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1 “ENSAIO SOBRE A PSICOLOGIA DA INFANTARIA” TENENTE CORONEL BOUCHACOURT REIMPRESSÃO DA OBRA PELO CURSO DE INFANTARIA DA AMAM EM PARCERIA COM O CLUBE MILITAR TRÊS CORAÇÕES 2014 2 PREFÁCIO Quando eu ainda era um jovem capitão, li, pela primeira vez, a obra do tenente- coronel Bouchacourt, denominada ENSAIO SOBRE A PSICOLOGIA DA INFANTARIA. Era ele um oficial francês que comandou um regimento da infantaria na 2ª Guerra Mundial. Identificamos, imediatamente, em seu livro diversos pontos comuns e úteis que deveríamos aprender e aplicar em nossa própria infantaria. O conhecimento que Bouchacourt nos traz é extremamente útil para o desenvolvimento da capacidade de liderança do jovem oficial, fazendo-o prestar atenção a aspectos fundamentais do comando, da liderança e da convivência com pessoas em grupos hierarquizados, onde é preciso fazer o subordinando obedecer ao comandante, sem que seja preciso empregar medidas coercitivas a todo momento. A historia militar mostra, e o livro em pauta reafirma mais uma vez, que a liderança militar, através dos tempos, sempre foi o alicerce das tropas coesas, motivadas e aguerridas. Com tudo, indica, também, as dificuldades encontradas pelos comandantes na condução de seus soldados em combate. Neste ponto, cabe uma pergunta instigante: - É fácil comandar grupos humanos em uma instituição fortemente hierarquizada? Há os que acreditam que sim e sempre apontam como exemplo as forças armadas, organizadas dentro de padrões impostos pela hierarquia e pela disciplina, de acordo com as leis e os regulamentos em vigor, nas quais todas as ordens emitidas pelas autoridades legais seriam cumpridas sem relutância, inclusive tornando a liderança coisa supérflua. Assim sendo, em um exercito, instituição com hierarquia estabelecida em vários níveis, as ordens emitidas pelos comandos superiores seriam automaticamente obedecidas, devido à disciplina ensinada e exigida de todos os seus integrantes. Mas a historia militar é rica em exemplos que demonstram claramente que esta obediência poderá não ocorrer automaticamente. Nas situações de normalidade, quando o grupo militar e as pessoas que o integram não estão sob pressão, geralmente as ordens dos comandantes são cumpridas. Entretanto, nas crises e principalmente no combate, quando está presente o risco de vida e o soldados sofrem penúrias de todo tipo, os indivíduos só obedeceram voluntariamente às ordens se confiarem em seus comandantes. Por tanto, quando a hierarquia e a disciplina estão inseridas em um quadro onde os comandantes estabeleceram sólidos laços de liderança com os Subordinados, mesmo havendo pressões, riscos e extremas dificuldades, raramente ocorreram casos de desobediência. Em uma pesquisa realizada em 1944 com tropas de infantaria no teatro de operações do mediterrâneo, pediu-se aos entrevistados que apontassem as principais características do melhor combatente que conhecem pessoalmente. As respostas foram separadas por grupos hierárquicos: convocados (cabos e soldados), sargentos e oficiais. Quando os entrevistados responderam que o melhor militar que conheciam era um oficial, a liderança que exerciam foi citada um numero de vezes que chegou quase ao milto Highlight 3 dobro das características coragem e agressividade. Esse exemplo mostra com clareza que os soldados esperam que seus oficiais e sargentos os liderem efetivamente. Por isso, muitos exércitos passaram a desenvolver projetos voltados para a formação de lideres e inseriram esta preocupação no fatores básicos do preparo, que são as providencias fundamentais que devem ser tomadas para que um exercito se torne instrumento eficaz de combate. São elas: 1) Dotar a instituição de organização e estrutura adequadas. 2) Buscar permanente modernização da doutrina 3) Buscar permanente modernização do material de emprego militar 4) Formar pessoal de alta capacitação 5) Formar quadros com elevada capacidade de liderança 6) Realizar o treinamento adequado com as organizações militares operacionais Por tanto, a iniciativa do Curso de Infantaria do Corpo de Cadetes da Academia Militar das Agulhas Negras, que providenciou a edição deste ENSAIO DA PSICOLOGIA DA INFANTARIA, fica completamente justificada. A leitura deste livro elevara a capacidade de liderança dos jovens aspirantes e contribuirá para o aprimoramento de nossa infantaria. BRASIL ACIMA DE TUDO Mario Hecksheh Neto – Cel Inf e Estado-Maior (Reserva) Chefe da Seção de Doutrina e Liderança do Corpo de Cadetes. milto Highlight milto Highlight 4 ENSAIO SÔBRE A PSICOLOGIA DA INFANTARIA 5 MINISTERIO DA GUERRA BIBLIOTECA DO EXERCITO REORGANIZADOR: General V. Benício da Silva COMISSÃO DIRETORA DE PUBLICAÇÃO Coronel Pedro da Costa Leite (Diretor) Ten-cel. Salm de Miranda Ten-cel. Jaime Ribeiro da Graça Major I. E. Deoclécio De Paranhos Antunes Cap. Carlos de Meira Matos Dr. Luiz Edmundo Dar. Carlos Maul Dr. Joaquin Tomaz de Paiva ADMINISTRAÇÃO: Cap. José Ribamar Leão e Silva (Secret. e Fiscal Adm) Cap. I. E. Lourival Açuçena de Araújo (TES) - SEDE – EDIFICIO DO MINISTÉRIO DA GUERRA Terceiro pavimento Praça da Republica RIO DE JANEIRO 6 BIBLIOTECA DO EXERCITO VOLUME 157 ENSAIO SÔBRE A PSICOLOGIA DA INFANTARIA (Obra premiada pela Academia Francesa) TENENTE CORONEL BOUCHACOURT TRADUÇÃO DO MAJOR IRACILIO IVO DE FIGUEIREDO PESSOA 7 A presente tradução foi feita do francês “ESSAI SUR LA PSYCHOLOGIE DE L’INFANTARIE”, publicado em 1933 pelos editores: CHARLESLAVAUZELE & CIE, 124, Boulevard Saint-Germain. PARIS 8 NOTICIA SOBRE O AUTOR Nascido em 1884, o general Bouchacourt, que concluiu em 1906 o curso da famosa Escola Militar de Saint-Cyr, fez a maior parte da sua carreira militar no comando da Infantaria. Profundo conhecedor de sua Arma, exerceu o comando do 22º Batalhão de Caçadores Alpinos durante cinco anos e foi, durante dois anos e meios, Comandante do 131º Regimento de Infantaria. Além de suas atividades de comandante de tropa foi, durante vários anos, professor de Tática de Infantaria no Centro de Estudos de Infantaria, em Versailles; foi Chefe da 3ª Seção do Estado Maior da 3ª Divisão de Marcha sobre o Marrocos, em seguida integrou o Estado Maior do Comando Supremo das Tropas de Marrocos, em Rabat, Durante as operações contra Abd-el-Krim e, finalmente, Chefe do Estado Maior da Região de Fez. Antes da guerra de 1914-1918, fez a campanha de Marrocos, em 1913, como tenente do 2º Regimento da Legião Estrangeira. Regressando à França no inicio da 1ª Guerra Mundial participou, como capitão do 3º Regimento Misto Zuavos-Atiradores, das operações na Bélgica e no norte da França. Restabelecido de ferimentos que sofrera, foi incluído no 94º Regimento de Infantaria e promovido a major, sendo, então, um dos mais jovens desse posto no Exército Francês. Como Comandante de Batalhão participou das principais batalhas da guerra de 1914-1918, particularmente em Verdun e nas grandes ofensivas finais. Três vezes ferido, foi feito Cavaleiro da Legião de Honra no campo de batalha de Saillisel, no Somme e condecorado com a Cruz de Guerra, com 7 citações, das quais 4 em Ordem do Dia do Exército. Durante a guerra de 1939-1940, o general Bouchacourt comandoua Infantaria da 42º Divisão, que operava em Metz. Depois de ter comandado os destacamentos avançados na frente da Linha Maginot, tomou parte na Batalha da França, sobre o Aisne, de 9 a 13 de junho de 1940, na região de Reims. Após 5 dias e 5 noites de ininterrupta batalha encarniçada, a 42ª Divisão foi vencida e completamente desbaratada e o general Bouchacourt foi aprisionado com os últimos sobreviventes de sua tropa. Cumpriu seu cativeiro na Alemanha, no campo de Lubeck, sendo o mais graduado desse campo, de 28 de outubro de 1942 a 2 de maio de 1945. Durante esta campanha o general Bouchacourt foi citado em Ordem do Dia do Exército, ascendeu ao grau de Comendador da Legião de Honra e finalmente, por excepcionais serviços de guerra, foi elevado à dignidade de Grande Oficial da Legião de Honra. Ao general Bouchacourt devem-se os ensinamentos que reuniu em duas obras notáveis. A primeira ele a escreveu quando major e tem por titulo: “A infantaria na batalha”. A segunda, que ora apresentamos em português, graças a gentileza do autor e da Editora Charles-Lavauzelle & Cie, que dispensaram qualquer vantagem por direitos autorais, escreveu-a quando tenente-coronel e mereceu as honras de um premio da Acamedia Francesa. Pareceu-nos que ao agradecer ao autor os ensinamentos que nos proporciona nenhuma homenagem seria mais significativa do que abrir este trabalho com uma noticia sobre o glorioso soldado que o escreveu O TRADUTOR 9 INTRODUÇÃO Quando um chefe reuniu os meios necessários ao desenvolvimento de uma operação de guerra, isto é, os efeitos e o material , já fez muito para que ela tenha êxito. Quando, em seguida, tomou decisões judiciosas e deu ordens conformes com os princípios de arte militar e, sobretudo, deu-lhes a marca pessoal e nova que é própria do gênio ou apenas do talento, fêz - ou quase fez –tudo o que lhe era possível. Mas se a Infantaria- se não a rainha das batalhas, pelo menos a principal obreira - não se empenha com iodo coação e todo heroísmo no ataque; senão se mantém com a energia feroz e admirável espírito de sacrifício na defesa, é preciso renunciar à vitória e isso quer dizer derrota e talvez desgraça. É mister que o chefe saiba empregar sua Infantaria e saiba fazê-la lutar .Para isso é-lhe indispensável conhecer a psicologia da infantaria e ser capaz de explorar-lhe os princípios .Poderá ,então ,comandar vitoriosamente. A destruição material, que alias seria impossível de realizar até o aniquilamento total, é apenas um meio para vencer o inimigo. O que se precisa realizar é a desorganização. É essencialmente a vontade do adversário que se deve procurar abater. E ainda ai é uma questão de psicologia e de psicologia da Infantaria¹. Porque, quando a Infantaria traz a única verdadeira guardiã do terreno – tiver suas linhas atravessadas , as portas do inimigo estarão arrombadas bem depressa os canhões inimigos , incapazes de se defender sozinhos ,serão apresados e se tornaram troféus e o mesmo acontecerá com os campos de aterragem e as esquadrilhas de aviões ,com as cidades ,os estados maiores e os próprios chefes .Arrancadas as armaduras depois de arrombadas as portas ,estará completado o aniquilamento. Eis duplamente exposto porque é preciso ensaiar a compreensão da psicologia da Infantaria, uma das bases dos conhecimentos militares muito pouco estudada metodicamente. ____________________________ ¹ - Não se deve tomar em pouca nem em demasiada conta o material Certamente este, considerado como meio de transporte da Infantaria, como auxiliar e mais uma parcela considerável de poder para essa Arma, será mais e mais necessário, com a condição de não se lhe exagerar a dosagem, pois consome muito dinheiro e grandes efetivos imobilizados a seu serviço fora do campo de batalha. Mas imaginar-seque ele substituíra a Infantaria, que com alguns milhares de carros rápidos, algumas centenas ou milhares de aviões transportando toneladas de explosivos, até mesmo (e com que dificuldades, longe ainda de serem resolvidos!) uma divisão inteira com seus capitães... imaginar-se que se poderá obter assim a decisão, é iludir-se, é não tomar na sua verdadeira extensão o imenso que é uma guerra nacional. U´a nação que conheça a doutrina e os meios de guerra de massas humanas, não se deixará deprimir por um “raid” feliá sobre a sua capital ou sobre pontos sensíveis de seu território; por uma ação de surpresa sobre as retaguardas, que será forçosamente limitada. Se seus exércitos são bem comandados, sua massa de Infantaria vencerá com certeza. A vitória, lenta talvez mais inevitável, chegará com a penetração da Infantaria em uma invasão completa. E se o inimigo teve a covardia de atacar a população civil, é a ameaça de represálias terríveis. Pode-se dizer que a guerra, a grande guerra, tem sido e continua à base de Infantaria. milto Highlight milto Highlight 10 PRIMEIRA PARTE A TROPA PISCOLOGIA DA TROPA PISCOLGIA DO CAMPO DE BATALHA 11 CAPITULO 1 Característicos da psicologia da Infantaria - Nem a psicologia individual nem a psicologia individual das massas – A Infantaria é massa particular por sua composição, sua organização, pelos sofrimentos e perigos obrigatórios a que se destina,por sua finalidade de destruição metódica e por seu armamento – traços característicos que descorem dessas particularidades. Não se poderia tratar dos estudos de uma psicologia coletiva sem pensar nos notáveis trabalhos de Gustavo Le Bom. Não se pode falar da alma da Infantaria sem recorrer a Ardant du Picq e ao general de Mand’huy². Por isso, se é preciso estudar o homem para compreender o infante, - (o homem é o primeiro instrumento, do combate), din Ardant du Picq, “estudemos, então, o homem no combate, porque ele é a força que o realiza”,-Este estudo não basta para conhecer a Infantaria . A Infantaria é a massa psicológica, no sentido muito geral adotado por G. Le Bon. Deve se admitir, também para ela, a verdade do principio fundamental estabelecido por Le Bon, não poderiam aplicar, sem grandes modificações, a psicologia da infantaria. Muitos desses princípios mantêm-se verdadeiros, no caso particular. É inútil repetir aqui e seria desnecessário fazer nova demonstração depois da que tão magistralmente foi feita na obra citada. Vamos, pois, apenas determinar os característicos especiais e principais dessa massa particular que é a tropa de Infantaria. Pode-se admitir que difere essencialmente das outras massas por: -Sua composição -Sua organização -perigos e sofrimentos a que obrigatoriamente se destina -sua finalidade de destruição metódica e seu armamento permanentemente aperfeiçoado Vejamos o que existe de característico em sua composição. Mesmo na Infantaria francesa, que queremos estudar mais especificamente, não e[é sempre idêntica .Há, com efeito, regimentos de raças muito diferentes :franceses ,nativos de todos s países ,estrangeiros europeus .Não nos deteremos, de momento, nessas diferenças de raça. Sua importância, é frequentemente grande em psicologia coletiva, mas é aqui atenuada pela semelhança de organização ,de finalidade de comando por chefes franceses. Menos ainda no deteremos diante das diferenças individuais de inteligência, religião, opinião, idade, etc. São diferenças comuns na composição de todas as massas. Mas deve-se reter, como particularidade essencial da massa “tropa de Infantaria”, que ela não compreende se não homens cheios de vida, com exclusão de mulheres, e que sua composição tem um caráter privilegiado de estabilidade e permanecia. A primeira particularidade (homens cheios de vida e ausência de mulheres) tem ² - A psicologia das multidões, por G. Le Bom – Etudes sur Le combat, pelo coronel Ardant Du Picq – Infanterie, pelocoronel de Mand´huy. milto Highlight milto Highlight 12 como consequência diminuir consideravelmente o impulso, a mobilidade e a irritabilidade, características fundamentais das outras massas. A emotividade, a sensibilidade, digamos os sentimentos falsos ou exagerados comuns nos agrupamentos populares habituais estão, aqui mais ou menos suprimidos. A fixidez da composição, isto é, o fato de que um regimento permanece durante meses composto exatamente dos mesmos homens, ao passo que nas massas ordinárias muitos indivíduos mudam em cada reunião, tem consequências ainda maiores.com efeito, tal massa permanente tem um passado e um futuro comuns; seus elementos se conhecem e sua sorte é, por muito tempo, a mesma. Dai uma personalidade coletiva mais acentuada e mais estável e para seus membros, um forte sentimento de solidariedade. Cada um sabe que não poderia subtrair-se a coletividade, mesmo se deixa-se de desejar fazer parte dela. Resulta daí, também, que o comandante dessa massa livra-se de um dos principais cuidados dos dirigentes que é o de procurar convencer, sem cessar, aqueles que queiram guiar e utilizar como força coletiva, da necessidade de permanecerem unidos e de se manterem acordes uns com os outros. A estabilidade da formação permite o nascer e o desenvolvimento do orgulho coletivo. Se não fosse preciso, em psicologia, evitar-se rigorosamente os números, poder-se-ia dizer que uma tropa de Infantaria suscetível de ver o seu valor aumentar em progressão geométrica por efeito de elogios coletivos. Quando uma unidade se torna ou crê que se tornou uma tropa de elite, é capaz de esforços mais duros, de um rendimento muito maior. E o leve desprezo que gosta de demonstrar para com os vizinhos menos felizes, lisonjeia o traço de caráter mais comum e mais útil de toda tropa como de todo homem: o amor-próprio. É preciso, vê-lo-emos mais tarde, explorar esta qualidade – sim, qualidade – que vale mais que o interesse, o apetite do ganho, do dinheiro, que é o principal aguilhão de tantos outros tipos de humanos. A tropa de Infantaria é massa organizada. Ai esta uma particularidade de tal maneira importante que, de bom grado, algumas pessoas concluiriam que, ela deixa, por isso mesmo, de ser uma massa. Seria exata essa conclusão, se reservasse o nome de massa às simples multidões, mas a designação de massa psicológica é mais geral. Aplica-se também as tribos, aos partidos políticos, as aglomerações religiosas que tem, todos, pelo menos um embrião de organização que procuram sempre ampliar. Trata-se, com relação a tropa militar, de uma organização muito mais detalhada, mais completa e mais forte. É uma coletividade que, como já se viu, não foi reunida acidentalmente, nem momentaneamente. Seus membros recebem instrução e treinamento individuais, que modificam certos caracteres iniciais. Ela se fraciona em unidades que tem composição fixa. Cama duma tem sua parte, conhece o vizinho, é conhecido por ele e dos chefes. Desta forma, para os membros dessa coletividade, desaparece o anonimato e ressurge o sentimento de responsabilidade individual, o que é excelente. Há quadros permanentes que instruem, dirigem e atendem estas unidades. São constituídos escalões sucessivos de comando, permitindo uma harmoniosa e equilibrada repartição das tarefas, tornando possível exigir e obter uma execução minuciosa e exala. O estabelecimento de uma hierarquia, de regulamentos, de sanções, torna a tropa de Infantaria dependente de ordens firmes, das quais não escapa. Como se está distante milto Highlight milto Highlight milto Highlight 13 daquela massa a qual é indispensável e difícil convencer mesmo das ideias mais simples e da qual apenas esperamos, como reação, atos imediatos e imperfeitos. Finalmente, a frente a cada tropa de Infantaria, encontra-se um chefe que ela não escolheu nem elegeu e do qual depende completamente, dentro dos limites dos regulamentos e das ordens que o próprio chefe recebe, mas com limitações que lhe deixam um poder considerável. Não escolheu e é forçada a obedecer-lhe. Nisso não há duvida. Mas ela o segue bem ou mal, obedece-lhe com maior ou menos entusiasmo, executa-lhe as ordens com maior ou menos devotamento e abnegação, de acordo com o que pensa dele. Ela se interessa, pode-se dizer, de forma vital, por seu valor intelectual e por suas qualidades de chefe. Estuda-o apaixonadamente e, como o vê sob todos os aspectos, de perto e de baixo – observatório – que, no caso particular, é o melhor, - conhece-o geralmente bem e sua apreciação – não as apreciações individuais, que dependem frequentemente de interesses particulares, mas a apreciação coletiva – geralmente não é justa. Quer encontrar naquele que a comanda, condições de superioridade. E tem razão. Não será com seus galões que ele a comandara, mas com o cérebro e suas qualidades físicas e morais. Deseja, tal como aconteceu a Joana D’Arc reconhecendo Calos VII em maio a seus cortesãos vestidos como ele, reconhecer seu comandante sem precisar olhar-lhe os galões. Felizmente é frequente acontecer isso. Sob este ponto de vista a tropa de Infantaria é, talvez, mais exigente que certas tropas técnicas, as quais admitem que uma grande especialização teórica, exigindo longa permanência em gabinetes de estudo, prejudique a aparência física sem quebra do prestigio. Quer encontrar em seu comandante um físico marcial. Ri-se da beleza, naturalmente, e até de certa compleição física, mas gosta de ter a sua frente um homem de aparência enérgica e máscula, bem conformado e que, afina, seja capaz de fazer aquilo que ordena que se faça. Não se pense que ela desdenha a distinção e as boas maneiras. Detesta a pose mas também o vulgar e nunca confunde com simplicidade. Não deseja que ele, mesmo moralmente, se lhe nivele. Um chefe, um comandante, não é igual. É também perfeitamente capaz, sobretudo coletivamente, de perceber a superioridade intelectual e de reconhecer o espírito de justiça e a bondade. Se estima a bondade, se pensa poder exigi-la, tem horror a fraqueza. Esta é, para quem comanda, uma baixeza e um erro. Aquele que é fraco com seus subordinados não sabe defende-los nem contra o inimigo, nem contra a indisciplina e a desordem, nem, eu ia dizer contra os chefes superiores, mas quero dizer apenas contra as decisões mal esclarecidas de alguns chefes. E se o militar se alegra, a principio, por poder fazer tudo que quer, depressa se apercebe que essa liberdade cria desordem e desorganização, traz- lhe muito mais aborrecimentos que a observância das regras estabelecidas, causa-lhe perigos e perdas na guerra, porque o comandante que não é enérgico, merece e encontra a derrota. Dessa forma, quando uma tropa de Infantaria julga um chefe digno de comanda- la, quando ele procura compreende-la e resolver-lhe as necessidades legitimas, ela se interessar-se e dedicar-se. Não creio que se possa, nas outras atividades (de operários, de crianças, mesmo infelizes asilados, etc.) encontrar mais fácil e mais frequentemente a suprema recompensa de quem tem alma bem formada e comanda estimando os que lhe milto Highlight milto Highlight milto Highlight 14 estão sob suas ordens: - a estima dos subordinados. Quem, tendo feito a guerra da Infantaria, não guarda recordações tocantes, capazes de provocar lagrimas? Quantos soldados deram a seus estimados chefes, provas de dedicação, pode-se dizer, trágicas! Quantos deram a vida para recolher seu oficial morto ou ferido! Quantos até arriscaram a vida para dar-lhe um prazer! Pode-se citar muitos legionários – e entre eles legionários alemães, ordenanças de oficiais franceses – que saíram de seus acampamentos, em Marrocos, expondo-se a serem presos ou mortos, para recolher num cantil, gota a gota, de uma fonte longínqua, água mias pura e mais fresca para seu oficial, a fim de que este pudesse dispor de águamelhor do que a que estava a disposição de todos mais era pior na qualidade como no gosto. Quantos - isso é tão belo e de tal forma generoso que em caso semelhante à oferta é, geralmente, recusada – quiseram, durante marchas extremamente penosas através dos desertos pedregosos – os hamadas, como se diz ali, - dar a seu tenente a ultima porção de dágua, deixar para ele sozinho a sombra da única arvore encontrada por milagre durante uma etapa de quarenta quilômetros, sob um sol de chumbo, quase um sol de morte! Isto nos leva a tratar da terceira particularidade essencial da tropa de Infantaria: - seu único aspecto de miserai. Ela se destina, obrigatoriamente, a sofrimentos e perigos excepcionais. O general – então coronel – de Mand’huy intitulou as duas principais partes de sua obra:¹ “A infantaria em luta com a fadiga” e “A Infantaria em luta com o medo”. Teve muita razão ressaltando, na segunda, os perigos especiais a que se expõe esta Arma, si bem que – não tendo naquela época participado da Grande Guerra – não tivesse percebido o caráter de grande tragédia existente nas tarefas que cabem ao infante, o qual tem por zona de ação na batalha, poder-se-ia dizer, o próprio reino do terror. Seus camaradas caem-lhe em torno de milhares. É necessário que ele viva - e frequentemente por não muito tempo -, é necessário que ele viva no meio da trajetórias das metralhadoras, das explosões dos obuses, dos gases. E, ainda que o público se atemorize mais com a lembrança dos gases o infante, que sabe que é possível garantir-se com as mascaras, e que não tem que escolher senão entre as gradações do pior, prefere- os aos obuses enormes que podem despedaça-lo e, sobretudo, as metralhadoras que não perdoam nunca! E não é impressionante e reveladora esta ordem de preferência? E depois de tudo é preciso afrontar de perto, quando vitoriosamente atacado, a destruição certa pelas armas do combate aproximado: a granada de mão e a baioneta. Sem querer diminuir os perigos a que se expõem as outras Armas (notadamente a aviação), não se pode deixar de reconhecer que neste assunto o quinhão da Infantaria é singular. A percentagem de perdas é terrivelmente eloquente e da à Infantaria, por enorme diferença o pouco invejável primeiro lugar. Perigos excepcionais, portanto, tal é o quinhão obrigatório da Infantaria. São- lhes reservados, também – e por vezes sem que o comando nada possa fazer - os maiores sofrimentos. O coronel de Mand’huy, em seu livro, quase não se refere, além dos perigos, senão as fadigas. Cita a marcha como a principal prova da Infantaria, acrescentando que “fora a marcha, as fadigas da Infantaria são mais ou menos as ¹ - Infantaria, pelo coronel de Mand´huy. milto Highlight milto Highlight 15 mesmas que as das outras tropas”. Sob o ponto de vista de fadiga, podemos admiti-lo. Mas, infelizmente, as marchas e as fadigas são apenas uma pequena parte dos múltiplos sofrimentos que torturam a Infantaria. A guerra bem o provou. E não é que se reservar para esta Arma, sistematicamente, tão triste privilegio. Mas isso faz parte de suas atribuições especificas. Isolados ou quase isolados (quando outros, como os artilheiros de acompanhamento¹, ficam próximos deles, partilham a sorte, méritos e psicologia) os infantes ocupam a zona mais batida pelos projeteis, zona onde não só tudo é mais perigoso, mas onde tudo é menos confortável, mais difícil e onde, mesmo as coisas mais necessárias são momentaneamente de todo irrealizáveis. Os reaprovisionamentos são por vezes impossíveis, mesmo a noite: - é a fome e a sede. As comunicações são penosas e difíceis e muitas vezes suprimidas: - e é o agravar de sofrimentos para os feridos, algumas vezes até a morte daqueles que se salvariam se fossem socorridos. Não se pode, tão junto do inimigo e em região em que todos lutam encarniçadamente, construir abrigos aceitáveis, nem rapara-los: - é a vida de muitos dias em desvãos e em buracos que não seriam utilizados nem por animais selvagens, é a impossibilidade, por longas semanas, de tomar um banho, d trocar de roupa ou de calçado; a obrigação de permanecer molhado, ou sobre lama, ou sobre neve, o risco de ser tragado por estas, morte horrível que deixa bem longe a queda mortal do aviador ou seu desaparecimento em pleno céu. Aqueles que não passaram por isso e assim não conseguem apreender bem quanto há de espantoso nessa sorte e aos quais ela parece impossível de ser suportada a sangue frio, por certo não negam a essa pobre massa que é a tropa de Infantaria, a particularidade capital a que nos vimos referido: - é destinada a sofrimentos e perigos excepcionais e obrigatórios. Dai resulta que, se tem de aceitar de qualquer maneira os perigos e os sofrimentos característicos da Arma, não se quer outros e se tem o direito de exigir que aqueles não apareçam senão na ocasião necessária. Dessas considerações conclui-se que um dos primeiros traços característicos da infantaria, aquele que talvez sobreleve todos os demais e que de maneira alguma será impunemente ignorado, é a necessidade da justiça. Podemos proibir-lhe quase tudo, impor-lhe quase tudo, reprimir-lhe quase tudo, se proibimos, se exigimos e punimos igualmente e a todos, sem exceções injustificadas. Ao contrário, sobrecarreguem-se alguns, favoreçam-se outros, por pequenas que sejam as diferenças, por pouco importantes que sejam na aparência e ver-se-á, em pouco tempo, nascer o descontentamento e a indisciplina surgir. Não é razoável que se tenha que exigir justiça quando a injustiça, aqui ainda mais que alhures, pode ter tanjas e tão graves consequências. Se cada tropa de Infantaria deve suportar os sofrimentos que lhe cabem, deseja, legitimamente aliás, e como todas as outras, que tudo se faça para diminuí-los. Destinada às maiores provações, necessita do máximo cuidado de quem a comanda. Dispendendo grandes, energias físicas, precisa alimentar-se bem. Frequentemente, após exercícios violentos, o infante volta exaurido; é-lhe necessário um repouso completo, ¹ - Observadores avançados (NT) 16 até mesmo de algumas horas além do repouso normal da noite sempre que possível. Gosta que seus chefes façam tudo que as circunstâncias permitam para melhorar seus alojamentos habituais. Aquele que não sabe ocupar-se dos alojamentos e da alimentação de seus homens, que não procura apaixonadamente, com os magros recursos de que possa dispor e malgrado as dificuldades inevitáveis do aprovisionamento em campanha, dar-lhe a mais abundante e a melhor alimentação possível, não é digno de comandar a Infantaria. Com boa alimentação, repouso, “sossego” – que tantos chefes não sabem dar – e licenças (esta grande alavanca, ouso chamar, ou simplesmente este incomparável meio de conseguir o que se deseja e de recompensar), tem o chefe quase esgotado tudo o que pode fazer para alegrar seus homens. Realmente. O soldado ignora, quase sempre, o prazer da leitura. Não se lhe pode dar a família. Não é de gostos delicados e muito poucos apreciariam a arte e o luxo de bem estar que se lhes desse. E de qualquer modo, quantos apreciariam isso? Que edição rara de Montaigne valeria, para esse infante fatigado e sedento, um copo de bom vinho tinto? Não se tem nem que julgar, nem que criticar, - e seguramente não se tem que satisfazer a todos os gostos – é necessário, simplesmente, achar e dar o que for possível e o que alegre àqueles a quem se quiser satisfazer. A Infantaria sabe muito bem que se pode exigir muito dela. É preciso obter um resultado antecipadamente, estabelecido, cumprir u’a missão. Sabe disso. Isso pode ser caro. Ela pagará. Mas não quer pagar exageradamente. E quem obtiver o êxito pelo menor preço, quem cumprir inteira e vitoriosamente sua missão, exigindo um esforço mínimo, não expondo e não perdendo senão o menor número de homens, será mais bem seguido, mais estimado e poderá mesmopedir muito mais no dia em que for preciso, do que aquele que, vendo apenas o fim, não leva em conta os riscos, não evita as fadigas inúteis, não procura e não sabe descobrir tudo que, sem prejudicar os resultados, pode ser poupado àqueles a quem se chama de um modo um pouco impróprio “os executantes”. Este termo é impróprio porque toma facilmente um sentido pejorativo, contrastando a concepção e a execução¹, a primeira implicando a inteligência, a segunda só exigindo qualidades secundárias, aplicações quase mecânica do material. E isto nos anima a destacar, ainda, uma outra diferença fundamental entre a psicologia da Infantaria e a psicologia das massas em geral. Estas segundo Le Bom, são absolutamente insensíveis a razão: “Na enumeração dos fatores capazes de impressionar a alma das massas, -escreve, - poder-se-ia dispensar inteiramente de mencionar a razão ,se não fora necessário apontar o valor negativo da influência”. A afirmação, a repetição, constituem, - repete constantemente, - os únicos processos a empregar para convencer as massas. Chega a escrever: “O guia pode ser algumas vezes inteligente, mas isso é geralmente mais prejudicial do que útil”. ¹ - Sabe se o que teria de complexa uma comparação, mesmo sob o ponto de vista dos dores espírito. Separar, sobretudo opor, aqueles que colaboraram seria falso e odioso. Quando se deixa de ser executante? O general em chefe não é, acaso, o primeiro executante, pois que deve realizar diretivas precisas do poder central? 17 Sem discutir o que possa haver de exagerado nessa teoria quando se trata das massas em geral, é possível afirmar que a tropa de Infantaria tem necessidade, frequentemente, de que lhe explique de modo rápido o porque de um esforço a ser exigido. A afirmação não basta àqueles que tem constantes provas de enganos. E não fiará impune o chefe que disser a uma tropa aguerrida que os obuses não rebentam e as metralhadoras não matam, mesmo que o afirme peremptória e frequentemente. Ao contrario, há de explicar-lhe com clareza como, empregando certos processos, se diminuirá a eficiência da artilharia inimiga, utilizando, por exemplo, certos caminhamentos, progredindo em certos momentos favoráveis, explorando a contra bateria; como, pelas disposições tomadas, evitar-se-á cair sob o fogo das metralhadoras. E é certo que a Infantaria será melhor empregada quando tiver compreendido que encontrará, em seu deslocamento e na execução das ordens recebidas uma diminuição dos riscos com maiores possibilidades de sucesso. Pode-se acrescentar – o que é mais importante – que a coletividade constituída pela tropa de Infantaria compreende, muitas vezes, melhor e mais depressa do que faria individualmente a maior parte dos elementos que a compõe. Assustamo-nos, as vezes, com o tempo exigido para explicar uma coisa muito simples a um soldado – ainda mais simples. Entretanto é comum que o mesmo homem integrando a tropa que nos recebe na posição de sentido e a qual dirigimos poucas e simples palavras, faça depressa, também ele, sinais de cabeça e de olhos que não enganam e provam que compreendeu. Haverá uma transmissão de inteligência, semelhante a transmissão de sentimentos que se verifica nas massas, segundo Le Bon? É possível que sim. É possível também, que a transmissão de sentimentos determine a inteligência, com o instinto e a sugestão precedem, por vezes, o raciocínio. Em todo caso, se o que se diz não é apresentado logicamente, por faltaram provas (isto às vezes acontece e a gente o sente bem), “não pega”, como eles dizem, não se obtém a adesão indispensável. Seria necessário descermos a exposições complicadas, lentamente deduzidas? Evidentemente não. Mas, imaginar-se que basta afirmar ou repetir algo a uma tropa de Infantaria para convencê-la e conduzi-la, é comprometer sua autoridade moral. Aqueles a quem é preciso fazer aceitar fadigas, sofrimentos e perigos, sem proveito pessoal, são mais difíceis de convencer e menos dispostos a se contentar com provas aparentes, do que as massas as quais os guias oferecem, geralmente proveitos e vinganças sem grandes riscos. Afinal, a quarta particularidade essencial da coletividade da tropa de Infantaria é que ela se destina, tem por meta exclusiva, a violência, a procura e a realização da destruição do inimigo e que dispõe permanentemente de um armamento individual completo e aperfeiçoado. Não há duvida que, a ação da maior parte das massas termina por destruições. Le Bon diz mesmo que “elas só tem força para destruir”. Mas não é parar isto que elas são geralmente reunidas, ligadas, exaltadas. Pelo contrario. Os argumentos habituais, na maioria das vezes, são argumentos de falsa sensibilidade e de bondade. É sempre para acabar com uma “tirania”, para “libertar” alguns infelizes – geralmente, em ultima analise, prisioneiros de direito comum, colocados fora de atividade – que os guias as põem em ação. Mas, se tem uma força enorme e geralmente vitoriosa, se experimentam 18 um sentimento quase sempre justificado de “força invencível”, é porque elas não combatem senão indivíduos ou pequenos grupos que se defendem mal ou não se defendem. A Infantaria, pelo contrario, instrumento de guerra, só é posta em ação por motivos de força maior. É criada, instruída, organizada e comandada para a destruição. Essa a sua finalidade. Mas, - coisa curiosa – esta força considerável, bem mais considerável que a das outras massas, não lhe dá – por isso mesmo – o sentimento de um poder invencível. É que ela não combate adversários desprevenidos, mas forças correspondentes, também poderosamente armadas ou mias bem armadas que ela mesma. Uma vez a ação decidida e iniciada (o que exige, para todas as massas, um impulso inicial), não é mais em acalma-la, em limitar-lhe estragos que possa causar, como para as outras massas, que o chefe deve empenhar-se; mas em dirigir sua ação, em desenvolver seu poder aniquilador, em contornar e vencer obstáculos muitas vezes de resistência crescente. E intervém aqui, o estudo de uma psicologia mais complicada e mais desenvolvida, pois compreende a luta de duas psicologias coletivas, dirigidas uma contra a outra, enquanto diante das outras massas, não há, geralmente, senão indivíduos. Outra diferença considerável. Le Bon, depois de afirmar o poder de destruição das massas, acrescenta: “Seu domínio representa sempre uma fase de desordem”. Se assim acontecesse com a Infantaria, seu domínio teria bem curta duração e em pouco se transformaria em derrota. Veremos adiante que, manter a ordem, mesmo na fase mais critica de destruição, deve ser uma das mais constantes preocupações do chefe e é também das mais difíceis de realizar. Esta finalidade de destruição e a dificuldade de realiza-la ante um adversário coletivo extraordinariamente forte, exigem q a tropa de Infantaria – e aí esta, felizmente, uma outra diferença das outras massas – disponha permanentemente de um armamento individual completo e sempre aperfeiçoado. Nesse caso, se o chefe não é capaz de orientá-la e dominá-la teremos ai massa particularmente perigosa. Perigosa, talvez, para seus chefes, contra os quais é suscetível de se revoltar, total ou parcialmente. Perigosa para as pessoas ou coletividades não armadas, contra as quais pode ser tentada a aplicar uma força que se torna, então, odiosa e injusta. É a pilhagem. São os assassinos de prisioneiros e civis. Surge, assim, a necessidade desta quantidade essencial, primordial, -- e tão particular para a massa -, indispensável à tropa de Infantaria: a disciplina minuciosa, rigorosa, permanente. Vamos agora – porque estes estudos psicológicos têm essencialmente, um fim de utilização prática – estudar em detalhe a Infantaria, em suas diferentes partes (tropa propriamente dita e quadros) e verificar como desenvolver suas qualidades e seu rendimento, mantendo-nos sempre sobreo terreno psicológico e moral, com exclusão das questões de armamento e tática. 19 Capitulo II Como melhorar o valor moral de uma tropa de infantaria – treinamento físico e cuidadosa instrução militar influem sobre a disciplina moral – a robustez e a distinção no trajar geram, muitas vezes, a robustez e a distinção morais – O espírito do corpo – Cerimônias militares – conseguir bom êxito. Todos reconhecem a necessidade da disciplina: “constituindo a disciplina a força principal dos exércitos...”, diziam um tanto solenemente os nossos antigo regulamentos. Uma tropa nada vale se não for disciplinada. Quanto a isso não resta dúvida. Toda organização militar repousa sobre a hierarquia que a comanda, regras a que todos respeitam e sanções que exigem obediência. Poder-se-ia dizer, então, que é inútil conhecer a psicologia da infantaria para utilizá-la e que basta comandar de conformidade com os regulamentos, exigindo que eles sejam fielmente cumpridos. Muitos pensam assim e assim fazem, mas não obtêm êxito no comando. Alguns, que não parecem inquieta-se em auscultar a alma de sua tropa, agem por uma espécie de instinto ou pela lembrança do que viram fazer chefes que conheceram, e empregam processos que, pelo menos em parte, satisfazem. Outros, aprenderam empiricamente certos princípios que viram empregar ou que empregaram antes, e aplicam-nos com sucesso, mas não refletem bem sobre o que fizeram e quando imaginam imaginam te apenas ter roçado exteriormente a alma da tropa já a atingiram em cheio e ai é que esta a verdadeira razão dos resultados obtidos. Porque não experimenta a racionalização de certas praticas tradicionais em todos os exércitos, porque não observar o que a de psicológico nos resultados obtidos? Feito isso talvez se venha a fazer o que já se vinha fazendo, mas com o conhecimento de causa e não visando apenas as aparências. Preservar-se-á o comando, em qualquer escalão do desprezo --- e o que seria ainda pior – do desrespeito que provocam certas maneiras de fazer exames superficiais, ou o desejo de não aborrecer a tropa, ou a preocupação de restringir a instrução do infante, tornando-a de tal modo curta que, algum dia, poderia ser julgado inútil. Quantos – gente jovem e jovens oficiais – dizem com sorriso desdenhoso: “ que se formem infantes flexíveis ágeis e fortes”. Que se lhes ensine a atirar e a servir-se de suas armas. Esta certo. Mas perdesse um tempo precioso com o manejo de armas aborrecesse e embrutecesse homens com exercícios de ordem unida, exigências de posições rígidas de continências todo um formalismo caduco isso não. Isso era bom para exércitos de profissionais aos quais não se sabia o que ensinar ao longo tempo de serviço; era bom para exércitos de parada e guardas reais”. Sem duvida, não convém eternizar-se nas rotinas do quartel, no treinamento do soldado sem arma e nos exercícios de ordem unida. Há outras coisas para ensinar a um soldado moderno. Mas aqueles que descuram ou abandonam esses exercícios pormenorizados, não só tem unidades apresentando-se mal, mas pouco disciplinadas. É que, efetivamente a obediência q se poderia se chamar física, tem influencia sobre a obediência moral pela repetição de ordens claras e bem conhecidas seguidas de uma execução rápida seca e precisa, mesmo que maquinal cria se o reflexo da 20 obediência. É preciso, por assim dizer, que nada se interponha, nem mesmo a reflexão, entre a ordem e a execução. Convém, não hesitemos em proclamá-lo, que o soldado – e entendendo por soldado o subordinado militar de todos os graus hierárquicos – aprenda a obedecer, mesmo que a miúdo não chega a compreender explicar-se-á quando se possa – que já foi indicado no capitulo anterior o q isso ajudara à inteligência e representara para a execução – mas nem sempre se quererá ou se poderá fazê-lo. Quantas ordens particulares fazem parte de um plano de conjunto muito extenso para explicar ou, mesmo, perigoso de expor, pelo interesse que há em mantê-lo em segredo! E quantas minúcias de execução não seriam necessárias se fosse preciso ouvir sempre as objeções ou os pedidos de explicação de cada um! É, pois, aumentar o valos moral da tropa o dar-lhe o reflexo da obediência e isso se consegue pela execução repetidas e frequente de pequenas coisas simples, pela obediência imediata e exigências minuciosas. Terá o exercito o privilegio dessa maneira de agir? Que se veja o que acontece nas escolas onde o professor, pela repetição maquinal ou cantos em conjunto, faz entrar no cérebro das crianças, também ele, o reflexo de obediência com os rudimentos de ensino. Que se considere o que ocorre nos conventos de religiosos. Os superiores exigem particularmente dos mais noviços, a aplicação de regras exatas, às vezes de aparência pueril. Quebrem, por sistema, a vontade daqueles que aceitaram submeter-se à regras, pois que toda ação de conjunto, todo poderio coletivo, exige frequentemente uma obediência de máquina. A transformação do aspecto exterior acarreta, também, uma transformação moral. A tesoura dos religiosos, seu habito simples e deselegante – livremente aceitos, aliás, desde o princípio – desenvolvem neles a submissão e a humildade, dando-lhes uma alma de pobres e os preparam para todas as renúncias. Quando se exige do soldado o asseio corporal, a limpeza física e a correção na maneira de andar e de e de se vestir, não é só o aspecto exterior que se deseja melhorar, é também a correção moral que se procura obter. Um homem habitualmente sujo e mal trajado, talvez não seja sempre um homem de alma suja, mas um operário limpo, como um soldado limpo, tem geralmente a alma limpa. E sobretudo, uma tropa que mantém limpo seu fardamento e seu alojamento, é menos capaz que outra de desordem, de pilhagem, de baixezas mesquinhas e covardes. Tudo isso, bem entendido, não é absoluto, mas basta que a limpeza física acarrete a limpeza moral, para que a procuremos. E os ingleses, que conhecemos tão bem sob esse aspecto, não tem uma palavra –para a qual é lamentável não se encontrar nenhum tradução francesa exata – que exprime ao mesmo tempo limpeza física e limpeza moral quando dizem: um gentleman? E se lhe falta uma ou outra, seja ele príncipe ou operário... não será um gentleman. Um dos meios mais poderosos de aumentar o valor moral de uma tropa, é dar- lhe o espírito do corpo. O que é o espírito de corpo? Quais são as suas manifestações? Quais os processos para cria-lo? O espírito de corpo é esse orgulho coletivo que faz crer a uma tropa que ela é superior a sua vizinha. É o apego às suas tradições, ao seu passado, como a uma nobreza 21 coletiva. É uma tendência comum de pensar de acordo uns com os outros. É um desejo intenso – que conduz por vezes o sacrifício – de tudo fazer pela grandeza, pela reputação e pela gloria da unidade. Os caçadores, os legionários, tem espírito de corpo. Toda tropa pode ter esse espírito de corpo. Como cria-lo? É necessário encontrar e explorar, ou então criar tradições, particularidades de apresentação, de maneiras, de denominação, de conduta. Não importa que seja pela lentidão, como no caso dos legionários, ou pela rapidez de seu passo cadenciado, como no caso dos caçadores, que uma tropa de infantaria venha a distinguir-se. O essencial é que ela se distinga e que qualquer um, vendo-a, diga com segurança: “Estes que avançam, são os legionários!” ou “Estes que passam, são os caçadores!”. E isto que, a primeira vista, parece curioso (e que penas é normal, sendo a maneira de andar de um homem, como sua escrita, expressão de sua personalidade), é que essas duas maneiras de andar, uma lenta e a outra viva, correspondem ao caráter particular de cada uma dessas duas subdivisões da Arma de Infantaria. A legião é uma tropa é uma tropa de soldados na maioria idosos, lentos, excelentes na defesa e admiráveis, antesde mais nada, por sua solidariedade. Uma tropa, também, desabusada e cuja grandeza é feita mais de resignação do que de entusiasmo. A lentidão extrema de sua progressão, como é de tradição para a partida de Tonkin, aos sons da “Marche des Bonnes à poil”(Marcha dos veteranos), exprime verdadeiramente e de maneira emocionante esta alma complexa e triste. Os caçadores, ao contrário, mais jovens, geralmente pequenos, alegres, ruidosos e despreocupados, exprimem bem, por sua cadência viva e agitada nos sons de suas fanfarras alegres, ardente e nervosamente conduzidas, suas qualidades tradicionais de jovialidade, ação e energia. A maneira de andar no passo cadenciado é apenas um exemplo do modo de proceder. Sempre com a mesma finalidade de tornar reconhecidos os homens pertencentes à unidade e distingui-los dos outros, é indispensável um uniforme especial ou, se não se pode tê-lo, inventar (sem cair no ridículo) uma insígnia particular, botões diferentes, um brazão darmas bem escolhido. Pode-se fazer usar a cobertura de modo um pouco diferente, tolerar, ou mesmo aprovar, algumas singularidades pouco importantes da ordem unida. O assunto é delicado. Deve-se evitar, de início, fugir aos regulamentos militares, que são obrigatórios para todos e dos quais não nos podemos afastar sem prejuízo da disciplina geral do exército. Por outro lado é necessário evitar o ridículo, fácil de se verificar em assuntos como este. Contornados, porém, esses dois obstáculos, conseguir-se-á resultados verdadeiramente consideráveis. Por bem pequenos meios, dirão alguns. Talvez. Mas que importa, se os resultados são grandes? Acaso não vale mais obter resultados grandes com pequenos meio, do que pequenos resultados com grandes meios? Se pudermos conseguir um soldado geralmente mais limpo e mais ardoroso, dando-lhe um uniforme azul ferrete e chamando-o caçador, por que renunciar a essas vantagens tão pouco onerosas? 22 Não falta gente, entretanto, que faça objeções e queira suprimir essas coisas. Não me entenderei sobre os ataques um tanto surpreendente contra os caçadores do coronel Ardent du Picq, porque está grade autoridade, sob o ponto de vista de psicologia militar, não podia ignorar e não nega em seu livro, os superiores resultados obtidos pelas tropas de elite. Faz, porém, uma censura – que hoje não seria, mas justificada – as tropas de elite: é a de serem formados em detrimento das outras tropas, das quais são tirados, em proveito próprio, os melhores elementos. Ele tem razão. Haveria inconvenientes para os outros, em selecionar os melhores elementos para formar as unidades de caçadores. Para os legionários, a questão não era a mesma: a seleção física e obrigatória para o engajamento, mas as dificuldades médicas para inclusão de recrutas e a seleção moral são, geralmente... negativas. Deve-se conseguir criar o espírito de corpo em uma unidade e por esse meio aperfeiçoar o valor moral de uma tropa, utilizando matéria prima análoga àquela de todas as outras tropas. Se fizesse uma repartição desigual dos contingentes ajudaríamos, talvez, certos chefes a criar esse espírito de corpo – si bem que eles não deviam ter necessidade dessa vantagem inicial – mas prejudicaríamos gravemente o valor moral das outras unidades. Enquanto colocando cada um em igual situação de partida, tem-se probabilidade de melhorar a moral de todos, pela emulação. Para evitar os principais inconvenientes do espírito de corpo e das tropas chamadas de elite (sempre haverá algumas, mas quão inferiores aos benefícios relativos recebidos para se formarem) alguns tropeços devem ser evitados oficiais dessas unidades. Uma tropa de elite, como tudo que é elite e superioridade, é invejada e facilmente criticada. Os pequenos meios de qual falei mais acima, são aplicáveis sobretudo as praças. Os oficiais devem observar, para com estas, constante preocupação de integridade moral, das mais rigorosa correção de conduta e o desejo de adquirir uma superioridade verdadeira. É-lhes necessária muita camaradagem, muita união, muito respeito às tradições particularistas sem cair em infantilidades. Erguer a cabeça sobre os esforços excepcionais a realizar, mas reservar elogios para as ocasiões próprias, ser muito acolhedores para com os oficiais dos outros corpos, prestar toda atenção para não chocá-los, despir-se não só de desdém, que seria inadmissível, mas mesmo de qualquer indício de crença em sua superioridade. E mais que tudo, uma tropa de elite deve dar provas de sua qualidade excepcional. Os maiores perigos, os maiores sofrimentos, as maiores fadigas, cabem-lhe por direito. Deve aceitá-los, reclamá-los até. E, se seu valor moral é verdadeiramente superior ao das outras, deve superá-los melhor que as outras. São as recordações glorificadas desses bons êxitos superiores, que forjam substancialmente o espírito de corpo e o tornam fecundado. Tal como a Igreja, o Exército tem suas cerimônias solenes, pois também ele precisa alimentar a fé e o entusiasmo. Desde os tempos mais antigos, os Exércitos fizeram desfiles, formaturas para condecoração, manifestações de pompa exterior. Não é preciso multiplicá-las, nem prolongadas, porque depressa provocam fadiga insuficientemente justificada, e assim serão verdadeiro pesadelo para a tropa. Mas quando se propõem a um fim bem escolhido (entrega de condecorações ou de distintivos, comemoração de um ato memorável para o país ou para a unidade, saudação 23 aos mortos na guerra, etc.), quando bem preparadas, brilhantes, curtas e quando alcançam sua finalidade e impressionam o espírito do soldado, as cerimônias militares são um meio útil para elevar a energia moral da tropa. Não se fazem cerimônias impressionantes sem música, menos ainda no Exército do que nas igrejas. E é por isso que a supressão das bandas de música e fanfarras, ou mesmo sua diminuição, tão frequentemente pedida como economia útil para um país insuficientemente povoado e que necessita manter seus efetivos combatentes, é erro grave. Quando se suprime a banda de música de um corpo, arrebata-se-lhe o penacho, um motivo de orgulho, priva-se-lhe da maneira de fugir da vulgaridade, da poeira ou da lama quotidianas, para se entusiasmar alguns instantes com o ideal, usufruir um pouco de beleza e de dignidade patentes. Não é de surpreender que as bandas de músicas fossem mais energeticamente proibidas depois da guerra do que eram antes? Não impressionante que tosos combatentes de infantaria fizeram a guerra, queira conserva seus músicos, mesmo quando têm uma tendência - às vezes exagerada – de querer a supressão do maior número de militares que não tenham uma arma nas mãos e não tomem parte pessoal na batalha? Para melhorar o valor normal de sua tropa é preciso torna-la justamente orgulhosa de si mesma e confiante em si. Exigindo esforços raros mais intensos, pode-se obter muito sem fadiga nem exaustão. Diga-se de passagem que quando se recebeu uma certa missão ,é preciso fazer de tudo pra cumpri-la. E conseguir êxito, em tal caso, não é somente um meio psicológico de engrandecer a tropa. É um dever profissional escrito a cumprir e cabe simplesmente ao chefe sair –se bem pelo menor preço. Mas não é isso. Por sistema, por método de educação moral, é preciso gradativamente procurar e achar tarefas cada vez mais difíceis, num evitar cuidadoso de fracasso. Não procede assim o cavaleiro que treina o cavaleiro que treina seu cavalo para um concurso hípico? Obstáculos fáceis de inicio depois obstáculos mais difíceis evitando pedir demasiado prematuro ao cavalo, para livra-lo de uma queda desgosta que desgosta e às vezes desencoraja por muito tempo. E o cavalo, pouco a pouco, adquire confiança em seus meios, desenvolve-os e salta cada vez mais alto. Do mesmo modo, uma tropa de infantaria que se tenha feito, progressiva e prudentemente, sair-se bem, evitando as causase derrota e forçando, ás vezes de propósito, o poder dos meios, alcançara, a poucos importa, confiança e si e terá aumentadas suas possibilidade. Não importe se, de início, durante a caminhada muito longa, falseiam-se um pouco de dados do problema, desequipando completamente os homens. Estes guardarão a lembrança do número de quilômetros percorrido e do número de horas de marcha. Eles se gabarão da façanha, só conservando a lembrança do bom êxito. E se poderá, em breve, fazê-los repetir, com a mochila cheia, desta vez, o mesmo percurso com sucesso e ainda com maior êxito. A montanha, com o relevo de certos caminhos, com a facilidade relativa de percursos mais longos sem fadigas excessivas, devido à temperatura mais fresca e ao fato de não serem sempre nem os mesmos os músculos das pernas que trabalham continuadamente, nem as mesmas as partes dos pés que sofrem contacto prolongado 24 com o solo, oferece grandes recursos, sob esse ponto de vista ,para quem sabe explorá- la .E sua dura escola faz ir de encontro ,mesmo em tempo de paz, a adversários reais , pondo-os, frequentemente em presença da apreensão e do perigo. Quando aí se alcança a vitória com a tropa, aumenta-se-lhe seu valor, o orgulho e ímpeto. Na guerra, é ainda mais importante sair-se bem, porque qualquer ato de arrebatamento é mais difícil. E, mesmo sem partilhar da opinião dos otimistas, afastados dos campos de batalha, que acreditam que uma tropa se entusiasma com um ataque coroado de êxito e não deseja senão prosseguir --- isso lhe custará muito caro e cada um só tem uma única existência ---, pode-se, com certeza, afirmar que, muitas vezes é possível erguer o moral de uma tropa de momento abatida por um revés e restaurar-lhe o prestígio, facilitando-lhe um sucesso relativamente fácil por meios apropriados e a escolha de um objetivo limitado e que se sabe estar mal defendido. 25 Capítulo III O comando de uma boa Infantaria – Apelo ao amor próprio – Pedir o mais difícil – Recompensar com inteligência – Nunca esquecer de poupar particularmente os melhores. Quando se tem a sorte e a honra de dispor de uma boa Infantaria, é preciso saber reconhecê-la, desde logo ,não temer dizer-lhe, tratá-la e comandá-la diferentemente de uma tropa regular e medíocre. É assim que, por um apelo frequente ao amor próprio, se exploram as melhores qualidades de boas tropas. Aquele que permitir, uma única vez, ser desprezado, nada mais terá a perder. Não levará mais em consideração o maior ou o menor perigo, a maior ou a menor fadiga para se decidir. Veremos, no capítulo seguinte como se pode tentar utilizar-se desse grave estado de espírito, sem chegar aos usos das sanções que os regulamentos permitem. Mas, com as boas tropas não se dá o mesmo. Orgulhosas dos sucessos passados, orgulhosas de sua reputação, dessa espécie de auréola que as rodeia e dos olhares que a admiram ao passarem – e os dos olhos femininos não são os menos apreciados – os soldados que as compõem não estão mais livres para escutar a voz do menor esforço ou do medo. Quem experimentou a embriaguez da glória não pode esquecer o seu sabor. Mais simplesmente, quem se beneficiou com as vantagens do primeiro lugar, não deseja mais deixa-lo, mesmo que para isso deva dispender grandes esforços e correr grandes riscos. Lembro-me de um batalhão da legião de Marrocos, fortemente experimentado em operações anteriores e estando com efetivo muito reduzido, fora designado para servir de escolta ao comboio de um marcha retrógada. Recordemos que nessa época, as colunas se deslocavam isoladas em país inimigo, com seu comboio no meio do dispositivo, escoltado pela tropa menos brilhante; e que o lugar privilegiado, isto é, o mais perigoso, aquele confiado à tropa mais valorosa, era a retaguarda da marcha retrógada. Era em 1914, após a tomada de Khenifra, e uma das colunas que participa da operação, devia regressar para Ito, em busca de grande quantidade de víveres, para construir em seguida, o aprovisionamento do novo posto citado. As tribos inimigas, muito aguerridas – os famosos Zaians às ordens de Moha - ou – Ahmou – não podiam manter-se diante de nossas tropas na marcha para a frente, mas tinham o hábito de se lançarem em malta encarniçada, logo que o ataque lhes parecia possível, sobre os últimos elementos que recuavam e os quais o movimento retrógrado deixava frequentemente isolados. Furiosos e humilhados com o que consideraram como prova de desconfiança, espécie de afronta semelhante à colocação no fim da mesa daquele que sabia que deveria sentar-se à direita da dona da casa, simples legionários e oficiais do batalhão manifestarão seu descontentamento. E foi necessário que seu comandante se dirigisse ao general, para expor-lhe as reivindicações dos legionários e lhe pedisse o lugar de honra 26 ao qual eles pensavam ter direito. Foi-lhes satisfeita a exigência, apesar do seu pequeno número (que fôra a causa da disposição inicial); e isso lhes custou muito caro no desfiladeiro de Foumteguett. Mas, não obstantes aos terríveis momentos que passaram as suas pesadas perdas, nenhum lamentou não estar no lugar desprezado e menos perigoso da guarda do comboio. Depois desse episódio maravilhoso e raro (pois a maior parte daqueles que se queixam de não ter sido designados para o perigo, só o fazem depois dele ter passado – o que é infinitamente menos meritório !)pode-se citar a sentença bem conhecida do general Négrier às unidades da Legião que enviava um dia um dia a uma morte quase certa: “Legionários! Sois soldados para morrer e eu vos envio para a morte”. Trágica e sobre-humana prova de estima, que ficou como um dos títulos de glória de que a legião mais se orgulha. Tropas sublimes, as que se pode empregar com argumentos como esse! Eis aí, em sua forma mais exaltada, o apelo ao amor próprio que age tão poderosamente sobre as boas tropas. Sem ir até o excesso, pois poucas tropas são capazes de tais exaltações heroicas, pode-se pedir a uma Infantaria de reputação firmada, as tarefas mais difíceis, salientando havê-las reservado para ela, em virtude de suas qualidades. Entretanto é preciso, depois, quando o bom êxito for alcançado, saber recompensar sem mesquinhez. Nada é pior, nesse caso, do que essas decisões tão frequentes de chefes ignorantes da psicologia ou injustos – porque a injustiça não é a igualdade – que, depois da ação, repartem igualmente o numero de medalhas, sem levar em conta a diferença das dificuldades vencidas e das tarefas realizadas¹. Sob esse ponto de vista a criação dos distintivos com grau fora uma invenção genial se, apouco a pouco, não se tivesse querido dá-los a todos os regimentos. Felizmente não se foi até o fim com essa generosidade mal compreendida e, se foram dados muitos distintivos manteve-se, apesar disso, o alto valor dos de grau mais elevado. Que grave erro, também, o dessas cruzes de guerra completamente distribuídas, em citações vagas, a tanta gente talvez merecedora e capaz, mas sempre longe dos perigos da linha de frente. E foi dado um prazer momentâneo a esses beneficiados, se eles foram injustamente apontados à admiração e à estima dos civis da retaguarda, fez – se surgir contra eles, essa lamentável antipatia dos combatentes, os quais, não tendo compreendido a necessidade imperiosa, mesmo sem seu beneficio, de serem certas _________________________ ¹ - Diz-se as vezes que é muito difícil saber quem teve mais méritos. Recordo-me de um ataque em grande estilo que teve lugar e certa zona, realizado por dois regimentos, um atrás do outro. O segundo – o da retaguarda – tendo menos preocupações imediatas e menos trabalho que o primeiro – o da vanguarda – tinha aparentemente multiplicado o numero de suas proezas, marcando com giz, com o numero de seu regimento,todos os canhões deixados no campo pelo inimigo, ao passo que o ataque progredia. Os dois regimentos foram citados em o Ordem do Dia do Exercito em termos bem semelhantes; e o comandante da Infantaria Divisionária, concedeu a cada um, pouco mais ou menos, a mesma quantidade de prêmios. Seria acaso muito difícil descobrir que a tarefa do primeiro tinha sido infinitamente mais dura e meritória que a do segundo? 27 funções exercidas com menor exposição ao perigo, estigmatizaram todos os que trabalhavam abrigados – e se teve a inverosímel falta de habilidade de recompensar como a eles – com qualificativo depreciativo de `` emboscados ´´. Se convém saber recompensar as boas tropas, e recompensa-las de um modo inteligente e excepcional, sem outra limitação que a do valor dos serviços prestados, também é preciso poupa-las. Uma boa tropa, que como tal é tratada, compreende que se lhe reservem as tarefas mais difíceis e mais perigosas. Mas também precisa de repouso. É indispensável proporcionar-lho. Compreendeu-se isso, frequentemente por necessidade, durante a guerra. Conviria nunca esquecer isso. Nem importa que outros murmurem – aqueles que se expõem menos e tem tarefas mais fáceis, - que achem que se lhes dá acantonamento menos agradável, períodos de repouso menos prolongados. Se querem o mesmo tratamento privilegiado, sob esse ponto de vista, que reclamem os mesmos perigos e os mesmos esforços e, se tornarem iguais aos melhores, que se lhes deem as mesmas vantagens. Conheci, todos nós conhecemos durante a guerra, os especialistas em missões perigosas – as ``verdadeiras´´, não as das citações complacentes, - homens e tropas de elite da Infantaria, sempre prontos para o golpe audaciosos, para ação perigosa e delicada. Certos chefes, - para não dizer quase todos, - felizes por não terem de fazer designações por escala, mais confiantes também nesses especialista do difícil e do heroísmo, consentiam em utilizar sempre os mesmos, até o dia, ai deles! Em que eram sacrificados. É conveniente pensar, ao contrario, em economizar seus melhores homens, mesmo contra vontade deles próprios. Constituem uma reserva que se deve guardar. E depois, o cavalo mais brioso, acaba, também ele, por ficar ovado se o faz, a miúdo, correr muito. Em suma, a boa tropa de Infantaria é um instrumento precioso e raro, - mais raro do que se imagina, - pois o que se lhe pede é, as vezes terrível, as vezes quase sobre-humano. Que imagine, quem ainda não passou por isso, o que representa de vitória sobre si mesmo, o partir, friamente sem hesitação a uma hora H, ao alvorecer, sobre metralhadoras que vão atirar, que se sabe estarem perto, e vão ceifar(sabemos por experiência própria) e um instante, definitivamente, muitos daqueles, que, cheios de vida, o espírito atento e o corpo retesado, vão lançar-se para a frente. E que se pense, em comparação, no reflexo de fuga, ou ao menos no sobressalto, que agita um homem medíocre, não habituado às armas, ao simples ruído de um tiro dado perto dele. Lembremos que, na defesa, quando um fuzileiro atirador ou um atirador de metralhadora foi submetido a um bombardeio de varias horas, que atingiu a sua trincheira, quando ele próprio esteve, não raro, enterrado momentaneamente pelos efeitos de um obus, quando sabe que a essa confusão, pior que um tremor de terra, vai suceder um selvagem ataque dos infantes inimigos, e preciso encontrar em sua alma, a energia e a lucidez para saltar ao posto de combate ao soar o tiro da artilharia, em pleno terreno descoberto, para ele próprio atirar antes que sobre eles cheguem as granadas inimigas. E é com realização desse ato quase instantâneo que pode sair-se com bom êxito de sua missão. 28 Sim, por certo quando se recorda do que é preciso pedir a uma boa Infantaria no ataque e na defesa para alcançar o êxito, compreende-se que nada há como não economizar provas de consideração, recompensas e períodos de repouso, e que se deve saber poupar esse indispensável e admirável instrumento da Vitória. 29 Capitulo IV Emprego de uma infantaria medíocre - Missões relativamente fáceis- Fazer com eu tenha facilidades e com menor perigo compreenda que desempenhar bem a missão, é mais vantajoso do que fazê-lo mal – Procurar das primeiras felicitações justas - Reanimar o amor próprio – As sanções - Perigos da rebelião e do fracasso coletivo - Antes de tudo, dissociar a solidariedade na indisciplina. Examinadas as virtudes que se exige das boas tropas de Infantaria, não ha por que nos admiramos de que haja tropas medíocres. Como utiliza-las? É certo que não será como as boas, pois que elas não são! Nossos regulamentos – será vergonha de reconhecer o fato de que elas existem ou será, apenas, a recusa de aceitar a existência? – nunca fazem diferença entre topas boa e tropas medíocres. Nos tratados de tática e nos exercícios teóricos, nunca se escolhe e nem se dosa o esforço pedido, pela qualidade da tropa. Entretanto, tal como os homens, as unidades não são intermutáveis. Tive, durante certo período de guerra, em meu batalhão, um comandante de companhia muito conceituado, sempre pronto a atacar violentamente, mas que não sabia ler as cartas. A cada ataque importante, qualquer que fosse a escala das unidades, eu conseguia deixar sua companhia em reserva; e estava seguro de que tão logo permitisse, ele partiria como um bólide e estaria, nessa situação, ao abrigo de erros grosseiros de direção e de ligação. Assim ele, impulsionava um pouco as unidades que estavam a sua frente, e eu tinha sempre pronto a tapar uma brecha na linha de frete e dar um novo impulso ao avanço do batalhão por sua entrada em ação. Por ocasião de um ataque, no fim da guerra, meu sucessor no comando do batalhão, conhecendo menos as particularidades dessa companhia e de seu comandante, ou mais preso as exigências do revezamento, pôs esse capitão em primeiro escalão. Ele partiu como um louco, um pouco ao acaso quanto a direção, sem se preocupar de ser seguido ou não e nem de manter a ligação. A companhia reserva não cerrou suficientemente sobre ele. Em pouco ficou isolado e foi feito prisioneiro, depois de ferido em condições apesar disto heroicas. Cito este exemplo para mostrar que as tarefas variam com comas tropas e seus chefes e também que não se deve colocar sempre na frente os mais bravos. Reservando- os quando isso é possível, tem –se a dupla vantagem de estar seguro de poder lança, em uma situação difícil, os melhores se for necessário, e também de economiza-los vantajosamente se, como é o caso mais frequente, não houver necessidade de empregara reserva. Voltemos a nossa infantaria medíocre. Necessita-se inicialmente tratar de não repeli-la em definitivo e, se possível de restituir-lhe confiança e diligencia. Tarefas relativamente fáceis lhe devem, pois, ser reservadas. Não digo que obrigatoriamente as menos perigosas. O exemplo que acaba de ser citado, parece-me, dá bem ideia do que a miúdo é preciso tentar. Foi dito mais acima que certos soldados e certas tropas, tendo aceito serem desprezadas, consideravam apenas, para se determinar, a maior ou menor fadiga, o 30 maior ou menor perigo. Faz-se necessário conseguir persuadi-los – e para persuadi-los é mister que isso seja verdade – que eles terão ais vantagem atuando bem do que atuando mal. Assim colocando de vez em quando na frente, no inicio de um que, isto é, no lugar mais perigoso, os menos bons e conservando em reserva os reputados como melhores, far-se-a com que os primeiros aspirem(sobretudo se lhes foi prometido)passar a reserva na vez seguinte, se derem prova, desta vez, da diligencia e do esforço que se exigem das tropas aptas para serem empregadas como reserva. Esse principio – o primeiro na utilização dos medíocres- devem ser a base de comando deles;deve-se proceder de tal modo que, em caso dado, haja a vantagem e o menor perigo em atuar bem do que em atuar mal. Assim, quando se emprega a barragem rolante da Artilharia em um ataque , há menor perigo em ir para a rente, cerrando ao muitos próximos arrebentamentos, do que ficar um pouco para trás. Efetivamente, sob essa cortina de fogo que se desloca, o inimigo, enquanto esta coberto, fica imobilizado em seu abrigo e não pode utilizar suas armas. Mas, desde que a cortina fez o seu lance seguinte, de 50 ou 100 metros, atirador inimigo, saído desse aperto, vai poder voltar a sua posição de tiro e agir. O assaltante que seguiu de perto a barragem, atinge o inimigo antes que saia do seu abrigo. O seu assalto não é mais do chamávamos, durante a guerra, pela palavra atroz: ``a limpeza´´, isto é, pode atirar e destruir o inimigo com uma granada lançada em um abrigo ou no fundo de uma trincheira, antes ele tenha tempo de se por em guarda para combater. Ao contrario, o soldado que se atrasa um pouco, não chega sobre o atirador inimigo senão que este pode retomar sua posição de tiro. É para ele, então, a morte quase certa. Depois desse argumentos de interesse unicamente pessoal, poder-se-á, com mais frequência, fazer, fazer apelo, dentro em breve, meios mais sumários. Disse que os medíocres aceitavam definitivamente ser desprezados. Quase sempre isso não é bem verdadeiro. E a prova disso é que, quando a tropa medíocre se vê afastada de uma missão especial, mais penosa ou mais perigosa, tem com certeza e de inicio um sentimento de satisfação ao ser livre de fadigas e perigos, mas não pode evitar uma espécie de inveja frente aqueles que, substituindo-os, são distinguindo com a missão. É desagradável ouvir gabar o vizinho, principalmente se a isso se acrescenta uma comparação que vos é favorável. E então se chega ao ponto que desejar para si mesmo, cumprimentos e felicitações. E ai que surge, para o chefe, a oportunidade do que chamarei de ``procura da primeira felicitação justa´´. Uma tropa, como um homem, sempre censurada, sempre desdenhada, desce pouco a pouco a um declive perigo até o dia em que, surpresa – e a miúdo bruscamente refeitas, - ela é, pela primeira vez, objeto de felicitações. OH! sem duvida, isso é unicamente um patamar, não é ainda o alto da escada. Terá muito a fazer, para chegar lá, se lá chegar. Mas já é um começo. Quando se recua, a parada é o primeiro tempo da reação ofensiva. E á a prova – prova de um efeito extraordinário – de que a derrota não é completa. Mas, por desejável, que seja o primeiro cumprimento como meio psicológico de levantar o moral, perderia seu valo, pior ainda, destruiria o valor de todos os outros do mesmo chefe, se não fosse justificado. Certamente, dir-se-á, não é fácil, para Infantaria medíocre que vós nos descreveis, por mis que se queira, dar-lhe cumprimentos quando 31 merece tão pouco e na maioria das vezes se deve empregar as outras em seu lugar. Ela merece pouco, é verdade; mas não peço muito a principio. Procuro um motivo apenas, e justificado, é muito raro que o não encontremos. Assim, esta unidade, à qual se deu uma tarefa relativamente fácil, mas de grande alcance, à qual se fez ver a vantagem pessoal de seguir com ardor sua barragem rolante, realizou, apesar de tudo, se teve êxito, um ato meritório e talvez mesmo grandioso. Não se lhe necessita recordar e que ela teria preferido estar em outra parte e que talvez, outras teriam tido até melhor êxito. O essencial é que o que ela fez, tenha sido verdadeiramente bem feito e que possa, sem mentira dizer-lho. Eis ai, então, uma troa medíocre, que já o é menos. Tem uma recordação gloriosa própria e não pode nem se dar conta de que há vantagens morais e, as vezes, mesmo materiais, em ser estimada ao envés de ser desprezada. É como o homem que, pela primeira vez, provou álcool, e que tornara a beber. Desperta-lhe o amor próprio, tal é a finalidade. Quando a primeira chama aparece, é preciso soprá-la decentemente a fim de mantê-la. Depois deve-se avivar o incêndio criando vários pequenos focos. Quero dizer necessário criar pequenas elites cujo ardor levara os outros para diante. Mesmo em uma Infantaria medíocre, há alguns bons elementos. Não hesitemos em separa-los momentaneamente dos outro, em agrupa- los em pelotões especiais, em grupos livres, em seções de elite. Que importa o nome! É, em embrião, o principio do espírito de corpo. A esses pequenos grupos, utilizados a parte se obtiverem êxito, dar-se-lhes-ão alguns distintivos, e não se perdera nenhuma ocasião para instala-los melhor, fazê-los repousar com proveitos, se possível licencia-los excepcionalmente. Serão a princípios invejados, talvez criticados, tentar-se-á diminuí-los. Mas depois a emulação nascera, a começar pelas unidades melhor comandadas. Uma companhia fará saber que ela também seria capaz de cumprir bem a missão. E quererá prova-lo. Tomemo-la pela palavra. E então, bem a miúdo, todas as outras a seguirão. Eis ai salva, uma Infantaria medíocre. Talvez venha a fazer tudo muito bem, algum dia e será, então uma boa Infantaria. Infelizmente, tais resultados nem sempre podem ser objetivos. E, o que é mais grave, certos indivíduos, senão certas tropas, chegarão somente a executar mal a sua missão e a nem cumprir com o dever. O chefe estará, então, em presença de uma penosa mas grave obrigação: aplicar punições e as vezes sanções muito serias. Quando passou o perigo e a guerra já esta longe, muitos críticos discute e mesmo condenam essa sanções. Dizem então ``como se pode puni-los tão severamente? Não é desumano exigir dos homens ações tão difíceis? Talvez algum dos punidos tenha abandonado seu posto em contato com o inimigo, mas em consequência de fraqueza momentânea e explicável ´´. De inicio, é preciso levar-se em conta que, nos exércitos modernos, a sensação suprema é muito rara. Em mais de quatro a anos de guerra, sempre na Infantaria, nunca vi uma única condenação à morte. Vi um certo numero de sanções menores; e os Conselhos de Guerra são, o mais das vezes, uma jurisdição pouco rigorosa, diria um tribunal fraco, acessível a todas as piedades. Mas há casos em que a piedade por um 32 culpado torne-se em injustiça para outros, por vezes até um cumplicidade de assassínio. Efetivamente, o tal homem que abandonou seu posto facilitou a ação do inimigo, sendo substituído por um outro que foi morto. E se morrer em seu posto normal, em sua vez, é um risco terrível, mas aceitável e muitas vezes inevitável na guerra, é monstruoso ser morto porque um outro não cumpriu seu dever. Aquele que fez morrer um outro por sua culpa ou e seu lugar é, de certo modo, uma espécie de assassino. E, mais grave ainda, se não se reprimem impiedosamente os abandonos de postos, as fugas diante do inimigo, quantos, ao cabo de algum tempo desse regime de abdicação, seguirão seu chefe no ataque ou se manterão firmes na defesa? E então, serão as unidades inteiras a serem destruídas, colocadas bruscamente em face de um assaltante que elas pensavam que fora detido por aqueles que disso estavam encarregado e que tinham possibilidade de o fazer. Será talvez, o ais mesmo que em resultado dessa delinquência generalizada, ficara desprotegido diante da agressão e acabara arrasado. Nesse caso a tropa de Infantaria se transformaria logo na turba organizada de Le Bom, esse aglomerado inconsciente sujeito a todos os contágios e sobretudo ao contagio do medo. Eis porque as punições, e outras sanções, em guerra, não raro sanções imediatas, devem manter-se. Por vezes é um freio para alguns que, geralmente bravos, possam ter seu minuto de fraqueza, sobretudo se não sentem atrás de si mão firme que os mantenha unidos. É principalmente ameaça de maior perigo para os covardes, os quais seriam tentados a abandonar seus camaradas e cuja fraqueza desorganizara o conjunto. Tais são,
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