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INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE PÚBLICA INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE PÚBLICA 2 SUMÁRIO NOSSA HISTÓRIA ......................................................................................................... 3 Introdução à Contabilidade Pública ............................................................................ 4 1 - CONTABILIDADE PÚBLICA .................................................................................. 4 2 - Princípios e Conceitos ............................................................................................. 6 3 - Objetos da Contabilidade Pública ......................................................................... 8 4 - Regime Patrimonial ............................................................................................... 14 5 - Receita Orçamentária X Receita Contábil ......................................................... 17 5.1 - Despesa Orçamentária X Despesa Contábil ................................................. 19 5.2 - EXERCÍCIO FINANCEIRO ............................................................................... 20 6 - CAMPO DE APLICAÇÃO ..................................................................................... 21 Referência Bibliográfica .............................................................................................. 28 3 NOSSA HISTÓRIA A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 4 Introdução à Contabilidade Pública 1 - CONTABILIDADE PÚBLICA Define-se Contabilidade Pública como sendo o ramo da contabilidade que registra, controla e demonstra a execução dos orçamentos, dos atos e fatos da fazenda pública e o patrimônio público e suas variações. Portanto, seu escopo relaciona-se ao controle e gestão dos recursos públicos. Com o advento da Lei de Responsabilidade Fiscal - LRF (Lei Complementar 101/2000), a contabilidade pública alçou uma maior importância e valorização. A contabilidade societária, relacionada com a atividade privada, rege-se pela Lei das Sociedades Anônimas e pelo Código Civil, que estabelecem regras de procedimentos contábeis. Já a contabilidade pública é regulada pela Lei 4.320/1964, que é a Lei das Finanças Públicas. A contabilidade societária tem como foco principal o patrimônio e as suas avaliações, de tal forma que a principal peça é o balanço patrimonial. Porém, na contabilidade pública, o mais relevante é o balanço de resultados, que trata da despesa e da receita, ou seja, de que forma foi arrecadado o dinheiro e como foi aplicado. Outra diferença é que a contabilidade da área societária tem como visão o patrimônio e o lucro. Já na área pública, a visão é a gestão. A Lei de Responsabilidade Fiscal - LRF deu forma ao Relatório Resumido da Execução Orçamentária, definiu o que compõe o relatório, como se publica essa informação. Também trouxe como inovação o relatório de gestão fiscal, que visa demonstrar se foram atingidas as metas e os limites estabelecidos na lei de responsabilidade fiscal. Outra inovação é que a lei exigiu que as receitas vinculadas tenham a contabilização de onde está evidenciado o que já foi aplicado e qual é o saldo. 5 A lei também passou a dar uma maior importância e visibilidade à contabilidade. A Contabilidade Pública - seja na área Federal, Estadual, Municipal ou no Distrito Federal - tem como base a Lei 4.320, de 17 de março de 1964, que instituiu normas gerais de direito financeiro para elaboração e controle dos orçamentos e balanços da União, dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal. A Lei 4.320/64 está para a Contabilidade Aplicada à Administração Pública assim como a Lei das Sociedade por Ações, Lei 6.404/76, está para a Contabilidade aplicada à atividade empresarial. A Contabilidade Pública registra a previsão da receita e a fixação da despesa, estabelecidas no Orçamento Público aprovado para o exercício, escritura a execução orçamentária da receita e da despesa, faz a comparação entre a previsão e a realização das receitas e despesas, controla as operações de crédito, a dívida ativa, os valores, os créditos e obrigações, revela as variações patrimoniais e mostra o valor do patrimônio. A contabilidade pública está interessada também em todos os atos praticados pelo administrador, sejam de natureza orçamentária (previsão da receita, fixação da despesa, empenho, descentralização de créditos etc.) ou sejam meramente administrativos (contratos, convênios, acordos, ajustes, avais, fianças, valores sob responsabilidade, comodatos de bens, etc.) representativos de valores potenciais que poderão afetar o patrimônio no futuro. O objeto de qualquer contabilidade é o patrimônio. A contabilidade pública não está interessada somente no patrimônio e suas variações, mas, também, no orçamento e sua execução (previsão e arrecadação da receita e a fixação e a execução da despesa). A contabilidade pública, além de registrar todos os fatos contábeis (modificativos, permutativos e mistos), registra os atos potenciais praticados pelo administrador, que poderão alterar qualitativa e quantitativamente o patrimônio. 6 O objetivo da Contabilidade Pública é o de fornecer aos gestores informações atualizadas e exatas para subsidiar as tomadas de decisões, aos órgãos de controle interno e externo para o cumprimento da legislação e às instituições governamentais e particulares informações estatísticas e outras de interesse dessas instituições. 2 - Princípios e Conceitos Para se conceituar bem a Contabilidade Pública é necessário conhecer todos os dispositivos legais pertinentes. O principal normativo legal é a Lei n. 4.320/64. Essa lei estabelece muitos dos procedimentos e funções que são exercidas pela Contabilidade Pública. Não basta, conhecer os princípios e técnicas contábeis profundamente, faz-se mister também ter a compreensão das determinações contidas na legislação relativa à administração pública. Os conceitos aqui formulados têm por base as normas legais existentes. A Contabilidade Pública é o ramo da Ciência Contábil que aplica na administração pública as técnicas de registro dos atos e fatos administrativos, apurando resultados e elaborando relatórios periódicos, levando em conta as normas de Direito Financeiro (Lei 4.320/64), os princípios gerais de finanças públicas e os princípios de contabilidade. As funções da Contabilidade Pública relacionadas acima podem ser confirmadas pelo artigo 78 do Decreto-Lei 200/67 que estabelece: “O acompanhamento da execução orçamentária será feito pelos órgãos de contabilização”. Também é possível encontrar base legal para os procedimentos aplicados pela Contabilidade Pública na Lei n.4.320/64, que em seu artigo 90 determina: “A contabilidadedeverá evidenciar, em seus registros, o montante dos créditos orçamentários vigentes, a despesa empenhada e a despesa realizada à conta dos mesmos créditos e as dotações disponíveis”. Pela leitura dos artigos 29 e 89, da Lei n. 4.320/64, pode-se entender que a contabilidade também é encarregada de acompanhar a execução da receita orçamentária, de onde é possível se extrair os seguintes trechos importantes: 7 “Caberá aos órgãos de contabilidade... organizar demonstrações mensais da receita arrecadada... para servirem de base à estimativa da receita, na proposta orçamentária.” “A contabilidade evidenciará os fatos ligados à administração orçamentária, financeira, patrimonial e industrial”. A Contabilidade Pública registra a previsão da receita e a fixação da despesa estabelecidas no orçamento público aprovado para o exercício, escritura a execução orçamentária, faz a comparação entre a previsão e a realização das receitas e despesas, revela as variações patrimoniais, demonstra o valor do patrimônio e controla: – as operações de crédito; – a dívida ativa; – os créditos; – as obrigações. De conformidade com o artigo 85 da Lei n. 4.320/64, a contabilidade será organizada de modo a permitir: – o acompanhamento da execução orçamentária, – o conhecimento da composição patrimonial, – a determinação dos custos dos serviços industriais, – o levantamento dos balanços gerais e – a análise e interpretação dos resultados econômicos e financeiros. “A contabilidade evidenciará perante a Fazenda Pública a situação de todos quantos, de qualquer modo, arrecadem receitas, efetuem despesas, administrem ou guardem bens a ela pertencentes ou confiados” (artigo 83 da Lei 4.320/64). “A contabilidade deverá apurar os custos dos serviços de forma a evidenciar os resultados da gestão”. (Artigo 79 do Decreto-Lei 200/67). De acordo com as Normas Brasileiras de Contabilidade Aplicadas ao Setor Público – NBCASP, editadas pelo Conselho Federal de Contabilidade – CFC por meio das Resoluções n. 1.128 a 1.137/ 2008 a: “Contabilidade Aplicada ao Setor Público é o ramo da ciência contábil que aplica, no processo gerador 8 de informações, os Princípios Fundamentais de Contabilidade e as normas contábeis direcionados ao controle patrimonial de entidades do setor público.” A Resolução CFC N. 1.128/2008, que trata de conceituação, objeto e campo de aplicação da Contabilidade Aplicada ao Setor Público, dispõe que seu objetivo é: “Fornecer aos usuários informações sobre os resultados alcançados e os aspectos de natureza orçamentária, econômica, financeira e física do patrimônio da entidade do setor público e suas mutações, em apoio ao processo de tomada de decisão; a adequada prestação de contas; e o necessário suporte para a instrumentalização do controle social”. 3 - Objetos da Contabilidade Pública O objeto da Ciência Contábil, em seu sentido amplo, é patrimônio constituído por bens, direitos e obrigações vinculados a uma entidade (pessoa física ou jurídica). Dentro dessa ótica, podemos definir o objeto da contabilidade praticada por entidades privadas, como sendo o patrimônio privado, de propriedade de cada empresa. De acordo com a Resolução CFC n. 1.129/2008, entende-se como patrimônio público: “o conjunto de direitos e bens, tangíveis ou intangíveis, onerados ou não, adquiridos, formados, produzidos, recebidos, mantidos ou utilizados pelas entidades do setor público, que seja portador ou represente um fluxo de benefícios, presente ou futuro, inerente à prestação de serviços públicos ou à exploração econômica por entidades do setor público e suas obrigações.” De acordo com o Código Civil, Lei n.10.406/02, art. 99, são bens públicos: – os bens de uso comum do povo, tais como: rios, mares, estradas, ruas e praças; – os de uso especial, tais como edifícios ou terrenos destinados a serviço ou estabelecimento da administração federal, estadual, territorial ou municipal, inclusive os de suas autarquias; - os dominicais, que constituem o patrimônio das pessoas jurídicas de direito público, como objeto de direito pessoal, ou real, de cada uma dessas 9 entidades. Quanto à primeira categoria de bens públicos, ou seja, os bens de uso comum do povo, que são bens de uso geral e indiscriminado por parte da população, tais como rodovias, praças, viadutos, quadras esportivas etc., a Resolução CFC n. 1.137/2008 estabelece: “Os bens de uso comum que absorveram ou absorvem recursos públicos, ou aqueles eventualmente recebidos em doação, devem ser incluídos no ativo não circulante da entidade responsável pela sua administração ou controle, estejam, ou não, afetos a sua atividade operacional.” Todavia, o entendimento presente na doutrina em geral é no sentido de que esses bens não são objeto de registro e evidenciação por parte da Contabilidade e, por conta disso, não seriam incorporados no ativo pelos órgãos encarregados de sua construção e manutenção, em função de que não seria possível identificar a sua titularidade. No tocante às outras duas categorias de bens públicos, não há restrição quanto ao seu registro e evidenciação nos balanços públicos, devendo ser evidenciados no ativo não circulante. Além dos bens, compõem o patrimônio dos órgãos e entidades públicas, direitos a receber (saldos bancários, dívida ativa, por exemplo) e obrigações a pagar (fornecedores, dívida fundada etc.), que também devem ser objeto de registro e evidenciação por parte da Contabilidade. Esse entendimento está de acordo com as NBCASP, identificadas pelo código NBC T 16, no quadro de normas do Conselho Federal de Contabilidade – CFC. Uma das normas do CFC que compõe a NBC T 16 é a Resolução n. 1.128/2008. Em um dos seus trechos, estabelece que o “objeto da Contabilidade Aplicada ao Setor Público é o patrimônio público.” A Contabilidade aplicada ao Setor Público não se limita a estudar, registrar e evidenciar um único objeto: patrimônio (e suas variações). Há normas que impõem a necessidade de registro e evidenciação do orçamento e de sua execução, bem como de situações não compreendidas no patrimônio, mas que possam vir a afetá-lo. Isso está regulado, entre outros, pelos artigos 89, 90 e 105 da Lei n. 4.320/64, bem como pela Resolução CFC n. 1.132/2008 que afirma: “O patrimônio das entidades do setor público, o orçamento, a execução orçamentária e financeira e os atos administrativos que provoquem efeitos de caráter econômico e financeiro no patrimônio da entidade devem ser mensurados ou avaliados monetariamente e registrados pela contabilidade”. 10 Deve-se atentar para o que estabelece a Lei n. 4.320/64, em seus artigos 35 (transcrito anteriormente) e 36 – caput, que diz “Consideram-se Restos a Pagar as despesas empenhadas mas não pagas até o dia 31 de dezembro, distinguindo-se as processadas das não processadas.” Nesses trechos, a mencionada Lei disciplina o parâmetro sinalizador a ser utilizado para mensurar a despesa orçamentária do exercício financeiro: valores legalmente empenhados. Uma das polêmicas da Ciência Contábil, a mensuração da despesa, é objetivamente esclarecida no âmbito da Contabilidade Pública, pelo art. 35 da Lei n. 4.320/64: a despesa deve ser mensurada pelo exato valor legalmente empenhado. O momento do reconhecimento da despesa orçamentária resta polêmico também. De regra, no âmbito da Administração Federal, durante o exercício financeiro, as despesas devem ser apropriadas quando verificado o implemento de condição do empenho, que é o recebimento de bens e serviços e que coincide com a segunda fase da execução da despesa orçamentária, denominada de liquidação. Esse procedimento é adotado tomando como base o teor do artigo 58 da Lei n. 4.320/64, que afirma: “O empenho de despesa é o ato emanado de autoridade competente que cria para o Estado obrigação de pagamento pendenteou não de implemento de condição.” Mesmo no caso das despesas cujo implemento de condição não seja possível identificar claramente (aposentadorias, transferências constitucionais, juros etc.) isso deve ocorrer. Para tanto, se utiliza o fator tempo como orientador, de modo que se aproprie as despesas ao final do transcorrer de cada mês, quando se supõe seja possível realizar algum procedimento que permita constatar a liquidação desse tipo de despesa. Trata-se, então, da aplicação de uma convenção contábil. NA CONTABILIDADE PÚBLICA D: DESPESA DE AQUISIÇÃO DE BENS C: OBRIGAÇÃO A PAGAR E D: ATIVO (BENS MÓVEIS) C: VARIAÇÃO AUMENTATIVA NA CONTABILIDADE EMPRESARIAL 11 D: DIREITO A RECEBER C: RECEITA DE VENDAS DE BENS E D: CUSTO DAS MERCADORIAS VENDIDAS C: ATIVO (MERCADORIAS) Portanto, a despesa orçamentária não deve ser reconhecida no momento do empenho, mas sim na liquidação. A única exceção se dá quando da apropriação, ao final do ano, dos compromissos decorrentes de empenhos a liquidar, que têm como contrapartida restos a pagar não processados. Então, a despesa é registrada num determinado momento que é posterior à emissão do empenho e anterior à liquidação. Dessa forma, pode-se afirmar que a despesa não deve ser registrada no momento do empenho. Outra razão para não se registrar a despesa orçamentária, durante o exercício financeiro, no momento da emissão do empenho, é o fato de a Lei n. 4.320/64 disciplinar no art. 60 que: “É vedada a realização de despesa sem prévio empenho”. Essa regra estabelece que, antes de se iniciar a realização da despesa, deverá já ter sido emitido o empenho. Logo, a despesa orçamentária obedece ao seguinte esquema de contabilização: – durante o ano, deverá ser apropriada quando ocorrer o estágio da liquidação, correspondendo ao momento do recebimento de bens e serviços; – no encerramento do exercício, deverá ser apropriado também como despesa, o saldo de empenhos emitidos e não liquidados. Com isso, parte da despesa orçamentária será registrada em momento anterior ao do recebimento dos bens e serviços. Esse incremento na apropriação da despesa com base nos saldos de empenhos a liquidar, que ocorre no encerramento do exercício financeiro, por força do artigo 35 da Lei n. 4.320/64, tem como consequência o surgimento de restos a pagar não processados, fato que está previsto no art. 36 da Lei n° 4.320/64. Comparando a aplicação do preceito do art. 35 da Lei n. 4.320/64, com a recomendação da boa técnica contábil, a qual define que as despesas, dentro do regime contábil de competência, devem ser registradas tendo como fato gerador o consumo de 12 bens e serviços, em regra geral, conclui-se que, na Contabilidade Pública o momento do reconhecimento da despesa orçamentária é diferente do recomendado pela Ciência Contábil. Com relação aos gastos efetuados com serviços, não há grandes divergências entre a legislação aplicada à área pública e os preceitos da Ciência Contábil, em razão de que os serviços devem ser considerados como despesas no momento de seu recebimento, quando simultaneamente se dá o consumo. Porém, em relação aos gastos com aquisição de bens de consumo (estoques) ou permanentes, bem como aos referentes a despesas antecipadas (assinatura de periódicos, aquisição de seguros de veículos etc.) existe um distanciamento entre os dois conceitos. A aquisição de bens à vista consiste num fato permutativo – troca de dinheiro por bens, não devendo gerar despesas nesse momento. O raciocínio é parecido para o caso de ser a prazo, pois resulta também em fato permutativo. Para atender à Lei n. 4.320/64, a despesa deve ser reconhecida no momento do recebimento dos bens, isto é, na liquidação (verificação do implemento de condição). Nesse momento, surge a despesa orçamentária em contrapartida à obrigação de pagar do órgão público e, simultaneamente, surge o direito a receber no patrimônio do fornecedor de bens em contrapartida à receita de vendas. Direitos a receber de uma entidade representam obrigações a pagar de outra entidade. Em tese, no exato momento que se configura a transação de compra e venda, envolvendo o Poder Público e o fornecedor de bens, estão atuando a Contabilidade Pública, de um lado, registrando a despesa orçamentária e a obrigação de pagar ao fornecedor e a Contabilidade Empresarial, do outro lado, registrando o direito a receber junto ao órgão público e a receita de vendas. Observe a seguir uma representação do que ocorre, praticamente de forma simultânea, nas duas áreas contábeis, quando do registro da liquidação do empenho da despesa de aquisição de bens. Dando prosseguimento ao raciocínio, como consequência do registro da despesa orçamentária, em atendimento à Lei n. 4.320/64, fato que afeta negativamente o resultado do exercício, é necessário a Contabilidade Pública fazer um registro adicional para evitar esse efeito. Então, no mesmo momento do registro da despesa deve ser providenciado o reconhecimento de uma variação patrimonial positiva, que tem efeito aumentativo no resultado, anulando (compensando) o efeito diminutivo da 13 despesa. Isso ocorre apenas com as despesas não efetivas (aquelas oriundas de fatos permutativos), como é o caso da decorrente da aquisição de bens permanentes. A despesa deve ser registrada, atendendo aos mandamentos legais, mas o princípio contábil da competência deve ser respeitado também, com a utilização do mecanismo de compensar o efeito negativo da despesa (que é indevido para a ciência contábil, pois trata-se de um fato permutativo) com o efeito positivo da variação patrimonial aumentativa no resultado. Todavia, para a ciência contábil, a despesa só poderia ser reconhecida quando da constatação de que bens foram consumidos. O mesmo procedimento é adotado para o registro da receita orçamentária não efetiva, tais como as que surgem pela conversão em espécie de bens e direitos – receita da dívida ativa e de amortização de empréstimos concedidos, por exemplo. Essas receitas provocam aumento e diminuição de ativo simultaneamente. Isso também ocorre com a receita decorrente de constituição de dívidas, como a receita de operações de crédito (contratação de empréstimos e financiamentos) porque provocam, concomitantemente, aumento de ativo e de passivo. Os dois casos são provenientes de fatos permutativos. A compensação, nesse caso, se dá com o emprego de contas de efeito diminutivo no resultado, chamadas de variações patrimoniais negativas. Observe que isso somente ocorre com as receitas não-efetivas. Resumo da aplicação das regras do regime contábil orçamentário: – as receitas orçamentárias devem ser contabilizadas pelo regime de caixa orçamentário (regime de arrecadação); – as despesas orçamentárias devem ser contabilizadas pelo regime de competência orçamentária (regime de empenho), sendo que durante o exercício financeiro o registro deve ocorrer no momento da liquidação e, no final do ano, deve ser acrescentado aos valores da despesa orçamentária o montante de empenho não liquidado. 14 4 - Regime Patrimonial Em função do que estabelece a melhor doutrina da Ciência Contábil com relação ao momento de reconhecimento dos efeitos no patrimônio decorrentes de receitas e despesas, bem como do disciplinamento da Resolução do CFC n. 1.111/07 acerca do Princípio da Competência, conforme transcrição a seguir, deve-se adotar também na área pública os procedimentos de registro de receita e despesa adotados no âmbito da contabilidade aplicada às empresas: “Princípio da Competência é aquele que reconhece as transações e os eventos na ocorrência dos respectivos fatos geradores, independentemente do seu pagamento ou recebimento, aplicando-se integralmente ao Setor Público. Os atos e os fatos que afetam o patrimônio público devem ser contabilizados por competência,e os seus efeitos devem ser evidenciados nas Demonstrações Contábeis do exercício financeiro com o qual se relacionam, complementarmente ao registro orçamentário das receitas e das despesas públicas.” A receita e a despesa contábeis decorrem de fatos modificativos aumentativos e diminutivos, respectivamente. Seus efeitos no patrimônio devem ser reconhecidos quando da alteração na situação líquida patrimonial, independentemente de haver ou não autorização orçamentária. Esse é o enfoque patrimonial de receita e despesa. Como visto, de modo geral, os registros na Contabilidade Pública devem seguir as orientações da Lei n. 4.320/64, que disciplina o denominado regime misto: caixa para a receitas (arrecadadas) e competência para as despesas (empenhadas). Essa norma utiliza um modelo de contabilidade estritamente vinculada aos aspectos orçamentários e, por esse motivo, é muito comum os estudiosos afirmarem que a Contabilidade Pública é uma “contabilidade orçamentária”. O registro contábil da despesa orçamentária no momento da liquidação de empenhos e a escrituração da receita orçamentária no momento da arrecadação são os exemplos mais concretos de que a prática da escrituração pública se faz levando em consideração conceitos orçamentários. Esse fenômeno contábil, típico da área pública, causa algumas distorções nos 15 demonstrativos financeiros e patrimoniais produzidos pela contabilidade pública. Um dos maiores problemas é o reconhecimento de despesa fruto de empenhos pendentes de liquidação ao final do exercício financeiro. Esse procedimento orientado pelo art. 36 da Lei n. 4.320/64 faz surgir um compromisso no passivo do ente público, denominado restos a pagar não processados. Essa prática não tem suporte no referencial teórico da Ciência Contábil. Além disso, é certo que existem passivos constituídos contra as entidades públicas, porém não reconhecidos em razão de que seria necessária a execução orçamentária para tal. Esse é o caso das provisões para férias e para 13º salário que deveriam, segundo as melhores técnicas da Ciência Contábil, ser registradas mensalmente, com base no duodécimo da folha de pagamento de salários. Todavia, o reconhecimento contábil desses compromissos somente vem ocorrendo no momento da liquidação dos empenhos. Da mesma forma, é comum detectarmos créditos plenamente constituídos em favor dos entes públicos, porém não contabilizados, sob a alegação de que o regime da receita orçamentária é o de caixa e isso não admite o reconhecimento de créditos a receber. O aumento na situação líquida patrimonial costuma ser reconhecido no momento da arrecadação, quando na realidade pelo regime competência contábil já teria ocorrido no momento da prestação dos serviços a terceiros, por exemplo, quando um órgão público vende serviços a prazo. Preocupada com essas discrepâncias entre a realidade das boas técnicas contábeis e os procedimentos de registro que distorcem os demonstrativos gerados com base na prática adotada pela Contabilidade Pública, a Secretaria do Tesouro Nacional – STN vem propondo e implementando uma série de aperfeiçoamentos no processo de escrituração, de modo a promover uma integração entre a Contabilidade Pública e os princípios da Ciência Contábil, mas preservando as melhores técnicas utilizadas no controle orçamentário. A denominada contabilidade patrimonial (que dá maior foco ao patrimônio), recomendada na contabilização das operações realizadas pelas entidades públicas. Essa contabilidade patrimonial deve empregar todos os princípios fundamentais de contabilidade identificados pelo Conselho de Contabilidade Federal. Destacam- se os princípios de competência e de oportunidade que são muito citados nas 16 publicações da STN, ao fazer referência à contabilização de receita e despesa visando à apuração de resultados. Na realidade, a própria Lei 4320/64 abre espaço para implementação dessas novidades na contabilidade das entidades públicas, por meio da incorporação de práticas adotadas no âmbito da contabilidade patrimonial, tais como: – depreciação, amortização, exaustão; – provisões do passivo (para 13º salário, para férias e contingências) – provisões do ativo (para perdas prováveis, para devedores duvidosos) Observando o teor de alguns de seus artigos, percebe-se a existência de suporte legal para implementação das técnicas da contabilidade patrimonial: “Art. 85. Os serviços de contabilidade serão organizados de forma a permitirem o acompanhamento da execução orçamentária, o conhecimento da composição patrimonial, a determinação dos custos dos serviços industriais, o levantamento dos balanços gerais, a análise e a interpretação dos resultados econômicos e financeiros. Art. 89. A contabilidade evidenciará os fatos ligados à administração orçamentária, financeira, patrimonial e industrial. Art. 97. Para fins orçamentários e determinação dos devedores, far-se-á o registro contábil das receitas patrimoniais, fiscalizando-se sua efetivação. ... Art. 99. Os serviços públicos industriais, ainda que não organizados como empresa pública ou autárquica, manterão contabilidade especial para determinação dos custos, ingressos e resultados, sem prejuízo da escrituração patrimonial e financeira comum. Art. 100 As alterações da situação líquida patrimonial, que abrangem os resultados da execução orçamentária, bem como as variações independentes dessa execução e as superveniências e insubsistências ativas e passivas, constituirão elementos da conta patrimonial. Art. 104. A Demonstração das Variações Patrimoniais evidenciará as alterações verificadas no patrimônio, resultantes ou independentes da execução orçamentária, e indicará o resultado patrimonial do exercício. Art. 107. As entidades autárquicas ou paraestatais, inclusive de previdência social ou investidas de delegação para arrecadação de contribuições para-fiscais da União, dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal terão 17 seus orçamentos aprovados por decreto do Poder Executivo, salvo se disposição legal expressa determinar que o sejam pelo Poder Legislativo. Parágrafo único. Compreendem-se nesta disposição as empresas com autonomia financeira e administrativa cujo capital pertencer, integralmente, ao Poder Público. Art. 108. Os orçamentos das entidades referidas no artigo anterior vincular-se-ão ao orçamento da União, dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal, pela inclusão: I – como receita, salvo disposição legal em contrário, do saldo positivo previsto entre os totais das receitas e despesas; II – como subvenção econômica, na receita do orçamento da beneficiária, salvo disposição legal em contrário, do saldo negativo previsto entre os totais das receitas e despesas. § 1º Os investimentos ou inversões financeiras da União, dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal, realizados por intermédio das entidades aludidas no artigo anterior, serão classificados como receita de capital destas e despesa de transferência de capital daqueles. § 2º As previsões para depreciação serão computadas para efeito de apuração do saldo líquido das mencionadas entidades.” A seguir são apresentados os procedimentos de registro desses aspectos ligados à contabilidade patrimonial, num órgão público, incluindo os recomendados pela STN. Em regra geral, para incorporação dos procedimentos da contabilidade patrimonial à Contabilidade Pública são empregadas contas de variação patrimonial ativa e passiva extra orçamentárias. 5 - Receita Orçamentária X Receita Contábil De acordo com os art. 3º e 57 da Lei n. 4.320/64, toda receita arrecadada deve ser classificada (e contabilizada) como receita orçamentária, exceto as entradas compensatórias no ativo e no passivo financeiro. Esse é o denominado regime orçamentário de caixa, também estabelecido pelo art. 35 dessa mesmalei. A receita contábil é reconhecida seguindo o Princípio de Competência 18 estabelecido pelo CFC e pela Teoria Contábil, sendo em síntese identificada no momento da prestação de serviços ou da transferência da propriedade de bens a terceiros. Ou seja, a receita contábil envolve a incorporação de elementos ativos ou o desaparecimento de passivos. Em regra geral, para o reconhecimento de uma receita orçamentária é necessário apenas que haja arrecadação de recursos financeiros. Essas regras fazem com que algumas receitas orçamentárias sejam reconhecidas antes ou depois do reconhecimento da receita contábil. Em outros casos, pode haver coincidência entre o momento de reconhecimento da receita orçamentária e o da receita contábil. Essas explicações podem ser sintetizadas em três casos. No primeiro caso, há uma receita contábil que não é receita orçamentária: reconhecimento de créditos a receber decorrentes da prestação de serviços (faturamento de prestação de serviços). Quando há o fato gerador da receita contábil, mas ainda não houve recebimento de recursos financeiros (arrecadação). O registro contábil envolve apenas uma conta de variação patrimonial: D – Ativo Circulante (créditos a receber) C – Acréscimos Patrimoniais (variação ativa extra orçamentária) O segundo caso envolve uma receita contábil que também é receita orçamentária: prestação de serviços à vista (arrecadação da receita de prestação de serviços no mês). Quando no momento da arrecadação há também o fato gerador da receita contábil, o registro contábil requer apenas uma conta de variação patrimonial: D – Ativo Circulante (bancos ou caixa) C – Receita Orçamentária (variação ativa orçamentária) A terceira situação é a que envolve uma receita orçamentária que não é receita contábil: realização de operação de crédito externa de longo prazo. No momento do recebimento dos recursos financeiros não há fato gerador da receita contábil. A escrituração se dá com uso de duas contas de variação patrimonial: D – Ativo Circulante (bancos) C – Receita Orçamentária (variação ativa orçamentária) D – Mutação Passiva (variação passiva orçamentária) C – Passivo Exigível a Longo Prazo (dívida fundada) Deve-se ressaltar que há situações em que um embolso financeiro não é receita contábil e também não é receita orçamentária: recebimento de cauções em dinheiro em garantia de contratos. Não há o fato gerador da receita contábil. Mesmo havendo recebimento de recursos financeiros, não há receita 19 orçamentária em razão do que estabelece o parágrafo único do art. 3º da Lei n. 4.320/64, ao afirmar que não se considera receita orçamentária entradas compensatórias no ativo e no passivo financeiro. O lançamento contábil não envolve variação patrimonial, mas apenas contas financeiras de ativo e passivo circulante: D – Ativo Circulante (bancos) C – Passivo Circulante (depósitos de terceiros). 5.1 - Despesa Orçamentária X Despesa Contábil Uma despesa é considerada orçamentária quando depende de autorização na lei de orçamento ou em créditos adicionais para sua execução, que envolve empenho, liquidação e pagamento. Esse é o denominado regime orçamentário de competência estabelecido pelo art. 35 da Lei n. 4.320/64. A despesa contábil é reconhecida seguindo as melhores técnicas do regime de competência, de conformidade com o Princípio de Competência estabelecido pelo CFC e pela Teoria Contábil, sendo em síntese identificada no momento do consumo de ativos ou da incorporação de passivos. Para o reconhecimento de uma despesa orçamentária é necessário que haja a liquidação de empenhos, regra usada durante o exercício financeiro. No final do ano, empenhos não liquidados também podem ser registrados como despesa. Essas regras fazem com que algumas despesas orçamentárias sejam reconhecidas antes ou depois do reconhecimento da despesa contábil. Em outros casos pode haver coincidência entre o momento de reconhecimento da despesa orçamentária e o da despesa contábil. Podemos resumir as explicações em três situações. A primeira envolve uma despesa orçamentária que é despesa contábil: despesa de serviços de energia elétrica. No momento da liquidação do empenho há também o fato gerador da despesa contábil. O registro contábil requer apenas uma conta de variação patrimonial: D – Despesa Orçamentária (variação passiva orçamentária) 20 C – Passivo Circulante No segundo caso, há uma despesa contábil que não é despesa orçamentária: reconhecimento da depreciação. Há o fato gerador da despesa contábil, mas não há liquidação de empenhos. O registro contábil envolve apenas uma conta de variação patrimonial: D – Decréscimos Patrimoniais (variação passiva extra orçamentária) C – Ativo Permanente (depreciação acumulada) A terceira situação é a que envolve uma despesa orçamentária que não é despesa contábil: despesa de aquisição de bens permanentes. No momento da liquidação do empenho não há fato gerador da despesa contábil. A escrituração se dá com uso de duas contas de variação patrimonial: D – Despesa Orçamentária (variação passiva orçamentária) C – Passivo Circulante D – Ativo Permanente C – Mutação Ativa (variação ativa orçamentária) Ressalte-se que existem operações envolvendo desembolso financeiro que não é despesa contábil e também não é despesa orçamentária: devolução de cauções em dinheiro. Não há o fato gerador da despesa contábil, nem não há liquidação de empenhos. O lançamento contábil não envolve variação patrimonial, mas sim apenas contas financeiras de ativo e passivo circulante: D – Passivo Circulante (depósitos de terceiros) C – Ativo Circulante (bancos) 5.2 - EXERCÍCIO FINANCEIRO Na área empresarial, o período em que se ocorrem as transações comerciais, financeiras, industriais etc., é denominado de exercício social. Ele tem, geralmente, a duração de um ano, podendo ou não coincidir com o ano 21 calendário, de acordo com o que estabelece o art. 175 da Lei n. 6.404/76, cujo texto é transcrito a seguir: “Art. 175. O exercício social terá duração de 1 (um) ano e a data do término será fixada no estatuto. Parágrafo único. Na constituição da companhia e nos casos de alteração estatutária o exercício social poderá ter duração diversa.” Na Administração Pública, o período em que ocorrem as atividades orçamentárias delimita o período em que se desenvolvem as demais atividades: financeiras, patrimoniais e contábeis. No Brasil, esse período está definido no art. 34 da Lei n. 4.320/64, que estabelece: “O exercício financeiro coincidirá com o ano civil”. Sendo assim, o exercício financeiro começa em 1º de janeiro e encerra-se em 31 de dezembro de cada ano, fazendo com que haja compatibilidade com o princípio da anualidade orçamentária, de forma que possam ser elaborados demonstrativos simultâneos sobre a execução orçamentária, financeira e patrimonial em uma mesma data, que é o final de cada ano. Esse e outros aspectos típicos da Contabilidade Pública, os quais destacam a sua profunda inter-relação com o orçamento público leva alguns autores a afirmarem que a Contabilidade Pública é uma contabilidade orçamentária, pois muitos de seus procedimentos são orientados pelas normas e conceitos orçamentários. 6 - CAMPO DE APLICAÇÃO O campo de aplicação da Contabilidade Pública pode ser delimitado em função do que dispõe a Lei n. 4.320/64, por se tratar da norma responsável pela definição de procedimentos contábeis no Setor Público. Conforme preâmbulo da Lei n. 4.320/64 que diz: “Estatui normas gerais de Direito Financeiro para elaboração e controle dos orçamentos e balanços da União, dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal”, a Contabilidade Pública é aplicada nos três níveis de Governo: Federal, Estadual, Distrital e Municipal. 22 Em seu Título X, a Lei n. 4.320/64 trata das autarquiase outras entidades, compreendidas entre estas as com autonomia financeira e administrativa cujo capital pertença, integralmente, ao Poder Público. A leitura dos artigos 107 e 110 desse Título da Lei n. 4.320/64, a seguir transcritos, permite concluir que também faz parte do campo de aplicação da Contabilidade Pública as autarquias e as fundações: “Art. 107. As entidades autárquicas ou paraestatais, inclusive de previdência social ou investidas de delegação para arrecadação de contribuições para fiscais da União, dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal terão seus orçamentos aprovados por decreto do Poder Executivo, salvo se disposição legal expressa determinar que o sejam pelo Poder Legislativo. Parágrafo único. Compreendem-se nesta disposição as empresas com autonomia financeira e administrativa cujo capital pertencer, integralmente, ao Poder Público Art. 110. Os orçamentos e balanços das entidades já referidas, obedecerão aos padrões e normas instituídas por esta lei, ajustados às respectivas peculiaridades.” Dessa forma, com base na Lei n. 4.320/64, a estrutura da Administração Pública atendida pela Contabilidade é: a. Administração direta: – Governo Federal (Ministérios, Secretarias da Presidência da República e órgãos dos demais Poderes da União); – Governos Estadual/Distrital/Municipal (Secretarias de Governo e órgãos dos demais Poderes). b. Administração indireta: – Autarquias e fundações vinculadas aos três níveis de governo, enquanto fazem uso de recursos à conta do orçamento público (esferas fiscal e seguridade social). Alguns autores acrescentam a essa lista as empresas públicas e as sociedades de economia mista quando forem contempladas com recursos dos orçamentos fiscal e da seguridade social. Este é o caso do Prof. João Fortes que, em sua obra denominada Contabilidade Pública – Teoria e Prática, relaciona entre as entidades da administração indireta que usam as normas da Contabilidade Pública as sociedades de economia mista “sujeitas ao orçamento fiscal e da seguridade social”. Entretanto, Piscitelli, Rosa e Brum (1999, p.21) afirmam que as sociedades de economia mista e outras constituídas, segundo as normas de Direito Privado, praticam normalmente a Contabilidade Empresarial. Kohama (2003, p.47) e Silva (1996, p. 152) não incluem no campo de atuação da Contabilidade Pública as fundações e empresas públicas e, também, as sociedades de economia mista, limitando-se a citar as entidades de Direito Público Interno e respectivas autarquias. 23 Lima e Casto (2003, p. 14) expressam entendimento um pouco diferente dos estudiosos já citados, incluindo na área de atuação da Contabilidade Pública, além das pessoas jurídicas de Direito Público de âmbito Federal, Estadual e Municipal e suas correspondentes autarquias e fundações, as empresas públicas que “fizerem emprego de recursos públicos constantes dos orçamentos anuais.” Os autores também afirmam que as “entidades privadas que são financiadas por contribuições para fiscais, a exemplo das organizações do Sistema S (Sesi, Senai, Senac, Senar e similares)” fazem parte do campo de atuação da Contabilidade Pública. Não são mencionadas expressamente as sociedades de economia mista. Andrade (2002, p. 36) entende que a Contabilidade Pública é utilizada pelos três poderes, tanto na administração direta, quanto na administração indireta, ressalvando as empresas públicas e sociedades de economia mista que, “por suas características especificamente comerciais, empregam o que determina a Lei n. 6.404/76”. Slomsky (2003, p. 28) também se limita a relacionar no campo de atuação da Contabilidade Pública “as pessoas jurídicas de Direito Público Interno – União, Estados, Distrito Federal, Municípios, seus fundos, suas autarquias e suas fundações.” É evidente a ausência de consenso em relação ao rol de entidades da administração indireta que fazem parte do campo de atuação da Contabilidade Pública. O entendimento básico é no sentido de que as regras da Lei n. 4.320/64 atingem as autarquias e as fundações públicas. No tocante à situação das empresas públicas e das sociedades de economia mista, deve-se fazer referência aos artigos 2º e 50 da Lei de Responsabilidade Fiscal - LRF. No art. 2º a LRF estabelece o conceito de empresa estatal dependente, conforme a seguir transcrito: “Art. 2º Para os efeitos desta Lei Complementar, entende-se como: .... III - empresa estatal dependente: empresa controlada que receba do ente controlador recursos financeiros para pagamento de despesas com pessoal ou de custeio em geral ou de capital, excluídos, no último caso, aqueles provenientes de aumento de participação acionária; ...” No caput e inciso III do art. 50, a LRF dispõe sobre a obrigatoriedade de atendimento de normas de Contabilidade Pública por parte das empresas estatais dependentes, conforme se observa pela leitura dos trechos destacados a seguir: “Art. 50. Além de obedecer às demais normas de contabilidade pública, a escrituração das contas 24 públicas observará as seguintes: I - a disponibilidade de caixa constará de registro próprio, de modo que os recursos vinculados a órgão, fundo ou despesa obrigatória fiquem identificados e escriturados de forma individualizada; II - a despesa e a assunção de compromisso serão registradas segundo o regime de competência, apurando-se, em caráter complementar, o resultado dos fluxos financeiros pelo regime de caixa; III - as demonstrações contábeis compreenderão, isolada e conjuntamente, as transações e operações de cada órgão, fundo ou entidade da administração direta, autárquica e fundacional, inclusive empresa estatal dependente; ...” Dessa forma, o campo de atuação da Contabilidade Pública pode contemplar também as empresas públicas e as sociedades de economia mista que estão na condição de empresa estatal dependente. Além disso, anualmente, a lei de diretrizes orçamentárias da União, dispondo sobre a abrangência dos orçamentos fiscal e da seguridade social, reforça esse entendimento de modo indireto ao estabelecer que a execução orçamentária e financeira da receita e da despesa das entidades contempladas com dotação nos orçamentos fiscal e da seguridade social, deve ser registrada na modalidade “total” no Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal – SIAFI, que é o sistema utilizado pela Contabilidade Pública Federal, conforme pode-se entender pela interpretação do texto do caput do art. 6º da Lei n. 11.768/2008 (LDO para 2009), a seguir transcrito: “Art. 6º. Os orçamentos fiscal e da seguridade social compreenderão a programação dos Poderes da União, seus fundos, órgãos, autarquias, inclusive especiais, e fundações instituídas e mantidas pelo Poder Público, bem como das empresas públicas, sociedades de economia mista e demais entidades em que a União, direta ou indiretamente, detenha a maioria do capital social com direito a voto e que dela recebam recursos do Tesouro Nacional, devendo a correspondente execução orçamentária e financeira, da receita e da despesa, ser registrada na modalidade total no Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal – SIAFI” Há normas da Secretaria do Tesouro Nacional que disciplinam procedimentos para registro das receitas e despesas das empresas estatais dependentes. A principal norma, que é de aplicação obrigatória no âmbito de todos os entes públicos das três esferas (federal, estadual e municipal), é a Portaria n. 589/01 que, no parágrafo único de seu art. 4º, obriga as empresas estatais dependentes à adoção de toda legislação aplicável às demais entidades 25 constantes do orçamento fiscal e da seguridade social, conforme se observa no trecho a seguir: “Art. 4º Os orçamentos fiscal e da seguridade social de cada ente da Federação compreenderão a programação dos poderes, órgãos, autarquias e fundações instituídase mantidas pelo Poder Público, empresas estatais dependentes e demais entidades em que o ente, direta ou indiretamente, detenha a maioria do capital social com direito a voto e que dele recebam recursos nos termos desta portaria. Parágrafo único. A partir do exercício de 2003, as empresas estatais dependentes, de que trata esta portaria e para efeitos da consolidação nacional das contas públicas, deverão ser incluídas nos orçamentos fiscal e da seguridade social observando toda a legislação pertinente aplicável às demais entidades.” É evidente que as empresas estatais dependentes, por exercerem atividades de economia privada, seguem as normas referentes à Contabilidade Empresarial, ou seja, a Lei n. 6.404/76, sendo esta considerada sua principal norma. Elas não se tornam imunes a impostos pela simples condição de dependência financeira do Poder Público, devendo elaborar demonstrativos específicos destinados à apuração do resultado do exercício. Porém, também devem observância às normas da Lei n. 4.320/64 e outras pertinentes à área pública, inserindo-as no campo de atuação da Contabilidade Pública, conforme se depreende da leitura das normas já mencionadas. Ressalte-se que as normas da Lei n. 6.404/76 são adotadas também pelas entidades públicas, naquilo que a legislação específica for omissa. A convivência simultânea e de modo harmonioso de normas tão díspares é, obviamente, um problema que cabe à Ciência Contábil resolver por meio do desenvolvimento de técnicas avançadas que possibilitem envolver num único ambiente misto a Contabilidade Pública e a Contabilidade Empresarial. Com a edição da Lei n. 11.107/2005 que dispõe sobre normas gerais de contratação de consórcios públicos, mais uma entidade da administração indireta está sujeita às regras da Contabilidade Pública, conforme trechos a seguir transcritos: “Art. 9º A execução das receitas e despesas do consórcio público deverá obedecer às normas de direito financeiro aplicáveis às entidades públicas. Parágrafo único. O consórcio público está sujeito à fiscalização contábil, operacional e patrimonial pelo Tribunal de Contas competente para apreciar as 26 contas do Chefe do Poder Executivo representante legal do consórcio, inclusive quanto à legalidade, legitimidade e economicidade das despesas, atos, contratos e renúncia de receitas, sem prejuízo do controle externo a ser exercido em razão de cada um dos contratos de rateio. Art. 20. O Poder Executivo da União regulamentará o disposto nesta Lei, inclusive as normas gerais de contabilidade pública que serão observadas pelos consórcios públicos para que sua gestão financeira e orçamentária se realize na conformidade dos pressupostos da responsabilidade fiscal.” Com a edição das NBCASP, o campo de aplicação da Contabilidade Pública passou a ser regulamentado de modo mais específico. A Resolução do CFC n. 1.128/2008 é atualmente a norma responsável pela definição do universo de entidades que estão abrangidas no campo da Contabilidade Pública. A norma se manifesta em seus trechos mais importantes: “O campo de aplicação da Contabilidade Aplicada ao Setor Público abrange todas as entidades do setor público. As entidades abrangidas pelo campo de aplicação devem observar as normas e as técnicas próprias da Contabilidade Aplicada ao Setor Público, considerando-se o seguinte escopo: (a) integralmente, as entidades governamentais, os serviços sociais e os conselhos profissionais; (b) parcialmente, as demais entidades do setor público, para garantir procedimentos sufi cientes de prestação de contas e instrumentalização do controle social.” Para compreender esse escopo é importante conhecer o conceito de entidade do setor público, o qual consta na própria Resolução do CFC: “Entidade do Setor Público: órgãos, fundos e pessoas jurídicas de direito público ou que, possuindo personalidade jurídica de direito privado, recebam, guardem, movimentem, gerenciem ou apliquem recursos públicos, na execução de suas atividades. Equiparam-se, para efeito contábil, as pessoas físicas que recebam subvenção, benefício, ou incentivo, fiscal ou creditício, de órgão público.” A intenção da norma é ampliar o campo em que atua a Contabilidade Pública e sua interpretação permite concluir que devem aplicar integralmente as regras da Contabilidade Pública às entidades do setor público que se enquadrem como: – unidades da administração direta (casas legislativas, tribunais, ministérios, secretarias de governo etc.); – unidades da administração indireta (autarquias, fundações e empresas estatais dependentes); – serviços sociais, 27 tais como SENAC, SENAI, SESI etc.; e – conselhos profissionais, tais como: CFC, OAB, CRM, CREA etc. Aplicam parcialmente as regras da Contabilidade Pública às demais entidades que “recebam, guardem, movimentem, gerenciem ou apliquem recursos públicos, na execução de suas atividades”, especialmente para fins de prestação de contas. Por conta dessa regra, uma entidade beneficente deve empregar técnicas contábeis públicas para prestar contas do uso de recursos públicos, por meio da elaboração de balanço financeiro e patrimonial, por exemplo. A regra também se aplica ao caso de uma pessoa física que use recursos públicos no desenvolvimento de pesquisas científicas. Ressalte-se que ainda não está definido o alcance da expressão “aplicar parcialmente as regras da Contabilidade Pública”, fato que deve ser objeto de orientação por parte dos órgãos oficiais. Assim a aplicabilidade da Contabilidade Pública deve garantir a lisura das contas e a clareza e transparência da sua demonstração. Os balancetes e inventários patrimoniais também fazem parte desse escopo devendo esses constarem de sua periodicidade de divulgação em órgãos da imprensa oficial e publicações afins. 28 Referência Bibliográfica KOHAMA, Helio. Contabilidade Pública. Teoria e prática. 8.ªedição. São Paulo: Atlas, 2001 ANGÉLICO, João. Contabilidade Pública. 8ª edição. São Paulo: Atlas, 1995. GIACOMONI, James. Orçamento Público. 5.ª Edição. Sâo Paulo: Atlas, 1994 JUND, Sergio. Administração, Orçamento e Contabilidade Pública.Rio de Janeiro, Elsevier, 2006.