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0 Unidade I: Unidade: Receita Pública e Despesa Pública 1 U n id a d e : R e c e it a P ú b lic a e D e s p e s a P ú b lic a Unidade: Receita Pública e Despesa Pública 1. RECEITA PÚBLICA 1.1. INTRODUÇÃO Conforme vimos na primeira unidade, o Estado necessita de recursos para manter seu funcionamento e atender as necessidades públicas. Para que isso se efetive, o Estado, segundo Aliomar Baleeiro, se utiliza de alguns meios se não vejamos: “para auferir o dinheiro necessário à despesa pública, os governos, pelo tempo afora, socorrem-se de uns poucos meios universais: a) realizam extorsões sobre outros povos ou deles recebem doações voluntárias; b) recolhem as rendas produzidas pelos bens e empresas do Estado; c) exigem coativamente tributos ou penalidades; d) tomam ou forçam empréstimos; e) fabricam dinheiro metálico ou de papel”. Hodiernamente o Estado não se utiliza de extorsões a outros povos ou de venda do seu patrimônio como forma de angariar recursos para suprir suas necessidades financeiras. 1.2. CONCEITO DOUTRINÁRIO Encontramos na doutrina brasileira diversos conceitos sobre receita pública, se não vejamos: Na definição de Aliomar Baleeiro receita pública “é a entrada que, integrando-se ao patrimônio público sem quaisquer reservas, condições ou correspondência no passivo, vem acrescentar o seu vulto, como elemento novo e positivo”. Na definição de Ricardo Lobo receita “é a soma de dinheiro recebida pelo Estado para fazer face à realização dos gastos públicos”. Já nos dizeres de Marlos Vargas Ferreira, receita “é o ingresso de proventos arrecadados de tributos, do Tesouro Nacional e de outras fontes de recursos financeiros que passe a integrar e incorporar o patrimônio do Estado, e que permita custear as despesas decorrentes da prestação de serviço 2 U n id a d e : R e c e it a P ú b lic a e D e s p e s a P ú b lic a público e investimentos patrimoniais.” Segundo o Manual de Receitas Públicas da Secretaria do Tesouro Nacional-STN, “Receitas Públicas são todos os ingressos de caráter não devolutivo auferidas pelo Poder Público, em qualquer esfera governamental, para alocação e cobertura das despesas públicas.” Como podemos perceber, nos diversos conceitos atribuídos a receita pública, verifica-se que em alguns se fala em entrada e em outros em ingressos, isso porque na doutrina brasileira encontramos algumas divergências sobre a utilização indiscriminada dos termos entrada, ingresso e receita pública como sinônimos. Alguns autores, como Aliomar Baleeiro e Kioshi Harada defendem que todo ingresso de dinheiro nos cofres públicos são considerados entradas, ao passo que o termo receita se volta somente para as entradas que venham aumentar o patrimônio público. Entendem que os ingressos normalmente que são meros movimentos de caixa, e só podem ser considerados como receita quando não possuírem caráter devolutivo. Então podemos dizer que o conceito de receita pública em sentido amplo é qualquer recolhimento de numerário aos cofres públicos, ou seja, todas as quantias recebidas pelos cofres públicos. Já em sentido restrito, considera-se receita pública somente as entradas ou ingressos de recursos que é incrementada de forma definitiva ao patrimônio público sem compromisso de devolução posterior. Vale ressaltar que a Lei 4320/64 utiliza o sentido amplo de receita, isto é, qualquer ingresso de numerário aos cofres públicos, o que é condenado pela doutrina majoritária. 1.3. CLASSIFICAÇÃO DAS RECEITAS PÚBLICAS Na doutrina pátria existem várias formas de classificação da Receita, porém vamos nos ater somente as mais utilizadas. 1.3.1. Quanto à natureza: Receita Orçamentária e Extra- orçamentária. 3 U n id a d e : R e c e it a P ú b lic a e D e s p e s a P ú b lic a As receitas orçamentárias são aquelas que integram o orçamento do Estado. Decorrem da execução da Lei Orçamentária Anual-LOA, correspondem à arrecadação de recursos financeiros autorizados pela Lei Orçamentária e que serão aplicados na realização dos gastos públicos. Dividem-se em duas categorias econômicas: Receitas Correntes e Receitas de Capital (veremos um pouco mais a frente). As receitas extra-orçamentárias são as que não constam na lei do orçamento, abarcando as entradas em dinheiro ou créditos de terceiros de que o Estado é devedor como depositário ou como agente passivo da obrigação. Compreende o recolhimento de valores que, em princípio, não pertencem ao Erário. O Estado atua apenas como depositário dos recursos. Ex.: depósito em caução, depósitos judiciais, salários não reclamados, Operações de créditos por antecipação de receita- ARO, entre outras. Vale ressaltar que o pagamento das receitas extra-orçamentárias não está sujeito a autorização legislativa. 1.3.2. Quanto à origem: Receita Originária e Receita Derivada. A receita originária decorre da exploração, pelo Estado, de seus próprios bens (advém do patrimônio público do Estado). São receitas voluntárias, ou seja, o Estado não exerce seu poder de império. São exemplos as provenientes de aluguéis, de venda de bens, etc. Podem ser Patrimoniais: provenientes de rendas de aluguéis, venda de bens, dividendos, participações e pagamento de royalties pela exploração do patrimônio e estatal; e Empresariais: provenientes das atividades do Estado como empresário, ou seja, no âmbito comercial, industrial ou de prestação de serviços. A receita derivada provém do constrangimento sobre o patrimônio do particular (provém do patrimônio dos particulares). Aqui o Estado exerce seu poder de império, isto é, é proveniente do exercício do poder de tributar os rendimentos ou o patrimônio da coletividade. É composta dos tributos e das sanções. Fique ligado: ARO são empréstimos de curto prazo que se destinam a atender insuficiência de caixa, insuficiência financeira. Só podem ser contraídos a partir de 10 de janeiro e tem que ser quitado até 10 de dezembro. Não podem ser contraídos no ultimo ano de mandato. 4 U n id a d e : R e c e it a P ú b lic a e D e s p e s a P ú b lic a Alguns autores acrescentam nesta classificação as receitas transferidas decorrem dos artigos 157 a 162 da Constituição. São aquelas que decorrem de transferências orçamentárias voluntárias ou compulsórias, de um orçamento estatal para outro (de um ente político para outro), no âmbito do denominado “federalismo cooperativo” ou “orçamento federativo/fiscal”. Temos como exemplo as transferências constitucionais obrigatórias, transferências legais obrigatórias e transferências orçamentárias voluntárias. 1.3.3. Quanto à categoria econômica: Receita Corrente e Receita de Capital. São classificadas na categoria Receitas Correntes aquelas receitas que decorrem do poder impositivo do Estado, cuja arrecadação será utilizada no orçamento de custeio do Estado, servirão para fazer face às despesas correntes. De acordo com o art. 11 § 1° e § 4° da Lei 4320/64, divide-se em: o Receitas Tributárias: É resultante da arrecadação de impostos, taxas e contribuição de melhoria. Devem estar previstas em lei. Teoricamente as receitas tributárias são utilizadas para arcar com as despesas derivadas da prestação de serviço público e suas necessidade de investimento. Ex. IPTU, IPVA, IPI,e IR. o Receitas de Contribuições: São provenientes de contribuições sociais e econômicas. Sociais: COFINS, Salário Educação, CPMF, Contribuições sobre Receitas de Concursos de Prognósticos, Contribuições para os Serviços Sociais Autônomos – SESI, SESC, SENAI etc, PIS/PASEP, CSLL etc. Econômicas: Cota-parte do Adicional ao Frete para Renovação da Marinha Mercante, Contribuição sobre a Receita das Empresas Prestadoras de Serviçosde Telecomunicações, CIDE-Combustíveis etc). 5 U n id a d e : R e c e it a P ú b lic a e D e s p e s a P ú b lic a o Receitas Patrimoniais: São receitas obtidas da exploração do patrimônio estatal. Podem ser provenientes de receitas imobiliárias (aluguéis, foros, laudêmios) e receitas de valores mobiliários (juros de títulos de renda, dividendos, participações etc); receitas de concessões e permissões (outorga de serviços públicos etc). o Receitas Agropecuárias Receitas que resultam da exploração direta, por parte do Estado, de operações comerciais que decorrem das atividades agropecuárias. Incluem-se nessa classificação as receitas advindas da exploração da agricultura (cultivo do solo), da pecuária (criação, recriação ou engorda de gado e de animais de pequeno porte) e das atividades de beneficiamento ou transformação de produtos agropecuários em instalações existentes nos próprios estabelecimentos. o Receitas Industriais Resultantes da exploração direta, por parte do Estado, de operações comerciais que decorrem de atividades industriais. o Receitas de Serviços Resultantes de serviços executados pelo Estado, tais como serviços de transporte, saúde, comunicação, portuário, armazenagem, de inspeção e fiscalização, judiciário, etc. o Transferências correntes Provenientes de recursos financeiros recebidos de outras pessoas de direito público ou privado, destinados ao atendimento das despesas correntes. Ex. Recurso transferido pela União ao Município para aquisição de medicamento (despesa corrente). Para União trata-se de uma despesa corrente/transferência corrente e para o Município é uma receita corrente/transferência corrente. 6 U n id a d e : R e c e it a P ú b lic a e D e s p e s a P ú b lic a o Outras Receitas correntes Resultam de cobrança de multas, juros de mora, cobrança da dívida ativa, restituições, etc. As multas em geral são classificadas nessa rubrica. As categorias econômicas se subdividem em Subcategorias Econômicas e fontes de receitas, estas, por sua vez, se subdividem em subfontes (indicadas, respectivamente, por rubricas e sub-rubricas). As Receitas de Capital, segundo o Manual de Receitas Públicas “São os ingressos de recursos financeiros oriundos de atividades operacionais ou não operacionais para aplicação em despesas operacionais, correntes ou de capital, visando ao alcance dos objetivos traçados nos programas e ações de governo.” De acordo com o art. 11 § 2 da Lei 4320/64, divide-se em: o Operações de Crédito: São receitas que decorrem de empréstimos e financiamentos, tais como emissão de títulos da dívida interna e externa. Tem como objetivo a cobertura do déficit orçamentário. o Alienação de Bens: Recursos recebidos da venda de bens do Estado. o Amortização de Empréstimos Recursos provenientes de retorno de valores anteriormente emprestado a outras entidades, ou seja, parcela referente ao recebimento de parcelas (amortização) de empréstimos ou financiamentos concedidos. o Transferências de Capital: Recursos recebidos de outras pessoas de direito público ou privado, quando destinados a atender despesas de capital. Ex. Convênio entre União e estado para construção de Posto de Saúde. Para União trata-se de uma despesa de capital/transferência de capital e para o estado classifica-se como receita de capital/transferências de capital. 7 U n id a d e : R e c e it a P ú b lic a e D e s p e s a P ú b lic a o Outras Receitas de Capital: o Trata-se de classificação e englobará as demais receitas de capital não previstas nas classificações anteriores. 1.3.3.1. Codificação da Receita Orçamentária por Categoria Econômica. A Lei 4320/64, em seu art.8º § 1º define que os itens da discriminação da receita serão indentificados por números de código decimal. Este código recebeu o nome de natureza de receita. A natureza de receita busca classificar a receita indentificando a origem do recurso segundo seu fato gerador que originou a entrada da receita nos cofres públicos. Devido a necessidade de constante atualização e melhor identificação dos ingressos aos cofres públicos, o código identificador da natureza de receita é desmembrado em níveis. Assim, na elaboração do orçamento público a codificação econômica da receita orçamentária é composta dos níveis abaixo: A.B.C.D.EF.GH A – Categoria Econômica 1-Receitas Correntes 2- Receitas de Capital B – Fonte de Receita 1.1 – Receita Tributária 1.2- Receita de Contribuição 1.3- Receita Patrimonial 1.4- Receita Agropecuária 1.5- Receita Industrial 1.6- Receita de Serviços 1.7- Transferências Correntes Fique ligado: O Superávit do Orçamento Corrente é a diferença positiva entre a Receita Orçamentárias/Receitas Corrente e as despesas orçamentárias/despesas correntes do exercício financeiro. É classificada como Receita de Capital/Outras Receitas de Capital, porém não é considerado uma receita orçamentária. 8 U n id a d e : R e c e it a P ú b lic a e D e s p e s a P ú b lic a 1.9- Outras Receitas Correntes 2.1 – Operações de Crédito 2.2- Alienações de Bens 2.3- Amortização de Empréstimos Concedidos 2.4-Transferências de Capital 2.5. – Outras Receitas de Capital C- Subfonte D- Rubrica EF- Alínea GH- Subalíneas 1.3.4. Quanto à regularidade: Receitas Ordinárias e Receitas Extraordinárias As receitas públicas ordinárias são as receitas carreadas ao erário com regularidade, auferidas no desenvolvimento normal da atividade estatal, sendo assim fonte regular e permanente de recursos financeiros que permitem a consecução das atividades fins do Estado, como pro exemplos as receitas tributárias. Já as receitas públicas extraordinárias possuem caráter excepcional, são receitas que não têm características de continuidade. Visam acautelar situação excepcional no plano institucional, como, por exemplo, o empréstimo compulsório (art. 148, III, CF) e do imposto extraordinário, nos termos do artigo 154, inciso II da Carta Magna. 1.3.5. Quanto à afetação patrimonial: Receitas Efetivas e Receitas Não-efetivas. Alguns autores acrescentam a classificação quanto à afetação patrimonial. Receitas efetivas são aquelas que se integram ao patrimônio sem qualquer contrapartida de aumento de passivo ou diminuição do ativo, contribuindo, assim, para o aumento do patrimônio líquido. É o caso onde o Estado “fica 9 U n id a d e : R e c e it a P ú b lic a e D e s p e s a P ú b lic a mais rico” sem dar nada em troca, não perde nada de seu patrimônio. Ex. recebimento de impostos, dividendos, multas, juros, etc. As receitas não-efetivas ou por mutação patrimonial são aquelas oriundas de mutações que nada acrescem o patrimônio líquido, constituindo simples entradas ou alterações nos elementos que o compõem. O Estado não “fica mais rico”, ou seja, há um ingresso no caixa público, mas o Estado perde alguma coisa de seu patrimônio. Ex. venda de um bem público: entra um valor no caixa, mas em contrapartida o Estado perde a propriedade do bem. 1.4. ESTÁGIOS DAS RECEITAS PÚBLICAS Há divergência entre a Lei 4320/64 e os Doutrinadores quanto os estágios das receitas públicas. Para Lei são estágios: Lançamento, Arrecadação e Recolhimento. Para os Doutrinadores são estágios: Previsão, Lançamento, Arrecadação e Recolhimento. Para que o estudo fique mais completo, veremos agora os estágios das receitas segundo os doutrinadores. Importante ressaltar que somente as Receitas Orçamentárias conseguem percorrer todos os estágios (previsão, lançamento, arrecadação e recolhimento), tendo em vista que no caso das Receitas Extra-orçamentárias não é possível fazer a previsão. 1.4.1. Previsão:Dá-se com o estudo feito pela Fazenda Pública visando indicar quanto se pretende arrecadar no exercício financeiro 1.4.2. Lançamento: É o ato da repartição competente que verifica a procedência do crédito fiscal, a pessoa que lhe é devedora e inscreve o débito desta. 1.4.3. Arrecadação É o ato pelo qual os contribuintes comparecem perante os agentes arrecadadores e liquidam os seus compromissos para com o tesouro. Nesse estágio a receita é considerada executada 10 U n id a d e : R e c e it a P ú b lic a e D e s p e s a P ú b lic a 1.4.4. Recolhimento É o ato pelo qual os agentes arrecadadores transferem, diariamente, o produto da arrecadação ao Tesouro. É nesse estágio que se verifica o Princípio da Unidade de Tesouraria. Todo valor arrecadado é recolhido à Conta Única do Tesouro. 2. DESPESAS PÚBLICAS 2.1. INTRODUÇÃO Conforme estudamos, o Estado necessita de obter dinheiro para atender e cumprir seus objetivos. Depois de arrecadar esses recursos (receita pública), o Estado tem que verificar a melhor forma de aplicá-los, sempre tendo como foco o bem comum. Antigamente, observava-se que o Estado não necessitava de recursos, propriamente ditos, para satisfação de suas necessidade, pois isso se resolvia por meio de requisições de serviços ou bens. O Estado para satisfação de necessidade como construção de um monumento apenas ordenava que seus súditos o fizesse (requisição de serviço) ou no caso de necessidade de alimentação para a corte, determinava a entrada da colheita ou de animais (requisição de bens). Nesse momento os interesses individuiais não eram observados. Contudo, com as conquistas democráticas e politização da população o Estado passa ficar impossibilitado de ferir a liberdade pessoal dos indivíduos, bem como de proceder a requisição de seus bens, a não ser nos limites determinads na Constituição. Hoje ainda existem alguns tipos de funcionamento de serviços públicos sem que haja despesa pública, tais como nos casos de prestação de serviços gratuitos como os membros de mesas apuradoras de eleições, membros do Júri, membros do conselho penitenciário, etc. Porém, isso hoje é exceção. 2.2. CONCEITO DOUTRINÁRIO Segundo Aliomar Baleeiro, Despesa Pública é a “Aplicação de certa quantia, em dinheiro, por parte da autoridade ou agente público competente 11 U n id a d e : R e c e it a P ú b lic a e D e s p e s a P ú b lic a dentro de uma autorização legislativa, para execução de fim a cargo do Governo” Já Hely Lopes Meireles define que “despesa é todo dispêndio que a Administração faz para o custeio de seus serviços, remuneração dos servidores, aquisição de bens, execução de obras e serviços e outros empreendimentos necessários à consecução de seus fins.” Como podemos observar a despesa, no sentido da palavra, significa gasto. Sendo assim, despesa pública é o instituto que tem por objetivo a verificação dos gastos efetuados pela Administração Pública direcionado ao atendimento das necessidades públicas. Quando em falamos de despesas públicas não podemos esquecer que a decisão de gastar é fundamentalmente política, pois o Administrador elabora qual será seu plano de governo, qual sua prioridade de atendimento, insere no orçamento apontando os recursos disponíveis para atender seu plano de governo e depois efetua o gasto. Por isso notamos variações de um governo para outro, pois por meio da decisão política o governante pode priorizar o que ele tem convicção que é melhor para a população. Vale ressaltar que essa decisão política sofre limitações constitucionais. Podemos citar alguns exemplos dessas limitações se refere ao mínimo que deve ser aplicado em saúde (EC 29/200), em educação (art. 212, caput, CF), entre outras. 2.3. CLASSIFICAÇÃO DA DESPESA Na doutrina brasileira são muitas as formas de classificar as despesas e por isso não se pode dizer que uma classificação é certa ou errada. Porém para o estudo desta Disciplina nos ateremos às principais classificações. Quanto à natureza as Despesas Públicas se dividem em orçamentárias e extra-orçamentárias. 12 U n id a d e : R e c e it a P ú b lic a e D e s p e s a P ú b lic a 2.3.1. Quanto à natureza: Despesas Orçamentárias e Despesas Extra-orçamentárias Orçamentárias são aquelas despesas que dependem de autorização legislativa e não podem ser realizada sem o crédito correspondente. Dividem- se em duas categorias econômicas: Despesas Correntes e Despesas de Capital. Segundo o disposto nos art. 14 e 15 da Lei 4320/6, a discriminação da despesa se fará, no mínimo, por elementos. Entendendo-se por elementos o desdobramento da despesa com pessoal, material, serviços, obras e outros meios de que se serve a administração publica para consecução dos seus fins. Despesas extra-orçamentárias são pagamentos que não necessitam de autorização legislativa, pois são pagas a margem da lei orçamentária. São provenientes das receitas extra-orçamentárias e não passam valores que o Estado recebeu como mero depositário. Temos como exemplos o pagamento de restos a pagar, consignações recolhidas, cauções devolvidas, etc. 2.3.2. Quanto à categoria econômica: Despesas Correntes e Despesas de Capital Segundo a Lei 4320/64, Despesas Correntes são aquelas que não causam acréscimo ao patrimônio estatal. E por não ter caráter econômico reprodutivo, são utilizadas apenas para a manutenção de atividades de cada órgão/atividade ou para execução dos serviços públicos. Subdividem-se em Despesas de custeio e transferências correntes. o Despesas de Custeio: são aquelas destinadas a manutenção de serviços que já foram criados, incluindo obras de conservação e adaptação de bens imóveis. Quando falamos em serviços previamente criados podemos incluir no rol as despesas com aquisição de materiais de consumo, tais como os materiais de expediente, material de limpeza, etc. 13 U n id a d e : R e c e it a P ú b lic a e D e s p e s a P ú b lic a o Transferências correntes: são aquelas despesas orçamentárias para as quais não corresponde uma contraprestação direta de bens ou serviços, inclusive para contribuições e subvenções de destinadas a manutenção de outras entidades de direito público ou privado. As subvenções podem ser: Sociais que se destinam a cobrir despesas de custeio de instituições públicas ou privadas, de caráter social ou cultural, sem finalidade lucrativa. Temos como exemplo a decisão de transferir recursos a uma Santa Casa (hospital) para atendimento ao SUS ao invés de construir, equipar manter um hospital público, o governo transfere. Importante ressaltar que essas subvenções só podem ser transferidas às instituições sem fins lucrativos, tem que haver proporcionalidade em relação à atividade social exercida pela entidade beneficiada. Econômicas que se destinam a cobrir despesas de custeio de empresas públicas de caráter industrial, comercial, agrícola ou pastoril. São utilizadas para cobrir déficit econômico das empresas estatais: PETROBRÁS, BB, CEF. Servem também para subsidiar preço de determinadas mercadorias. Estas subvenções devem ter previsão legal na lei orçamentária e em lei especial. Também são classificados como transferências correntes os Auxílios, que são transferências correntes previstas na liberdade orçamentária, enquadram-se na tipologia de transferências orçamentárias voluntárias; e as Contribuições financeiras que são transferências orçamentárias obrigatórias, por força da lei ou da Constituição. Ex: fundo de participação dos estados e dos Municípios. Quota estadual e municipal do salário-educação. De acordo coma a Lei 4320/64, as Despesas de Capital são aquelas que contribuem diretamente para formação ou aquisição de umbem de capital, ou seja, caracterizam crescimento do patrimônio público. Dividem-se em Despesas de Investimento, Inversões Financeiras e Transferências de Capital 14 U n id a d e : R e c e it a P ú b lic a e D e s p e s a P ú b lic a o Despesas de Investimento: como próprio nome diz, são aquelas que se destinam ao aumento do patrimônio público e do PIB. São classificadas como investimento as dotações para planejamento e execução de obras, aquisição de imóveis considerados necessários à realização de obras, bem como para aquisição de equipamentos e material permanente e, ainda, para constituição ou aumento do capital de empresas que não sejam de caráter comercial ou financeiro. o Inversões Financeiras: são dotações destinadas à aquisição de imóveis, ou bens de capital já em utilização, que aumentam o patrimônio público, porém não o PIB. Temos ainda a aquisição de títulos de empresas que não importe no aumento do capital social da mesma, compra de ação que aumenta o capital social de empresa comercial e financeira e para constituição ou aumento do capital de entidades ou empresas que visem a objetivos comerciais ou financeiros, inclusive operações bancárias ou de seguros. o Transferências de Capital: dotações transferidas a outras entidades que devem realizar investimentos ou inversões financeiras. Essas transferências denominam-se auxílios ou contribuições. Incluem-se entre as despesas de transferências de capital aquelas destinadas à amortização da dívida pública. Fique ligado: Em 2001 foi editado a Portaria Interministerial n 163 com intuito de aprimorar a consolidação das contas públicas. Todos os entes da federação devem classificar suas receitas e despesas de acordo com esta Portaria e as outras que posteriores a esta. As Despesas de Custeio conforme Portaria Interministerial nº 163/2001 se subdividem em Pessoal e Encargos Sociais, Juros e Encargos da Dívida e Outras Despesas Correntes. Já as Despesas de Capital se subdividem em investimentos, Inversões Financeiras e Amortização da Dívida. 15 U n id a d e : R e c e it a P ú b lic a e D e s p e s a P ú b lic a 2.3.3. Quanto à Regularidade: Despesas Ordinárias e Despesas Extraordinárias. Despesas Ordinárias são aquelas previstas na Lei Orçamentária que são gastas na manutenção dos serviços públicos. São renovadas a cada ano, pois são despesas constantes. Ex. pessoal, material de consumo, serviços de terceiros.. Despesas extraordinárias são aquelas esporáticas provocadas por situações excepcionais e por isso nem todos anos aparecem na Lei do Orçamento. Ex. Recurso que foi enviado à Santa Catarina quando houve a catástofre natural das enchentes. 2.3.4. Quanto à afetação patrimonial: Despesas Efetivas e Despesas Não-efetivas As despesas efetivas são aquelas que contribuem para o decréscimo do patrimônio líquido do Estado. Ex. Despesas com pessoal, transferencias de capital que não sejam referente à amortização da dívida pública, serviços de terceiros, juros da dívida pública, etc. As despesas não-efetivas ou por mutação patrimonial são aquelas que não diminuem o patrimônio líquido, constituindo simples saídas ou alterações compensatórias nos elementos que o compõem. Ex. Aquisição de um automóvel, aquisição de um imóvel, concessão de empréstimos, etc. Interessante observar que, com exceção das aquisições de materiais para formação de estoques, todas as demais despesas correntes provocam diminuição patrimonial (despesa efetiva) e que todas as despesas de capital, com exceção das transferências de recursos financeiros repassados a outras instituições, para realizarem despesa de capital, constituem fatos permutativos, ou seja, despesa não-efetiva. 16 U n id a d e : R e c e it a P ú b lic a e D e s p e s a P ú b lic a 2.4. ESTÁGIOS DAS DESPESAS PÚBLICAS O art. 167 da Constituição Federal de 1988 veda expressamente que haja despesa sem que haja a receita correspondente. Isso importa que para que qualquer despesa deve haver previamente um crédito orçamentário que comporte a referida despesa. Quando estudamos a execução da despesa já temos que ter em mente que antes de iniciar sua realização já houve a aprovação da Lei Orçamentária Anual (estudaremos na próxima undidade), onde estão estimadas as receitas e fixadas as despesas para o exercício. De acordo com a Lei 4320;64, as despesas públicas orçamentárias, para sua realização, percorre alguns estágios, que são:Empenho, Liquidação e Pagamento. Porém, vários doutrinadores acrescentam a Fixação como primeiro estágio da execução da despesa. Diante da divergência, estudaremos a forma mais ampla de execução da despesa. 2.4.1. Fixação 2.4.2. Refere-se à estimativa de quanto o poder público irá alocar em cada dotação, sendo este montante o limite a ser gasto, visando o atendimento das necessidades públicas. 2.4.3. Empenho É o ato emanado pelo poder competente que cria ao Estado a obrigação de pagamento pendente ou não de implemento condição. O empenho, por si só, não cria a obrigação de pagar, podendo ser cancelado ou anulado unilateralmente. Representa o comprometimento de parte do orçamento com determinada despesa. O empenho se formaliza com a emissão da nota de empenho, na que conterá a identificação do credor, a dotação que se vincula a despesa, bem como a dedução desta do saldo da dotação própria. O empenho passa por três fases: Licitação ou sua dispensa, Autorização e Formalização. 17 U n id a d e : R e c e it a P ú b lic a e D e s p e s a P ú b lic a A Licitação é a escolha da proposta mais vantajosa. A autorização é o ato por parte do ordenador de despesa. A formalização é a emissão da nota de empenho. Existem três modalidades ou tipos de empenho: Ordinário, Estimativa ou Global. Ordinário é aquele destinado a atender a despesa cujo pagamento se processe de uma só vez (Ex. compra de um carro à vista). Estimativa ocorre quando visa atender despesas para as quais não se possa previamente determinar o valor exato (despesas mensais com água, luz, telefone, etc.). Empenho Global é aquele destinado a atender a despesas parceladas, cujo o montante possa ser determinado (despesa com serviços de seguraça executado por uma empresa contratada). 2.4.4. Liquidação É a verificação do direito adquirido pelo credor, tendo por base os títulos e documentos comprobatórios do respectivo crédito. Essa verificação tem por finalidade observar a origem e o objeto que se tem de pagar, a importância exata a pagar e a quem se deve pagar para que se extinga a obrigação. Está previsto no art. 63, § 1 da Lei 4320/64. Em caso de liquidação de despesa por fornecimentos feitos ou serviços prestados terá por base o art. 63, § 2 da Lei 4320/64. 2.4.5. Pagamento Entre a liquidação e o pagamento encontramos a Ordem de Pagamento que se resume no despacho da autoridade competente determinando o pagamento da despesa. Por fim vem o pagamento, ultimo estágio da despesa. Fique ligado: A formalização corresponde à emissão da Nota de Empenho que pode ser dispensada em alguns casos previstos na legislação, tais como em caso de despesa com pessoal, juros, etc. O ato de empenho é a autorização da execução da despesa e o comprometimento do crédito orçamentário, ou seja, é a dedução do crédito disponível. O ato de empenho não pode ser dispensado em caso de realização de despesas públicas orçamentárias. 18 U n id a d e : R e c e it a P ú b lic a e D e s p e s a P ú b lic a Corresponde ao desembolso financeiro em favor do credor, e será efetuado por tesouraria ou pagadoria regularmente instituída, por estabelecimentos bancários credenciados e, em casosexcepcionais, por meio de adiantamento ou suprimento de fundos. Vale ressaltar que alguns autores consideram a Ordem de pagamento como estágio da despesa pública. 3. RESTOS A PAGAR Constituem Restos a Pagar as despesas empenhadas, mas não pagas, até 31 de dezembro. Essas despesas são divididas em processadas e não- processadas. As processadas são aquelas despesas que já passaram pelo estágio da Liquidação, ou seja, quando o credor já cumpriu com sua obrigação. E as não processadas são aquela em que houve o empenho, mas o credor ainda não cumpriu com sua obrigação. 3.1. CLASSIFICAÇÃO 3.1.1. Restos a pagar processados Ocorre quando a despesa já foi liquidada, ou seja, o credor já cumpriu com a sua obrigação. Os Restos a Pagar processados não podem ser cancelados, pois o fornecedor de bens/serviços já cumpriu com a obrigação de fazer e a administração não poderá de cumprir com a obrigação de pagar. Se ocorrer o cancelamento a administração ferirá os Princípio da Moralidade, previstos no art. 37 da CF, que rege a administração pública e ainda incorrerá em enriquecimento ilícito. 3.1.2. Restos a pagar não processados Ocorre quando a despesa ainda não foi liquidada. 19 U n id a d e : R e c e it a P ú b lic a e D e s p e s a P ú b lic a 3.2. INSCRIÇÃO EM RESTOS A PAGAR Ocorre na data em que se encerra o exercício financeiro de emissão da nota de empenho. Esta inscrição tem validade até 31 d edezembro do ano subsequente, e é vedada a reiscrição. Conforme estudamos a inscrição de Restos a pagar é uma receita Extra-Orçamentária, pois o Estado aqui só figura como depositário do recurso disponibilizado em um exercício que irá ser pago no outro. Vale ressaltar que as despesas feitas de forma parcelada deverão observar o Princípio da Anualidade Orçamentária, devendo ser empenhadas e contabilizadas no exercício financeiro se a execução for realizada até 31 de dezembro. As parcelas remanescentes deverão ser registradas em Contas de Compensação e incluídas na previsão orçamentárias para o exercício financeiro em que tiver prevista a competência da despesa. 3.3. PAGAMENTO O pagamento dos Restos a Pagar é feito no ano seguinte a sua inscrição. Assim como a inscrição é uma Receita Extra-Orçamentária, o pagamento se figurará uma Despesa Extra-Orçamentária. No momento do pagamento de Restos a Pagar referente à despesa empenhada pelo valor estimado, verifica-se se existe diferença entre o valor da despesa inscrita e o valor real a ser pago. Se houver diferença e essa difereça for superior ao valor inscrito, o valor faltante deverá ser empenhado a conta de despesas de exercíos anteriores. Agora se o valor inscrito em Restos a Pagar for superior ao valor que realmente deve ser pago, o saldo existente deverá ser cancelado. 3.4. CANCELAMENTO Os Restos a Pagar não pagos até 31 d edezembro do ano subsequente a sua inscrição serão cancelados. 20 U n id a d e : R e c e it a P ú b lic a e D e s p e s a P ú b lic a 3.5. PRESCRIÇÃO Os Restos a Pagar prescrevem após 5 anos da data de sua inscrição. Lembrando que falamos aqui de Restos a Pagar Processados. Fique ligado: A Lei de Responsabilidade Fiscal, em seu art. 42 veda o titular de Poder ou órgão referido no art. 20, nos últimos dois quadrimestres do seu mandato, contrair obrigação de despesa que não possa ser cumprida integralmente dentro dele, ou que tenha parcelas a serem pagas no exercício seguinte sem que haja suficiente disponibilidade de caixa para este efeito. 21 U n id a d e : R e c e it a P ú b lic a e D e s p e s a P ú b lic a Referências ARAÚJO, Eugênio Rosa de. Resumo de Direito Financeiro. Rio de Janeiro: Impetus, 2008. HARADA, Kiyoshi. Direito financeiro e tributário. 18. ed. São Paulo: Atlas, 2009. NASCIMENTO, Edson Ronaldo; DEBUS, Ilvo. Lei complementar 101/2002 – entendendo a lei de responsabilidade fiscal. 2. ed. Brasília: Ministério da Fazenda. 2002. OLIVEIRA, Régis Fernandes de. Curso de direito financeiro. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008. 22 Responsável pelo Conteúdo: Profª. Rossana Perillo www.cruzeirodosul.edu.br Campus Liberdade Rua Galvão Bueno, 868 01506-000 São Paulo SP Brasil Tel: (55 11) 3385-3000
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