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Dados missionários do Brasil

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IDE AO SERTÃO
O sertão tem sido uma região no foco da Igreja Evangélica, tendo em vista a dificuldade de acesso a esses locais, cuja realidade é bastante distante de muitos de nós. Para o presidente do Instituto Água Viva (IAV), Pr. Carlinston Pereira, o povo sertanejo está inserido entre os menos alcançados pela Palavra no Brasil. Mais de 6 mil comunidades rurais não contam com a presença evangélica e, em alguns municípios, menos de 1% dos que lá vivem professa essa fé.
Somente na zona rural são cerca de 16 milhões de almas não atingidas pela mensagem de Cristo, habitantes do grupo das 71% das cidades menos evangelizadas do país.
“Transformar esta realidade é um grande desafio para a Igreja Evangélica brasileira.
Os cristãos precisam olhar para o Nordeste como um campo missionário fértil e sedento pelo amor de Jesus Cristo”, explica o pastor.
O sacerdote destaca, ainda, o alto sincretismo religioso, questão praticamente cultural que se impõe como grande desafio. “O povo carrega, ao longo das gerações, usos e costumes e várias simpatias que aprenderam com seus avós e bisavós. Quebrá-los e reconstruí-los requer um trabalho minucioso e respeitoso para que, de fato, não venhamos a feri-los naquilo que acreditam.”
Criado em 2015, o IAV atua no sertão nordestino, sobretudo na Bahia, no Piauí e em Pernambuco, onde são registrados os piores Índices de Desenvolvimento Humano (IDHs) do território nacional, média de 0,55, e renda per capita abaixo de meio salário mínimo. A escolha pelo semiárido se deu por se tratar de uma área de extrema pobreza e vulnerabilidade social, na qual quase nenhum projeto governamental está inserido.
A META É “TRANSFORMAR E IMPACTAR A GEOGRAFIA DE UMA REGIÃO POUCO APOIADA NO BRASIL E SER UMA PONTE PARA OUTRAS INSTITUIÇÕES NA LUTA PELA RESSIGNIFICAÇÃO E VALORAÇÃO DO SERTANEJO”.
O projeto se apoia em quatro pilares: saúde; esporte; reforço escolar com aulas de balé, música, informática e alfabetização; e geração de renda com fábricas de bonés, camisas e chinelos, de violão, hidroponia, piscicultura, plantação de frutas, e outras. São ações que atendem diariamente mais duas mil crianças em situação risco social, cercadas por abusos físicos e sexuais, sem nenhuma perspectiva educacional. E mais de 10 mil pessoas indiretamente.
Titular da 2ª Igreja do Evangelho Quadrangular, no bairro da Serrinha, em Fortaleza, na capital do Ceará, Pr. Antônio José Lima Cavalcante afirma que a falta de conhecimento desse cenário é um dificultador na hora de levar a Palavra. “A Igreja Evangélica no Brasil não sabe, mas há gente que nunca ouviu falar de Jesus no sertão nordestino. Faltam obreiros bem treinados que conheçam a cultura e a cosmovisão sertaneja”, ressalta.
Ele comenta que, além do sertanejo, a região conta com a presença de grupos como o quilombola, o cigano e o indígena. Entender e respeitar cada uma dessas diferenças ajuda na adaptação de missionários vindos de fora. “Obreiros que desejam trabalhar no sertão precisam ter a consciência de que terão uma vida simples, sem muita infraestrutura ou acesso a transporte público. Enfrentarão a realidade da seca, estarão distantes dos grandes acontecimentos evangélicos, correndo o risco de ser esquecidos pelo restante da Igreja. Terão que vencer a tentação de sucumbir à pressão e à cobrança de ter resultados rápidos”, adverte.
IDE NAS FAVELAS
Um contingente superior a 11 milhões de pessoas vive em mais de 6 mil favelas espalhadas em todo o território nacional. Gente exposta à falta de saneamento básico e segurança, em casas sem o mínimo de infraestrutura em total ausência do Estado. Os dados, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), são referentes ao Censo 2010. Portanto, devem ser muito maiores.
E é nesse panorama que as igrejas têm encontrado nas comunidades o terreno para desenvolver trabalhos de assistência social e, principalmente, cumprir o Ide de Cristo, como observa Christina Vital, professora do programa de pós-graduação em Sociologia da Universidade Federal Fluminense (UFF).
“A PRESENÇA CRESCENTE DE EVANGÉLICOS MUDOU A PAISAGEM DESSAS LOCALIDADES E TEM PRODUZIDO MUITOS EFEITOS NA SOCIEDADE MAIS AMPLA. NÃO É POSSÍVEL ANALISAR O MOVIMENTO SOCIAL URBANO HOJE SEM REFLETIR SOBRE A AÇÃO CRESCENTE DE EVANGÉLICOS. SÃO VERDADEIRAS REDES DE APOIO QUE ATUAM EM VÁRIAS FRENTES: MATERIAL, ESPIRITUAL E PSICOLÓGICA.”
Um exemplo desse engajamento crescente de crentes está no bairro de Flexal II, em Cariacica (ES), onde há 20 anos a Jocum (Jovens com uma Missão) desenvolve projetos para todas as faixas etárias em uma comunidade às voltas com a drogadição, a violência e o descaso por parte das autoridades, o que potencializa a má fama e a baixa autoestima dos moradores, que não contam sequer com os serviços mais básicos, como pontua Andrea Ribeiro, diretora da base da Jocum em Vitória.
“A Palavra de Deus é o fundamento de tudo o que realizamos aqui. Ensinamos, pregamos, testemunhamos, servimos, visitamos, criamos relacionamentos, participamos de reuniões de associação de moradores, realizamos oficinas e várias atividades em parcerias também com órgãos não cristãos. Sobretudo entendemos que um dos nossos papéis na comunidade é ser ponte. Somos moradores desse bairro e vivemos entre eles.”
Com vários desafios enfrentados e superados ao longo dessas duas décadas, Andrea destaca que o maior obstáculo ainda é a religiosidade de algumas igrejas na área. “As carências das comunidades são oportunidades de apresentar o Reino e as intenções de Deus, e essas oportunidades nos tornam mais humanos, mais iguais a Cristo.”
A fim de ampliar a reflexão sobre a situação do Brasil em relação aos não alcançados, trará a série especial “Ide” trará relatos de pessoas envolvidas na causa das missões urbanas. Acompanhe nossas próximas edições e tenha essa chama da semeadura avivada em seu coração.

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