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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO-SENSUS” INSTITUTO A VEZ DO MESTRE A GESTÃO DOS BENS IMÓVEIS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E A SUA IMPORTÂNCIA EM UMA SOCIEDADE Por Rachel Sidi Algamis Professor Dr. Jorge Vieira da Rocha Rio de Janeiro 2010 1 A GESTÃO DOS BENS IMÓVEIS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E A SUA IMPORTÂNCIA EM UMA SOCIEDADE Por Rachel Sidi Algamis Apresentação de monografia à Universidade Candido Mendes como requisito para obtenção do grau de especialista em Gestão Pública. 2 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ................................................................................................. 4 CAPÍTULO I - A Origem do Patrimônio Público ................................................ 6 1.1 Evoluções e Origens............................................................................ 6 1.2 Definição de Bens Públicos e classificação ......................................... 8 1.3 Formas de aquisição de bens pelo poder público .............................. 16 CAPÍTULO II – Gestão Patrimonial na Administração Pública ........................ 22 2.1 Conceito de patrimônio público ............................................................ 22 2.2 Conceito de patrimônio Imobiliário aplicado à Administração Pública ........................................................................................................... 24 2.3 Gestão Patrimonial no contexto do estado social e democrático de direito ........................................................................................................ 25 2.4. Formas de gerir o Patrimônio Imobiliário ............................................. 26 CONCLUSÃO .................................................................................................. 38 3 RESUMO O propósito central desse estudo é buscar um maior aprofundamento no que se diz respeito de gestão de bens imóveis públicos, voltado ao controle físico, funcional e destino. Este estudo procurou abordar as definições e competências da Administração quando de trata de bens imóveis de sua propriedade e domínio, mais especificamente à estrutura da Administração Direta Estadual (podendo ser estendido a todas as esferas da Administração), envolvendo aspectos de registro e controle. A fim de subsidiar a pesquisa, foram utilizados como base, a Lei Federal nº 4.320, competências da Subsecretaria de Patrimônio do Estado do Rio de Janeiro, dentre outras fontes de pesquisa bibliográfica sobre o tema. 4 INTRODUÇÃO O vocábulo “bem” possui na ciência jurídica, múltiplos sentidos que embora relacionados entre si, não se confundem. Em primeiro lugar, o termo “bem” é empregado para significar objeto de direito ou de obrigação. Com efeito, a relação jurídica, sob as variadas formas com que hoje apresenta, não pode jamais prescindir de um objeto, em referência ao qual o titular da situação jurídica ativa ou de vantagem receberá a tutela, direta ou indireta, do ordenamento. Todavia, há um sentido jurídico mais restrito para o vocábulo, segundo o qual “bem” é todo objeto de direito de conteúdo economicamente apreciável. Em um e noutro sentido não se confundem as noções de “bem” com o conceito jurídico de “coisa”. Na linguagem coloquial ou na abordagem filosófica, a palavra coisa tem aceitação ampla, porem para a ciência do Direito, “coisa” é tudo aquilo que seja suscetível de apropriação exclusiva pelo homem, sendo economicamente apreciável (RAMOS, 1989). Portanto, os dois sentidos apresentados, são mais amplos que o conceito jurídico de coisa. Com efeito, a coisa sempre é objeto de relação jurídica, mas nem todo objeto de direito é coisa. De outro lado, a idéia de “bem economicamente apreciável” também é mais ampla do que a de coisa, posto que naquela categoria estão compreendidas coisas e prestações (objetos de direitos pessoais). Os bens públicos formam o domínio público do Estado. Assim sendo, gozam de características que lhes garantem regime jurídico específico, diferenciando-os dos bens particulares. A utilização desses bens quando não for praticada diretamente pelo Estado por meio da administração direta ou administração indireta, poderão ser repassados ao particular, para exercício 5 exclusivo deste, de atividade de interesse público ou não, dependendo do tipo do bem. A noção de patrimônio é a de conjunto de bens de conteúdo econômica (coisas, créditos, ações, etc). Para se chegar ao conceito de patrimônio imobiliário, é preciso explorar a tradicional classificação dos bens em móveis e imóveis. De acordo com o Código Civil brasileiro, são móveis “os bens suscetíveis de movimento próprio, ou de remoção por força alheia” (artigo 47). Quanto aos imóveis, seriam os bens não-dotados de movimento próprio ou não sujeitos a remoção por força alheia. O patrimônio imobiliário, portanto, é o conjunto de bens economicamente apreciáveis de natureza imobiliária, de acordo com o direito positivo. Com o acréscimo à expressão do adjetivo “público”, quer-se indicar titularidade do patrimônio composto de imóveis. Assim, o patrimônio imobiliário público, em uma primeira análise, é o conjunto de bens imóveis (o valor econômico é ínsito a natureza imobiliária do bem) do Poder Público, ou seja, das pessoas jurídicas de direito público (DIAS, 1989). 6 CAPITULO I – A ORIGEM DO PATRIMÔNIO PÚBLICO 1.1 Evolução e Origens No Brasil, com a vinda da Corte portuguesa, todas as terras passam a pertencer àquela Nação por Direito de conquista, sendo originariamente públicas. Posteriormente, passaram ao Império e sucessivamente à República, como domínio do Estado. A transferência das terras públicas aos particulares deu-se por meio de concessões de sesmaria - instituto jurídico português que normatizava a distribuição de terras destinadas à produção a particulares – de forma primitiva de doação condicionada de terras públicas para cultivo e trato particular, feita pelos governadores gerais e provinciais – e de data – doação que as Municipalidades faziam de terrenos de cidades e vilas para a edificação particular, compra e venda, permuta e legitimação de posse. Assim, toda terra sem título de propriedade particular era do domínio público. Em Roma já se percebia a presença da chamada res nullius, que se caracteriza, especialmente, por ser a qualidade de bens que eram considerados fora de comércio e que apresentava três espécies distintas, as res communes, a res publicae e a res universitatis, sendo estas três qualidades, formas de garantir certa proteção a bens que, por terem natureza diversa da dos particulares, deveriam ficar oneradas com a qualidade de extra comércio, por apresentarem já uma característica de bem de todos (DIAS, 1989). Na Idade Média, os bens públicos eram considerados propriedade da coroa, e não mais do povo, como ocorria em Roma. No entanto, outra teoria baseada nos textos romanos, atribuía ao povo a propriedade desses bens, reconhecendo o exercício de poder de polícia ao Rei. 7 Nos séculos XVII e XVIII duas categorias de bens públicos foram consideradas por alguns autores. A primeira categoria, chamada “coisas públicas”, que era afetada ao uso público, quais sejam, os rios, as estradas, os cursos d’água e outros, onde o Rei não possuía Direito de propriedade, mas apenas um Direito de guarda ou poder de polícia. No que concerne à segunda teoria, tinha por referência os bens integrados no domínio da coroa, pelos quais o monarca detinha a propriedade.Há uma presunção em favor da propriedade pública, em decorrência da história de terras no Brasil: todas pertenciam à Coroa. Essa presunção era desfeita quando particulares demonstrassem o recebimento dessas terras por concessão (aforamento) ao Poder Público. No Estado moderno, com o desenvolvimento da idéia de Estado como pessoa jurídica, este assumiu a propriedade dos bens públicos, em substituição ao Príncipe. Distinguindo as relações de pessoas com os bens públicos e bens privados, verifica-se que os bens públicos e as pessoas integrantes da Administração Pública são regidos pelo Direito Público e também pelo Direito Administrativo. Entretanto, quando houver bens particulares e pessoas que não pertençam à Administração Pública, serão regidos pelo Direito Privado e também pelo Direito Civil. As gestões patrimoniais nos setores públicos e privados apresentam semelhanças e diferenças. No setor privado prevalece a vontade do proprietário, podendo o administrador realizar tudo o que não é proibido em lei, onde há competitividade devido à sobrevivência no mercado, que tem por objetivo o lucro do negócio. O setor público tem por foco o atendimento ao interesse público, mediante a prestação de serviços à sociedade, em consonância com os princípios da 8 legalidade, publicidade e da transparência, o que sempre foi constatado a necessidade de algum tipo de dominação e regulamentação, a cargo do Estado sobre determinado bem. As relações de pessoas que integram a Administração Pública, no tocante aos bens públicos, são regidas pelo Direito Público, sobretudo pelo Direito Administrativo. 1.2 Definição de Bens Públicos e suas classificações Bens Públicos são todos bens que integram o patrimônio da Administração Pública direta e indireta. Os bens públicos formam a substância patrimonial do Estado – correspondendo às aplicações de recursos – e devem ser entendidos como o conjunto de coisas corpóreas ou incorpóreas, móveis e imóveis, créditos, direitos e ações, sobre as quais o ente estatal exerce o direito de soberania em favor da coletividade ou o direito de propriedade privada, que eles pertençam às entidades estatais, as autárquicas ou as paraestatais (DIAS, 2006). Primeiramente, deve-se colocar que os bens públicos são aqueles de domínio nacional pertencentes à União, aos Estados e aos Municípios (bens que se integram à estrutura da Administração Pública). Sob o critério jurídico, os bens patrimoniais do Estado podem ser classificados em: bens móveis e bens imóveis. Os bens móveis, por sua natureza, são suscetíveis de movimento próprio, ou de remoção por força alheia. A lei também considera bens móveis os direitos reais sobre objetos, móveis, os direitos de obrigação e as ações correspondentes, bem como os direitos do autor. 9 Portanto, são considerados bens móveis os diversos materiais para o serviço público, o numerário, os valores, os títulos e os efeitos que existam em caixa ou nos cofres do Estado. Já os bens imóveis são os de que sua natureza ou por destino, ou pelo objeto a que se referem são os seguintes: • O solo com sua superfície, seus acessórios e adjacências naturais, compreendendo árvores e frutos pendentes, o espaço aéreo e o subsolo; • Tudo quanto o homem incorporar permanentemente ao solo, como a semente lançada à terra, os edifícios e as construções, de modo que não se possa retirar sem destruição, modificação, fratura ou dano; • E tudo quanto no imóvel o proprietário mantiver intencionalmente empregado em sua exploração industrial, uso estético, ou por comodidade. Ressalta-se que os materiais provisoriamente separados de um prédio, para nele mesmo se reempregarem, não perdem caráter de imóveis. São, ainda, considerados bens imóveis, para efeito de organização dos inventários, os museus, as pinacotecas, as bibliotecas, os observatórios, os estabelecimentos industriais e agrícolas com os respectivos aparelhos e instrumentos, as estradas de ferro, conjuntamente com o material rodante necessário ao serviço, os quartéis, as fábricas de pólvora e de artefatos de guerra, os artesanais e demais bens de igual natureza do domínio privado do Estado (DIAS, 2006). A fim de atender ao seu fim comum (prestar serviços a coletividade), o Estado desenvolve diversas atividades, dispondo de bens que se acham sujeitos a seu domínio como de bens dos cidadãos sobre os quais exerce determinados poderes no interesse geral. 10 Esses bens, segundo o critério jurídico, são classificados em: bens de uso especial, bens de uso comum do povo, e bens dominiais. 1.2.1 Bens de Uso Especial Bens de uso especial (ou do patrimônio administrativo) são os destinados à execução dos serviços públicos, são aqueles designados a uma atividade específica, como os edifícios ou terrenos utilizados pelas repartições ou estabelecimentos públicos, bem como os móveis e materiais indispensáveis ao seu funcionamento. Tais bens têm uma finalidade pública permanente, razão pela qual são denominados bens patrimoniais indispensáveis (Art 99, CCB). Os bens de uso especial possuem as seguintes características: são contabilizados como Ativo; são inventariados e avaliados; são inalienáveis quando empregados no serviço público. Nos demais casos, são alienáveis, mas sempre nos casos e na forma que a lei estabelecer; e estão incluídos no patrimônio da entidade estatal. Vale citar, como características dos bens nas modalidades integrantes do domínio público do Estado – bens de uso comum do povo e bens de uso especial -, aquelas que estão fora do comércio jurídico de Direito Privado, a saber: a inalienabilidade, a imprescritibilidade, a impenhorabilidade e a impossibilidade de oneração (DIAS, 2006). Existem várias formas administrativas para o uso especial de bem público, sendo elas: 1.2.1.1 Autorização de uso 11 Autorização de uso é o ato administrativo unilateral, discricionário e precário pelo qual o ente da Administração Pública autoriza, através de um ato escrito, uma determinada utilização comum ou privativa, gratuita ou remunerada, de bem público. É passível de revogação a qualquer tempo sem ônus para a Administração, e dispensa de lei de autorização. Exemplo: ocupação de terreno baldio, retirada de água de fontes, etc. 1.2.1.2 Permissão de uso Permissão de uso é o ato administrativo negocial, unilateral, discricionário e precário, pelo qual a Administração Pública autoriza a utilização privativa, gratuita ou remunerada, de bem público, gerando direitos subjetivos defensáveis pelas vias judiciais, inclusive ações possessórias, dependendo de licitação. A utilização do bem público através de permissão de uso deve ser para se efetuar, de interesse da coletividade. Exemplo: Banca de jornal, etc. 1.2.1.3 Cessão de uso É a transferência gratuita da posse de um bem público para outra entidade ou órgão da mesma entidade que dele tenha necessidade e se proponha a empregá-lo nas condições convencionadas. Quando a cessão é entre entidades diferentes é necessária a autorização legal. Trata-se de transferência de posse e não de propriedades. 1.2.1.4 Concessão de uso • Sua outorga não é nem discricionária e nem precária, mas deverá ser sempre precedida de autorização legal e, normalmente de licitação; 12 • Tem a estabilidade relativa dos contratos administrativos, gerando direitos individuais e subjetivos para o concessionário; • Pode ser remunerado ou gratuito; por tempo certo ou indeterminado; • Sujeita-se as normas do Direito Público (alteração de cláusulas regulamentares e rescisão antecipada). 1.2.1.5 Concessão especial de uso É nova figura jurídica criada para regularizar a ocupação ilegal de terrenos públicos pela população de baixa renda. É outorgada a todoaquele que, até 30/06/2002, possuíam como seu, por 05 (cinco) anos, e sem oposição, até 250,00 m² do imóvel público situado em área urbana, utilizando- o para sua moradia ou de sua família desde que não seja proprietário ou concessionário de outro imóvel urbano ou rural (COUTINHO, XXX). • Trata-se de direito de possuidor; • Transferível por ato inter vivos ou causa mortis; • Se extingue se o concessionário der ao imóvel destinação diversa de moradia ou adquirir a propriedade de outro imóvel urbano ou rural. 1.2.1.6 Concessão de direito real de uso Trata-se do contrato pelo qual a Administração (titular de domínio) transfere a pessoa física ou jurídica, o uso remunerado ou gratuito de terreno público a particular, por tempo certo ou indeterminado, como direito real resolúvel. Algumas de suas características: • É transferível; 13 • O imóvel reverte a Administração se não lhe derem o uso contratual; • Outorgado por escritura pública ou termo administrativo; • Depende de autorização legal e de concorrência prévia. 1.2.1.7 Enfiteuse ou aforamento É a transferência do domínio útil de imóvel público (posse, uso e gozo perpétuos) a outra pessoa que por sua vez assume a obrigação de pagar perpetuamente uma pensão anual (foro) ao senhorio direto. Exercício simultâneo de direitos dominiais sobre o mesmo imóvel por duas pessoas: • Estado – domínio direto; • Particular foreiro – domínio útil. Os bens públicos são inalienáveis enquanto destinados ao uso comum do povo ou a fins administrativos especiais, isto é, enquanto tiverem afetação pública (destinação pública específica). Qualquer bem poderá ser doado, vendido ou permutado desde o momento em que seja, por lei, desafetado da destinação originária e traspassado para a categoria de bem dominial, isto é, patrimônio disponível da Administração (COUTINHO, 2004). A alienação de bens imóveis está disciplinada, em geral, na legislação própria das entidades estatais, a qual exige autorização legislativa, avaliação prévia e concorrência. Para a alienação de bens móveis ou semoventes necessitam de avaliação prévia, autorização legal e licitação. As vendas são geralmente feitas em leilão administrativo. 14 1.2.2 Bens de Uso Comum do Povo Bens de uso comum do povo (ou bens de domínio público) correspondem a todos os bens destinados ao uso da comunidade, ao uso indistinto de toda a população, quer individual ou coletivamente, sejam constituídos natural ou artificialmente, e por isso apresentam as seguintes características: • não são contabilizados como Ativo, embora as obrigações decorrentes sejam incluídas no Passivo; • unilateral, discricionário e precário; • não são inventariados ou avaliados; • não podem ser alienados, porém penhoráveis e imprescritíveis; • o uso pode ser oneroso ou gratuito; • e estão excluídos do patrimônio (Ativo Permanente) do ente estatal. 1.2.3 Bens Dominiais ou Dominicais Os bens dominiais (ou do patrimônio disponível) ou bens do domínio privado do Estado são os que integram o domínio público com características diferentes, pois podem ser utilizados em qualquer fim, ou mesmo alienados se a administração julgar conveniente. Os bens dominiais têm as seguintes características: 15 • Exercem uma função patrimonial ou financeira, ou seja, uma atividades privada da Administração destinada a assegurar as rendas do Estado; • estão sujeitos à contabilização, devendo ser avaliados e podendo ser inventariados; • podem ser alienados nos casos e formas que a lei estabelecer; • estão incluídos no patrimônio da entidade estatal; • geralmente produzem renda, onde a Administração Pública se posiciona como um poder proprietário privado. Impende salientar que a Administração Pública pode conceder instrumentos jurídicos individuais públicos ou privados. Os públicos, obrigatórios para o uso privativo de bens de uso comum e de uso especial, são: a autorização, a permissão e a concessão de uso, tendo por características: a constituição do uso, através da celebração de ato ou contrato administrativo; o seu exercício, o qual se sujeita à fiscalização pelo poder público, e a sua extinção, quando ocorre o término do prazo, podendo se dar pela caducidade, no caso de não utilização do bem; pela rescisão unilateral do contrato de concessão; ou pela revogação unilateral da autorização ou permissão (COUTINHO, 2004). Já os títulos privados, somente para os bens dominicais, são: a locação, o arrendamento, o comodato, a enfiteuse, a concessão de Direito real de uso. Esses institutos são aplicados, para fins de utilização, para atender ao interesse privado do particular. Assim, o interesse público é indireto, já que o Estado obterá a renda através da exploração do patrimônio público, no interesse de todos. 16 1.3. As Principais Formas de Aquisição, de alienação ou perda de Bens nas Entidades da Administração Pública A aquisição de bens pelo Poder Público pode ser distinguida dentre aquelas regidas pelo Direito Público e outras regidas pelo Direito Privado. Dentre as formas de aquisição regidas pelo Direito Público, destacam- se: 1.3.1 Principais formas de aquisição de direito privado empregados para a alienação ou perda de bens nas entidades da Administração Pública 1.3.1.1 Compra e venda A compra e venda é o contrato por meio do qual a pessoa proprietária do bem ou o titular do direito, transfere a propriedade ou seu direito a ela relativo a outra pessoa, mediante pagamento por parte desta do preço estipulado (Art 481, CCB). A compra, em geral, é utilizada para a aquisição de coisas móveis e semoventes, em obediência aos preceitos estabelecidos na Lei nº 8.666/93. No entanto, quando a compra é realizada para entrega e pagamento imediato, sem obrigações futuras, não difere da compra discriminada no Código Civil. A aquisição de imóvel por compra é rara já que a Administração Pública pode desapropriar o bem necessário para sua utilização. A modalidade exigida para aquisição de bem imóvel é a concorrência, podendo ser dispensável, no caso de se tratar de bem destinado ao serviço público, onde as necessidades de instalação ou localização condicionem a sua escolha, devendo o preço ser compatível com o valor de mercado estabelecido 17 mediante avaliação prévia por profissionais habilitados (registrados no Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura, e que tenham conhecimento de Engenharia de Avaliações com ênfase em Imóveis) (COUTINHO, 2004). 1.3.1.2 Permuta A permuta ou troca é o contrato pelo qual as partes se obrigam a dar uma coisa por outra que não seja dinheiro. É contrato bilateral, oneroso, comutativo, translativo de propriedade no sentido de servir como titulus adquirendi, gerando, para cada contratante, o obrigação de transferir para o outro o domínio da coisa objeto de sua prestação (Art. 533, CCB). São suscetíveis de troca todas as coisas que puderem ser vendidas, não sendo necessário que os bens sejam da mesma espécie ou tenham valor equivalentes. 1.3.1.3 Dação em pagamento É quando o credor aceitar que o devedor dê fim à relação de obrigação existente entre eles pela substituição do objeto da prestação, ou seja, o devedor realiza o pagamento na forma de algo que não estava originalmente na obrigação estabelecida, mas que a extingue da mesma forma. A dação é, portanto, uma forma de extinção obrigacional, e sua principal característica é a natureza diversa da nova prestação perante a anterior, podendo ocorrer, por exemplo, substituindo-se dinheiro por coisa (rem pro pecuni), uma coisa por outra (rem pro re) ou mesmo uma coisa por uma obrigação de fazer. http://pt.wikipedia.org/wiki/Credor http://pt.wikipedia.org/wiki/Devedor http://pt.wikipedia.org/wiki/Obriga%C3%A7%C3%A3ohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Pagamento_%28direito%29 http://pt.wikipedia.org/wiki/Da%C3%A7%C3%A3o_em_pagamento#cite_note-1 http://pt.wikipedia.org/wiki/Dinheiro http://pt.wikipedia.org/wiki/Obriga%C3%A7%C3%B5es_de_fazer http://pt.wikipedia.org/wiki/Da%C3%A7%C3%A3o_em_pagamento#cite_note-venosa_241-0 18 1.3.1.4 Doação Doação é o contrato por meio do qual uma pessoa, por liberalidade, transfere do seu patrimônio bens ou vantagens para o de outra pessoa, que os aceita. (art. 538 do CCB) 1.3.1.5 Arrematação e adjudicação compulsória Arrematação é a compra de bens ou direitos que se faz em leilão público, ou em hasta pública ou praça. Adjudicação compulsória é o ato judicial mediante o qual se estabelece e se declara por decisão judicial que a propriedade de uma coisa ou direito a ela relativo se transferiu de seu primitivo dono para outra pessoa, com todos os respectivos direitos e obrigações. 1.3.1.6 Incorporação para integralização ou aumento de capital A incorporação para integralização ou aumento de capital, autorizados por lei, é o contrato por meio do qual a pessoa proprietária do bem ou titular do direito transfere a sua propriedade ou o seu direito a ele relativo a empresa para integralização do capital ou aumento de capital social previsto, recebendo em troca ações ou direitos no valor equivalente. 1.3.1.7 Dotação A dotação é o ato por meio do qual a pessoa proprietária do bem ou titular do direito constitui o patrimônio ou a renda de fundação com personalidade jurídica de direito privado por ela criada ou mantida (art.62 do CCB). 19 1.3.1.8 Resgate na enfiteuse ou remição de foro Remição de foro ou direito ao resgate na enfiteuse é o direito que se assegura ao foreiro ou enfiteuta de remir ou liberar o imóvel da restrição que lhe pesa, para consolidar o domínio, unificando o domínio direto e o domínio útil, tornando-o alodial, isto é, sem encargo ou ônus. 1.3.1.9 Sucessão Sucessão é a transmissão de bens e de direitos a uma ou mais pessoas vivas, integrantes de um patrimônio deixado por uma pessoa física falecida por disposição de última vontade (testamento - art. 1799, II do CCB) ou em virtude de lei (art. 1822 do CCB), ou por pessoa jurídica extinta (na hipótese de previsão legal ou estatutária). 1.3.1.10 Usucapião Usucapião é a aquisição originária do domínio, declarada por sentença judicial, em virtude da posse continuada e sem oposição exercida pelo adquirente, nos prazos e condições estabelecidos em lei. 1.3.2 Formas de aquisição regidas pelo Direito Público empregados para a alienação ou perda de bens 1.3.2.1 Desapropriação e retrocessão ou restituição É o procedimento administrativo pelo qual o Poder Público ou seus delegados, após previa declaração de necessidade ou utilidade publica, ou de interesse social, por parte do poder expropriatório, impõe ao proprietário, salvo nos casos previstos na Constituição Federal mediante o pagamento de justa e 20 previa indenização em dinheiro, a perda de um bem, adquirindo-o originariamente. As desapropriações podem se dar: a) Por utilidade publica; b) Por interesse social, diferenciando-se da utilidade publica pelo fato da propriedade não ser dirigida ao Estado ou a seus delegados, e sim à coletividade ou a determinados beneficiários, que estarão credenciados a utilizá-la, mantido o interesse publico. Sobre retrocessão o art. 519 do CCB dispõe: “se a coisa expropriada para fins de necessidade ou utilidade publica, ou por interesse social, não tiver o destino para que se desapropriou, ou não for utilizada em obras ou serviços públicos, caberá ao expropriado direito de preferência, pelo preço atual da coisa”. 1.3.2.2 Atribuição legal ou constitucional A atribuição legal ou constitucional consiste na modalidade de aquisição originária por meio da qual é atribuída por legislação infraconstitucional ou constitucional, às Unidades da Federação, a titularidade de bens que ainda não foram incorporados ao patrimônio de outras pessoas. No tocante à aquisição por força de lei, vale mencionar os dispositivos da Constituição de 1988 (art. 20, II e III), onde fazem reverter para o patrimônio da União parte das terras devolutas estaduais e municipais consideradas indispensáveis à proteção ambiental, bem como os terrenos marginais antes pertencentes a municípios ou a particulares. 21 1.3.2.3 Reversão Reversão é a transferência de bens do patrimônio da concessionária de serviço público, afetados ao serviço, para o patrimônio do concedente, em virtude da extinção do contrato e da retomada pela concedente do serviço público que foi objeto da delegação. (§ 1º do art. 35 da Lei nº 8.987, de 13.02.95) 1.3.2.4 Investidura Consiste na incorporação, aos imóveis contíguos, de áreas do patrimônio publico remanescente ou resultantes de obra publica ou de implementação de projeto de urbanização, que não possam ter utilização autônoma, em decorrência de sua área, dimensões, formato ou localização (art. 17, § 3º, I da Lei nº 8666/93). CAPITULO II – GESTÃO PATRIMONIAL NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 2.1 Gestão Patrimonial no contexto do estado social e democrático de direito Historicamente, o direito e a institucionalização do poder político adaptam-se às novas realidades concretas, a exemplo da passagem da democracia burguesa para social-democracia, do liberalismo para o intervencionismo e do Estado Liberal para o Estado Social. Tais mudanças decorrem das transformações sociais e econômicas ocorridas durante o transcorrer do século XIX e inicio do século XX, abrangendo todo o período histórico compreendido pelas diferentes etapas de evolução do capitalismo (COUTINHO, 2004). 22 Para que o Estado Democrático possa ocorrer, a compatibilização entre a burguesia em massa e a economia de mercado, é preciso que disponha de meios necessários para promover os princípios da liberdade e justiça social, preservando os direitos e garantias fundamentais. Por outro lado, os investimentos públicos que geram serviços públicos básicos para uma sociedade esbarram em um dos limites estruturais da economia capitalista: não se pode obter rendimento do capital, além de certas margens, sem desequilibrar um sistema baseado no investimento privado, nem tampouco se pode aumentar desmedidamente a carga tributária imposta ao contribuinte, sob pena de provocar o descontentamento social e restrição da demanda. A primeira dificuldade de todos os que se debruçam sobre o tema da dominialidade publica é a questão terminológica. Trata-se de matéria sobremaneira sensível às circunstancias históricas e geográficas que condicionam a experiência jurídica, o que se reflete em verdadeira babel doutrinária. Na idade Média, a inexistência do reconhecimento da personalidade jurídica ao Estado e a submissão de todos os interesses à ordem privada levaram os juristas a buscar na propriedade civil o modelo de teórico que permitisse a justificação do poder do soberano sobre todos os bens existentes no território do reino (DIEZ, 1975). Daí, a expressão “domínio eminente” para designar esse pode; todavia, não há que se confundir o poder do Estado sobre o seu território e, por conseqüência, sobre os bens e pessoas nele existentes com o direito do Estado sobre os bens, objetos de seu patrimônio. Como cita Hely Lopes Meirelles, “o domínio eminente é o poder político pelo qual o Estado submete à sua vontade todas as coisas de seu território, não é direito de propriedade, e sim uma soberania interna. Esse domínio não 23 so alcança os bens pertencentes às entidades públicas, como a propriedade privada e as coisas inapropriáveis, de interesse público”. E, acrescentamos, nós, atinge mesmo as pessoas que habitam o território estatal. Comefeito, o território é o limite espacial ordinariamente fixado para eficácia das leis, estando as pessoas que sobre ele vivem ou transitam sujeitas ao império da legislação estatal. Invoca-se o domínio eminente para o estabelecimento de limitações ao uso da propriedade privada, das servidões administrativas, para a efetivação de desapropriações etc, mas o certo é que, enquando soberania territorial, quaisquer outras medidas restritivas aos direitos individuais também poderiam escudar-se no domínio eminente. O patrimônio imobiliário público tem presentes três elementos: subjetivo, objetivo e normativo. Com efeito, incluem-se no patrimônio imobiliário publico apenas os imóveis de propriedade de pessoas jurídicas de direito publico interno, de caráter político (União, Distrito Federal, Estados e Municípios) ou administrativo (Territórios, e autarquias federais, distritais, estaduais ou municipais), excluindo os bens imóveis das empresas publicas, sociedades de economia mista e fundações governamentais. O segundo aspecto a considerar é a aptidão objetiva do bem a integrar o patrimônio imobiliário estatal. Existe uma idéia natural de bem imóvel – aquele que não possui movimento próprio e nem é capaz de ser removido por força alheia, sem que não haja descaracterização - no entanto, todas as legislações incluem nessa categoria bens que são considerados imóveis apenas em virtude da vontade do legislador. Assim, verifica-se a estrita relação desse elemento com o terceiro. 24 O recurso ao exame do ordenamento jurídico é fundamental na caracterização do patrimônio imobiliário público. Em primeiro lugar, para verificar se a legislação parece honesta com a idéia de que há um vinculo de titularidade de um bem imóvel com o Poder Público. Em segundo lugar, para delimitar com precisão o que é bem imóvel segundo aquele determinado ordenamento jurídico. No caso do direito brasileiro, patrimônio imobiliário público vem a ser o conjunto de bens imóveis, assim enquadrados de acordo com o estabelecido nos artigos 43 e 44 do Código Civil ou titularizados por pessoa jurídica de direito publico e, em virtude disso, submetidos a regime jurídico publico, em maior ou menor extensão. 2.2 Conceito de Patrimônio Público O Patrimonio Público é o conjunto de bens, direitos e obrigações que se encontram à disposição do Município do Estado ou da União, para a realização dos seus fins. É o objeto administrado que serve para propiciar às entidades a obtenção de seus fins (. Para que um patrimônio seja considerado como tal, este deve atender a dois requisitos: • o elemento ser componente de um conjunto que possua conteúdo econômico avaliável em moeda; e • exista interdependência dos elementos componentes do patrimônio e vinculação do conjunto a uma entidade que vise alcançar determinados fins. Do ponto de vista econômico, o patrimônio é considerado uma riqueza ou um bem suscetível de cumprir uma necessidade coletiva, sendo este 25 observado sob o aspecto qualitativo, enquanto que sob o enfoque contábil observa-se o aspecto quantitativo (Ativo = Passivo + Situação Líquida). Exceção a alguns casos, quando se utiliza o termo “substância patrimonial” é que a contabilidade visualiza o patrimônio de forma qualitativa. 2.3 Conceito de Patrimônio Aplicado à Administração Pública A Administração Pública corresponde a todo o aparelhamento de que dispõe o Estado para a consecução das políticas traçadas pelo Governo, visando satisfazer as necessidades da coletividade. Dentro deste contexto, o patrimônio se integra ao conceito de aparelhamento estatal e, em decorrência dos fatos administrativos oriundos ou não da execução orçamentária, sofre variações tanto sob o aspecto quantitativo como qualitativo. O patrimônio do Estado, como matéria administrável, isto é, como objeto da gestão patrimonial desempenhada pelos órgãos da administração, é o conjunto de bens, valores e obrigações de conteúdo econômico e avaliável em moeda que a Fazenda Pública possui e utiliza na consecução de seus objetivos. Ressalta-se que a Administração Pública, ao longo do tempo, esteve com sua atenção voltada para os aspectos orçamentários e financeiros, priorizando pouco a questão de controle do patrimônio público. Com o advento da Lei de Responsabilidade Fiscal (Lei Complementar nº 101, de 04 de maio de 2000), mais conhecida como LRF, os entes políticos perceberam a necessidade de se ter um maior controle sobre o patrimônio público e dedicaram um capítulo inteiro sobre o ele. 26 O sistema de administração financeira, orçamentária, patrimonial e contábil, utilizado pela União e pela maioria dos Estados, já demonstram a sua preocupação com o patrimônio, exigindo dos órgãos um detalhamento maior do seu patrimônio. 2.4 Modelo geral de gestão de bens imóveis na Administração Pública e Implantação de modelos a partir desse modelo geral Para a obtenção de um modelo geral de gestão de bens imóveis pertencentes às entidades que integram a Administração Pública, devemos entender a identificação e sistematização, de acordo com regimes jurídicos que lhes são peculiares, do conjunto de práticas e processos de trabalhos ou de gestão, relativos a esses bens. 2.4.1 Procedimento para construir um modelo geral de gestão patrimonial imobiliária na Administração Pública Como principais pontos para traçarmos diretrizes de modelo de gestão patrimonial imobiliária, devemos primeiramente, identificar o núcleo comum de normas e princípios gerais que regem a gestão e o controle de bens imóveis pertencentes às entidades que integram a Administração Pública. Deve-se levar em consideração as semelhanças e diferenças entre a gestão de imóveis nos setores públicos e privado e a possibilidade desses bens imóveis, além de estar sujeitos a regimes jurídicos distintos, apresentarem diferentes vocações, de acordo com as suas destinações, características e localizações. Como segundo passo, é importante Identificar os processos de trabalho que integram a gestão e o controle desses bens e das atividades neles previstas. 27 O conceito de processo por nós empregado é o de "processo de trabalho" ou “processo de gestão”, que definimos como o conjunto de atividades e recursos humanos, materiais e financeiros destinados à produção de resultados específicos, com a finalidade de atingir um objetivo final, independente de relacionamento hierárquico. Este trabalho ainda deve ser acompanhado da descrição das atividades, da referência às normas e princípios gerais que regem cada processo (ou respectivas atividades), que serão utilizados como parâmetros e da definição de desempenho para o acompanhamento dos resultados. A gestão de bens imóveis envolve processos de cadastros de imóveis, de regularização de situação dos mesmos, de operações imobiliárias, de cobrança, de fiscalização e de obras e serviços relacionados à engenharia dos imóveis em questão. Considerando que, respeitado o disposto nas normas gerais nacionais, de competência privativa da União, cada Unidade da Federação ou pessoa política tem competência para dispor sobre a administração dos seus bens, mesmo sendo possível definir um modelo geral para a gestão dos bens imóveis das entidades da Administração Pública, será necessário, sempre que formos implantar esse modelo, promover a sua adequação, mediante: • Examinar a legislação própria que orienta a gestão e controle de bens sob a sua responsabilidade; • Examinar criteriosamente as atribuições do Órgão ou entidade, sobretudo quando tratar de órgão estranho ao Poder Executivo ou da Administração Indireta (autarquias, empresas públicas, sociedade de economia mista e fundações públicas) 28 • Verificar se os processos de trabalhorelacionados com o modelo geral correspondem aos principais processos de trabalho ou rotinas do cliente, ou seja, se o modelo de gestão por processo proposto atende as necessidades. Caso seja possível discutir o modelo organizacional, para alcançar a eficácia desejada por ocasião dessa implementação e adequação, a gestão e o controle dos bens de titularidade de cada Unidade da Federação ou das entidades que integram a sua respectiva Administração Indireta deverá dar-se de forma sistêmica e a estrutura do Órgão Gestor deve ser proporcional ao seu nível de responsabilidade e volume de atribuições. O gestor deve estar atento para os aspectos fiscais envolvidos e procurar ter o maior benefício possível da legislação tributária. É preciso que o administrador disponha de programas – softwares – para que a gestão e controle possam mais eficientes para o patrimônio imobiliário, levando em conta as necessidades e as diretrizes acima estabelecidas. Após a implantação de um modelo de gestão, detendo as informações sobre os aspectos positivos e negativos da gestão e, principalmente sobre as metas alcançadas e não alcançadas, o responsável pelo Órgão Gestor deve promover sempre os ajustes necessários, de modo que isso se torne uma rotina permanente. 2.4.2 Responsabilidades pela Gestão dos bens públicos São responsáveis pela gestão dos bens públicos nos órgãos: • as unidades de controle patrimonial; 29 • o Setor de Patrimônio (ou assemelhado); • o detentor da carga patrimonial; e • os usuários. É importante colocar que o dirigente do Órgão também é responsável pela gestão dos bens públicos, uma vez que este pode responder perante às unidades de controle patrimonial integrantes do sistema de controle interno e externo do ente estatal, quanto a possíveis irregularidades apuradas no patrimônio público sob sua responsabilidade. 2.4.3 Atribuições das unidades de controle patrimonial São consideradas unidades de controle patrimonial todos os envolvidos na coordenação e na supervisão dos bens patrimoniais, sejam do controle interno ou de controle externo do ente estatal. São as principais atribuições das unidades de controle patrimonial imobiliário: • coordenar e supervisionar o registro para o controle do patrimônio imóvel; • Respeitar as regras da contabilidade pública de forma a possibilitar a administração dos bens permanentes durante toda sua vida útil; • Orientar os procedimentos quanto ao registro, controle e zelo pelo bem público, observando-se a legislação vigente; • Efetuar auditorias patrimoniais dos bens imóveis de caráter permanente; 30 • Emitir relatórios apontando para a alienação de bens; • Instituir e coordenar rotinas de manutenção e recuperação de bens imóveis. 2.4.4 Processos de trabalho relativos à gestão de bens imóveis na Administração Pública 2.4.4.1 Processo de Cadastro de Imóveis O objetivo do processo de trabalho é a inscrição ou exclusão cadastral e a gestão de informações e documentos sobre imóveis administrados pelo Órgão Gestor e sobre imóveis de interesse da entidade a que pertence o Órgão Gestor. Este setor tem como principais atividades em seu processo de trabalho: a) Recebe solicitação de inscrição ou exclusão de imóvel no Cadastro de Imóveis ou de informação; b) Inscreve ou exclui imóvel no Cadastro de Imóveis, físico ou informatizado; c) Organiza e guarda a documentação relativa ao imóvel; d) Fornece informações, relatórios e documentos constantes do cadastro; e) Zela pelo registro, preenchimento e atualização de todos os dados cadastrais; f) Zela pela correção e segurança dos dados cadastrais digitados e digitalizados. 31 2.4.4.1.1 Fundamentação do processo de trabalho Aplicar os princípios da indisponibilidade do interesse público, da legalidade, da eficiência e do controle, acima de tudo o dever de cadastramento e de promoção dos registros contábeis. Com o propósito de auxiliar o desempenho e a qualidade da gestão, podemos citar como indicadores no processo de Cadastro de Imóveis: a) o número de bens inscritos no cadastro físico e/ou informatizado, e cadastrados recentemente; b) o número de bens excluídos do cadastro físico e/ou informatizado; c) as atualizações, retificações ou complementações dos dados do cadastro físico e/ou informatizado; d) a complementação dos documentos do cadastro previstos nos checklists (lista de verificação); e) o número de expedientes e processos instruídos; f) o número de relatórios elaborados ou mantidos atualizados. 2.4.4.2 Processo de Regularização da Situação dos Imóveis O objetivo do processo de trabalho é a busca da regularidade da situação dos imóveis sob a administração do Órgão Gestor em todos os aspectos, promovendo nos órgãos competentes os atos necessários para esse fim. 32 Este setor tem como principais atividades em seu processo de trabalho: a) Recebe solicitação de pesquisa de titularidade e/ou regularização de situação de imóvel; b) Pesquisa e se pronuncia sobre a titularidade de imóvel de interesse do Órgão Gestor; c) Regulariza a titularidade e a incidência de ônus reais sobre o imóvel no Cartório de Registro de Imóveis competente; d) Solicita que uma determinada operação imobiliária seja realizada ou concluída; e) Registra no Cartório de Registro de Imóveis competente operação imobiliária realizada; f) Zela pela regularidade do registro contábil do valor patrimonial de imóvel de titularidade da entidade a que pertence o Órgão Gestor; g) Zela pela regularização edilícia e urbanística de imóvel, averba e registra atos necessários para esse fim. 2.4.4.2.1 Fundamentação do processo de trabalho Aplicação dos princípios da supremacia do interesse público sobre o privado, da indisponibilidade do interesse público, da legalidade, da eficiência e do controle. 2.4.4.3 Processo de Operações Imobiliárias 33 O objetivo do processo de trabalho é a execução das providencias necessárias à utilização, aquisição, oneração ou alienação de imóveis e aquela decorrentes da perda de imóveis, envolvendo imóveis sob a administração do Órgão Gestor ou de interesse da entidade a que pertence esse Órgão. Este setor tem como principais atividades em seu processo de trabalho: a) Recebe ou gera a demanda relativa à operação imobiliária; b) Registra a demanda por imóvel e o respectivo atendimento; c) Examina, instrui e se pronuncia sobre a demanda relativa à operação; d) Negocia e propõe a realização de operação imobiliária; e) Elabora conclusivo para decisão da autoridade competente sobre a realização de operação imobiliária; f) Instrui e participa de procedimento licitatório envolvendo operação imobiliária; g) Elabora, de acordo com a minuta aprovada pelos órgãos jurídicos competentes, lavra e/ou coleta as assinaturas do instrumento necessário à formalização da operação imobiliária; h) Publica e remete aos Órgãos de Fiscalização o ato ou contrato envolvendo operação imobiliária; i) Arquiva e guarda os instrumentos de formalização dos atos ou contratos envolvendo operações imobiliárias; j) Solicita ao dirigente do Órgão Gestor a intervenção do órgão jurídico competente. 34 2.4.4.3.1 Fundamentação do processo de trabalho Aplicação dos princípios da supremacia do interesse público sobre o privado, da indisponibilidade do interesse público, da legalidade, da legitimidade (incluindo dever de motivação), da obrigatoriedade do desempenho das atividades públicas (que inclui o da continuidade do serviço público), da finalidade, da impessoalidade, da moralidade, da eficiência, da publicidade, do planejamento, do controle (aqui inclui o dever de fiscalização),da responsabilidade, e, em especial, os princípios da preservação, da licitação, da economicidade, da inalienabilidade ou alienabilidade condicionada, da imprescribilidade, da impenhorabilidade, da inonerabilidade e da insuscetibilidade da posse civil. 2.4.4.4 Processo de Cobrança O objetivo de processo de trabalho é a cobrança e o controle do cumprimento das contrapartidas previstas nos atos e contratos envolvendo operações imobiliárias. Este setor tem como principais atividades em seu processo de trabalho: a) Recebe solicitação de inscrição de operação imobiliária e a inscreve para fins de cobrança; b) Emite e entrega ao devedor o documento de cobrança; c) Cobra e controla o cumprimento das contrapartidas previstas; d) Calcula e informa o débito; 35 e) Notifica e solicita providencias administrativas e judiais em razão do não cumprimento de obrigações; f) Examina e se pronuncia sobre os pedidos de parcelamento de débitos e/ou repactuação de contraprestações originalmente previstas; g) Aplica as penalidades pecuniárias previstas e propõe a aplicação das demais penalidades; h) Recebe, instrui e encaminha para decisão superior os recursos que forem apresentados contra as penalidades aplicadas. 2.4.4.4.1 Fundamentação do processo de trabalho Aplicação dos princípios da supremacia do interesse público sobre o privado, da indisponibilidade do interesse público, da legalidade, da legitimidade (incluindo dever de motivação), da eficiência, do controle (inclui o dever de fiscalização) e da responsabilidade. 2.4.4.4 Processo de Fiscalização Imobiliária O objetivo do processo de trabalho é a gestão dos meios necessários para que os imóveis sob a administração do Órgão Gestor só sejam ocupados por pessoas autorizadas, de acordo com as finalidades e condições estabelecidas ou pactuadas. Este setor tem como principais atividades em seu processo de trabalho: a) Recebe solicitação de vistoria de fiscalização ou cumpre rotina estabelecida para esse fim; b) Identifica ocupação de imóvel; 36 c) Notifica pessoalmente o ocupante do imóvel; d) Realiza vistoria para fiscalizar o cumprimento de contrapartida prevista em operação imobiliária; e) Promove a vigilância de imóvel para impedir a sua ocupação; f) Promove imissão amigável na posse, prevista em documento firmado; g) Negocia e promove desocupação de imóvel. 2.4.4.4.1 Fundamentação do processo de trabalho Aplicação dos princípios da supremacia do interesse público sobre o privado, da indisponibilidade do interesse público, da legalidade, da legitimidade (incluindo dever de motivação), da obrigatoriedade do desempenho das atividades públicas (que inclui o da continuidade do serviço público), da finalidade, da eficiência, do controle (aqui inclui os deveres de guarda e de fiscalização), da conservação e da insuscetibilidade da posse civil (COUTINHO, 2004). 2.4.4.5 Processo de Obras e Serviços de Engenharia O objetivo dos processos de trabalha é a execução das obras e serviços de engenharia necessários à gestão dos imóveis sob a administração do Órgão Gestor. Este setor tem como principais atividades em seu processo de trabalho: a) Recebe ou gera solicitação para execução de obra ou serviço de engenharia ou cumpre rotina estabelecida para esse fim; 37 b) Realiza vistoria técnica; c) Avalia imóvel para fins contábeis, seguro, permissão de uso, locação, alienação, e outros; d) Zela pela conservação, manutenção, funcionamento e/ou aprimoramento (reforma) de imóvel; e) Aprova projeto e fiscaliza a execução de obra e/ou serviço de engenharia; f) Elabora e obtém aprovação de projeto; g) Executa obra ou serviço de engenharia. 2.4.4.5.1 Fundamentação do processo de trabalho Aplicação dos princípios da indisponibilidade do interesse público, da legalidade, da obrigatoriedade do desempenho das atividades públicas (que inclui o princípio da continuidade do serviço público), da eficiência (aqui inclui o dever de aprimoramento), do equilíbrio, do controle (que inclui os deveres de guarda e de fiscalização), da conservação, da licitação e da economicidade. 38 CONCLUSÃO Como dissemos anteriormente para uma boa administração de bens da Administração Pública depende do cumprimento das normas existentes e os princípios que regem esses bens. Junto a esses fatores, a capacitação e desenvolvimento do servidor público é muito importante não só para que haja o conhecimento técnico e jurídico específicos da área, no caso a patrimonial. A atividade administrativa voltada para a concretização dos interesses públicos deve ser ágil e dispor de técnicas de atuação distintas conforme os objetivos a serem atingidos. O Administrador também deve de certa forma dar uma atenção especial as normas e princípios constitucionais delas decorrentes, ou seja, passar da esfera abstrata da declaração de princípios a forma concreta das normas que se devem cumprir. Diante do limite estrutural no qual vivemos hoje no Brasil, a melhoria de gestão de meios é uma das providências mais importantes no momento para superar esse limite. Nesta estão inseridas a gestão financeira, orçamentária e receita pública, a gestão de pessoas e previdenciária, a gestão patrimonial e de serviços e a gestão pública, neste caso com especial destaque para a gestão da informação ou gestão do conhecimento, porem para esse fim não basta a edição de normas em cada esfera da Federação, como a Lei de Responsabilidade Fiscal, ou seja, para obter resultados necessários. Mesmo que guardem conformidade com a realidade, que haja a mobilização no meio político e social para exigir o seu cumprimento, caso não sejam tomadas iniciativas na esfera administrativa para a melhoria da gestão nessas áreas, o administrador público não vai chegar nem mesmo a superar um dos primeiros desafios que a Era da Informação lhe impõe: conhecer os inúmeros recursos que estão à sua disposição a tempo de administrá-los de acordo com as necessidades da sociedade. 39 No caso do administrador público, para que sejam implementadas as medidas necessárias, é preciso que o próprio e os administradores conheçam essas normas e os princípios decorrentes, que este demonstre como podem ser cumpridas e que disponha, para tanto, de recursos financeiros, materiais – o que inclui ferramentas necessárias – e de um quadro de servidores públicos capaz e motivado. Além disso, os benefícios da melhoria de uma gestão de meios alcançam não apenas os órgãos e entidades que integram a Administração Pública. No caso da gestão patrimonial, por exemplo, os benefícios diretos e indiretos são evidentes para as entidades que, em regime de cooperação com a Administração Pública, precisem de bens públicos para o desenvolvimento de atividades de utilidade pública ou de relevante valor social, bem como para os cidadãos, que serão mais rapidamente atendidos pela disponibilização dos bens necessários à implantação das políticas públicas (COUTINHO, 2004). Com relação à licitação, esta será sempre bem vinda quando o administrador quiser repassar ao particular o uso de bem público. Entretanto, só será obrigatória, nos casos em que o instrumento utilizado para tal for a concessão ou a permissão qualificada. Nos casos em que a natureza do bem ou da atividade requerer certa precariedade e urgência, não se poderá obrigar o administrador a licitar para depois repassar ao particular o uso do bem. Nestes casos, o ato administrativo é mais indicado. É fundamental salientar que a conveniência e oportunidade que permeiam o ato administrativo deverão ser restringidas pelo princípio da moralidade. Se assim não for, poderá ser escape para desmandos de políticos no controleda administração Pública. É importante para tal, que se desenvolva no Brasil a doutrina de responsabilidade patrimonial do administrador para o caso de uso arbitrário dos bens públicos. Fica claro que a permissão será sempre a melhor opção quando a atividade que for exercida no bem, requerer 40 que a administração detenha o poder de encerrar o direito de uso que ao particular foi passado, a qualquer momento, e sem necessidade de indenizar, diante de relevante interesse público. No que tange a concessão sua utilização é indispensável quando o uso requerer grandes investimentos do particular e for por longo período de tempo. Mais uma vez a positivação de condutas é indispensável para que o interesse de toda a coletividade não seja maquiado para defender apenas interesses particulares. Enquanto assim for, não há como deixar que atividade atinente a bens e serviços públicos fique adstrito à conveniência do administrador. É necessário que o legislador atue limitando a discricionariedade dos políticos, sem amarrar sua atividade, mas principalmente sancionando-os com responsabilidade patrimonial pessoal por má administração. Desta forma o Estado não arcará materialmente com os danos apurados pelo descaso de políticos mal preparados. Com isso, podemos dizer que ao possuir políticas bem substanciadas nas normas e princípios que irão reger uma determinada atividade administrativa – no caso a gestão patrimonial, inserida na gestão de meios -, a fim de que os cidadãos as conheçam e controlem a sua aplicação e de que a burocracia possa identificá-las, compreendê-las e racionalmente aplicá-las para alcançar os fins estabelecidos. 41 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL. Lei nº 4.320, de 17 de março de 1964. BRASIL. Constituição da Republica Federativa do Brasil. Rio de janeiro, 2010. ABREU, Mauricio de A. Evolução Urbana do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 2006. Instituto Municipal de Urbanismo Pereira Passos – IPP. 4ª Edição. RAMOS, Elival da Silva. Aspectos Gerais do Patrimônio Imobiliário do Poder Público. Cadernos FUNDAP São Paulo ano 9 nº 17 paginas 16-31. Dez, 1989. COUTINHO, José Roberto de Andrade. Gestão Patrimonial na Administração Pública – Noções Gerais. Rio de Janeiro: Editora Lúmen Júris, 2004. COUTINHO, José Roberto de Andrade. Gestão Patrimonial na Administração Pública. Rio de Janeiro: Editora Lúmen Júris, 2005. AGHIARIAN, Hércules. Curso de Direito Imobiliário. Rio de Janeiro: Editora Lúmen Júris, 2003. REVISTA ÂMBITO JURÍDICO - A titularidade dos bens públicos e a possibilidade de sua utilização pelo particular. Acessado em 16/06/2010. http://www.ambitojuridico.com.br/. http://pt.Wikipedia.org/wiki/Bem. Acessado em 23/04/10. DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. São Paulo: Editora Atlas S.A., 2009. http://pt.wikipedia.org/wiki/Bem 42 DIAS, Alexandra Furtado da Silva. Gestão Patrimonial da Administração Publica Estadual. Governo do Estado de Santa Catarina: Secretaria de Estado da Fazenda, 2006. Roberto J. Pugliese - Rio de Janeiro
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