dos pontos não puder ser acessado, o arquivo poderá ser obtido dos demais outros que estão conectados. Porém, como todos os pontos possuem a mesma hierarquia, não existe um responsável pela segurança ou verificação dos conteúdos. Os usuários sentem que não poderão ser rastreados, de modo que a tecnologia, por diversas vezes, é utilizada de maneira ilícita para o compartilhamento ilegal de filmes, livros e músicas sem qualquer observância de direitos autorais. Diante dessa suposta segurança 39 quanto ao sigilo, também é utilizado para outros tipos penais como o compartilhamento de vídeos com cenas de estupro, sexo ou pornografia sem o consentimento da vítima violando o art. 218-C do Código Penal4 e pornografia infantil em face aos artigos 241-A a 241-E do Estatuto da Criança e do Adolescente5. Contudo, em alguns casos, um usuário pode se enquadrar nas tipificações penais sem consciência do ato. Como o arquivo somente poderá ser visualizado após ter sua transferência concluída algum usuário mal-intencionado poderá atribuir um nome falso (por exemplo Constituição Federal) ao arquivo e um terceiro poderá fazer download de vídeos ilegais acreditando estar em busca de um documento legal. Devido à falta de regulamentação e vigilância, pode ocasionar na transmissão de ameaças como vírus (programas capazes de infectar um aparelho e criar cópias de si), worms (programas que se espalham por equipamentos conectados a uma rede) e spywares (programas utilizados para observar as informações inseridas em um equipamento), no compartilhamento acidental de informações e até invasões por outros usuários para obtenção e posterior vazamento de dados. 4. Aplicativos de mensagens A tecnologia de aplicativos de mensagens instantâneas revolucionou a forma com que as pessoas se comunicam, possibilitando o envio e recebimento de textos, fotos, vídeos, áudios e diversos outros tipos de arquivos em tempo real. 4 BRASIL. Decreto-lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Código Penal. Diário Oficial da União, Brasília, 7 dez. 1940. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848.htm. Acesso em: 10 mar. 2020. 5 BRASIL. Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, 13 jul. 1990. Disponível em: http://www.planalto.gov. br/ccivil_03/leis/l8069.htm. Acesso em: 10 mar. 2020. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm 40 Com a popularização dessa tecnologia, suas vantagens são indiscutíveis, porém, quando não utilizadas da forma devida, dependendo do conteúdo compartilhado, podem causar inúmeros contratempos para o indivíduo e para a sociedade. Dentre os principais ilícitos penais temos: Quadro 1 – Quadro resumo Conteúdo compartilhado Penas criminais Apologia ao crime. Detenção de 3 a 6 meses ou multa (art. 287). Revenge Porn (compartilhar arquivos íntimos sem o consentimento). Reclusão de 1 ano e 4 meses a 6 anos e 8 meses (art. 218-C, § 1º). Calunia (imputação de falso crime). Detenção de 6 meses a 2 anos e multa. (art. 138). Difamação (imputação de fato ofensivo à reputação). Detenção de 3 meses a 1 ano e multa (art. 139). Injúria (ofensa à dignidade). Detenção de 1 a 6 meses e multa (art. 140). Injúria por preconceito. Reclusão de um a três anos e multa (art. 140, §3º). Fonte: elaborado pelo autor Logicamente, as telas de aplicativos de mensagens poderão ser utilizadas como prova diante de tribunais, e além de implicar sanções penais, também poderão acarretar indenizações cíveis, trabalhistas ou administrativas. No Direito do Trabalho os aplicativos vêm sendo utilizados como meio de provas para funcionários demonstrarem o recebimento de valores extra folha, equiparação entre funções, realização de serviços extra 41 jornada, ocorrência de ameaças e até comprovar vínculos trabalhistas. Por outro lado, os empregadorespoderão utilizar como meio hábil de comprovar os fundamentos para demissões por justa causa ou para demonstrar que alegações feitas por funcionários em um processo judicial não são verdadeiras. Você sabia que não é somente na esfera privada que a tecnologia de troca de mensagens vem sendo utilizada no Direito? Buscando maior celeridade processual e redução de custos administrativos e com pessoal, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) entendeu no julgamento do Procedimento de Controle Administrativo 0003251-94.2016.2.00.00006 que os tribunais do país, especialmente juizados especiais, podem utilizar aplicativos de mensagens como meio para realizar intimações de atos processuais. 5. Redes sociais Originalmente foram criadas com o intuito de facilitar a conexão entre pessoas, contudo, devido à popularização e facilidade de acesso à internet, as redes sociais assumiram papeis inimagináveis em sua origem. Além de aproximar amigos ou permitir que os usuários escutam suas músicas favoritas, também são utilizadas como fontes de atualização diárias substituindo jornais e revistas, bem como para grupos políticos servindo como fóruns de discussões e organizações de protestos. Com base no princípio da liberdade de expressão e livre manifestação do pensamento, em regra, as redes sociais não devem possuir um filtro quanto ao conteúdo que é postado e compartilhado, ocasionado a disseminação de fake news (notícias falsas). 6 BRASIL. Conselho Nacional de Justiça. PCA 0003251-94.2016.2.00.0000. Procedimento de controle adminis- trativo. Juizado Especial Cível e Criminal. [...]. Rel. Daldice Santana. 2017. 42 Criadas com o intuito de enganar terceiros, seja para humor, ganhos financeiros ou políticos, as fake news também podem acarretar prejuízos imensuráveis para a população em questões delicadas como a saúde pública. Inclusive, devido à propagação de inúmeros mitos espalhados pela rede, o governo brasileiro criou em 2018 o programa Saúde sem Fake News no qual é possível que a população envie notícias e imagens para um número de WhatsApp e especialistas responderão se as informações são verdadeiras ou falsas. Vale lembrar que devido ao “anonimato”, as redes sociais aparentemente transmitem uma falsa sensação de segurança, mas a legislação brasileira permite que os usuários sejam identificados, normalmente pelo endereço de IP e condenados civil e criminalmente por danos que vierem a causar. 5.1 Marketing jurídico Nos termos do Código de Ética e Disciplina da OAB7, o exercício da advocacia é indispensável para a administração da justiça, possuindo função pública e exercendo função social, logo, não poderá utilizar-se de qualquer prática que mercantilize a profissão. Qualquer profissional que utilizar de publicidades oferecendo diretamente seus serviços jurídicos, infringirá a legislação e estará sujeito às penalidades administrativas. De acordo com a OAB: Quadro 2–Quadro resumo 2 O que pode fazer O que não pode fazer Publicar artigos, vídeos, áudios informativos sobre assuntos relacionados ao Direito . Abordar temas comprometedores para a dignidade da advocacia e debater sobre causa que atuou. 7 ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL. Resolução nº 02/2015. Aprova o Código de Ética e Disciplina da Or- dem dos Advogados do Brasil – OAB. Diário Oficial da União, Brasília, 4 nov. 2015. 43 Enviar, desde que solicitado ou autorizado previamente, conteúdos para colegas, clientes e pessoas. Utilizar mala direta. Utilizar foto e logotipo do escritório. Utilizar símbolos incompatíveis com a advocacia ou oficiais. Mencionar nome completo e número de inscrição na OAB. Mencionar cargos, função pública, emprego ou patrocínio passível de captar clientes. Fonte: elaborado pelo autor. Mesmo que tais regras existam, é possível exercer marketing jurídico sem violar as normas estabelecidas pela OAB, as quais também são utilizadas por diversos outros operadores do Direito. Para obter sucesso nessa nova era, além de não ser permitido, não é preciso divulgar quais tipos de serviços são prestados ou os valores cobrados. As redes sociais permitem que os profissionais sejam vistos e reconhecidos como especialistas nas respectivas áreas de atuação. Assim, ao escrever artigos, gravar vídeos ou podcasts informativos sobre assuntos da sua área de atuação, estes poderão ser acessados por potenciais clientes. Ainda no campo do marketing é possível utilizar redes sociais profissionais, que quando bem trabalhadas, servem de portfólio para manter e criar contatos com profissionais do Direito ou de outras áreas, discutir ideais e firmar parcerias. Atualmente, uma tendência que já ocorre são empresas que buscam diretamente nesse tipo de rede profissionais para preencher suas vagas em aberto. 44 6. Conclusão Percebe-se que muito embora a tecnologia tenha trazido inegáveis vantagens para a sociedade, quando utilizada de forma indevida, pode gerar prejuízos para pessoas específicas ou o todo. Tendo em vista que grande parte da legislação nacional foi promulgada no século passado, o Direito precisa se inovar constantemente para se adequar aos preceitos da atualidade e garantir que deveres e garantias não sejam violados. Assim, cabem aos profissionais do mundo jurídico identificar quais são essas novas realidades para poderem desenvolver sua forma de atuação seja na divulgação de seus serviços, seja na orientação de seus clientes. Referências Bibliográficas BRASIL. Conselho Nacional de Justiça. PCA 0003251-94.2016.2.00.0000. Procedimento de controle administrativo. Juizado Especial Cível e Criminal. [...]. Rel. Daldice Santana. 2017. BRASIL. Decreto-lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Código Penal. Diário Oficial da União, Brasília, 7 dez. 1940. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/decreto-lei/del2848.htm. Acesso em: 10 mar. 2020. BRASIL. Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, 13 jul. 1990. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm. Acesso em: 10 mar. 2020. CHESBROUGH, Henry; BORGES, Marcel. Explicando a inovação aberta: Esclarecendo esse paradigma emergente para o entendimento da inovação. In: CHESBROUGH, Henry; VANHAVERBEKE, Wim; WEST, Joel. Novas fronteiras em inovação aberta. São Paulo: Blucher, 2018. p. 27-53. GABRICH, Frederico de A.; GABRICH, Flávia B. M. Inovação aberta no Direito. In: GABRICH, Frederico de Andrade. Inovação no Direito. Belo Horizonte: Universidade FUMEC. Faculdade de Ciências Humanas, Sociais e da Saúde, 2012. p. 349-388. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm 45 ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL. Resolução nº 02/2015. Aprova o Código de Ética e Disciplina da Ordem dos Advogados do Brasil – OAB. Diário Oficial da União: Brasília, 4 nov. 2015. SHWAB, Klaus. Aplicando a Quarta Revolução Industrial. São Paulo. Edipro: 2016. 46 Disrupção por meio de aplicativos Autor: Paulo Ricaldoni Leitor crítico: Caio Sanas Objetivos • Apresentar as principais inovações em matéria de aplicativos e os conflitos gerados por falta de regulamentação. • Permitir uma visão crítica para que você possa avaliar a relevância de cada inovação. • Possibilitar que os conceitos aprendidos sejam utilizados para situações reais. 47 1. Introdução Os filmes de ficção científica do século passado começam a ganhar forma nos dias de hoje. Veículos aéreos e terrestres não necessitam mais de pilotos para se locomover. Aplicativos de transporte, viagem, hospedagem e aluguel permitem que com apenas um clique no celular possa solicitar o serviço desejado. Contudo, essas tecnologias criam situações que não foram previstas quando o ordenamento jurídico nacional foi criado, e muitas vezes atuam sem qualquer regulamentação legal. Assim, o papel do operadordo Direito é fundamental para analisar as situações criadas e contribuir para criação soluções tão inovadoras quanto as tecnologias. 2. Veículos autônomos Os veículos autônomos, utilizando de avançados sistemas de direção automática, transformam o motorista em passageiro e toda direção é controlada pela Inteligência Artificial. Sensores, câmeras, radares e conexão de internet permitem o controle de velocidade, prevenção de obstáculos, detecção de outros veículos, objetos ou pedestres e realização de manobras. Inclusive, esses sensores possibilitam que a máquina “enxergue” em um ângulo de 360º e, com isso, anular o ponto cego do veículo e perceber situações que o olho humano não identificaria. A previsibilidade de acidentes e tempo de reação também são melhorados com a automação. Enquanto uma pessoa necessita de um certo tempo para reagir diante de um imprevisto (o qual pode variar de acordo com o nível de atenção, cansaço ou estresse), a máquina consegue identificar quase instantaneamente uma situação de risco, calcular a melhor ação a ser tomada e evitar acidentes. 48 Além de substituir o carro próprio de consumidores, essa tecnologia também pode ser utilizada por grandes empresas para o transporte rodoviário podendo manter sua logística funcionando 24 horas por dia. 3. Aplicativos transporte, viagem e hospedagem, navegação, de relacionamento e outros aplicativos de aluguel Segundo pesquisa realizada pela Fundação Getúlio Vargas1, já no ano de 2018 existiam mais de um smartphone por habitante no Brasil, e em um comparativo entre o Brasil e o mundo quanto ao número de celulares, televisores e computadores por habitante temos: Figura1 – Número de dispositivos por habitante em maio de 2018 M un do 7 1% M un do 11 5% M un do 84 % Br as il 83 % Br as il 13 6% Br as il 10 6% Nº de Computadores Nº de Televisores Nº de Smartphones Fonte: elaborada pelo autor. Os smartphones fazem parte do cotidiano da população, permitindo, por meio de aplicativos, que o usuário acesse à internet, ouça músicas, assista vídeos, fotografe, solicite serviços ou crie relacionamentos. 1 FGV. Fundação Getúlio Vargas. 29ª Pesquisa anual do uso de TI nas empresas. São Paulo: FGV, 2018. 49 3.1 Aplicativos de transporte No ano de 2014, juntamente com a Copa do Mundo no Brasil, o primeiro aplicativo de transportes iniciou sua atuação no mercado nacional, e desde então, a categoria se tornou quase tão indispensável quanto os próprios smartphones. Tais aplicativos ocasionam reflexos em diversas áreas da sociedade como: • O mercado do transporte que era exclusivamente feito por taxistas agora possui concorrentes. • Em períodos de crise financeira e índices elevados de desemprego, servem para que brasileiros possam, de maneira autônoma, auferir renda. • O número de novas habilitações no país reduziu em quase 54% entre os anos de 2015 e 20192. No que tange a concorrência com taxistas, estes, alegando não haver regulamentação legal para o funcionamento dos aplicativos, iniciaram batalhas políticas e até físicas contra os motoristas destes. Contudo, o mercado já estava estabelecido, e não obtiveram êxito, tendo que se readequar à nova realidade, melhorando seu atendimento e criando aplicativos para a categoria. 3.2 Aplicativos de viagem e hospedagem Até o início do século, agências de viagem dominavam o mercado de turismo no país e, como era complexo conseguir organizar um passeio sem auxílio profissional, a população recorria à estas empresas. Com o surgimento de aplicativos de viagem e hospedagem, o próprio 2 BRASIL. Ministério da Infraestrutura. Quantidade de Habilitados no mês de dezembro de 2019. Brasília: DENATRAN, 2019. 50 consumidor, no conforto de sua casa, consegue escolher o destino, o meio de transporte, o local em que ficará hospedado, alugar carros e, ainda, comparar preços. Também é possível ler avaliações e comentários de outros usuários quanto às hospedagens que possui interesse, ver fotos reais sem qualquer tipo de produção profissional e ler sobre pontos turísticos e roteiros para viagem. Todavia, quando um consumidor adquire um pacote de viagem em uma agência, e durante seu passeio tem algum imprevisto como atraso de viagem ou indisponibilidade de quartos, essas empresas normalmente prestam auxílio aos viajantes. Porém, por meio dos aplicativos, por ser impessoal, esse serviço não é ofertado, e o consumidor precisa resolver sozinho os problemas. Caso o problema não seja solucionado e seja necessário ajuizar uma ação, pelo princípio da solidariedade, poderão incluir no polo passivo, além da causadora do dano, a própria companhia de viagem, porém, existe discussão se os aplicativos são responsáveis pelos danos ou se simplesmente divulgam ofertas. 3.3 Aplicativos de navegação Antes do GPS, para chegar a algum lugar era preciso ter um mapa ou ir perguntando o caminho, o que, constantemente, ocasionava em pessoas perdidas e rotas erradas. Para resolver esse problema, os aplicativos de navegação foram desenvolvidos, permitindo ainda que após inserir o ponto de partida e o destino, o usuário possa escolher a melhor rota, ter ciência do tempo gasto com o deslocamento e em tempo real receber orientações de como chegar no local desejado. Por estarem conectados à internet, conseguem identificar trajetos com congestionamento e sugerir rotas alternativas. Uma outra funcionalidade é o compartilhamento de localização para que alguém de confiança possa verificar onde o usuário está. 51 Todavia, mesmo quando não estão sendo utilizados diretamente, em regra, coletam informações de localização do usuário, assim, caso exista algum vazamento de dados ou uma invasão, poderão ser usados para práticas ilegais, como por sequestradores que estudarão a rotina de uma vítima antes de cometer o ilícito. 3.4 Aplicativos de relacionamento As redes sociais foram criadas para conectar pessoas de acordo com seus interesses e, ocasionalmente, possibilitam que relacionamentos afetivos entre seus usuários aconteçam. Diante do enorme potencial de mercado, surgiram aplicativos de relacionamentos para que pessoas se conheçam virtualmente e iniciem o primeiro contato que poderá ocasionar em um relacionamento duradouro. Existem diversos formatos, mas, em regra, os usuários podem ver o perfil de outros e marcar se possuem interesse ou não. Caso se “curtam” mutuamente, o aplicativo abrirá um chat para que iniciem uma conversa. Por estar em um ambiente virtual, alguns cuidados devem ser tomados. Os perfis podem ser falsos e intenções indevidas, portanto, o usuário deve sempre estar atento a não compartilhar dados pessoais sensíveis e marcar encontros em locais públicos. Após ocorrerem diversos incidentes, as próprias plataformas disponibilizaram dicas de segurança para que os aplicativos não sejam usados para a consumação de crimes como estupro ou tráfico internacional de pessoas. 3.5 Aplicativos de aluguel A Lei nº 11.771/083, em seu art. 23 estabelece que serão considerados como: 3 BRASIL. Lei nº 11.771, de 17 de setembro de 2008. Dispõe sobre a Política Nacional de Turismo [...]. Diário Oficial da União, Brasília, 18 dez 2008. 52 Meios de hospedagem os empreendimentos ou estabelecimentos, independentemente de sua forma de constituição, destinados a prestar serviços de alojamento temporário, ofertados em unidades de freqüência (sic) individual e de uso exclusivo do hóspede. (BRASIL, 2008) Tradicionalmente, esse tipo de hospedagem de curta duração (alguns dias ou algumas semanas) era feita por hotéis, e no caso de particulares, normalmente, de casas de praia. Com o advento de aplicativos de hospedagem, indivíduos que possuem um imóvel vazio ou até mesmo algum cômodo em sua própria casa podem anunciá-los diretamente aos interessados. Muito embora tenham facilitado esse tipo de contrato, como a maioria das inovações disruptivas não possui legislação específica, e enquanto parte da doutrinaentende que são permitidos com base no direito de propriedade, outra parte julga que caso não exista autorização em convenção de condomínio para serviços hoteleiros eles são indevidos. 4. Prestação de serviços médicos pela internet A prestação de serviços médicos pela internet, busca a expansão e melhoria de atendimentos na área da Saúde possibilitando que médicos prestam serviços à distância por meio de tecnologias como videoconferência. Dentre outras possibilidades, são utilizados para: • Esclarecer dúvidas sobre procedimentos, ações de saúde e tratamentos. • Realização de diagnósticos de exames. • Sanar dúvidas sobre qual médico o paciente deve ser encaminhado. • Médicos comunicarem entre si para obter opiniões sobre casos específicos. 53 Essa modalidade de serviço possibilita a diminuição de distâncias geográficas, possibilitando atendimento em áreas remotas, redução de filas e tempo de atendimento e deslocamentos desnecessários. Contudo, é expressamente vedado pela resolução nº 1.974/2011 do CFM4 a realização de consultas médicas virtuais, sob pena de violação da ética médica. 5. Espaços de coworking Na era da informação, em que o conhecimento é compartilhado, os locais de trabalho também passam a ser. Para que uma empresa ou profissional autônomo tenha seu espaço próprio, precisará arcar com gastos de energia, água, aluguel, internet, mobílias, limpeza e atendimento. Todos esses custos podem ser elevados, e dependendo do faturamento, serão mais um empecilho para o negócio prosperar. Mas, ao utilizar um coworking, essas despesas podem ser compartilhadas com outros profissionais. A estrutura funciona como um aluguel de uma ou algumas mesas de trabalho para que o locatário possa usufruir de toda a estrutura do espaço e se beneficiar com a possibilidade de economizar com todos os custos citados e criar network com pessoas da mesma ou de outra área de atuação, ao permitir uma maior interação entre os residentes. O responsável pelo espaço deve tomar alguns cuidados, como zelar pela manutenção do espaço e segurança, verificação de legislações locais, regulamentando esse tipo de empreendimento, contratação de seguro para espaço comercial que abranja terceiros, obtenção de alvará de funcionamento e verificação se os residentes possuem legitimidade para exercer a profissão e se as atividades são lícitas. Caso o espaço 4 CFM. CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA. Resolução CFM nº 1.974/2011. Estabelece os critérios norteado- res da propaganda em Medicina [...]. Diário Oficial da União: Brasília, 19 ago. 2011. 54 utilizado pelo coworking seja alugado, deverá ter um contrato que permita sublocação. 6. Serviços em nuvem Também chamada de cloud computing, a computação em nuvem permite que, ao acessar a internet, o usuário possa não só armazenar arquivos, mas interagir com estes, podendo criar, visualizar ou editar. Um tablet ou notebook, também podem trazer mobilidade, mas eles estão sujeitos a imprevistos como acidentes, falta de bateria ou até roubos. Caso isso aconteça, todos os arquivos poderão ser perdidos, e dependendo da situação, é preciso acessá-los imediatamente. Todavia, por meio de um serviço em nuvem é possível manter um backup virtual e acessá-los de qualquer dispositivo e lugar. Por exemplo, em uma viagem, caso precise editar um contrato, sem essa tecnologia, terá que aguardar o retorno ou solicitar que alguém o faça. Igualmente, o Direito é conhecido pela imensa quantidade de papel utilizado, documento de clientes, cópia de petições, contratos etc. Essa é outra vantagem da nuvem: com ela, não existe mais a necessidade de se armazenar fisicamente todos esses dados, favorecendo, ainda, a questão ambiental. O custo também é reduzido, pois, em algumas situações, é necessário manter espaços somente para arquivos de documentos. 7. Internet das Coisas A Internet das Coisas (IoT) é um dos principais meios de conexão entre o mundo físico e digital, de modo que objetos conectados à internet, sem a necessidade de acessar um navegador da web, comuniquem entre si e com o usuário. 55 Relógios, geladeiras, fogões, aspiradores de pó, controle de iluminação e temperatura, são alguns exemplos de objetos que podem usufruir dessa tecnologia. Ao comunicarem entre si, o cruzamento de dados possibilita mais conforto, produtividade e praticidade para cada indivíduo. Siri (Apple), Cortana (Windows) e Alexa (Amazon) são algumas das assistentes virtuais que conectam os vários aparelhos com acesso à internet e permitem o controle por voz do usuário. Também pode ser utilizado em indústrias e no comércio para aumentar a produtividade, controlar o estoque, monitorar frotas de veículos, irrigar áreas de plantios e monitorar condições climáticas. Pelo Governo, surgem como solução para políticas públicas para o controle de semáforos, iluminação das cidades e acompanhamento em tempo real da rede de energia e água. Para que a Internet das Coisas possa funcionar é preciso coletar constantemente uma infinidade de dados, logo, mesmo que tenha o potencial de aumentar a eficiência de utilização de recurso, produtividade e qualidade de vida, se a segurança dessas informações não for adequada, o vazamento ou uso indevido de dados podem trazer riscos para os indivíduos e para a sociedade. 8. Impressão 3D A impressora 3D permite que objetos físicos sejam impressos a partir de um modelo ou desenho digital, de modo que objetos físicos são produzidos camada por camada, permitindo a produção de formas complexas que normalmente exigiriam máquinas de igual complexidade5. Os objetos criados permitem maior personalização e sua utilização é ilimitada, podendo criar peças sobressalentes de veículos, utensílios 5 SHWAB, Klaus. A quarta Revolução industrial. São Paulo. Edipro: 2016. 56 domésticos, órgãos e próteses médicas, bem como pontes e casas. Contudo, devido à facilidade de criar cópias, existe o risco de criação de objetos pirateados com menor qualidade, mas com aparência idêntica. 9. Drones Drones são veículos aéreos não tripulados e controlados remotamente que variam de tamanho desde alguns centímetros para grandes aviões. Ganharam popularidade como aparelhos para fotografias aéreas, mas inicialmente foram desenvolvidos como ferramentas de guerra para atacar ou identificar tropas inimigas. Por não possuírem um piloto, é possível que tenham uma estrutura reduzida, aumentando sua camuflagem e velocidade, bem como, no caso de serem abatidos não existem vidas humanas perdidas. Após sua entrada no mercado civil, suas utilizações foram ampliadas para executar tarefas cotidianas como entrega de produtos, fotografias, monitoramento de áreas de plantio, identificação de pessoas perdidas ou vítimas de acidentes naturais e entrega de suprimentos médicos e alimentos em áreas de difícil acesso. 10. Jogos eletrônicos e realidades sintéticas Durante muito tempo, os jogos eram sinônimos de imaturidade e relacionados a adolescentes, mas cada vez mais empresas e escolas utilizam técnicas de gamificação para cativar e motivar o público. Para que possa ser aplicada, envolve a necessidade de uma nova mentalidade de gestores e o emprego de características peculiares do mundo dos jogos como ranking de usuários, objetivos a serem alcançados, bonificação por uma etapa bem sucedida, regras bem definidas e 57 possiblidade de acompanhamento dos resultados. Dentre os diversos benefícios que podem trazer, temos: • Simplificação de tarefas complexas como treinamento de novos funcionários. • Maior engajamento dos participantes para que possam atingir seus objetivos. • Sentimento de conquista mensurável ao possibilitar o ganho de troféus por cada objetivo alcançado. • Permite uma autoavaliação instantânea do participante para que possa identificar seus erros e acertos. No universo dos jogos, existem as realidades sintéticas nas quais o real se mistura com o virtual permitindo que os participantes, muitas vezes insatisfeitos com
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