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2018 Mecânica i Prof. Rudiney Hoffmann Casali Copyright © UNIASSELVI 2018 Elaboração: Prof. Rudiney Hoffmann Casali Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. C334m Casali, Rudiney Hoffmann Mecânica I. / Rudiney Hoffmann Casali – Indaial: UNIASSELVI, 2018. 195 p.; il. ISBN 978-85-515-0177-1 1. Mecânica – Brasil. II. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. CDD 531 III apresentação Caro acadêmico! Seja bem-vindo ao mundo da mecânica, uma extensa área de conhecimento da física clássica. Você entrará em contato com a teoria que fundamenta o estudo de um dos fenômenos que permeia o universo em que vivemos e que fascinou o homem ainda nos primórdios de nossa sociedade, o movimento dos corpos no espaço. O movimento dos corpos sempre despertou o interesse dos pensadores, o trânsito de corpos celestes, o deslocamento de partículas subatômicas ou o próprio conceito de temperatura, derivado do movimento das moléculas que compõem um corpo, sempre manteve ocupadas as mentes dos maiores filósofos e cientistas da história. Por isso, estudaremos, aqui, não apenas a descrição do movimento dos corpos, mas também suas origens e as consequências que dele decorrem. Focaremos o mundo macroscópico, aquele que nos rodeia e primeiro ambiente espacial explorado pelo pensamento científico humano. Iniciaremos nossa jornada pelo estabelecimento dos conceitos mais primários para a descrição do deslocamento dos corpos, as grandezas físicas e suas unidades de medida serão nossa primeira parada. Focaremos especificamente os conceitos de posição, tempo e massa, sem os quais seria impossível iniciar nossos estudos. Revisaremos a geometria analítica, focando os pontos de maior interesse. Aqui tentaremos esclarecer e reforçar as relações entre matemática e física. Isso será importante, pois é fundamental que você seja capaz de conectar essas duas áreas. A matemática nos fornecerá as ferramentas de descrição de mundo e a física se encarregará de delinear as condições de contorno para aplicação das equações matemáticas. Agora sim, munidos dos conceitos básicos, podemos iniciar o estudo da cinemática dos corpos, o campo da física que descreve o movimento, sem se preocupar muito com sua causa. Vamos estudar o movimento da velocidade constante e da inconstante também. Aqui você também perceberá nosso esforço em manter evidente as influências do cálculo, geometria analítica e álgebra linear, disciplinas com as quais você terá contato e cujas propriedades serão essenciais para entendermos, por exemplo, como calcular um deslocamento no espaço. Ou como encontrar a função horária da posição e do tempo. Você reconhecerá as relações entre o movimento retilíneo uniforme e o uniformemente variado. Estudaremos também um pouco o movimento circular, alguns rodopios apenas. Vamos definir as bases para a discussão da cinemática aplicada ao movimento circular, acelerado ou não. A seguir debateremos a origem do movimento, vamos discutir as leis de Newton e suas consequências. Da noção de alteração de estado de movimento, passando pela aceleração dos corpos, as leis de ação e reação e a definição matemática propriamente dita para a força que atua em um corpo, alterando seu estado de movimento. Com esse espírito vamos conhecer IV algumas das manifestações de força mais comuns em nosso cotidiano. Essa ideia de associar a física ao cotidiano do leitor, seja lembrando-o o que conhece, mesmo que intuitivamente, as propriedades e características de muitos fenômenos que discutiremos aqui. E assim iremos até o fim da segunda unidade, transitando da gravitação, para as forças de contato mais familiares e também algumas não tão familiares assim. Falaremos tanto das forças normais, como o peso e sua contrapartida sobre qualquer superfície, a força normal. Falaremos também de forças reparadoras e resistivas. Então faremos uma breve explanação pelas forças eletromagnéticas, tão importantes no desenvolvimento tecnológico que alcançamos, finalizando com uma também sintética discussão do âmbito nuclear. No fim, mas não menos importante, discutiremos o que alimenta o movimento, a energia mecânica, a conservação desta e todo o sistema colocado em movimento, com corpos colidindo na linha, no plano ou no espaço, atuando uns sobre os outros, conservando energia mecânica e momento linear. Falaremos do trabalho realizado por uma força ao longo de um deslocamento. Do impacto das forças conservativas na descrição de sistemas. E das colisões entre corpos em movimentos e seus desdobramentos. Esta será uma longa jornada e espero aguçar sua curiosidade, incentivando-o a fazer pesquisas em trabalhos de ensino e pesquisa por nós sugeridas. Você será encorajado a propor discussões, aprender com ideias novas e inspirado a propor suas próprias ideias para o melhoramento da educação tão próxima de você, como um personagem atuante do ensino, mas também em níveis geograficamente mais abrangentes, principalmente como um incentivador da curiosidade científica e amor pelo conhecimento. É um trabalho bastante complexo compartilhar ideias ainda desconhecidas para muitos. Isto requer dedicação e compromisso. Para essa obra mantivemos em mente a intensão de conectar, sempre que possível, a física e sua fiel companheira, a matemática. Em muitos trechos do texto, você se deparará com comentários e referências a áreas da matemática de nosso interesse e que se fazem presentes na descrição de cada um dos fenômenos da natureza aos quais vamos nos ater. A física ocorre quando a matemática encontra o mundo lá fora, sejam as escalas muito pequenas ou muito grandes, lá estarão ambas. Assim como a gramática encerra o conjunto de regras de uma língua, a matemática encerra o conjunto de regras que utilizamos para descrever o mundo através da física. Se você é um amante da física, deve também nutrir apreço pela matemática. Também foi de nosso interesse realizar conexões relevantes entre os assuntos abordados nesta obra e trabalhos de ensino e divulgação científica publicados em revistas nacionais de relevância para o ensino de física. Esse é um livro voltado para estudantes de licenciatura em física, futuros professores, de modo que nos pareceu importante, durante toda a realização deste livro, trazer referências relevantes para o aperfeiçoamento da profissão que você estudante desempenhará no futuro. Por isso recomendamos ao V Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiaisimpressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA leitor que faça as leituras sugeridas, pois elas trarão boas ideias e interessantes insights para o ensino de física em nível médio. Como método de produção desse trabalho tentamos focar nossa atenção à fenomenologia, explorando nossa visão dos fenômenos. Tentamos escrever tudo aquilo que achamos que nossos professores deveriam ter-nos dito, e talvez não o tenham feito. É uma tarefa complicada estar do outro lado da capa, mas encaramos o desafio de escrever sobre física com honestidade e dedicação. Não importa onde estejamos, somos sempre estudantes. Esperamos poder instigar no leitor, pelo menos um pouco, o mesmo tipo de curiosidade e admiração pelo mundo que sentimos desde os tempos de nossas primeiras primaveras e que também sentimos ao escrever esta obra. Tentamos por isso conservar o ponto de vista do estudante, que há pouco, ou há muito, deixou a escola, mas que tem curiosidade em descobrir e gosto pelo aprendizado. Convidamo-lo, então, para esta experiência! Prof. Rudiney Hoffmann Casali VI Olá acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você e dinamizar ainda mais os seus estudos, a Uniasselvi disponibiliza materiais que possuem o código QR Code, que é um código que permite que você acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. Para utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar mais essa facilidade para aprimorar seus estudos! UNI VII VIII IX UNIDADE 1 – CINEMÁTICA ............................................................................................................... 1 TÓPICO 1– INTRODUÇÃO À FÍSICA ............................................................................................... 3 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 3 2 INTRODUÇÃO À FÍSICA .................................................................................................................. 4 3 GRANDEZAS FÍSICAS ...................................................................................................................... 8 4 SISTEMAS DE UNIDADES DE MEDIDA ..................................................................................... 11 5 VETORES E OPERAÇÕES COM VETORES ................................................................................. 16 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 23 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 24 TÓPICO 2 – CINEMÁTICA UNIDIMENSIONAL ........................................................................... 27 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 27 2 VELOCIDADE MÉDIA E INSTANTÂNEA ................................................................................... 27 3 VELOCIDADE MÉDIA DOS CORPOS .......................................................................................... 28 4 MOVIMENTO RETILÍNEO UNIFORME (MRU) .......................................................................... 29 5 ACELERAÇÃO MÉDIA E INSTANTÂNEA ................................................................................... 31 6 MOVIMENTO RETILÍNEO UNIFORMEMENTE VARIADO (MRUV) ................................... 32 7 QUEDA LIVRE ..................................................................................................................................... 35 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 38 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 39 TÓPICO 3 – CINEMÁTICA BIDIMENSIONAL E TRIDIMENSIONAL .................................... 41 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 41 2 DESCRIÇÃO GEOMÉTRICA ............................................................................................................ 41 3 LANÇAMENTO OBLÍQUO ............................................................................................................... 43 4 MOVIMENTO CIRCULAR UNIFORME (MCU) .......................................................................... 50 5 ACELERAÇÃO TANGENCIAL E RADIAL .................................................................................... 54 6 MOVIMENTO CIRCULAR UNIFORMEMENTE VARIADO (MCUV) .................................... 55 7 MOVIMENTO RELATIVO ................................................................................................................ 59 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 62 RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 71 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 72 UNIDADE 2 – DINÂMICA ................................................................................................................... 75 TÓPICO 1 – DINÂMICA E SEUS PRINCÍPIOS ............................................................................... 77 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 77 2 A MECÂNICA NEWTONIANA ........................................................................................................ 78 3 EQUILÍBRIO DE FORÇAS ................................................................................................................ 82 4 PRINCÍPIO DA INÉRCIA ................................................................................................................ 83 5 LEIS DE NEWTON .............................................................................................................................. 83 5.1 1ª LEI DE NEWTON ....................................................................................................................... 83 5.2 2ª LEI DE NEWTON ....................................................................................................................... 84 5.3 3ª LEI DE NEWTON ....................................................................................................................... 84 suMário X 6 LEIS DE CONSERVAÇÃO ................................................................................................................. 86 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 89 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 90 TÓPICO 2 – APLICAÇÕES DO CONCEITO DE FORÇA ............................................................... 93 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 93 2 O DIAGRAMA DE FORÇAS ............................................................................................................ 93 3 FORÇA GRAVITACIONAL ..............................................................................................................96 4 FORÇA PESO .....................................................................................................................................101 5 FORÇA NORMAL .............................................................................................................................103 6 FORÇA DE ATRITO ..........................................................................................................................104 7 FORÇAS RESISTIVAS E DE ARRASTO ......................................................................................108 8 FORÇA REPARADORA ...................................................................................................................114 9 FORÇA DE EMPUXO .......................................................................................................................118 10 FORÇAS ELÉTRICA, MAGNÉTICA E ELETROMAGNÉTICA ............................................121 11 FORÇAS DE INTERAÇÃO NUCLEAR .......................................................................................125 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................127 RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................131 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................132 UNIDADE 3 – APLICAÇÕES DA DINÂMICA .............................................................................. 137 TÓPICO 1 – ENERGIA MECÂNICA, CONSERVAÇÃO DA ENERGIA MECÂNICA E TRABALHO .................................................................................................................... 139 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 139 2 ENERGIA MECÂNICA E CONSERVAÇÃO DA ENERGIA MECÂNICA ........................... 139 3 TRABALHO REALIZADO POR UMA FORÇA ......................................................................... 147 3.1 TEOREMA TRABALHO-ENERGIA .......................................................................................... 152 3.2 POTÊNCIA ................................................................................................................................... 154 RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 156 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 157 TÓPICO 2 – CONSERVAÇÃO DE ENERGIA .................................................................................159 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................159 2 FORÇAS CONSERVATIVAS............................................................................................................159 3 CONSERVAÇÃO DA ENERGIA MECÂNICA ...........................................................................163 4 FORÇAS NÃO CONSERVATIVAS ................................................................................................164 RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................166 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................167 TÓPICO 3 – MOMENTO LINEAR, CONSERVAÇÃO DO MOMENTO LINEAR E ESTUDO DAS COLISÕES...........................................................................................169 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................169 2 MOMENTO LINEAR DE UM CORPO .........................................................................................169 3 CONSERVAÇÃO DO MOMENTO LINEAR ...............................................................................171 4 SISTEMA DE PARTÍCULAS E CENTRO DE MASSA ..............................................................172 5 FORÇA E IMPULSO .........................................................................................................................177 6 COLISÕES ELÁSTICAS, TOTALMENTE ELÁSTICAS E INELÁSTICAS ...........................182 7 COLISÕES EM DUAS OU MAIS DIMENSÕES ........................................................................185 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................187 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................189 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................191 REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................193 1 UNIDADE 1 CINEMÁTICA OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo dessa unidade, você deverá ser capaz de: • introduzir o leitor ao mundo da física; • introduzir o conceito de grandezas; • debater a importância dos sistemas de unidades de medida; • descrever o movimento dos corpos; • conceituar grandezas fundamentais da cinemática; • definir vetores de posição, velocidade e aceleração; • investigar o movimento em 1,2 e 3D; • introduzir a noção de relatividade de sistemas de referência, movimento relativo; • explanar sobre as analogias com o movimento circular. Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.. TÓPICO 1 – INTRODUÇÃO À FÍSICA TÓPICO 2 – CINEMÁTICA UNIDIMENSIONAL TÓPICO 3 – CINEMÁTICA BIDIMENSIONAL E TRIDIMENSIONAL 2 3 TÓPICO 1 UNIDADE 1 INTRODUÇÃO À FÍSICA 1 INTRODUÇÃO Começamos aqui nossa trajetória pelo pensamento clássico do movimento. Esta unidade foi dividida em três tópicos. No primeiro deles nos debruçaremos sobre a física em seu caráter mais introdutório. Definiremos alguns conceitos fundamentais para a leitura daqui em diante. Começaremos com as grandezas físicas, seu conceito e variedade. Discutiremos uma forma de medir tais grandezas, com sistemas de unidades de medida, muito importantes para a quantificação do mundo. Trataremos também de sua descrição, revisando brevemente alguns conceitos espaciais importantes, vetores serão recorrentes. Depois disso, podemos então iniciar a discussão da cinemática. Definiremos a posição de um corpo no espaço e, considerando o tempo que leva para uma determinada variação em sua posição, definiremos a velocidade. Assim completamos a discussão sobre o movimento retilíneo uniforme. Ao estudarmos também o tempo que a velocidade de um corpo no espaço leva em duas configurações, inicial e final, definiremos a aceleração e o movimento retilíneo uniformemente variado. Por fim trataremos a queda livre dos corpos. Tratamos com mais atenção a cinemática unidimensional, você verá que a descrição do movimento no plano ou no espaço é, de uma certa forma, uma repetição daquela unidimensional. De certa forma, pois assim como tratamos o movimento retilíneo em três dimensões, taramos também o movimento circular uniforme e o movimento circular uniformemente variado. Você verá que para o movimento circular, o plano é o limite inferior em dimensões. Falamos ainda sobre o movimento relativo entre corpos em diferentes referenciais. Mãos à obra! Vamos começar realizando uma breve biografia de um dos mais importantes expoentes das ciências e grande influenciador da forma como vemos o mundo e descrevemos o movimento dos corpos GalileuGalilei. UNIDADE 1 | CINEMÁTICA 4 2 INTRODUÇÃO À FÍSICA Observando o mundo a nossa volta, podemos perceber que as revoluções científicas e tecnológicas têm nos presenteado com diversos dispositivos que facilitam nossa vida e nossa interação com o mundo e com as pessoas. É de grande valor, portanto, tornarmos cientes do funcionamento de tais tecnologias e conhecimentos científicos. A intenção desse livro é a de apresentar as bases científicas sobre as quais tais desenvolvimentos vêm se alicerçando. Vamos discutir tópicos em física, com algumas aplicações às tecnologias do cotidiano, focando nos fenômenos naturais e como esses permeiam a nossa vida diária. Para isso tentaremos descrever minuciosamente os conceitos apresentados. Os detalhes serão importantes, por isso não julgue como entediante uma passagem mais detalhada, abra sua mente para essa discussão em conjunto. Tentaremos também aproximar a física de sua ferramenta de trabalho, a matemática. É importante que você seja capaz de conectar aquilo que aprenderá nas disciplinas de matemática, especialmente a de cálculo, com sua aplicação à física, os momentos em que uma encontra a outra. Sempre que conveniente, você encontrará alguns apontamentos da conexão de alguma equação que descreve um fenômeno físico, e sua correspondente classificação no campo da matemática. Discutiremos tanto a interpretação física de tais equações, quanto sua sintaxe matemática. A matemática é uma linguagem e como ferramenta da física, campo que tenta descrever a natureza, deve ser aprendida, entendida e discutida. Toda a abordagem desenvolvida nesse livro se baseará em três concepções filosóficas, e também nas combinações entre elas. Essas concepções filosóficas são a de espaço, tempo e massa, três conceitos fundamentais para a construção tanto da mecânica clássica de Isaac Newton, objeto desse livro de estudos, quanto da mecânica relativística de Albert Einstein – vale ressaltar que, devido às baixas velocidades e às pequenas massas envolvidas, a mecânica de Newton pode ser vista como um caso particular daquela de Einstein. Trataremos dessas três concepções filosóficas (espaço, tempo e massa) mais adiante no texto, em um momento mais adequado, em que tentaremos construir definições claras para todas elas. Antes disso vamos conhecer, brevemente, a história de um dos maiores precursores das ciências naturais, com seu empirismo e visão de mundo Galileu Galilei (1564-1642) mudou a forma de se fazer ciência e influenciou muitos pensadores que o sucederam. Nascido em Pisa, na Itália, em 1564, Galileu Galilei é filho de Vincenzio Galilei, músico e comerciante e de Giulia Ammannati, mudou-se para Florença ainda pequeno onde foi educado no colégio do convento jesuíta, de onde saiu um noviço, ainda com 15 anos de idade, a chamado do pai. Foi admitido na Universidade de Pisa em 1581, com o intuito de estudar medicina, mas em 1585 abandonou o curso, com interesses voltados para a matemática, e retornou à Florença para lecionar. Mais tarde, em 1592, após a morte do pai, mudou-se para Pádua, também para lecionar (GENTILE, G. e TUMMINELLI, C. Istituto Giovanni Treccani, Rome, 1935). Teve uma relação com Marina Gabba e muitos filhos, não exatamente legítimos. TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO À FÍSICA 5 FIGURA 1 – GALILEU GALILEI, POR JUSTUS SUSTERMANS 1636 FONTE: Disponível em: <goo.gl/dGkJgt>. Acesso em: 9 mar. 2018. Galilei estará para sempre marcado na história como uma das mais brilhantes mentes de todos os tempos, seu trabalho inspirou o estudo de diversos campos das ciências naturais, da astronomia à mecânica. Embora haja discussões sobre a autenticidade de sua autoria, como o inventor do objeto, Galileu foi um dos primeiros pensadores a apontar um telescópio para o céu e trazer observações a respeito da topologia lunar, das manchas solares e do movimento de Vênus, entre muitos outros. Galilei foi um dos pioneiros do heliocentrismo e quase foi queimado na fogueira, pela inquisição romana. Na Figura 1 ele é retratado por Justus Sustermans, um pintor barroco Belga, nascido na Antuérpia no fim do século XVI. FIGURA 2 – ALLA PRESENZA DEL GRANDUCA GALILEO EFFETTUA L’ESPERIMENTO DELLA CADUTA DEI GRAVI DALLA TORRE DI PISA, POR LUIGI CATANI 1816 FONTE: Disponível em: <goo.gl/itPjYx>. Acesso em: 9 mar. 2018. UNIDADE 1 | CINEMÁTICA 6 Mas não apenas à mecânica celeste ficam restritos os trabalhos e os resultados de Galilei, a ele também devemos muitos desenvolvimentos em outro tipo de mecânica, a clássica. Veremos que ele foi um dos precursores do estudo do movimento dos corpos aqui na Terra, em nosso cotidiano. Talvez a mais interessante de suas ideias foi aquela que afirmava que corpos caem com velocidade independente de sua massa. É preciso notar que até o momento contemporâneo a Galilei, a associação da massa ou peso dos corpos, mesmo que esses ainda fossem conceitos teoricamente recentes, à velocidade com que cairiam de uma determinada altura era muito impregnado no senso comum. Até hoje esta não é uma prática incomum. Sua experiência de lançamento de dois objetos, um claramente mais leve que o outro, do alto torre de Pisa, verídica ou mítica, adicionou didática ao conceito que a permeia. Uma representação dele pode ser vista no quadro da Figura 2, pintada por Luigi Catani (1762-1840), um italiano nascido em Florença, e hoje exposto no Museo Galileo, na mesma cidade. Na pintura Galilei observa de longe a queda de dois objetos, provavelmente rochas de diferentes tamanhos e massas. Com o auxílio de um prumo rudimentar ele compara as linhas de queda dos objetos, além de detectar a aparente inclinação da torre. Hoje em dia o experimento já foi realizado, inclusive em gigantescas câmaras de vácuo, e mostrou-se factível e fidedigno à teoria proposta. Galilei não se destacou apenas por seu trabalho, ele obteve seu acesso à prosperidade também por como realizava seu trabalho. Foi um dos primeiros a desenvolver e adotar o método científico, ou o mais próximo disso que podia em seu tempo. A matematização das teorias que explicavam os fenômenos naturais, indiscutivelmente, pavimentou o trajeto que a física clássica e a física moderna percorreram até aqui. E focar nessa estratégia é um dos objetos desta obra, ajudá-lo a perceber essas relações entre a física e a língua que escolhemos para representá-la. Em seu livro De Motu Antiquiora, "Antigos escritos sobre o movimento" em uma tradução livre, publicado em 1687, Galilei aborda o movimento e apresenta um raciocínio que vai de encontro com o pensamento aristotélico regente na época. Para Aristóteles o movimento de um objeto só se dá mediante a constante ação de um ímpetus externo ao próprio objeto. Sugerimos aqui a leitura do trabalho intitulado “A complexidade do movimento local na Física aristotélica”, publicado na Revista Brasileira de Ensino de Física. Disponível em: <https://goo.gl/4yTpCV, de novembro de 2012 (CAMPOS, A.; RICARDO, 2012), para um entendimento mais amplo, mas breve, da visão de mundo desse grande pensador grego. DICAS TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO À FÍSICA 7 Com a superioridade tecnológica de seu tempo, frente o contexto do período de Aristóteles, Galilei observava seu mundo, e deve ter notado alguns dos efeitos mais práticos, dos fenômenos com os quais ambos os pensadores se depararam. Possivelmente as armas de guerra deram pistas a Galilei, como os canhões de guerra. Foi influenciado pelas observações que fez de um projétil de canhão lançado que ele escreveu uma, ainda rústica, equação que descrevia seu movimento. Galilei foi um dos primeiros a ver na matemática a linguagem ideal para decodificar e descrever a natureza. E isso com certeza vale uma posição na história. Em Siderus Nunicus, algo como o Mensageiro Sideral, ele divulga algumas conclusões de suas observações astronômicas, ainda em 1610. E ele concluiu que elas confirmavam o modelo de Nicolau Copérnico (1473-1543), que colocava o Sol no centro da órbitados planetas. O problema residia em um decreto "promulgado" pela igreja, que proibia o debate do heliocentrismo ou modelos do tipo. Embora tenha causado uma situação embaraçosa, frente à igreja, Galilei não foi acusado de "heresia", mas mesmo assim voltou atrás em suas afirmações a respeito da posição do Sol no espaço e escapou de uma "punição" severa, imposta pela igreja. Sua produção científica continuou por toda a vida, em 1612 ele publicou um trabalho pomposamente intitulado de Discorso intorno alle cose che stanno in su l’acqua o che in quella si muovono, endereçado ao gran-duque da Toscana, Cosimo II. O trabalho ficou conhecido como "Discurso sobre os corpos flutuantes" e nele Galilei estabelece suas teorias sobre a hidrostática. Em Dialogo di Galileo Galilei sopra i due Massimi Sistemi del Mondo Tolemaico e Copernicano, ou "Diálogo sobre os dois principais sistemas do mundo", publicado em 1632 ele publica contundentes referências ao heliocentrismo e acaba preso em Roma, até que uma audiência com o Papa Urbano VIII fosse marcada. Suas transgressões à imposição geocêntrica foram a fonte de seu problema. Já no fim da vida, escreveu, em 1638, Discorsi e Dimostrazioni Matematiche Intorno a Due Nuove Scienze, ou "Discurso sobre duas novas ciências", em que discutia suas ideias acerca da mecânica. Morreu cego, em 1643, na cidade de Arcetri, na Toscana. Foram muitas realizações na vida de Galilei, ela foi muito produtiva para a ciência, para um aprofundamento em sua história e na história de muitos outros cientistas da história. Sugerimos a leitura do livro intitulado “Os 100 Maiores Cientistas da História: uma classificação dos cientistas mais influentes do passado e do presente”. (SIMMONS, J. C. 2002). Um compêndio de breves biografias que podem chamar sua atenção. DICAS UNIDADE 1 | CINEMÁTICA 8 Galilei não só mudou o curso da metodologia de produção de conhecimento, mas também mostrou que para conhecer melhor a física e interpretar com mais rigor a natureza, você deve conhecer a matemática e sua relação com a física e os fenômenos naturais; deve conhecer a ferramenta com que trabalha para descrever o mundo para seus alunos. É importante que você não só se preocupe em conhecer a matemática, mas também como conectá-la à física de forma clara e despretensiosa. Deduza as expressões e discuta seus significados físicos, quando aplicamos tais equações ao mundo a nossa volta. Vamos agora seguir e discutir algo de cunho mais técnico e menos histórico. Falaremos a respeito de um dos conceitos mais primordiais e fundamentais para o entendimento de qualquer conteúdo físico. Discutiremos a seguir as grandezas físicas, suas unidades de medidas e um pouco de revisão matemática da geometria. 3 GRANDEZAS FÍSICAS Uma vez que a física trata de fenômenos naturais e do estudo de como tais fenômenos ocorrem, é necessário também definir aquilo que chamaremos de grandezas físicas. Aqui, essas grandezas serão as quantidades que pretendemos quantificar. Você vai perceber que dois conceitos andarão de mãos dadas daqui em diante: o primeiro é o próprio conceito de grandezas físicas e o segundo o de unidades de medidas. Embora talvez você ainda não tenha tido contado com uma formalização do tema, perceba que já faz uso desses conceitos desde que nasceu, por exemplo, a posição de uma bola de tênis, arremessada no espaço, a velocidade com que ela se move e sua aceleração são grandezas físicas e cada uma delas é mensurada através de uma unidade de medida particular. A simples atuação, durante uma brincadeira escolar na infância ou durante uma prática esportiva no fim de semana já nos mune do senso comum a respeito do tema. Entretanto, todos esses conceitos serão abordados com calma e aprofundamento mais adiante, mas você já os conhece há muito tempo. Faremos aqui uma pequena consideração a respeito dos dois tipos de grandezas: as grandezas físicas escalares e vetoriais. As grandezas escalares são as do tipo mais simples, por assim dizer. O tempo t de voo entre duas localidades, a massa m de uma pessoa e a temperatura T em um determinado ambiente são exemplos desse tipo de grandeza. Essas quantidades ficam completamente descritas pela informação numérica que as define e nenhum outro tipo de informação é necessário para um perfeito entendimento da medição. As grandezas vetoriais são um pouco mais complexas, é necessário complementar seu valor quantificador com mais informações, sobre sua direção e sentido. Veremos mais adiante que estas tratam de vetores, em sua concepção matemática, e que seu valor numérico corresponderá ao módulo do vetor, seu comprimento propriamente dito. Essa complementação fará sentido físico quando falarmos em posição r, deslocamento ∆r, velocidade v e aceleração a, que são exemplos de grandezas vetoriais. TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO À FÍSICA 9 FIGURA 3 – DAVI E GOLIAS, POR OSMAR SCHINDLER, 1888 FONTE: Disponível em: <goo.gl/ojm7RW>. Acesso em: 9 mar. 2018. Para um olhar mais avizinhado às nossas percepções de mundo, observe a Figura 3, vemos uma litografia do pintor alemão Osmar Schindler (1867-1927), que retrata a batalha bíblica entre Davi e Golias. Segundo a crença religiosa, Golias, um gigante guerreiro, foi morto por um jovem pastor de ovelhas chamado Davi, que viria a se tornar o rei dos Judeus. Simbolismos religiosos à parte, a observação da obra é um bom exercício para o entendimento do conceito de vetores. A Figura 4 apresenta uma descrição visual do que queremos discutir. Note que ao girar a atiradeira, na figura representada por uma faixa de pano com uma pedra na extremidade, Davi altera, a cada momento, tanto o vetor posição da pedra r em relação a sua própria posição, à esquerda, como também altera o vetor velocidade da mesma v, mostrado à direita. Há outros vetores ainda contidos nessa visualização, como a aceleração a, definida pela variação temporal do vetor velocidade e outras forças, que abordaremos mais tarde. Note que, para criar uma identidade com a notação aplicada às intervenções gráficas, podemos manter no texto o uso da notação em negrito, para os vetores. UNIDADE 1 | CINEMÁTICA 10 FIGURA 4 – VETORES DE POSIÇÃO E VELOCIDADE DA PEDRA QUE DAVID ARREMESSA EM GOLIAS, EM RELAÇÃO A SUA PRÓPRIA POSIÇÃO FONTE: Disponível em: <goo.gl/ojm7RW>. Acesso em: 9 mar. 2018. A morte de Golias se dá também por uma característica muito interessante do movimento da pedra, no momento em que Davi solta a faixa, a pedra é ejetada de sua trajetória circular, em um movimento retilíneo, até a testa do gigante. Vamos agora seguir para a discussão de como mensuramos tais grandezas. Como criamos nossos instintivos padrões de comparação entre lento e rápido, leve e pesado ou perto e longe? Uma vez estabelecido o conceito de grandezas físicas, faz sentido quantificar os valores associados a essas grandezas, para tal feito é importante levar em conta que o estabelecimento dessa quantificação necessita da criação de parâmetros de comparação. Você também já está habituado a essa quantificação. Por exemplo, quando percebeu que corria mais rápido, ou mais devagar, que um colega na escola, já estava fazendo uso desses padrões de medida. Do mesmo modo, quando queremos evidenciar que um parque é grande, costumeiramente o comparamos com um determinado número de campos de futebol, uma padronização bastante difundida pela mídia. Assim, isso também se passa com a física, para o tratamento de grandezas físicas estabelecemos aquilo que chamamos de unidades de medidas. Tenha em mente, então, que é impossível medir ou quantificar uma grandeza física a menos que essa quantificação seja determinada por um parâmetro de comparação. Em síntese, podemos dizer que as unidades de medida desempenharão esse papel comparativo. TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO À FÍSICA 11 4 SISTEMAS DE UNIDADES DE MEDIDA Para que o comércio entre as nações funcionasse a todo vapor, e mais tarde para que o trabalho científico pudesseser reconhecido e reproduzido em diferentes partes do mundo, foi necessária uma unificação das unidades de medidas, que definem as grandezas físicas. Tal decisão tinha como intenção a padronização dessas unidades. Para isso foi necessário criar padrões de comparação, assim como os campos de futebol usados para avaliar o tamanho de um parque, como vimos no exemplo anterior. Logo após o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1948, durante a 9ª Conferência Geral de Pesos e Medidas (CGPM), o Comitê Internacional de Pesos e Medidas foi incumbido de desenvolver o chamado Sistema Prático de Unidades e Medidas. Para cada uma das grandezas básicas discutidas anteriormente, propôs- se um objeto de comparação, ou um experimento que permitisse o cálculo direto ou indireto de tal unidade. Foi também nessa conferência em que se decidiu que as unidades de medida seriam representadas pelas respectivas primeiras letras, minúsculas, dos nomes das grandezas, exceto no caso de derivações de nomes próprios, devendo, então, serem escritas em letra maiúscula. Em 1960, durante a 11ª CGPM, realizada na França, o Sistema Prático de Unidades foi sancionado sob a denominação de Sistema Internacional de Unidades (SI). Por fim, na 14ª CGPM, realizada em 1971, definiram-se as sete grandezas fundamentais, juntamente com suas unidades, que compõem o SI. A posição/ deslocamento, medida em metro (m); a massa, medida em quilograma (kg); o tempo, aferido em segundo (s); a corrente elétrica, determinada em ampère (A); a temperatura, medida em kelvin (K); a quantidade de matéria, relacionada à contagem de elementos que compõem um sistema, cuja unidade é o mol (mol); e por fim, a intensidade luminosa, mensurada em candela (cd). Todas essas informações podem ser verificadas no Quadro 1. QUADRO 1 – GRANDEZAS FÍSICAS FUNDAMENTAIS, SUAS UNIDADES E SÍMBOLOS NO SI Grandeza Unidade Símbolo Posição/deslocamento Metro m Tempo Segundo s Massa Quilograma kg Corrente elétrica Ampère A Temperatura Kelvin K Quantidade de matéria Mol mol Intensidade luminosa Candela cd FONTE: O autor UNIDADE 1 | CINEMÁTICA 12 É importante ressaltar que, mesmo atualmente, o SI não é único sistema de medidas utilizado, não sendo adotado em alguns países, como Mianmar, Libéria e Estados Unidos da América. Uma das razões para o SI não ter pegado nos Estados Unidos pode ter sido pela resistência dos industriais em realizar a monumental tarefa de recalibrar todas as máquinas na cadeia de produção, uma vez que o país já era largamente industrializado no momento da unificação das unidades. Os americanos já possuíam um maquinário extenso e não seria financeiramente viável. Alterar o padrão de medida que as pessoas estão acostumadas a tomar como comparação deve ser bastante complicado, você sabe disso. Faça o teste, tente calcular a área do seu apartamento em pés quadrados. Conjecture mentalmente a largura de um armário em polegadas, ou quantos galões de gasolina cabem no tanque do seu carro. Mesmo assim, hoje em dia muitos medidores modernos já trazem marcadores para os dois sistemas, talvez aos poucos o SI passe a se tornar o sistema dominante por lá. O Sistema Imperial Britânico de Medidas é o maior concorrente do SI e o mais utilizado no dia a dia dos países anglófonos, por razões óbvias. Esse sistema também estabelece as mesmas sete grandezas fundamentais que vimos anteriormente, mas adota unidades diferentes para cada uma delas. Por exemplo, o pé (ft), para o comprimento, o segundo (s), para o tempo e a libra (lb), para a massa. De fato essas grandezas, posição, massa e tempo, serão as mais importantes que consideraremos aqui, no campo da mecânica. Há uma razão para essa especial atenção. Como seria possível descrever eventos consecutivos sem as noções de quando e onde? O tempo e o espaço nos dão o referencial para descrever o movimento de um corpo, ou melhor, de uma massa, já que, quando uma partícula, de determinada massa, altera sua posição no espaço, faz isso através de uma sucessão temporal de eventos. Concluímos então que essas três grandezas são um tripé essencial em nossa descrição e entendimento do mundo. Como introduzido anteriormente, vamos agora discutir os conceitos de espaço, tempo e massa. O espaço é um conceito que se apresenta bastante claro para nós, pelo menos aquele na escala cotidiana, com as dimensões de nosso planeta. Se compararmos objetos de diferentes tamanhos, como as imagens clássicas do átomo e suas módicas dimensões, e a imensidão do sistema solar, teremos uma ideia do vasto espectro de ordens de grandeza. Nós vivemos na escala 10º m, e, portanto, nosso padrão de comparação no SI para o espaço é o metro. Hoje em dia ele é medido como o comprimento do percurso percorrido pela luz, no vácuo, em um intervalo de tempo correspondente à fração de 1 299792458 de um segundo (29). Essa razão está associada à velocidade da luz no vácuo, cujo valor é da ordem de c= 299792458 m/s 83 10≈ × m/s. A Figura 5 apresenta o protótipo utilizado para a padronização do metro, até a década de 1960, uma liga de platina e irídio. TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO À FÍSICA 13 FIGURA 4 – O PROTÓTIPO INTERNACIONAL DO METRO FONTE: Disponível em: <goo.gl/3mZNkz>. Acesso em: 9 mar. 2018. O conceito de tempo parece algo mais subjetivo, talvez heurístico. Todos reconhecemos sua existência, mas temos alguma dificuldade em defini-lo. Einstein disse que a diferença entre o presente, o passado e o futuro é meramente uma ilusão. Talvez ele estivesse se referindo às suas próprias ideias de relativização de nossa percepção do tempo. Afinal uma hora esperando na fila do banco sempre parece durar muito mais que o mesmo período sentado à mesa de um bar, divertindo-se com seus amigos. Daí nossa dificuldade natural em conceituar o que é o tempo. O tempo é, no fim das contas, uma invenção humana, uma forma de ordenar fatos e acontecimentos de modo a obter pelo menos a ilusão de controle. Pense por um momento, muitas vezes quando pensamos em tempo, associamos um acontecimento de nossa memória, do qual queremos nos lembrar, a outros fatos, como uma forma de estabelecer um referencial temporal. A marcação do tempo faz então menção a uma sequência sucessiva, eventualmente periódica, de fatos catalogados, como o movimento dos ponteiros do relógio. Talvez a forma mais primordial que o homem adotou como "...sequência sucessiva, eventualmente periódica, de fatos catalogados ..." tenha sido o nascer e o pôr do Sol. O homem começou a contar o número de ciclos. Talvez tenha delimitado o ciclo em seu início quando o astro aparece e, em seu fim, quando ele desaparece no horizonte. Então a percepção de dois eventos consecutivos nos dá uma referência temporal. Dessa forma, saber o que é o tempo pode ser menos importante, em termos práticos, do que saber o que é um intervalo de tempo. Assim, podemos definir uma unidade para o intervalo de tempo que decorre entre eventos consecutivos. Para o SI essa unidade é o segundo (s), definido como a duração de 9192631770 períodos da radiação correspondente à transição entre dois níveis do estado fundamental do átomo do césio 133. UNIDADE 1 | CINEMÁTICA 14 FIGURA 5 – O PROTÓTIPO INTERNACIONAL DO QUILOGRAMA FONTE: Disponível em: <goo.gl/3mZNkz>. Acesso em: 9 mar. 2018. A massa é a grandeza física associada à inércia dos corpos, ou seja, à resistência associada à alteração do estado de movimento de um corpo, e sua unidade no SI é o quilograma (kg). O quilograma foi, até o fim de 2017, definido pelo protótipo internacional do quilograma, um objeto cilíndrico, feito de uma liga de irídio e platina com massa igual a de um litro de água pura, destilada. Esse cilindro está guardado em um ambiente evacuado, desde 1889, no Escritório Internacional de Pesos e Medidas, do francês Bureau International de Poids et. Mesures (BIPM), na cidade de Sèvres, na França. Na Figura 6 pode-se ver a peça cilíndrica que representa o protótipo, guardado em duas câmaras, uma dentroda outra, sob vácuo. Esse foi o método escolhido para determinar o quilograma até o fim de 2017, porque depois disso ele, assim como o metro, passou a ser medido em termos de uma constante fundamental da natureza. O principal motivo dessa alteração é que o cilindro, guardado na França, não tem mais a massa de um quilograma e isso preocupa bastante os metrologistas. Na prática, o que se passa é que a manipulação do cilindro, para limpeza, e a evaporação do material tornaram o cilindro mais leve em níveis de precisão altíssimos, muito além da precisão a que estamos acostumados em nosso dia a dia, mas significativa em termos da metrologia envolvida. TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO À FÍSICA 15 FIGURA 6 – OS PROTÓTIPOS INTERNACIONAIS DO QUILOGRAMA E DO METRO FONTE: Disponível em: <goo.gl/b5AJBT>. Acesso em: 9 mar. 2018. O projeto Avogadro, organizado pela organizado pela CGPM, tem como objetivo estabelecer uma nova forma de definir o quilograma em termos de constantes fundamentais, através de dois experimentos interessantes. Um deles, aperfeiçoa a balança de Watt, uma balança de dois pratos, em que em um deles está uma massa equilibrada por uma força magnética, gerada por uma corrente controlável. O outro experimento pretende realizar uma contagem de átomos em uma esfera de silício puro com massa de um quilograma. Essa contagem ajuda a calcular a constante de Avogadro, NA=6,022 x 1023 /mol, que está associada à quantidade de partículas em um corpo de certa massa. O objetivo maior do projeto é encontrar, por meio desses dois experimentos, valores para a constante de Planck λ= 6,62607004 x 10-34 m2 kg/s, que descreve a relação entre a energia de um fóton e sua frequência de vibração, que concordem entre si, com uma precisão da ordem de um bilionésimo. Sugerimos a leitura do texto intitulado “Para manter o peso”, publicado na revista FAPESP de junho de 2017. Disponível em: <https://goo.gl/CtX6KY>. A reportagem apresenta em descrição clara todo o processo para alteração do método de medição do quilograma, em termos agora de uma constante física. DICAS UNIDADE 1 | CINEMÁTICA 16 Na Figura 7 podem-se ver, colocados lado a lado, o protótipo internacional do quilograma, agora fora das câmaras evacuadas, e o protótipo internacional do metro, unidade parâmetro para a distância no SI. Como no SI é possível organizar essas unidades básicas em diferentes agrupamentos, o sistema CGS aceita as unidades das grandezas básicas massa, em gramas (g); tempo, em segundos (s); e comprimento, em centímetros (cm). No sistema MKS tomamos o quilograma (kg), ou seja, a massa de uma grama (g) multiplicada por mil como unidade para a massa. Para o comprimento consideramos o metro (m) a unidade comparativa e também o segundo (s) para o tempo. O conceito de unidade de medida se baseia em uma comparação entre o objeto cuja medida é tomada e aquele usado como unidade de comparação. Medimos tudo em termos dessas unidades que definimos para as grandezas físicas. Agora que já discutimos os conceitos de grandezas físicas e de unidades de medida, podemos nos dedicar à descrição mais aperfeiçoada de uma das ferramentas mais importantes para o trabalho com grandezas físicas vetoriais, o vetor. Você verá a seguir que é necessário atentar para um conjunto de definições e regras, antes de podermos tratar lucidamente não só as grandezas, mas também das operações com essas grandezas vetoriais. 5 VETORES E OPERAÇÕES COM VETORES Vamos tornar nossa atenção para um aspecto mais matemático e muito importante, do estudo da física. O conceito de vetores é importante para o tratamento das grandezas vetoriais, normalmente porque precisamos fazer considerações espaciais em determinados problemas. Desse modo, vamos começar o estudo dos vetores e de suas operações definindo o que um vetor representa. Um vetor é o que os matemáticos chamam de um elemento do espaço vetorial, detentor de algumas propriedades. Sua utilidade é a de descrever determinado objeto no espaço. Ele pode tomar algumas formas gráficas, as mais comuns são v, com uma seta por cima, v, em negrito ou vˆ, com um acento circunflexo por cima. Fique atento, todas elas são convenções possíveis. Os matemáticos não estão muito interessados na descrição do que o objeto é em realidade e por que ele se comporta como ele se comporta. A eles importa a descrição desse objeto no espaço. Os físicos têm uma intensão diferente, e dão uma utilização um pouco diferente para essas entidades matemáticas. Para eles, os vetores servem como ferramentas para descrição do mundo e dos fenômenos naturais. Interessam-nos as quantidades escalares e também qualquer grandeza cuja descrição possa ser decomposta em diferentes direções espaciais. Veja um exemplo. Considere que você esteja, pela primeira vez, dentro de um escritório, à noite e em meio a um blackout. Alguém sai de uma sala e lhe TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO À FÍSICA 17 chama, você pergunta onde ela está e ela lhe diz que você deve testar o disjuntor, que fica no canto próximo ao armário de metal. Como você chega lá? A posição do armário de metal no espaço é uma grandeza vetorial, você precisaria conhecer há quantos metros à esquerda e ao fundo ele está, e à que altura do solo. Não é possível descrever a posição do armário com apenas uma informação. O espaço em que vivemos é tridimensional, e grandezas vetoriais precisam carregar informações sobre as três dimensões. É para isso que serve um vetor, ele contém em si essas três informações, daí aqueles que chamaremos de vetor posição, ou de vetor velocidade, ou de vetor aceleração. Todas essas são grandezas físicas vetoriais e por isso faremos aqui uma breve recapitulação de geometria analítica, com a definição de alguns tópicos que nos serão de especial interesse. A Figura a seguir, apresenta uma descrição pictórica do que chamamos de vetor. Perceba que ainda não há um sistema de referências estabelecido, lidaremos com isso mais adiante. Observe o vetor r, ele é representado por um segmento de reta, com uma seta que aponta para uma determinada direção, num sentido que pode ser estabelecido por uma simples convenção. A origem do vetor, por sua vez, fica do lado oposto à seta. FIGURA 7 – VETOR r FONTE: O autor É claro que o conceito de vetor não fica atrelado apenas às dimensões espaciais, você pode associar vetores a grandezas cujas propriedades não sejam relacionadas ao espaço. Em programação, por exemplo, a ideia de vetores é aplicada à descrição de qualquer conjunto de informação que caracterizem um objeto. Tabelas de dados, formulários de inscrição e a posição de cada dígito em um código de identificação apresentam alguma relação com os vetores. Esse conceito você também já deve ter utilizado em algum momento da sua vida. UNIDADE 1 | CINEMÁTICA 18 FIGURA 8 – VETOR EM UM SISTEMA BIDIMENSIONAL 0 0 0.2 0.4 0.6 0.8 1 0.2 0.4 0.6 0.8 1 FONTE: O autor Vamos agora introduzir em nosso espaço vetorial um sistema de referências. Ele serve como marco comparativo, em relação a quem vamos definir todas as posições, velocidades, acelerações, forças ou qualquer outra grandeza vetorial. Em princípio, então, vamos considerar o vetor v da figura acima, ele tem uma origem, cuja posição coincide com a origem do sistema de referências xy, tem um comprimento |v| e faz um θ com o eixo x. Note que o vetor v tem projeções no eixo x e no eixo y dadas por: A equação (2.1) apresenta uma versão vetorial do estudo do teorema de Pitágoras para as relações entre os lados de um triângulo retângulo. Por isso, que podemos pensar no módulo do vetor v como o comprimento da hipotenusa do triângulo. Assim, ele será dado por: Somando as duas partes da decomposição de v podemos defini-lo como uma combinação linear em termos do sistema de referências como: (1.1)cosxv v θ= sinyv v θ= → → (1.2)2 2x yv v v= + → (1.3) x yv v v= + ,ˆ ˆx yv i v j= + → → → TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO À FÍSICA 19 FIGURA 10– SOMA DE VETORES FONTE: O autor Em que os vetores unitário î e ĵ podem ser entendidos como unidades de medidas do vetor v em cada uma das direções x e y e com x xv v= e y yv v= representando as duas possívels representações para os módulos dos vetores vx e vy, respectivamente, que poderemos adotar. Com isso em mente, lembre-se do exemplo da sala escura, durante o blackout, a moça deveria ter dito algo como, "...o armário fica a aproximadamente um metro de altura, uns três metros no fundo da sala, à sua direita...", isso teria facilitado a sua tarefa. Uma vez estabelecido que algumas grandezas físicas podem ser associadas a vetores, podemos pensar em algumas operações que podem ser realizadas com essas grandezas vetoriais. A posição de um corpo no espaço pode mudar com o tempo, a velocidade com que esse corpo se move pode variar também, e assim por diante. A primeira operação de que vamos tratar é a da soma s u v= + . O percurso realizado e a posição final de uma partícula que se move com o tempo será dada pela soma de todos os vetores posição, o mesmo vale para a velocidade e a aceleração, respectivamente. A figura a seguir apresenta o vetor soma s = u + v. Perceba que a notação aplicada à figura, para os vetores, é v, são duas notações possíveis. Voltando à Figura 10, percebe-se que a soma pode ser feita, geometricamente, ao se aplicar a lei do paralelogramo. Você pode transladar o vetor u da origem até a seta do vetor v, respeitando o ângulo entre os vetores, e fazer o mesmo com o vetor v. O vetor soma s será dado pela reta que liga os dois extremos do paralelogramo. Em termos da definição analítica de um vetor, apresentada em função de um sistema de referências e com o vetor u = uxî + uyĵ e o vetor v = vxî + vyĵ teríamos algo como: → → → → → → → (1.4)( ) ( )x x y ys u v u v i u v j= + = + + +ˆ ˆ → → → UNIDADE 1 | CINEMÁTICA 20 A subtração geométrica de vetores, ou a soma com vetores de sinal oposto, também explora a lei do paralelogramo, mas aqui as duas setas e tem-se d = u – v ,uma descrição visual pode ser vista na figura a seguir. Perceba que agora não cruzamos mais a diagonal mais longa, mas a mais curta. → → → FIGURA 11 – SUBTRAÇÃO DE VETORES FONTE: O autor Em termos da definição analítica de um vetor, teríamos algo como: FIGURA 12 – MULTIPLICAÇÃO DE UM VETOR POR UM ESCALAR v 2v FONTE: O autor Uma vez estabelecidos os conceitos de soma e subtração de vetores podemos agora seguir para os produtos que os envolvem. O produto por escalar é aquele que pode alterar tanto o módulo de um vetor, seu comprimento, ou o sentido dele. Vamos defini-lo como p = av , em que α ∈ N. A figura (1.12) a apresenta uma descrição geométrica de um vetor cujo comprimento foi multiplicado por dois. → → (1.5)( ) ( )x x y yd u v u v i u v j= − = + − +ˆ ˆ → → → TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO À FÍSICA 21 O produto escalar entre dois vetores é definido como a projeção de um vetor sobre o outro, desse modo vamos definir: Compare a equação (1.6) com o gráfico da figura a seguir e perceba o ângulo θ entre os vetores u e v. Perceba também quanto o vetor u é projetado no vetor v. FIGURA 13 – PRODUTO ESCALAR ENTRE VETORES FONTE: O autor O produto vetorial entre dois vetores v e u gerará um vetor que é perpendicular ao plano formado por esses dois vetores. Observe a equação a seguir: Note como a sequência î → ĵ → k nunca é quebrada na primeira linha da equação (1.7). Todos os termos são compostos pelo produto de duas decomposições do vetor v, em uma determinada direção que não coincide com nenhuma daquelas decomposições, de modo que a sequência acima é sempre mantida. Apenas na segunda linha; que no caso de um vetor unitário, é o negativo da primeira, apresenta termos que quebram essa sequência. Na segunda linha a sequência tem o sentido inverso, por isso o sinal negativo. Ela tem a forma î ← ĵ ← k.O resultado dessa � � (1.6) cosu v u v θ⋅ = → → → → (1.7) ˆˆ ˆ x y z x y z i j k u v u u u v v v × = ( ) ( ) ( )y z z x x yu v i u v j u v k= ⋅ + ⋅ + ⋅ ˆˆ ˆ ( ) ( ) ( )z yz x z y xu v i u v j u v k− ⋅ − ⋅ − ⋅ ˆˆ ˆ → → UNIDADE 1 | CINEMÁTICA 22 contagem de termos em cada uma das três direções origina um vetor resultante u x v. Esse vetor tem a particularidade de ser perpendicular ao plano formado pelos vetores u e v. Em uma representação escalar, podemos dizer que o módulo |u x v| do vetor resultante do produto vetorial dos vetores u e v é dado da seguinte forma: → → → → → →→ → FIGURA 14 – PRODUTO VETORIAL ENTRE VETORES FONTE: O autor Comparando a equação (1.8) com o gráfico da Figura 14 podemos perceber o ângulo θ entre os vetores u e v. Podemos também perceber que o vetor p = u x v é perpendicular tanto aos vetores u e v quanto ao plano formado por eles. → → → → → Para uma dedução mais detalhada da equação (1.8) e um aprofundamento nos tópicos de geometria analítica e álgebra linear, sugerimos o estudo das obras ”Geometria analítica” e “Álgebra linear”: STEINBRUCH, A. WINTERLE, P. Geometria analítica. São Paulo: Pearson Makron books, 1987. STEINBRUCH, A. WINTERLE, P. Álgebra linear. São Paulo: Pearson Makron books, 1987. DICAS Comparando o produto escalar e o produto vetorial, notam-se vetores perpendiculares que têm produto escalar nulo, uma vez que 0 2 cosπ = , o que significa que não há nenhuma projeção envolvida. Nota-se também que dois vetores colineares têm produto vetorial nulo, uma vez que sin 0 = 0, o que era de se esperar, uma vez que eles não formam um plano, perpendicular ao qual um novo vetor poderia ser gerado. (1.8) sin u v u v θ× = → → → → 23 Neste tópico, você aprendeu que: • Até aqui vimos como a física se organiza em termos qualitativos, uma vez que organizamos as grandezas em escalares, vetoriais e quantitativos, uma vez que realizamos medições padronizadas pelas unidades de medida que definimos até o momento. • Começamos definindo as grandezas em dois tipos, escalares e vetoriais, e especificamos que a diferença está associada à descrição de diferentes grandezas. • A posição de um corpo é uma grandeza escalar, assim como a velocidade com que ele se desloca e a aceleração com que sua velocidade varia. O corpo pode realizar diferentes tipos de movimentos, em cada uma das três direções espaciais em que estamos imersos. • Uma vez estabelecidos os dois conceitos de grandezas físicas, introduzimos a ideia de unidade, que é um parâmetro comparativo, em relação ao qual mensuramos uma grandeza. Um quilograma de feijão representa uma massa comparativamente idêntica à massa de um cilindro composto de uma liga de irídio e platina, guardado no escritório internacional de pesos e medidas, na França. • Fizemos uma descrição geométrica das grandezas vetoriais através da revisão do conceito de vetores. • Trabalhamos com algumas operações matemáticas com vetores, principalmente com o intuito de prepará-lo para o próximo tópico, em que estudaremos o movimento de um corpo no espaço. RESUMO DO TÓPICO 1 24 AUTOATIVIDADE → → → → 1 As unidades de medida representam padrões de comparação que criamos para conceber uma quantidade, em um processo de medição de uma grandeza física. Relacione as grandezas físicas e suas unidades de medida: (a ) Massa. (b ) Comprimento. (c ) Tempo. ( ) Usado para distinguir posições relativas e afastamentos no espaço. ( ) Quantidade associada à inércia dos corpos em movimento. ( ) Associado ao conceito de entropia, estrutura a distribuição de eventos sucessivos. 2 Recordando nossa discussão anterior, a respeito do metro, considere as seguintes afirmações e classifique-as como Verdadeira (V) ou falsa (F): a) ( ) Representa o comprimento do percurso de um raio de luz, no vácuo, em (1/3×10⁸) segundos. b) ( ) É representado por um protótipo específico, objeto de comparação. c) ( ) É definido em termos da constante de Planck. 3 Recordandonossa discussão anterior, a respeito do(s) segundo(s), considere as seguintes afirmações e classifique-as como Verdadeira (V) ou falsa (F): a) ( ) Definido como o tempo necessário para um feixe de luz cruzar a distância de um metro. b) ( ) Unidade utilizada para a catalogação de eventos periódicos sucessivos. c) ( ) Definido como a duração de um número astronômico de eventos consecutivos no átomo de césio 133. 4 Recordando nossa discussão anterior, a respeito do quilograma, considere as seguintes afirmações e classifique-as como Verdadeira (V) ou falsa (F): a) ( ) O quilograma correspondia à massa de um litro de água destilada. b) ( ) Será substituído em breve por um objeto cilíndrico, feito de uma liga de irídio e adamantium. c) ( ) Foi concebido com a intensão de unificar sistemas de medidas diversos, provenientes de outras culturas. 5 Considere os vetores 1 2 3 ˆˆ ˆ v i j k= + + e 3 2 1 ˆˆ ˆ u i j k= + + e calcule: a) |v| e |u| b) v + u → → 25 → → → → → → c) v - u d) v . u e) v x u 6 Imagine que um campo de futebol americano tenha as medidas de 0,030 mi de largura e 0,056 mi de comprimento. Imagine também que um campo de futebol (aquele que jogamos no Brasil) tenha as medidas de 0,07 km de largura e 0,10 km de comprimento. Compare as áreas dos dois campos e apresente a relação entre eles. 7 Calcule o produto vetorial entre os vetores e ̂ ˆ x yu u i u j= + .ˆxv v i= →→ 26 27 TÓPICO 2 CINEMÁTICA UNIDIMENSIONAL UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO Vamos agora discutir o movimento dos corpos, descrevendo-os sob a ótica do tratamento matemático. Vamos emprestar o conceito matemático de taxa de variação e empregá-lo na discussão da taxa de variação temporal da posição de um corpo no espaço. Como nossa intensão, no momento, é discutir os conceitos, vamos nos ater ao caso unidimensional, isso evitará confusões desnecessárias. Mais adiante introduziremos novas dimensões e você já estará familiarizado com a teoria, podendo se concentrar apenas na extrapolação espacial. 2 VELOCIDADE MÉDIA E INSTANTÂNEA Uma vez que balizamos nosso conceito comum de tempo em termos de um intervalo de tempo, a ideia de movimento se tornou muito intrigante para nós, pois ela conecta tempo e espaço, através da variação de um em função do outro, do espaço em função do tempo, mais especificamente. Galileu foi o primeiro a estudar o movimento dos corpos. Mas com o interesse pelo movimento dos corpos, é preciso saber contar o tempo, estabelecer um padrão periódico, para poder contá-lo. O Sol nasce todas as manhãs e se põe todas as tardes. Esse intervalo repetitivo virou o dia. E dentro desse intervalo muitas coisas acontecem, padrões comparativos que ocorrem em intervalos menores de tempo precisavam ser adotados. A ampulheta, o relógio à corda, o digital, o atômico. Você entendeu a ideia. Voltando a Galilei, ele estudou o rolar lento de esferas de metal através de um trilho levemente curvado. Para alongar os intervalos de tempo. E como ainda não confiava em métodos externos, usou o batimento do próprio coração para medi-los. A esfera de metal levava tantos batimentos para chegar ao fim do trilho. Ele foi o primeiro a perceber que a relação entre espaço percorrido pela esfera metálica e o tempo que ela levou para isso era quadrática. Alguns eventos demoravam para ocorrer, outros eram muito mais curtos. Há diversas formas de como essa relação entre espaço e tempo pode se dar, mas o conceito de movimento relaciona todas elas. UNIDADE 1 | CINEMÁTICA 28 A cinemática fará uso de uma área muito importante da matemática, conhecida como cálculo diferencial e integral. Essa área da matemática trata das taxas de variação de uma grandeza em relação à outra e também das somas infinitesimais, cálculos de áreas debaixo de curvas de funções e estudo de funções. Você já deve estar familiarizado aos conceitos do cálculo a essa altura, mas tentaremos aqui manter clara essa relação entre a física e sua aplicação da matemática. Muito bem, a cinemática tem origem no termo grego para movimento e é do movimento de pontos espaciais e corpos que ela trata. Como você viu anteriormente, é possível determinar a posição de um corpo no espaço, visto que tenhamos um ponto, ou sistema de referências. Lembramos que focaremos em apenas uma direção, pensaremos aqui em termos de uma reta. 3 VELOCIDADE MÉDIA DOS CORPOS Como estamos interessados no movimento de um corpo ao longo dessa reta, se esse corpo mover sua posição variará ao longo da reta e ele levará algum tempo para fazer isso, essa taxa de variação da posição do corpo ao longo da reta é o que definiremos como velocidade média: ( ) ( ) 0 0 x x xv tt t − ∆ = = ∆− (1.9) (1.10) Aqui, o termo ∆ é o que representa a variação e a razão entre as duas variações representa a taxa dessa variação. Por extenso esse símbolo significa a diferença entre o valor final e inicial da grandeza estudada, para a posição isso é ∆x = (x − x0), para o tempo que se passou nessa transição, ∆t = (t − t0). O conceito de ∆t se aplica a diferenças mensuráveis de tempo, mas também temos interesse em estudar variações instantâneas no comportamento dos corpos. Se esse ∆t tender a valores muito pequenos? Com que taxa de variação da posição com o tempo nos movemos quando levamos um susto? Para isso, vamos aplicar aqui o conceito de limites, muito importante para o cálculo e de aplicação pertinente aqui, escreveremos: 0 lim t x dv x t dt∆ → ∆ = = ∆ Essa será a definição da velocidade instantânea, como se comporta um corpo imediatamente após o início do movimento. Note como agora a notação muda de ∆ para d, essa é a simbologia matemática para o drástico apequenamento da variação temporal da posição. A velocidade instantânea emerge da aplicação prática da ideia de limite à variação temporal. Fique atento, vamos utilizar muito esse conceito, ele é importante e deve ser discutido em sala de aula. Como possível fonte de inspiração. TÓPICO 2 | CINEMÁTICA UNIDIMENSIONAL 29 Gostaríamos de sugerir aqui a leitura do trabalho intitulado: “Velocidades média e instantânea no Ensino Médio: uma possível abordagem”. Disponível em: <https://goo.gl/ ytrr5U>, de Souza, P. V. S.; Donangelo R., 2012), que propõem uma abordagem interessante para o tema. Em sua proposta os autores tentam expor o distanciamento entre o conteúdo escolar e o cotidiano do estudante e promover a ação inversa. Os autores propõem métodos investigativos de aprendizagem, explorando objetos acessíveis ao aluno e a eles mesmos. Eles, por exemplo, tratam o tema da velocidade média através do uso de um automóvel em miniatura e discutem uma possível relação entre a escala do brinquedo e a velocidade média que o mesmo atingiria, se fosse funcional. Seria essa uma velocidade média também em escala com a do automóvel original? Eis aqui um interessante tema de investigação. DICAS 4 MOVIMENTO RETILÍNEO UNIFORME (MRU) Seguindo a sequência de eventos descrita nas subseções anteriores, vamos estudar um pouco mais a fundo o movimento unidimensional de um corpo. Suponha que o corpo se mova com uma velocidade constante v. Considerando a equação (2.10), percebemos que ela representa a taxa de variação da posição com o tempo. A operação de derivação está associada à taxa de variação de uma função, e sua operação inversa, a integração à soma de termos infinitesimalmente pequenos. Vamos reescrever a equação (2.10) de modo a estudar o efeito da integração em seus termos: vdt dx= (1.11) (1.12) (1.13) Realizando a integração dos dois lados da função teremos uma expressão para a posição x em função do tempo t, ou: 0 0 x t x t dx v dt=∫ ∫ ( )0 0x x v t t+ = − ( ) ( )0x t x t v t+ = ∆ Optando pela notação x(t0) = x0, poderemos então escrever a posição de um corpo em função do tempo como: ( ) 0x t x v t+ = ∆ UNIDADE 1 | CINEMÁTICA 30 Para o caso em que t0 = 0, teremos: ( ) 0xt x vt+ = (1.14) (1.15) Aí está, então, a função posição de um corpo em movimento retilíneo uniforme e a figura a seguir, apresenta a função posição de um corpo que segue em movimento retilíneo uniforme, ou seja, a velocidade constante. A curva preta apresenta o deslocamento de um corpo que inicialmente se encontrava na origem do sistema de referências, na curva azul o corpo já mantinha uma posição inicial não nula. Para as curvas azul e vermelha, a partícula se move a uma taxa de um metro por segundo, a partícula cujo deslocamento é regido pela linha verde se move a uma taxa duas vezes maior. Compare as retas azul e verde e perceba como a inclinação aumenta com a velocidade. Isso fica bem claro, uma vez que as duas retas partem da mesma posição de origem. FIGURA 15 – FUNÇÃO HORÁRIA DA POSIÇÃO NO MRU 4 3.5 3 2 1 0 0 0.2 0.4 0.6 0.8 1 1.5 0.5 2.5 t (s) x (t) ( m ) FONTE: O autor Note a semelhança entre a equação (1.14) e aquela para a equação da reta, dada por: y a bx= + Em que a é o coeficiente linear, b é o coeficiente angular e x é a variável independente. Lembre-se de que a é o valor de y quando x = 0 e que yb x ∆ = ∆ representa a taxa de variação. x∆ Até aqui nosso corpo se move com velocidade constante, mas essa velocidade pode variar. TÓPICO 2 | CINEMÁTICA UNIDIMENSIONAL 31 Como ainda manteremos um movimento em apenas uma direção, apenas variações no sentido e no módulo serão considerados. 5 ACELERAÇÃO MÉDIA E INSTANTÂNEA Eventualmente é possível que a taxa com que o corpo muda de posição com o tempo também varie, ou seja, a velocidade com a qual a partícula se move, pode aumentar ou diminuir. Se a velocidade representa a taxa de variação da posição com o tempo, podemos supor que a taxa de variação da velocidade com o tempo será a aceleração do veículo. Exatamente, definiremos assim a aceleração média de um corpo: ( ) ( ) 0 0 v v va tt t − ∆ = = ∆− (1.16) (1.17) (1.18) Novamente aqui podemos especular sobre a alteração instantânea da velocidade, ao tomarmos o limite de um tempo muito pequeno, teremos: 0 lim t v da v t dt∆ → ∆ = = ∆ E assim definiremos a aceleração instantânea de um corpo cuja velocidade varia com o tempo. Perceba que como a aceleração representa a taxa de variação da velocidade com o tempo, sua unidade de medida é o [a] = (m/s)/s, ou também [a] = (m/s2). Note também que a aceleração representa a segunda derivada da posição: d da x dt dt = É interessante como aplicamos a interpretação matemática ao mundo ao nosso redor. Você deve se manter atento não só para os fenômenos naturais, como também para as novas tecnologias que surgem, no dia a dia. Não apenas porque elas nos apresentam novas formas de aplicação dos fenômenos naturais, como o eletromagnetismo das televisões modernas, a hidrodinâmica em algumas das fontes energéticas ou dinâmica dos fluidos, presente nos componentes hidráulicos do maquinário das indústrias. Você também pode tirar proveito dessa tecnologia ao apresentá-la ou fazer uso dela, como ferramenta didática. UNIDADE 1 | CINEMÁTICA 32 Com isso em mente, gostaríamos de sugerir a leitura do trabalho intitulado “Medindo a aceleração de um elevador”. Disponível em: <https://goo.gl/8w6VJm>, de Franco, Marranghello e Rocha, 2016). Nele, os autores sugerem um experimento interessante a respeito do conceito de aceleração. Utilizando um tablet e softwares livres para a medição de dados, eles propõem uma prática de baixo custo para um exercício prático de ensino de física. DICAS 6 MOVIMENTO RETILÍNEO UNIFORMEMENTE VARIADO (MRUV) Após um breve momento para a definição do conceito de aceleração, vamos nos atentar à aplicação desse conceito no movimento de uma partícula sobre a reta. Considerando a equação (2.17), percebemos que ela representa a taxa de variação da velocidade com o tempo. Vamos novamente aplicar o conceito de integral aos dois lados dessa equação e estudar como ela se comporta. ;da v dt = ;adt dv= 0 0 t v t v adt dv=∫ ∫ ( ) ( )0 0v t v a t t− = − ( ) 0 . v t v a t= + ∆ (1.19) (1.20) Para o caso em que t0 = 0, teremos: ( ) 0 v t v at= + O mesmo tratamento dispensado à Figura 15 é agora concedido ao corpo que segue em movimento retilíneo uniformemente variado. A Figura 16 apresenta duas curvas, uma preta para um corpo que partiu do repouso, e uma azul, para um corpo que já se movia com uma velocidade inicial, no momento em que começam a contar o tempo. TÓPICO 2 | CINEMÁTICA UNIDIMENSIONAL 33 Compare as Figuras 15 e 16 e perceba que, a despeito de se tratarem de duas grandezas vetoriais distintas, seu comportamento é matematicamente o mesmo. São duas expressões, de tipo semelhantes à equação da reta (2.14). O MRU guarda uma relação linear com a passagem do tempo. FIGURA 16 – FUNÇÃO HORÁRIA DA VELOCIDADE NO MRUV 4 0 0.2 0.4 0.6 0.8 1 3 2 1 0 3.5 2.5 1.5 0.5 t (s) v( t) (m /s ) FONTE: O autor É possível também, escrever a expressão para a posição em função do tempo. É preciso considerar novamente a equação (2.17), ela define a velocidade como a taxa de variação da posição com o tempo, mas com a operação inversa à derivação é possível calcular a expressão para a posição em função do tempo, fazendo: (1.21) (1.22) dx = vdt; 0 0 x t x t dx vdt=∫ ∫ Aplicando na equação (2.21), a equação (2.20), teremos uma nova equação integral, dada por: dx = vdt; ;dv x dt = 0 0 x t x t dx vdt=∫ ∫ ( ) 0 0 0 t t x t x v at dt − = + ∫ ( ) ( ) ( )20 0 0 1 2 x t v t t a t t= − + − UNIDADE 1 | CINEMÁTICA 34 Uma vez que v0 representa a velocidade inicial do veículo, que pode ser nula ou uma constante positiva ou negativa, e que a aceleração a é também constante, elas podem ser removidas da integração. Para o caso de t0 = 0, teremos: FIGURA 17 – FUNÇÃO HORÁRIA DA POSIÇÃO NO MRUV 3.5 2.5 3 2 1 1.5 0.5 0 0 0.5 1 1.5 2 t (s) x (t) (m ) FONTE: O autor A figura acima apresenta a função horária para a posição apresentada pela equação (1.22), ela mostra como se dá o comportamento da posição uma partícula, que se move sob a ação e uma aceleração, em função do tempo. Discutiremos mais adiante essa discussão quando tratarmos o lançamento oblíquo de corpos. Aqui você pode ter uma noção do comportamento parabólico de uma partícula sob tais circunstâncias, a linha tracejada e com pontos (vermelha) mostra um corpo que parte da origem. Já as linhas tracejadas (azul) e sólida (verde) partem de uma posição inicial diferente de zero. Além disso a maior inclinação da linha sólida se deve à duplicação da aceleração à que o corpo está submetido. Esse resultado também pode ser alcançado pela dupla integração direta da equação (1.18), o que é, indireta e exatamente o que acabamos de fazer. Ou seja, para uma partícula que prossiga em um movimento retilíneo uniformemente variado, sua posição se altera quadraticamente com o tempo, mais ou menos como o resultado que Galileu obteve para uma esfera que descia um trilho curvo, com a aceleração da gravidade. ( ) 20 0 1 2 x t x v t at= + + (1.23) (1.24) Voltando à equação (1.23), perceba como ela guarda uma relação íntima com a equação da parábola, definida pela relação: 2y ax bx c= + + TÓPICO 2 | CINEMÁTICA UNIDIMENSIONAL 35 Vamos agora tratar de um assunto bastante importante para o desenvolvimento do conteúdo a seguir. Falaremos sobre o que ocorre quando um corpo é deixado cair em um campo gravitacional uniforme, sob a aceleração da gravidade g. Vamos discutir os efeitos dessa suposição e demonstrar como ela, em breve, será importante para o estabelecimento de conceitos mais complexos, como o da conservação de energia. 7 QUEDA LIVRE O movimento de queda livra é bastante interessante, pois demonstra a aceleração dos corpos, quando submetidos a uma queda, a partir de uma velocidade inicial nula. A partir daqui, sempre que tratarmos do movimento de um corpo no espaço, faremos menção a