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O COOPERATIVISMO - ADESÃO VOLUNTÁRIA E LIVRE As sociedades são classificadas em contratuais e estatutárias, relativamente àquelas que se constituem por meio de contrato social e àquelas que se organizam por um estatuto social. Embora o vínculo societário cooperativista tenha cunho contratual, as cooperativas enquadram-se na segunda categoria, isto é, são sociedades estatutárias ou institucionais. Tal característica se dá por necessidade prática, em face do princípio da Adesão Livre e Voluntária, pois ele determina a que as cooperativas sejam sociedades de portas abertas, aptas a receber novos sócios ordinariamente: 1 - Adesão livre e voluntária. As cooperativas são organizações voluntárias, abertas a todas as pessoas aptas a usar seus serviços e dispostas a aceitar as responsabilidades de associado, sem discriminação de gênero, social, racial, política ou religiosa. As cooperativas devem se organizar de forma que todas quantas forem as pessoas que estejam aptas e desejem utilizar seus serviços possam ser admitidas, daí falar-se em livre admissão. Não seria adequado, então, que se utilizasse um contrato social, pois a cada admissão de novo sócio teria de ser providenciado um aditivo contratual, tornando a fruição do primeiro princípio por demais onerosa e burocrática. Por esse motivo, o legislador optou pela aplicação do regime estatutário para as cooperativas, com um documento normativo, para servir como ato constitutivo, além da aplicação do sistema associativo para o ingresso de membros. O contrato de sociedade cooperativa se estabelece, então, por meio de um instrumento denominado matrícula. Trata-se de contrato multilateral, em que o associado assume direitos e obrigações perante a sociedade e também com os demais sócios, esses representados pelo membro eleito para representa-los. Há, então, um vínculo contratual efetivado por esse instrumento, o qual, também, tem a natureza de contrato de adesão, na medida em que todos os associados devem ser tratados com igualdade, sendo, por conseguinte, defeso ao interessado sugerir alterações em seu conteúdo. Cabe ao interessado, tão somente, aderir ou não aos termos do estatuto social, da matrícula e demais normas da sociedade. Por isso é que são utilizadas as nomenclaturas associado ou cooperado para identificar a pessoa do sócio nas sociedades cooperativas. Também por que a admissão é voluntária, quer dizer, o interessado em ser admitido é quem deve ter interesse em usufruir dos serviços da cooperativa, estando ela impedida de agir comercialmente na captação de sócios. Ao contrário, a cooperativa deve estabelecer procedimento para selecionar, dentre os interessados, aqueles que realmente estejam aptos a serem admitidos. E tal avaliação deve ocorrer para dar consecução prática ao atendimento dos requisitos estabelecidos no estatuto social, pois os associados devem ter objetivos comuns, para permitir o exercício pela cooperativa de uma única atividade econômica, quer cause proveito a todos os associados. O estatuto social deve, então, estabelecer os requisitos que garantam o affectio societatis entre os sócios, ou seja, a definição das condições objetivas hábeis a identificar o perfil de pessoas que efetivamente possam obter proveito comum da atividade econômica que a cooperativa desenvolverá. Percebe-se que há uma evidente relação entre a livre admissão e o aspecto econômico da cooperativa, pois o sócio somente participa dos resultados econômicos na medida em que ele realiza operações com a cooperativa. Há, assim, um aparente conflito entre o princípio da Admissão Livre e Voluntária e a Participação Econômica dos Membros, ante a possibilidade de admissão de alguém que não realize atividades econômicas com a cooperativa. Em verdade, tal conflito não há, pois o legislador realizou uma ponderação entre os dois princípios, ensejando que um não limita, mas complementa o outro. Se houver impossibilidade técnica de prestação de serviços ao associado pela cooperativa, o estatuto social deve impedir a admissão de novos sócios, até que ocorra vacância ou até que a capacidade da cooperativa seja expandida. Doutra parte, o associado que por quaisquer razões venha a deixar de realizar operações com a cooperativa deve ser excluído do quadro social. Nesse sentido, constata-se que o princípio da Adesão Livre e Voluntária não é absoluto, vez que os associados podem ser desligados da cooperativa, voluntariamente ou não. O desligamento voluntário recebe o nome de demissão e ocorre a pedido do próprio associado. O desligamento involuntário pode ser por eliminação, quando o sócio comete ato ilícito e é expulso da cooperativa, ou por exclusão, quando o associado perde as características que lhe permitiram ser admitido na sociedade. Em suma, o estatuto social é o documento balizador da fruição do princípio da Adesão livre e Voluntária, devendo conter regras que limitem o ingresso de associados, permitindo apenas a admissão de pessoas que possam de fato exercer a cooperação na coletividade que cada cooperativa representa. FONTE: ARTIGO –“A aplicabilidade da ideologia cooperativista para a concretização do direito cooperativo”, autor: André Luiz Moreira Fontenelle – 05/2014.
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