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- -1 HISTÓRIA DA IDADE MÉDIA ORIENTAL O IMPÉRIO BIZANTINO DOS SÉCULOS VIII – XI - -2 Olá! Ao final desta aula, o aluno será capaz de: 1. Conhecer as características gerais do Império Bizantino ao longo dos séculos VIII e XI; 2. Localizar as áreas perdidas pelo Império Bizantino ao longo dos séculos; 3. Compreender o que significou a Questão Iconoclasta para a religião Católica; 4. Analisar as consequências do Cisma Oriental para a Cristandade. 1 O Império Bizantino do século VIII até o XI Vimos na aula três que o Império Bizantino, após a separação do lado Ocidental, passou por momentos de grande desenvolvimento, recuperando inclusive, sob o governo de Justiniano, áreas conquistadas pelos povos germânicos. A partir do século VIII, no entanto, há um processo de retrocesso. O Império Bizantino não consegue manter suas fronteiras e vinha continuamente sendo assediado pelas novas forças emergentes no período. A dinastia reinante no século VII foi a Heráclida que tentou, com seu último governante, aumentar a tributação da aristocracia local, o que gerou crescente insatisfação. Justiniano II acabou sendo deposto no ano de 711 e institui-se uma nova dinastia: a Isáurica. Foi um período de grandes problemas externos, oriundos de várias frentes como os árabes e os búlgaros. Ganhos e perdas foram processados; ora as fronteiras do Império recuavam, ora expandiam-se. No entanto, nunca foi recuperado o apogeu do período de Justiniano. Compare os mapas abaixo e observe essas variações: - -3 - -4 2 A questão iconoclasta Antecedentes Não é possível tratarmos da Questão Iconoclasta, ocorrida no Império Bizantino do século VIII, sem entendermos seus antecedentes, conhecermos alguns elementos de História da Arte e, sobretudo, dominarmos o significado do conceito ícone. A palavra ícone tem sua origem no grego eikon, termo que pode ser traduzido grosseiramente por imagem e que adquiriu expressividade na representação religiosa. Em outras palavras, ícone seria a imagem, a projeção que é feita de alguma situação ou de alguém. No que diz respeito à arte religiosa, temos referências de que os primeiros cristãos tinham o costume de adornar as catacumbas onde se reuniam nas fases de perseguição, com símbolos. Um dos símbolos mais utilizados era do peixe, que significava o reconhecimento dos seguidores de Jesus. 3 Os antigos cristãos utilizam símbolos Conheça agora os símbolos cristãos. A palavra peixe em grego significa ICHTHYS, cujas iniciais poderiam ser traduzidas como IESUS CHRISTUS THEOS YIOS SOTER (“Jesus Cristo, filho do Deus Salvador”). - -5 Temos ainda relatos da existência de algumas esculturas e estátuas retratando santos, anjos, ainda nos séculos II e III. Em termos de História da Arte, as cores dos ícones possuem significados especiais e não são meras escolhas aleatórias. Toda vez que era empregado o azul, a intenção era mostrar o transcendental, o imanente; o verde, a natureza, a criação de Deus; o branco mantém sua significância, a paz, a harmonia; o vermelho, a cor de maior humanidade, representa a concepção de martírio. Era muito comum também a utilização do dourado para destacar roupas, coroas e bordas. - -6 4 As primeiras basílicas Devemos destacar também que não houve, desde os primórdios, um consenso sobre a pertinência ou não dessas representações. No caso das primeiras basílicas, o ponto era se deviam decorá-las e como. Segundo o historiador da arte Gombrich: “Num ponto quase todos os primeiros cristãos estavam de acordo: não devia haver estátuas na Casa do Senhor. As estátuas pareciam-se demais com as imagens esculpidas de ídolos pagãos que a Bíblia condenava. Colocar uma figura de Deus, ou de um dos seus santos, no altar parecia estar inteiramente fora de questão. Pois, como iriam os míseros pagãos recém-convertidos à nova fé aprender a distinguir entre suas antigas crenças e a nova mensagem, se vissem tais estátuas nas igrejas?” (GOMBRICH, E.H. A História da Arte. Rio de Janeiro:LTC, 2008, p. 135) Em relação às pinturas, houve, inicialmente, uma tolerância maior dada à sua funcionalidade lembrada, sobretudo, pelo papa Gregório Magno no final do século VI. Ele: “(...) lembrou àqueles que eram contra qualquer pintura que muitos membros da Igreja não sabiam ler, nem escrever, e que para ensiná-los, essas imagens eram tão úteis quanto os desenhos de um livro ilustrado para crianças. Disse ele: A pintura pode fazer pelos analfabetos o que a escrita faz pelos que sabem ler.” 5 Ideias monofisistas Como vimos na aula três, em algumas áreas do Império Bizantino, avolumou-se o número de seguidores das ideias . Um de seus principais líderes, Severo de Antioquia, era visceralmente avesso a qualquermonofisistas representação de Cristo, de Maria ou dos santos e suas ideias foram seguidas por muitos indivíduos. Lembre-se que os acreditavam que a natureza de Cristo era una, ou seja, apenas espiritual; amonofisistas humana fora absorvida pela imaterial. Outro dado curioso sobre o nascimento e desenvolvimento da , ou seja, movimento contra a criaçãoIconoclastia e adoração de imagens sagradas, é sua localização geográfica. A foi muito mais intensa em regiõesIconoclastia fronteiriças com comunidades islâmicas. Por serem contrários a essa prática, conforme vimos na aula cinco, muitos imperadores bizantinos, em nome de uma boa convivência com os árabes, “fecharam os olhos” para o movimento. A Questão Iconoclasta Como observamos, a questão da (contrária à criação e adoração de imagens)Iconoclastia e da (favorável à criação e adoração de imagens) se arrastava há séculos noIconofilia Império Bizantino com revezes e vitórias para os dois lados. - -7 No século VIII, no entanto, a questão ganhou um novo e expressivo capítulo que passou a ser denominado Questão Iconoclasta. Já estudamos, no Império Bizantino, que o governante gozava de um poder bastante extenso, o Cesaropapismo. Na prática, o governante assumia o poder temporal e religioso ingerindo, inclusive, questões doutrinárias. No ano de 730, o imperador Leão III estabeleceu que não deveria ocorrer nas terras do Império qualquer tipo de adoração às imagens icônicas. Seguiu-se uma verdadeira caça aos iconófilos e seus símbolos, com a destruição de grande quantidade de ícones, pinturas, enfeites, sendo uma lamentável perda cultural. O imperador seguinte, Constantino V, após o Concílio de Hieria do ano de 754, oficializou a Iconoclastia. Todos os que se mantinham idolatrando as imagens foram perseguidos e punidos, particularmente os religiosos. 6 A opção da Igreja pela Iconoclastia Essa opção pela Iconoclastia foi totalmente unilateral, ou seja, os bispos ocidentais não participaram do Concílio e nem concordavam com a decisão. Mais uma vez a Igreja Ocidental e a Oriental discordavam sobre questões dogmáticas. Foi o ensejo para um pequeno Cisma, só amainado 23 anos depois quando a Imperatriz Irene aprovou o dogma da Iconofilia. É necessário salientar que outros Concílios e Imperadores posteriores voltaram atrás nessa decisão, afastando cada vez mais os lados ocidental e oriental da Igreja, a ponto de culminar no rompimento final, como veremos à frente. As “outras” causas da Questão Iconoclasta: - -8 “Muitos estudiosos entendem que a questão da adoração ou não de imagens transcendiam em muito a problemas meramente dogmáticos. Um dos motivos seria a preocupação com a grande ingerência da Igreja dentro do Império. Ela adquirira grandes propriedades. O número de mosteiros se ampliara, logo sua influência junto ao povo também. Além disso, a riqueza e a influência que os mosteiros amealharam eram cobiçadas pelos imperadores. Como grande parte desse patrimônio era oriunda da confecção e venda dos ícones, uma maneira de enfraquecê- la era proibir sua fabricação e circulação comercial, além de confiscar propriedades dos iconófilos. Outra teoria defendida refere-se a questões de ordem administrativa. Em algumas áreas do Império Bizantino, ou aindaem seus limites, existiam comunidades seguidoras do Islamismo e do Judaísmo, opostas à prática da adoração de imagens. Abolir tal dogma seria um caminho plausível para a convivência e até mesmo dominação desses povos. De qualquer forma, muito dessa tradição se perdeu, ganhando novo fôlego apenas no século XII quando o emprego de materiais mais sofisticados tornou-se regra. É dessa época e de períodos póstumos a maior parte dos elementos de que dispomos. 7 O Cisma do Oriente Surge a Igreja Católica Ortodoxa: O ano de 1054 foi marcante para a história da Igreja Católica. Esse foi o momento do rompimento definitivo entre o lado oriental e o lado ocidental. Surgiram a Igreja Católica Apostólica Romana e a Igreja Católica Ortodoxa. A divergência entre os dois lados da igreja: Essa data, na verdade, foi apenas o marco para um distanciamento gestado há séculos. Como vimos, em diversas situações, os dois lados da Igreja divergiram e chegaram a apartar- se, mas sempre recuando na separação. A importância desse período, no entanto, encontra-se no fato da volta, ainda que tentada, jamais ter ocorrido como outrora. A divergência entre as práticas religiosas: Desde a separação do Império Romano, no século IV, os dois lados começam a ganhar contornos muito particulares que, obviamente, se refletiram em sua prática religiosa. O lado oriental foi muito influenciado pela tradição helenística, enquanto o Ocidente, recebeu uma multiplicidade de elementos. Embora a Igreja Oriental guardasse respeito à autoridade de Roma como centro religioso, a política de seus imperadores acabava sendo paradoxal. Como harmonizar o respeito a Roma e o Cesaropapismo, ou seja, um imperador que ingeria na dogmática? Outro ponto de divergência foi a citada Questão Iconoclasta que jamais fora digerida na porção ocidental. - -9 8 A questão dogmática emerge Em 1043, uma nova questão dogmática emerge: dessa vez, sobre a natureza teológica do divino Espírito Santo. O patriarca da capital do Império Bizantino, Miguel Cerulário, bem como todos os membros da Igreja Bizantina, foi excomungado e, em retaliação, o patriarca excomungou o papa Leão IX e os membros do Ocidente. Algumas infrutíferas tentativas de reunificação persistem até os dias atuais. Só para se ter uma ideia, a revogação das mútuas excomunhões só ocorreu a partir da iniciativa do Papa Paulo VI e do Patriarca Atenágoras I, no ano de 1966. A Área de Atuação da Igreja Católica Conforme observado no mapa, a Igreja Católica perdeu grande parte de sua área de atuação. Na próxima aula continuaremos tratando do Império Bizantino. Abordando dessa vez, novos problemas religiosos, mas ligados ao expansionismo islâmico. O que vem na próxima aula • O Império Bizantino do final do século XI ao XIII; • Os conflitos que assolaram Bizâncio nesses séculos; • A Primeira Cruzada. CONCLUSÃO Nesta aula, você: • Compreendeu como o Império Bizantino se organizou após seu período de apogeu; • Aprendeu sobre as querelas militares que culminaram em perdas territoriais para o Império Bizantino; • Analisou as questões que culminaram no Cisma Oriental. • • • • • • - -10 • Analisou as questões que culminaram no Cisma Oriental.•
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