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Sentença penal APRESENTAÇÃO Os Estados nacionais atuais possuem um sistema penal e processual penal complexo que define as práticas delituosas e o direito do Estado de punir essas infrações penais. Disso decorre a pretensão punitiva do Estado, que é o seu poder de exigir a submissão daquele que cometeu um crime a uma sanção penal. A sanção penal é imposta por uma sentença penal. A sentença penal é o objetivo e o fim para o qual se dirige toda a instrução processual. É um ato de extrema relevância ao processo penal e se mostra como a principal prestação jurisdicional processual em todo o processo judicial, o que se evidencia por ser o ato processual que irá definir a condenação ou absolvição do acusado. Nesta Unidade de Aprendizagem, você aprenderá mais sobre a sentença penal, suas principais características, seus requisitos, elementos específicos e efeitos. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Listar os requisitos formais essenciais da sentença penal.• Relacionar fundamentos e efeitos da sentença absolutória.• Explicar o princípio da correlação e os institutos da emendatio libelli e da mutatio libelli.• DESAFIO O processo penal se inicia com a apresentação da denúncia ou da queixa na qual a acusação descreve o fato imputado ao réu, bem como apresenta a capitulação do fato. O acusado é, então, citado para apresentar a sua defesa sobre o que lhe foi imputado. Ao final da instrução, o juiz decidirá sobre a acusação imposta, levando em conta o que foi apresentado pela acusação e pela defesa. Sobre esse tema, imagine que você é juiz de um processo e deve proferir a sentença sobre o seguinte caso: Como juiz desse caso, qual deve ser a sua decisão? Justifique sua resposta. INFOGRÁFICO Na sentença penal o magistrado decidirá sobre a absolvição ou condenação do acusado, quando todos os requisitos extrínsecos e intrínsecos da decisão deverão ser observados. Ambas as hipóteses trarão consequências jurídicas totalmente distintas. Os efeitos de ambas as decisões são variados e se dividem em primários ou principais e secundários ou reflexos. Veja, neste Infográfico, os principais efeitos das sentenças absolutórias e condenatórias. CONTEÚDO DO LIVRO O tema da sentença penal é de extrema relevância ao estudo do processo penal. Uma sentença que não cumpra os seus requisitos legais poderá ser declarada nula de pleno direito, não podendo materializar os seus efeitos. Além disso, o fato de a sentença penal ser de natureza absolutória ou condenatória irá modificar completamente os seus efeitos seja em relação ao acusado, à suposta vítima e a terceiros. Assim, é necessário reconhecer os principais requisitos da sentença penal e o que a diferencia dos demais atos judiciais. No capítulo Sentença penal, da obra Direito processual penal: procedimentos e recursos, base teórica desta Unidade de Aprendizagem, você conhecerá o conceito de sentença penal e seus requisitos essenciais. Além disso, vai aprender sobre os detalhes da sentença penal absolutória e condenatória, seus efeitos e requisitos. Boa leitura. DIREITO PROCESSUAL PENAL: PROCEDIMENTOS E RECURSOS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM > Listar os requisitos formais essenciais da sentença penal. > Relacionar fundamentos e efeitos da sentença absolutória. > Explicar o princípio da correlação e os institutos da emendatio libelli e da mutatio libelli. Introdução O devido processo legal, o respeito ao contraditório e à ampla defesa têm por finalidade garantir a legitimidade final da tutela jurisdicional penal, que deverá decidir sobre a condenação ou absolvição do acusado, ou, ainda, sobre a extin- ção do processo em razão do reconhecimento de alguma circunstância legal. Para a compreensão do processo penal, é necessário reconhecer o conceito e a natureza dessas decisões. Entre os atos judiciais, a sentença penal é um dos mais relevantes, visto que analisa efetivamente o mérito de uma imputação penal. Neste capítulo, você irá estudar a sentença penal, sua diferença em relação a outros atos judi- ciais, além de seus requisitos e principais efeitos, em caso de ser de natureza absolutória ou condenatória. Conceito e requisitos da sentença penal A legislação processual penal não faz uma classificação específica dos atos judiciais, como ocorre em relação ao processo civil, conforme explica Lima (2020). Por esse motivo, a doutrina pode classificar os atos processuais de diversos modos. Porém, apesar dessa falta de consenso definitivo, existe uma Sentença penal Gabriel Bonesi Ferreira classificação mais ou menos consensual. A diferenciação dos atos proces- suais é necessária para se alcançar o conceito definitivo de sentença penal. Os atos processuais que não são sentença são costumeiramente divididos entre despacho de mero expediente, decisões interlocutórias (simples e mistas) e decisões definitivas (LIMA, 2020; NUCCI, 2020). Os despachos de mero expediente são atos ordenatórios, atos de mero impulso processual para o andamento do processo. Eles não têm conteúdo decisório, não causam qualquer prejuízo para a defesa ou para a acusação (LOPES JÚNIOR, 2020). Como explica Lima (2020), o art. 93, XIV da Constituição Federal (CF) permite que seja delegada a servidores do Poder Judiciário a prática de atos de administração e de expediente do processo; desse modo, alguns atos que seriam decisões de mero expediente podem até mesmo ser delegados a servidores. Trata-se de atos de designação de audiência, intimação de vista sobre documento juntado pela outra parte durante a ins- trução, determinação de juntada de documento, etc. Revestem-se da forma “intime-se”, “dê-se vista”, “vista às partes” e formas similares. As decisões interlocutórias simples têm um mínimo de caráter decisório e resolvem questões processuais controvertidas no processo, não gerando a sua extinção. Em regra, não são decisões recorríveis, salvo expressa previsão legal. Seu conteúdo pode ser impugnado por ações impugnativas, como habeas corpus e mandado de segurança. Caso as decisões sejam irrecorríveis, o conteúdo dessas decisões poderá ser impugnado em eventual apelação como matéria preliminar, ressaltando que, quando se tratar de nulidade relativa, deve ser oportunamente arguida, conforme o art. 571 do Código de Processo Penal (CPP) (LIMA, 2020). São exemplos de decisão interlocutória simples a decisão que recebe a denúncia ou queixa, a decisão que decreta prisão temporária, aquela que reconhece litispendência ou ilegitimidade de partes, entre outras. As decisões interlocutórias mistas têm força definitiva e de cunho decisó- rio. São as decisões que encerram o processo sem julgamento do mérito ou encerram uma fase do procedimento, por isso, como regra, não produzem coisa julgada material. É possível uma subdivisão entre as decisões interlocutórias mistas que são terminativas e não terminativas. Sentença penal2 As decisões terminativas extinguem o processo sem julgamento do mérito ou resolvem um procedimento incidental de maneira definitiva (LIMA, 2020). Por exemplo, a decisão que rejeita a peça acusatória, a impronúncia, a que determina o cancelamento de sequestro, a de procedência de exceção de coisa julgada e a litispendência, entre outras (LIMA, 2020). As decisões não terminativas são as que encerram uma etapa do procedimento em que há análise do mérito, mas que não causa a extinção do processo, a exemplo da pronúncia. Em regra, essas decisões são atacáveis pelo recurso em sentido estrito se constantes no rol do art. 581 do CPP (BRASIL, 1941); caso contrário, a apelação será o recurso adequado (art. 593, II, CPP, BRASIL, 1941). As decisões definitivas julgam o mérito em sentido lato. São decisões que reconhecem alguma causa extintiva da punibilidade, a exemplo do perdão judicial ou da prescrição. As decisões definitivas colocam fim ao processo sem avaliar a procedência ou improcedência da imputação criminal,avaliando somente a pretensão punitiva do Estado, ao contrário das decisões interlo- cutórias mistas terminativas, que não avaliam a pretensão punitiva. Lopes Júnior (2020) enquadra tais decisões como sentenças. A sentença pode ser definida como “[...] ato jurisdicional que põe fim ao processo, pronunciando-se sobre os fatos que integram seu objeto sobre a participação do imputado neles, impondo-se uma pena ou absolvendo-o, como manifestação do poder jurisdicional atribuído ao Estado” (LOPES JÚNIOR, 2020, p. 1398). A sentença é o provimento jurisdicional que se busca com o processo penal, é a decisão que julga o mérito principal absolvendo ou condenando o acusado. Em sentido estrito, a sentença designa a decisão final de primeiro gral, do juízo singular. Em sentido amplo, designa também os acórdãos, que são decisões proferidas pelos Tribunais, desde que analisem o mérito. Com exceção dos despachos de mero expediente, todas as demais decisões devem ser fundamentadas, sob pena de nulidade. Lopes Júnior (2020) chama a atenção para o fato de que não é raro que as decisões interlocutórias que restringem direitos e garantias fundamentais falhem nesse quesito, por meio da imposição de medidas táticas gravíssimas com uma “pífia” fundamentação. A fundamentação é um dos requisitos essenciais das decisões que, de algum modo, envolvam algum gravame às partes. No caso da sentença, o art. 381 do CPP (BRASIL, 1941, documento on-line) estabelece seus requisitos formais, que são os seguintes: Sentença penal 3 Art. 381. A sentença conterá: I – os nomes das partes ou, quando não possível, as indicações necessárias para identificá-las; II – a exposição sucinta da acusação e da defesa; III – a indicação dos motivos de fato e de direito em que se fundar a decisão; IV – a indicação dos artigos de lei aplicados; V – o dispositivo; VI – a data e a assinatura do juiz. A doutrina divide esses pressupostos em três elementos intrínsecos — o relatório, a fundamentação e o dispositivo — e um elemento extrínseco, relacionado à autenticação da decisão (LIMA, 2020). Nesses elementos da decisão estão incluídos os requisitos formais descritos no art. 381 do CPP, que serão analisados a seguir. Relatório O relatório é o resumo processual até a sentença. Apesar de o CPP não ex- pressar esta imposição, no cabeçalho da sentença, costuma constar o nome do órgão que profere a decisão, a identificação de autor e réu, e o número do processo, com a finalidade da identificação específica da decisão juntada aos autos com o processo. No relatório deve constar a identificação das partes ou, quando não for possível, as indicações necessárias para a sua identificação. No relatório deve constar um breve resumo do processo com a exposição sucinta da acusação e da defesa e dos principais atos praticados durante a instrução processual. Trata-se de um resumo geral e objetivo do que ocorreu no processo. Como expõe Lima (2020, p. 1610): [...] costuma-se dizer que o objetivo do relatório é demonstrar que o juiz teve pleno contato com a demanda que está prestes a julgar, já que sua elaboração obriga o juiz a tomar conhecimento integral do processo, das provas produzidas, das alegações das partes, dos incidentes verificados, etc. A identificação das partes é requisito essencial. Como se vê, caso não seja possível qualificar o acusado, a sentença deve fazer as indicações de seus traços e características, que permitam diferenciá-lo das demais pessoas. É importante constar o nome da vítima para fixação de possíveis efeitos dela, por exemplo, relacionados a indenizações decorrentes do delito. Não se exige a qualificação completa da vítima desde que a decisão faça remissão ou alusão à denúncia onde consta sua qualificação completa. Sentença penal4 Fundamentação A fundamentação é o elemento central da sentença. Nessa parte o juiz deve analisar todas as teses acusatórias e defensivas, devendo demonstrar os motivos que o levaram a tomar uma ou outra decisão. É necessário observar que a jurisprudência e a doutrina se posicionam pela necessidade de que todas as teses defensivas sejam analisadas pela sentença, inclusive aquelas ventiladas em sede de alegações finais, sob pena de nulidade. Quando a sentença não analisa todo o pedido e fundamentação da petição inicial ou os fundamentos da defesa do réu é considerada citra petita, passível de anulação. A partir da jurisprudência nacional, é possível observar que existe, de fato, a necessidade de a sentença condenatória analisar todas as teses defensivas. Entretanto a jurisprudência também se posiciona no sentido de que os Magistrados singulares ou as Cortes Superiores não precisam enfrentar especificamente todas as teses, bastando que demonstrem os fundamentos e motivos que levaram às razões de decidir, ou seja, as teses podem ser tratadas de maneira sucinta, direta ou indiretamente, não sendo necessária a menção a cada uma delas (LIMA, 2020). Com isso, a verificação de se, de fato, houve o enfrentamento das teses defensivas acaba caindo em um juízo muito subjetivo de análise, cabendo interpretações diversas. Os argumentos apresentados na fundamentação devem seguir uma ca- dência lógico-argumentativa que permite verificar o rigor argumentativo. É necessário que a fundamentação apresente os motivos de fato e de direito que fundamentam a decisão. Lopes Júnior (2020) escreve então sobre duas dimensões da sentença: uma fática e outra jurídica. A fática se refere à valo- ração da prova e fatos o sistema nacional admite a o convencimento racional do juiz, tendo ampla liberdade para a valoração das provas constantes nos autos (LIMA, 2020). A livre apreciação da prova não significa discricionariedade ilimitada — as provas devem estar encartadas no processo, ser admitidas em lei e passar por um juízo de credibilidade, não sendo admitidas as provas ilícitas ou ilegítimas (LIMA, 2020). As decisões devem conter também as teses jurídicas adotadas, que devem enfrentar e ser debatidas a partir das teses jurídicas das partes. Não se pode admitir menção ou indicação de artigos de lei sem se valer dos fundamentos que enquadram os atos aos dispositivos invocados. No final, se a sentença Sentença penal 5 for condenatória, o juiz deve se manifestar também sobre a responsabilidade civil do réu e fixar os valores mínimos para a reparação do dano causado. A falta de fundamentação ou a carência de fundamentação sobre fatos, provas e argumentos jurídicos relevantes importa em nulidade grave da sentença. O principal remédio processual para atacá-la é a apelação, que não impede também a impetração de habeas corpus, caso haja risco à liberdade de locomoção (LIMA, 2020). Dispositivo A parte dispositiva da sentença é a sua conclusão, com base na fundamentação apresentada. Em caso de sentença absolutória, é necessária a indicação de um dos fundamentos do art. 386 do CPP. Em caso de condenação, o juiz deve indicar o dispositivo legal em que se enquadra a tipicidade da conduta e ainda realizar a dosimetria da pena, com base no que estabelecem os arts. 59 e 68 do Código de Processo Civil (CPC) e o art. 387 o CPP (LOPES JÚNIOR, 2020). Autenticação Por fim, o último requisito legal é o extrínseco: a indicação da data e assinatura (art. 381, VI do CPP). Se a sentença for digitada, é necessária a rubrica em todas as páginas pelo juiz (art. 388, CPP) (LIMA, 2020). Na prática, com a expansão do processo eletrônico, as decisões acabam sendo assinadas eletronicamente, já com a inclusão da data respectiva. Sentença absolutória: fundamentos e efeitos A sentença penal absolutória exige a vinculação de improcedência a uma das hipóteses do art. 386 do CPP. O enquadramento em uma dessas hipóteses irá gerar efeitos distintos, inclusive, em relação a uma possível ação de re- paração cível. As hipóteses do dispositivo citado são as seguintes (BRASIL, 1941, documento on-line): Art. 386. O juiz absolverá o réu, mencionando a causa na parte dispositiva,desde que reconheça: I – estar provada a inexistência do fato; II – não haver prova da existência do fato; III – não constituir o fato infração penal; IV – estar provado que o réu não concorreu para a infração penal; Sentença penal6 V – não existir prova de ter o réu concorrido para a infração penal; VI – existirem circunstâncias que excluam o crime ou isentem o réu de pena (arts. 20, 21, 22, 23, 26 e § 1º do art. 28, todos do Código Penal), ou mesmo se houver fundada dúvida sobre sua existência; VII – não existir prova suficiente para a condenação. Vejamos em mais detalhes cada uma dessas hipóteses. I – estar provada a inexistência do fato. Conforme explica Nucci (2020), essa é uma das hipóteses mais seguras de absolvição, uma vez que se fundamenta na prova que demonstra que o fato imputado na denúncia ou queixa não ocorreu. Não se trata da falta de provas, mas da prova de que o fato imputado ao acusado sequer ocorreu. Uma das consequências dessa modalidade de absolvição é que faz coisa julgada cível, impossibilitando a apresentação de eventual ação cível de reparação, consoante do que estabelece o art. 935 do Código Civil (CC) (BRASIL, 2002; AVENA, 2018). II – não haver prova da existência do fato. Ao contrário da primeira hipótese, nesse caso, não existe prova suficiente da existência do fato delituoso, isto é, não foi comprovada a materialidade ou a existência do fato imputado. Quando configurada essa hipótese, força tanto do art. 935 do CC (BRASIL, 2002) quanto do art. 66 do CPP (BRASIL, 1941), não há óbice ao ajuizamento e prosseguimento de eventual ação de reparação cível. Essa hipótese se fundamenta no princípio do in dubio pro reo — não se decide sobre a inexistência do fato, mas apenas sobre a inexistência de provas. Por esse motivo, fica assegurada ao ofendido a reparação cível, com a ampla possibilidade de prova naquele juízo. III – não constituir o fato uma infração penal. Significa que houve o reconheci- mento da materialidade e existência do fato, mas se reconhece a atipicidade da conduta imputada ao agente. Sobre a possibilidade de reparação cível, Avena (2018) entende que, em regra, o fato poderá ser normalmente discutido no juízo cível, porém, em caso de a absolvição ocorrer em imputação de crime culposo, a absolvição criminal irá refletir na esfera cível, pois as causas de atipicidade criminal são as mesmas de atipicidade cível. A possibilidade de discussão nesses casos importaria em possível contradição entre os julgados da esfera cível e criminal. Lima (2020) apresenta como uma dessas hipóteses a absolvição baseada no princípio da insignificância (ofensividade mínima da conduta, ausência de periculosidade do agente, reduzido grau de reprovabi- lidade, lesão jurídica inexpressível). IV – estar provado que o réu não concorreu para a infração penal. É uma absolvição tão segura quanto a da hipótese do inciso I, pois trata-se da com- Sentença penal 7 provação e certeza de que o acusado não concorreu com a prática delituosa, seja na condição de autor, seja de coautor ou partícipe (LIMA, 2020). Desse modo, fica afastada, tal qual na hipótese do inciso I, de reparação cível, pois há um juízo de certeza da inexistência de participação do acusado. Pode ocorrer, por exemplo, quando se constata a efetiva ocorrência de um delito, mas se verifica que a sua autoria foi de outro autor. V – não existir prova de ter o réu concorrido para a infração penal. Trata-se de hipótese em que há dúvida razoável sobre a autoria, coautoria ou participação do acusado na prática delituosa. Nessa hipótese pode estar comprovada a materialidade do crime, mas não há provas de que foi o acusado que o cometeu. Essa absolvição não reflete na esfera cível. VI – existirem circunstâncias que excluam o crime ou isentem o réu de pena (arts. 20, 21, 22, 23, 26 e § 1º do art. 28, todos do Código Penal), ou mesmo se houver fundada dúvida sobre sua existência. Essa hipótese faz remissão às causas excludentes de ilicitude ou culpabilidade. Conforme explica Avena (2018), trata-se de três hipóteses distintas; veja a seguir. 1. Absolvição por causas excludentes de ilicitude do art. 23 do Código Penal (CP), sendo elas a legítima defensa, o estado de necessidade, o estrito cumprimento do dever legal e o exercício regular de um direito. 2. Causas que isentem o réu de pena; tratam-se das descriminantes puta- tivas (art. 21, § 1º), das excludentes de culpabilidade (erro de proibição inevitável, art. 21, CP; coação moral irresistível ou obediência à ordem hierárquica que não seja manifestamente ilegal; art. 22, CP; inimputa- bilidade por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado; embriaguez fortuita completa, art. 28, § 1º, CP). 3. Fundada dúvida das circunstâncias que excluem o crime ou de causas que isentam o réu de pena. A primeira hipótese produz coisa julgada cível apenas contra quem ocorreu o ato, mas não contra terceiros. Na segunda, não há quaisquer reflexos na esfera cível, a não ser “[...] quando a falsa percepção da realidade em que incorreu o agente não tiver decorrido de sua negligência na apreciação dos fatos” (AVENA, 2018, p. 1301). A última hipótese não produz efeitos cíveis. VII – não existir prova suficiente para a condenação. Trata-se de mais uma hipótese que consagra o princípio do in dubio pro reo, e é mais comum de absolvição (LIMA, 2020). Para a condenação, exige-se a certeza do juízo sobre o crime, sobre sua materialidade e autoria. Caso persista dúvida razoável, Sentença penal8 a medida que se impõe é a absolvição do acusado. Essa absolvição não impede a reparação civil, a ser discutida na seara competente. Como já se adiantou em relação a alguns aspectos relativos à propositura de ação cível, é possível verificar que a sentença absolutória tem efeitos relevantes, que irão depender do conteúdo e da forma da absolvição. Esses efeitos são divididos pela doutrina em efeitos principais e efeitos secundários. Vejamos: � Efeitos principais ■ Sentença absolutória própria: aquela que decorre na absolvição do acusado e da qual não decorre a imposição de medida de segurança. Nesse caso, o principal efeito é colocar o acusado em liberdade se ele estiver preso cautelarmente, independentemente do trânsito em julgado da decisão, da natureza do crime ou de antecedentes do agente (LIMA, 2020). Também importa na imediata cessação de outras medidas cautelares, como restrição e bens (NUCCI, 2020); nesses casos, mesmo que apresentado recurso de apelação, ele não será dotado de efeitos suspensivos. ■ Sentença absolutória imprópria: casos que resultam da aplicação de medida de segurança. Nesse caso há duas hipóteses: – Se o acusado foi submetido a medida cautelar de internação provisória (art. 319, VII do CPP) e se encontra internado no mo- mento da sentença: o internamento será mantido até que ocorra o trânsito em julgado da decisão absolutória e se inicie a execução da medida de segurança, mas, se for constatada a cessação da periculosidade, é possível a revogação da medida, para que o acusado aguarde em liberdade o trânsito em julgado da decisão, para então se executar a medida de segurança (LIMA, 2020). – Se o acusado tiver permanecido em liberdade durante o curso do processo: não se vislumbrou a necessidade da internação provi- sória, por isso deve permanecer em liberdade até o trânsito em julgado da decisão que impôs a medida de segurança, ressalvada a possibilidade de internação provisória prevista no art. 319, VII do CPP, se as circunstâncias exigirem e forem preenchidos os requisitos para tanto (AVENA, 2018). � Efeitos secundários ■ Restituição integral da fiança: na dicção do art. 337, ao passar em julgado a sentença que absolver o acusado, o valor que a constituir será atualizado e restituído integralmente. Sentença penal 9 ■ Impossibilidade de novo processo com a mesma imputação: con- sagração do princípio do ne bis in idem, que proíbe que qualquer pessoa seja novamenteprocessada pela mesma imputação após a sua absolvição, mesmo que esta seja proferida por juízo absoluta- mente incompetente ou mesmo que surjam novas provas cabais do fato delituosos (LIMA, 2020). ■ Levantamento do sequestro (art. 133, III do CPP): com a absolvição do acusado em sentença transitada em julgada, deve ocorrer o levantamento do sequestro dos bens que, supostamente, haviam sido adquiridos com o produto da infração penal (LIMA, 2020). ■ Levantamento do arresto ou cancelamento da hipoteca (art. 141, CPP): após o trânsito em julgado da sentença que absolve acusado ou julga extinta a sua punibilidade, deve ser determinado o levantamento do arresto ou o cancelamento da hipoteca. ■ Retirada da identificação fotográfica dos autos do processo: outro efeito apresentado por Lima (2020) decorre do que estabelece o art. 7º da Lei nº 12.037, de 1º de outubro de 2009 (BRASIL, 2009), que estabelece a faculdade do réu ou indiciado de querer a retirada de sua identificação fotográfica do inquérito ou do processo, desde que apresente as provas de sua identificação civil. Esse pedido é cabível quando não houver o oferecimento da denúncia, quando ela for rejeitada ou em caso de absolvição do acusado. A retirada não é automática, depende de pedido do interessado, conforme a dicção legal. ■ Impedimento de propositura de ação cível de indenização (AVENA, 2018): Trata-se de um dos efeitos mais importantes da absolvição, e irá depender das causas de absolvição, como apontado ante- riormente. A primeira hipótese é prevista no art. 65 do CPP, que estabelece que “[...] faz coisa julgada no cível a sentença penal que reconhecer ter sido o ato praticado em estado de necessidade, em legítima defesa, em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito” (BRASIL, 1941, documento on-line). Desse modo, quando a absolvição decorrer de excludente de ilicitude, impedirá a proposição de ação de indenização cível. A outra hipótese decorre do art. 935 do CC, que estabelece que “[...] a responsabilidade civil é independente da criminal, não se podendo questionar mais sobre a existência do fato, ou sobre quem seja o seu autor, quando estas questões se acharem decididas no juízo criminal” (BRASIL, 2002, documento Sentença penal10 on-line). Como adiantado anteriormente, trata-se das hipóteses em que se comprovar no processo penal a inexistência do fato ou que o acusado não concorreu para a prática da infração penal que fundamenta o pedido inde- nizatório. Em ambos os casos, não significa que a ação de reparação civil não possa ser proposta, pois não se limita o direito de ação, mas, se ela for apresentada, será extinta. Muitas vezes, a reparação cível depende de fatos que devem ser apurados na esfera criminal. Nesses casos, a partir do que dispõe o art. 200 do CC, a prescrição da ação cível fica suspensa até a sentença criminal definitiva, isto é, até o trânsito em julgado da decisão criminal. Sentença condenatória Para o estudo da sentença penal condenatória, é importante partirmos do preciso conceito de Lima (2020, p. 1620): [a sentença penal condenatória] é a decisão judicial que atesta a responsabilidade criminal do acusado em virtude do reconhecimento categórico da prática da con- duta típica, ilícita e culpável a ele imputada na peça acusatória (ou aditamento), impondo-lhe, em consequência, uma pena privativa de liberdade, restritiva de direitos ou multa. A sentença condenatória é o oposto da absolutória; trata-se da responsa- bilização do acusado em razão do reconhecimento acima da dúvida razoável pela prática de uma conduta típica, ilícita e imputável. Com a prolação da sentença condenatória, o juiz deve realizar a fixação da pena de acordo com diversas circunstâncias judiciais previstas no CP. Nesse momento também fixa o regime penitenciário, considerando a detração se o condenado já houver cumprido ou estiver cumprindo pena privativa de liberdade. Verificadas, ainda, as possibilidades legais, a pena privativa de liberdade será substituída pela restritiva de direitos. Isto posto, é necessário analisar alguns efeitos da sentença penal con- denatória. Conforme apresentado por Lima (2020), são efeitos primários os seguintes: Sentença penal 11 � Cumprimento da pena: não se admite o cumprimento antecipado da pena, o seu cumprimento somente ocorre com o trânsito em julgado da sentença penal condenatória, conforme estabelece o art. 5º, LVII da CF, ratificado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no julgamento em Ações Declaratórias de Constitucionalidade (ADCs 43, 44 e 54), ao assentar a constitucionalidade do art. 283 do CPP. � Inclusão do acusado no rol dos culpados: é o registro do nome do condenado e sua qualificação com referência ao processo em que foi proferida a decisão condenatório no livro do cartório destinado a esse fim. Essa inclusão somente deve ocorrer também com trânsito em julgado da sentença condenatória. São apontados, ainda, por Avena (2018) e Lima (2020) alguns outros efeitos secundários ou reflexos, a saber: � Indução à reincidência: se o condenado voltar a praticar o mesmo crime, será considerado reincidente, circunstância agravante na fixação da pena de novo delito. � Possível regressão de regime: poderá ocorrer a regressão do regime se o condenado já cumpre pena por outro crime. � Revogação do sursis: o benefício será obrigatoriamente revogado se o beneficiário foi condenado em sentença irrecorrível (art. 81, I do CP). � Revogação do livramento condicional: o livramento condicional é revogado se o indivíduo vier a ser condenado por pena privativa de liberdade. A doutrina se refere, ainda, a outros efeitos extrapenais previstos no art. 91 do CP, a exemplo da obrigação de reparar o dano, e também a outros efeitos específicos, a depender do crime praticado, como o confisco alargado dos bens, introduzido no CP pela Lei nº. 13.964, de 24 de dezembro de 2019 (Pacote Anticrime), perda de cargo público, entre outros. Dentro da sentença penal condenatória, um tema essencial é o do princípio da correlação ou congruência da sentença penal. Como afirma Lopes Júnior (2020), o objeto do processo penal é a pretensão acusatória, em que o seu titular é acusador (público ou privado), a quem competente a invocação da acusação, e o Estado é o titular soberano do direito de punir. Nessa estru- tura, devem ser respeitados os princípios constitucionais do contraditório, da ampla defesa e o princípio da correlação que vinculará o processo penal. Sentença penal12 Sobre o princípio da correlação, Lima (2020) explica que a sentença deve estar em consonância com o fato delituoso descrito na denúncia ou queixa, sendo vedado o julgamento extra petita e/ou ultra petita, sob pena de afronta ao princípio do contraditório, da ampla defesa e do próprio sistema acusatório. O princípio da correlação no processo penal é distinto daquele do âmbito processual civil. No processo civil a decisão deve estar de acordo com o pedido formulado pela parte, enquanto no processo penal o que interessa é a causa petendi da acusação e a sua correlação com a sentença, isto é, da imputação de determinada conduta delituosa, de um fato, comissivo ou omissivo, que pode ser penalmente tipificado (LIMA, 2020). Por isso, o pedido da acusação é genérico. O que está no fundo do princípio da correlação é a obrigatoriedade da inércia judicial, do respeito ao contraditório. Tradicionalmente, diz-se que a correlação opera no binômio questão de fato e questão de direito, de tal modo que o juízo estaria atrelado à questão de fato da acusação e não à questão de direito. Porém, como aponta Lopes Júnior (2020, p. 1407), “[...] essa lógica binária de questão de fato–questão de direito, na complexidade contempo- rânea, não é nada clara, ou seja, as questões se misturam e coexistem, não se excluem, sendo reducionismo operar-se na lógica binária. A distinção é tênue, senão inexistente”. No tema sobre o princípio da correlação,existem dois institutos essenciais: da emendatio libelli (art. 383 do CPP) e da mutatio libelli (384 do CPP). Emendatio libelli O art. 383 do CPP dispõe o seguinte: “[...] o juiz, sem modificar a descrição do fato contida na denúncia ou queixa, poderá atribuir-lhe definição jurídica diversa, ainda que, em consequência, tenha de aplicar pena mais grave” (BRASIL, 1941, documento on-line). Assim, trata-se da possibilidade de o juiz atribuir definição jurídica diversa a um mesmo fato descrito na denúncia ou queixa, ainda que tenha que aplicar uma pena mais grave. Nesse caso a base fática da imputação criminal permanece a mesma, o que se altera é a definição jurídica ou a correção da tipificação. Lima (2020) destaca três formas de emendatio libelli, listadas a seguir. � Por efeito de capitulação: quando a sentença condenatória ou decisão de pronúncia se dá em perfeita conformidade com os fatos relatados na peça acusatória, mas com o reconhecimento de capitulação ou classificação do fato distinta da definida na inicial. Sentença penal 13 � Por interpretação diferente: trata-se do reconhecimento do fato apre- sentado na acusação, mas o juiz o interpreta de modo diverso quanto à tipificação do fato delituoso. � Por supressão de elementar e/ou circunstância: nesses casos o juiz atribui nova capitulação ao fato imputado em razão da instrução proba- tória, que demonstra a ausência de elementar ou circunstância descrita na peça acusatória. Existe a alteração fática, mas ela não acrescenta elementos, e sim subtrai elementares ou circunstâncias de fato que exigem a modificação da capitulação do crime. Existe o entendimento majoritário de que a emendatio libelli somente é cabível na sentença, bem como de que não há necessidade de vistas às partes para se manifestarem sobre a nova classificação do fato delituoso. Porém, apesar da legislação efetivamente não exigir a prévia manifestação das partes, grande parte da doutrina vem defendendo a necessidade de manifestação das partes quando se altera a capitulação atribuída ao fato delituoso, como é o caso de Lima (2020), Lopes Júnior (2020) e Badaró (2001 apud LOPES JÚNIOR, 2020). Para além da simples diferenciação entre questões de fato e questões de direito, é necessário reconhecer que elas estão interligas umas às outras. Existem alterações processuais relevantes em que o aditamento da peça acusatória pode ser imprescindível, como defende Lopes Júnior (2020). Apesar de haver muitas discussões sobre a aplicação do instituto da emendatio libelli, é central reconhecer que ela se destina à mudança da tipificação, e não do fato imputável, mas por respeito aos princípios constitucionais do contraditório e da ampla defesa é sempre necessário observar o “alcance” ou a “profundidade” que essas alterações podem provocar. Mutatio libelli A mutatio libelli é uma situação completamente distinta e está prevista no art. 384 do CP. Trata-se da hipótese em que, durante a instrução processual, surge uma prova elementar ou de circunstância que não está descrita na imputação da acusação, modificando a base fática acusatória a ponto de exigir o seu aditamento (LIMA, 2020). Assim não se trata de mera modificação da tipificação legal, mas dos fatos imputados. Nesses casos, a lei impõe a Sentença penal14 necessidade de aditamento da peça de acusação e a renovação da instrução processual, com novo interrogatório do acusado e possibilidade de inquirição de testemunhas, produção de outras provas e realização de debates. Assim, se encerrada a instrução processual e constatada nova definição jurídica do fato em decorrência de prova existente nos autos ou circunstância da infração penal não condita da acusa, o Ministério Público deve aditar a denúncia ou queixa no prazo de cinco dias. Se, em virtude dessa nova circuns- tância, tiver sido instaurado o processo em crime de ação pública, reduz-se a termo o aditamento, quando feito oralmente. As provas que ensejam o procedimento da mutatio libelli é a prova de elementar ou circunstância da infração penal que não consta na acusação. Elementares são os dados básicos ou os componentes objetivos e subjetivos do tipo penal que podem levar à atipicidade absoluta — reconhece a atipici- dade da conduta — ou à atipicidade relativa (desclassificação) (LIMA, 2020). No exemplo, também dado por Lima (2020), é quando ocorre a acusação por um crime de furto simples, mas, durante a instrução processual, verifica-se o emprego de violência, caso em que o elementar do crime de roubo (grave ameaça ou violência) não constou na peça acusatória. Circunstâncias são componentes do tipo básico, são dados derivados do tipo básico capazes de aumentar ou diminuir a pena, mas que não modificam a tipologia básica da conduta (LIMA, 2020), nas quais se incluem as qualifica- doras, as causas de aumento ou diminuição de pena, etc. Na ótica do crime de roubo (art. 157, CP), durante a instrução processual, pode acabar ocorrendo prova do uso de arma branca (art. 157, § 2º, VII, CP), ou de arma de fogo (art. 157, § 2º-A, I, CP), que são circunstâncias fáticas relevantes que levam a nova definição jurídica do fato e à modificação do próprio fato reconhecido a partir da instrução probatória. Referências AVENA, N. Manual de processo penal. 10. ed. São Paulo: Método, 2018. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília: Presidência da República, 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ constituicao.htm. Acesso em: 31 out. 2020. BRASIL. Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Código Penal. Brasília: Pre- sidência da República, 1940. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ decreto-lei/del2848compilado.htm. Acesso em: 31 out. 2020. BRASIL. Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941. Código de Processo Penal. Brasília: Presidência da República, 1941. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ decreto-lei/del3689.htm. Acesso em: 31 out. 2020. Sentença penal 15 BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Brasília: Presidência da República, 2002. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/ l10406.htm. Acesso em: 31 out. 2020. BRASIL. Lei nº 12.037, de 1º de outubro de 2009. Dispõe sobre a identificação criminal do civilmente identificado, regulamentando o art. 5º, inciso LVIII, da Constituição Federal. Brasília: Presidência da República, 2009. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/_Ato2007-2010/2009/Lei/L12037.htm. Acesso em: 31 out. 2020. BRASIL. Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Brasília: Presidên- cia da República, 2015. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015- 2018/2015/lei/l13105.htm. Acesso em: 31 out. 2020. LIMA, R. B. de. Manual de processo penal. 8. ed. Salvador: Juspodvim, 2020. LOPES JÚNIOR, A. Direito processual penal. 17. ed. São Paulo: Saraiva, 2020. NUCCI, G. de S. Curso de direito processual penal. 17. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2020. Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu funcionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os edito- res declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. Sentença penal16 DICA DO PROFESSOR A sentença penal é o provimento jurisdicional dado após encerrada a instrução processual, demarcando o fim de um processo. O Código de Processo Penal (CPP) impõe diversos requisitos legais que devem estar presentes em toda sentença para a sua validade. Nesta Dica do Professor, você vai aprender mais sobre os requisitos legais da sentença penal, previstos no art. 381 do CPP. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! EXERCÍCIOS 1) A sentença é um dos atos processuais praticadospelos juízes em um processo penal. É necessário reconhecer a diferença e o objeto de cada um desses atos, uma vez que implicam a recorribilidade ou não e a produção de efeitos fáticos. Sobre esse tema, analise as assertivas a seguir e assinale a alternativa correta. A) Os atos de impulso processual ocorrem por meio dos despachos de mero expediente, não sendo possível a delegação desse impulso a outros servidores. B) As decisões interlocutórias simples são recorríveis por recurso em sentido estrito. C) As decisões interlocutorias simples não possuem conteúdo decisório, por isso não são recorríveis ou impugnáveis de imediato. D) As decisões definitivas colocam fim ao processo avaliando a pretensão punitiva do Estado. E) As decisões interlocutórias mistas possuem cunho decisório, mas diferentemente da senteça, não são terminativas. 2) Com exceção dos despachos de mero expediente, todas as decisões judiciais devem ser fundamentadas. No caso da sentença penal, existem também vários requisitos legais que devem ser observados, sob pena de nulidade. A classificação doutrinária dos elementos inclui os requisitos formais legais. Sobre os requisitos da sentença definidos em lei e na doutrina, associe as duas colunas: 1. Relatório. 2. Fundamentação. 3. Dispositivo. 4. Autenticação. ( ) Na sentença absolutória é necessária a indicação de um dos fundamentos do art. 386 do CPP, em caso de condenação o juiz deve indicar em que se enquadra a tipicidade da conduta. ( ) O juiz analisa todas as teses acusatórias e defensivas, devendo demonstrar os motivos que o levaram a tomar uma ou outra decisão. ( ) Apresentação de um breve resumo do processo com a exposição sucinta da acusação e da defesa e dos principais atos praticados durante a instrução processual. ( ) Local em que constam a data e a assinatura do juiz que proferiu a decisão. Marque a alternativa que contenha a sequência correta. A) 1, 2, 3, 4. B) 2, 3, 1, 4. C) 3, 1, 2, 4. D) 3, 2, 4, 1. E) 3, 2, 1, 4. 3) Um dos requisitos da sentença absolutória é sua vinculação a uma das hipóteses do art. 386 do CPP. Isso é importante, pois o enquadramento em cada uma das hipóteses irá gerar consequências jurídicas distintas. Sobre esse tema, analise as assertivas a seguir e assinale a correta. A) A falta de prova da existência do fato e a inexistência de prova suficiente para a condenação são hipótses que consagram o princípio do in dubio pro reo. B) A inexistência de prova suficiente para a condenação exige a comprovação de que o fato imputado na denúncia ou queixa não ocorreu. C) A inexistência de prova de ter o réu concorrido para a infração penal depende da comprovação inequívoca desses fatos pela defesa. D) A absolvição por não constituir o fato uma infração penal decorre, entre outros motivos, do reconhecimento de uma excludente de ilicitude. E) A absolvição por circunstâncias que isentem o réu de pena decorre do reconhecimento de estar provado que ele não concorreu para a infração penal. A sentença penal absolutória gera diversos e distintos efeitos penais e civis de acordo com o enquadramento em uma das hipóteses do art. 386 do CPP. Assim, não só a absolvição é relevante, mas também a causa que a motivou. Sobre os efeitos da decisão absolutória, analise as assertivas a seguir e assinale a alternativa que contenha as afirmações corretas. I – Com a sentença absolutória, o juiz determinará a retirada da identificação fotográfica do acusado absolvido dos autos do processo. 4) II – A absolvição por prova de que o réu não concorreu para a infração penal afasta a possibilidade de sua responsabilização civil. III – A absolvição por falta de provas suficientes não impede a proposição ou a responsabilização civil do réu absolvido na esfera penal. IV – O réu absolvido não poderá ser processado pela mesma imputação mesmo que surjam novas provas cabais de sua autoria e do fato delituoso. A) I, II e III. B) I, II e IV. C) I, III e IV. D) II, III e IV. E) II e III. 5) A sentença penal condenatória é conceituada por Lima (2020, p. 1620) como: “a decisão judicial que atesta a responsabilidade criminal do acusado em virtude do reconhecimento categórico da prática da conduta típica, ilícita e culpável a ele imputada na peça acusatória (ou aditamento), impondo-lhe, em consequência, uma pena privativa de liberdade, restritiva de direitos ou multa”. Sobre sentença penal condenatória, analise as assertivas e assinale a alternativa correta. A) Por aplicação do princípio da correlação, a sentença condenatória deve sempre estar de acordo com o pedido formulado na peça acusatória. B) A legislação não exige a prévia manifestação das partes para a aplicação do instituto do emendatio libelli. C) A prolação da sentença penal condenatória impõe o cumprimento da pena independentemente do trânsito em julgado da decisão. D) Segundo o instituto do mutatio libelli, o juiz pode atribuir definição jurídica diversa a um mesmo fato descrito na denúncia ou queixa. E) Quando existe prova que altera a base fática acusatória, o juiz poderá tipificar essa nova conduta, corrigindo a peça contestatória. NA PRÁTICA A sentença penal tem seus requisitos legais previstos no art. 381 do CPP. A doutrina divide esses requisitos em quatro elementos necessários: o relatório, a fundamentação, o dispositivo e a autenticação. A falta de um desses requisitos pode ocasionar a nulidade da sentença, exigindo novo julgamento para corrigi-la. Confira, neste Na Prática, uma decisão proferida por um tribunal de justiça nacional que abordou o tema da nulidade da sentença por falta de um de seus requisitos legais. SAIBA MAIS Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: Sentença Penal Processo Penal Este vídeo trata da sentença penal, com destaque aos requisitos e às partes essenciais da sentença: relatório, fundamentação (ou motivação) e dispositivo. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Sentença absolutória Este vídeo trata da sentença penal absolutória abordando sucintamente o conceito desse tipo de sentença, sua previsão e seus principais efeitos. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Emendatio libelli e a desclassificação da forma dolosa para a culposa Este artigo trata do debate sobre viabilidade da "emendatio libelli" (art. 383 do CPP) para desclassificar conduta dolosa para culposa. O autor expõe as duas posições: a necessidade do instituto da "mutatio libelli" para essa desclassificação e a viabilidade da "emendatio libelli". Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!
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