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327 PARTE II: HISTÓRIA GERAL UNIDADE 01: A CONTRUÇÃO DO MUNDO MODERNO A FORMAÇÃO DOS ESTADOS NACIONAIS MODERNOS As inúmeras fragilidades do sistema feudal, que já vinham se tornando evidentes desde o Renascimento Co- mercial no século XI, tornaram-se crônicas com a crise do século XIV. Se por um lado, a economia dava sinais de es- tagnação devido à falta de metais para a cunhagem de moedas acompanhar a retomada do comércio, por outro as constantes guerras e a peste desestruturaram a produção na Europa. Esse clima de insegurança gerava frequentes revoltas camponesas e demonstravam a necessidade de exércitos mais organizados e preparados do que aqueles gerados pelas relações de vassalagem. A burguesia em ascensão também reclamava maio- res padronizações (no que diz respeito a moedas, línguas, pesos e medidas) e o fim de tantos impostos e taxas esta- belecidos pela nobreza feudal, como forma de assegurar a continuidade do crescimento das atividades comerciais. Até mesmo o resgate dos valores culturais da Antiguidade Clássica, promovidos pelo Renascimento Cultural, já indi- cavam as vantagens e a eficiência dos Estados centralizados, tendo muitas vezes a estrutura romana como matriz de referência. Surge então uma relativa convergência de interesses entre os grupos dominantes naquele momento de crise, que se submetem a um novo ornamento jurídico de um Estado centralizado, como forma de preservar seus privilégios. A nobreza desgastada submetia-se ao poder real e até mes- mo financiava o Estado e seus exércitos, em troca de uma ordem e unidade favoráveis à retomada do comércio. A nobreza passou a compor os quadros da burocracia estatal e reconheceu a soberania do rei, mantendo suas posses e sua legitimidade, apoiada pelo poder real, diante dos cam- poneses. Nasciam assim, os Estados Nacionais Modernos, legitimados ainda em grande medida pela esfera religiosa. Os pioneiros desse processo foram os Estados Nacionais surgidos na península ibérica. A retomada da região por cristãos durante as guerras de reconquista e a tentativa de expulsão dos muçulmanos, ainda por influência das cruzadas, foi o primeiro passo para a constituição dos reinos que originariam os Estados de Portugal e Espanha. No caso português, a primeira afirmação de sobera- nia do antigo condado de Portucale, feita ainda no século XII por Afonso Henriques, não assegurava em definitivo o afastamento das ambições de Castela em controlar a re- gião. Somente com a disputa pela sucessão de D. Fernando em 1383 é que a formação do Estado português caminhou para sua consolidação. A posse de Beatriz, filha do rei mor- to e casada com D. João I de Castela, assustou a burguesia lusitana, que temia o retorno da influência castelhana. Mo- bilizando as camadas populares da chamada arraia miúda, os comerciantes derrotam Castela e entregam a coroa ao irmão bastardo de D. Fernando, o mestre de Avis D João I. Esse processo, conhecido como a Revolução de Avis, as- segurou não apenas a autonomia portuguesa como também a influência da burguesia nesse Estado, dando continuida- de à idéia de expansão marítima e comercial para o continente africano. Esse pioneirismo lusitano se mostraria decisivo no contexto das grandes navegações, determinando que os portugueses se lançassem ao mar antes dos espanhóis, que insistiam nas lutas contra os mouros. Já a formação do Estado espanhol tem sua origem nas lutas dos reinos cristãos, como Leão, Navarra, Aragão e Castela contra a presença muçulmana no sul da penín- sula ibérica, onde já haviam formado o Califado de Córdoba. A medida que estes reinos cristãos se uniam na luta contra os mouros e, gradativamente, iam reconquis- tando territórios, conseguiam se fortalecer a partir das terras e riquezas conquistadas. O reino de Castela, em especial, era o mais poderoso e influente, devido a sua hegemonia territorial na península. Quando os reis Fernando de Aragão e Isabel de Castela se uniram por meio de um casamento, os exércitos se unificaram em definitivo e conquistaram Granada, o últi- mo reduto dos mouros na península. A partir de então, em 1492, a Espanha estava unificada e se lançaria no proces- so de expansão marítima. Os reis católicos: Fernando de Aragão e Isabel de Castela 328 O nascimento de Estados Nacionais estimulou o surgimento de diversos teóricos que buscaram legiti- mar e propor as estruturas desses novos Estados. OS TEÓRICOS DO ESTADO NACIONAL MODERNO Os pensadores que se debruçaram sobre a nature- za, legitimidade e forma dos Estados Nacionais, apresentam particularidades entre si. Por isso é preciso compreender, em linhas gerais, a visão de cada um desses principais pensadores. 1. NICOLAU MAQUIAVEL Maquiavel é considerado por muitos estudiosos o pai da ciência política moderna. Isto porque sua obra busca analisar as relações políticas e formular uma teoria de estado à luz da racionalidade, inspirado pelo mo- vimento renascentista de Florença, onde nasceu. Para Maquiavel, a política não pode ser entendida como fruto da von- tade divina, e sim das ações e das capacidades do soberano. Em sua principal obra, “O prínci- pe”, defendeu que o governante deve ter força e talento (virtú) para conduzir suas ações e não permitir que a sorte ou o acaso (fortuna) determinas- sem seus rumos. Para isso, não deveriam existir limites éticos, morais ou religiosos ao exercício de sua autoridade. Este livro, a princípio apenas uma forma de aconselhar o Duque Lorenzo de Médici na manutenção de seu poder, acabou se transformando em uma espécie de manual político, que muitos entendem como defesa do absolutismo monárquico. Embora Maquiavel admirasse a república como forma de governo. 2. JACQUES BOSSUET O bispo Jacques Bossuet buscou legitimar o Estado e o poder do soberano com base nas escrituras bíblicas, sendo por esta razão o teórico do chamado “Direito Divino dos Reis”. Para o autor, o trono real não pertence aos ho- mens e sim a Deus, sendo o monarca o ministro da vontade divina que a personifica em suas ações. Quaisquer institui- ções ou homens que se opusessem às determinações re- ais estariam se opondo à vontade do próprio Deus. Assim como no caso de Maquiavel, é preciso compreender essa obra dentro de seu contexto, em que, como conselheiro de Luis XIX, Bossuet precisava de uma teoria que as- sociasse o poder real às tradições católicas, diminuindo a influência papal na coroa france- sa. A imagem utilizada na capa da obra “O Leviatã”, de Thomas Hobbes. Muitos autores afirmam que o fato de Hobbes ter vivenciado a turbulenta guerra civil da chamada Revolução Puritana foi decisivo para sua obra. Em seu Livro “O Leviatã”, de 1651, Hobbes afirma que a natureza humana é egoísta, violenta e impulsiva. Essa condição nos tornaria natural- mente inaptos à vida social, pois, na tentativa de se fazerem prevalecer sobre os demais, cada um dos homens faria uso da própria força, criando um caos generalizado que Hobbes denominou de “guerra de todos contra todos”. Para evitar esse quadro desolador, os homens teriam como única opção o estabelecimento de um pacto, através do qual todos se submeteriam ao Estado, que passaria a deter o monopólio da força. Este ato representaria o fim do caótico estado de natureza e a constituição do estado civil, no qual os homens abrem mão da liberdade em troca da preservação da vida e da ordem, garantidas por um sobe- rano de poderes plenos e ilimitados. Outros nomes, como Jean Bodin (1530-1596) e Hugo Grotius (1583-1645), também deram suas contribuições no campo teórico. Bodin notabilizou-se por defender a tese de que o rei era a expressão do poder e autoridade do Estado, sendo, portanto, absoluto e inquestionável. O rei não pode- ria se sujeitar às leis do Estado uma vez que ele seria sua própria representação física. Já Grotius debruçou-se sobre as relações entre os Estados Nacionais, o que leva muitos a considerar esse pensador o fundador do direito internaci- onal. Suas obras defendem que as relações entre os Estados devem se pautar pela soberania, independência e igualdade,além de afirmarem a existência de guerras jus- tas e legítimas entre as nações, para solucionar impasses que o direito e os tribunais não conseguem harmonizar. 3. THOMAS HOBBES 329 O ABSOLUTISMO MONÁRQUICO O processo de consolidação dos Estados Nacionais modernos esteve intimamente associado ao fortalecimento da figura do rei. O monarca era entendido como um símbolo do Estado, ou mesmo uma de suas principais instituições. Esse gerou a concepção de que o rei concentraria todos os poderes e funções do Estado em si mesmo. Valendo-se das obras dos teóricos que legitimaram os estados modernos, alguns monarcas se apresentavam como detentores do tro- no por direito divino, sendo assim dono de uma autoridade inquestionável, à qual nenhum súdito ou instituição poderia se opor. Esta concentração de poder nas mãos do rei era vista como demonstração de força do próprio reino, já que monarca e Estado se confundiam nessa concepção. Desta forma, a medida que os estados organizavam seus impérios ultramarinos e enriqueciam com as práticas mercantilistas, o poder do rei aumentava na mesma proporção. Embora não tenha sido único (D. Miguel em Portugal, Felipe II da Espanha e Jaime I na Inglaterra são outros ex- poentes deste modelo), a grande expressão dessa teoria foi o absolutismo francês durante o governo do rei Luis XIV. O monarca, que se autoproclamava o “rei sol”, recusou a figura de um primeiro-ministro, afastou a influência dos par- lamentos locais e governou por todo o seu reinado de 72 anos, sem convocar a assembléia dos Estados Gerais. O monarca instituiu uma etiqueta própria para sua corte, que vigorou mesmo depois de sua morte e influenciou outras casas reais de toda a Europa. Habitou o suntuoso Palácio de Versalhes, que acabou se tornando um símbolo de gran- deza e de seu próprio poder. No entanto é preciso perceber que o poder absoluto estava muito mais no plano teórico do que numa realidade de fato. Ainda que cooptasse parte da nobreza, mantivesse os privilégios clericais e obtivesse grande respaldo dos gru- pos dominantes, o absolutismo monárquico criava uma estrutura que sobrecarregava a burguesia e os populares com os altos impostos, necessários para a manutenção do poder real e dos privilégios do clero e da nobreza. Essa contradição seria o cerne das revoluções burguesas, em especial na França. Luis XIV, o rei sol, tornou-se símbolo do absolutismo monárquico 01 (UEPG) Formados a partir da crise política e social que pôs fim ao feudalismo, os Estados Nacionais Mo- dernos emergiram na Europa trazendo consigo novas organizações e estratégias econômicas, sociais e, especialmente, políticas. É, portanto, neste cenário, que nasceram as chamadas monarquias absolutis- tas. A respeito desse tema, assinale o que for correto. 01) Em "O Príncipe", Nicolau Maquiavel considera que não há limites morais ou éticos nas ações de um monarca, desde que os atos praticados por ele tivessem como objetivo manter o Esta- do funcionando de modo pleno. 02) Os Estados Modernos estão assentados no prin- cípio do contrato social, ou seja, o princípio de que todos são iguais perante as leis e que ne- nhum grupo social poderia ter privilégios em relação a outros. Além disso, o contrato social estabelece que os meios de produção perten- cem exclusivamente ao Estado e não aos indi- víduos. 04) O principal vínculo social dos monarcas absolu- tistas foi com as camadas mais empobrecidas da sociedade. Em todos os Estados Modernos percebe-se um forte vínculo entre o rei e os cam- poneses, por exemplo. Ao mesmo tempo, há um nítido distanciamento entre o soberano e a bur- guesia nascente. 08) Formulada a partir das ideias de Jean Bodin e Jacques Bossuet, a teoria do direito divino dos reis partia do princípio que o poder real tem ori- gem divina e, portanto, voltar-se contra um rei era o mesmo que se voltar contra Deus. 16) Uma das características centrais dos Estados Nacionais Modernos foi o não investimento na formação de exércitos. Na medida em que os reis centralizaram o poder e que as fronteiras nacionais foram definidas, as estruturas milita- res foram consideradas desnecessárias. 02 (UEM) Assinale o que for CORRETO sobre a confi- guração política do Estado Moderno. 01) A Alemanha e a Itália foram os dois primeiros países que adotaram o Estado Moderno Abso- lutista como regime político. 02) Houve um processo de secularização da políti- ca com o afastamento da influência da Igreja nos assuntos do governo. 04) O poder nacional, centrado na figura do rei, es- tava acima dos poderes regionais. 08) A criação de um exército permanente, assim como a unificação das leis, fazia parte da confi- guração do Estado Moderno. 16) Como um dos principais teóricos do Estado Mo- derno, Jean Bodin defendia que a tirania era a melhor forma política para manter a harmonia social. 330 03 (UEM) Sobre o absolutismo e a formação dos Esta- dos Modernos, assinale o que for CORRETO. 01) A oligarquia foi a primeira forma de governo do Estado Moderno. 02) O mercantilismo foi o modelo econômico mais significativo do período moderno. 04) O absolutismo é um regime em que o monarca possui o poder absoluto, podendo decretar leis, criar e cobrar impostos, nomear funcionários e manter exércitos permanentes. 08) Para consolidar o Estado Moderno, as monar- quias nacionais adotaram algumas medidas para garantir o controle político, tais como uma burocracia administrativa, leis e justiça unificadas e um sistema tributário centralizado. 16) A política monetária dos Estados Modernos era conhecida como monofisismo, ou seja, a ado- ção de uma moeda única para toda a Europa. 04 (UEPG) Os chamados Estados Nacionais Modernos emergiram na Europa a partir do final da Idade Mé- dia, sendo que os primeiros casos datam do século XII e apresentam características bastante peculiares. A respeito desse tema, assinale o que for correto. 01) A ascensão dos Estados Nacionais Modernos correspondeu ao fim do absolutismo, uma for- ma secular de monarquia existente na Europa. A partir de então, todos os monarcas passaram a governar sob os limites de constituições que delimitavam os direitos e as funções dos reis. 02) A partir das unificações regionais que deram ori- gem aos Estados Nacionais Modernos, as for- ças militares acabaram perdendo espaço. Na medida em que a figura do monarca simboliza- va a ideia de nação e a identidade nacional, os exércitos perderam sentido e foram paulatina- mente enfraquecendo ao longo dos séculos XVII e XVIII. 04) Portugal foi o primeiro país europeu a se unifi- car em torno do que se entende por um Estado Nacional Moderno. Tal primazia se deu pelo es- forço coletivo dos portugueses na reconquista cristã da Península Ibérica, então marcada pela presença dos árabes. 08) A não formação de quadros burocráticos especializados foi um fator decisivo para o fra- casso dos Estados Nacionais Modernos e que levou aos processos revolucionários dos sécu- los XVIII e XIX que puseram ao fim tal modelo. Geralmente, os monarcas indicavam parentes ou amigos para a gestão pública. 16) A organização administrativa, a unificação de ta- xas e leis e a liberdade comercial no espaço do reino, são fatores que explicam o apoio da nas- cente burguesia aos processos de centraliza- ção política que levou a formação dos Estados Nacionais Modernos. 05 (UEPG) Os Estados Modernos (ou Estados Nacio- nais Modernos) surgiram a partir do processo de gradual centralização de poder na Europa e possuem traços específicos adaptados à correlação de forças entre as classes sociais típicas da sociedade moder- na. A respeito desse tema, assinale o que for correto. 01) O respeito à pluralidade étnica e às diversida- des culturais dos povos são características en- contradas nas origens dos Estados Modernos. 02) Os Estados Modernos, em praticamente todas as situações em que se configurou plenamen- te, se estruturaram a partir de monarquias ab- solutistas. 04) A centralização de poder levou ao aparecimen- to de um corpo de funcionários, o qual ficou res- ponsávelpela execução de serviços públicos. 08) O estabelecimento preciso de fronteiras territoriais serviu como forma de definição do espaço onde um determinado Estado exercia a sua soberania. 16) Nos Estados Modernos, tanto as classes soci- ais quanto os indivíduos possuem um conjunto de direitos garantidos pelo próprio Estado. 06 (UEM) Assinale o que for CORRETO sobre os Esta- dos Nacionais Europeus da Época Moderna. 01) A ideia de que o poder dos monarcas é delega- do por Deus está na base da fundamentação teórica do Estado Nacional. 02) No processo de formação dos Estados Nacio- nais, a burguesia e a nobreza se uniram para combater o poder do rei e os privilégios dos se- nhores feudais. 04) Na Inglaterra e na França, os Estados Nacio- nais fortaleceram o poder político e militar dos príncipes e dos barões feudais. 08) Thomas Hobbes figura como um dos teóricos do Estado Nacional Absolutista. 16) Para Nicolau Maquiavel, a plenitude do poder do Estado Nacional se completaria com a sub- missão do poder político ao poder da Igreja Ca- tólica. 07 (IFSC) A monarquia fortalecida dos Estados Moder- nos foi chamada de absolutista, ou seja, passou por um processo de centralização política. Sobre o abso- lutismo, assinale a soma da(s) proposição(ões) CORRETA(S). 01) Com a formação dos Estados Nacionais, os reis passaram a dispor de recursos para a formação de exércitos regulares. 02) O regime absolutista estabeleceu a última de- marcação já vista de fronteiras entre os países europeus. 04) O absolutismo foi construído por meio de uma crescente e complexa burocracia real. 08) Absolutismo e Estados Nacionais são sinônimos. Não há Estado Nacional sem a adoção de regi- me absolutista. 16) Apesar do crescente controle promovido pelos reis absolutistas, a cobrança de impostos era ineficiente e mais desorganizada que nos esta- dos feudais. 331 08 (UEM) A respeito das manifestações populares, o fi- lósofo Nicolau Maquiavel (1469-1527) afirma: "Eu digo que aqueles que condenam os tumultos entre os no- bres e a plebe parecem reprovar aquelas coisas que foram a causa primeira da liberdade em Roma. Con- sideram mais os rumores e os gritos que nasciam de tais tumultos que os bons efeitos que eles provoca- vam e não veem que há em toda república dois humores diversos, quais sejam, aquele do povo e aquele dos grandes, nem também que todas as leis que são feitas em favor da liberdade nascem desta desunião. [...] Não se pode com alguma razão cha- mar esta república de desordenada quando nela existem tantos exemplos de virtù, porque os bons exemplos nascem da boa educação, a boa educação das boas leis e as boas leis daqueles tumultos que muitos condenam inadvertidamente" (MAQUIAVEL, Nicolau. Discursos sobre a primeira década de Tito Lívio. In: MARÇAL, Jairo. Antologia de textos filosóficos, Seed-PR, p. 432). Com base no texto citado, assinale o que for correto. 01) Aquilo que é preconizado pelo filósofo como cau- sa da liberdade política apenas caberia para o contexto da Roma republicana e não para toda e qualquer república. 02) Os tumultos referidos no trecho expressam a possibilidade de luta política de um povo, a sua liberdade de participação na vida política do Es- tado. 04) Os tumultos, na medida em que geram benefí- cios para a cidade, não podem ser recrimina- dos, apesar do temor que provocam em um pri- meiro momento. 08) Os tumultos revelam a presença de dois grupos políticos ou de dois humores antagônicos, quais sejam, aqueles que desejam a paz na cidade e aqueles que desejam a desunião entre os cida- dãos. 16) Os tumultos não são sinais de fraqueza de uma república, mas um índice de força política, na medida em que revelam o engajamento político dos cidadãos de todas as classes políticas 01 (MACKENZIE) Analise o poema abaixo, composto por Fernando Pessoa e disponível em sua obra Men- sagem. 'Screvo meu livro à beiramágoa. Meu coração não tem que ter. Tenho meus olhos quentes de água. Só tu, Senhor, me dás viver. Só te sentir e te pensar Meus dias vácuos enche e doura. Mas quando quererás voltar? Quando é o Rei? Quando é a Hora? Quando virás a ser o Cristo De a quem morreu o falso Deus, E a despertar do mal que existo A Nova Terra e os Novos Céus? Quando virás, ó Encoberto, Sonho das eras português, Tornar-me mais que o sopro incerto De um grande anseio que Deus fez? Ah, quando quererás voltando, Fazer minha esperança amor? Da névoa e da saudade quando? Quando, meu Sonho e meu Senhor? Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/ texto/pe000004.pdf. Acesso em abril de 2018. É correto afirmar que o poema de Fernando Pessoa (A) retoma uma concepção mítica que, ao remon- tar ao desaparecimento de D. Sebastião, no sé- culo XVI, possui raízes históricas em Portugal. (B) vincula a resolução das dificuldades, até então enfrentadas pela coroa portuguesa, ao apego ao Cristianismo, adquirindo um caráter messiânico. (C) corrobora a visão, até então predominante em Portugal, de que o retorno de D. João VI para a Europa possibilitaria a superação das dificulda- des reinóis. (D) esclarece, sem fundamentos místicos e históri- cos, os motivos do fim da dinastia e Avis e a ascensão dos Habsburgo ao trono português. (E) enaltece as Grandes Navegações portuguesas, cujo sucesso seria explicado pela união de fato- res religiosos e políticos. 02 (UNICAMP) Na formação das monarquias confessionais da Época Moderna houve reforço das identidades territoriais, em função de critérios de ca- ráter religioso ou confessional. Simultaneamente, houve uma progressiva incorporação da Igreja ao corpo do Estado, através de medidas de caráter patrimonial e jurisdicional que procuravam uma maior sujeição das estruturas e agentes eclesiásticos ao poder do príncipe. Na busca pela homogeneização da fé dentro de um território político, a Igreja cumpria também papel fundamental na formação do Estado moderno por meio de seus mecanismos de disciplinamento social dos comportamentos. (Adaptado de Frederico Palomo, A Contra-Reforma em Portugal, 1540-1700. Lisboa:Livros Horizonte, 2006, p.52.) Considerando o texto acima e seus conhecimentos sobre a Europa Moderna, assinale a alternativa cor- reta. (A) Cada monarquia confessional adotou uma iden- tidade religiosa e medidas repressivas em rela- ção às dissidências religiosas que poderiam ameaçar tal unidade. (B) Monarquias confessionais são aquelas unida- des políticas nas quais havia a convivência pa- cífica de duas ou mais confissões religiosas, num mesmo território. (C) São consideradas monarquias confessionais os territórios protestantes que se mostravam mais propícios ao desenvolvimento do capitalismo comercial, tornando-se, assim, nações enriquecidas. (D) As monarquias confessionais contavam com a instituição do Tribunal do Santo Ofício da Inquisição em seu território, uma forma de con- trole cultural sobre religiões politeístas. 332 03 (PUCSP) "(...) a instituição social da monarquia che- ga a seu maior poder na fase histórica em que uma nobreza em decadência já está obrigada a competir de muitas maneiras com grupos burgueses em as- censão, sem que qualquer um dos lados possa derrotar inapelavelmente o outro. A aceleração da monetarização e da comercialização no século XVI deu aos grupos burgueses um estímulo ainda maior e empurrou fortemente para trás o grosso da classe guerreira, a velha nobreza. Ao fim das Iutas sociais nas quais essa violenta transformação da sociedade encontrou expressão, crescera consideravelmente a interdependência entre partes da nobreza e da bur- guesia." ELIAS, Norbert. O processo civilizador. Rio de Janeiro: Zahar, vol. II, p. 152. O texto considera que o regime monárquico na Euro- pa moderna (A) resulta da competição e da crescente interdependência entre a nobreza e a burgue- sia. Assim, a monarquia se equilibrava numa situação na qual nenhum dos grupos em luta poderia ainda tornar-se vencedor. (B) atinge sua força máxima com a ascensão e a vitória dos grupos burgueses. Dessa forma, a monarquia pôde deixar de mediaras lutas entre a nobreza e os camponeses, e passou a apoi- ar-se na burguesia. (C) expressa a capacidade da nobreza vitoriosa para financiar a estrutura política, e a da burguesia em fazê-la funcionar. De fato, a força do regime foi maior onde as transformações econômicas foram mais aceleradas. (D) representa exclusivamente os interesses do pró- prio monarca. Na verdade, o poder real pode afirmar-se no contexto da vitória da burguesia sobre a velha nobreza guerreira, que tinha man- tido o rei como seu representante. 04 (FGVRJ) Soberania popular, igualdade civil, igualda- de perante a lei - as palavras hoje são ditas com tanta facilidade que somos incapazes de imaginar seu ca- ráter explosivo em 1789. Não conseguimos nos imaginar num mundo mental como o do Antigo Regi- me... DARNTON, Robert. O beijo de Lamourette. Mídia, cultura e revolução. Trad., São Paulo: Companhia das Letras, 2010, p. 30. As sociedades europeias do chamado Antigo Regi- me baseavam-se (A) no princípio da igualdade social e econômica e no direito divino de seus monarcas. (B) na ordenação social hierárquica e em concep- ções filosóficas ligadas a religiões. (C) na perspectiva da desigualdade social e em dou- trinas religiosas democráticas. (D) na liberdade de expressão religiosa e no senti- mento nacionalista. (E) na efetivação da igualdade jurídica e na menta- lidade clerical. 05 (UFJF-PISM) Leia o texto a seguir e observe com atenção a imagem da pintura a óleo de um rei francês em um campo de batalha. Os dois estão relaciona- dos ao período dos Estados Absolutistas Modernos: "Como é importante que o público seja governado por um só, também importa que quem cumpre essa fun- ção esteja de tal forma elevado acima dos outros que ninguém se possa confundir ou se comparar com ele; não se pode retirar do seu chefe a mínima marca da superioridade que o distingue...". RIBEIRO, R. J. A ética no Antigo Regime. São Paulo: Moderna, 1999. p. 54. Sobre os Estados Absolutistas, assinale a alternativa CORRETA: (A) a formação de exércitos permanentes, profissio- nais e centralizados era o objetivo militar de Estados Absolutistas que pretendiam defender suas fronteiras estabelecidas. (B) os exemplos mais característicos de Estados Ab- solutistas, nos quais o poder do monarca era concentrado efetivamente na Europa, eram a Itália e a Alemanha. (C) a política econômica dos Estados Absolutistas combatia as propostas que defendiam a unifi- cação de impostos, moedas, pesos e medidas em todo seu território. (D) diferentes representações artísticas traziam a imagem idealizada de monarcas dos Estados Absolutistas, caracterizando-os como indivídu- os semelhantes aos seus súditos. (E) a justificativa do poder exercido pela nobreza nos Estados Absolutistas buscava se afastar do princípio da origem divina que lhe conferiria um caráter ilimitado. 06 (ENEM PPL) O garfo muito grande, com dois dentes, que era usado para servir as carnes aos convidados, é antigo, mas não o garfo individual. Este data mais ou menos do século XVI e difundiu-se a partir de Veneza e da Itália em geral, mas com lentidão. O uso só se generalizaria por volta de 1750. BRAUDEL, F. Civilização material, economia e capitalismo: séculos XV-XVIII; as estruturas do cotidiano. São Paulo: Martins Fontes, 1977 (adaptado). “Luís XIV diante de Maastricht” – Pierre Mignard (1673) 333 No processo de transição para a modernidade, o uso do objeto descrito relaciona-se à (A) construção de hábitos sociais. (B) ntrodução de medidas sanitárias. (C) ampliação das refeições familiares. (D) valorização da cultura renascentista. (E) incorporação do comportamento laico. 07 (UNESP) Deveis saber, portanto, que existem duas formas de se combater: uma, pelas leis, outra, pela força. A primeira é própria do homem; a segunda, dos animais. Como, porém, muitas vezes a primeira não seja suficiente, é preciso recorrer à segunda. Ao prín- cipe torna-se necessário, porém, saber empregar convenientemente o animal e o homem. [...] Nas ações de todos os homens, máxime dos príncipes, onde não há tribunal para que recorrer, o que importa é o êxito bom ou mau. Procure, pois, um príncipe, vencer e conservar o Estado. Nicolau Maquiavel. O príncipe, 1983. O texto, escrito por volta de 1513, em pleno período do Renascimento italiano, orienta o governante a (A) defender a fé e honrar os valores morais e sa- grados. (B) valorizar e priorizar as ações armadas em detri- mento do respeito às leis. (C) basear suas decisões na razão e nos princípios éticos. (D) comportar-se e tomar suas decisões conforme a circunstância política. (E) agir de forma a sempre proteger e beneficiar os governados. 08 (UFU) A tranquilidade dos súditos só se encontra na obediência. [...] Sempre é menos ruim para o público suportar do que controlar incluso o mau governo dos reis, do qual Deus é único juiz. Aquilo que os reis pa- recem fazer contra a lei comum funda-se, geralmente, na razão de Estado, que é a primeira das leis, por consentimento de todo mundo, mas que é, no entan- to, a mais desconhecida e a mais obscura para todos aqueles que não governam. LUÍS XIV, Rei da França. Memorias. (Versão espanhola de Aurelio Garzón del Camino). México: Fondo de Cultura Económica, 1989. p. 28-37 (Adaptado). As palavras do rei Luís XIV exemplificam um comple- xo e longo processo sociopolítico, identificado com o que comumente chamamos de Idade Moderna e que podia ser caracterizado. (A) por um crescente deslocamento do poder políti- co da burguesia, que passou a ver a ascensão da nobreza feudal, cada vez mais próxima do poder e ocupando importantes cargos políticos. (B) pela centralização administrativa sobre os particularismos locais e pela crescente unifica- ção territorial, ainda que os senhores de terra não perdessem inteiramente seus privilégios. (C) pelo fortalecimento do poder político da Igreja Católica, resultado de um processo de crescen- te mercantilização de suas terras e de sua consequente adequação ao mercado. (D) pelo processo de cercamento dos campos, com o consequente fortalecimento da nobreza feu- dal, a qual, com os altos impostos que pagava, contribuiu decisivamente para o fortalecimento do poder real. 01 (UERJ) Versalhes seria largamente imitado por monarcas por toda a Europa, de Potsdam a Hampton Court, e da Escandinávia a Nápoles. Era o centro de uma espé- cie de "estado teatral" no qual o ator principal, o próprio monarca, interpretava uma série de rotinas. A manei- ra de viver no palácio - a grande ostentação familiar, os rituais nos espaços públicos, o teatro do cotidiano, até as atividades mundanas de acordar, fazer refei- ções e ir dormir - era imitada por nobres e monarcas rivais. Adaptado de JONES, C. The Cambridge Illustrated History of France. Citado por KOPPER, M. E. Arquitetura, poder e opressão. Porto Alegre: UFRGS, 2004. Do século XVIII ao XIX, a construção de diversos pa- lácios na Europa inspirados no Palácio de Versalhes significou mais do que uma influência arquitetônica. Denomine esse modelo político inspirado em Versalhes. Aponte, ainda, dois objetivos políticos dos governantes europeus ao construírem palácios inspi- rados na monumentalidade de Versalhes. 02 (UNESP) É necessário a um príncipe, para se man- ter, que aprenda a poder ser mau e que se valha ou deixe de valer-se disso segundo a necessidade. Dei- xando de parte, pois, as coisas ignoradas relativamente aos príncipes e falando a respeito das que são reais, digo que todos os homens, máxime os príncipes, por estarem mais no alto, se fazem notar 334 através das qualidades que lhes acarretam reprova- ção ou louvor. Isto é, alguns são tidos como liberais, outros como miseráveis; alguns são tidos como pró- digos, outros como rapaces; alguns são cruéis e outros piedosos; perjuros ou leais; efeminados e pusilâni- mes ou truculentos e animosos; humanitários ou soberbos; lascivos ou castos; estúpidos ou astutos; enérgicos ou indecisos; graves ou levianos; religio- sos ou incrédulos, e assim por diante. E eu sei quecada qual reconhecerá que seria muito de louvar que um príncipe possuísse, entre todas as qualidades re- feridas, as que são tidas como boas; mas a condição humana é tal, que não consente a posse completa de todas elas, nem ao menos a sua prática consistente; é necessário que o príncipe seja tão prudente que saiba evitar os defeitos que lhe arrebatariam o gover- no e praticar as qualidades próprias para lhe assegurar a posse deste, se lhe é possível; mas, não podendo, com menor preocupação, pode-se deixar que as coi- sas sigam seu curso natural. (Maquiavel. O Príncipe, 1983. Adaptado.) Identifique, exemplificando com passagens do texto, a concepção de Maquiavel acerca da maneira como o governante deve se comportar. Indique dois elemen- tos, presentes ou não no texto, que permitam associar o pensamento de Maquiavel à visão de mundo dos humanistas. 03 (UERJ) Os séculos XVI e XVII marcaram a afirmação do ab- solutismo político na Europa, embora com particularidades em cada reino. Dois exemplos de reis absolutistas são Felipe II, cujos domínios eram tão vastos que se dizia que neles "o sol nunca se punha", e Luís XIV, conhecido como "rei sol". Indique duas medidas estabelecidas pelo poder real que tenham auxiliado a afirmação do absolutismo político e dois fatores que funcionaram como resis- tência ao processo de centralização política. 04 (UFG) Leia o texto a seguir. A ilha de Utopia tem cinquenta e quatro cidades gran- des e magníficas, onde todos falam a mesma língua, têm os mesmos hábitos e vivem sob as mesmas leis e instituições. O governador conserva o cargo por toda a vida, a menos que se suspeite que o titular deseja instituir uma tirania. Uma lei proíbe que as questões de interesse público sejam discutidas durante menos de três dias, sendo crime de morte deliberar sobre assuntos de Estado fora do Senado ou da Assembleia Popular. Aparentemente, isso é feito para impedir que o governador e os representantes das famílias cons- pirem para ignorar os desejos da população e alterar a Constituição. MORE, Thomas. Utopia. São Paulo: Editora Martins Fontes, 2009. p. 82 e seq. (Adaptado). Este texto integra a obra de Thomas Morus, publicada em 1516, na Inglaterra governada por Henrique VIII. Ao narrar a vida cotidiana em um país fictício, chama- do Utopia, o autor descreve instituições políticas que projetam um governo voltado à vida comunitária ide- al. Com base no texto apresentado, explique como essa vida comunitária ideal a) revela os princípios que sustentam o processo de formação do Estado nacional moderno; b) expressa um elemento de crítica ao governo ab- solutista. 05 (UERJ) Nos gráficos abaixo, as setas sugerem um conceito fundamental na organização de uma pirâmi- de social: o da mobilidade, ou seja, do deslocamento de indivíduos ou grupos dentro da pirâmide. No Antigo Regime, a tradição era um dos elementos fundamentais na definição da mobilidade na socieda- de estamental. Identifique a forma de mobilidade, vertical ou horizon- tal, que mais caracterizou a sociedade estamental e explique como ela funcionava no Antigo Regime. 335 Os mecanismos e práticas para promover suas eco- nomias. Embora cada país tenha desenvolvido suas próprias ações, é possível estabelecer que, de um modo geral, essas práticas passavam pela intervenção do Esta- do na esfera econômica, gerando monopólios e barreiras alfandegárias. Também é importante ressaltar que não exis- tiu uma teoria consistente sobre essas práticas até o século XVIII, quando os liberais nomearam esse conjunto de ações econômicas do Estado para criticá-las. Uma preocupação presente nas ações mercantilistas era a defesa da economia nacional contra a concorrência estrangeira. Neste sentido, o protecionismo alfandegário foi essencial, pois estabelecia taxas e impostos sobre os pro- dutos estrangeiros, afim de encarecê-los e torná-los menos competitivos, estimulando a compra da produção nacional. Ainda é preciso perceber que os impostos, tanto sobre os produtos estrangeiros quanto sobre a renda nacional, eram a origem das receitas do próprio Estado. Essa prática também estava associada à constante busca por uma balança comercial favorável, onde as expor- tações deveriam superar as importações, em busca de um superávit comercial. A criação de empresas monopolistas também teve grande destaque no mercantilismo, principal- mente, no que diz respeito à exploração dos mercados coloniais e seus respectivos produtos. O caráter da economia mercantilista variou de acor- do com cada Estado. No caso dos Estados da península ibérica (Portugal e Espanha) a orientação era no sentido da acumulação primitiva de riquezas, denominada metalismo e bulionismo, respectivamente. É importante observar que esses países que não estimularam a produ- ção manufatureira, acabaram gerando, a longo prazo, economias vulneráveis e dependentes. Em contrapartida, nações como Holanda, Inglaterra e França adotaram práticas bastante distintas do modelo ibérico. Os holandeses investiram na criação de empre- sas monopolistas como a WIC (Companhia das Índias Ocidentais) estimulando os comerciantes do país, geral- mente com fortes ligações com os grandes banqueiros. O mercantilismo francês, sobretudo durante o período em que Jean-Batiste Colbert atuou como ministro do rei Luis XIV, estimulou a produção manufatureira de artigos de luxo, além de investir na tentativa de conquistar maiores espa- ços para suas companhias comerciais na América. No caso do mercantilismo inglês, houve um intenso desenvolvimen- to da indústria naval, mercantil e militar, principalmente durante a gestão de Cromwell que adotou os Atos de Na- vegação em 1651. Além disso, a mentalidade empreendedora do mercantilismo inglês, somada à parti- cipação política da burguesia a partir do século XVII, estimulariam cada vez mais os caminhos da industrializa- ção inglesa, colocando a Inglaterra bem à frente de monarquias pioneiras, como Portugal e Espanha. OS SISTEMAS COLONIAIS NO NOVO MUNDO A América colonizada conheceu, a partir do século XVI, a implantação de diferentes modelos coloniais. Os objetivos de cada uma das metrópoles, a geografia de cada área colonial e a própria conjuntura européia de então de- terminavam as particularidades da colonização de cada região e suas mudanças com o passar do tempo. Via de regra, podemos indicar três modelos a serem estudados, sempre observadas suas variações internas: a colonização portuguesa na América (objeto de estudo de outro capítulo do presente material) a apresentação dos modelos coloni- ais que vigoraram nas Américas espanhola e inglesa (que serão aqui estudados.) 1. A COLONIZAÇÃO ESPANHOLA Os primeiros contatos entre os espanhóis e os nati- vos devem ser entendidos sob os dois ponto de vista. Os espanhóis, geralmente particulares que dispunham de re- cursos próprios para organizar as primeiras ocupações com o consentimento da coroa, desde que pagassem os impos- tos devidos ao rei, vinham atraídos pelos relatos de abundância de metais. Mitos como o “El dourado” aguça- vam a cobiça dos primeiros conquistadores como Cortez e Pizarro que, em busca de saciar sua sede de ouro, promo- veram um verdadeiro genocídio dos nativos. Alguns historiadores falam em 3 milhões de indígenas mortos pe- las doenças, armas de fogo, guerras e escravidão, impostas pelos espanhóis. No tocante aos povos nativos, a considerável superi- oridade numérica destes em relação aos espanhóis e o domínio que possuíam sobre o território tornam difícil a com- preensão da conquista espanhola, a menos que analisemos alguns aspectos. Em primeiro lugar, precisamos lembrar que os povos nativos não constituíam um grupo homogê- neo. A civilização Maia ,por exemplo, era constituída por Cidades-Estados autônomas e, ao que tudo indica, esta- vam em conflitos entre si quando os espanhóis chegaram, o que teria facilitado a conquista. No caso do Império Asteca, havia uma dominação sobre vários povos, que eram sub- metidos a tributos e até mesmo a sacrifícios humanos. Esse quadro estimulava o desejode liberdade de alguns povos, que foi habilmente explorado pelos europeus. Por fim, o império Inca vivenciava uma grave disputa interna pelo po- der, que havia lançado o império em uma espécie de guerra civil, enfraquecendo suas defesas. Além disso a varíola espalhou-se violentamente entre a população nativa, no mesmo momento em que a ofensiva de Pizzaro e seu efe- tivo militar atacaram aquele que fora o maior império nativo na América pré-colombiana. As mitologias e lendas dos indígenas sobre uma possível vinda de deuses à América, que os nativos teriam associado aos espanhóis e seus ca- valos, também é frequentemente apontada como um fator que teria diminuído a resistência dos povos conquistados. Após o momento inicial de conquista, a coroa espa- nhola tratou de organizar efetivamente a colonização de seus domínios no “Novo Mundo”, que foram estabelecidos pelo tratado de Tordesilhas de 1494. Para isso, constituiu o Conselho das Índias, como órgão que assessorava o monarca na administração da empresa colonial, inclusive quanto à nomeações. PARTE II: HISTÓRIA GERAL UNIDADE 02: O MERCANTILISMO E OS SISTEMAS COLONIAIS NA AMÉRICA 336 A sociedade da América espanhola estava politica- mente dividida em vice-reinos e capitanias, onde o poder político era exercido pelos Chapetones, representantes da metrópole e nela nascidos. Os descendentes desses Chapetones, mas nascidos na América eram os Criollos, que compunham uma elite econômica dona das terras, que se fazia representar politicamente pelos Cabildos, que eram órgãos de administração local. Mestiços,de um modo ge- ral, desempenhavam algumas atividades livres, como o comércio e o artesanato, estando socialmente acima de nativos e negros. No tocante à questão comercial e tributária, os reis espanhóis também buscaram a centralização administrati- va através da Casa de Contratação e do sistema de Porto Único, que visava combater o contrabando e assegurar o monopólio de comércio. Outro aspecto fundamental é com- preender as relações de trabalho que se estabeleceram na América espanhola. Algumas dessas relações se aprovei- taram de práticas conhecidas pelos povos pré-colombianos como a Mita, onde os nativos exerciam um trabalho tempo- rário e compulsório em minas ou plantações, em troca de comida, aguardente ou metais. Havia também a Encomienda, onde os nativos eram profundamente explo- rados em troca apenas de “instrução religiosa”. 2. A COLONIZAÇÃO INGLESA A história da colonização inglesa na América conserva profundas diferenças com relação ao modelo espanhol. A começar pelo fato de que a coroa inglesa não dispunha, no início do século XVI, de recursos ou mesmo de população para organizar a implantação de um eficaz modelo de colo- nização na América, sob a tutela do Estado. As transformações políticas, econômicas e religiosas vividas pela Inglaterra no século XVII é que viriam a estimular o fluxo migratório para o outro lado do Atlântico, levando gradativamente (a primeira delas foi a Virgínia, em 1607, que recebe este nome como uma homenagem à rainha Elizabeth I “a rainha virgem”) à formação de treze colônias inglesas na faixa atlântica do norte do continente americano. As condições climáticas da parte sul dessas colôni- as, por serem favoráveis ao cultivo de gêneros interessantes à metrópole, como o tabaco e o algodão, acabaram se de- finindo sob o modelo tradicional de Plantations (grandes latifúndios, escravistas e monocultores, voltados para a exportação de produtos para a metrópole). Já as colônias da faixa norte, desenvolveram considerável autonomia em relação à metrópole, e não estavam submetidas, ao menos na prática, a nenhum efetivo controle da Inglaterra. Essa região buscou, gradativamente o desenvolvimento manufatureiro e conservou o predomínio de relações de trabalho livre ou assalariadas, embora houvessem casos de escravidão e servidão temporária para alguns recém- chegados e de poucos recursos. Esses núcleos de povoamento ao norte, em geral for- mados ou influenciados pelo pensamento puritano de estímulo ao trabalho, experimentaram um bom desenvolvi- mento interno, aproveitando-se da autonomia que usufruíam em relação à metrópole, chegando inclusive a desenvolver comércio com outras regiões, como no clássico “Comércio Triangular”. Embora houvesse vários modelos de comércio triangular, envolvendo inclusive a própria Inglaterra, o mo- delo clássico desse comércio pode ser representado como na figura a seguir: A Inglaterra, por sua vez, via nesse desenvolvimento algumas vantagens. A coroa acreditava que a autonomia conferida aos colonos estaria estimulando um desenvolvi- mento que geraria lucros para a Inglaterra, pois considerava ter a lealdade dos súditos da colônia e estava confiante de que a qualquer momento poderia estabelecer claramente os limites do pacto colonial sobre suas 13 colônias ameri- canas. Essa postura inglesa ficaria conhecida como “negligência salutar”. 01 (UEM-PAS) "As práticas mercantilistas variaram no tempo e no espaço, ou seja, não foram as mesmas para todos os Estados nem foram adotadas em con- junto no mesmo período. Mesmo assim, no geral, apresentam características comuns, como a interven- ção do Estado na economia (com o objetivo de regulamentá-la), a busca da balança comercial favo- rável, o metalismo e o protecionismo alfandegário visando ao fortalecimento do Estado e da riqueza na- cional" (BRAICK, P. R.; MOTA, M. B. História: das cavernas ao terceiro milênio. São Paulo: Moderna, 2012, p.191). Sobre o mercantilismo, assinale o que for CORRE- TO. 01) A exploração colonial portuguesa procurou pro- mover superavit na balança comercial, no perí- odo entre os séculos XVI e XVIII, por meio do monopólio do comércio do pau-brasil e de es- peciarias orientais. 02) O metalismo foi a característica central do mercantilismo nos países ibéricos, principalmen- te na Espanha. A riqueza estava diretamente relacionada à capacidade de acumular ouro e prata no reino. Entre os séculos XVI e XVII, a descoberta de metais preciosos na América Espanhola levou os espanhóis a adotarem uma política de entesouramento. 04) As conquistas ultramarinas produziram transfor- mações tanto na Europa como nas Américas. O comércio se tornou mundial, deslocando o eixo econômico do Mediterrâneo para o Atlântico. Os italianos perderam de vez o monopólio comer- cial. 08) Na Holanda, a burguesia desenvolveu política mercantilista bem sucedida baseada na Com- panhia das Índias Orientais e na das Índias Oci- dentais (ambas com frota mercante capacitada para transportar cargas pesadas ao longo das rotas marítimas), encarregadas de explorar o comércio, com suporte do Banco de Amsterdã. 16) O protecionismo foi a política mercantilista ado- tada pela Inglaterra para proteger o mercado in- terno e sua indústria têxtil da concorrência dos produtos industrializados italianos e alemães. 337 02 (UEPG) O século XVI ficou conhecido como o perío- do das Grandes Navegações e significou o momento em que a América foi ocupada e dominada por na- ções europeias como Portugal e Espanha. A respeito da colonização no século XVI, assinale o que for cor- reto. 01) As Capitanias Hereditárias correspondem a uma das primeiras formas de administração portu- guesa no território americano. 02) A plantation, caracterizada pelas vastas propri- edades monocultoras e pelo uso do trabalho es- cravo, foi um dos modelos de colonização des- se período. 04) Diferentes dos portugueses, os espanhóis não combatiam a prática de outras religiões em suas colônias, estabelecendo, por conta disso, uma relação bastante amistosa com os ameríndios. 08) Nas colônias espanholas, os adelantados eram os beneficiados da Coroa que vinham para a América em busca de riquezas. 16) Tanto portugueses como espanhóis priorizaram o uso da escravidão indígena em suas colôni- as, usando o trabalho escravo negro apenas como complementar ou acessório. 03 (UEM) A colonização da América pelos europeus, na época moderna, assumiu distintas configurações. A esse respeito, assinale a(s)alternativa(s) correta(s). 01) Em países como Estados Unidos, Austrália e An- gola, a colonização foi caracterizada pelo de- senvolvimento de lavouras modernas, com a utilização intensa de tecnologia. 02) Em algumas regiões da colonização inglesa da América do Norte, predominaram a grande pro- priedade agrícola e o trabalho escravo; em ou- tras, prevaleceram a pequena propriedade e o trabalho familiar com uma produção diversificada. 04) Em regiões onde as condições ambientais im- possibilitavam as atividades agrícolas, foram de- senvolvidas atividades manufatureiras, como, por exemplo, nas Antilhas. 08) Na colonização francesa do Canadá, foi adota- do o sistema de Capitanias hereditárias. Inspi- rada no modelo português, a França concedia grandes propriedades à Alta Nobreza. 16) Na colonização do litoral nordestino brasileiro, predominou a produção mercantil voltada - prin- cipalmente, mas não exclusivamente - para o mercado externo. 04 (UEM) Leia o fragmento abaixo e assinale a(s) alternativa(s) correta(s) sobre os Tempos Modernos. "Os chamados Tempos Modernos que, para os paí- ses do Mediterrâneo Ocidental e da orla atlântica do continente europeu, nasceram da crise do sistema feudal e da gestação do capitalismo conheceram o primeiro momento de expansão transoceânica da his- tória ocidental. Com o descobrimento dos caminhos marítimos, para o controle do comércio oriental, e a colonização da América, formaram-se os impérios mercantilistas dos séculos XVI, XVII e XVIII." (LINHARES, M. Y. Em face do Imperialismo e do Colonialismo. In: SILVA, F. C. T; CABRAL, R.; MUNHOZ, S. (org.). Impérios na História. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009, p. 235) 01) Com o objetivo de preservar a economia mercantilista, os monarcas ingleses do século XVII incentivaram o desenvolvimento de fábri- cas que utilizavam a energia a vapor como for- ça motriz. 02) O fortalecimento dos Estados Nacionais vincu- la-se às determinações e às práticas mercantilistas estabelecidas pelos Reis. 04) Ao longo do período de predomínio das ideias e das práticas mercantilistas, ocorreu, na Ingla- terra, um crescimento da produção e do comér- cio de produtos têxteis. 08) Com a exportação de produtos manufaturados para a Europa, houve uma maior distribuição de renda nas colônias. 16) As ideias dos iluministas da Revolução France- sa serviram de base para fundamentar os Esta- dos Absolutistas e a prática da economia mercantilista. 05 (UFSC) Leia. IMPERIALISMO ECOLÓGICO Os emigrantes europeus e seus descendentes estão em toda parte, e isso exige uma explicação. Mais do que qualquer outra, é difícil explicar a distribuição pelo mundo dessa subdivisão da espécie humana. A loca- lização das outras subdivisões faz sentido que é óbvio. É na Ásia que vive a maior parte das muitas varieda- des de asiáticos. Os africanos negros vivem em três continentes, mas a maioria concentra-se nas latitu- des originais, os trópicos, situando-se face a face com o oceano de permeio. Os ameríndios, com poucas exceções, vivem nas Américas, e praticamente todos os aborígenes australianos habitam a Austrália. Os esquimós vivem nas terras circumpolares, e os melanésios, polinésios e micronésios espalham-se por ilhas de um só oceano, por maior que seja este. To- dos esses povos expandiram-se geograficamente — cometeram, se assim quisermos, atos de imperialis- mo —, mas expandiram-se por áreas adjacentes ou pelo menos próximas àquelas em que já viviam, ou, no caso dos povos do Pacifico, foram para a ilha mais próxima e desta para a seguinte, não importa quantos quilômetros de água houvesse entre uma e outra. Os europeus, ao contrário, parecem ter brincado de pu- lar carniça por todos os quadrantes do globo. CROSBY, Alfred W. Imperialismo ecológico: a expansão biológica da Europa. 900-1900. São Paulo: Companhia das Letras. 1993. p. 13. 338 O texto de Alfred Crosby nos remete aos impactos sociais, econômicos, culturais e, também, ambientais da expansão e dominação europeia sobre as Améri- cas. Considerando isso, assinale a(s) proposição(ões) CORRETA(S). 01) No processo de dominação das Américas pelos europeus, ocorreu o genocídio da população ameríndia, tanto através das armas quanto de doenças como a varíola e a gripe, transmitidas pelos conquistadores. 02) Como resultado da dominação europeia nas Américas, está a introdução de espécies ani- mais, como o cavalo e a vaca, e vegetais, como o trigo e a cevada. 04) O plantation, sistema adotado pelos europeus em suas colônias de exploração nas Américas, era muito utilizado na Europa pelos produtores rurais das mais diversas regiões do continente desde a Idade Média. 08) A cana-de-açúcar e o milho são exemplos de culturas agrícolas nativas das Américas domes- ticadas pelos europeus e, posteriormente, trans- formadas em produtos básicos do sistema de plantation adotado no continente durante o pe- ríodo colonial. 16) A introdução de diversas espécies vegetais nas Américas durante o período colonial demonstra a preocupação dos colonizadores europeus com o desmatamento das florestas no Novo Mundo. 32) Durante o período colonial, os europeus desconsideraram completamente os conheci- mentos das populações ameríndias e acabaram implantando nas Américas as mais modernas técnicas agrícolas adotadas na Europa. 06 (UEPG) Recentemente o Papa Bento XVI afirmou que aconteceram "sofrimentos" e "injustiças" durante o processo de colonização da América. A respeito da colonização ibérica no continente americano, assina- le o que for correto. 01) Na prática, o "pacto colonial" consistia em um instrumento que prendia política e economica- mente a colônia à metrópole. 02) A valorização das culturas nativas da América por parte de espanhóis e portugueses resultou num claro processo de integração social e cul- tural entre América e Europa após o fim do perí- odo colonial. 04) A escravidão somente passou a ser empregada nas colônias portuguesas e espanholas a partir do século XVIII, momento em que foram encon- tradas as primeiras reservas minerais no conti- nente americano. 08) Do ponto de vista econômico, o projeto colonial ibérico se baseou principalmente na estruturação de atividades artesanais e indus- triais nas colônias. 16) A Igreja Católica e as coroas ibéricas estiveram intimamente associadas no processo de coloni- zação da América. 07 (UEPG) A expansão europeia na Idade Moderna atin- giu o mundo todo, mas de diferentes maneiras. A expansão compreendeu desde viagens isoladas de aventureiros, que apenas revelavam a existência de lugares até então não assinalados no mapa, até a conquista e ocupação de territórios que se incorpora- ram, como colônias, aos estados europeus. Sobre este tema, assinale o que for correto. 01) Muitas vezes o equilíbrio do continente europeu dependia e se decidia nas colônias ultramari- nas e na disputa pelas rotas comerciais e de navegação. 02) Mais do que a curiosidade, o desejo de novas descobertas e uma carência de especiarias, o que movia as grandes viagens marítimas europeias em direção a espaços desconheci- dos era a "sede de ouro", grave mal-estar eco- nômico que acometia a sociedade ocidental desde os finais do século XV. 04) O Estado moderno, através da atividade comer- cial que caracterizava as grandes empresas europeias, buscava a balança comercial favo- rável. 08) A política econômica dos Estados modernos eu- ropeus se fundava nas práticas da livre concor- rência, do metalismo e da restrição às importa- ções. 16) As relações de trabalho caracterizavam-se pelo uso generalizado da mão de obra livre e assala- riada, especialmente nas colônias ibéricas da América. 08 (UNIOESTE) A modernidade abriu um cenário onde a Europa buscou novas fronteiras através da internacionalização dos mercados, sendo que ( ) o mercantilismo foi considerado uma política a serviço do Estado. ( ) o mercantilismo se caracterizou pela balança comercial favorável, pelo protecionismo e pelo monopólio comercial. ( ) as colônias deviam organizar a produção de acordo com as demandas do comérciodas me- trópoles. ( ) os governos intervinham nos mercados para pro- teger a economia nacional. ( ) as políticas protecionistas buscavam amparar os interesses dos produtores de matérias-pri- mas. ( ) os estados e as empresas buscavam, acima de tudo, o bem-estar social. 01 (UFRGS) Após a Conquista da América, o governo espanhol implementou a "encomienda", um sistema de exploração do trabalho indígena em benefício da emergente elite conquistadora. 339 Assinale a alternativa que indica características da "encomienda". (A) Divisão do território conquistado em pequenas propriedades a serem trabalhadas de forma con- junta por ameríndios e espanhóis. (B) Escravização comercial dos ameríndios através do incentivo ao tráfico transatlântico de cativos indígenas, organizado pelo Coroa espanhola. (C) Permissão para a utilização do trabalho com- pulsório indígena e extração de tributos dos ameríndios por parte dos espanhóis. (D) Implementação de grandes propriedades rurais onde estava formalmente proibida a utilização do trabalho compulsório indígena. (E) Consolidação de relações laborais, baseadas na adoção do trabalho assalariado como forma mais comum de exploração da mão de obra ameríndia. 02 (MACKENZIE) Ao analisar o processo de conquista da América pelos espanhóis, o historiador Héctor Bruit afirmou: "O que mais chama a atenção em todo esse proces- so da conquista americana é a atitude dos indígenas em relação ao cristianismo. Documentos diversos atestam que os índios simulavam ser cristãos por meio dos significados das formas, rituais e gestos da nova religião, mas no fundo a simulação lhes permitia en- cobrir suas crenças idólatras" Héctor Hernan Bruit. Bartolomé de las Casas e a simulação dos vencidos. Campinas/São Paulo: Editora da UNICAMP/Iluminuras, 1995, p.16. É correto afirmar, pela análise do excerto, que (A) a conquista militar dos espanhóis possibilitou a imposição do cristianismo no continente ameri- cano. Por isso, tentativas de sobrevivência e ressignificação de símbolos religiosos, por par- te dos indígenas, não surtiram efeito. (B) a conquista da América envolveu complexas re- lações entre conquistadores e conquistados. Nessas relações, concepções religiosas, estra- tégias de domínio e sobrevivência e ressignificação de símbolos se fizeram presen- tes. (C) as relações entre espanhóis e indígenas foram permeadas por conflitos e estranhamentos cul- turais. Daí a necessidade europeia de impor o cristianismo aos nativos e, com isso, angariar fundos pecuniários à Igreja na América. (D) os conquistados, ao ressignificar símbolos cul- turais dos conquistadores espanhóis, simularam a sobrevivência de sua própria cultura. Daí a facilidade com que as populações nativas fo- ram aculturadas durante a conquista. (E) os embates culturais foram constantes em todo o processo da conquista. Nesses embates, o consenso pela autodeterminação das popula- ções indígenas ajuda a explicar o sucesso do empreendimento espanhol na América. 03 (UPF) Na conquista europeia da América, muito mais do que na guerra, os processos de trabalho e o consequente controle disciplinar imposto pelos espa- nhóis resultaram na mortandade da população nativa. Dentre os processos de trabalho impostos aos indí- genas e que resultaram em sua dizimação, podemos apontar (A) o assalariamento, que era pago em valores muito baixos e geralmente em espécie. (B) a peonagem, na qual os indígenas trabalham em troca de comida, embora essa fosse racio- nada. (C) a escravidão imposta aos indígenas, semelhante à dos africanos trazidos para América para tra- balhar na extração de metais. (D) a encomienda, forma de trabalho compulsório imposto a toda uma tribo para executar serviços agrícolas e de mineração. (E) a parceria, na qual os indígenas eram obriga- dos a trabalhar na agricultura e nas minas, des- tinando dois terços da produção aos espanhóis. 04 (ENEM) O encontro entre o Velho e o Novo Mundo, que a descoberta de Colombo tornou possível, é de um tipo muito particular: é uma guerra - ou a Conquis- ta -, como se dizia então. E um mistério continua: o resultado do combate. Por que a vitória fulgurante, se os habitantes da América eram tão superiores em número aos adversários e lutaram no próprio solo? Se nos limitarmos à conquista do México - a mais es- petacular, já que a civilização mexicana é a mais brilhante do mundo pré-colombiano - como explicar que Cortez, liderando centenas de homens, tenha conseguido tomar o reino de Montezuma, que dispu- nha de centenas de milhares de guerreiros? TODOROV. T. A conquista da América. São Paulo: Martins Fontes. 1991 (adaptado). No contexto da conquista, conforme análise apresen- tada no texto, uma estratégia para superar as disparidades levantadas foi (A) implantar as missões cristãs entre as comuni- dades submetidas. (B) utilizar a superioridade física dos mercenários africanos. (C) explorar as rivalidades existentes entre os po- vos nativos. (D) introduzir vetores para a disseminação de do- enças epidêmicas. (E) comprar terras para o enfraquecimento das teocracias autóctones. 05 (FUVEST) A imagem representa a morte de Atahualpa, o último imperador inca, em 1533, após a conquista espanhola comandada por Francisco Pizarro. 340 Analise as quatro afirmações seguintes, a respeito da empresa e da conquista colonial espanhola no Peru e da representação presente na imagem. I. A conquista foi favorecida pelo conflito interno entre os dois irmãos incas, Atahualpa e Huáscar, aproveitado pelas forças espanholas lideradas por Francisco Pizarro. II. A produção agrícola das plantations escravistas constituiu-se na base econômica do vice-reina- do do Peru, controlado pelos espanhóis. III. Do lado esquerdo da pintura, há uma movimen- tação conflituosa, na qual as mulheres incas são contidas por guardas espanhóis, contrastando com a expressão ordenada e solene do lado di- reito, composto por religiosos e autoridades es- panholas em torno do corpo do imperador inca. IV. A pintura revela o resgate de elementos históri- cos - importante para a construção do ideário nacionalista no século XIX, no processo pós-in- dependência e de formação do Estado nacional peruano -, mas retrata os personagens indíge- nas com trajes e feições europeus. Estão corretas apenas as afirmações (A) I, II e III. (B) II, III e IV. (C) I, III e IV. (D) I e II. (E) III e IV. 06 (ACAFE) A formação dos Estados Modernos, o Ab- solutismo Monárquico e o Mercantilismo caracterizaram a centralização política em várias par- tes da Europa, em oposição ao poder político descentralizado do sistema feudal. Nesse sentido é correto afirmar, exceto: (A) O mercantilismo foi caracterizado pelo controle estatal da economia e priorizava o domínio de colônias para fornecer matérias-primas e criar mercados consumidores para a metrópole. (B) O casamento de Fernando, herdeiro do trono de Aragão, com Isabel, do trono de Castela, con- solidou a formação do território que corresponde à Espanha. (C) O processo de fortalecimento do poder real atin- giu seu ápice com o absolutismo. O monarca passou a exercer o controle total sobre o co- mércio, as manufaturas e sobre a máquina ad- ministrativa. (D) As Guerras da Reconquista, ao expulsarem os muçulmanos da Europa, contribuíram decisiva- mente para a formação da Monarquia francesa numa aliança com setores da nobreza. 07 (PUCPR) "Acontece que Luís XIV provavelmente ti- nha excelente faro para os negócios - sem falar que o monarca devia achar muito sem graça ver todo mun- do vestido de preto constantemente -, pois ele convocou seu Ministro das Finanças, Jean-Baptiste Colbert, para uma conversinha sobre indumentárias. Aconselhado pelo político, o rei proibiu a importação de tecidos estrangeiros e estabeleceu uma gigantes- ca indústria têxtil no país para suprir as necessidades da população mais abastada. Além disso, Luís XIV e Colbert determinaram que novos modelos de roupas fossem criados duas vezes ao ano com tecidos inédi- tos. Assim, os costureiros que atendiam à nobrezapassa- ram a apresentar uma coleção de roupas no inverno e outra no verão - sem se esquecer de incluir acessó- rios como leques, capas, sombrinhas, casacos etc. entre os itens. O rei decretou ainda que os nobres que desejassem visitá-lo no Palácio de Versalhes deveriam se vestir apenas com modelos da última moda, e teve a ideia de financiar a produção de catálogos que apresenta- vam as novas coleções. Dessa forma, a aristocracia francesa e do resto da Europa podia selecionar os itens que desejava comprar." Você sabia que Rei Luís XIV da França foi o inventor da alta costura? Por Maria Luciana Rincon. Disponível em: http://www.megacurioso.com.br/ personalidades/75642-voce-sabia-que-rei-luis-xiv-da-franca -foi-o-inventor-da-altacostura.htm. Acesso em: 12 fev 2017. O Mercantilismo foi uma série de práticas de enrique- cimento dos Estados Nacionais entre os séculos XV e XVIII, como exemplo, na França o Rei Luís XIV e seu ministro Colbert tentaram ampliar os ganhos da coroa com o aumento de taxas e também do comér- cio de artigos de luxo, o chamado Colbertismo. Acerca das práticas mercantilistas dos Estados Naci- onais, marque a afirmativa CORRETA: (A) O protecionismo era aumentar as taxas dos pro- dutos exportados e diminuir dos importados, as- sim ganharia mais com a venda e facilitaria a compra. (B) Uma das práticas do Mercantilismo, usada ain- da hoje para equilibrar as finanças dos países, é a balança comercial favorável que consiste em exportar mais do que importar para evitar o endividamento e aumentar os ganhos. (C) Espanha e Portugal foram as primeiras a con- quistar colônias e extrair metais para enrique- cer, assim conseguiram um excedente que pro- piciou serem pioneiras no investimento industri- al. (D) O metalismo foi uma prática portuguesa que con- sistia em acumular metais através da extração de ouro e prata das colônias ultramar, primeira- mente descobertos no Brasil. (E) A Inglaterra e a França se destacaram no co- mércio de artigos luxuosos, enquanto os ingle- ses produziam os ricos tecidos, os franceses os compravam para usar em suas roupas, uma es- pécie de colaboracionismo que perdurou durante todo o período. 08 (UPE-SSA) O exercício do mercantilismo pressupõe a existência de um Estado forte, capaz de planejar aspectos importantes da economia e de realizar, pos- teriormente, a prática dessa planificação. POMER, Leon. O surgimento das nações. São Paulo: Atual, 1987, p. 28. No contexto descrito pelo texto, o poder do Estado Moderno estaria ligado à (A) capacidade tributária da sociedade. (B) possibilidade de exercício da guerra. (C) amplitude da utilização de mão de obra escra- va. (D) habilidade de mediação de conflitos internacio- nais. (E) quantidade de transações no comércio intercon- tinental. 341 Com base em seus conhecimentos e levando em con- sideração que a colonização de europeus na América não foi uniforme, responda ao que se pede: a) Identifique UMA semelhança ECONÔMICA en- tre o processo de colonização realizado pelos ingleses e pelos espanhóis na América. b) Identifique UMA característica que evidencie di- ferenças entre o processo colonizador realiza- do por ingleses e espanhóis na América. 03 (PUC-RJ) "Sem dúvida, aqui exponho meus pensa- mentos (...) porque o comerciante é justamente chamado 'o administrador do patrimônio do reino'(...) Para obter aquelas habilidades que tornem mais efi- cazes sua prática, apresentarei brevemente as qualidades que se requerem num perfeito comercian- te (...). O comerciante deve conhecer as aduanas, as passagens, impostos, tributos, manejos e outras car- gas, e como e porque são providos delas. Deve saber que mercadorias estão proibidas para a exportação ou importação nos países estrangeiros, para que não perca dinheiro com a volta do navio cheio". MUN, Thomas. La riqueza de Inglaterra por el comercio exterior. México/Buenos Aires, Ed. Fondo de Cultura Económica, 1996. Adaptado. Thomas Mun escreve a seu filho John Mun (1664). Pai e filho foram sócios de várias companhias de co- mércio e Thomas Mun foi um dos idealizadores da Companhia das Índias Ocidentais. Tendo como base o texto acima, faça o que se pede. a) Cite duas práticas econômicas desenvolvidas pelos estados europeus nos séculos XVI e XVII. b) Explique o papel das companhias de comércio nas práticas mercantis desenvolvidas pelos es- tados modernos europeus nos séculos XVII e XVIII. 04 (UFJF-PISM) Observe as figuras e as informações abaixo e, em seguida, atenda ao que se pede em re- lação à chegada dos europeus na América. 01 (UERJ) Em 1983, as ruínas de San Ignacio Miní, na Argenti- na, e de São Miguel das Missões, no Brasil, foram declaradas patrimônio cultural mundial pela Unesco. Representam importante testemunho da ocupação sis- tematizada do território e das relações culturais que se estabeleceram entre os missionários europeus e os povos nativos, que eram em sua maioria do grupo étnico Guarani. Adaptado de brasil.gov.br. As fotografias das ruínas permitem visualizar parcial- mente algumas das ações colonizadoras ibéricas na América nos séculos XVII e XVIII. Identifique um fator que explique de que modo essas ações colonizadoras contribuíram para a "ocupação sistematizada do território" na América. Identifique, também, uma consequência dessas ações para as populações indígenas locais. 02 (UFJF-PISM) Leia o texto a seguir: "Os termos 'colônia de exploração' e 'colônia de po- voamento' ainda são amplamente utilizados. Nessa perspectiva, as chamadas colônias de exploração são o resultado do esforço econômico coordenado pelos novos Estados modernos, as colônias se constituem em instrumento de poder das respectivas metrópo- les. (...) É nesse contexto, e só neste contexto, que se torna possível compreender o modo como se or- ganizam nas colônias as atividades produzidas e as suas implicações sobre os demais setores da vida social". Fernando Novais, citado por BICALHO, M. F. Dos 'Estados nacionais' ao 'sentido da colonização': história moderna e historiografia do Brasil colonial. In: ABREU, M, SOIHET, R., GONTIJO, R. (orgs). Cultura política e leituras do passado: historiografia e ensino de História. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007. p. 77-78. 342 (...) Sabemos, graças aos textos da época, que os índios dedicam grande parte de seu tempo e forças à interpretação das mensagens, e que essa interpreta- ção tem formas extremamente elaboradas, relacionadas às diversas espécies de adivinhação. (...) Em todos os casos, esses presságios e adivinhações gozam de enorme prestígio e, se for preciso, arrisca- rão a vida para obtê-los, sabendo bem que a recompensa vale o risco. TODOROV, Tzvetan. A conquista da América: a questão do outro. São Paulo: Martins 05 (UNESP) No concernente à mão de obra, a econo- mia colonial hispano-americana baseou-se em variadas formas de trabalho compulsório [...]. (Ronaldo Vainfas. Economia e sociedade na América Espanhola, 1984.) Cite e caracterize duas formas de trabalho compulsó- rio presentes na América Hispânica colonial. ............................................................................................. ............................................................................................. ............................................................................................. ............................................................................................. ............................................................................................. ............................................................................................. ............................................................................................. ............................................................................................. ............................................................................................. ............................................................................................. .......................................................................................................................................................................................... ............................................................................................. ............................................................................................. ............................................................................................. ............................................................................................. ............................................................................................. ............................................................................................. ............................................................................................. ............................................................................................. PARTE II: HISTÓRIA GERAL UNIDADE 03: • O RENASCIMENTO CULTURAL • REVOLUÇÃO CIENTÍFICA CONCEITUAÇÃO DO RENASCIMENTO Ainda na baixa idade média, diversos fatores promo- veram uma importante mudança de mentalidade na Europa. A visão dominante durante a idade média atribuía a Deus o papel de referência para a compreensão de todas as estru- turas da sociedade, inclusive o próprio homem. Esse fato gerava uma percepção de que o mundo estava posto de maneira perfeita, cabendo ao homem apenas uma visão contemplativa com relação à criação divina, levando a uma tendência ao imobilismo. A partir do resgate de valores da Antiguidade Clássi- ca Greco-Romana (Classicismo), e de importantes trocas culturais promovidas através das novas rotas comerciais, construiu-se uma nova visão de mundo. Nela, enfatizava- se o papel transformador do homem e a sua condição privilegiada no mundo (antropocentrismo), como alguém dotado de capacidade de compreensão e poder de utilizar a natureza em seu proveito (naturalismo). Havia ainda nas obras renascentistas a valorização do hedonismo, que con- cebia um homem livre para gozar seus prazeres, diferente do engessado homem medieval. Construiu-se assim uma visão humanista e valorizadora de um homem ativo, que ocupava lugar de destaque na criação, como ilustra o fragmento abaixo: “Eu não te dei, Adão, nem um lugar predetermina- do, nem quaisquer prerrogativas.... Tu mesmo fixarás as tuas leis sem estar constrangido por nenhum entrave, segundo teu livre arbítrio, a cujo domínio te confiei.... Poderás degenerar à maneira das coisas inferiores, que são os brutos, ou poderás, segundo tua vontade, te re- generar à maneira das superiores, que são as divinas.” (SOBRE A DIGNIDADE DO HOMEM, Pico della Mirandola, 1463 - 1494) É fundamental que possamos entender que o Renascimento de uma vida urbana e a intensificação das atividades intelectuais não seriam compatíveis com a velha mentalidade teocêntrica. O comércio e as cidades favore- ceram a criação de instituições de ensino e o desenvolvimento e difusão de um humanismo intelectual, que buscava compreender e valorizar os homens e sua capacidade. Por sua vez, as grandes rotas de comércio pro- porcionavam um intercâmbio cultural com a intelectualidade árabe e bizantina, entre outras, propiciando o desenvolvi- mento dessa nova visão. Mesmo a Igreja Católica foi sensível a essas mudan- ças. As universidades ligadas ao clero assimilavam os novos tempos e promoviam estudos impensáveis séculos antes, como determinadas ciências naturais, ou mesmo as idéias de São Tomás de Aquino, que buscou aproximar a teologia católica e o pensamento racionalista de Aristóteles 343 William Shakespeare Miguel de Cervantes Dentro da própria península itálica, merecem desta- que os nomes de Dante Alighieri, Leonardo da Vinci e Michelangelo Buonarroti. Os dois últimos talvez sejam os maiores expoentes do Renascimento italiano e autores de obras imortais como La Gioconda (famosa por Mona Lisa) e as pinturas dos afrescos da Capela Sistina, respectiva- mente. Da Vinci, em especial, merece destaque pelo espírito curioso e inquieto que o caracterizou, levando-o a um lega- do que passa pela pintura, engenharia, poesia, pintura, anatomia e engenharia militar. Embora a Igreja tenha assimilado essa nova mentali- dade, gerando inclusive os chamados “papas mecenas”, o aumento das críticas no início do século XVI, que levariam à reforma de Lutero, fez a Igreja recrudescer e rechaçar o novo pensamento. A censura foi amplamente praticada pelo clero, assim como a perseguição aos homens ligados ao movimento humanista. Mesmo as novas igrejas cristãs pro- testantes, conceitualmente mais conservadoras, reprovavam o Renascimento por seu hedonismo e valori- zação do humanismo em sua arte de temática religiosa. O resultado da reação católica e do avanço da mentalidade protestante foi o declínio da renascença, trazendo nos sé- culos seguintes a ascensão do estilo barroco. Para o desenvolvimento desse processo de trans- formação cultural, foi fundamental a pratica do mecenato. Os mecenas eram homens ricos e influentes que promo- viam a Renascença através do patrocínio e proteção de seus artistas e pensadores. Embora tenham existido mecenas inclusive no seio da igreja católica, em geral, esses homens eram ligados à burguesia e às atividades mercantis, e acreditavam que essa nova mentalidade se- ria mais adequada aos valores dos tempos modernos que o teocentrismo medieval. A península itálica foi o berço, ainda no século XIV, desse Renascimento, que se difundiu por boa parte da Eu- ropa nos séculos seguintes. Isso porque havia ali uma forte herança cultural greco-romana, essencial ao movimento. Além disso, a riqueza de cidades como Gênova, Veneza e Florença proporcionavam um forte mecenato. Porém, é pre- ciso reafirmar que autores e pensadores de diversas partes da Europa possuem uma produção marcada pelos valores renascentistas, seja na influência greco-romana, na valori- zação do homem e suas emoções e pensamentos, ou na exatidão científica em que basearam seus estudos, experi- mentos ou invenções. É o caso de Luis de Camões, em Portugal e Miguel de Cervantes, da Espanha, na península ibérica, François Rabelais na França, Albrecht Dürer nos estados germânicos e William Shakespeare, na Inglaterra. A REVOLUÇÃO CIENTÍFICA Entre os séculos XVI e XVII, o mundo ocidental redefiniu seus conceitos sobre ciência. Até então, a ciência ainda estava fortemente vinculada à especulação filosófica e mesmo à religiosidade, o que limitava seu alcance diante da complexidade dos novos tempos. Porém seguindo a estrada aberta pelo Renascimento Cultural, valendo-se do fortalecimento da burguesia em ascensão e do impacto pro- vocado pela reforma protestante e pelos descobrimentos da expansão ultramarina, a ciência se reorganizou a partir de uma estrutura metódica e prática. O conhecimento pode valer-se de novas ferramentas e descobertas, proporcio- nando uma verdadeira revolução e permitindo um gigantesco salto no saber científico da Europa. A este perí- odo, o filósofo francês do século XX, Alexandre Koyré, chamou de Revolução Científica. A mudança de mentalidade promovida pela Renas- cença, levou a valorização da capacidade da razão humana de compreender as leis da natureza. O mundo havia deixa- do de ser um lugar místico e inalcançável, passando a ser um grande laboratório e despertando infinitas possibilida- des. Os novos tempos estabeleciam que uma das formas de adorar a Deus era compreendendo sua criação e as “leis” naturais que regiam seu funcionamento. O uso da mate- mática como forma de compreender e comprovar o funcionamento de tais leis, deu à ciência uma exatidão nunca antes experimentada por ela. Outro fator de relevância nesse processo, foi o desenvolvimento das novas técnicas de im- pressão, promovidas por Johannes Gutemberg, que permitiu reproduzir e divulgar rapidamente as novas descobertas e teorias, sem as imprecisões e erros de interpretação dos antigos copistas. “A criação” afresco de Michelangelo na Capela Sistina Leonardo da Vinci e o Homem Vitruviano 344 Um dos principais pontos dessa revolução foi a críti-
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