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LEUCOPOIESE E LEUCOGRAMA Aline Moraes – Medicina Veterinária, UNIFAA. 2021 LEUCOPOIESE Os leucócitos (glóbulos brancos) são células produzidas na medula óssea que compõem o sangue juntamente com os eritrócitos e as plaquetas. São produzidos a partir de uma célula pluripotencial (célula-tronco), a qual a capacidade proliferativa dependerá dos estímulos apropriados de hormônios estimuladores da leucopoiese. TIPOS LEUCOCITÁRIOS Polimorfonucleares Núcleo condensado e segmentado Células comumente referidas como granulócitos ↔ grande nº de grânulos citoplasmáticos que são lisossomas (contêm enzimas hidrolíticas, agentes antibacterianos e outros compostos) Neutrófilo, esinófilo e basófilo ↔ mamíferos Aves ↔ correspondem aos neutrófilos dos mamíferos Mononucleares São classificados como linfócitos e monócitos Células com nº ↓ de grânulos citoplasmáicos Monócito e linfócito GRANULOPOIESE Envolve a produção de neutrófilos, eosinófilos e basófilos com origem em um precursor celular, o promielócito. O nº de leucócitos específicos que adentram e deixam o sangue é mantido constante mediante diversos mecanismos e condições. POLIMORFONUCLEARES NEUTRÓFILOS | Funções gerais e morfologia Liberação de neutrófilos da medula óssea p/ o sangue: Neutrófilos maduros normalmente caem na corrente sanguínea em torno de 3 a 5 dias no cão e de 4 a 6 dias no bovino. Fatores que influenciam a liberação de neutrófilos: Microambiente celular Localização anatômica Propriedades celulares, como a deformabilidade Fluxo nos sinusóides medulares Fatores de liberação celular Fatores neuro-hormonais Os neutrófilos maduros são os primeiros a migrar através das junções intercelulares dos sinusóides medulares, pois possuem maior capacidade de deformabilidade e motilidade. Nos bovinos, os grânulos eosinofílicos muitas vezes coram-se levemente de róseo, conferindo um aspecto rosa-alaranjado ao citoplasma. Compartimentos funcionais de neutrófilos: Compartimento marginal: baço e pulmões = leucócitos aderidos transitoriamente na parede de capilares e pequenos vasos sanguíneos. Os neutrófilos no sangue permanecem em um equilíbrio dinâmico. O compartimento marginal pode ser mobilizado rapidamente sob a influência de epinefrina e corticoides endógenos liberados por estímulos fisiológicos ou patológicos, como estresse, exercício, traumas e infecções. Expansão de vida intravascular dos neutrófilos: Compartimento circulante: neutrófilos circulando livremente pelo sangue, com uma meia vida em torno de 7 a 14 horas. Os neutrófilos aleatoriamente saem da circulação para os tecidos e cavidades corpóreas, normalmente sem retorno, onde pode permanecer por 2 a 3 dias fisiologicamente ou menos quando em processos patológicos. Função dos neutrófilos Participam da: Fagocitose de organismos e outros materiais estranhos Dano tecidual e efeito citotóxico (atividade parasiticida mediada por anticorpo e atividade tumoricida) Resposta inflamatória por meio de quimiotaxia positiva aos locais de inflamação tecidual A resposta varia entre as espécies: Após a fagocitose, grânulos lisossômicos fundem-se aos fagossomos para eliminar os microrganismos e, em seguida, degradar o material por digestão enzimática. Alguns passos envolvidos na resposta funcional para o controle da infecção: Adesão (aderência): Inicia logo após a infecção microbiana Quimiotaxia: Atração direcionada até o microrganismo. Envolve a participação de proteínas de mobilidade, por ex. a miosina Opsonização Fagocitose e degranulação: Processo ativo de ingestão de partículas microscópicas pelo leucócito. Células imaturas (bastonetes e metamielócitos) possuem menos capacidade fagocitária Ação microbiocida: Grânulos lisossomais formam um faligossomo e liberam seus componentes para matar e digerir o microrganismo Exocitose: Descarga extracelular de conteúdo por meio da fusão dos vacúolos com a membrana celular Defeitos em algum desses passos contribuem para a diminuição da resistência à infecções. Morfologia dos neutrófilos Metamielócito neutrofílico: Não está presente no sangue normal; Ele tem núcleo em formato de feijão que, quando maduro, toma a forma de ferradura, característica dos neutrófilos bastonetes, cujas pequenas [ ] podem estar presentes no sangue normal. Neutrófilos segmentados (maduros): Núcleo em formado de ferradura com graus variados de endentação e constrição ao longo do seu perímetro. À medida que o núcleo desenvolve constrições, ele pode dobrar-se e assumir várias formas. Anormalidades morfológicas São chamadas “mudanças tóxicas” e geralmente incluem: Aberrações de maturação Tamanho da célula Forma nuclear Característica dos grânulos e citoplasma São vistas em pacientes com: Severa infecção bacteriana Septicemia Condição inflamatória aguda Extensiva destruição tecidual EOSIN ÓFILOS | Funções gerais e morfologia Sítios de produção: Medula óssea ↔ maior sítio de produção Baço, timo, linfonodos cervicais ↔ menor grau de produção São produzidos em torno de 2 a 6 dias e adentram no sangue periférico aproximadamente 2 dias após. Função dos eosinófilos Os eosinófilos são responsáveis por: Fagocitose e atividade bactericida Defesa contra os estágios larvais da infestação parasitária: Ocorrem por intermédio da interação com os mastócitos e os linfócitos Regulação alérgica e de imunocomplexos Resposta aguda inflamatória ↔ dano tecidual: esse papel regulatório tem sido inferido às propriedades anti-histamínicas e anti-inflamatória dos eosinófilos Morfologia dos eosinófilos A morfologia dos eosinófilos é variada entre as espécies. A característica padrão dos eosinófilos é presença de grânulos vermelhos-alaranjados proeminentes. Cães: tamanho e número de grânulos muito variável. Em raras ocasiões, alguns grânulos grades, do tamanho de eritrócitos, podem estar presentes Felinos: densamente preenchidos com grânulos uniformes em formato de bastonete ou de barril Equinos: aparência de framboesa devido aos numerosos grânulos grandes e esféricos que, em geral, se sobrepõem ao núcleo Ruminantes: numerosos grânulos esféricos e uniformes BASÓFILOS | Funções gerais e morfologia Os basófilos são frequentemente comparados com os mastócitos pela similaridade morfológica, são maiores em relação aos neutrófilos e possuem núcleo segmentado. São raros em muitos animais e várias citocinas estão envolvidas na proliferação e maturação dos basófilos , como as interleucinas 5 e 3 (IL-5 e IL-3) Função dos basófilos Juntamente com os eosinífilos: hipersensbilidade tipo I ↔ processos alérgicos Morfologia dos eosinófilos Grânulos: são particularmente ricos em histamina, heparina e, em algumas espécies, serotonina. Cães: apresentam pequena quantidade de grânulos de coloração violeta-escura Gatos: grandes grânulos de coloração acinzentada que formam um arranjo semelhante a uma “calçada de pedras” Grandes animais: numerosos grânulos violeta-escuros, que podem ocultar porções do núcleo MONONUCLEARES LINFÓCITOS | Funções gerais e morfologia Os leucócitos mais abundantes do sangue de ruminantes e desempenham papel importante na defesa orgânica. São a base no desencadeamento e execução da resposta imune. Tempo de produção: estimada entre 6 e 8 horas e, em alguns casos, podem levar menos de 2 horas. Células T: predominam no timo, linfonodos e ducto linfático torácico Células B: predominam na medula óssea e baço Em torno de 70% doslinfócitos do sangue periférico que saem através do tecido retornam ao sistema vascular para recirculação ↔ suma importância biológica: distribuição generalizada de células linfoides ocupadas com a resposta imune sistêmica. Função dos linfócitos Possuem receptores de membrana para reconhecimento de antígeno, exceto as natural killer (lisam linhagens de células tumorais sem prévia sensibilização). Imunidade humoral Imunidade celular Regulação imune Atividade citotóxica Vigilância imune e secreção de linfocinas Morfologia dos linfócitos São reconhecidos por apresentar núcleo de arredondado a oval e quantidade mínima de citoplasma claro. Linfócitos circulantes normais apresentam diâmetro menor que d e neutrófilos Ruminantes: podem ser mais irregulares em tamanho e diâmetro semelhante aos neutrófilos MONÓCITOS | Funções gerais e morfologia Os monócitos são considerados células intermediárias em processo contínuo de maturação. Os maduros migram para os tecidos recebem o nome de macrófagos. Função dos monócitos Função imunorreguladora por apresentarem antígeno processado aos linfócitos T ↔ Regulação da resposta imune Destruição fisiológica dos eritrócitos ↔ Reciclagem metabólica do Fe e pela maioria dos processos patológicos que envolvem destruição eritrocitária Ação fagocítica e microbicida ↔ Regulação da inflamação e reparo tecidual Efeito citotóxico contra células tumorais e eritrócitos Morfologia dos monócitos O núcleo pode apresentar-se de forma oval, feijão, ameboide ou ferradura As características-chave que os distinguem dos neutrófilos são o maior diâmetro e a coloração mais acinzentada do citoplasma O citoplasma pode conter grânulos extremamente finos de coloração ligeiramente púrpura LEUCOGRAMA É a parte do hemograma que aponta alterações quantitativas e/ou morfológicas das séries leucocitárias. Na interpretação, devem ser considerados os valores absolutos da contagem diferencial e informações sobre outros componentes sanguíneos devem ser obtidos, como proteína plasmática total, concentração de fibrinogênio. O histórico e exame clínico do paciente complementam os resultados laboratoriais para o diagnóstico de doenças. Fibrinogênio Proteína de fase aguda produzida no fígado. Nos processos inflamatórios: a [ ] de fibrinogênio pode ser a única resposta inflamatória ativa. Contagem total de leucócitos Varia com a espécie animal e também é influenciada pela idade. ↑ no nascimento e ↓ gradualmente p/ atingir valores de adulto entre 2 a 12 meses de idade A contagem total de leucócitos é avaliada pelo aumento, acima dos valores de referência, ou diminuição, como leucocitose e leucopenia, respectivamente. As leucocitoses são mais comuns do que as leucopenias e não são um sinal de mau prognóstico como a leucopenia. As mudanças na contagem podem envolver: Anormalidades de produção Liberação e distribuição intravascular Vida média e ingresso tecidual dos leucócitos Leucocitose Fisiológica Estresse: resposta à adrenalina ↔ mobilização do compartimento marginal de neutrófilos e/ou linfócitos p/ a circulação geral ↑ contagem total → neutrofilia e/ou linfocitose podem se manifestar Corticosteroide: leucocitose causada por neutofilia, usualmente sem desvio à esquerda, linfopenia e eosinopenia. Neutrofilia ↔ mobilização dos neutrófilos segmentados do compartimento de reserva da medula óssea e pela diminuição da diapedese das células p/ os tecidos Reativa Ocorre em resposta às doenças, com ou sem desvio à esquerda. Quando um ou mais itens são encontrados: o Leucocitose com DAE o Hiperfibrinogenia o Monocitose em outras espécies que não a do cão o Ausência de linfopenia ou eosinopenia Proliferativa (autônoma) Resulta de uma mudança neoplásica da célula-tronco. Formas mais comuns de leucemias: o Linfociticas o Mielógenas o Mielomonocítica o Monocítica Importante observar que, muitas vezes, no câncer das células sanguíneas a contagem de leucócitos pode estar normal ou mesmo diminuída. Leucopenia Em muitos animais, ocorrem por neutropenia (mais comum em infecções bacterianas) e linfopenia (mais comum em infecções virais). As neutropenias podem ser agrupadas: Sobrevivência reduzida de neutrófilos maduros: Ocorre quando há demanda tecidual aguda e maciça que esgota rapidamente o compartimento de neutrófilos do sangue, podendo levar ao DAE degenerativo. Produção reduzida pela medula óssea: Associada com a falência primaria da medula óssea. Neutropenia sem DAE. As causas conhecidas incluem: o Infecção: parvovirose canina e felina; erlichiose, FIV e FeLV o Drogas: trimetopim; fenilbutazona; estrógeno; agentes quimioterápicos) Produção ineficaz de neutrófilo: Imunomediada sem DAE e compartimento de estoque na medula óssea aparece normal no sangue Sequestração: Ocorre em choque anafilático e endotoxemia ↔ rápido desvio p/ o compartimento marginal. Desvio à esquerda Presença de neutrófilos imaturos no sangue, acima do número normal para a espécie. Sua extensão indica a severidade da doença, entretanto a magnitude da contagem de células reflete a habilidade da medula óssea para suprir a demanda. Desvio à esquerda regenerativo: Contagem de neutrófilos imaturos (bastonetes) abaixo do nº de neutrófilos maduros (segmentados). Indica boa resposta do hospedeiro. Desvio à esquerda degenerativo: Contagem de neutrófilos imaturos superior à de neutrófilos maduros. Indica esgotamento no compartimento de reserva de neutrófilos segmentados e consequente liberação de células imaturas. Em muitas espécies, indica prognóstico desfavorável que requer rigoroso protocolo terapêutico. Bovinos: comum durante o estágio inicial de doenças infeciosas ou inflamatórias hiperagudas ou agudas ↔ compartimento de reserva da medula óssea tem suprimento limitado de neutrófilos maduros, com atenção para persistência por vários dias. Desvio à direita Presença no sangue circulante de vários neutrófilos hipersegmentados (com + de 5 lóbulos). Indica que a diapedese de neutrófilos pode estar diminuída e essas células estão envelhecendo na corrente sanguínea. Pode ser observado em: Pacientes medicados com corticosteroides (endógenos e exógenos) Hiperadrenocorticismo Deficiência de vit. B12 (mais raro)
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