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Nicolas Martins 2025.1 - Farmacologia I Aula 04 INTERAÇÃO FÁRMACO-RECEPTOR aaaaaaaFARMACODINÂMICAaaaaaaa É o estudo da interação do fármaco com alvos celulares (receptores). Os efeitos terapêuticos dos fármacos resultam de suas interações com receptores ⇒ Só o fármaco livre possui efeito farmacológico pois somente nessa configuração é possível a ligação com o receptor. ➤ Fármaco Uma substância química que altera a intensidade ou extensão de um processo biológico ➤ Receptor Qualquer macromolécula celular que se liga aos fármacos e medeia suas ações farmacológicas. O conceito de receptor tem consequências práticas importantes para o desenvolvimento de fármacos e para a tomada de decisões terapêuticas na prática clínica. Essas consequências formam a base para a compreensão das ações e dos usos clínicos de fármacos. Elas podem ser resumidas em: 1 - Os receptores determinam as relações quantitativas entre dose ou concentração de fármacos e efeitos farmacológicos. A afinidade do receptor para se ligar a um fármaco determina a sua concentração necessária para forma um número significativo de complexos fármaco-receptores, e o número total de receptores pode limitar o efeito máximo que um fármaco produz 2 - Os receptores são responsáveis pela seletividade de um fármaco. O tamanho, o formato e a carga elétrica molecular de um fármaco determinam se - e com que afinidade - ele se prenderá a um receptor em particular dentro da vasta coleção de sítios de ligação quimicamente diferentes disponíveis em uma célula, tecido ou disponíveis. Em conformidade, mudanças na estrutura química de um fármaco podem aumentar ou diminuir drasticamente a afinidade de um novo fármaco por classes diferentes de receptores. 3 - Os receptores medeiam as ações de agonistas e antagonistas farmacológicos. Alguns fármacos e muitos ligantes naturais, como hormônios e neurotransmissores, regulam a função de macromolécula receptores como agonistas, isso significa que ativam o receptor para sinalizar como um resultado direto da sua ligação. ➤ Estruturalmente Inespecí�cos = Atuam de forma inespecífica, depende apenas das propriedades físico-químicas da molécula, ácidos e bases fracas. Exemplo: antiácidos. Os antiácidos atuam neutralizando a acidez do estômago por serem fármacos básicos, ocorre a reação química entre ácido e base. Nesse caso, o efeito vai depender de características como a carga do fármaco, a sua mudança de osmolaridade plasmática. Então, não há uma característica específica que interfira nos seus efeitos, como um receptor altamente específico para reconhecer estruturalmente o fármaco. ➤ Estruturalmente Especí�cos = Maioria dos fármacos. Consiste na interação fármaco-receptor, o reconhecimento de estruturas orgânicas pelos aminoácidos dos receptores, ou seja, depende de um receptor. Exemplo: Nicotina consegue reconhecer receptores nicotínicos. As respostas farmacológicas vão depender da interação do fármaco com o receptor, o receptor é específico. Existem vários subtipos de receptores. Os receptores são macromoléculas altamente especializadas. Uma substância pode interagir com diferentes receptores e dependendo do receptor que ela interage pode gerar respostas antagônicas. Moléculas endógenas (como neurotransmissores e hormônios) se ligam a receptores formando uma resposta fisiológica após a ativação da cascata de sinalização. Nesses mesmos receptores temos a capacidade de moléculas exógenas se ligarem e alterarem a resposta. ➤ Forças de ligação: São características peculiares que promovem a interação. Essas forças geram o conceito de afinidade do fármaco com o sítio do receptor. São determinadas por forças intermoleculares, como interações hidrofóbicas, eletrostáticas, covalentes e estéricas. A força que apresenta ligação mais forte é a de covalente, assim sendo irreversível. Para quebrar essa interação precisa de uma energia muito forte. Frente a interação fármaco receptor, é melhor ligações do tipo fracas, pois necessitam de uma alta a�nidade (se é fraca necessita de ainda mais a�nidade com o sítio de ligação) e a ligação pode ser quebrada mais facilmente. Se fosse uma ligação do tipo forte, o fármaco ficaria por muito mais tempo no sítio de ligação, aos receptores seriam constantemente ativados e assim iriam potencializar o efeito. ⇒ Ligações covalentes - Exemplo: A ligação covalente formada entre o grupo acetila do ácido acetilsalicílico e a cicloxigenase, seu alvo enzimático nas plaquetas, não é facilmente desfeita. O efeito bloqueador de plaquetas do ácido acetilsalicílico dura por muito tempo, bem depois de o ácido acetil salicílico livre ter desaparecido da corrente sanguínea e só é revertido pela síntese de nova enzima em novas plaquetas, processo que leva vários dias. ⇒ Ligações eletrostáticas - Exemplo: variam desde laços entre moléculas iônicas com carga permanentemente a ligações de hidrogênio mais fracas e interações dipolo induzido muito fracas ( forças de van der waals ) e fenômenos semelhantes. As ligações eletrostáticas são mais fracas do que as ligações covalentes ⇒ Ligação Hidrofóbicas - São geralmente muito fracas e, provavelmente, importantes nas interações entre fármacos com alta lipossolubilidade e lipídeos das membranas celulares, bem como, talvez, na interação de fármacos com as paredes internas de “bolsas” de receptores Fármacos que se prendem por ligações mais fracas aos seus receptores tendem a ser mais seletivos do que fármacos que se prendem por meio de ligações muito fortes. Isso é devido a ligações fracas exigirem um encaixe muito preciso do fármaco a seu receptor para que aconteça uma interação. Desse modo, caso quisermos elaborar um novo fármaco com uma ação curta e muito seletivo para um receptor especí�co a melhor escolha seriam fármacos que fazem ligação mais fraca ➤ Coe�ciente de ionização ( pKa ) e Lipo�licidade Coe�ciente de Ionização (pKa) Dependendo do pKa, o fármaco pode estar ionizado ou não ionizado visto que a maioria dos fármacos são bases ou ácidos fracos. - Ionizado – mais hidrossolúvel - Não ionizado – lipossolúvel De acordo com a ionização ou não do fármaco, pode-se manipular a eliminação de acordo com as mudanças do pH compartimental. Lipo�licidade (log P) É definida pelo coeficiente de participação de uma substância entre a fase orgânica e a fase aquosa. Assim, o fármaco precisa apresentar um grau no qual se possa ter parte dele solúvel na fase orgânica e parte solúvel na fase aquosa ➤ Complementaridade Estereoquímica Grupamento farmacofórico = Grupo funcional ou grupos funcionais caracterizando subunidade estrutural responsável pela atividade farmacológica do fármaco. Dentro da estrutura molecular existem grupos que vão ter a�nidade. Por isso a adição e retirada de grupos funcionais in�uenciam diretamente a a�nidade pelos receptores. Enantiômeros = Muitos fármacos são moléculas quirais e muitos medicamentos são misturas racêmicas, compostos por um enantiômero mais potente e ativo em um sítio receptor do que o outro; os outros 50% são inativos ou tóxicos. Numa mistura racêmica (os dois enantiômeros presentes em 50%) o que acontece é que o fármaco é um dos enantiômeros. Temos o caso do omeprazol que é vendido em mistura racêmica e o esomeprazol que é o enantiômero, vendido sozinho. O esomeprazol também tem vantagem por ter farmacocinética mais prolongada ➤ Teoria da ocupação dos receptores TEORIA DE CLARK: “ A resposta de um fármaco é proveniente da interação do fármaco com receptores especí�cos” Clark aplica, dentro desse conceito, a aplicação matemática da aplicação farmacológica: a magnitude do efeito é proporcional à quantidade de receptores ocupados, ou seja, quando mais a ocupação fármaco-receptor, maior será a magnitude da resposta farmacológica, então, ocorrerá um efeito máximo. Efeito Máximo - Na clínica, sempre desejamos que o fármaco utilizado tenha o máximo de efeito que ele pode ter, esse efeito máximo vem dessa magnitude de receptores ocupados. O efeito máximo só será alcançado quando todos os receptores forem ocupados.50% do Emáx resulta da ocupação de 50% dos receptores em determinados sistemas biológicos. Isso é de extrema importância, pois gera a EC50 Para que consigamos a interação fármaco-receptor é preciso ter certa a�nidade, que gera um efeito, mas também é necessário que tenhamos a capacidade de dissociação; A constante de dissociação e a constante de a�nidade são inversamente proporcionais! Como são inversamente proporcionais podemos dizer que quanto mais baixo for o valor da constante de dissociação, maior todos os parâmetros de a�nidade fármaco-receptor ( FR ), e quanto mais alta for a constante de dissociação menor a interação FR ( Libera rapidamente ) menor a�nidade, facilidade para dissociar o fármaco de receptor, e dissociação rápida Essa teoria acaba não explicando porque alguns fármacos nunca produzem efeitos máximos ou nunca produzem qualquer efeito, mesmo quando temos todos os receptores ocupados. Desse modo, não explica porque certas “ chaves” não abrem a “fechadura” e certas “chaves” só abrem parcialmente. A teoria que explica a situação é a teoria de Ariens: Teoria da atividade Intrínseca Teoria de Ariens - Teoria da atividade intrínseca ( Além da ocupação dos receptores, a atividade intrínseca (capacidade do fármaco gerar resposta) é fundamental para produzir efeitos Essa teoria explica que alguns fármacos não vão produzir efeito máximo ou não produzem efeito mesmo quando todos os receptores estão ocupados porque há uma atividade intrínseca inerente do fármaco. Então para que a gente tenha um efeito é primeiro necessário que se tenha uma fração de receptores ocupados, formando o complexo FR e, em segundo plano, necessidade de atividade intrínseca do fármaco para que o efeito farmacológico seja gerado ⇒ Atividade Intrínseca - Efeito agonístico máximo = capacidade de disparar uma resposta intracelular Para que a gente consiga produzir um efeito farmacológico, não é necessário apenas a formação do complexo fármaco-receptor. O efeito farmacológico é proporcional à a�nidade ( ligação do FR para formação do complexo ) e à atividade intrínseca ( alfa ), que é a capacidade de ativar o receptor ) - Afinidade: Ligação do fármaco com o receptor - Atividade Intrínseca (alfa): Capacidade de ativar o receptor O alfa pode variar de 0 a 1 Agonista parcial → Nesse sistema, o agonista não gera o mesmo efeito máximo gerado pelo agonista total, porque possui a�nidade, mas sua capacidade de disparar os mecanismos intracelular não é tão e�caz quando comparamos ao agonista total Agonista Inverso Baseado no modelo de dois estados, o receptor pode estar no estado ativo ou no estado de repouso/inativo, independente da presença de uma substância. Quando administramos um fármaco que tem a�nidade com esse tipo de receptor, esse fármaco pode ter preferência pelo estado ativo, atuando como agonista total ou pleno, ou uma preferência pelo estado de repouso. Quando o fármaco tem preferência pelo estado de repouso ele é chamado de agonista inverso Quanto mais receptor no estado de repouso, mais ligação o Metoprolol vai fazer, e assim reduz a atividade pois reduz o número de receptores no estado ativo, o agonista inverso vai aprisionar os receptores no estado inativo. Quanto mais receptor no estado de repouso, mais ligação o Metoprolol vai fazer, e assim reduz a atividade pois reduz o número de receptores no estado ativo, o agonista inverso vai aprisionar os receptores no estado inativo. Antagonistas → Possui a�nidade, mas sua atividade intrínseca é nula, não vai disparar eventos intracelulares ( cascatas de sinalização ), então , ele simplesmente se liga no receptor e vai bloquear ele. Assim, impede que uma substância endógena ou um fármaco agonista acaba ativando um sistema, uma vez que o agonista acaba ativando o sistema porque ele sim possui atividade intrínseca ( alfa ) Antagonista competitivo Competem pelo sítio do agonista, ele também se liga ao receptor. Exemplo: Propranolol que compete pelo sítio da adrenalina (agonista endógeno). Antagonista não competitivo Ele pode não competir pelo sítio ou apresentar uma ligação do tipo covalente, a mais forte, se liga no receptor e não solta. No grá�co dose X resposta iremos observar diminuição da curva, um decaimento do efeito farmacológico. Mesmo na administração de doses altas de adrenalina, o efeito será muito baixo. ➤ Curva dose-resposta Existem as respostas em termos graduais e em termos quantuais. Na dose-resposta gradual teremos uma relação do log da concetnração do agonista com sua resposta �siológica/farmacológica. Gra�camente, quando vamos testar um fármaco em doses aumentadas e observamos o que ocorre com o aumento dessa dose, temos uma relação dose-resposta e então dos conceitos muito imporatntes são gerados: Potência: Concentração na qual é possível gerar uma resposta. EC50 ou dose ED50 de um fármaco necessaria para produzir 50% do efeito maximo A e�cácia é o quanto aquela resposta gerada após aquela concentração especi�ca, ou seja, re�ete o limite da relação dose-resposta A concentração na qual é possível gerar 50% da resposta máxima, é menor para o fármaco A comparada com os fármacos B e C. Então, para que seja gerada 50% dessa resposta, é necessário aumentar a dose de C e de B, enquanto com uma dose menor de A, 50% da resposta já é atingida. Assim, o fármaco A é mais potente que os fármacos B e C. O fármaco B tem a mesma e�cácia de A porque aumenta a dose, ambos atingem o efeito máximo, o que não ocorre com C. B é e�caz? Sim, mas para ter a mesma eficácia, é necessário que a dose seja aumentada (clinicamente isso pode ser prejudicial. Assim, A se mostra mais vantajoso. C é mais potente do que B porque com uma dose menor é possível alcançar 25% da resposta, mas sua eficácia é menor, porque o máximo que ele alcança é 50%, enquanto B é capaz de chegar aos 100%. O índice terapêutico faz a correlação entre a dose letal média ( concentração que leva a 50% de morte), e a dose efetiva média. Essa índice avalia letalidade e toxicidade animal: Dose letal média ( DL50 ) - dose que mata 50% dos animais Dose efetiva mediana ( DE50 ) - dose na qual 50% dos animais exibem efeito quantal Curvas dose-resposta do agonista na presença do antagonista competitivo reversível A curva é deslocada para a direita, pois para haver o deslocamento será necessário demais agonistas para atingir o efeito máximo. Como o antagonista é competitivo a afinidade diminui e para calcular a afinidade (inverso de Kd). O Kd aumenta então a afinidade diminui. Logo, a afinidade diminui na presença de um antagonista. Curvas dose-resposta do agonista na presença do antagonista competitivo irreversível O receptor está ocupado e não sai mais. Então não adianta aumentar a dose do antagonista pois o efeito máximo não será alcançado. Curvas dose-resposta do agonista na presença do antagonista não competitivo aaaaaaaaOUTRAS TEORIASaaaaaaaa Dentro dessa interação fármaco-receptor temos o conceito de Ação Farmacológica por meio de Receptores. Para Langley, é necessária a interação da substância com um receptor específico. Já para o pesquisador Ehrlich para que ocorra a interação com o receptor é preciso macromoléculas extremamente especializadas para o reconhecimento e interação com o receptor. Fisiologicamente, essas macromoléculas especializadas são as nossas moléculas endógenas (que também são moléculas exógenas – veremos mais depois), como neurotransmissores, hormônios que geram uma resposta fisiológica por conta dessa ação no receptor e essa intercambialidade (capacidade de ir e voltar – seta com mão dupla) precisa para que haja ligação, afinidade e dissociação. Pois se não houver o ir e vir, haverá uma molécula altamente especializada que interage com o receptor e não o larga mais e isso não é o ideal. Há moléculas endógenas (produzidas fisiologicamente) que também são moléculas exógenas. Às vezes essas moléculas produzidas fisiologicamente não dão conta da ação benéfica necessária, então temos, por exemplo, a adrenalina, que é produzida, mas também estána ampola e pode ser administrada, sendo nesse momento uma substância exógena, pois é necessário aumentar a concentração de adrenalina e só conseguirei fazer isso administrando essa substância que foi fabricada industrialmente. Essas moléculas exógenas possuem características químicas e estruturais semelhantes às substâncias endógenas. É necessário ter essa semelhança para que tenhamos a interação, pois só assim é possível ter a ação específica no receptor que nunca muda, é sempre o mesmo. Preciso de estruturas funcionais dessa molécula exógena que se assemelha à da molécula endógena. Então é preciso construir uma molécula química baseada na estrutura do receptor, pois o receptor não muda, mas a molécula química pode mudar. Fisher descreveu o modelo da “chave-fechadura”, que vai delimitar a necessidade de uma Complementaridade molecular. Há um biorreator e uma estrutura química. A molécula possui grupamentos funcionais importantes na sua estrutura fundamental e eles são extremamente necessários para que se tenha a complementaridade, assim como a chave é complementar a fechadura, pois só assim tem como haver a interação. Se observarmos, parte da chave seria “desnecessária” e precisaríamos só da interação, assim como parte da molécula pode também ser “desnecessária” e, a partir daí, os químicos conseguem retirar ou modificar parte dessa molécula para otimizar essa complementaridade.
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