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433939153-A-psicologia-da-Infantaria

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1 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“ENSAIO SOBRE A PSICOLOGIA 
DA INFANTARIA” 
 
TENENTE CORONEL 
BOUCHACOURT 
 
REIMPRESSÃO DA OBRA PELO CURSO DE INFANTARIA DA 
AMAM EM PARCERIA COM O CLUBE MILITAR 
 
TRÊS CORAÇÕES 
2014 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2 
 
PREFÁCIO 
 
 Quando eu ainda era um jovem capitão, li, pela primeira vez, a obra do tenente-
coronel Bouchacourt, denominada ENSAIO SOBRE A PSICOLOGIA DA 
INFANTARIA. Era ele um oficial francês que comandou um regimento da infantaria na 
2ª Guerra Mundial. Identificamos, imediatamente, em seu livro diversos pontos comuns 
e úteis que deveríamos aprender e aplicar em nossa própria infantaria. 
 O conhecimento que Bouchacourt nos traz é extremamente útil para o 
desenvolvimento da capacidade de liderança do jovem oficial, fazendo-o prestar atenção 
a aspectos fundamentais do comando, da liderança e da convivência com pessoas em 
grupos hierarquizados, onde é preciso fazer o subordinando obedecer ao comandante, 
sem que seja preciso empregar medidas coercitivas a todo momento. 
 A historia militar mostra, e o livro em pauta reafirma mais uma vez, que a 
liderança militar, através dos tempos, sempre foi o alicerce das tropas coesas, motivadas 
e aguerridas. Com tudo, indica, também, as dificuldades encontradas pelos comandantes 
na condução de seus soldados em combate. 
 Neste ponto, cabe uma pergunta instigante: 
- É fácil comandar grupos humanos em uma instituição fortemente hierarquizada? 
 Há os que acreditam que sim e sempre apontam como exemplo as forças 
armadas, organizadas dentro de padrões impostos pela hierarquia e pela disciplina, de 
acordo com as leis e os regulamentos em vigor, nas quais todas as ordens emitidas pelas 
autoridades legais seriam cumpridas sem relutância, inclusive tornando a liderança coisa 
supérflua. 
 Assim sendo, em um exercito, instituição com hierarquia estabelecida em vários 
níveis, as ordens emitidas pelos comandos superiores seriam automaticamente 
obedecidas, devido à disciplina ensinada e exigida de todos os seus integrantes. Mas a 
historia militar é rica em exemplos que demonstram claramente que esta obediência 
poderá não ocorrer automaticamente. 
 Nas situações de normalidade, quando o grupo militar e as pessoas que o 
integram não estão sob pressão, geralmente as ordens dos comandantes são cumpridas. 
Entretanto, nas crises e principalmente no combate, quando está presente o risco de vida 
e o soldados sofrem penúrias de todo tipo, os indivíduos só obedeceram 
voluntariamente às ordens se confiarem em seus comandantes. 
 Por tanto, quando a hierarquia e a disciplina estão inseridas em um quadro onde 
os comandantes estabeleceram sólidos laços de liderança com os Subordinados, mesmo 
havendo pressões, riscos e extremas dificuldades, raramente ocorreram casos de 
desobediência. 
 Em uma pesquisa realizada em 1944 com tropas de infantaria no teatro de 
operações do mediterrâneo, pediu-se aos entrevistados que apontassem as principais 
características do melhor combatente que conhecem pessoalmente. As respostas foram 
separadas por grupos hierárquicos: convocados (cabos e soldados), sargentos e oficiais. 
Quando os entrevistados responderam que o melhor militar que conheciam era um 
oficial, a liderança que exerciam foi citada um numero de vezes que chegou quase ao 
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dobro das características coragem e agressividade. Esse exemplo mostra com clareza 
que os soldados esperam que seus oficiais e sargentos os liderem efetivamente. 
 Por isso, muitos exércitos passaram a desenvolver projetos voltados para a 
formação de lideres e inseriram esta preocupação no fatores básicos do preparo, que são 
as providencias fundamentais que devem ser tomadas para que um exercito se torne 
instrumento eficaz de combate. São elas: 
1) Dotar a instituição de organização e estrutura adequadas. 
2) Buscar permanente modernização da doutrina 
3) Buscar permanente modernização do material de emprego militar 
4) Formar pessoal de alta capacitação 
5) Formar quadros com elevada capacidade de liderança 
6) Realizar o treinamento adequado com as organizações militares 
operacionais 
Por tanto, a iniciativa do Curso de Infantaria do Corpo de Cadetes da Academia 
Militar das Agulhas Negras, que providenciou a edição deste ENSAIO DA 
PSICOLOGIA DA INFANTARIA, fica completamente justificada. A leitura deste livro 
elevara a capacidade de liderança dos jovens aspirantes e contribuirá para o 
aprimoramento de nossa infantaria. 
 
BRASIL ACIMA DE TUDO 
 
Mario Hecksheh Neto – Cel Inf e Estado-Maior (Reserva) 
Chefe da Seção de Doutrina e Liderança do Corpo de Cadetes. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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ENSAIO SÔBRE A 
PSICOLOGIA DA INFANTARIA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5 
 
MINISTERIO DA GUERRA 
BIBLIOTECA DO EXERCITO 
 
REORGANIZADOR: 
General V. Benício da Silva 
 
COMISSÃO DIRETORA DE PUBLICAÇÃO 
 
Coronel Pedro da Costa Leite (Diretor) 
Ten-cel. Salm de Miranda 
Ten-cel. Jaime Ribeiro da Graça 
Major I. E. Deoclécio De Paranhos Antunes 
Cap. Carlos de Meira Matos 
Dr. Luiz Edmundo 
Dar. Carlos Maul 
Dr. Joaquin Tomaz de Paiva 
 
ADMINISTRAÇÃO: 
Cap. José Ribamar Leão e Silva (Secret. e Fiscal Adm) 
Cap. I. E. Lourival Açuçena de Araújo (TES) 
 
- SEDE – 
EDIFICIO DO MINISTÉRIO DA GUERRA 
 
Terceiro pavimento 
Praça da Republica 
RIO DE JANEIRO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
6 
 
BIBLIOTECA DO EXERCITO 
VOLUME 157 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ENSAIO SÔBRE A 
PSICOLOGIA DA INFANTARIA 
 
(Obra premiada pela Academia Francesa) 
 
 
 
TENENTE CORONEL BOUCHACOURT 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
TRADUÇÃO DO 
MAJOR IRACILIO IVO DE FIGUEIREDO PESSOA 
 
 
 
7 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A presente tradução foi feita do francês “ESSAI SUR LA PSYCHOLOGIE DE 
L’INFANTARIE”, publicado em 1933 pelos editores: CHARLESLAVAUZELE & CIE, 
124, Boulevard Saint-Germain. 
PARIS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
8 
 
NOTICIA SOBRE O AUTOR 
 Nascido em 1884, o general Bouchacourt, que concluiu em 1906 o curso da 
famosa Escola Militar de Saint-Cyr, fez a maior parte da sua carreira militar no 
comando da Infantaria. Profundo conhecedor de sua Arma, exerceu o comando do 22º 
Batalhão de Caçadores Alpinos durante cinco anos e foi, durante dois anos e meios, 
Comandante do 131º Regimento de Infantaria. 
Além de suas atividades de comandante de tropa foi, durante vários anos, 
professor de Tática de Infantaria no Centro de Estudos de Infantaria, em Versailles; foi 
Chefe da 3ª Seção do Estado Maior da 3ª Divisão de Marcha sobre o Marrocos, em 
seguida integrou o Estado Maior do Comando Supremo das Tropas de Marrocos, em 
Rabat, Durante as operações contra Abd-el-Krim e, finalmente, Chefe do Estado Maior 
da Região de Fez. 
Antes da guerra de 1914-1918, fez a campanha de Marrocos, em 1913, como 
tenente do 2º Regimento da Legião Estrangeira. Regressando à França no inicio da 1ª 
Guerra Mundial participou, como capitão do 3º Regimento Misto Zuavos-Atiradores, 
das operações na Bélgica e no norte da França. Restabelecido de ferimentos que sofrera, 
foi incluído no 94º Regimento de Infantaria e promovido a major, sendo, então, um dos 
mais jovens desse posto no Exército Francês. Como Comandante de Batalhão participou 
das principais batalhas da guerra de 1914-1918, particularmente em Verdun e nas 
grandes ofensivas finais. Três vezes ferido, foi feito Cavaleiro da Legião de Honra no 
campo de batalha de Saillisel, no Somme e condecorado com a Cruz de Guerra, com 7 
citações, das quais 4 em Ordem do Dia do Exército. 
Durante a guerra de 1939-1940, o general Bouchacourt comandoua Infantaria da 
42º Divisão, que operava em Metz. Depois de ter comandado os destacamentos 
avançados na frente da Linha Maginot, tomou parte na Batalha da França, sobre o 
Aisne, de 9 a 13 de junho de 1940, na região de Reims. Após 5 dias e 5 noites de 
ininterrupta batalha encarniçada, a 42ª Divisão foi vencida e completamente desbaratada 
e o general Bouchacourt foi aprisionado com os últimos sobreviventes de sua tropa. 
Cumpriu seu cativeiro na Alemanha, no campo de Lubeck, sendo o mais graduado desse 
campo, de 28 de outubro de 1942 a 2 de maio de 1945. Durante esta campanha o 
general Bouchacourt foi citado em Ordem do Dia do Exército, ascendeu ao grau de 
Comendador da Legião de Honra e finalmente, por excepcionais serviços de guerra, foi 
elevado à dignidade de Grande Oficial da Legião de Honra. 
Ao general Bouchacourt devem-se os ensinamentos que reuniu em duas obras 
notáveis. A primeira ele a escreveu quando major e tem por titulo: “A infantaria na 
batalha”. A segunda, que ora apresentamos em português, graças a gentileza do autor e 
da Editora Charles-Lavauzelle & Cie, que dispensaram qualquer vantagem por direitos 
autorais, escreveu-a quando tenente-coronel e mereceu as honras de um premio da 
Acamedia Francesa. 
Pareceu-nos que ao agradecer ao autor os ensinamentos que nos proporciona 
nenhuma homenagem seria mais significativa do que abrir este trabalho com uma 
noticia sobre o glorioso soldado que o escreveu 
O TRADUTOR 
 
9 
 
INTRODUÇÃO 
Quando um chefe reuniu os meios necessários ao desenvolvimento de uma 
operação de guerra, isto é, os efeitos e o material , já fez muito para que ela tenha êxito. 
Quando, em seguida, tomou decisões judiciosas e deu ordens conformes com os 
princípios de arte militar e, sobretudo, deu-lhes a marca pessoal e nova que é própria do 
gênio ou apenas do talento, fêz - ou quase fez –tudo o que lhe era possível. 
Mas se a Infantaria- se não a rainha das batalhas, pelo menos a principal obreira 
- não se empenha com iodo coação e todo heroísmo no ataque; senão se mantém com a 
energia feroz e admirável espírito de sacrifício na defesa, é preciso renunciar à vitória e 
isso quer dizer derrota e talvez desgraça. 
É mister que o chefe saiba empregar sua Infantaria e saiba fazê-la lutar .Para isso 
é-lhe indispensável conhecer a psicologia da infantaria e ser capaz de explorar-lhe os 
princípios .Poderá ,então ,comandar vitoriosamente. 
A destruição material, que alias seria impossível de realizar até o aniquilamento 
total, é apenas um meio para vencer o inimigo. O que se precisa realizar é a 
desorganização. É essencialmente a vontade do adversário que se deve procurar abater. 
E ainda ai é uma questão de psicologia e de psicologia da Infantaria¹. Porque, 
quando a Infantaria traz a única verdadeira guardiã do terreno – tiver suas linhas 
atravessadas , as portas do inimigo estarão arrombadas bem depressa os canhões 
inimigos , incapazes de se defender sozinhos ,serão apresados e se tornaram troféus e o 
mesmo acontecerá com os campos de aterragem e as esquadrilhas de aviões ,com as 
cidades ,os estados maiores e os próprios chefes .Arrancadas as armaduras depois de 
arrombadas as portas ,estará completado o aniquilamento. 
Eis duplamente exposto porque é preciso ensaiar a compreensão da psicologia da 
Infantaria, uma das bases dos conhecimentos militares muito pouco estudada 
metodicamente. 
 
 
 
____________________________ 
¹ - Não se deve tomar em pouca nem em demasiada conta o material Certamente este, considerado 
como meio de transporte da Infantaria, como auxiliar e mais uma parcela considerável de poder para 
essa Arma, será mais e mais necessário, com a condição de não se lhe exagerar a dosagem, pois 
consome muito dinheiro e grandes efetivos imobilizados a seu serviço fora do campo de batalha. Mas 
imaginar-seque ele substituíra a Infantaria, que com alguns milhares de carros rápidos, algumas 
centenas ou milhares de aviões transportando toneladas de explosivos, até mesmo (e com que 
dificuldades, longe ainda de serem resolvidos!) uma divisão inteira com seus capitães... imaginar-se que 
se poderá obter assim a decisão, é iludir-se, é não tomar na sua verdadeira extensão o imenso que é 
uma guerra nacional. U´a nação que conheça a doutrina e os meios de guerra de massas humanas, não 
se deixará deprimir por um “raid” feliá sobre a sua capital ou sobre pontos sensíveis de seu território; 
por uma ação de surpresa sobre as retaguardas, que será forçosamente limitada. Se seus exércitos são 
bem comandados, sua massa de Infantaria vencerá com certeza. A vitória, lenta talvez mais inevitável, 
chegará com a penetração da Infantaria em uma invasão completa. E se o inimigo teve a covardia de 
atacar a população civil, é a ameaça de represálias terríveis. Pode-se dizer que a guerra, a grande guerra, 
tem sido e continua à base de Infantaria. 
 
 
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PRIMEIRA PARTE 
 
 
A TROPA 
 
 
PISCOLOGIA DA TROPA 
PISCOLGIA DO CAMPO 
DE BATALHA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
11 
 
CAPITULO 1 
 
Característicos da psicologia da Infantaria - Nem a psicologia individual nem a 
psicologia individual das massas – A Infantaria é massa particular por sua composição, 
sua organização, pelos sofrimentos e perigos obrigatórios a que se destina,por sua 
finalidade de destruição metódica e por seu armamento – traços característicos que 
descorem dessas particularidades. 
 
 Não se poderia tratar dos estudos de uma psicologia coletiva sem pensar nos 
notáveis trabalhos de Gustavo Le Bom. Não se pode falar da alma da Infantaria sem 
recorrer a Ardant du Picq e ao general de Mand’huy². 
Por isso, se é preciso estudar o homem para compreender o infante, - (o homem 
é o primeiro instrumento, do combate), din Ardant du Picq, “estudemos, então, o 
homem no combate, porque ele é a força que o realiza”,-Este estudo não basta para 
conhecer a Infantaria . 
A Infantaria é a massa psicológica, no sentido muito geral adotado por G. Le 
Bon. Deve se admitir, também para ela, a verdade do principio fundamental 
estabelecido por Le Bon, não poderiam aplicar, sem grandes modificações, a psicologia 
da infantaria. 
Muitos desses princípios mantêm-se verdadeiros, no caso particular. É inútil 
repetir aqui e seria desnecessário fazer nova demonstração depois da que tão 
magistralmente foi feita na obra citada. Vamos, pois, apenas determinar os 
característicos especiais e principais dessa massa particular que é a tropa de Infantaria. 
Pode-se admitir que difere essencialmente das outras massas por: 
-Sua composição 
-Sua organização 
-perigos e sofrimentos a que obrigatoriamente se destina 
-sua finalidade de destruição metódica e seu armamento permanentemente 
aperfeiçoado 
Vejamos o que existe de característico em sua composição. 
Mesmo na Infantaria francesa, que queremos estudar mais especificamente, não e[é 
sempre idêntica .Há, com efeito, regimentos de raças muito diferentes :franceses 
,nativos de todos s países ,estrangeiros europeus .Não nos deteremos, de momento, 
nessas diferenças de raça. Sua importância, é frequentemente grande em psicologia 
coletiva, mas é aqui atenuada pela semelhança de organização ,de finalidade de 
comando por chefes franceses. Menos ainda no deteremos diante das diferenças 
individuais de inteligência, religião, opinião, idade, etc. São diferenças comuns na 
composição de todas as massas. Mas deve-se reter, como particularidade essencial da 
massa “tropa de Infantaria”, que ela não compreende se não homens cheios de vida, 
com exclusão de mulheres, e que sua composição tem um caráter privilegiado de 
estabilidade e permanecia. 
A primeira particularidade (homens cheios de vida e ausência de mulheres) tem 
 
² - A psicologia das multidões, por G. Le Bom – Etudes sur Le combat, pelo coronel Ardant Du Picq – 
Infanterie, pelocoronel de Mand´huy. 
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como consequência diminuir consideravelmente o impulso, a mobilidade e a 
irritabilidade, características fundamentais das outras massas. A emotividade, a 
sensibilidade, digamos os sentimentos falsos ou exagerados comuns nos agrupamentos 
populares habituais estão, aqui mais ou menos suprimidos. 
A fixidez da composição, isto é, o fato de que um regimento permanece durante 
meses composto exatamente dos mesmos homens, ao passo que nas massas ordinárias 
muitos indivíduos mudam em cada reunião, tem consequências ainda maiores.com 
efeito, tal massa permanente tem um passado e um futuro comuns; seus elementos se 
conhecem e sua sorte é, por muito tempo, a mesma. Dai uma personalidade coletiva 
mais acentuada e mais estável e para seus membros, um forte sentimento de 
solidariedade. Cada um sabe que não poderia subtrair-se a coletividade, mesmo se 
deixa-se de desejar fazer parte dela. Resulta daí, também, que o comandante dessa 
massa livra-se de um dos principais cuidados dos dirigentes que é o de procurar 
convencer, sem cessar, aqueles que queiram guiar e utilizar como força coletiva, da 
necessidade de permanecerem unidos e de se manterem acordes uns com os outros. 
 A estabilidade da formação permite o nascer e o desenvolvimento do orgulho 
coletivo. Se não fosse preciso, em psicologia, evitar-se rigorosamente os números, 
poder-se-ia dizer que uma tropa de Infantaria suscetível de ver o seu valor aumentar em 
progressão geométrica por efeito de elogios coletivos. Quando uma unidade se torna ou 
crê que se tornou uma tropa de elite, é capaz de esforços mais duros, de um rendimento 
muito maior. E o leve desprezo que gosta de demonstrar para com os vizinhos menos 
felizes, lisonjeia o traço de caráter mais comum e mais útil de toda tropa como de todo 
homem: o amor-próprio. É preciso, vê-lo-emos mais tarde, explorar esta qualidade – 
sim, qualidade – que vale mais que o interesse, o apetite do ganho, do dinheiro, que é o 
principal aguilhão de tantos outros tipos de humanos. 
 A tropa de Infantaria é massa organizada. Ai esta uma particularidade de tal 
maneira importante que, de bom grado, algumas pessoas concluiriam que, ela deixa, por 
isso mesmo, de ser uma massa. Seria exata essa conclusão, se reservasse o nome de 
massa às simples multidões, mas a designação de massa psicológica é mais geral. 
Aplica-se também as tribos, aos partidos políticos, as aglomerações religiosas que tem, 
todos, pelo menos um embrião de organização que procuram sempre ampliar. Trata-se, 
com relação a tropa militar, de uma organização muito mais detalhada, mais completa e 
mais forte. É uma coletividade que, como já se viu, não foi reunida acidentalmente, nem 
momentaneamente. Seus membros recebem instrução e treinamento individuais, que 
modificam certos caracteres iniciais. 
 Ela se fraciona em unidades que tem composição fixa. Cama duma tem sua 
parte, conhece o vizinho, é conhecido por ele e dos chefes. Desta forma, para os 
membros dessa coletividade, desaparece o anonimato e ressurge o sentimento de 
responsabilidade individual, o que é excelente. 
Há quadros permanentes que instruem, dirigem e atendem estas unidades. São 
constituídos escalões sucessivos de comando, permitindo uma harmoniosa e equilibrada 
repartição das tarefas, tornando possível exigir e obter uma execução minuciosa e exala. 
 O estabelecimento de uma hierarquia, de regulamentos, de sanções, torna a tropa 
de Infantaria dependente de ordens firmes, das quais não escapa. Como se está distante 
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daquela massa a qual é indispensável e difícil convencer mesmo das ideias mais simples 
e da qual apenas esperamos, como reação, atos imediatos e imperfeitos. 
 Finalmente, a frente a cada tropa de Infantaria, encontra-se um chefe que ela não 
escolheu nem elegeu e do qual depende completamente, dentro dos limites dos 
regulamentos e das ordens que o próprio chefe recebe, mas com limitações que lhe 
deixam um poder considerável. 
 Não escolheu e é forçada a obedecer-lhe. Nisso não há duvida. Mas ela o segue 
bem ou mal, obedece-lhe com maior ou menos entusiasmo, executa-lhe as ordens com 
maior ou menos devotamento e abnegação, de acordo com o que pensa dele. Ela se 
interessa, pode-se dizer, de forma vital, por seu valor intelectual e por suas qualidades 
de chefe. Estuda-o apaixonadamente e, como o vê sob todos os aspectos, de perto e de 
baixo – observatório – que, no caso particular, é o melhor, - conhece-o geralmente bem 
e sua apreciação – não as apreciações individuais, que dependem frequentemente de 
interesses particulares, mas a apreciação coletiva – geralmente não é justa. 
 Quer encontrar naquele que a comanda, condições de superioridade. E tem 
razão. Não será com seus galões que ele a comandara, mas com o cérebro e suas 
qualidades físicas e morais. Deseja, tal como aconteceu a Joana D’Arc reconhecendo 
Calos VII em maio a seus cortesãos vestidos como ele, reconhecer seu comandante sem 
precisar olhar-lhe os galões. Felizmente é frequente acontecer isso. Sob este ponto de 
vista a tropa de Infantaria é, talvez, mais exigente que certas tropas técnicas, as quais 
admitem que uma grande especialização teórica, exigindo longa permanência em 
gabinetes de estudo, prejudique a aparência física sem quebra do prestigio. Quer 
encontrar em seu comandante um físico marcial. Ri-se da beleza, naturalmente, e até de 
certa compleição física, mas gosta de ter a sua frente um homem de aparência enérgica e 
máscula, bem conformado e que, afina, seja capaz de fazer aquilo que ordena que se 
faça. Não se pense que ela desdenha a distinção e as boas maneiras. Detesta a pose mas 
também o vulgar e nunca confunde com simplicidade. Não deseja que ele, mesmo 
moralmente, se lhe nivele. Um chefe, um comandante, não é igual. 
 É também perfeitamente capaz, sobretudo coletivamente, de perceber a 
superioridade intelectual e de reconhecer o espírito de justiça e a bondade. 
 Se estima a bondade, se pensa poder exigi-la, tem horror a fraqueza. Esta é, para 
quem comanda, uma baixeza e um erro. Aquele que é fraco com seus subordinados não 
sabe defende-los nem contra o inimigo, nem contra a indisciplina e a desordem, nem, eu 
ia dizer contra os chefes superiores, mas quero dizer apenas contra as decisões mal 
esclarecidas de alguns chefes. E se o militar se alegra, a principio, por poder fazer tudo 
que quer, depressa se apercebe que essa liberdade cria desordem e desorganização, traz-
lhe muito mais aborrecimentos que a observância das regras estabelecidas, causa-lhe 
perigos e perdas na guerra, porque o comandante que não é enérgico, merece e encontra 
a derrota. 
 Dessa forma, quando uma tropa de Infantaria julga um chefe digno de comanda-
la, quando ele procura compreende-la e resolver-lhe as necessidades legitimas, ela se 
interessar-se e dedicar-se. Não creio que se possa, nas outras atividades (de operários, 
de crianças, mesmo infelizes asilados, etc.) encontrar mais fácil e mais frequentemente a 
suprema recompensa de quem tem alma bem formada e comanda estimando os que lhe 
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estão sob suas ordens: - a estima dos subordinados. Quem, tendo feito a guerra da 
Infantaria, não guarda recordações tocantes, capazes de provocar lagrimas? Quantos 
soldados deram a seus estimados chefes, provas de dedicação, pode-se dizer, trágicas! 
Quantos deram a vida para recolher seu oficial morto ou ferido! Quantos até arriscaram 
a vida para dar-lhe um prazer! Pode-se citar muitos legionários – e entre eles legionários 
alemães, ordenanças de oficiais franceses – que saíram de seus acampamentos, em 
Marrocos, expondo-se a serem presos ou mortos, para recolher num cantil, gota a gota, 
de uma fonte longínqua, água mias pura e mais fresca para seu oficial, a fim de que este 
pudesse dispor de águamelhor do que a que estava a disposição de todos mais era pior 
na qualidade como no gosto. Quantos - isso é tão belo e de tal forma generoso que em 
caso semelhante à oferta é, geralmente, recusada – quiseram, durante marchas 
extremamente penosas através dos desertos pedregosos – os hamadas, como se diz ali, - 
dar a seu tenente a ultima porção de dágua, deixar para ele sozinho a sombra da única 
arvore encontrada por milagre durante uma etapa de quarenta quilômetros, sob um sol 
de chumbo, quase um sol de morte! 
 Isto nos leva a tratar da terceira particularidade essencial da tropa de Infantaria: - 
seu único aspecto de miserai. Ela se destina, obrigatoriamente, a sofrimentos e perigos 
excepcionais. 
 O general – então coronel – de Mand’huy intitulou as duas principais partes de 
sua obra:¹ “A infantaria em luta com a fadiga” e “A Infantaria em luta com o medo”. 
Teve muita razão ressaltando, na segunda, os perigos especiais a que se expõe esta 
Arma, si bem que – não tendo naquela época participado da Grande Guerra – não 
tivesse percebido o caráter de grande tragédia existente nas tarefas que cabem ao 
infante, o qual tem por zona de ação na batalha, poder-se-ia dizer, o próprio reino do 
terror. Seus camaradas caem-lhe em torno de milhares. É necessário que ele viva - e 
frequentemente por não muito tempo -, é necessário que ele viva no meio da trajetórias 
das metralhadoras, das explosões dos obuses, dos gases. E, ainda que o público se 
atemorize mais com a lembrança dos gases o infante, que sabe que é possível garantir-se 
com as mascaras, e que não tem que escolher senão entre as gradações do pior, prefere-
os aos obuses enormes que podem despedaça-lo e, sobretudo, as metralhadoras que não 
perdoam nunca! E não é impressionante e reveladora esta ordem de preferência? E 
depois de tudo é preciso afrontar de perto, quando vitoriosamente atacado, a destruição 
certa pelas armas do combate aproximado: a granada de mão e a baioneta. Sem querer 
diminuir os perigos a que se expõem as outras Armas (notadamente a aviação), não se 
pode deixar de reconhecer que neste assunto o quinhão da Infantaria é singular. A 
percentagem de perdas é terrivelmente eloquente e da à Infantaria, por enorme diferença 
o pouco invejável primeiro lugar. 
Perigos excepcionais, portanto, tal é o quinhão obrigatório da Infantaria. São-
lhes reservados, também – e por vezes sem que o comando nada possa fazer - os 
maiores sofrimentos. O coronel de Mand’huy, em seu livro, quase não se refere, além 
dos perigos, senão as fadigas. Cita a marcha como a principal prova da Infantaria, 
acrescentando que “fora a marcha, as fadigas da Infantaria são mais ou menos as 
 
¹ - Infantaria, pelo coronel de Mand´huy. 
milto
Highlight
milto
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15 
 
mesmas que as das outras tropas”. Sob o ponto de vista de fadiga, podemos admiti-lo. 
Mas, infelizmente, as marchas e as fadigas são apenas uma pequena parte dos múltiplos 
sofrimentos que torturam a Infantaria. A guerra bem o provou. E não é que se reservar 
para esta Arma, sistematicamente, tão triste privilegio. Mas isso faz parte de suas 
atribuições especificas. Isolados ou quase isolados (quando outros, como os artilheiros 
de acompanhamento¹, ficam próximos deles, partilham a sorte, méritos e psicologia) os 
infantes ocupam a zona mais batida pelos projeteis, zona onde não só tudo é mais 
perigoso, mas onde tudo é menos confortável, mais difícil e onde, mesmo as coisas mais 
necessárias são momentaneamente de todo irrealizáveis. Os reaprovisionamentos são 
por vezes impossíveis, mesmo a noite: - é a fome e a sede. As comunicações são 
penosas e difíceis e muitas vezes suprimidas: - e é o agravar de sofrimentos para os 
feridos, algumas vezes até a morte daqueles que se salvariam se fossem socorridos. Não 
se pode, tão junto do inimigo e em região em que todos lutam encarniçadamente, 
construir abrigos aceitáveis, nem rapara-los: - é a vida de muitos dias em desvãos e em 
buracos que não seriam utilizados nem por animais selvagens, é a impossibilidade, por 
longas semanas, de tomar um banho, d trocar de roupa ou de calçado; a obrigação de 
permanecer molhado, ou sobre lama, ou sobre neve, o risco de ser tragado por estas, 
morte horrível que deixa bem longe a queda mortal do aviador ou seu desaparecimento 
em pleno céu. 
 Aqueles que não passaram por isso e assim não conseguem apreender bem 
quanto há de espantoso nessa sorte e aos quais ela parece impossível de ser suportada a 
sangue frio, por certo não negam a essa pobre massa que é a tropa de Infantaria, a 
particularidade capital a que nos vimos referido: - é destinada a sofrimentos e perigos 
excepcionais e obrigatórios. 
 Dai resulta que, se tem de aceitar de qualquer maneira os perigos e os 
sofrimentos característicos da Arma, não se quer outros e se tem o direito de exigir que 
aqueles não apareçam senão na ocasião necessária. Dessas considerações conclui-se que 
um dos primeiros traços característicos da infantaria, aquele que talvez sobreleve todos 
os demais e que de maneira alguma será impunemente ignorado, é a necessidade da 
justiça. Podemos proibir-lhe quase tudo, impor-lhe quase tudo, reprimir-lhe quase tudo, 
se proibimos, se exigimos e punimos igualmente e a todos, sem exceções injustificadas. 
Ao contrário, sobrecarreguem-se alguns, favoreçam-se outros, por pequenas que sejam 
as diferenças, por pouco importantes que sejam na aparência e ver-se-á, em pouco 
tempo, nascer o descontentamento e a indisciplina surgir. Não é razoável que se tenha 
que exigir justiça quando a injustiça, aqui ainda mais que alhures, pode ter tanjas e tão 
graves consequências. 
Se cada tropa de Infantaria deve suportar os sofrimentos que lhe cabem, deseja, 
legitimamente aliás, e como todas as outras, que tudo se faça para diminuí-los. 
Destinada às maiores provações, necessita do máximo cuidado de quem a comanda. 
Dispendendo grandes, energias físicas, precisa alimentar-se bem. Frequentemente, após 
exercícios violentos, o infante volta exaurido; é-lhe necessário um repouso completo, 
 
¹ - Observadores avançados (NT) 
16 
 
até mesmo de algumas horas além do repouso normal da noite sempre que 
possível. Gosta que seus chefes façam tudo que as circunstâncias permitam para 
melhorar seus alojamentos habituais. Aquele que não sabe ocupar-se dos alojamentos e 
da alimentação de seus homens, que não procura apaixonadamente, com os magros 
recursos de que possa dispor e malgrado as dificuldades inevitáveis do 
aprovisionamento em campanha, dar-lhe a mais abundante e a melhor alimentação 
possível, não é digno de comandar a Infantaria. 
Com boa alimentação, repouso, “sossego” – que tantos chefes não sabem dar – e 
licenças (esta grande alavanca, ouso chamar, ou simplesmente este incomparável meio 
de conseguir o que se deseja e de recompensar), tem o chefe quase esgotado tudo o que 
pode fazer para alegrar seus homens. Realmente. O soldado ignora, quase sempre, o 
prazer da leitura. Não se lhe pode dar a família. Não é de gostos delicados e muito 
poucos apreciariam a arte e o luxo de bem estar que se lhes desse. E de qualquer modo, 
quantos apreciariam isso? Que edição rara de Montaigne valeria, para esse infante 
fatigado e sedento, um copo de bom vinho tinto? Não se tem nem que julgar, nem que 
criticar, - e seguramente não se tem que satisfazer a todos os gostos – é necessário, 
simplesmente, achar e dar o que for possível e o que alegre àqueles a quem se quiser 
satisfazer. 
A Infantaria sabe muito bem que se pode exigir muito dela. É preciso obter um 
resultado antecipadamente, estabelecido, cumprir u’a missão. Sabe disso. Isso pode ser 
caro. Ela pagará. Mas não quer pagar exageradamente. E quem obtiver o êxito pelo 
menor preço, quem cumprir inteira e vitoriosamente sua missão, exigindo um esforço 
mínimo, não expondo e não perdendo senão o menor número de homens, será mais bem 
seguido, mais estimado e poderá mesmopedir muito mais no dia em que for preciso, do 
que aquele que, vendo apenas o fim, não leva em conta os riscos, não evita as fadigas 
inúteis, não procura e não sabe descobrir tudo que, sem prejudicar os resultados, pode 
ser poupado àqueles a quem se chama de um modo um pouco impróprio “os 
executantes”. 
Este termo é impróprio porque toma facilmente um sentido pejorativo, 
contrastando a concepção e a execução¹, a primeira implicando a inteligência, a segunda 
só exigindo qualidades secundárias, aplicações quase mecânica do material. 
E isto nos anima a destacar, ainda, uma outra diferença fundamental entre a 
psicologia da Infantaria e a psicologia das massas em geral. 
Estas segundo Le Bom, são absolutamente insensíveis a razão: “Na enumeração 
dos fatores capazes de impressionar a alma das massas, -escreve, - poder-se-ia dispensar 
inteiramente de mencionar a razão ,se não fora necessário apontar o valor negativo da 
influência”. A afirmação, a repetição, constituem, - repete constantemente, - os únicos 
processos a empregar para convencer as massas. Chega a escrever: “O guia pode ser 
algumas vezes inteligente, mas isso é geralmente mais prejudicial do que útil”. 
 
¹ - Sabe se o que teria de complexa uma comparação, mesmo sob o ponto de vista dos dores 
espírito. Separar, sobretudo opor, aqueles que colaboraram seria falso e odioso. Quando se deixa de ser 
executante? O general em chefe não é, acaso, o primeiro executante, pois que deve realizar diretivas 
precisas do poder central? 
17 
 
Sem discutir o que possa haver de exagerado nessa teoria quando se trata das 
massas em geral, é possível afirmar que a tropa de Infantaria tem necessidade, 
frequentemente, de que lhe explique de modo rápido o porque de um esforço a ser 
exigido. A afirmação não basta àqueles que tem constantes provas de enganos. E não 
fiará impune o chefe que disser a uma tropa aguerrida que os obuses não rebentam e as 
metralhadoras não matam, mesmo que o afirme peremptória e frequentemente. Ao 
contrario, há de explicar-lhe com clareza como, empregando certos processos, se 
diminuirá a eficiência da artilharia inimiga, utilizando, por exemplo, certos 
caminhamentos, progredindo em certos momentos favoráveis, explorando a contra 
bateria; como, pelas disposições tomadas, evitar-se-á cair sob o fogo das metralhadoras. 
E é certo que a Infantaria será melhor empregada quando tiver compreendido que 
encontrará, em seu deslocamento e na execução das ordens recebidas uma diminuição 
dos riscos com maiores possibilidades de sucesso. 
 Pode-se acrescentar – o que é mais importante – que a coletividade constituída 
pela tropa de Infantaria compreende, muitas vezes, melhor e mais depressa do que faria 
individualmente a maior parte dos elementos que a compõe. Assustamo-nos, as vezes, 
com o tempo exigido para explicar uma coisa muito simples a um soldado – ainda mais 
simples. Entretanto é comum que o mesmo homem integrando a tropa que nos recebe na 
posição de sentido e a qual dirigimos poucas e simples palavras, faça depressa, também 
ele, sinais de cabeça e de olhos que não enganam e provam que compreendeu. Haverá 
uma transmissão de inteligência, semelhante a transmissão de sentimentos que se 
verifica nas massas, segundo Le Bon? É possível que sim. É possível também, que a 
transmissão de sentimentos determine a inteligência, com o instinto e a sugestão 
precedem, por vezes, o raciocínio. Em todo caso, se o que se diz não é apresentado 
logicamente, por faltaram provas (isto às vezes acontece e a gente o sente bem), “não 
pega”, como eles dizem, não se obtém a adesão indispensável. 
 Seria necessário descermos a exposições complicadas, lentamente deduzidas? 
Evidentemente não. Mas, imaginar-se que basta afirmar ou repetir algo a uma tropa de 
Infantaria para convencê-la e conduzi-la, é comprometer sua autoridade moral. Aqueles 
a quem é preciso fazer aceitar fadigas, sofrimentos e perigos, sem proveito pessoal, são 
mais difíceis de convencer e menos dispostos a se contentar com provas aparentes, do 
que as massas as quais os guias oferecem, geralmente proveitos e vinganças sem 
grandes riscos. 
 Afinal, a quarta particularidade essencial da coletividade da tropa de Infantaria é 
que ela se destina, tem por meta exclusiva, a violência, a procura e a realização da 
destruição do inimigo e que dispõe permanentemente de um armamento individual 
completo e aperfeiçoado. 
 Não há duvida que, a ação da maior parte das massas termina por destruições. Le 
Bon diz mesmo que “elas só tem força para destruir”. Mas não é parar isto que elas são 
geralmente reunidas, ligadas, exaltadas. Pelo contrario. Os argumentos habituais, na 
maioria das vezes, são argumentos de falsa sensibilidade e de bondade. É sempre para 
acabar com uma “tirania”, para “libertar” alguns infelizes – geralmente, em ultima 
analise, prisioneiros de direito comum, colocados fora de atividade – que os guias as 
põem em ação. Mas, se tem uma força enorme e geralmente vitoriosa, se experimentam 
18 
 
um sentimento quase sempre justificado de “força invencível”, é porque elas não 
combatem senão indivíduos ou pequenos grupos que se defendem mal ou não se 
defendem. 
 A Infantaria, pelo contrario, instrumento de guerra, só é posta em ação por 
motivos de força maior. É criada, instruída, organizada e comandada para a destruição. 
Essa a sua finalidade. Mas, - coisa curiosa – esta força considerável, bem mais 
considerável que a das outras massas, não lhe dá – por isso mesmo – o sentimento de 
um poder invencível. É que ela não combate adversários desprevenidos, mas forças 
correspondentes, também poderosamente armadas ou mias bem armadas que ela 
mesma. Uma vez a ação decidida e iniciada (o que exige, para todas as massas, um 
impulso inicial), não é mais em acalma-la, em limitar-lhe estragos que possa causar, 
como para as outras massas, que o chefe deve empenhar-se; mas em dirigir sua ação, em 
desenvolver seu poder aniquilador, em contornar e vencer obstáculos muitas vezes de 
resistência crescente. E intervém aqui, o estudo de uma psicologia mais complicada e 
mais desenvolvida, pois compreende a luta de duas psicologias coletivas, dirigidas uma 
contra a outra, enquanto diante das outras massas, não há, geralmente, senão indivíduos. 
 Outra diferença considerável. Le Bon, depois de afirmar o poder de destruição 
das massas, acrescenta: “Seu domínio representa sempre uma fase de desordem”. Se 
assim acontecesse com a Infantaria, seu domínio teria bem curta duração e em pouco se 
transformaria em derrota. Veremos adiante que, manter a ordem, mesmo na fase mais 
critica de destruição, deve ser uma das mais constantes preocupações do chefe e é 
também das mais difíceis de realizar. 
Esta finalidade de destruição e a dificuldade de realiza-la ante um adversário coletivo 
extraordinariamente forte, exigem q a tropa de Infantaria – e aí esta, felizmente, uma 
outra diferença das outras massas – disponha permanentemente de um armamento 
individual completo e sempre aperfeiçoado. 
Nesse caso, se o chefe não é capaz de orientá-la e dominá-la teremos ai massa 
particularmente perigosa. Perigosa, talvez, para seus chefes, contra os quais é suscetível 
de se revoltar, total ou parcialmente. Perigosa para as pessoas ou coletividades não 
armadas, contra as quais pode ser tentada a aplicar uma força que se torna, então, odiosa 
e injusta. É a pilhagem. São os assassinos de prisioneiros e civis. 
Surge, assim, a necessidade desta quantidade essencial, primordial, -- e tão particular 
para a massa -, indispensável à tropa de Infantaria: a disciplina minuciosa, rigorosa, 
permanente. 
Vamos agora – porque estes estudos psicológicos têm essencialmente, um fim de 
utilização prática – estudar em detalhe a Infantaria, em suas diferentes partes (tropa 
propriamente dita e quadros) e verificar como desenvolver suas qualidades e seu 
rendimento, mantendo-nos sempre sobreo terreno psicológico e moral, com exclusão 
das questões de armamento e tática. 
 
 
 
 
 
19 
 
Capitulo II 
 
Como melhorar o valor moral de uma tropa de infantaria – treinamento físico e cuidadosa 
instrução militar influem sobre a disciplina moral – a robustez e a distinção no trajar 
geram, muitas vezes, a robustez e a distinção morais – O espírito do corpo – Cerimônias 
militares – conseguir bom êxito. 
 
Todos reconhecem a necessidade da disciplina: “constituindo a disciplina a força 
principal dos exércitos...”, diziam um tanto solenemente os nossos antigo regulamentos. 
Uma tropa nada vale se não for disciplinada. Quanto a isso não resta dúvida. Toda 
organização militar repousa sobre a hierarquia que a comanda, regras a que todos 
respeitam e sanções que exigem obediência. Poder-se-ia dizer, então, que é inútil 
conhecer a psicologia da infantaria para utilizá-la e que basta comandar de 
conformidade com os regulamentos, exigindo que eles sejam fielmente cumpridos. 
Muitos pensam assim e assim fazem, mas não obtêm êxito no comando. Alguns, 
que não parecem inquieta-se em auscultar a alma de sua tropa, agem por uma espécie de 
instinto ou pela lembrança do que viram fazer chefes que conheceram, e empregam 
processos que, pelo menos em parte, satisfazem. Outros, aprenderam empiricamente 
certos princípios que viram empregar ou que empregaram antes, e aplicam-nos com 
sucesso, mas não refletem bem sobre o que fizeram e quando imaginam imaginam te 
apenas ter roçado exteriormente a alma da tropa já a atingiram em cheio e ai é que esta a 
verdadeira razão dos resultados obtidos. 
Porque não experimenta a racionalização de certas praticas tradicionais em todos 
os exércitos, porque não observar o que a de psicológico nos resultados obtidos? Feito 
isso talvez se venha a fazer o que já se vinha fazendo, mas com o conhecimento de 
causa e não visando apenas as aparências. Preservar-se-á o comando, em qualquer 
escalão do desprezo --- e o que seria ainda pior – do desrespeito que provocam certas 
maneiras de fazer exames superficiais, ou o desejo de não aborrecer a tropa, ou a 
preocupação de restringir a instrução do infante, tornando-a de tal modo curta que, 
algum dia, poderia ser julgado inútil. 
Quantos – gente jovem e jovens oficiais – dizem com sorriso desdenhoso: “ que 
se formem infantes flexíveis ágeis e fortes”. Que se lhes ensine a atirar e a servir-se de 
suas armas. Esta certo. Mas perdesse um tempo precioso com o manejo de armas 
aborrecesse e embrutecesse homens com exercícios de ordem unida, exigências de 
posições rígidas de continências todo um formalismo caduco isso não. Isso era bom 
para exércitos de profissionais aos quais não se sabia o que ensinar ao longo tempo de 
serviço; era bom para exércitos de parada e guardas reais”. 
Sem duvida, não convém eternizar-se nas rotinas do quartel, no treinamento do 
soldado sem arma e nos exercícios de ordem unida. Há outras coisas para ensinar a um 
soldado moderno. Mas aqueles que descuram ou abandonam esses exercícios 
pormenorizados, não só tem unidades apresentando-se mal, mas pouco disciplinadas. 
É que, efetivamente a obediência q se poderia se chamar física, tem influencia 
sobre a obediência moral pela repetição de ordens claras e bem conhecidas seguidas de 
uma execução rápida seca e precisa, mesmo que maquinal cria se o reflexo da 
20 
 
obediência. É preciso, por assim dizer, que nada se interponha, nem mesmo a reflexão, 
entre a ordem e a execução. Convém, não hesitemos em proclamá-lo, que o soldado – e 
entendendo por soldado o subordinado militar de todos os graus hierárquicos – aprenda 
a obedecer, mesmo que a miúdo não chega a compreender explicar-se-á quando se possa 
– que já foi indicado no capitulo anterior o q isso ajudara à inteligência e representara 
para a execução – mas nem sempre se quererá ou se poderá fazê-lo. 
Quantas ordens particulares fazem parte de um plano de conjunto muito extenso 
para explicar ou, mesmo, perigoso de expor, pelo interesse que há em mantê-lo em 
segredo! E quantas minúcias de execução não seriam necessárias se fosse preciso ouvir 
sempre as objeções ou os pedidos de explicação de cada um! 
É, pois, aumentar o valos moral da tropa o dar-lhe o reflexo da obediência e isso 
se consegue pela execução repetidas e frequente de pequenas coisas simples, pela 
obediência imediata e exigências minuciosas. 
Terá o exercito o privilegio dessa maneira de agir? Que se veja o que acontece 
nas escolas onde o professor, pela repetição maquinal ou cantos em conjunto, faz entrar 
no cérebro das crianças, também ele, o reflexo de obediência com os rudimentos de 
ensino. Que se considere o que ocorre nos conventos de religiosos. Os superiores 
exigem particularmente dos mais noviços, a aplicação de regras exatas, às vezes de 
aparência pueril. Quebrem, por sistema, a vontade daqueles que aceitaram submeter-se à 
regras, pois que toda ação de conjunto, todo poderio coletivo, exige frequentemente 
uma obediência de máquina. 
A transformação do aspecto exterior acarreta, também, uma transformação 
moral. A tesoura dos religiosos, seu habito simples e deselegante – livremente aceitos, 
aliás, desde o princípio – desenvolvem neles a submissão e a humildade, dando-lhes 
uma alma de pobres e os preparam para todas as renúncias. 
Quando se exige do soldado o asseio corporal, a limpeza física e a correção na 
maneira de andar e de e de se vestir, não é só o aspecto exterior que se deseja melhorar, 
é também a correção moral que se procura obter. Um homem habitualmente sujo e mal 
trajado, talvez não seja sempre um homem de alma suja, mas um operário limpo, como 
um soldado limpo, tem geralmente a alma limpa. E sobretudo, uma tropa que mantém 
limpo seu fardamento e seu alojamento, é menos capaz que outra de desordem, de 
pilhagem, de baixezas mesquinhas e covardes. 
Tudo isso, bem entendido, não é absoluto, mas basta que a limpeza física 
acarrete a limpeza moral, para que a procuremos. E os ingleses, que conhecemos tão 
bem sob esse aspecto, não tem uma palavra –para a qual é lamentável não se encontrar 
nenhum tradução francesa exata – que exprime ao mesmo tempo limpeza física e 
limpeza moral quando dizem: um gentleman? E se lhe falta uma ou outra, seja ele 
príncipe ou operário... não será um gentleman. 
Um dos meios mais poderosos de aumentar o valor moral de uma tropa, é dar-
lhe o espírito do corpo. 
O que é o espírito de corpo? Quais são as suas manifestações? Quais os 
processos para cria-lo? 
O espírito de corpo é esse orgulho coletivo que faz crer a uma tropa que ela é 
superior a sua vizinha. É o apego às suas tradições, ao seu passado, como a uma nobreza 
21 
 
coletiva. É uma tendência comum de pensar de acordo uns com os outros. É um desejo 
intenso – que conduz por vezes o sacrifício – de tudo fazer pela grandeza, pela 
reputação e pela gloria da unidade. 
Os caçadores, os legionários, tem espírito de corpo. Toda tropa pode ter esse 
espírito de corpo. 
Como cria-lo? É necessário encontrar e explorar, ou então criar tradições, 
particularidades de apresentação, de maneiras, de denominação, de conduta. Não 
importa que seja pela lentidão, como no caso dos legionários, ou pela rapidez de seu 
passo cadenciado, como no caso dos caçadores, que uma tropa de infantaria venha a 
distinguir-se. O essencial é que ela se distinga e que qualquer um, vendo-a, diga com 
segurança: “Estes que avançam, são os legionários!” ou “Estes que passam, são os 
caçadores!”. E isto que, a primeira vista, parece curioso (e que penas é normal, sendo a 
maneira de andar de um homem, como sua escrita, expressão de sua personalidade), é 
que essas duas maneiras de andar, uma lenta e a outra viva, correspondem ao caráter 
particular de cada uma dessas duas subdivisões da Arma de Infantaria. A legião é uma 
tropa é uma tropa de soldados na maioria idosos, lentos, excelentes na defesa e 
admiráveis, antesde mais nada, por sua solidariedade. Uma tropa, também, desabusada 
e cuja grandeza é feita mais de resignação do que de entusiasmo. A lentidão extrema de 
sua progressão, como é de tradição para a partida de Tonkin, aos sons da “Marche des 
Bonnes à poil”(Marcha dos veteranos), exprime verdadeiramente e de maneira 
emocionante esta alma complexa e triste. Os caçadores, ao contrário, mais jovens, 
geralmente pequenos, alegres, ruidosos e despreocupados, exprimem bem, por sua 
cadência viva e agitada nos sons de suas fanfarras alegres, ardente e nervosamente 
conduzidas, suas qualidades tradicionais de jovialidade, ação e energia. 
A maneira de andar no passo cadenciado é apenas um exemplo do modo de 
proceder. Sempre com a mesma finalidade de tornar reconhecidos os homens 
pertencentes à unidade e distingui-los dos outros, é indispensável um uniforme especial 
ou, se não se pode tê-lo, inventar (sem cair no ridículo) uma insígnia particular, botões 
diferentes, um brazão darmas bem escolhido. Pode-se fazer usar a cobertura de modo 
um pouco diferente, tolerar, ou mesmo aprovar, algumas singularidades pouco 
importantes da ordem unida. 
O assunto é delicado. Deve-se evitar, de início, fugir aos regulamentos militares, 
que são obrigatórios para todos e dos quais não nos podemos afastar sem prejuízo da 
disciplina geral do exército. Por outro lado é necessário evitar o ridículo, fácil de se 
verificar em assuntos como este. 
Contornados, porém, esses dois obstáculos, conseguir-se-á resultados 
verdadeiramente consideráveis. Por bem pequenos meios, dirão alguns. Talvez. Mas que 
importa, se os resultados são grandes? Acaso não vale mais obter resultados grandes 
com pequenos meio, do que pequenos resultados com grandes meios? Se pudermos 
conseguir um soldado geralmente mais limpo e mais ardoroso, dando-lhe um uniforme 
azul ferrete e chamando-o caçador, por que renunciar a essas vantagens tão pouco 
onerosas? 
22 
 
 Não falta gente, entretanto, que faça objeções e queira suprimir essas coisas. Não 
me entenderei sobre os ataques um tanto surpreendente contra os caçadores do coronel 
Ardent du Picq, porque está grade autoridade, sob o ponto de vista de psicologia militar, 
não podia ignorar e não nega em seu livro, os superiores resultados obtidos pelas tropas 
de elite. Faz, porém, uma censura – que hoje não seria, mas justificada – as tropas de 
elite: é a de serem formados em detrimento das outras tropas, das quais são tirados, em 
proveito próprio, os melhores elementos. Ele tem razão. Haveria inconvenientes para os 
outros, em selecionar os melhores elementos para formar as unidades de caçadores. Para 
os legionários, a questão não era a mesma: a seleção física e obrigatória para o 
engajamento, mas as dificuldades médicas para inclusão de recrutas e a seleção moral 
são, geralmente... negativas. Deve-se conseguir criar o espírito de corpo em uma 
unidade e por esse meio aperfeiçoar o valor moral de uma tropa, utilizando matéria 
prima análoga àquela de todas as outras tropas. Se fizesse uma repartição desigual dos 
contingentes ajudaríamos, talvez, certos chefes a criar esse espírito de corpo – si bem 
que eles não deviam ter necessidade dessa vantagem inicial – mas prejudicaríamos 
gravemente o valor moral das outras unidades. Enquanto colocando cada um em igual 
situação de partida, tem-se probabilidade de melhorar a moral de todos, pela emulação. 
Para evitar os principais inconvenientes do espírito de corpo e das tropas 
chamadas de elite (sempre haverá algumas, mas quão inferiores aos benefícios relativos 
recebidos para se formarem) alguns tropeços devem ser evitados oficiais dessas 
unidades. 
Uma tropa de elite, como tudo que é elite e superioridade, é invejada e facilmente 
criticada. Os pequenos meios de qual falei mais acima, são aplicáveis sobretudo as 
praças. Os oficiais devem observar, para com estas, constante preocupação de 
integridade moral, das mais rigorosa correção de conduta e o desejo de adquirir uma 
superioridade verdadeira. É-lhes necessária muita camaradagem, muita união, muito 
respeito às tradições particularistas sem cair em infantilidades. Erguer a cabeça sobre os 
esforços excepcionais a realizar, mas reservar elogios para as ocasiões próprias, ser 
muito acolhedores para com os oficiais dos outros corpos, prestar toda atenção para não 
chocá-los, despir-se não só de desdém, que seria inadmissível, mas mesmo de qualquer 
indício de crença em sua superioridade. 
E mais que tudo, uma tropa de elite deve dar provas de sua qualidade excepcional. 
Os maiores perigos, os maiores sofrimentos, as maiores fadigas, cabem-lhe por direito. 
Deve aceitá-los, reclamá-los até. E, se seu valor moral é verdadeiramente superior ao 
das outras, deve superá-los melhor que as outras. São as recordações glorificadas desses 
bons êxitos superiores, que forjam substancialmente o espírito de corpo e o tornam 
fecundado. 
Tal como a Igreja, o Exército tem suas cerimônias solenes, pois também ele 
precisa alimentar a fé e o entusiasmo. Desde os tempos mais antigos, os Exércitos 
fizeram desfiles, formaturas para condecoração, manifestações de pompa exterior. Não é 
preciso multiplicá-las, nem prolongadas, porque depressa provocam fadiga 
insuficientemente justificada, e assim serão verdadeiro pesadelo para a tropa. Mas 
quando se propõem a um fim bem escolhido (entrega de condecorações ou de 
distintivos, comemoração de um ato memorável para o país ou para a unidade, saudação 
23 
 
aos mortos na guerra, etc.), quando bem preparadas, brilhantes, curtas e quando 
alcançam sua finalidade e impressionam o espírito do soldado, as cerimônias militares 
são um meio útil para elevar a energia moral da tropa. 
Não se fazem cerimônias impressionantes sem música, menos ainda no Exército 
do que nas igrejas. E é por isso que a supressão das bandas de música e fanfarras, ou 
mesmo sua diminuição, tão frequentemente pedida como economia útil para um país 
insuficientemente povoado e que necessita manter seus efetivos combatentes, é erro 
grave. Quando se suprime a banda de música de um corpo, arrebata-se-lhe o penacho, 
um motivo de orgulho, priva-se-lhe da maneira de fugir da vulgaridade, da poeira ou da 
lama quotidianas, para se entusiasmar alguns instantes com o ideal, usufruir um pouco 
de beleza e de dignidade patentes. 
Não é de surpreender que as bandas de músicas fossem mais energeticamente 
proibidas depois da guerra do que eram antes? Não impressionante que tosos 
combatentes de infantaria fizeram a guerra, queira conserva seus músicos, mesmo 
quando têm uma tendência - às vezes exagerada – de querer a supressão do maior 
número de militares que não tenham uma arma nas mãos e não tomem parte pessoal na 
batalha? 
Para melhorar o valor normal de sua tropa é preciso torna-la justamente orgulhosa 
de si mesma e confiante em si. Exigindo esforços raros mais intensos, pode-se obter 
muito sem fadiga nem exaustão. 
Diga-se de passagem que quando se recebeu uma certa missão ,é preciso fazer de 
tudo pra cumpri-la. E conseguir êxito, em tal caso, não é somente um meio psicológico 
de engrandecer a tropa. É um dever profissional escrito a cumprir e cabe simplesmente 
ao chefe sair –se bem pelo menor preço. 
Mas não é isso. Por sistema, por método de educação moral, é preciso 
gradativamente procurar e achar tarefas cada vez mais difíceis, num evitar cuidadoso de 
fracasso. Não procede assim o cavaleiro que treina o cavaleiro que treina seu cavalo 
para um concurso hípico? Obstáculos fáceis de inicio depois obstáculos mais difíceis 
evitando pedir demasiado prematuro ao cavalo, para livra-lo de uma queda desgosta que 
desgosta e às vezes desencoraja por muito tempo. E o cavalo, pouco a pouco, adquire 
confiança em seus meios, desenvolve-os e salta cada vez mais alto. 
Do mesmo modo, uma tropa de infantaria que se tenha feito, progressiva e 
prudentemente, sair-se bem, evitando as causase derrota e forçando, ás vezes de 
propósito, o poder dos meios, alcançara, a poucos importa, confiança e si e terá 
aumentadas suas possibilidade. Não importe se, de início, durante a caminhada muito 
longa, falseiam-se um pouco de dados do problema, desequipando completamente os 
homens. Estes guardarão a lembrança do número de quilômetros percorrido e do 
número de horas de marcha. Eles se gabarão da façanha, só conservando a lembrança do 
bom êxito. E se poderá, em breve, fazê-los repetir, com a mochila cheia, desta vez, o 
mesmo percurso com sucesso e ainda com maior êxito. 
A montanha, com o relevo de certos caminhos, com a facilidade relativa de 
percursos mais longos sem fadigas excessivas, devido à temperatura mais fresca e ao 
fato de não serem sempre nem os mesmos os músculos das pernas que trabalham 
continuadamente, nem as mesmas as partes dos pés que sofrem contacto prolongado 
24 
 
com o solo, oferece grandes recursos, sob esse ponto de vista ,para quem sabe explorá-
la .E sua dura escola faz ir de encontro ,mesmo em tempo de paz, a adversários reais , 
pondo-os, frequentemente em presença da apreensão e do perigo. Quando aí se alcança 
a vitória com a tropa, aumenta-se-lhe seu valor, o orgulho e ímpeto. 
Na guerra, é ainda mais importante sair-se bem, porque qualquer ato de 
arrebatamento é mais difícil. E, mesmo sem partilhar da opinião dos otimistas, afastados 
dos campos de batalha, que acreditam que uma tropa se entusiasma com um ataque 
coroado de êxito e não deseja senão prosseguir --- isso lhe custará muito caro e cada um 
só tem uma única existência ---, pode-se, com certeza, afirmar que, muitas vezes é 
possível erguer o moral de uma tropa de momento abatida por um revés e restaurar-lhe 
o prestígio, facilitando-lhe um sucesso relativamente fácil por meios apropriados e a 
escolha de um objetivo limitado e que se sabe estar mal defendido. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Capítulo III 
O comando de uma boa Infantaria – Apelo ao amor próprio – Pedir o mais difícil – 
Recompensar com inteligência – Nunca esquecer de poupar particularmente os 
melhores. 
Quando se tem a sorte e a honra de dispor de uma boa Infantaria, é preciso saber 
reconhecê-la, desde logo ,não temer dizer-lhe, tratá-la e comandá-la diferentemente de 
uma tropa regular e medíocre. 
É assim que, por um apelo frequente ao amor próprio, se exploram as melhores 
qualidades de boas tropas. 
Aquele que permitir, uma única vez, ser desprezado, nada mais terá a perder. 
Não levará mais em consideração o maior ou o menor perigo, a maior ou a menor fadiga 
para se decidir. Veremos, no capítulo seguinte como se pode tentar utilizar-se desse 
grave estado de espírito, sem chegar aos usos das sanções que os regulamentos 
permitem. 
Mas, com as boas tropas não se dá o mesmo. Orgulhosas dos sucessos passados, 
orgulhosas de sua reputação, dessa espécie de auréola que as rodeia e dos olhares que a 
admiram ao passarem – e os dos olhos femininos não são os menos apreciados – os 
soldados que as compõem não estão mais livres para escutar a voz do menor esforço ou 
do medo. 
Quem experimentou a embriaguez da glória não pode esquecer o seu sabor. 
Mais simplesmente, quem se beneficiou com as vantagens do primeiro lugar, não 
deseja mais deixa-lo, mesmo que para isso deva dispender grandes esforços e correr 
grandes riscos. 
Lembro-me de um batalhão da legião de Marrocos, fortemente experimentado 
em operações anteriores e estando com efetivo muito reduzido, fora designado para 
servir de escolta ao comboio de um marcha retrógada. Recordemos que nessa época, as 
colunas se deslocavam isoladas em país inimigo, com seu comboio no meio do 
dispositivo, escoltado pela tropa menos brilhante; e que o lugar privilegiado, isto é, o 
mais perigoso, aquele confiado à tropa mais valorosa, era a retaguarda da marcha 
retrógada. Era em 1914, após a tomada de Khenifra, e uma das colunas que participa da 
operação, devia regressar para Ito, em busca de grande quantidade de víveres, para 
construir em seguida, o aprovisionamento do novo posto citado. As tribos inimigas, 
muito aguerridas – os famosos Zaians às ordens de Moha - ou – Ahmou – não podiam 
manter-se diante de nossas tropas na marcha para a frente, mas tinham o hábito de se 
lançarem em malta encarniçada, logo que o ataque lhes parecia possível, sobre os 
últimos elementos que recuavam e os quais o movimento retrógrado deixava 
frequentemente isolados. 
Furiosos e humilhados com o que consideraram como prova de desconfiança, 
espécie de afronta semelhante à colocação no fim da mesa daquele que sabia que 
deveria sentar-se à direita da dona da casa, simples legionários e oficiais do batalhão 
manifestarão seu descontentamento. E foi necessário que seu comandante se dirigisse ao 
general, para expor-lhe as reivindicações dos legionários e lhe pedisse o lugar de honra 
26 
 
ao qual eles pensavam ter direito. Foi-lhes satisfeita a exigência, apesar do seu pequeno 
número (que fôra a causa da disposição inicial); e isso lhes custou muito caro no 
desfiladeiro de Foumteguett. Mas, não obstantes aos terríveis momentos que passaram 
as suas pesadas perdas, nenhum lamentou não estar no lugar desprezado e menos 
perigoso da guarda do comboio. 
Depois desse episódio maravilhoso e raro (pois a maior parte daqueles que se 
queixam de não ter sido designados para o perigo, só o fazem depois dele ter passado – 
o que é infinitamente menos meritório !)pode-se citar a sentença bem conhecida do 
general Négrier às unidades da Legião que enviava um dia um dia a uma morte quase 
certa: “Legionários! Sois soldados para morrer e eu vos envio para a morte”. Trágica e 
sobre-humana prova de estima, que ficou como um dos títulos de glória de que a legião 
mais se orgulha. 
Tropas sublimes, as que se pode empregar com argumentos como esse! 
Eis aí, em sua forma mais exaltada, o apelo ao amor próprio que age tão 
poderosamente sobre as boas tropas. 
Sem ir até o excesso, pois poucas tropas são capazes de tais exaltações heroicas, 
pode-se pedir a uma Infantaria de reputação firmada, as tarefas mais difíceis, 
salientando havê-las reservado para ela, em virtude de suas qualidades. 
Entretanto é preciso, depois, quando o bom êxito for alcançado, saber 
recompensar sem mesquinhez. Nada é pior, nesse caso, do que essas decisões tão 
frequentes de chefes ignorantes da psicologia ou injustos – porque a injustiça não é a 
igualdade – que, depois da ação, repartem igualmente o numero de medalhas, sem levar 
em conta a diferença das dificuldades vencidas e das tarefas realizadas¹. 
Sob esse ponto de vista a criação dos distintivos com grau fora uma invenção 
genial se, apouco a pouco, não se tivesse querido dá-los a todos os regimentos. 
Felizmente não se foi até o fim com essa generosidade mal compreendida e, se foram 
dados muitos distintivos manteve-se, apesar disso, o alto valor dos de grau mais 
elevado. 
Que grave erro, também, o dessas cruzes de guerra completamente distribuídas, 
em citações vagas, a tanta gente talvez merecedora e capaz, mas sempre longe dos 
perigos da linha de frente. E foi dado um prazer momentâneo a esses beneficiados, se 
eles foram injustamente apontados à admiração e à estima dos civis da retaguarda, fez –
se surgir contra eles, essa lamentável antipatia dos combatentes, os quais, não tendo 
compreendido a necessidade imperiosa, mesmo sem seu beneficio, de serem certas 
_________________________ 
¹ - Diz-se as vezes que é muito difícil saber quem teve mais méritos. 
Recordo-me de um ataque em grande estilo que teve lugar e certa zona, realizado por dois regimentos, um 
atrás do outro. O segundo – o da retaguarda – tendo menos preocupações imediatas e menos trabalho que 
o primeiro – o da vanguarda – tinha aparentemente multiplicado o numero de suas proezas, marcando 
com giz, com o numero de seu regimento,todos os canhões deixados no campo pelo inimigo, ao passo 
que o ataque progredia. Os dois regimentos foram citados em o Ordem do Dia do Exercito em termos 
bem semelhantes; e o comandante da Infantaria Divisionária, concedeu a cada um, pouco mais ou menos, 
a mesma quantidade de prêmios. Seria acaso muito difícil descobrir que a tarefa do primeiro tinha sido 
infinitamente mais dura e meritória que a do segundo? 
27 
 
funções exercidas com menor exposição ao perigo, estigmatizaram todos os que 
trabalhavam abrigados – e se teve a inverosímel falta de habilidade de recompensar 
como a eles – com qualificativo depreciativo de `` emboscados ´´. 
Se convém saber recompensar as boas tropas, e recompensa-las de um modo 
inteligente e excepcional, sem outra limitação que a do valor dos serviços prestados, 
também é preciso poupa-las. 
Uma boa tropa, que como tal é tratada, compreende que se lhe reservem as 
tarefas mais difíceis e mais perigosas. Mas também precisa de repouso. É indispensável 
proporcionar-lho. Compreendeu-se isso, frequentemente por necessidade, durante a 
guerra. Conviria nunca esquecer isso. Nem importa que outros murmurem – aqueles que 
se expõem menos e tem tarefas mais fáceis, - que achem que se lhes dá acantonamento 
menos agradável, períodos de repouso menos prolongados. Se querem o mesmo 
tratamento privilegiado, sob esse ponto de vista, que reclamem os mesmos perigos e os 
mesmos esforços e, se tornarem iguais aos melhores, que se lhes deem as mesmas 
vantagens. 
Conheci, todos nós conhecemos durante a guerra, os especialistas em missões 
perigosas – as ``verdadeiras´´, não as das citações complacentes, - homens e tropas de 
elite da Infantaria, sempre prontos para o golpe audaciosos, para ação perigosa e 
delicada. Certos chefes, - para não dizer quase todos, - felizes por não terem de fazer 
designações por escala, mais confiantes também nesses especialista do difícil e do 
heroísmo, consentiam em utilizar sempre os mesmos, até o dia, ai deles! Em que eram 
sacrificados. É conveniente pensar, ao contrario, em economizar seus melhores homens, 
mesmo contra vontade deles próprios. Constituem uma reserva que se deve guardar. E 
depois, o cavalo mais brioso, acaba, também ele, por ficar ovado se o faz, a miúdo, 
correr muito. 
Em suma, a boa tropa de Infantaria é um instrumento precioso e raro, - mais 
raro do que se imagina, - pois o que se lhe pede é, as vezes terrível, as vezes quase 
sobre-humano. Que imagine, quem ainda não passou por isso, o que representa de 
vitória sobre si mesmo, o partir, friamente sem hesitação a uma hora H, ao alvorecer, 
sobre metralhadoras que vão atirar, que se sabe estarem perto, e vão ceifar(sabemos por 
experiência própria) e um instante, definitivamente, muitos daqueles, que, cheios de 
vida, o espírito atento e o corpo retesado, vão lançar-se para a frente. E que se pense, em 
comparação, no reflexo de fuga, ou ao menos no sobressalto, que agita um homem 
medíocre, não habituado às armas, ao simples ruído de um tiro dado perto dele. 
Lembremos que, na defesa, quando um fuzileiro atirador ou um atirador de 
metralhadora foi submetido a um bombardeio de varias horas, que atingiu a sua 
trincheira, quando ele próprio esteve, não raro, enterrado momentaneamente pelos 
efeitos de um obus, quando sabe que a essa confusão, pior que um tremor de terra, vai 
suceder um selvagem ataque dos infantes inimigos, e preciso encontrar em sua alma, a 
energia e a lucidez para saltar ao posto de combate ao soar o tiro da artilharia, em pleno 
terreno descoberto, para ele próprio atirar antes que sobre eles cheguem as granadas 
inimigas. E é com realização desse ato quase instantâneo que pode sair-se com bom 
êxito de sua missão. 
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Sim, por certo quando se recorda do que é preciso pedir a uma boa Infantaria no 
ataque e na defesa para alcançar o êxito, compreende-se que nada há como não 
economizar provas de consideração, recompensas e períodos de repouso, e que se deve 
saber poupar esse indispensável e admirável instrumento da Vitória. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Capitulo IV 
Emprego de uma infantaria medíocre - Missões relativamente fáceis- Fazer com eu 
tenha facilidades e com menor perigo compreenda que desempenhar bem a missão, é 
mais vantajoso do que fazê-lo mal – Procurar das primeiras felicitações justas - 
Reanimar o amor próprio – As sanções - Perigos da rebelião e do fracasso coletivo - 
Antes de tudo, dissociar a solidariedade na indisciplina. 
Examinadas as virtudes que se exige das boas tropas de Infantaria, não ha por 
que nos admiramos de que haja tropas medíocres. Como utiliza-las? É certo que não 
será como as boas, pois que elas não são! 
Nossos regulamentos – será vergonha de reconhecer o fato de que elas existem 
ou será, apenas, a recusa de aceitar a existência? – nunca fazem diferença entre topas 
boa e tropas medíocres. Nos tratados de tática e nos exercícios teóricos, nunca se 
escolhe e nem se dosa o esforço pedido, pela qualidade da tropa. 
Entretanto, tal como os homens, as unidades não são intermutáveis. Tive, 
durante certo período de guerra, em meu batalhão, um comandante de companhia muito 
conceituado, sempre pronto a atacar violentamente, mas que não sabia ler as cartas. A 
cada ataque importante, qualquer que fosse a escala das unidades, eu conseguia deixar 
sua companhia em reserva; e estava seguro de que tão logo permitisse, ele partiria como 
um bólide e estaria, nessa situação, ao abrigo de erros grosseiros de direção e de ligação. 
Assim ele, impulsionava um pouco as unidades que estavam a sua frente, e eu tinha 
sempre pronto a tapar uma brecha na linha de frete e dar um novo impulso ao avanço do 
batalhão por sua entrada em ação. 
Por ocasião de um ataque, no fim da guerra, meu sucessor no comando do 
batalhão, conhecendo menos as particularidades dessa companhia e de seu comandante, 
ou mais preso as exigências do revezamento, pôs esse capitão em primeiro escalão. Ele 
partiu como um louco, um pouco ao acaso quanto a direção, sem se preocupar de ser 
seguido ou não e nem de manter a ligação. A companhia reserva não cerrou 
suficientemente sobre ele. Em pouco ficou isolado e foi feito prisioneiro, depois de 
ferido em condições apesar disto heroicas. 
Cito este exemplo para mostrar que as tarefas variam com comas tropas e seus 
chefes e também que não se deve colocar sempre na frente os mais bravos. Reservando-
os quando isso é possível, tem –se a dupla vantagem de estar seguro de poder lança, em 
uma situação difícil, os melhores se for necessário, e também de economiza-los 
vantajosamente se, como é o caso mais frequente, não houver necessidade de empregara 
reserva. 
Voltemos a nossa infantaria medíocre. Necessita-se inicialmente tratar de não 
repeli-la em definitivo e, se possível de restituir-lhe confiança e diligencia. Tarefas 
relativamente fáceis lhe devem, pois, ser reservadas. Não digo que obrigatoriamente as 
menos perigosas. 
O exemplo que acaba de ser citado, parece-me, dá bem ideia do que a miúdo é 
preciso tentar. 
Foi dito mais acima que certos soldados e certas tropas, tendo aceito serem 
desprezadas, consideravam apenas, para se determinar, a maior ou menor fadiga, o 
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maior ou menor perigo. Faz-se necessário conseguir persuadi-los – e para persuadi-los é 
mister que isso seja verdade – que eles terão ais vantagem atuando bem do que atuando 
mal. Assim colocando de vez em quando na frente, no inicio de um que, isto é, no lugar 
mais perigoso, os menos bons e conservando em reserva os reputados como melhores, 
far-se-a com que os primeiros aspirem(sobretudo se lhes foi prometido)passar a reserva 
na vez seguinte, se derem prova, desta vez, da diligencia e do esforço que se exigem das 
tropas aptas para serem empregadas como reserva. 
Esse principio – o primeiro na utilização dos medíocres- devem ser a base de 
comando deles;deve-se proceder de tal modo que, em caso dado, haja a vantagem e o 
menor perigo em atuar bem do que em atuar mal. Assim, quando se emprega a barragem 
rolante da Artilharia em um ataque , há menor perigo em ir para a rente, cerrando ao 
muitos próximos arrebentamentos, do que ficar um pouco para trás. Efetivamente, sob 
essa cortina de fogo que se desloca, o inimigo, enquanto esta coberto, fica imobilizado 
em seu abrigo e não pode utilizar suas armas. Mas, desde que a cortina fez o seu lance 
seguinte, de 50 ou 100 metros, atirador inimigo, saído desse aperto, vai poder voltar a 
sua posição de tiro e agir. O assaltante que seguiu de perto a barragem, atinge o inimigo 
antes que saia do seu abrigo. O seu assalto não é mais do chamávamos, durante a 
guerra, pela palavra atroz: ``a limpeza´´, isto é, pode atirar e destruir o inimigo com uma 
granada lançada em um abrigo ou no fundo de uma trincheira, antes ele tenha tempo de 
se por em guarda para combater. Ao contrario, o soldado que se atrasa um pouco, não 
chega sobre o atirador inimigo senão que este pode retomar sua posição de tiro. É para 
ele, então, a morte quase certa. 
Depois desse argumentos de interesse unicamente pessoal, poder-se-á, com mais 
frequência, fazer, fazer apelo, dentro em breve, meios mais sumários. 
Disse que os medíocres aceitavam definitivamente ser desprezados. Quase 
sempre isso não é bem verdadeiro. E a prova disso é que, quando a tropa medíocre se vê 
afastada de uma missão especial, mais penosa ou mais perigosa, tem com certeza e de 
inicio um sentimento de satisfação ao ser livre de fadigas e perigos, mas não pode evitar 
uma espécie de inveja frente aqueles que, substituindo-os, são distinguindo com a 
missão. É desagradável ouvir gabar o vizinho, principalmente se a isso se acrescenta 
uma comparação que vos é favorável. E então se chega ao ponto que desejar para si 
mesmo, cumprimentos e felicitações. 
E ai que surge, para o chefe, a oportunidade do que chamarei de ``procura da 
primeira felicitação justa´´. Uma tropa, como um homem, sempre censurada, sempre 
desdenhada, desce pouco a pouco a um declive perigo até o dia em que, surpresa – e a 
miúdo bruscamente refeitas, - ela é, pela primeira vez, objeto de felicitações. OH! sem 
duvida, isso é unicamente um patamar, não é ainda o alto da escada. Terá muito a fazer, 
para chegar lá, se lá chegar. Mas já é um começo. Quando se recua, a parada é o 
primeiro tempo da reação ofensiva. E á a prova – prova de um efeito extraordinário – de 
que a derrota não é completa. 
Mas, por desejável, que seja o primeiro cumprimento como meio psicológico de 
levantar o moral, perderia seu valo, pior ainda, destruiria o valor de todos os outros do 
mesmo chefe, se não fosse justificado. Certamente, dir-se-á, não é fácil, para Infantaria 
medíocre que vós nos descreveis, por mis que se queira, dar-lhe cumprimentos quando 
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merece tão pouco e na maioria das vezes se deve empregar as outras em seu lugar. Ela 
merece pouco, é verdade; mas não peço muito a principio. Procuro um motivo apenas, e 
justificado, é muito raro que o não encontremos. Assim, esta unidade, à qual se deu uma 
tarefa relativamente fácil, mas de grande alcance, à qual se fez ver a vantagem pessoal 
de seguir com ardor sua barragem rolante, realizou, apesar de tudo, se teve êxito, um ato 
meritório e talvez mesmo grandioso. Não se lhe necessita recordar e que ela teria 
preferido estar em outra parte e que talvez, outras teriam tido até melhor êxito. O 
essencial é que o que ela fez, tenha sido verdadeiramente bem feito e que possa, sem 
mentira dizer-lho. 
Eis ai, então, uma troa medíocre, que já o é menos. Tem uma recordação gloriosa 
própria e não pode nem se dar conta de que há vantagens morais e, as vezes, mesmo 
materiais, em ser estimada ao envés de ser desprezada. É como o homem que, pela 
primeira vez, provou álcool, e que tornara a beber. 
Desperta-lhe o amor próprio, tal é a finalidade. Quando a primeira chama 
aparece, é preciso soprá-la decentemente a fim de mantê-la. Depois deve-se avivar o 
incêndio criando vários pequenos focos. Quero dizer necessário criar pequenas elites 
cujo ardor levara os outros para diante. Mesmo em uma Infantaria medíocre, há alguns 
bons elementos. Não hesitemos em separa-los momentaneamente dos outro, em agrupa-
los em pelotões especiais, em grupos livres, em seções de elite. Que importa o nome! É, 
em embrião, o principio do espírito de corpo. 
 A esses pequenos grupos, utilizados a parte se obtiverem êxito, dar-se-lhes-ão 
alguns distintivos, e não se perdera nenhuma ocasião para instala-los melhor, fazê-los 
repousar com proveitos, se possível licencia-los excepcionalmente. 
Serão a princípios invejados, talvez criticados, tentar-se-á diminuí-los. Mas 
depois a emulação nascera, a começar pelas unidades melhor comandadas. Uma 
companhia fará saber que ela também seria capaz de cumprir bem a missão. E quererá 
prova-lo. Tomemo-la pela palavra. E então, bem a miúdo, todas as outras a seguirão. Eis 
ai salva, uma Infantaria medíocre. Talvez venha a fazer tudo muito bem, algum dia e 
será, então uma boa Infantaria. 
Infelizmente, tais resultados nem sempre podem ser objetivos. E, o que é mais 
grave, certos indivíduos, senão certas tropas, chegarão somente a executar mal a sua 
missão e a nem cumprir com o dever. 
O chefe estará, então, em presença de uma penosa mas grave obrigação: aplicar 
punições e as vezes sanções muito serias. 
Quando passou o perigo e a guerra já esta longe, muitos críticos discute e mesmo 
condenam essa sanções. Dizem então ``como se pode puni-los tão severamente? Não é 
desumano exigir dos homens ações tão difíceis? Talvez algum dos punidos tenha 
abandonado seu posto em contato com o inimigo, mas em consequência de fraqueza 
momentânea e explicável ´´. 
De inicio, é preciso levar-se em conta que, nos exércitos modernos, a sensação 
suprema é muito rara. Em mais de quatro a anos de guerra, sempre na Infantaria, nunca 
vi uma única condenação à morte. Vi um certo numero de sanções menores; e os 
Conselhos de Guerra são, o mais das vezes, uma jurisdição pouco rigorosa, diria um 
tribunal fraco, acessível a todas as piedades. Mas há casos em que a piedade por um 
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culpado torne-se em injustiça para outros, por vezes até um cumplicidade de assassínio. 
Efetivamente, o tal homem que abandonou seu posto facilitou a ação do inimigo, sendo 
substituído por um outro que foi morto. E se morrer em seu posto normal, em sua vez, é 
um risco terrível, mas aceitável e muitas vezes inevitável na guerra, é monstruoso ser 
morto porque um outro não cumpriu seu dever. Aquele que fez morrer um outro por sua 
culpa ou e seu lugar é, de certo modo, uma espécie de assassino. 
E, mais grave ainda, se não se reprimem impiedosamente os abandonos de 
postos, as fugas diante do inimigo, quantos, ao cabo de algum tempo desse regime de 
abdicação, seguirão seu chefe no ataque ou se manterão firmes na defesa? E então, serão 
as unidades inteiras a serem destruídas, colocadas bruscamente em face de um 
assaltante que elas pensavam que fora detido por aqueles que disso estavam encarregado 
e que tinham possibilidade de o fazer. Será talvez, o ais mesmo que em resultado dessa 
delinquência generalizada, ficara desprotegido diante da agressão e acabara arrasado. 
Nesse caso a tropa de Infantaria se transformaria logo na turba organizada de Le 
Bom, esse aglomerado inconsciente sujeito a todos os contágios e sobretudo ao contagio 
do medo. 
Eis porque as punições, e outras sanções, em guerra, não raro sanções imediatas, 
devem manter-se. Por vezes é um freio para alguns que, geralmente bravos, possam ter 
seu minuto de fraqueza, sobretudo se não sentem atrás de si mão firme que os mantenha 
unidos. É principalmente ameaça de maior perigo para os covardes, os quais seriam 
tentados a abandonar seus camaradas e cuja fraqueza desorganizara o conjunto. 
Tais são,

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