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Sakurabiat - Povos Indígenas no Brasil

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Sakurabiat - Povos Indígenas no Brasil
Reduzidos demograficamente, porém fortes e guerreiros, os Sakurabiat travam
uma luta diária pela sobrevivência e manutenção de sua cultura e costumes.
Desde os primeiros contatos com não-índios, têm sofrido vários tipos de
exploração. Trabalharam por muito tempo na extração da borracha, no sistema
de barracão. Estiveram sob o jugo de várias madeireiras que invadiram seu
território e lá montaram serrarias. Na luta pela demarcação de sua terra, foram
acusados pelos invasores de serem eles os invasores de uma terra ocupada por
seus ancestrais desde tempos imemoriais. Venceram a batalha pela terra,
demarcada e homologada desde 1996, mas ainda há muitas outras batalhas.
Hoje revivem as "histórias dos antigos", contadas pelos idosos na língua
Sakurabiat, ao mesmo tempo em que se preocupam em descobrir maneiras de
voltar a ensinar a língua para suas crianças.
Nome
Um dos tipos de casa sakurabiat. Foto: Ana Vilacy Galucio, 2002.
Autodenominação do povo, Sakirabiat é uma palavra complexa que significa
literalmente "o grupo dos macacos-pregos" (sakurap=macaco-prego;
-iat=coletivo; pl). A designação sakurabiat era inicialmente restrita a um dos
subgrupos desse povo, tendo sido adotada por toda a comunidade na década de
1990, em uma decisão conjunta de agrupar sob uma mesma denominação os
vários subgrupos (territoriais) que se encontravam reduzidos a pouquíssimas
pessoas, embora mantendo internamente as subdivisões. Por essa razão, os
próprios Sakurabiat em certas ocasiões referem-se ao nome Sakurabiat como
significando "aqueles que se juntaram", o que recupera a conotação política do
termo e é importante para a política externa do grupo.
De acordo com a ortografia usada para a língua (cf. Galucio, 1998), a grafia do
nome é Sakurabiat, onde a letra “u” representa a vogal central alta [i], ou seja,
http://img.socioambiental.org/d/226680-1/sakurabiat_2.jpg
http://img.socioambiental.org/d/226680-1/sakurabiat_2.jpg
foneticamente o nome do grupo é pronunciado [sakirabiat]. A grafia usada no
decorrer deste verbete será, portanto, Sakurabiat, conforme a ortografia da
língua. Outras grafias têm sido registradas, tanto em documentos oficiais do
governo, como na literatura científica, por exemplo: Saquirabiar, Sakirap,
Sakirabiar, Sakirab, Sakirap.
Por outro lado, o povo autodenominado Sakurabiat é tradicionalmente
conhecido como Mekens (Mequens, Mequen, Moquen, Michens, Mequenes e
Meke). Esta denominação, além de se referir ao povo que mora hoje na Terra
Indígena Rio Mequens, foi também uma denominação geral atribuída, desde o
século XVII, a pessoas pertencentes a diferentes (sub)grupos étnicos habitantes
da região do rio Mequéns.
No séc XVIII, o nome Mequens era usado para identificar os povos Amniapé
(Amniapä) e Guarategaja, ambos lingüística e culturalmente relacionados ao
povo que hoje vive na Terra Indígena Rio Mequens.
Já no século XX, a mesma denominação (Mequéns, Mekens) é estendida, além
dos Amniapé (Amniapä) e Guarategaja, aos Guaratira (Koaratira), Guarategaja
(Korategayat), e Sakurabiat (Sakurap). O termo Mequéns (Mekens) é
provavelmente derivado, por corruptela, da palavra moquém, a qual deriva
etimologicamente do Tupi moka’ (moca'em) e significa "espécie de grelha, feita
de varas, para assar ligeiramente a carne; carne preparada segundo essa técnica
indígena" (cf. Cunha 1978).
Língua
Conceição Saquirabiar, TI Rio Mequens, tecendo marico. Foto: Ana
Vilacy Galucio, 2002.
A língua Sakurabiat (ou Mekens) pertence à família lingüística Tupari, do tronco
Tupi. As outras línguas dessa família são Ajuru, Akuntsu, Makurap e Tupari,
todas faladas no estado de Rondônia, por grupos relativamente pequenos.
Apesar de, atualmente, os Sakurabiat formarem um grupo pequeno, existem
ainda quatro subgrupos auto-identificados entre eles: Sakurabiat, Guaratira
https://terrasindigenas.org.br/pt-br/terras-indigenas/3765
https://terrasindigenas.org.br/pt-br/terras-indigenas/3765
https://terrasindigenas.org.br/pt-br/terras-indigenas/3765
https://terrasindigenas.org.br/pt-br/terras-indigenas/3765
http://img.socioambiental.org/d/226684-1/sakurabiat_3.jpg
http://img.socioambiental.org/d/226684-1/sakurabiat_3.jpg
https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Akuntsu#L.C3.ADngua
https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Akuntsu#L.C3.ADngua
https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Makurap
https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Makurap
(Koaratira), Korategayat (Guarategaja; Guarategajat) e Siokweriat.
Um reflexo dessa subdivisão é a variação dialetal observada. Três dialetos foram
identificados: Guaratira, Siokweriat e Sakurabiat, sendo que este último abarca
os dialetos dos Sakurabiat e dos Korategayat. Os três dialetos são mutuamente
inteligíveis, sendo as diferenças entre os mesmos, em geral, restritas a questões
de vocabulário. Por exemplo, todos os dialetos possuem um fonema fricativo
surdo /s/, com dois alofones: [s] em posição inicial e [ts] em posição
intervocálica. Porém, em algumas palavras o /s/ intervocálico ocorre apenas no
dialeto Sakurabiat. Por exemplo, a palavra para 'meu pé' é opiso em Sakurabiat,
mas opio, nos outros dois dialetos. Já a palavra para 'homem; pessoa' é aose
[aotse] em todos os dialetos.
A autodenominação Sakurabiat é utilizada tanto em referência ao povo quanto à
língua e engloba todos os subgrupos, no caso do povo, e os dialetos, no caso da
língua.
O status da língua nativa dos Sakurabiat e da sua cultura tradicional, a partir do
contato com a sociedade envolvente, tem sofrido oscilações que vão desde a
situação em que a língua e cultura gozam de prestígio e são valorizadas até a
situação em que a língua perde prestígio e espaço para a língua portuguesa.
Atualmente, embora se perceba um desejo geral na comunidade Sakurabiat de
reforçar o uso da língua nativa, essa vontade não chega a ser realizada e a
mesma encontra-se em uma situação preocupante. As crianças da comunidade
não estão aprendendo Sakurabiat e até mesmo os adultos mais novos já são em
sua maioria apenas falantes passivos da língua.
De 1996 até o presente, pode-se dizer que apenas uma menina, hoje
adolescente, aprendeu Sakurabiat. Somente cerca de 23 pessoas na TI Rio
Mequens ainda falam fluentemente a língua indígena, incluindo os mais idosos
da comunidade. Entretanto, em geral, todos conhecem palavras do vocabulário
cotidiano em Sakurabiat, tais como nomes de animais e plantas mais comuns,
termos de parentesco, manufaturas e utensílios domésticos. No que se refere à
relação com a sociedade envolvente, do ponto de vista lingüístico, o Português é
falado fluentemente por todos na comunidade, sendo já a primeira e única
língua da maioria da população.
Localização
Vista parcial de uma das aldeias. Foto: Ana Vilacy Galucio, 2002.
Os Sakurabiat vivem nas Terras Indígenas Rio Guaporé e Rio Mequéns, no
estado de Rondônia. A TI Rio Mequéns fica no município de Cerejeira e localiza-
se na região habitada pelos Sakurabiat desde tempos imemoriais. Trata-se de
uma área próxima às cabeceiras dos rios Mequéns e Verde, ambos tributários
dos rios Colorado e Guaporé.
As ocupações atuais estão em áreas de floresta, sempre próximas a pequenos
igarapés, com pouca disponibilidade de peixes, mas ainda com uma boa
distribuição de animais de caça, base da dieta alimentar da população.
As poucas famílias que saem da TI, em busca de emprego ou de escola para seus
filhos, mudam-se para os municípios de Pimenta Bueno e Parecis e para a
localidade de Riozinho, no município de Cacoal. Existem informações de que
algumas famílias saíram da TI no final da década de 1980 e foram morar em
outros municípios da região.
População
Em 1994, a população da TI Rio Mequéns estava reduzida a 68 pessoas,
distribuídas da seguinte maneira: 35 adultos (entre Guaratira, Korategayat,
Sakurabiat e Siokweriat), 27 crianças (dos quatros subgrupos), 01 mulher
Makurap, casada com um homem do subgrupo Sakurabiat, e seu filho de um
outro casamento, 03 não-índios, casados com pessoas da comunidade, e 01
família de índios Atikum, compostade 04 pessoas. Devido ao número reduzido
de pessoas, especialmente de mulheres, casamentos com mulheres não-índias,
das cidades vizinhas, são comuns entre os Sakurabiat.
De 1994 até o presente (2003), houve um pequeno crescimento na população
Sakurabiat, mas o número de pessoas morando na TI manteve-se praticamente o
mesmo, uma vez que os Makurap e duas famílias Sakurabiat, num total de 13
pessoas, mudaram-se para cidades vizinhas. O número de nascimentos vem
sendo crescente nesse período e somente três óbitos foram registrados.
No início de 2003, havia 66 pessoas morando dentro da TI, incluindo uma nova
família Atikum que veio se juntar à primeira. Sendo que, desse total, há 08
pessoas que moram parte do ano em uma das cidades próximas, para estudar.
http://img.socioambiental.org/d/226686-1/sakurabiat_4.jpg
http://img.socioambiental.org/d/226686-1/sakurabiat_4.jpg
https://terrasindigenas.org.br/pt-br/terras-indigenas/3847
https://terrasindigenas.org.br/pt-br/terras-indigenas/3847
https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Atikum
https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Atikum
Duas outras famílias moram em um sítio, fora da TI, mas próximo dos seus
limites.
Histórico do contato
As primeiras notas sobre o contato entre não-índios e os povos indígenas que
ocupavam a margem direita do rio Guaporé remontam ao século XVII. Os
documentos portugueses fazem ampla referência a dois grupos dessa região: os
Guajaratas (Pauserna, Tupi cf. Metraux 1948) e os Mequéns. O arqueólogo
Eurico Miller (1983) sugere, a partir de dados arqueológicos e históricos, que os
índios chamados Mequéns no século XVII eram os Amniapa (Amniapé) e os
Guarategaja.
Os povos indígenas que habitavam a bacia direita do Guaporé ficaram por um
longo período isolados do contato com a sociedade envolvente, morando em
áreas de difícil acesso, muitos deles nas cabeceiras dos tributários do lado direito
do Guaporé, como é o caso dos Sakurabiat. O isolamento desses povos em
relação aos não-índios é provavelmente um dos fatores que garantiu sua
sobrevivência, muito embora tenham sofrido enormes perdas, a partir do
contato (Maldi 1991).
Os contatos entre os povos indígenas da região e os colonizadores passaram a
ser retomados a partir do final da década de 1930 e início da década de 1940,
quando o desenrolar da Segunda Guerra Mundial provocou um aumento na
demanda por borracha. Com a exploração da borracha e do caucho, muitos
seringueiros passaram a ocupar as áreas próximas aos tributários do rio
Guaporé e entraram em conflito com os povos indígenas daquela região.
Nesse período, os povos de origem Tupi que habitavam os tributários do Médio
Guaporé, especialmente as cabeceiras dos rios Mequéns, Colorado, São Simão,
Branco, Verde e São Miguel, foram fortemente afetados, tiveram suas terras
tradicionais invadidas e foram contaminados por vários surtos de doenças até
então desconhecidas por eles. Muitos foram forçados a abandonarem seus
territórios e acabaram vivendo nos barracões de seringa, cooptados para o
trabalho de extração da borracha.
Os remanescentes dos quatro subgrupos que vivem atualmente na TI Rio
Mequéns (Guaratira, Korategayat, Sakurabiat e Siokweriat) contam que os
kwerep - nome dado aos não-índios - chegaram na região em que moravam
tradicionalmente em meados da década de 1930. Os vários subgrupos da hoje
autodenominada sociedade Sakurabiat sofreram uma violenta redução
populacional após a chegada de um boliviano (algumas vezes também
identificado como sendo peruano) chamado Magipo, que se instalou na região
do rio Mequéns, explorando a extração de borracha, inclusive utilizando mão-
de-obra indígena.
Segundo relatos dos anciãos da comunidade, o grupo foi afetado por várias
epidemias de doenças, como sarampo e gripe, provocando uma acelerada
depopulação. Eles contam que havia várias aldeias, com uma população que
variava de 40 a 200 pessoas, que foram sendo sistematicamente abandonadas à
medida que as pessoas pereciam devido às 'doenças de kwerep'. O grupo total
seria formado nessa época por milhares de pessoas, pertencentes a vários
subgrupos. Em 1934, o etnólogo Emil Snethlage (Snethlage, 1937) visitou várias
sociedades indígenas da bacia do rio Guaporé e encontrou as aldeias
Guarategaja e Amniapé próximas às cabeceiras do rio Mequéns. Ele calculou em
cerca de 500 pessoas a população das duas aldeias, notando que o número de
mulheres era muito pequeno entre os Amniapé, causando um grande
desequilíbrio no grupo.
Na década de 1940, houve uma tentativa, que não logrou muito sucesso, do
Serviço de Proteção ao Índio (SPI) de reunir os povos indígenas que habitavam a
área dos rios Guaporé, Corumbiara, Colorado e Mequéns em Postos Indígenas
de Atração (PIA), especialmente o PIA Ricardo Franco e o PIA Ministro Pedro
de Toledo. Estes PIAs foram projetados como reservas seguras onde os povos
indígenas estariam protegidos dos vários aventureiros (garimpeiros,
seringueiros etc.) invasores de seus territórios tradicionais. Entretanto, os PIAs
nunca funcionaram como planejado e os povos indígenas, quando podiam,
preferiam permanecer em seus territórios, embora vários deles, incluindo
alguns Sakurabiat, tenham ido morar nos PIAs. Por volta de 1949, o próprio SPI
reconhece a ineficácia do PIA Ministro Pedro de Toledo. Em decorrência disso,
os Sakurabiat (Mekens) e outros povos indígenas da região deixaram de receber
qualquer apoio ou orientação dos órgãos governamentais, conforme relatado
pelos anciãos da comunidade e por Leonel Jr. (1985). Informações mais
significativas sobre o período de 1949 a 1982 não foram localizadas.
No ano de 1982, funcionários da Fundação Nacional do Índio (FUNAI) - órgão
indigenista que substituiu o SPI a partir de 1967 - visitaram a atual área da TI
Rio Mequéns, onde viviam em grandes dificuldades, na época, os Sakurabiat e
algumas famílias Makurap, porém nenhum apoio mais específico por parte do
órgão federal resultou dessa visita. Somente em 1983, após uma epidemia de
gripe que dizimou cerca de 30 pessoas, foi re-estabelecido um contato mais
estreito com a FUNAI.
Em 1985, a FUNAI organizou um grupo de trabalho para investigar a situação
real dos moradores da área hoje demarcada e seus direitos como população
nativa e habitante imemorial da região. Foi constatado que naquele ano havia
cinco grandes grupos corporativos, incluindo serrarias e fazendas, explorando
ilegalmente o comércio de madeira dentro da área indígena e tentando
apropriar-se da terra pertencente à atual TI Rio Mequéns (Leonel Jr 1985). Os
Sakurabiat não trabalhavam nessa época diretamente para as serrarias, mas
tinham seu território ocupado e sofriam restrição de acesso a algumas áreas
ocupadas.
A partir das informações históricas e etnográficas e de documentos de origem
governamental, o grupo de trabalho confirmou a presença imemorial dos
Sakurabiat e Makurap na região e recomendou a imediata demarcação da terra
indígena. Porém a demarcação não aconteceu facilmente. Houve resistência dos
invasores da área, apoiados por políticos e fazendeiros locais. Por outro lado,
algumas pessoas e organizações não-governamentais prestaram apoio aos
Sakurabiat para realizar a desintrusão e a primeira auto-demarcação da área. A
partir da auto-demarcação, a FUNAI passou a participar mais ativamente do
processo. Em 1996, a TI Rio Mequéns foi demarcada e homologada, com uma
área de 105.250 hectares, bem inferior ao tamanho originalmente demandado
pelos Sakurabiat.
Sistema produtivo
Informações sobre a cultural material e o modo de vida tradicional das
populações indígenas habitantes da região do rio Guaporé (Lévi-Strauss 1948,
Snethlage 1937, 1939), apesar de esparsas, dão conta de que esses povos tinham
o milho e o amendoim entre suas principais fontes de alimentação, enquanto a
mandioca possuía uma importância secundária. Além disso, também cultivavam
urucum, algodão, pimentas, cabaças e tabaco. Um traço que parece ser exclusivo
dos Korategayat (Guarategaja) era o cultivo de uma variedade de feijão preto.
Atualmente, o milho ainda mantém um papelcentral na alimentação dos
Sakurabiat. Cultivam quatro variedades de milho fofo: o amarelo, o branco, o
preto e o vermelho, os quais são usados para a fabricação de chicha - bebida
fermentada de importância central na vida social do grupo - e também para o
consumo direto. Por outro lado, atualmente, a mandioca também está na base de
sua dieta alimentar. Eles cultivam a mandioca mansa (doce) para o consumo
direto, para o preparo da chicha e para a fabricação de farinha puba. Em
ocasiões especiais, além da chicha de milho e de mandioca, pode-se encontrar
também chicha de batata doce, cará roxo ou banana. Apenas duas famílias
parecem ainda possuir a semente de amendoim grande (conhecido como
"amendoim do índio") que era cultivado tradicionalmente.
Nas roças de cada família pode-se encontrar mamão, banana, batata doce, cará,
mandioca e milho. Algumas famílias também iniciaram o cultivo de arroz e café
em pequena escala. A derrubada e o plantio das roças costumavam ser
atividades coletivas, nas quais os ajudantes recebiam chicha, rapé e comida do
dono da roça, além de ser sempre um motivo para festas e danças. Nos dias
atuais, ainda é comum que pelo menos os membros da família extensa ajudem
na preparação das roças de seus familiares. Nessas ocasiões, o dono da roça
oferece chicha e comida, porém não se faz mais o uso de rapé nem de danças e
músicas. Além dos produtos cultivados, vários frutos da floresta também fazem
parte da dieta alimentar, entre os mais apreciados estão castanha-do-pará,
piquiá, açaí, patauá.
Uma vez preparado o roçado para o plantio, as mulheres participam de todo o
processo de agricultura, desde a semeadura até a colheita. Elas não participam
diretamente nas etapas de derrubada e queima do roçado, mas mantêm sempre
uma boa quantidade de chicha pronta para o consumo dos trabalhadores. O
preparo da chicha é uma atividade quase exclusivamente feminina, alguns
homens ajudam esporadicamente durante a fase de moer o milho no pilão. A
coleta de frutos silvestres também é realizada principalmente pelas mulheres e
crianças, exceto dos frutos de palmeiras, como açaí e patauá, que requerem o
trabalho dos homens.
A caça está no centro das atividades quase diárias dos homens do grupo, sendo o
produto da caça a principal fonte de proteína de sua dieta alimentar.
Atualmente é feita com espingardas, no lugar de arcos e flechas. Ainda dominam
a técnica de fabricação de flechas, que em geral eram feitam com ossos na ponta
e enfeitadas com penas, e alguns meninos fabricam flechas pequenas para caça
de passarinhos.
Em geral, mulheres não participam das atividades de caça. Elas são responsáveis
pela limpeza da carne e preparação da comida. Porém, quando um animal de
grande porte, como a anta, por exemplo, é abatido, todos ajudam a trazer a
carne para a aldeia.
Peixe é uma iguaria muito apreciada entre os Sakurabiat, porém não faz parte
da dieta alimentar cotidiana devido à dificuldade de acesso, uma vez que não
moram próximos aos grandes igarapés e rios piscosos. Na época da seca,
costumam fazer viagens de pescaria, com a família inteira, durante as quais
acampam próximo a um desses igarapés maiores. Atualmente, a pesca é feita
com anzóis. Já não usam mais as técnicas tradicionais de espalhar timbó na água
nem de fechar e secar uma pequena área do igarapé. Porém ainda utilizam uma
variação mista da prática tradicional de andar nos córregos durante a noite
matando os peixes com pedaços de pau. Hoje em dia, utilizam lanternas para
iluminar o caminho e usam terçados, além de porretes, para bater nos peixes.
Essas pescarias são em geral uma oportunidade de reunir a família extensa ao
redor da fogueira, onde são moqueados ou fritos os peixes conseguidos no dia.
Durante essas viagens de pescaria, as mulheres também participam
opcionalmente da pesca diurna e atuam na preparação da comida.
As casas são ocupadas por famílias nucleares e se assemelham hoje ao estilo de
casas da sociedade envolvente. Embora ainda usem materiais tradicionais como
folhas de açaizeiro para cobertura, feita no estilo duas águas, e ripas de paxiúba
para as paredes, privilegiam, quando possível, o uso de cavaco (lascas de
madeira) ou telhas de amianto para a cobertura e de tábuas para as paredes. Um
outro tipo de construção encontrado é a casa de paredes de barro batido (taipa;
pau-a-pique). As casas atuais possuem geralmente dois cômodos, além de uma
cozinha em construção separada, onde são preparadas e consumidas as
refeições. Outra opção é construir uma casa com duas divisões, quarto para
dormir e espaço de cozinhar.
Os recém-casados fazem suas casas preferencialmente próximas à casa dos pais
da esposa, mas depois de algum tempo costumam sair para construir suas casas
mais afastadas ou para morar próximo à família do marido.
Adornos e artefatos
Colares e pulseiras, feitos com dente de macaco e contas de semente de tucumã,
são adornos corporais tradicionais, muito apreciados. Outro adorno muito
popular é o anel de tucumã, com ou sem enfeites. Alguns anciãos do grupo têm o
septo nasal perfurado para o uso de narigueira, feita de pena ou bambu, porém
não usam mais esse ornato atualmente. Utilizavam antigamente pintura corporal
feita à base de jenipapo, sobretudo em situações cerimoniais, sendo que o estilo
da pintura estava associado ao subgrupo. Atualmente, a prática de pintura
corporal não está sendo utilizada.
Hoje em dia talvez o artefato cultural mais expressivo elaborado pelos
Sakurabiat seja o marico - um cesto ou bolsa tecido em fibra de tucum. O marico
pode ter vários tamanhos e é usado tanto por homens quanto por mulheres,
crianças e adultos. O processo de confecção do marico é lento e complexo, desde
a extração da palha do tucum até a tecitura do marico propriamente dita. A
confecção do marico, assim como o preparo de chicha, é uma atividade quase
exclusivamente feminina. Os homens ajudam, quando solicitados, na extração
da palha do tucum, que depois será fervida, exposta ao sol para secar, desfiada e,
por último, transformada em fio com o qual é tecido o marido.
Complexo cultural do marico
Segundo estudos da antropóloga Denise Maldi (1991), as sociedades indígenas
Sakurabiat (chamados Koaratira e Sakirap, por Maldi), Ajuru, Makurap,
Jxeoromitxi, Aruá, Arikapu e Tupari mantinham um intercâmbio intersocietário,
em alguns casos acentuado a partir do contato com os não-índios, que resultou
em fortes similaridades em suas culturas material, espiritual e conceptual. Essas
sociedades, localizadas no lado oriental do rio Guaporé e seus afluentes, mais
precisamente na região compreendida entre os rios Branco e Colorado, além da
proximidade geográfica partilharam um complexo cultural com características
https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Aru%C3%A1
https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Aru%C3%A1
bem definidas, denominado por Maldi o "complexo cultural do marico".
Alguns traços característicos desse complexo cultural são a confecção de
maricos, a aspiração do pó do angico (rapé) nos atos xamanísticos, a ausência do
cultivo da mandioca "brava" e do uso de farinha na alimentação, a construção de
casas redondas com esteio central, o consumo de chicha, especialmente de
milho, na alimentação regular e de chicha fermentada em ocasiões cerimoniais,
aspectos específicos da estrutura narrativa dos mitos de origem, envolvendo
sempre as figuras de dois irmãos demiurgos e a existência de grupos territoriais
definidos e nominados, geralmente com nomes de animais e plantas. Sendo que
as duas primeiras características - a confecção de maricos e a aspiração de pó de
angico nos ritos xamanísticos - seriam exclusivas das sociedades Ajuru, Aruá,
Jxeoromitxi, Makurap e Sakurabiat.
Os Tupari, embora não compartilhem a fabricação de maricos e o estilo da
habitação tradicional com os povos citados, compartilham vários outros traços,
que justificaram sua inclusão no "complexo cultural do marico". Estudos
recentes do lingüista Hein van der Voort indicam que os Kwazá também
compartilham as características associadas por Maldi ao referidocomplexo
cultural.
Entre os Sakurabiat, a arte de confeccionar maricos, chamado etu na sua língua
nativa, vem sendo ensinada de geração em geração, embora atualmente poucos
estejam aprendendo. Desde a morte do último pajé da tribo, em meados da
década de 1990, os atos xamanísticos deixaram de ser praticados, o que incluía a
aspiração do pó de angico. No entanto, os Sakurabiat ainda fazem uso, em
pequena escala, de sua medicina tradicional, envolvendo a utilização de plantas
medicinais da floresta, cujo conhecimento é dominado pelos anciãos da
comunidade. Embora as casas sigam atualmente o modelo da sociedade
envolvente, os anciãos confirmam que em tempos mais antigos, referidos como
"na época da maloca", suas habitações eram do tipo casas redondas com esteio
central, cobertas com palhas trançadas, apresentando uma divisão feita com
paxiúba que mantinha o fogão de pedra com base tripolar separado da sala
grande e espaço de dormir.
Quanto à estrutura social tradicional, há apenas algumas indicações, pois
conclusões definitivas são difíceis de serem alcançadas devido às modificações
impostas pelo contato com a sociedade envolvente, inclusive a violenta redução
demográfica. A partir dos relatos e da própria situação contemporânea do
grupo, pode-se inferir que o conjunto da sociedade hoje conhecida como
Mekens ou Sakurabiat estava tradicionalmente dividido em grupos locais que
possuíam territórios delimitados, que equivalem aos grupos territoriais
identificados por Maldi no complexo cultural do marico. Com a pouca
informação disponível a esse respeito, não é possível saber se tratava-se de
subdivisões clãnicas. Sabe-se que as aldeias de cada grupo eram distribuídas ao
longo dos rios Mequéns e Verde e a delimitação do território ocupado por cada
um dos grupos era bem definida. Os grupos eram nomeados com nomes de
plantas e animais, por exemplo, Siokweriat 'grupo dos morcegos', Kwakoyat
'grupo dos jacus' e assim por diante. Os grupos alternavam relações de amizade
e de conflito, sendo que alguns eram considerados mais violentos e
controladores.
Não há informações precisas sobre o número de grupos existentes antes do
contato, mas ainda é possível obter informações sobre 14 deles, inclusive com
uma descrição de sua localização, a saber, Piribiat, Kwako Perebiat ou
Kwakoyat, Tapeareyat, Korategayat (Guarategajat), Korategaraso, Õkurayat,
Sakurabiat, Tauuyat, Siokweriat, Uroyat, Taagayat, Taapiroyat, Aweyat e
https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Kwaz%C3%A1
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Ekwiyat.
Segundo Maldi (1991), a residência, nos grupos locais, era regulamentada pela
patrilocalidade e a descendência pela patrifiliação, porém as informações atuais
dão conta que a descendência é regulamentada pela matrifiliação, enquanto a
residência é atualmente mais fluida, não sendo necessariamente regulamentada
pelo grupo. Porém, não se sabe se essa situação corresponde à situação de antes
do contato.
A língua, ao mesmo tempo em que marcava a unidade quando comparada aos
grupos externos, marcava a diversidade internamente, uma vez que existiam e
ainda existem diferenças dialetais entre os subgrupos. Dos quatro grupos
remanescentes hoje na TI Rio Mequéns, três falam dialetos diferentes entre si,
situação que pode ser reflexo de uma diversidade interna ainda maior na época
anterior ao contato.
Atualmente, essa diversidade interna continua bem marcada, do ponto de vista
político, inclusive com reflexos na política externa do grupo. O sentimento de
unidade é definido através das semelhanças culturais e lingüísticas (os dialetos
são mutuamente inteligíveis), dos estreitos laços de parentesco e dos
mecanismos de interação social. Nesse sentido, o consumo da chicha continua a
exercer um papel de agrupador social, em torno do qual se reforçam os laços de
parentesco e solidariedade.
Mitologia
As narrativas mitológicas registradas entre os Sakurabiat podem ser divididas
didaticamente em quatro tipos: (1) mitos de criadores e heróis culturais, que
explicam a origem e transformação do mundo e das coisas; (2) mitos de espíritos
sobrenaturais e maléficos (os seres fantásticos); (3) mitos que apontam uma
conduta moral ideal; e (4) mitos de animais, geralmente referentes a uma época
mitológica em que os animais tinham características humanas. No entanto, as
histórias se mesclam, as fronteiras entre essas categorias devem ser
consideradas como abstrações didáticas e não como linhas intransponíveis. Um
mito que explique a origem de determinado astro ou fenômeno da natureza
pode também apontar uma regra moral de comportamento para a sociedade.
Existem muitas semelhanças entre as histórias mitológicas dos Sakurabiat e as
de outros grupos da região da bacia direita do rio Guaporé, especialmente
aqueles que compartilham o complexo cultural do marico, como os Tupari e os
Makurap. Essas semelhanças vão desde os temas até à estrutura das narrativas e
à caracterização e nomes dos personagens.
Entre os vários temas recorrentes nos mitos dos grupos dessa região, há a
história da anta, "do tempo em que a anta era gente". Trata-se de um amante
maravilhoso que seduz uma ou várias mulheres do grupo, dependendo da
versão contada. Os homens da aldeia, ao descobrirem a traição de suas
mulheres, matam a anta-homem, provocando a revolta das mulheres. Estas
fogem para uma terra distante, habitada somente por elas, tornando-se
mulheres guerreiras e exímias atiradoras, numa referência ao mito das
"Amazonas". Para os Sakurabiat, a re-população da tribo após a fuga das
mulheres só é possível graças a um menino que teve saudades da mãe e vai à sua
procura. Ao encontrar a aldeia das mulheres, o rapaz recebe a proteção da avó
materna, que o protege da fúria de sua mãe, ensina-lhe o caminho de volta e o
local onde encontrará uma mulher para levar consigo de volta à aldeia original.
"Não fosse isso, não teria mais ninguém".
Temas envolvendo os heróis culturais também são recorrentes, como o da
enchente provocada por Pasiare, após ter sido maltratado e humilhado por
Arikwayõ. Pasiare provoca uma grande enchente, alagando tudo e matando
pessoas e animais. O tema da destruição e recriação do mundo habitável,
ilustrado nesses dois mitos, está presente em várias narrativas. Em um dado
momento são as mulheres que fogem, tornando a procriação impossível, em
outro é a enchente destruidora ou ainda a fuga de todas as pessoas para um
"outro mundo". Isso acontece não só nos mitos dos Sakurabiat, mas de vários
grupos da região.
As histórias são empolgantes, algumas vezes engraçadas, outras assustadoras ou
intrigantes. Tratam de temas cotidianos e sobrenaturais, trazem ensinamentos
sobre a vida em sociedade, cultivam valores, justificam comportamentos e falam
de um tempo e de lugares mitológicos presentes no imaginário de cada um.
Tudo isso é explicado de forma fantástica, através de alegorias e metáforas. Por
exemplo, o incesto, a teimosia e a desobediência aos pais figuram na explicação
para a origem de astros, como o Sol e a Lua. Estes são pessoas que, devido a
comportamentos não aceitos socialmente, recebem o castigo paterno, "são
expulsos do convívio social e condenados a subir de vez".
A origem da morte também é fruto de uma teimosia, um desrespeito às normas
sociais estabelecidas. Antigamente ninguém morria, ou melhor, 'morria, mas
voltava'. Porém, a teimosia de uma mulher, que insiste em chorar a morte
temporária de um homem, faz surgir a morte definitiva. Agora não se volta mais.
A atitude de uma pessoa traz conseqüências para todos. Essa mensagem está
sempre presente nos mitos, o sentido do social é sempre invocado. Assim, como
nos mitos, o sentido do social, de que cada um é parte do grupo, é muito forte
entre os Sakurabiat.
Outras histórias são feitas para divertir, mas também trazem uma lição moral
e/ou ensinamento. São pequenas narrativas, no estilo de fábulas, geralmente
histórias curtas e engraçadas. Como a história da raposa que queria ter filhos
bonitos iguais aos da pata e é convencida por esta a queimar os seus filhosdentro de uma cabaça, a fim de torná-los bonitos. Ao perceber que foi
ludibriada, tenta se vingar, mas é novamente enganada pela pata, que a
convence a beber toda a água de uma lagoa, como condição para devorá-la. A
barriga da raposa literalmente explode de tanto beber água e a lagoa, claro,
nunca seca. A narrativa é recheada de onomatopéias e os diálogos são
espirituosos. O humor é um traço característico não somente dessas narrativas,
mas de todo o repertório mitológico dos Sakurabiat.
Notas sobre as fontes
O arqueólogo Eurico Miller desenvolveu pesquisas pioneiras na região do alto-
médio Guaporé, cujos resultados foram apresentados em uma dissertação de
mestrado (Miller 1983). A partir da análise de dados arqueológicos, históricos e,
em menor escala, lingüísticos, Miller sugere que os índios chamados Mequéns
no século XVIII eram os Amniapa e os Guarategaja. Como vimos, um dos grupos
auto-identificados atualmente na TI Rio Mequéns é o grupo Korategayat, que
pode muito bem ser o mesmo grupo registrado como Guarategaja
anteriormente.
Em 1985, um grupo de trabalho interdisciplinar, coordenado pelo antropólogo
Mauro Leonel Junior, foi designado para investigar a real situação dos povos
Sakurabiat e Makurap, que viviam na atual área da TI Rio Mequéns. Os
relatórios técnicos produzidos com o resultado das pesquisas apresentam
informações antropológicas e etnohistóricas sobre a ocupação imemorial das
terras dos povos Sakurabiat e Makurap, bem como um levantamento do
desmatamento e da atuação de madeireiras nas terras da área indígena. Com
base em evidências históricas e etnológicas, os relatórios sustentam a ocupação
imemorial da área por povos Tupi, inclusive os Sakurabiat e Makurap,
desmentem a suspeita levantada pela serraria que explorava ilegalmente a
extração de madeira dentro da área de que seus ocupantes (e reais donos da
terra) teriam sido trazidos da Bolívia com o intuito de atrapalhar os negócios da
serraria e, por último, recomendam a imediata interdição e demarcação da terra
indígena Rio Mequens. Como anexo a esses relatórios encontra-se o manuscrito
"Algumas notas etnográficas sobre os índios Mekens" (Moreira Neto 1985),
contendo principalmente dados históricos sobre a presença dos índios chamados
Mekens, na margem direita do Guaporé e seus afluentes.
Dois trabalhos - Guardiães da fronteira: rio Guaporé, século XVIII e O complexo
cultural do marico - da antropóloga Denise Maldi (1989 e 1991,
respectivamente) apresentam informações históricas, etnográficas e culturais
sobre os povos da bacia do Guaporé, em Rondônia. Como parte de sua pesquisa,
Maldi realizou um mês de trabalho de campo na Área Indígena Rio Mequéns, no
ano de 1989, e coletou algumas informações sobre os Sakurabiat, especialmente
os subgrupos Guaratira (Koaratira) e Sakurabiat (chamados de Sakirap, pela
autora), apresentadas nos referidos trabalhos.
No que diz respeito a estudos lingüísticos sobre a língua Sakurabiat ou Mekens,
foi publicado um artigo na década de 1950 (Hanke et al, 1958) sobre a fonologia
segmental da língua. Em 1994, a lingüista Ana Vilacy Galucio iniciou o estudo da
língua Sakurabiat, tendo realizado várias etapas de pesquisa de campo desde
então. As pesquisas iniciais resultaram em uma dissertação de Mestrado, pela
Universidade de Chicago, sobre aspectos gerais da sintaxe da língua. Um
trabalho mais aprofundado é apresentado em sua dissertação de Doutorado,
intitulada "A morfossintaxe do Mekens (Tupi)", defendida em 2001, na mesma
universidade. Publicou artigos sobre a fonologia, morfologia e sintaxe da língua
(Galucio 1994, 2002, 2003). No período de 1996 a 1998, coordenou o projeto de
alfabetização na língua Sakurabiat, desenvolvido pela Área de Lingüística do
Museu Paraense Emílio Goeldi, o qual envolveu elaboração de ortografia, aulas
ministradas nas aldeias e produção de material didático e de apoio à leitura, em
colaboração com os alunos. Coordena o subprojeto de documentação da língua
Sakurabiat, integrante do projeto "documentação de cinco línguas Tupi
ameaçadas," desenvolvido no Museu Paraense Emílio Goeldi.
Fontes de informação
• CASPAR, Franz. Die Tuparí : Ein Indianerstamm in Westbrasilien. Berlin :
Walter de Gruyter, 1975. 417 p. (Monographien zur Völkerkunde,
Herausgegeben vom Hamburgischen Museum für Völkerkunde, VII).
• CUNHA, Antônio Geraldo da. Dicionário histórico das palavras
portuguesas de origem Tupi. São Paulo : Melhoramentos, 1978.
• GALUCIO, Ana Vilacy. Estratégias de relativização na língua Sakurabiat
(Mekens). Trabalho apresentado no III Congresso Internacional da
Abralin, Rio de Janeiro, RJ, 13-15 março de 2003.
. Fonologia segmental da língua Mekens. In: ENCONTRO NACIONAL DA
ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS E LÍNGÜÍSTICA
(9º.: 1994:Caxambu-MG). Anais. Caxambu, 1994.
. Mekens syntax : a preliminary survey. Dissertação de Mestrado, Univers. of
Chicago, 1996. (Dissertação de Mestrado).
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(Tese de Doutorado).
. O prefixo i- em Tupi : morfema antipassivo vs. marcador pronominal
incorporado. In: ENCONTRO INTERNACIONAL DO GRUPO DE TRABALHO
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UFPA, 2002. p. 274-87.
. Proposta de ortografia para a língua Sakurabiat. Belém : MPEG, 1998.
(Manuscrito).
• HANKE, W.; SWADESH, M.; RODRIGUES, A. Notas de fonologia Mekens.
Miscellanea Paul Rivet Octogenario Dicata, México : J. Comas, v.2, p.
187-217, 1958.
• LEONEL JÚNIOR, Mauro de m. Avaliação da Polonoroeste – IV Relatório
antropológico e etnohistórico sobre a ocupação atual e imemorial do
território dos índios Sakirabiar e Macurap : a Área Indígena do Rio
Mequens. São Paulo : FIPE, 1985.
. Segundo relatório de avaliação – A. I. Rio Mequens : Levantamento dos
desmatamentos e da atuação de madeireiras na Área Indígena do Rio Mequens
(Sakirabiar e Macurap). São Paulo : FIPE, 1985.
• LEVI-STRAUSS, Claude. Tribe of the right bank of the Guaporé river. In:
STEWARD, J. (ed.). Handbook of South American indians. Washington :
Smithsonian Institution, 1948.
• MALDI, Denise. O complexo cultural do marico : sociedades indígenas dos
rios Branco, Colorado e Mequens, afluentes do Médio Guaporé. Boletim do
MPEG: Série Antropologia, Belém : MPEG, v.7, n.2, p. 209-59, 1991.
. Guardiães da fronteira : rio Guaporé, século XVIII. São Paulo : Vozes, 1989.
• MILLER, E. História da cultura indígena do alto médio Guaporé. Porto
Alegre : PUC-RS, 1983. (Dissertação de Mestrado).
• MOREIRA NETO, Carlos. Algumas notas etnográficas sobre os índios
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• SNETHLAGE, E. Heinrich. Atiko y meine erlebniffe bei den Indianern des
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