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apresentação Vavy Pacheco - Biografia

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Fontes Biográficas: Grandezas e misérias da biografia - Vavy Pacheco Borges
Interesse pelas biografias
Porque, quando se chega a uma certa idade, você passa a pensar muito sobre o que significa uma vida, os caminhos que foram tomados e os que ficaram para trás. Então, quando comecei o meu curso, em 1956, era o momento do positivismo, dos grandes heróis, da história nacional. Depois, quando estava na pós-graduação, no final dos anos 60, a influência do marxismo era muito forte entre os nossos intelectuais. Os sujeitos históricos eram as classes sociais. O indivíduo ficava meio apagado. Depois, com o tempo, a gente repensou tudo isso. Uma vez, alguém me interpelou na PUC-SP, onde eu lecionava: “Você tinha que estudar só operário”. Era moda estudar os dominados, não os dominantes. Ninguém entendia por que eu queria pesquisar Getulio Vargas. Eu achava que alguém tinha que estudar as elites. Esse interesse pela biografia também vem de um curso que eu dei na Unicamp sobre os chamados Anos Vargas. Com o passar do tempo, fui cada vez mais me interessando pela biografia. E aí fiz esse trabalho sobre Gabrielle Brune-Sieler, uma mulher fora do comum para a época. É lógico que ele tem uma conotação de gênero. Ela desafiou o papel que a mulher deveria ter na família e na sociedade daquela época. Havia um laço íntimo entre nós duas.
Gabrielle era uma tia-avó do meu marido. Quando comecei as pesquisas, me diziam que ela tinha quatro malas de documentos. Nunca encontrei esse tesouro. Queria fazer umas perguntas a ela para as quais nunca consegui as respostas. Eu falava: “Minha próxima biografia vai ser de alguém vivo”. Alguém para quem eu possa perguntar as coisas. Daí, acabei desembocando na pesquisa que faço há cinco anos sobre o cineasta Ruy Guerra. Ele mora no Rio de Janeiro e, para nossa sorte, está muito bem aos 80 anos. 
Sempre fui apaixonada pelo cinema. E desde os anos 60 acompanho de longe a figura do Ruy Guerra, seus filmes, suas premiações. 
Cantei muita música com letra que ele fez, li crônicas dele no Estadão... Quando estava quase encerrando a Gabrielle, vi uma mostra sobre o Ruy no Centro Cultural Banco do Brasil em São Paulo. Além dos filmes, tinha uma exposição sobre ele, algumas aulas, e, no fim, ele mesmo deu uma palestra. A pesquisa começou ali. O Ruy é uma pessoa que fez parte dos grandes lances do século XX.
Primeiro, ele viveu o colonialismo e sua derrubada. Ruy nasceu em Moçambique, então uma colônia portuguesa. Na década de 1970, envolveu-se com o trabalho do governo revolucionário de Samora Machel e participou então do processo de descolonização do país. Depois, foi estudar em Paris, no momento em que surgia a Nouvelle Vague; É como se o cineasta fosse um ensaísta que “escrevesse com a luz”, usando a câmera como sua caneta – um conceito que foi chamado de caméra-stylo.
Veio parar no Brasil durante o Cinema Novo. Ele ainda sofreu censura nas letras, nos filmes, nas peças. É parceiro de Chico Buarque e de García Márquez. Viveu em Cuba e teve uma filha com a Leila Diniz, cuja gravidez corajosa marcou minha geração, liberando as posteriores. Eu queria viver uma experiência biográfica como esta. E acho que estou vivendo. Como ele é um cineasta, ou seja, vive da imagem, e um homem muito sedutor, eu queria mostrar a imagem dele também. E aí, com dois cineastas cariocas, comecei um documentário sobre o Ruy. Então, a essa altura da vida, ainda estou me lançando em uma atividade de registro de memória e história que não tinha feito até hoje. E estou gostando muito.
Processo de produção da biografia do Ruy Guerra
Infelizmente, eu não sou jornalista. Se fosse, essa biografia já estaria pronta há muito tempo. Eu sou historiadora, e nós trabalhamos devagar, não é? Vavy Pacheco Borges amostra um vasto conjunto de sua obra, contemplando filmes, peças de teatro, crônicas semanais escritas por Ruy durante os quase cinco anos no jornal Estadão, mais de 100 poesias e igual número de letras de músicas em parceria com músicos como Chico e Francis Hime, Milton Nascimento, Carlos Lira, Edu Lobo.
Fazemos questão de ouvir muitas fontes, de pensar muitos aspectos. 
Vavy Pacheco Borges fez mais de 150 entrevistas para concluir esse trabalho de uma década. Um trabalho de pesquisa refinado, fazendo consulta de diversos materiais de arquivos públicos e privados nos três continentes por onde Ruy Guerra deixou seus rastros.
Escrevi alguns livros sobre nossa profissão que batiam nesta tecla. Na verdade, eu me preocupo muito com o ensino da História para os níveis fundamental e médio, com a divulgação da História. Não gosto muito daquela coisa da academia como uma torre de marfim isolada. 
Às vezes, na divulgação, as coisas acabam sendo simplificadas, é verdade. Temos de ter cuidado. É porque, na maioria das vezes, os historiadores contam mal, de um jeito chato, complicado, desinteressante. 
Agora, os divulgadores muitas vezes falsificam, simplificam. Mas é possível encontrar um meio-termo. Eu sempre digo: “Meu Deus! Não tem ninguém que não goste de uma historinha bem contada”.
Se precisar de mais...

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