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Direito Ambiental NATHALIA ELLEN SILVA BEZERRA Diretor Executivo DAVID LIRA STEPHEN BARROS Gerente Editorial CRISTIANE SILVEIRA CESAR DE OLIVEIRA Projeto Gráfico TIAGO DA ROCHA Autoria NATHALIA ELLEN SILVA BEZERRA AUTORIA Nathalia Ellen Silva Bezerra Sou formada em Direito, com uma experiência técnico-profissional na área de Direito do Trabalho e Previdenciário. Além disso, atuo como conciliadora e advogada, tendo em vista a colocação em prática e a valorização dos meios alternativos de solução de conflitos. Ao longo da minha vida acadêmica, sempre demonstrei um grande interesse pela escrita, dessa forma espero que, por meio desse material e da experiência vivenciada, você consiga adquirir e ampliar os seus conhecimentos para que possa exercer uma vida profissional plena. Por isso fui convidada pela Editora Telesapiens a integrar seu elenco de autores independentes. Estou muito feliz em poder ajudar você nesta fase de muito estudo e trabalho. Conte conosco! ICONOGRÁFICOS Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez que: OBJETIVO: para o início do desenvolvimento de uma nova compe- tência; DEFINIÇÃO: houver necessidade de se apresentar um novo conceito; NOTA: quando forem necessários obser- vações ou comple- mentações para o seu conhecimento; IMPORTANTE: as observações escritas tiveram que ser priorizadas para você; EXPLICANDO MELHOR: algo precisa ser melhor explicado ou detalhado; VOCÊ SABIA? curiosidades e indagações lúdicas sobre o tema em estudo, se forem necessárias; SAIBA MAIS: textos, referências bibliográficas e links para aprofundamen- to do seu conheci- mento; REFLITA: se houver a neces- sidade de chamar a atenção sobre algo a ser refletido ou dis- cutido sobre; ACESSE: se for preciso aces- sar um ou mais sites para fazer download, assistir vídeos, ler textos, ouvir podcast; RESUMINDO: quando for preciso se fazer um resumo acumulativo das últi- mas abordagens; ATIVIDADES: quando alguma atividade de au- toaprendizagem for aplicada; TESTANDO: quando o desen- volvimento de uma competência for concluído e questões forem explicadas; SUMÁRIO Breve Histórico Acerca do Direito Ambiental ..................................... 12 A Importância do Breve Histórico ....................................................................................... 12 Histórico Legal Ambiental ......................................................................................................... 14 Aspectos Gerais sobre o Direito Ambiental ......................................... 21 Definição de Meio Ambiente ...................................................................................................22 Meio Ambiente Natural ............................................................................................23 Meio Ambiente Artificial .........................................................................................23 Meio Ambiente Cultural ...........................................................................................24 Meio Ambiente do Trabalho .................................................................................24 Definição de Direito Ambiental ..............................................................................................24 Princípios Fundamentais do Direito Ambiental .........................................................26 Princípio da Prevenção ............................................................................................28 Princípio da Precaução ............................................................................................28 Princípio do Poluidor-Pagador ...........................................................................29 Princípio da Responsabilidade ...........................................................................29 Princípio do Limite .......................................................................................................29 O Direito Ambiental sob o Ponto de Vista Internacional ............... 31 Meio Ambiente e o Cenário Internacional ..................................................................... 31 Tratados e Convenções Internacionais Ambientais ...............................................33 Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC) ............................................................................................................35 Protocolo de Kyoto .................................................................................................... 36 Agenda 21 ..........................................................................................................................37 Rio+10 ou Cúpula Mundial sobre o Desenvolvimento Sustentável .......................................................................................................................37 Rio+20 ................................................................................................................................... 38 Outros Tratados e Convenções Internacionais ...................................... 38 O Direito Ambiental e a Constituição de 1988 ...................................40 Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 ................................. 40 Meio Ambiente e a Constituição de 1988 .....................................................................43 9 UNIDADE 01 Direito Ambiental 10 INTRODUÇÃO Você sabia que a área relativa ao meio ambiente, por mais que seja recente, já vem trazendo mudanças significativas em muitos cenários ao longo do mundo, por isso a mencionada área deve ser enaltecida e estudada em sua completude para que se possa conhecer mais as proteções destinadas ao meio ambiente. Diante disso, ao longo da presente unidade, passaremos a conhecer melhor o breve histórico a ser traçado acerca do Direito Ambiental, para que em seguida seja mais fácil analisar os aspectos gerais sobre o assunto, não esquecendo questões relativas ao campo internacional e as contribuições dadas ao direito ambiental desde a implementação da Constituição de 1988, levando em conta os impactos causados por essa Lei Maior. Entendeu? Ao longo desta unidade letiva você vai mergulhar neste universo! Direito Ambiental 11 OBJETIVOS Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 1 – História e Fundamentos do Direito Ambiental. Nosso objetivo é auxiliar você no desenvolvimento das seguintes competências profissionais até o término desta etapa de estudos: 1. Analisar o breve histórico e os avanços presentes no campo do Direito Ambiental. 2. Investigar quais são os aspectos gerais relativos ao Direito Ambiental. 3. Identificar o Direito Ambiental perante o cenário internacional. 4. Averiguar os impactos causados pela Constituição de 1988 perante o Direito Ambiental. Então? Preparado para uma viagem sem volta rumo ao conhecimento? Vamos desbravar os caminhos em busca de percepções mais conscientes e respeitosas ao meio ambiente. Ao trabalho! Direito Ambiental 12 Breve Histórico Acerca do Direito Ambiental OBJETIVO: Ao término deste capítulo, você será capaz de analisar como se deu o desenvolvimento histórico do direito ambiental, levando em consideração a importância que o meio ambiente passou a adquirir ao longo dos avanços e mudanças de foco voltados para o tema. Isso será fundamental para o exercício de sua profissão, tendo em vista que essa é uma área em ascensão. E então? Motivado para desenvolver essa competência? Então vamos lá. Avante!. A Importância do Breve Histórico Querido aluno, dependendo do ponto de vista que você possua sobre a vida, bem como as suas vivências anteriores, poderá parecer bobagem dispender tempo buscando entender a origem histórica daquilo que apresenta influências positivas ou negativas em nosso cotidiano. Contudo essa não é uma forma correta de se pensar, já que mesmo quando a utilidadenão pode ser vista de forma direta na prática, ela ainda influência de forma positiva, mesmo que a nível pragmático. Desta feita, pode colaborar no fornecimento de elementos e critérios para a vida dos seres humanos, pois, por meio das investigações históricas, podemos compreender de forma mais ampla o funcionamento social e cultural, as influências geradas pelos fenômenos políticos, as diversidades presentes nas diferentes épocas e camadas sociais, não deixando de lado as contribuições geradas por esses tópicos. Nesse sentido, muitos dos fenômenos vistos hoje em dia, e cujos motivos de ocorrência, em alguns momentos, não sabemos explicar, derivam de explicações históricas, ou seja, são hábitos aprendidos em um momento anterior e por gerações passadas que influenciam a nossa vida até hoje. Por isso mudar alguns desses fatos é tão difícil. Direito Ambiental 13 Como exemplo prático para essa situação, podemos pensar no papel da mulher na sociedade, pois sabemos que, desde a Antiguidade, a classe feminina estava à margem da sociedade, cabendo aos homens tomar as decisões mais difíceis e dominar o poder. Nesse ínterim, por meio de diversas lutas, as mulheres foram conseguindo um espaço maior, mas ainda assim sendo vítimas de machismo e de processos que muitas vezes resultavam em sua morte, como a caça às bruxas durante a Idade Média ou o incêndio na fábrica da Triangle Shirtwaist, durante a Revolução Industrial. Apesar de tudo isso, e mesmo já ocupando um papel importante no meio social, ainda há muito a ser conquistado e melhorado, pois muitos crimes, agressões e desigualdades são praticadas, deixando bem claro que a história ainda reflete e incomoda a vivência das mulheres na atualidade, sendo complicado destruir os impactos culturais gerados por todos os anos até o presente momento. REFLITA: Para compreender um pouco melhor acerca dos direitos conquistados pelas mulheres ao longo do tempo, leia a matéria denominada como “Direito da mulher: 18 avanços que já conquistamos e 22 que ainda falta alcançar”, presente neste link. Desta feita, uma das principais funções exercidas pelo estudo da história terá relação com o suporte dado à compreensão acerca do que está acontecendo hoje em dia. Diante disso, o estudo da história serve ainda como exemplo para que decisões mais bem fundamentadas sejam tomadas, com base em prudência, civilidade, tolerância, entre outras. Faz-se necessário, diante disso, entender o histórico do meio ambiente e de onde surgiu a preocupação de proteger esse bem natural tão importante para a vida humana, deixando ainda mais claro o destaque que deve ser dado ao mencionado assunto, assim como os motivos pelos quais surgiu a necessidade de a legislação proteger o meio ambiente, punindo todos aqueles que violarem tais normas, sendo todos os aspectos observados ao longo do presente e-book. Direito Ambiental https://www.vix.com/pt/bdm/comportamento/direito-da-mulher-18-avancos-que-ja-conquistamos-e-22-que-ainda-falta-alcancar 14 Histórico Legal Ambiental É comum identificar que a sociedade passou por diversas mudanças ao longo do tempo, afinal os interesses e as facilidades presentes no nosso cotidiano hoje são diferentes das vivenciadas anos atrás. Assim, aluno, podemos identificar isso facilmente ao pensar no uso de smartphones, pois hoje em dia é difícil imaginar uma vida sem esses aparelhos, levando em conta ainda que eles não exercem a função apenas de realizar ligações e na medida em que os nossos avós em sua juventude não tinham essa facilidade. Outro exemplo simples e presente em nossa vida é a praticidade do estudo em EAD, que até poucos anos atrás soava como algo irreal e rodeado de grandes tecnologias. Atualmente, o EAD é comum e sinônimo de praticidade. Diante disso, o meio ambiente também passou a sofrer impactos em razão dessas mudanças, já que, ainda tendo como base o exemplo fornecido, a produção de smartphones e computadores, objetos que possibilitam o EAD, representa um avanço industrial e tecnológico que, a depender da sua cadeia de produção, pode prejudicar o meio ambiente de diversas formas. Percebe-se, portanto que durante muito tempo o meio ambiente foi negligenciado, sendo que a preocupação destinada a ele, por toda a humanidade, é recente. Por outro lado, mas de maneira mais pontual, o autor Renato Guimarães Junior aponta que alguns documentos antigos já mencionavam uma proteção ao meio ambiente, mesmo que de forma indireta. Diante disso, o mencionado autor observa que o Código de Hamurábi, o Livro dos Mortos do Antigo Egito, apresentava algumas disposições relativas ao respeito pela natureza. Tem-se, ainda, por volta de 1215, na Magna Carta de João Sem-Terra, minúcias destinadas à proteção florestal, que passaram a ser vistas de forma mais concreta, Contudo, segundo Renato Guimarães Junior, um dos fatores que justifica essa tomada de decisão possui como fonte o exercício da propriedade das florestas por parte do rei, diante do qual a caça e a exploração eram proibidas, pois as madeiras, os frutos, os animais, e tudo ao redor pertenciam ao monarca. Direito Ambiental 15 Já no período das Grandes Navegações, os países dotados de mais destaque são Portugal e Espanha, sendo os dois grandes colonizadores, mas o contexto presente nas colônias e em seus países eram bem distintos. Nesse cenário, tomando Portugal como exemplo, em seu território europeu havia leis responsáveis pela proteção das águas e normas que proibiam o corte do carvalho e do soveiro. Por sua vez, na sua colônia, que hoje corresponde ao Brasil, o desmatamento acontecia de forma desregrada, com grandes infrações e violações ambientais que passaram a ser cometidas. Diante disso, desde o início o território brasileiro lidou com questões ambientais difíceis e marcadas por grandes perdas, a exemplo da quase extinção da espécie nativa denominada como Pau- Brasil. A exploração ambiental existente no Brasil só foi piorando e ficando mais intensa ao longo dos anos, de maneira que o desenvolvimento do país, durante grande parte do tempo, teve como escopo a exploração predatória e desmedida dos vastos recursos naturais presentes no território. Assim, até por volta da década de 1960, tudo o que importava era o aumento das fronteiras e os avanços econômicos, independentemente do que isso pudesse custar ao meio ambiente. Contudo um olhar diferenciado a nível mundial começou a surgir e os anos posteriores à década de 1960 começaram a ser marcados por políticas responsáveis por destacar e frear as medidas tomadas em desfavor ao meio ambiente, estabelecendo uma relação de importância e a necessidade de cuidado aos recursos naturais. Nessa situação, começaram a surgir normas que abordavam as mencionadas temáticas, como a edição do Código Florestal de 1965, os Código de Caça, de Pesca e de Mineração, todos regulados por lei no ano de 1967. Assim, a partir desse momento as florestas passaram a ser vistas não mais como propriedade de um senhor ou de um rei especificamente, mas sim como do povo. Os mencionados fenômenos e avanços passaram a ser vistos no mundo todo, com tratados e convenções dotados de força internacional e que passaram a ganhar forma e força. Nesse contexto, por volta de 1968, a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas realizou Direito Ambiental 16 a primeira conferência com o objetivo de discutir temáticas relativas ao meio ambiente. Essa conferência, realizada em Estocolmo no ano de 1972, foi a responsável pelo estabelecimento da Declaração de Estocolmo, na qual foram fixados um preâmbulo e vinte e seis princípios incumbidos de regular os fundamentos de ações mundiais a serem praticadas e observadas pelo mundo todo. A partir desse momento, a esfera internacional passou a exercer uma certa pressão nos países para que cada um desses estabelecesse normas internas acercado meio ambiente, a fim de que os recursos presentes em cada espaço fossem preservados, protegidos e postos em manutenção. Durante as décadas de 1970 e 1980, a quantidade de normas relativas à proteção ao meio ambiente foram tornando-se cada vez maiores, estabelecendo assim um sistema nacional demarcado pela proteção aos seus recursos naturais, sendo esse um aspecto importante não só no âmbito nacional, mas de interesse mundial, já que o território brasileiro abriga diversas vegetações, florestas, fauna e flora ricas. Desse modo, na medida em que os recursos aqui presentes são ameaçados, impactos naturais no mundo todo podem ser sentidos, de forma direta ou indireta. Diante disso, juntamente com as normas já existentes, o Brasil passou a possuir legislações denominadas como a Lei de Responsabilidade por Danos Nucleares, de 1977, a Lei de Zoneamento Industrial nas Áreas Críticas de Poluição de 1980, a Lei da Política Nacional do Meio Ambiente de 1981 e a Lei de Agrotóxico, de 1989. Outro grande marco altamente importante para a proteção do meio ambiente foi a promulgação da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, sendo esse marco não só o da libertação militar e da conquista democrática, mas do alcance dos direitos fundamentais e da primeira menção, em tópico específico, relativa à proteção do meio ambiente em uma Lei Maior Brasileira, sendo tais aspectos abordados com mais clareza em capítulo apresentado mais a frente, porém sendo claramente o marco de grandes conquistas e o estabelecimento formal de uma série de mudanças legislativas a nível constitucional. Direito Ambiental 17 A nível mundial, em 1992, foi realizada uma conferência no Rio de Janeiro, que ficou mundialmente conhecida como ECO 92, responsável por ter instituído a Declaração sobre o Ambiente e o Desenvolvimento de alcance geral, sendo também firmados os termos da Agenda 21, por meio dos quais são formados programas e ações concretas acerca do desenvolvimento e da prática de certas ações nos quais se estabeleceram políticas voltadas para a preservação e o cuidado da biodiversidade. Tais propostas tinham a intenção de evitar a extinção de animais e diminuir as consequências provocadas pelo aumento do aquecimento global e pelo acréscimo de gases promoventes do efeito estufa. Nesse sentido, o meio ambiente passou a ser foco de estudo de diversas ciências, tendo algumas surgido com o intuito específico de entender o funcionamento dos biomas e as investigações mais adequadas para proteger cada aspecto presente na esfera ambiental. Levando em consideração as convenções, as leis e até mesmo a inserção do assunto no âmbito constitucional, fica fácil entender que o meio jurídico também passou a ter uma área específica para discutir e estudar acerca das leis, responsabilidades e da eficácia desses instrumentos legais, sendo essa tarefa pertencente ao Direito Ambiental, campo que vem crescendo cada vez mais. Isso se revela quando se observa que os profissionais do direito passam a se especializar e buscar defender o meio ambiente daqueles que insistem em não proteger o bem que pertence a todos e que é fundamental para a nossa sobrevivência. O Direito Ambiental é um ramo novo presente no meio jurídico, mesmo que as leis acerca dessa temática já existam há certos tempos, o campo em si é novo, por isso é preciso que avanços sejam vistos nessa área para que a devida importância possa ser fornecida. Diante do exposto, a preocupação atual destinada ao meio ambiente é fruto de várias consequências, sendo que a maior parte dessas derivaram dos impactos causados pela Revolução Industrial, já que o foco implementado a partir desse momento passou a ser apenas a economia, sem haver uma preocupação com a qualidade e a manutenção do meio ambiente. Consequentemente, negligenciou-se a saúde da população como um todo, pois, querendo-se ou não, há uma certa relação entre vida, saúde e meio ambiente. Direito Ambiental 18 Contudo os desastres ambientais começaram a acontecer em razão das mencionadas modificações. Dessa maneira o vazamento de produtos químicos, as poluições geradas, o risco com a radioatividade passaram a gerar danos para a vida humana, tendo, inclusive, como resultado mortes. Diante disso, passou-se a buscar de forma desesperada medidas que evitassem ou ao menos diminuíssem os erros promovidos durante tantos anos e tantos descuidos, levando em conta que algumas ações danosas não poderiam mais ser revertidas, mas muito ainda poderia ser evitado. Assim, o meio ambiente passou a ser visto não só como uma temática a ser protegida em razão dos benefícios que promove para a geração atual, mas também com uma visão futurista, voltada então para a geração futura. Diante disso é preciso que nós, contando com você, aluno, tenhamos essa consciência, sejamos altruístas e visualizemos que não é só cuidar porque o ambiente é importante para você e para a sua saúde, mas porque ele é imprescindível para a humanidade como um todo. Assim, se água potável acabar, por exemplo, pode ser que ela ainda dure o tempo em que você está vivo, mas pode ser que seus filhos, os seus sobrinhos, os seus priminhos que hoje são bebês, ou mesmo as pessoas que vocês não conhecem ou que ainda estão em gestação, passem por grandes problemas ou até mesmo deixem de existir por danos causados por você, pelas suas escolhas atualmente em relação ao meio ambiente, pelo seu descuido, pelo papelzinho que você joga no chão e acredita não ser nada demais. Precisamos pensar além, pensar no próximo, pensar nos animais e esse deve ser um pensamento constante e não só alimentado por notícias de espécies extintas ou notícias trágicas envolvendo canudos plásticos, pois, infelizmente, a população tem memória curta, basta um outro grande acontecimento para isso ser esquecido. Por isso precisamos de atitudes que moldem nossas ações e que sejam transmitidas, de forma concreta, para as outras gerações. Mas, para isso, precisamos começar hoje, começar agora, ou melhor, deveríamos já ter começado e aprender com os nossos e mais ainda com os enganos cometidos pelas gerações passadas. Direito Ambiental 19 SAIBA MAIS: Para compreender melhor acerca dos impactos que certos produtos podem causar ao meio ambiente, leia a matéria denominada “Entenda por que canudos de plástico são tão prejudiciais para os oceanos”, presente neste link. Nesse sentido, o século XX passou a ser enquadrado como o século da conscientização, já que os debates relativos ao meio ambiente ganharam força e a sociedade pareceu entender que depende do meio ambiente para sobreviver. Por isso essa temática passou a fazer parte das principais discussões ocorridas nas esferas e nas organizações internacionais. Contudo a eficácia das legislações ambientais ainda é posta em pauta, principalmente no Brasil, tendo em vista que, mesmo com a quantidade de normas protetivas, diversas violações são visualizadas. Diante disso, os acidentes ambientais ainda acontecem com uma frequência significativa, de forma que essa temática será abordada em capítulo específico para que possamos entender algumas das causas responsáveis por esse fenômeno. Direito Ambiental https://www.megacurioso.com.br/ciencia/107043-saiba-por-que-canudos-de-plastico-sao-um-grande-problema-para-os-oceanos.htm 20 RESUMINDO: E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido que atualmente é fácil compreender qual é o efeito e o papel exercido pelo meio ambiente, assim como os fatores responsáveis pela criação do direito ambiental. Contudo, ao longo deste capítulo, pudemos visualizar que nem sempre foi dessa maneira, tendo em vista que muitas das consequências sofridas em relação ao meio ambientederivam de atos praticados pelas gerações passadas, quando ainda não havia o entendimento de que o meio ambiente é fundamental para a nossa sobrevivência. Apesar dos avanços visualizados nesse campo, há ainda muito a ser melhorado, pois diversas violações e o não cumprimento ao estabelecido em lei podem ser facilmente visualizados no Brasil e no mundo. Direito Ambiental 21 Aspectos Gerais sobre o Direito Ambiental OBJETIVO: Ao término deste capítulo, você será capaz de investigar como se deu o desenvolvimento histórico do Direito Ambiental, levando em consideração os principais aspectos e características que rodeiam a área, tais como a sua definição e entendimentos principiológicos. Isso será fundamental para o exercício de sua profissão, tendo em vista que essa é uma área em ascensão. E então? Motivado para desenvolver essa competência? Então vamos lá. Avante!. Figura 1 – Sustentabilidade Fonte: Pixabay. Direito Ambiental 22 Definição de Meio Ambiente Antes de adentrarmos a esfera conceitual pertencente ao Direito Ambiental, é preciso primeiro entender, querido aluno, aquilo que pode ser compreendido como meio ambiente. Conforme o determinado pelo artigo 3º, inciso I, da Lei nº 6.938/81, também denominada como Lei da Política Nacional do Meio Ambiente, o conceito dado a meio ambiente pode ser entendido como um “conjunto de condições, leis, influências de ordem física, química e biológica que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas” (BRASIL, 1981). Por sua vez, Edis Milare, ao definir meio ambiente, apresenta duas versões destinadas à mencionada conceituação: Numa visão estrita, o meio ambiente nada mais é do que a expressão do patrimônio natural e suas relações com e entre os seres vivos. Tal noção, é evidente, despreza tudo aquilo que não seja relacionado com os recursos naturais. Numa concepção ampla, que vai além dos limites estreitos fixados pela Ecologia tradicional, o meio ambiente abrange toda a natureza original (natural) e artificial, assim como os bens culturais correlatos. Temos aqui, então, um detalhamento do tema, de um lado com o meio ambiente natural, ou físico, constituído pelo solo, pela água, pelo ar, pela energia, pela fauna e pela flora, e, do outro, com o meio ambiente artificial (ou humano), enfim, os assentamentos de natureza urbanística e demais construções. (MILARE, 2000, p. 52-53) Outro doutrinador responsável por apresentar um conceito para essa expressão é o renomado José Afonso da Silva, que já apresenta um ponto de vista mais amplo acerca daquilo que pode ser enquadrado como meio ambiente. Diante disso, o mencionado autor afirma que O conceito de meio ambiente há de ser, pois, globalizante, abrangente de toda a natureza, o artificial e o original, bem como os bens culturais correlatos, compreendendo, portanto, o solo, a água, o ar, a flora, as belezas naturais, o patrimônio histórico, artístico, turístico, paisagístico e arquitetônico. O meio ambiente é, assim, interação do conjunto de elementos naturais, artificiais e culturais que propiciem o desenvolvimento equilibrado da vida em todas as suas formas. (SILVA, 2000, p. 20) Direito Ambiental 23 Diante do exposto e considerando os conceitos apresentados, o meio ambiente é um espaço amplo responsável por abrigar aspectos relativos aos recursos físicos, químicos, biológicos, que levam em conta o ser humano e o funcionamento dos seres vivos. Assim, o meio ambiente apresenta as suas classificações e elas são importantes para que se supere a visão comum de que proteger o meio ambiente significa apenas preservar a fauna e a flora, já que essa, de fato, é uma das vertentes protetivas do meio ambiente, porém não pode ser entendida como a única. Dessa maneira, querido aluno, vamos conhecer as classificações relativas ao meio ambiente. Meio Ambiente Natural O meio ambiente natural é aquele que pode ser mais facilmente compreendido, pois relaciona-se à proteção da fauna e da flora, englobando ainda o solo, a água, o ar e todos os recursos enquadrados como naturais. O artigo 225 da Constituição da República Federativa Brasileira de 1988 e a Lei Política Nacional do Meio Ambiente são responsáveis por proteger o meio ambiente natural. Meio Ambiente Artificial Por sua vez, o meio ambiente artificial opõe-se à noção de natureza, tendo em vista que é composto por aquilo que deriva da construção humana. Dessa forma, os ambientes urbanos, levando em conta as edificações, os espaços e os equipamentos públicos, podem ser enquadrados nessa categoria. Levando em consideração esse breve conceito, você consegue apontar ao menos um exemplo do que pode ser listado como meio ambiente artificial? Como essa classificação faz-se presente em seu dia a dia? Diante disso, o meio ambiente artificial é aquele que está presente na vida cotidiana de quem vive em cidades, manifestando-se nos prédios, nas casas, nas ruas asfaltadas e até mesmo nos parques arquitetônicos construídos para dar mais leveza ao meio urbano. Todos eles podem ser enquadrados como integrantes do meio ambiente artificial. Direito Ambiental 24 Meio Ambiente Cultural Já o meio ambiente cultural também é protegido pelo atual texto constitucional, por meio do artigo 216 da Lei Maior, sendo inserido nessa categoria o patrimônio histórico, artístico, arqueológico, turístico e paisagístico. Dessa maneira, as características que tornam esse meio ambiente associado à cultura são, justamente, o aspecto que não permite a confusão existente entre o meio ambiente cultural e o meio ambiente artificial. Meio Ambiente do Trabalho A última classificação também é fácil de ser entendida na prática, pois mesmo para aqueles que não exercem labor, há alguém de suas famílias que desempenham essa função, assim como o trabalho faz parte do conhecimento comum. Nesse sentido, o meio ambiente de trabalho pode ser compreendido como o local no qual as pessoas desenvolvem as suas funções e atividades laborais, sejam essas remuneradas ou voluntárias, nas quais devem estar protegidas a saúde, a vida e a incolumidade física dos trabalhadores para que acidentes ou outros problemas sejam evitados. Definição de Direito Ambiental Aluno, levando em conta os conhecimentos adquiridos durante o capítulo anterior, pudemos ver que as normas relativas ao meio ambiente foram surgindo na medida em que a população começou a entender o papel e a importância exercida pelos recursos naturais, sendo esses imprescindíveis para a vida humana. Assim, o Direito ambiental, segundo Paulo de Bessa Antunes, pode ser conceituado como sendo o campo jurídico responsável por regular a relação dos indivíduos, governos e empresas com o meio ambiente, levando em consideração a intenção e os objetivos destinados à conciliação dos aspectos ecológicos, econômicos e sociais para que as situações relativas à condição ambiental sejam mantidas, passem por manutenção e sejam até mesmo melhoradas. Objetiva-se, com isso, a Direito Ambiental 25 geração de um maior bem-estar populacional, não deixando de lado a proteção que deve ser fornecida aos animais, vegetações e florestas como um todo. Ainda conforme Paulo de Bessa Antunes, há três vertentes acerca do Direito Ambiental, voltadas para: 1) direito ao meio ambiente, 2) direito sobre o meio ambiente e 3) direito do meio ambiente. Desta feita, o Direito Ambiental é uma área atual e considerada autônoma, mas que pode ser aplicada de diversas maneiras nas várias áreas jurídicas, já que o meio ambiente é imprescindível para a vida humana. Por isso relaciona-se com todas as outras áreas do direito, ou melhor, com a ciência como um todo. Dessa maneira, o Direito Ambiental possui os seus desdobramentos, com uma perspectiva direcionada para a sociedade, e consequentemente, para a vida humana, uma perspectiva destinada ao âmbito ecológico e ainda uma terceira dimensão econômicabem delimitada, sendo que as três áreas devem ser utilizadas em conjunto, de forma simultânea e harmônica, como pode ser representado pela figura abaixo. Figura 2 - Três áreas simultâneas ao Direito Ambiental Fonte: Elaborado pela autora (2020). Uma das medidas preconizadas pelo Direito Ambiental apresenta como finalidade o estabelecimento das devidas proteções ao meio ambiente, tendo em vista o fornecimento das garantias e dos direitos relativos aos mencionados espaços não só para as gerações atuais, mas também para as futuras. Direito Ambiental 26 Princípios Fundamentais do Direito Ambiental Não é apenas a área do Direito Ambiental que é regida e orientada pela presença de princípios, estando presente em vários outros campos do saber, principalmente, nos ramos jurídicos. Assim, as fontes do Direito referem-se ao exercício de influências dos valores que regem o sistema jurídico. Diante disso, tais fontes são as leis, os costumes, os tratados e convenções internacionais, as jurisprudências, as regras e os princípios jurídicos. Os princípios podem ser explícitos ou implícitos, sendo abstratos e gerais. Assim, servem para guiar a aplicação das normas, bem como para servir de parâmetro para aquelas situações em que não há uma regra específica destinada a casos específicos. Os princípios serão utilizados na ausência de legislações determinadas, servindo também para que lacunas sejam preenchidas e adaptadas aos casos práticos em questão. Desta feita, os princípios devem ser entendidos como normas fundamentais, tendo em vista os papéis que exercem. Sendo assim, a violação destinada aos fenômenos principiológicos é mais grave do que a desobediência de regras ou outras fontes do direito, deixando bem claro que essas também são importantes e imprescindíveis ao funcionamento do ordenamento jurídico brasileiro, mas os danos gerados pelos princípios são mais gravosos. Nesse sentido, no âmbito do Direito Ambiental, mesmo que esse campo jurídico seja recente, já existem princípios que são imprescindíveis para a execução e até mesmo para a proteção destinada ao meio ambiente. Assim, as normas aplicadas a esse âmbito jurídico visam guiar a aplicação legal. Perante isso, os autores Antônio Herman de Vasconcellos e Benjamin afirmam que os princípios no campo do Direito Ambiental servem para a compreensão e para a aplicação: a. são os princípios que permitem compreender a autonomia do Direito Ambiental em face dos outros ramos do Direito; Direito Ambiental 27 b. são os princípios que auxiliam no entendimento e na identificação da unidade e coerência existentes entre todas as normas jurídicas que compõem o sistema legislativo ambiental; c. é dos princípios que se extraem as diretrizes básicas que permitem compreender a forma pela qual a proteção do meio ambiente é vista na sociedade; d. e, finalmente, são os princípios que servem de critério básico e inafastável para a exata inteligência e interpretação de todas as normas que compõem o sistema jurídico ambiental, condição indispensável para a boa aplicação do Direito nessa área. (VASCONCELLOS; BENJAMIM apud MIRRA, p. 52, 1996) Desta feita, na presente unidade estudaremos os principais princípios do Direito Ambiental, sendo esses apresentados de forma resumida na Figura 2 e nos subtópicos a seguir. Figura 3 - Princípios do Direito Ambiental Fonte: Elaborado pela autora (2020). Direito Ambiental 28 Princípio da Prevenção O princípio da prevenção fixa que as políticas públicas adotadas no campo das prevenções ambientais servem como uma forma de promover a cautela em relação à degradação e aos danos que possam atingir o meio ambiente. Assim, o estabelecimento de que o meio ambiente deve ser preservado em razão dos interesses das populações futuras refere-se ao princípio em pauta. Por sua vez, a Declaração Universal sobre o Meio Ambiente também dispõe sobre o mencionado princípio, sendo o mesmo destacado no Princípio 6, segundo o qual Deve-se pôr fim à descarga de substâncias tóxicas ou de outros materiais e, ainda, à liberação de calor em quantidades ou concentrações tais que o meio ambiente não tenha condições para neutralizá-las, a fim de não se causar danos graves ou irreparáveis aos ecossistemas. Deve-se apoiar a justa luta dos povos de todos os países contra a contaminação. (BRASIL, 1972) Diante disso, o princípio da preservação é um dos considerados mais importantes no ordenamento jurídico brasileiro, também sendo aquele que é visto com uma maior regularidade. Deve ser buscado com afinco, pois os danos e/ou combate são muito mais dispendiosos do que preservar. Assim, a preservação é estimulada para que o Direito seja visto como um âmbito destinado à prevenção. Princípio da Precaução É muito comum que exista uma certa confusão na hora de conceituar esse princípio. Mesmo que se pareçam, prevenção e precaução não podem ser listados na mesma posição. Assim, a precaução também exerce uma importância considerável para o âmbito do Direito Ambiental, possuindo uma relação com o princípio apresentado anteriormente. Porém o princípio da precaução será posto em prática quando não houver certeza dos impactos ambientais que poderão ser gerados, na medida em que o princípio da proteção destina-se a proteger o meio ambiente dos danos já conhecidos, tanto pela comunidade científica quanto pela comunidade acadêmica. Por isso a presença da precaução é tão importante, pois visa-se proporcionar proteção ao meio ambiente diante daquilo que não se conhece bem. Direito Ambiental 29 Princípio do Poluidor-Pagador Conforme as determinações estabelecidas pelo princípio do poluidor-pagador, aquelas pessoas que violem o meio ambiente de alguma forma devem pagar por seus atos, sendo o mencionado pagamento efetuado em pecúnia. Diante disso, todo aquele que causar prejuízos ao meio ambiente terá como responsabilidade arcar com os custos relativos à reparação dos danos que causou. Princípio da Responsabilidade Aluno, até aqui pudemos aprender que o meio ambiente é imprescindível para a vida humana, tendo em vista que dele retiramos muitas das matérias-primas e dos recursos naturais responsáveis por nutrir-nos e atender-nos nos diversos setores de nossa vida. Por isso existem as leis destinadas à proteção daquilo que é entendido como meio ambiente. Dessa forma, é necessário que se estabeleça um sistema responsável por punir aqueles que transgridam ou promovam danos ao meio ambiente, sejam esses pessoas físicas ou pessoas jurídicas. Nesse sentido, as violações ocorridas no campo do Direito Ambiental são avaliadas por meio da responsabilização, que podem ocorrer no meio civil, administrativo e até mesmo penal. Princípio do Limite Por fim, o princípio do limite relaciona-se ao estabelecimento de padrões de qualidade ambiental, para que, dessa forma, seja promovido de maneira coerente o desenvolvimento sustentável. Direito Ambiental 30 RESUMINDO: E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido que o conceito de meio ambiente e o de direito ambiental são distintos, porém estão relacionados. Além disso, pôde compreender também que o meio ambiente não faz menção apenas à fauna e à flora, englobando em suas classificações os aspectos artificiais, culturais e trabalhistas. Nesse sentido, o meio ambiente apresenta uma ligação direta com a sociedade, a economia e a ecologia, o que torna o Direito Ambiental interdisciplinar e com possibilidades de ser aplicado em muitos campos jurídicos e nas ciências sociais e política como um todo, além de se converter em um critério a ser levado em conta pelo cenário do desenvolvimento mundial. Durante esse capítulo, também ampliamos nosso conhecimento acerca dos principais tipos de princípios,contudo não esgotamos essa temática, tendo em vista a amplitude de classes e funções que podem ser exercidas por cada um deles. Direito Ambiental 31 O Direito Ambiental sob o Ponto de Vista Internacional OBJETIVO: Ao término deste capítulo, você será capaz de analisar quais são os principais impactos e projetos existentes na esfera internacional para que se proteja o meio ambiente, levando em conta os tratados e convenções presentes na esfera internacional e ratificados pelo Brasil. Isso será fundamental para o exercício de sua profissão, tendo em vista que essa é uma área em ascensão, sendo de suma relevância a compreensão acerca do que o mundo e o nosso país faz para preservar o meio ambiente, que é essencial para a nossa vida. E então? Motivado para desenvolver essa competência? Então vamos lá. Avante!. Meio Ambiente e o Cenário Internacional Aluno, levando em consideração o aprendido após a análise efetuada sobre o breve histórico do direito ambiental, pudemos compreender que a preocupação com o meio ambiente começou a surgir na esfera legal apenas por volta de 1972, ano em que houve a primeira reunião entre diversos países do mundo com objetivo de destacar as consequências que poderiam ser promovidas na esfera social e econômica, em razão da falta de desenvolvimento sustentável. Como já sabemos, a mencionada reunião foi realizada em Estocolmo, cidade que foi escolhida porque, na época, era considerada como uma das mais limpas do mundo, representando justamente a importância de manter-se a preservação, quando comparada à realidade das cidades que possuíam um grande número de indústrias. A partir desse momento, a preocupação acerca da preservação do meio ambiente passou a ocorrer não só no nível interno, ou seja, não era mais suficiente que apenas algumas cidades, como Estocolmo, por Direito Ambiental 32 exemplo, desempenhassem um papel voltado para a proteção ambiental, pois o impacto negativo promovido pelas ações dos outros centros urbanos seria capaz de promover prejuízos não só para os empresários ou para os cidadãos de determinada localidade, mas para o mundo como um todo. Em razão desses fatores, os países demonstraram o interesse de estabelecer uma visão global e princípios comuns (tendo alguns desses sido abordados no capítulo anterior). Dessa maneira, as orientações fornecidas passaram a ser aplicadas e a serem seguidas por todos os países do mundo e aspectos ligados ao consumo exagerado e à produção em massa teriam de ser repensados. Contudo essa não foi uma visão bem recebida por todos os países, já que existiam alguns que eram resistentes aos termos que passariam a entrar em vigor com a preocupação ambiental. Esses países passavam a enxergar a preservação e a manutenção do meio ambiente, propostas por instrumento legal, como uma limitação ao desenvolvimento industrial e econômico. Assim, levando em conta os dois pontos de vista apresentados, criou-se uma declaração responsável por estabelecer alguns dos princípios ambientais a serem aplicados na esfera internacional, não esquecendo ainda uma série de propostas e ações que, se devidamente aplicadas, poderiam ser responsáveis por dirimir parte dos problemas ambientais. É importante ainda destacar que o direito ambiental não surge como uma tentativa de frear a economia ou de dificultar o progresso industrial, sendo essa uma visão errônea e um tanto preconceituosa acerca da temática. Contudo entendem-se os motivos pelos quais os países apresentaram esse ponto de vista, afinal foi o primeiro momento em que se passou a discutir essa temática no meio legal internacional e diversas mudanças precisariam ser feitas, com a necessidade de gastos, tempo e recursos para a sua implementação. Porém todo o processo de inserção era, e ainda é, imprescindível, pois, com as referidas alterações, a economia não parará, mas, sim, terá uma nova aliada para que possa crescer de forma consciente e sem prejuízos futuros. Direito Ambiental 33 Afinal, de pouco adianta uma economia bem desenvolvida em um país, ou melhor, em um planeta doente. Por isso o meio ambiente deve ser entendido como questão fundamental, assim como, caso se levem em consideração conceitos como inovação, poderá surgir um novo cenário econômico, como a criação de empresas verdes em um ambiente sustentável, temática que será melhor discutida posteriormente. Diante do exposto, o Direito Ambiental integra a agenda internacional, pois, desde a sua inserção nesse cenário, passou a ser uma preocupação geral e irreversível para o âmbito jurídico. Assim, levando em conta a relação que se estabeleceu entre o meio ambiente e o campo internacional, nasceu o chamado Direito Internacional do Meio Ambiente. Tratados e Convenções Internacionais Ambientais Aluno, antes de adentrarmos a temática relativa aos tratados e convenções internacionais, é primeiro fundamental que se compreenda a definição relativa aos documentos, não podendo haver confusão quanto à conceituação de ambos, como representado pela figura 3. Figura 4 - Diferença entre tratados e convenções Fonte: Elaborado pela autora (2020). Os tratados internacionais podem ser entendidos como uma forma de formalizar um pacto celebrado entre diversos países, tendo como principal objetivo promover a paz, levando em conta questões relativas à economia, ao estabelecimento e respeito das fronteiras físicas e à organização das atividades comerciais. Esses documentos possuem, Direito Ambiental 34 também, a finalidade de estabelecer regras e normas, sendo algumas dessas direcionadas para a proteção do meio ambiente. Por sua vez, as convenções são entendidas como os documentos assinados durante as conferências internacionais, quando essas são responsáveis por abordar assuntos de interesse geral para todos os envolvidos. A natureza desses documentos pode se referir a uma variedade de temáticas, dependendo apenas daquilo que será abordado e dos termos convencionados. Entende-se, assim, que as convenções podem ser firmadas entre dois ou mais países. A grande diferença entre os tratados e as convenções é o fato de que estas servem como base para a elaboração de leis e normas, na medida em que os tratados são incorporados em sua forma integral quando ratificados pelos países e dessa maneira passam a fazer parte do ordenamento jurídico, e consequentemente, das leis responsáveis por reger as nações. Salienta-se, ainda, que, em alguns casos, será permitida a exclusão de algumas cláusulas quando os tratados em questão forem realizados entre mais de um país, pois assim a norma poderá moldar-se à realidade interna de cada nação. A mencionada concessão ocorre em razão do princípio da soberania dos Estados, pois, no cenário interno, as normas presentes no ordenamento jurídico dos países são soberanas. Assim, os poderes, como, por exemplo, executivo e judiciário, não podem limitar as determinações do legislativo sem razão aparente, contudo o contexto no campo internacional é distinto, pois entre as nações não há soberania. Como assim? Simples, imagine a situação relativa às normas presentes na CRFB/88. Todas as outras normas do Brasil submetem-se ao disposto na Constituição, em razão da soberania constitucional. Contudo as normas constitucionais brasileiras não serão soberanas perante o ordenamento jurídico de Portugal ou dos EUA, por exemplo, e o mesmo não será possível por parte das leis desses países em relação ao Brasil, mesmo Direito Ambiental 35 que tenhamos sido colonizados pelos portugueses e que não tenhamos o mesmo desenvolvimento dos norte-americanos. Isso ocorre justamente porque a relação firmada entre os países não se baseia na soberania, mas, sim, na igualdade jurídica. O surgimento dos tratados e das convenções em nível internacional se deu com o objetivo de criar um vínculo estável entre as empresas, o Estado, a sociedadee o meio ambiente. Todavia, mesmo considerando a quantidade de normas presentes nesse campo, na prática podemos verificar que diversos acidentes ambientais acontecem no mundo todo, ficando demonstrado que a proteção ambiental ainda não é levada suficientemente a sério e que esse é um traço da desarmonia entre o homem e o meio no qual este habita. EXEMPLO: Um exemplo de acidente ambiental memorável foi a denominada Tragédia de Bophal, sendo o maior desastre químico do mundo e que teve como resultado a morte de mais de 8 mil pessoas. Para saber mais leia o artigo presente neste link. Um outro exemplo, mais recente, foi o rompimento da barragem ocorrido em Mariana, Minas Gerais, no ano de 2015, tendo como resultado a morte de 19 pessoas e um impacto ambiental que durará por anos, já que provocou a morte de diversas espécies de peixes, destruiu a vegetação, comprometeu o solo, entre outros. Para saber mais acerca do assunto, leia o conteúdo deste link. Assim, para que possamos compreender melhor a temática, em seguida discutiremos alguns dos principais tratados e convenções presentes no campo do Direito Ambiental, dando ênfase as suas principais obrigações, deveres e contribuições de maior destaque. Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC) A Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC) tem como principal finalidade estabelecer métodos responsáveis pela diminuição dos gases que se encontram concentrados na camada atmosférica e que resultam no efeito estufa, para que assim Direito Ambiental https://alunosonline.uol.com.br/quimica/tragedia-bhopal.html https://brasilescola.uol.com.br/biologia/impactos-ambientais-acidente-mariana-mg.htm 36 se possa impedir que ocorra uma interferência humana responsável por promover danos ao sistema climático. O interesse dessa convenção não consiste apenas em evitar a acumulação dos gases em pauta, mas atingir esse objetivo em tempo hábil, já que a intenção é que se possibilite a adaptação dos ecossistemas e dos seres presentes no planeta, em razão da mudança climática provocada pelo homem. Dessa forma, tanto a espécie humana como os demais animais e plantas seriam beneficiados por meio da implementação de projetos sustentáveis. A convenção em análise foi firmada na cidade do Rio de Janeiro, no ano de 1922, quando cerca de 179 países comprometeram-se a seguir uma agenda global que tinha o objetivo de diminuir os impactos no âmbito ambiental em âmbito mundial. Portanto, mais uma vez ficou marcado o avanço em busca do desenvolvimento sustentável de forma balanceada e equilibrada com o crescimento econômico e social. Protocolo de Kyoto O Protocolo de Kyoto é um dos tratados internacionais responsáveis por complementar e apoiar o disposto na Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, apresentada no tópico anterior. Os países que aceitaram aplicar as normas apresentadas pelo protocolo em questão assumiram a responsabilidade de controlar a emissões de gases, levando em conta o seu cenário econômico-industrial e os efeitos climáticos vistos na atualidade. O Brasil é um dos países que ratificou o mencionado documento, tendo essa aprovação ocorrido por meio do Decreto Legislativo nº 144 de 2002. Uma das maiores críticas acerca do protocolo em pauta está relacionada ao fato de que o maior emissor de gases, os Estados Unidos da América, não assinou o Protocolo em questão, porém isso não significa que estão livres para poluir e produzir como quiserem, já que devem obediência e atendimento a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, só não atendem de forma específica aos termos apresentados pelo protocolo de Kyoto. Direito Ambiental 37 Agenda 21 Por sua vez, a Agenda 21 pode ser compreendida como um instrumento de planejamento responsável pela construção de sociedades enquadradas como sustentáveis, mesmo considerando a existência de diversidades geográficas e a necessidade de estabelecer uma conciliação entre os âmbitos ambientais, jurídicos e econômicos. Diante disso, o nosso país também utiliza a Agenda 21 como instrumento de modelo participativo do país, para que assim se possa promover o desenvolvimento sustentável necessário à nação. Desta feita, para que isso ocorra, é preciso a utilização de técnicas e ferramentas relativas à participação popular e à gestão social. Rio+10 ou Cúpula Mundial sobre o Desenvolvimento Sustentável A Cúpula Mundial sobre o Desenvolvimento Sustentável aconteceu em 2002, durante a Conferência de Joanesburgo, África do Sul. Contudo, a denominação de Rio+10 foi dada porque o evento realizou-se 10 anos após a Rio-92. A mencionada conferência reuniu os líderes de 189 países, contando ainda com a presença de representantes das organizações não governamentais e da sociedade civil. Assim, o principal objetivo a ser posto em prática na presente reunião era o de renovar e averiguar os resultados dos compromissos que haviam sido determinados durante a Rio-92. Porém a nova reunião passou a abordar discussões direcionadas para aspectos sociais, deixando clara a importância do estabelecimento da qualidade de vida das pessoas. Além das temáticas já mencionadas, outros assuntos foram pauta da discussão em destaque, sendo temáticas de relevância para a situação e que podem trazer resultados para as gerações a depender da maneira com que são postos em pauta, sendo alguns desses a erradicação da pobreza, o uso consciente da água, a utilização adequada dos recursos naturais e a implementação do desenvolvimento sustentável. Direito Ambiental 38 Mesmo com os avanços presentes no campo do Direito Ambiental, muitas resistências ainda foram visualizadas quanto à implementação de algumas ações, sendo que as maiores objeções são postas, justamente, pelos países cujo envolvimento é mais imprescindível, tendo em vista que são os mais capitalistas, como, por exemplo, os Estados Unidos, que apresentaram dificuldades quanto à redução dos gases poluentes, já que se comprometer com a redução poderia limitar a atividade presente no campo da indústria e na economia. Rio+20 Dez anos após a realização da Rio+10, em 2012, ocorreu a Rio+20, uma das maiores convenções efetuadas pelas Organizações das Nações Unidas (ONU). Mais uma vez a intenção foi reafirmar os compromissos feitos nas duas convenções anteriores, com o objetivo de atingir tudo aquilo que não se cumpriu. Outros Tratados e Convenções Internacionais É importante salientar que os tratados e convenções apresentados no presente capítulo são apenas uma pequena amostra das normas presentes no cenário internacional, tendo em vista que as discussões sobre o meio ambiente ampliam cada vez mais os debates, já que é um tema atual e relevante para o campo social, econômico, entre outros. Direito Ambiental 39 RESUMINDO: E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido que nem sempre as normas referentes ao meio ambiente possuíram força no âmbito externo, porém, desde a conferência realizada em Estocolmo, as primeiras normas nesse sentido foram efetuadas e tiveram como resultado o nascimento do Direito Ambiental Internacional, que vigora até a atualidade. Desta feita, os tratados internacionais e as convenções não podem ser confundidas, existindo, assim, aspectos que diferenciam ambos. Em seguida, pudemos aprender algumas das características dos principais tratados de nível internacional existentes e ratificados pelo Brasil. Direito Ambiental 40 O Direito Ambiental e a Constituição de 1988 OBJETIVO: Ao término deste capítulo, você será capaz de analisar como se deu o desenvolvimento histórico do Direito Ambiental, levando em consideração a importância das implementações propostas pela inserçãoda Constituição Federal da República do Brasil de 1988, tendo em vista a presença da proteção aos direitos sociais e coletivos perante o meio ambiente. E então? Motivado para desenvolver essa competência? Então vamos lá. Avante!. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 Querido aluno, antes da nossa atual Constituição entrar em vigor, nós vivenciamos alguns dos períodos mais sombrios da nossa história, marcados pela Ditadura Militar, contexto em que diversos direitos foram restringidos e diversos desaparecimentos e mortes foram promovidos, envolvendo ainda torturas, estupros, invasões domiciliares, entre outros crimes que provaram a dificuldade vivenciada durante esse período. Por isso os protestos e as reivindicações postas em pauta, mesmo que de forma velada ou indireta, clamavam por uma liberdade que não existia, por uma igualdade e por uma proteção que eram destinadas a poucos, ou seja, apenas às classes mais privilegiadas e cercadas de conhecimento. Direito Ambiental 41 SAIBA MAIS: Muito se fala acerca das crueldades e injustiças presentes durante o período ditatorial militar vivenciado no Brasil, contudo não são muitas as pessoas que conseguem visualizar esse cenário na prática. Costumamos ler e assistir filmes acerca da Segunda Guerra Mundial e ficamos assustados e revoltados com os cenários retratados e a realidade vivenciada por tantas pessoas durante aquele período, porém não podemos deixar de lado a história do nosso país. Afinal, o que ocorreu durante os anos de 1964 a 1985 foi cruel e absurdo, sendo que muitas vítimas continuam desaparecidas até hoje e muitas mortes parecem esconder as suas verdadeiras causas. Então, para entender os detalhes horrendos dessa época, recomenda- se a realização da leitura dos seguintes livros: Cova 312 – A longa jornada de uma repórter para descobrir o destino de um guerrilheiro, derrubar uma farsa e mudar um capítulo da história do Brasil, da escritora Daniela Arbex, e Brasil Nunca Mais – Um relato para a história, projeto desenvolvido por Dom Paulo Evaristo Arns e equipe. Durante o ano de 1983, em todo o Brasil, a luta pela redemocratização ganhava contornos cada vez mais fortes. Diante disso, foi instaurada a campanha denominada como “Diretas já”, por meio da qual várias lideranças políticas deram as mãos em busca do bem maior, ou seja, o fim da ditadura militar. A vitória de Tancredo Neves foi responsável por simbolizar o fim da mencionada ditadura e iniciar novos tempos no território nacional, tempos de esperança e de ampliação de direitos. ACESSE: Para relembrar e entender melhor o conteúdo, é importante que você amplie e refresque os conhecimentos acerca da Ditadura Militar. Para isso, acesse o link e leia o resumo realizado sobre os duros anos da Ditadura Militar no Brasil. Direito Ambiental 42 Foi diante do contexto apresentado que a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 passou a valer, sendo conhecida mundialmente como Constituição Cidadã e permanecendo em vigor até a atualidade. Assim, os 245 artigos constitucionais e todas as suas emendas, tendo essas sido implementadas ao longo do seu tempo de atuação, forneceram direitos individuais, coletivos e sociais, assim como passaram a atender pontos que ainda não possuíam um escopo constitucional, mas eram dignos desse posto. Desta feita, a CRFB/88 pode ser caracterizada como amplamente democrática, já que visa garantir, assegurar e proteger os direitos dos cidadãos. Mesmo que a Lei Maior tenha sido responsável por implementar aspectos relacionados à nova forma de governo e à a divisão, autonomia e harmonia entre os poderes, mesmo que tenha dado ampla garantia aos direitos fundamentais, entre outros feitos, ainda é uma norma constitucional considerada incompleta, já que muitos dos dispositivos contidos em seu texto ainda dependem de regulamentação para que entrem em vigor e passem a ser vistos na prática. Dessa forma, situações e pressões internacionais foram atendidas no momento da elaboração do novo texto regulador brasileiro. Foram inseridos artigos e dispositivos voltados exclusivamente para o meio ambiente, levando em conta a sua proteção e manutenção, já que esse cenário passou a ser uma das grandes preocupações para o mundo em geral. Nesse contexto, o Brasil não poderia deixar essa tendência de lado, principalmente quando levamos em conta a extensão florestal brasileira, as riquezas aquáticas, as vegetações, bem como as diversas espécies incumbidas por compor a fauna e a flora brasileira. Direito Ambiental 43 Meio Ambiente e a Constituição de 1988 Como já aprendemos anteriormente, a nossa atual Lei Maior foi a primeira Constituição presente no Brasil responsável por abordar o meio ambiente em seu texto, já que, no momento anterior a sua promulgação, as normas relativas a essa temática só eram discutidas, a nível constitucional, de forma indireta e em normas infraconstitucionais. Em razão da presença dessa regulamentação, alguns passaram a chamar a Constituição, em vigor até atualidade, como “Constituição Verde”. O meio ambiente é abordado em momentos distintos da Constituição, deixando bem clara a importância da sua preservação e a sua interdisciplinaridade no campo legal, pois relaciona-se a diversos assuntos e tópicos. Podemos citar, como exemplo, o estabelecimento da proteção ao meio ambiente como um dos princípios relativos à ordem econômica brasileira. Além disso, existe um capítulo específico para tratar sobre o tema, o “Capítulo IV – Do meio ambiente”. O artigo 170 da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 apresenta os princípios gerais relativos à ordem econômica, ao estabelecer que Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: I - soberania nacional; II - propriedade privada; III - função social da propriedade; IV - livre concorrência; V - defesa do consumidor; VI - defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração e prestação; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 42, de 19.12.2003) VII - redução das desigualdades regionais e sociais; Direito Ambiental 44 VIII - busca do pleno emprego; IX - tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sua sede e administração no País. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 6, de 1995) Parágrafo único. É assegurado a todos o livre exercício de qualquer atividade econômica, independentemente de autorização de órgãos públicos, salvo nos casos previstos em lei. (BRASIL, 1988) Nesse sentido, a nova Constituição brasileira passou a entender o meio ambiente como um bem, sendo esse de uso comum do povo e responsável por promover uma qualidade de vida positiva aos seres humanos e ao planeta como um todo, por isso ele passa a ser considerado um bem essencial para a vida, devendo ser usado conforme o princípio da igualdade. Afinal, independentemente de classe social, cor, raça, sexo, idade, todos possuem direito ao meio ambiente e todos sofrem e são impactados pelas consequências e danos sofridos por ele. Assim, o meio ambiente, além de expressar um direito, também destaca um dever, sendo esse o de sua proteção. Diante disso, o meio ambiente oferece aos seres vivos aspectos essenciais e imprescindíveis para a sua sobrevivência e evolução. Esses aspectos que possuem implicações sobre a saúde dos seres humanos, e consequentemente, para a sua vida e desenvolvimento, seja esse físico ou mental. Salienta-se ainda que os danos promovidos no âmbito ambiental não são responsáveis apenas por atingir as pessoas em suas individualidades, mas também no âmbitocoletivo, englobando ainda prejuízos a gerações futuras, ou seja, podendo afetar a espécie humana como um todo, pois, sem um meio ambiente saudável e sustentável, não há como preservar e manter a vida. Direito Ambiental 45 Nesse sentido, o artigo 225, caput, da Constituição de 1988, dispõe acerca de alguns pontos que já foram apresentados ao longo do nosso estudo, sendo esses: o direito que todos possuem de usufruir de um meio ambiente ecologicamente equilibrado e que deve ser protegido e preservado também em favor das futuras gerações, conforme pode ser visto a seguir. Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. (BRASIL, 1988) SAIBA MAIS: Assim, é importante esclarecer que o equilíbrio ecológico poderá ser compreendido como “o equilíbrio da natureza; estado em que as populações relativas de espécies diferentes permanecem mais ou menos constantes, mediadas pelas interações das diferentes espécies” (ART, 1998, p. 194). Nesse sentido, e com base no texto apresentado pelo dispositivo em análise, podemos verificar que a responsabilidade de defesa e preservação do meio ambiente não cabe somente ao Poder Público, mas é também um papel que precisa ser desempenhado pela coletividade como um todo, abrangendo assim pessoas físicas e jurídicas. Apesar da exigência e da necessidade de uma intervenção conjunta, o Poder Público deve estabelecer esforços e métodos concretos de garantia e proteção aos recursos naturais, envolvendo o meio administrativo, legislativo e jurídico nessa missão. Cabe, portanto, ao Estados promover políticas públicas e ações com o objetivo de alcançar os objetivos constitucionais e legais na prática, afinal o texto e a ideia da proteção ao meio ambiente são belíssimas, contudo precisam ser aplicados na prática para que sejam de fato efetivos e para que possam ter os resultados desejados. Direito Ambiental 46 Diante disso, o parágrafo primeiro do artigo 225 determina quais são as regras que o Poder Público deve seguir para que a efetividade do direito presente no caput seja assegurada: § 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público: I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas; (Regulamento). II - preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético; (Regulamento). III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção; (Regulamento) IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade; (Regulamento) V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente; (Regulamento) VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente; VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade. (BRASIL, 1988) Entre as mencionadas medidas a serem asseguradas, a presente no inciso IV merece destaque, tendo em vista que corresponde ao princípio da avaliação prévia dos impactos ambientais das atividades de qualquer natureza. O que significa esse princípio? Quais são suas implicações com base em seus conhecimentos prévios? Você já ouviu falar no princípio em questão? Pare por alguns segundos e tente conceituar o referido princípio? Direito Ambiental 47 O princípio da avaliação prévia dos impactos ambientais das atividades de qualquer natureza refere-se à destinação de prevenções relativas ao não acontecimento de danos ambientais, pois a maior parte dos prejuízos sofridos em sede de meio ambiente tendem a ser irreversíveis, por isso é que se espera que as mencionadas agressões não ocorram, já que os prejuízos podem ser muitas vezes incalculáveis. Em resumo, podemos entender que grande parte da responsabilidade em destinar proteção ao meio ambiente e aos recursos presentes na natureza cabe ao Poder Público e aos governantes em geral, porém, conforme o caput do artigo 225 da Lei Maior brasileira, ficou claro que a participação e cooperação coletiva devem ser proporcionadas. É inegável, dessa forma, que as pessoas civis e jurídicas possuem responsabilidade sobre a defesa do meio ambiente, que também depende da atuação e das atitudes desses agentes, afinal de nada adiantaria que os chefes dos entes federativos tomassem todas as medidas cabíveis se a população não desse atenção às políticas públicas ou não agisse de forma consciente no dia a dia. Para que o cenário em questão no parágrafo anterior fique mais claro, imagine a seguinte situação: o município X, depois de estudar as necessidades da cidade, decide estabelecer um aterro sanitário com base nas regras de preservação ambiental, também tendo decidido implementar um sistema de coleta seletiva de lixo, no qual a participação da população na separação dos tipos de lixo é imprescindível, já que sem que os moradores da cidade levem a sério o projeto, o lixo não será separado e todos os rejeitos serão jogados em conjunto, tendo em vista que o município não terá condições de contratar garis para efetuarem essa função. Diante desse cenário, se a população não participar, o meio ambiente continuará sendo prejudicado pelo acúmulo inadequado de lixo. Desta feita, segundo Railma Marrone Pereira da Silva (2013), existem três mecanismos responsáveis por incentivar e proporcionar a participação popular direta quando o assunto é a qualidade ambiental, sendo todos reconhecidos pelo Direito Ambiental Brasileiro. Direito Ambiental 48 Assim, em primeiro lugar a população pode participar da etapa criativa das normas relativas ao direito em questão, considerando a existência das leis de iniciativa popular, os referendos e a atuação por meio dos componentes que representam a sociedade civil. Em segundo lugar, destaca-se que a população também poderá atuar na defesa do meio ambiente, sendo que isso acontecerá todas as vezes em que, por meio dos seus atos, forem executadas políticas ambientas. Por fim, a outra forma de participação popular direta ocorre por meio do Poder Judiciário. Assim, quando alguma violação ao meio ambiente for observada, os cidadãos poderão reivindicar a proteção do espaço na justiça, por meio de um dos instrumentos utilizados para essa finalidade, isto é, a ação civil pública presente no art. 5º, LXXII, da CRFB/88. SAIBA MAIS: A ação civil pública é disciplinada pelo artigo 5º, LXXII, da CRFB/88, possuindo uma legislação específica incumbida de disciplinar a mencionada ação quando o assunto for atribuir responsabilidade por danos causados ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico. Para entender melhor o assunto leia a lei na íntegra aqui. Os parágrafos do artigo 225 da Constituição da República Federativa de 1988 são encarregados de implementar responsabilidades pela prática de prejuízos e violações ao meio ambiente. Nesse sentido, as pessoas que explorarem o recurso mineral de forma desmedida deverão recuperar o meio ambiente que foi degradado, bem como as condutas consideradaslesivas tornarão possíveis aplicações de sanções e multas pecuniárias, a nível penal e administrativo, independentemente da obrigação de reparar os danos efetuados. Direito Ambiental 49 RESUMINDO: E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter entendido os principais impactos inseridos pela Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, levando em consideração a importância que passou a ser dada aos direitos fundamentais, dando destaque aos aspectos individuais e sociais como um todo. Além disso, o Direito Ambiental passou a ser assegurado pela primeira vez na Lei Maior Brasileira, deixando bem claro que os recursos naturais precisam ser preservados em razão de sua importância para a humanidade e para o planeta como um todo. Diante disso, ao longo das nossas discussões, demos ênfase aos dispositivos presentes no texto constitucional. Direito Ambiental 50 REFERÊNCIAS ANTUNES, P. de B. Direito Ambiental. 17. ed. São Paulo: Atlas, 2015. ART, H. W. Dicionário de ecologia e ciências ambientais. São Paulo: Melhoramentos, 1998. FIORILLO, C. A. P. Curso de direito ambiental brasileiro. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2007. BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF: Presidência da República, [2016]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/ Constituiçao.htm. Acesso em: 27 mar. 2020. BRASIL. Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981. 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Acesso em: 26 mar. 2020. Direito Ambiental http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/Mensagem_Veto/anterior_98/Mvep359-85.htm 51 HAMANN, R. Entenda por que canudos de plástico são tão prejudiciais para os oceanos. Mega Curioso, [online], 2019. Disponível em: https://www.megacurioso.com.br/ciencia/107043-saiba-por-que- canudos-de-plastico-sao-um-grande-problema-para-os-oceanos.htm. Acesso em: 24 mar. 2020. HELENA, B. Direito da mulher: 18 avanços que já conquistamos e 22 que ainda falta alcançar. Vix, [online], [2010-2021]. Disponível em: https:// www.vix.com/pt/bdm/comportamento/direito-da-mulher-18-avancos- que-ja-conquistamos-e-22-que-ainda-falta-alcancar. Acesso em: 24 mar. 2020. IMPACTOS ambientais do acidente em Mariana (MG). Brasil Escola, [online], [2010-2021]. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/ biologia/impactos-ambientais-acidente-mariana-mg.htm. Acesso em: 25 mar. 2020. MILARÉ, É. Direito do Ambiente: doutrina, prática, jurisprudência e glossário. 3. ed. 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Direito Ambiental Direito Ambiental NATHALIA ELLEN SILVA BEZERRA Breve Histórico Acerca do Direito Ambiental A Importância do Breve Histórico Histórico Legal Ambiental Aspectos Gerais sobre o Direito Ambiental Definição de Meio Ambiente Meio Ambiente Natural Meio Ambiente Artificial Meio Ambiente Cultural Meio Ambiente do Trabalho Definição de Direito Ambiental Princípios Fundamentais do Direito Ambiental Princípio da Prevenção Princípio da Precaução Princípio do Poluidor-Pagador Princípio da Responsabilidade Princípio do Limite O Direito Ambiental sob o Ponto de Vista Internacional Meio Ambiente e o Cenário Internacional Tratados e Convenções Internacionais Ambientais Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC) Protocolo de Kyoto Agenda 21 Rio+10 ou Cúpula Mundial sobre o Desenvolvimento Sustentável Rio+20 Outros Tratados e Convenções Internacionais O Direito Ambiental e a Constituição de 1988 Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 Meio Ambiente e a Constituição de 1988
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