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por Marcel� Portell� Var� CAMPO GERAL, GUIMARÃES ROSA ● Guimarães Rosa: ○ vivia em uma cidadezinha pequena de MG, porém seu pai era rico, então ele estudou em BH e fez universidade fora ■ via como era a realidade dos boiadeiros, que ele trata em grande parte de suas narrativas ■ tinha superstições muito fortes, que vinham da cultura de sua cidade natal ○ é regionalista, porém com uma outra abordagem: ■ cenário e personagens do sertão deixam de ser idealizados como nos romances de 30 ■ descrição dos cenários de maneira a agregar status simbólico ou metafórico, deixando de ter um caráter informacional ■ seus romances regionalistas contam histórias do sertão mas que tratam do universal, ou seja, têm um alcance universal apesar de sair do regional ● ex.: enquanto ele trata do relacionamento específico de um menino do sertão mineiro com o seu pai, ele está tratando da relação universal entre pai e filho ■ mundo bárbaro e violento representado por uma técnica refinada de escrita: ● não há limitação nas falas das personagens ● utiliza muitos neologismos, derivações impróprias e figuras de linguagem (principalmente metáforas) ● musicalidade ○ conhecia muitas línguas, então, às vezes, seus textos estão em português mas com uma organização lexical vinda de outra língua, ou então ele cria um neologismo formado por uma aglutinação de duas palavras, uma vinda da língua x e outra da língua y ● o sertão: o sertão de Guimarães não é a Caatinga, mas sim o Cerrado ○ era uma região muito isolada, o que a deixou muito subdesenvolvida ○ “civilização do couro”: ■ latifúndios voltados à criação extensiva de gado (resquícios do período escravocrata) ■ agricultura de subsistência ○ pouca educação formal ○ cultura oral muito presente ○ muito machismo: mulheres são subordinadas aos homens e estão destinadas, quase sempre, ao trabalho doméstico ■ algumas mulheres das histórias de Guimarães são muito fortes, porém elas apenas conseguem agir ao manipular os homens ao seu redor ○ região dominada por coronéis: ■ disputa de poder político e terras ■ muitos jagunços: homens pobres e livres que prestam serviços para fazendeiros ■ prevalecem os códigos de honra arcaicos: não existe a lei, existe a regra ● a regra seria um combinado local entre as pessoas, que as vezes ninguém nem sabe a origem, mas todos devem segui-la ● acaba sendo um lugar muito agressivo, já que há muita vingança em nome da honra ○ não tem escassez de água ● Campo Geral: ○ resumo: https://www.passeiweb.com/index.php/na_ponta_lingua/livros/analises_completas/c/campo_geral ○ narrativa pelos olhos de uma criança, apesar de não ser narrado em primeira pessoa ■ oferece para um leitor urbano uma visão de mundo infantil do interior ○ Miguilim gosta muito de contar histórias ■ contar histórias era uma maneira de fugir das asperezas da vida ○ metonímia: Mutum ancestral representa o sertão ○ não acontece muitos fatos, porém a experiência acontece ○ não é uma narrativa linear: são feitas muitas digressões, que acabam deixando o leitor confuso ○ as limitações de Miguilim para entender o mundo foram dadas pelo meio ○ a narrativa é cercada de superstições até que, na hora H, Miguilim é tomado pela maturidade ■ a morte de Dito pode ser vista como uma necessidade existencial para levar Miguilim a crescer, a tornar-se maduro, independente ○ as relações familiares formam a história, se assemelhando ao Édipo Rei ○ o narrador incorpora parte do personagem de Miguilim ○ a família de Miguilim era de arrendatários, ou seja, eles eram pessoas pobres porém que conseguiam o suficiente para sobreviver ○ Maria Pretinha, Mãitina e Rosa muito provavelmente são agregadas, ou seja, fazem o trabalho doméstico e recebem comida e moradia em troca https://www.passeiweb.com/index.php/na_ponta_lingua/livros/analises_completas/c/campo_geral ■ existe uma relação quase de objeto, apesar de terem carinho por elas → ex.: quando Maria Pretinha vai embora com o vaqueiro Jé, Miguilim fala que ela fugiu ■ Mãitina muito provavelmente era uma ex-escravizada ● faz rituais ligados a sua religião africana ● a Lei Áurea já existia há muito tempo, porém o real fim da escravidão no sertão chegou muito depois ○ simbologia do óculos: ■ são a travessia de Miguilim: ponte entre o Mutum primitivo e o mundo que passará a ser seu a partir do momento em que esses óculos estão diante de seus olhos → passa a ver e compreender o mundo ■ rompimento com a infância (ingenuidade) para enxergar as coisas como ela de fato são → ao mesmo tempo que é uma emancipação, é um castigo (consciência do bem e do mal) ■ passa a poder ter contato com o mundo das letras ■ mundo dos óculos é o mundo urbano ● textos críticos: ○ Texto 1 - “Vistas curtas, estórias sem fim: as convergências entre o popular e o infantil em “Campo Geral”, de Guimarães Rosa”, por Rafael Eisinger Guimarães ■ para Rosa, as figuras da criança e do sertanejo são centrais: ele valoriza essa outra maneira de pensar, revelando o grande valor dela, que muitas vezes é tida como menor ■ Miguilim personifica o olhar do outro diante do mundo, olhar esse que está muito ligado ao ato de contar estórias ■ para Walter Benjamin, o pensamento infantil é representado metaforicamente por um labirinto, já que é muito digressivo → a narrativa de Campo Geral seria a materialização do labirinto benjaminiano ■ os acontecimentos considerados menores pelos adultos ocupam o centro da trama, já que eles são o foco principal tanto de Miguilim quanto do narrador ○ Texto 2 - “O corpo e a palavra: uma leitura de “Campo Geral”, de J. Guimarães Rosa”, por Erich Soares Nogueira ■ há tensão entre a lógica (logos) e o mito (mythos): ● elementos que transcendem a lógica racional são parte da mentalidade do homem do sertão ● crianças e velhos são as personagens que, em geral, trazem sua sensibilidade e percepção aguçada para as obras de Guimarães ● ver o mundo sobre os olhares de Miguilim é também percorrer os caminhos das experiências sensoriais desse contador de estórias ● conflito entre a linguagem racional e a linguagem dos sentidos: ○ linguagem racional: é representada pelo pai de Miguilim → tende a se separar das experiências em busca de uma sistematização lógica da vida ○ linguagem dos sentidos: é representada por Miguilim → se organiza a partir da experiências sensoriais do menino ○ Texto 3 - Campo geral ■ narrado em terceira pessoa, porém apresenta apenas a perspectiva de Miguilim ● às vezes o narrador desliza para a primeira pessoa ■ grande parte do conflito entre Miguilim e seu pai vem da divergência das linguagens ■ a verdade está com a criança pois ela dispõe de recursos que o adulto já perdeu
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