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Tópicos em Direito 1 Sumário 03 TÓPICO 3 – Direito ambiental ........................................................................................05 1.1 Aspectos gerais do meio ambiente: classificação e constituição federal ..........................05 1.2 Princípios ................................................................................................................07 1.3 Licencimento ...........................................................................................................10 1.4 Responsabilidade civil ambiental ................................................................................13 1.5 Responsabilidade penal ambiental .............................................................................14 1.6 Estatuto da cidade ....................................................................................................15 1.7 Espaços territoriais especialmente protegidos ..............................................................18 Tópico 3 05 1.1 Aspectos gerais do meio ambiente: classificação e constituição federal O Direito Constitucional Ambiental pode ser classificado como um Direito difuso, fundamental e de terceira geração, cláusula pétrea e de aplicabilidade direta e imediata (art. 5º, § 1º, CF), apresentando como atributos: irrenunciabilidade, inalienabilidade, indisponibilidade, impenho- rabilidade e imprescritibilidade. A Constituição Federal brasileira consagrou uma nova modalidade de bem, que é denominado difuso e ambiental. A tutela do meio ambiente encontra-se consagrada no art. 225, cuja literalidade assim segue: “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defende-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”. A definição do meio ambiente encontra-se no art. 3º da Lei nº 6938/81, e refere-se a “[...] conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas”. O citado conceito foi recepcionado pela Constituição Federal, visto que objetivou proteger os vários aspectos do meio ambiente, utilizan- do a expressão sadia “qualidade de vida”, caracterizadora do objeto direta de tutela ambiental. Assim, segundo critérios didáticos e estabelecidos de acordo com a identificação da atividade degradadora e do bem imediatamente violado, é possível classificar o meio ambiente segundo suas características. a) Meio ambiente natural Também denominado físico, é aquele constituído pelo solo, subsolo (incluindo os recursos mine- rais), ar, flora, atmosfera, elementos da biosfera, águas (inclusive mar territorial). Segundo o art. 225, caput, da CF, observa-se que houve a proteção ao direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado (bem difuso, humano e fundamental), estabelecendo-se o dever ge- nérico para o Poder Público e para a coletividade em defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. O art. 225, §1º, estabelece os denominados deveres específicos ao Poder Público, como v.g. a promoção do manejo ecológico das espécies, a preservação da biodiversidade, a instituição de espaços territoriais especialmente protegidos, a exigência do estudo prévio de impacto ambiental para atividades potencialmente lesivas ao meio ambiente, o controle da poluição, a promoção da educação ambiental e de proteção da fauna e flora, vedando-se a crueldade contra os animais. Direito ambiental 06 Laureate- International Universities Tópicos em Direito 1 O art. 225, §2º e §3º, prescreveu os deveres específicos ao Poder Político e à coletividade, consistentes na obrigação de recuperar a área degradada pela mineração, bem como na impo- sição de responsabilidade civil, administrativa e criminal em face de condutas lesivas ao meio ambiente. O art. 225, §4º, asseverou o reconhecimento dos biomas Floresta Amazônica brasileira, Mata Atlântica, Serra do Mar, Pantanal Mato-Grossense e Zona Costeira como patrimônio nacional (não foram incluídos o Cerrado e a Caatinga). O art. 225, §5º, prescreve que são indisponíveis as terras devolutas ou arrecadas pelos Estados, por ações discriminatórias, necessárias à proteção dos ecossistemas naturais, com o objetivo de afetá-las, classificando-as como bens públicos dominiais na tutela ambiental, e a sua alienação é proibida. O art. 225, § 6º, por fim, estabelece que as usinas que operem com reator nuclear deverão ter sua localização definida em lei federal, sem a qual não poderão ser instaladas, ou seja, somente a lei federal poderá indicar a localização da instalação de usina nuclear, sob pena de inconsti- tucionalidade formal da lei (estadual, distrital ou municipal). b) Meio ambiente artificial A tutela do meio ambiente artificial encontra-se elencada nos artigos 182 e 225, ambos da Constituição Federal. Sobre o tema, analisa-se o denominado Estatuto da Cidade, que será objeto de estudo em tópico destacado. O meio ambiente artificial compreende os conceitos de espaço urbano construído (espaço urbano dito fechado) e de equipamentos públicos (espaço urbano aberto). c) Meio ambiente laboral Assim como os demais aspectos de meio ambiente, vê-se que o meio ambiente do trabalho apre- senta disposição constitucional expressa na Constituição Federal, conforme se depreende no seu art. 200, inciso VIII, ao dispor que compete ao Sistema Único de Saúde colaborar na proteção do meio ambiente, “nele compreendido o do trabalho”. Nesse sentido, o STF já assinalou a existência do meio ambiente do trabalho no julgado da ADI/ MC 3540, de 01/09/2005. Ademais, a Constituição Federal assevera como um dos fundamen- tos da Ordem Econômica brasileira a valorização do trabalho humano, tendo como um dos pilares a defesa do meio ambiente, na forma do art. 170, inciso VI. O meio ambiente do trabalho compreende o local onde as pessoas desempenham suas ativida- des laborais, remuneradas ou não, relacionadas à sua saúde e à salubridade do meio. d) Meio ambiente cultural Trata-se de conceito previsto no art. 216 da CF e concretiza a ideia de ser aquele “[...] integrado pelo patrimônio histórico, artístico, arqueológico, paisagístico, turístico que possui valor espe- cial” (José Afonso da Silva), e também encontra tutela no art. 225 da CF. Competências constitucionais em matéria ambiental: a) legislativas (art. 22, incisos IV, XII e XVI; art. 24, incisos VI, VII e VIII; art. 30, incisos I e II); b) administrativas (art. 23, incisos III, IV, VI, VII e XI). 07 Observações: A cooperação dos entes políticos no âmbito do meio ambiente encontra eco na lei complementar que regulamenta o art. 23, parágrafo único da Constituição Federal. Trata-se de Lei Complementar nº 140/2011, que estabelece normas, nos termos dos incisos III, VI e VII do caput e do parágrafo único do art. 23 da CF, para a cooperação entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios nas ações administrativas resultantes do exercício da compe- tência comum referentes à tutela das paisagens naturais notáveis, à tutela do meio ambiente, ao combate à poluição em qualquer de suas formas e à preservação das florestas, da fauna e da flora. A mencionada lei prevê como instrumentos de cooperação administrativa para proteção ambien- tal: a) consórcio públicos; b) convênios; c) acordos de cooperação técnica que podem ser firma- dos por prazo indeterminado. Para além disso, foram previstas as comissões tripartite nacional, estaduais e do Distrito Federal. 1.2 Princípios a) Princípio da Prevenção (art. 225, caput e §1º, inciso V da CF) Trata-se de princípio fundamental ao Direito Ambiental, tendo em vista que grande parte dos danos ambientais são irreversíveis e irreparáveis, como a caça profissional em facede uma espé- cie em extinção, a contaminação do subsolo de um aquífero ou a supressão de uma vegetação considerada milenar. Importante observar, portanto, que se trata do objeto fundamental do Direito Ambiental, sendo objeto de preocupação e amparo desde a Conferência de 1992 (princípio 15). No que tange à inserção do princípio no ordenamento jurídico pátrio, a Constituição Federal, em seu art. 225, prescreve ser dever do Poder Público e da coletividade a proteção e preservação do Meio Am- biente para as presentes e futuras gerações. Dessa maneira, concretiza-se na prescrição constitucional impondo o dever a todos (Poder Públi- co e coletividade) de tutelar o meio ambiente para as presentes e futuras gerações, priorizando- -se as medidas preventivas em face dos bens ambientais. O citado princípio será instrumentalizado através da educação ambiental e têm como exemplos de sua aplicação: EIA/RIMA, uso de tecnologias limpas, medidas legislativas impondo multas e sanções gravosas, licenças, autorizações, fiscalização, manejo ecológico, tombamento, incenti- vos fiscais. b) Princípio da Precaução Observa-se a sua consagração implícita no art. 225, §1º, incisos IV e V da CF, bem como na Lei nº 6938/81, Lei nº 9605/98, Lei nº11105/2005, Lei nº12187/2009. O princípio da precaução preconiza que, inexistindo certeza científica ou técnica quanto à possibilidade de ocorrência de dano, devem ser tomadas prévias medidas e cautelas necessárias para impedir a degradação ambiental. O citado princípio pauta-se na ideia do risco (causa humana), que deve ser abstrato (em face do desconhecimento dos resultados da conduta/atividade) e iminente ou futuro. Com o objetivo de impor o gerenciamento a este risco que decorre da incerteza científica ou técnica e impedir a ocorrência de resultado danoso, a Administração deverá impor medidas de avaliação dos im- pactos ambientais (EIA/RIMA). 08 Laureate- International Universities Tópicos em Direito 1 O exemplo mais citado sobre o assunto corresponde ao dos alimentos transgênicos, posto que demandam cuidado e atenção quando da liberação e do plantio de espécies cujas consequên- cias sobre a ingestão são desconhecidas para a saúde humana e o equilíbrio ecológico. c) Princípio do Poluidor-Pagador Encontra-se elencado no art. 225, §§1º, inciso V, 2º e 3º, art. 170, inciso VI, e art. 186, inciso II, todos da CF; arts. 4º, inciso VII, e 14, §1º, ambos da Lei nº 6938/81. O princípio do Poluidor-Pagador estabelece que quem utilizar recurso ambiental deve suportar os custos destinados a tornar possível a sua exploração e os custos decorrentes de sua utilização ante a prevenção, reparação e repressão do dano ambiental. Não se trata de pagar para polir ou de adquirir o direito de poluir por meio da internacionalização dos custos, mas sim da inter- nacionalização das externalidades (que corresponde ao que não se encontra dentro do processo produtivo). A doutrina afirma que o mencionado princípio apresenta três aspectos, a saber: a) preventivo em face dos custos da prevenção; b) repressivo, em relação aos custos da reparação; c) dissuasivo, porque impõe a obrigação de pagar a pecha de incentivo negativo. d) Princípio do Usuário-Pagador O princípio em comento está previsto no art. 4º, inciso VII, da Lei nº 6938/81, e na Lei nº 9433/97. O princípio do Usuário-Pagador desenvolve a ideia de que o usuário de recursos ambientais deva pagar pela sua utilização, sendo o custo gerado pelo simples uso (e não pela poluição). Portanto, difere do princípio do Poluidor-Pagador, pois neste há o evento poluição e a quantia paga funciona como sanção social ambiental. Através da imposição do mencionado princípio, racionaliza-se a utilização do recurso ambiental, caracterizando-se como medida educacional para o seu uso equilibrado. e) Princípio da Participação Este princípio encontra-se sedimentado no art. 1º, caput e parágrafo único, bem como art. 225, caput, ambos da CF. Pode ser entendido como o direito da coletividade de participar das discussões, decisões, exe- cução e fiscalização das políticas ambientais, em atendimento ao princípio da chamada demo- cracia participativa. Encontra-se instrumentalizado segundo a esfera a ser analisada, a saber: a) administrativa: au- diências públicas, participação em órgãos colegiados, direito à informação, EIA, direito de pe- tição; b) judicial: ação popular, ação civil pública e mandados de segurança; c) legislativa: plebiscito, iniciativa popular de projeto de lei e referendo; d) redes sociais, organizações não governamentais, associações etc. f) Princípio da Informação O princípio da informação encontra-se tutelado no art. 5º, incisos XIV, XXXIII, XXXIV e LXXII, e art. 225, inciso IV, ambos da CF, e nas Leis nº 12527/2011, Lei nº 6938/81, Lei nº 9605/98, Lei nº 12305/2010 e Lei nº 10650/2003. O conceito pode ser traduzido como o direito conferido à coletividade para obter informações sobre o meio ambiente. 09 g) Princípio da Cooperação O princípio encontra-se previsto nos artigos 4º, inciso IX, e 225, caput, ambos da CF, bem como na Lei nº 9605/98. Observa-se que, para o deslinde dos conflitos ambientais, deve-se privilegiar a atuação conjunta entre o Estado e a sociedade, através da participação de segmentos sociais. O princípio em es- tudo deita raízes no âmbito nacional (“federalismo cooperativo”) e internacional. h) Princípio da Vedação do retrocesso ambiental Este princípio, apesar de não estar expresso, pode ser depreendido do texto constitucional que estabelece que cabe ao Poder Público a obrigação de preservar e restaurar os processos ecoló- gicos essenciais (art. 225, §1º, inciso I). Nesse sentido, o princípio estabelece que as garantias de proteção ambiental, uma vez assegu- radas, não podem ser diminuídas ou suprimidas, tendo em vista a noção basilar de que o meio ambiente ecologicamente equilibrado é direito fundamental. Portanto, o administrador, assim como o legislador, não pode impor medidas que suprimam a tutela ambiental. i) Princípio da Ubiquidade Apresenta como ideia central a inserção do Direito Ambiental no epicentro dos direitos funda- mentais e humanos, tendo, portanto, a violação ao bem ambiental reflexos negativos em todo o Planeta (caráter de transnacionalidade). Assim, a defesa do direito ao meio ambiente ecolo- gicamente equilibrado deve nortear as diretrizes e atuação dos Poderes Legislativo, Judiciário e Executivo. j) Princípio do Desenvolvimento Sustentável, ou da Sustentabilidade Encontra-se imposto nos artigos 170, incisos II, III, VI e VII, e 225, ambos da Constituição Fe- deral. O princípio estabelece que compete às presentes gerações utilizarem os recursos ambientais sem comprometerem a capacidade de suporte das futuras gerações, buscando de um lado o desen- volvimento econômico e de outro, a tutela ao meio ambiente, assegurando a existência digna. k) Princípio da Solidariedade ou Ética intergeracional (art. 225, caput da CF) O princípio em questão desdobra-se em três diferentes aspectos: a) princípio da solidariedade intergeracional; b) princípio da solidariedade entre espécies; c) princípio da solidariedade entre Estados e cidadãos de distintos países. l) Princípio da Educação Ambiental Está previsto no art. 225, §1º, inciso VI da Constituição Federal, e nas Leis nº 6938/81 e Lei nº 9795/99. O princípio da educação ambiental preconiza, além da noção da informação ambiental, a da necessidade da conscientização por parte de toda a coletividade sobre a importância da tutela ambiental e dos direitos e deveres individuais e do Poder Público sobre a matéria. 10 Laureate- International Universities Tópicos em Direito 1 1.3 Licencimento Trata-se de um dos mais importantes instrumentos para a realização da Política Nacional do Meio Ambiente, previsto no art. 9º, inciso IV, da Leinº 6938/81. Para além do dispositivo citado, o art. 10, caput, da Lei nº 6938/81 (com redação dada pela Lei Complementar nº 140/2011) prescreve que: [...] a construção, instalação, ampliação e funcionamento de estabelecimentos e atividades utilizadores de recursos ambientais, efetiva ou potencialmente poluidores ou capazes, sob qualquer forma, de causar degradação ambiental dependerão de prévio licenciamento ambiental[...] Isso é condição para o exercício e funcionamento de atividades econômicas potencialmente poluidoras e concessão de benefícios por parte das entidades e dos órgãos de financiamento e incentivos governamentais (art. 12, Lei 6938/81). Segundo o art. 1º, inciso I, da Resolução CONAMA 237/1997, o licenciamento ambiental é [...] procedimento administrativo pelo qual o órgão ambiental competente licencia a localização, instalação, ampliação e a operação de empreendimentos e atividades utilizadoras de recursos ambientais, consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras ou daquelas que, sob qualquer forma, possam causar degradação ambiental, considerando as disposições legais e regulamentares e as normas técnicas aplicáveis ao caso. Também passou a ser definido no art. 2º, inciso I, da Lei Complementar 140/2011: “[...] o pro- cedimento administrativo destinado a licenciar atividades ou empreendimentos utilizadores de recursos ambientais, efetiva ou potencialmente poluidores ou capazes, sob qualquer forma, de causar degradação ambiental”. Portanto, o licenciamento diz respeito a um procedimento administrativo, não sendo mero ato administrativo, possuidor de várias etapas e com a finalidade de obtenção de licença ambiental. Importante ainda salientar que apenas será admitido o licenciamento ambiental promovido por um único ente federativo, podendo as demais esferas de governo se manifestarem de maneira informativa e não vinculante (art. 13, LC nº 140/2011). • Competência: o critério é o da repartição de competências, sendo comum entre os entes federados: União, Estados, Distrito Federal e os Municípios (Lei Complementar nº 140/2011). Resta ainda esclarecer que, mesmo que a competência para a promoção do licenciamento seja de apenas um órgão, não restará excluído o poder de fiscalização dos demais entes da federação, segundo o disposto no art. 17 da LC nº 140/2011. Observações: 1. Os principais critérios determinantes de fixação de competência material para promover o licenciamento ambiental são: a) critério da dimensão do impacto ou dano ambiental (decorrente do princípio da preponderância do interesse); b) critério da dominialidade do bem. Há também o critério da atuação supletiva, segundo o qual, quando o órgão ambiental do ente da federação de menor extensão territorial não puder licenciar, o de maior abrangência territorial o realizará, segundo o disposto no art. 14 da LC nº 140/2011. 2. O art. 2º da LC diferenciou a chamada atuação supletiva (substituição) da atuação subsidiária (colaboração). A primeira consiste na ação do ente da federação que se substitui ao ente federativo originariamente detentor das atribuições previstas na LC nº 140/2011, 11 enquanto a segunda é a ação do ente da federação que visa auxiliar no desempenho das atribuições decorrentes das competências comuns, quando solicitado pelo ente federativo originariamente detentor das atribuições previstas na LC nº 140/2011, operando-se por meio de apoio técnico, científico, administrativo ou financeiro, sem prejuízo de outras formas de cooperação. 3. Para a fixação da competência para o licenciamento ambiental em unidades de conservação, exceto nas áreas de proteção ambiental, o art. 12 da Lei Complementar nº 140/2011 adotou expressamente o critério do ente federativo instituidor da unidade de conservação. 4. O disposto na LC nº 140/2011 aplicar-se-á aos processos de licenciamento e autorização ambiental iniciados a partir de sua vigência, não tendo eficácia retroativa. 5. As competências licenciatórias da União, exercidas através do IBAMA, estão dispostas no art. 7º, inciso XIV, da LC nº 140/2011, observando o critério da dominialidade do bem público e o critério do ente federativo instituidor da unidade de conservação (exceto em Áreas de Proteção Ambiental – APAs). Ainda será da competência federal licenciar as atividades que atendam à tipologia estabelecida por ato do Poder Executivo, a partir de proposição da Comissão Tripartite Nacional, assegurada a participação de um membro do Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA). 6. As competências dos Estados para o licenciamento ambiental foram elencadas de maneira remanescente às federais e municipais, conforme o art. 8º, inciso XIV, da LC nº 140/2011. Para além disso, segundo o disposto no art. 8º, inciso XV, da LC nº 140/2011, os Estados promoverão o licenciamento ambiental de atividades ou empreendimentos localizados ou desenvolvidos em unidades de conservação instituídas pelo Estado, exceto em Áreas de Proteção Ambiental (APAs), tendo em vista que, nesse caso, a competência estadual será residual (nos casos excluídos nas competências federais e municipais). 7. As competências dos Municípios para licenciar estão previstas no art. 9º da LC nº 140/2011. Observa-se, neste ponto, a inovação de que a competência municipal de licenciamento será definida pelos Conselhos Estaduais do Meio Ambiente, considerando os critérios de potencial poluidor e natureza da atividade. 8. Como o Distrito Federal não possui municípios, segundo o art. 10 da LC nº 140/2011, o citado ente acumulará competências para o licenciamento analisadas para os Estados e os Municípios. 9. No que tange ao caso de supressão ou manejo de florestas situadas em terras devolutas ou florestas públicas federais, a competência licenciatória foi fixada conforme o critério da dominialidade do bem público afetável, cabendo ao IBAMA o licenciamento nas terras devolutas federais, e os Estados, nas estaduais. 10. Na hipótese de supressão ou manejo de florestas situadas em unidades de conservação, foi adotado o critério do ente federativo instituidor, salvo no que tange às áreas de proteção ambiental. 11. De acordo com o art. 8º, inciso XVI, da LC nº 140/2011, competirá aos Estados e ao Distrito Federal licenciar a supressão e o manejo de vegetação em imóveis rurais, salvo no caso de competência federal (unidades de conservação criadas pela União, exceto as APAs, terras devolutas federais, florestas públicas federais e demais empreendimentos de competência do IBAMA e listados no art. 7º, inciso XV). 12 Laureate- International Universities Tópicos em Direito 1 Licenças ambientais No procedimento de licenciamento, aprovado o empreendimento, será expedida a licença am- biental que, nos termos do art. 1º, inciso II, da Resolução do CONAMA 237/1997, caracteriza- -se como [...] ato administrativo pelo qual o órgão ambiental competente estabelece as condições, restrições e medidas de controle ambiental que deverão se obedecidas pelo empreendedor, pessoa física ou jurídica, para localizar, instalar, ampliar e operar empreendimentos ou atividades utilizadoras dos recursos ambientais consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras ou aquelas que, sob qualquer forma, possam causar degradação ambiental. As etapas do processo de licenciamento ambiental estão presentes no art. 10 da Resolução CO- NAMA 237/1997. Segundo o art. 8º da Resolução CONAMA 237/1997 e o art. 19 do Decreto nº 99274/1990, as licenças podem ser: a) Licença Prévia (LP): concedida preliminarmente, apenas aprovando o projeto, atestando a sua viabilidade ambiental e os respectivos condicionantes e requisitos básicos para as próximas fases de sua implementação; b) Licença de Instalação (LI): autoriza a instalação do empreendimento, impondo condicionantes que deverão ser observados; c) Licença de Operação (LO): permiteo início das atividades segundo o projeto aprovado, indicando as medidas ambientais de controle e os condicionantes. Observações: 1. A licença prévia tem prazo de validade de até cinco anos; a licença de instalação não poderá ter validade superior a seis anos; enquanto que a licença de operação terá prazos que irão variar entre quatro e dez anos, sempre a critério do órgão ambiental, e a sua renovação deverá ser requerida com antecedência mínima de 120 dias do seu vencimento, ficando automaticamente renovada até a manifestação do órgão competente. 2. Segundo a Lei Complementar nº 140/2011, art. 15, o decurso dos prazos de licenciamento sem a emissão da licença ambiental não implica emissão tácita nem autoriza a prática de ato que dela dependa ou decorra, apenas instaurando a competência supletiva (ação do ente da federação que se substitui ao ente federativo originariamente detentor de atribuições). 3. Licenciamento simplificado, ou unifásico: é aquele produzido quando a atividade ou o empreendimento não trouxer significativo impacto ambiental. Estudo de Impacto Ambiental (EIA) A avaliação de impactos ambientais (AIA) ou estudos ambientais deve ser considerada como um instrumento para a implementação da Política Nacional do Meio Ambiente, conforme o prescrito no art. 9º, inciso III, da Lei nº 6938/1981 e Resolução CONAMA 01/1986. O Estudo de Impacto Ambiental (EIA) compreende uma modalidade de estudo ambiental, de natureza constitucional, sendo dever do Poder Público para assegurar o equilíbrio do meio ambiente “[...] exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degra- dação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade” (art. 225, § 1º, inciso IV, da CF, grifo nosso). 13 O conteúdo mínimo encontra-se elencado no art. 6º da Resolução CONAMA 01/1986, e suas diretrizes, no art. 5º do mesmo diploma normativo. Faz-se mister salientar que o EIA será elaborado por uma equipe multidisciplinar contratada pelo empreendedor, com habilitação técnica nos Conselhos de Classe, devendo o estudo abranger questões exigidas pelo órgão ambiental. Convém salientar que, mesmo em face de lacuna na regulamentação do CONAMA, compreende-se que o órgão ambiental não está vinculado às conclusões do EIA, contudo, em caso de discordância, deverá fundamentar, segundo informa- ções da equipe técnica do próprio órgão ambiental. Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) Trata-se de documento que apresenta as conclusões do EIA, devendo ser apresentado em lin- guagem objetiva e adequada à sua compreensão, sendo seu teor de caráter público, ressalvada a hipótese de sigilo industrial (art. 11 da Resolução CONAMA 01/1986). O conteúdo do RIMA encontra-se estabelecido no art. 9º da citada Resolução. Audiência Pública: Poderá ser realizada audiência pública no EIA/RIMA, a critério do órgão licen- ciador, que terá como objetivo expor aos interessados o conteúdo do estudo e de seu relatório, dirimindo dúvidas, recolhendo críticas e sugestões, sendo tudo registrado e considerado para a aprovação ou rejeição do projeto. Também ocorrerá audiência pública se for solicitado por enti- dade civil, pelo Ministério Público ou por, no mínimo, cinquenta cidadãos. Observação: se não ocorrer a audiência pública nas hipóteses mencionadas, a eventual licença concedida será considerada inválida, conforme o art. 2º, § 2º, da Resolução CONAMA 09/1987. 1.4 Responsabilidade civil ambiental A responsabilidade ambiental do poluidor em sobre a ocorrência de um dano pode se dar sob tríplice aspecto: administrativa, civil e penalmente, sendo autônomas e independentes (art. 225, § 3º, CF). Dano ambiental: trata-se de ponto fundamental e que pode ser caracterizado como qualquer lesão oriunda de atividade ou conduta de pessoa física ou jurídica a um bem jurídico ambiental. Vale ressaltar que haverá um dano mesmo quando a atividade derive de um ato lícito, ou seja, mesmo quando resultar dentro de padrões ambientais. Poluição e degradação ambiental: art. 3º, inciso IV, da Lei nº 6938/81 (rol exemplificativo). A poluição caracteriza-se como degradação ambiental resultante da atividade do homem e violadora da qualidade ambiental, resultando em danos que afetem a saúde, segurança e bem- -estar da população. No que tange ao pedido, quando da ocorrência de um dano ambiental, impõe, se possível e em ordem cronológica de priorização: a) a reparação in natura (art. 4º, VI, da Lei nº 6938/81); b) compensação ambiental/ecológica; c) indenização, na qual os valores serão arrecadados para o denominado Fundo de reconstrução dos bens lesados (Lei nº 7347/81). A responsabilidade civil apresenta três características básicas, a saber: é objetiva, solidária (en- tre poluidor direto e indireto) e integral (art. 14, §1º, Lei nº 6938/81 e art. 225, §3º, da CF), pautando-se na teoria do risco da atividade. Tal teoria apresenta duas subteorias, quais sejam: a) teoria do risco criado (“causalidade adequada”) e teoria do risco integral (“equivalência das condições”). A primeira busca a identificação da causa geradora do resultado, sendo admitidas 14 Laureate- International Universities Tópicos em Direito 1 as excludentes de força maior, caso fortuito e culpa de terceiros (fato da vítima) por parte de quem as alega. Trata-se de corrente minoritária jurisprudencialmente. A segunda corrente, ao contrário da anterior, não admite excludentes ou atenuantes, pois baseia-se na ideia de que o bem ambiental é de natureza indisponível e que a responsabilidade é objetiva. No que se refere ao nexo causal, convém mencionar que a regra é a da comprovação da relação entre a conduta danosa e o resultado, sendo dispensada excepcionalmente no caso de obrigação de preservação da área de reserva legal florestal (obrigação propter rem). • Prescrição da ação de responsabilidade: a ação para a reparação do dano ambiental é imprescritível, em face do princípio da ética intergeracional (solidariedade entre as gerações), pelo fato de o direito ambiental ter como objeto de tutela a vida em todas as suas formas, que se constitui em direito humano e fundamental, e ainda de o bem ambiental ser indisponível e de titularidade coletiva. • Desconsideração da personalidade jurídica (art. 4º, Lei nº 9605/98): poderá incidir a desconsideração da pessoa jurídica toda vez que isso for um obstáculo ao ressarcimento dos danos causados ao meio ambiente (teoria do disregard of legal entity). • Em matéria de responsabilidade civil ambiental, não há o chamado direito adquirido para afastar os ilícitos ambientais. 1.5 Responsabilidade penal ambiental O tema encontra-se previsto no art. 225, §1º, da CF, e na Lei nº 9605/98. Nos tipos penais elencados, observa-se que o sujeito ativo pode ser qualquer pessoa física (art. 2º) ou jurídica (art. 3º), enquanto o sujeito passivo direto é a coletividade. Já o sujeito indireto é a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios. Responsabilidade penal da pessoa jurídica (art. 225, § 3º, da CF, e art. 3º, Lei nº 9605/98): Requisitos para configuração: a) que a infração seja cometida por decisão de representante legal, contratual ou órgão colegiado; b) que a infração seja praticada no interesse ou benefício da entidade (não necessita ser pecuniário, podendo ser caracterizado como ganho institucional à pessoa jurídica); c) não exclui a responsabilidade penal das pessoas físicas. Observações: a) importante salientar que há o reconhecimento da possibilidade da responsabilidade penal da pessoa física isolada da pessoa jurídica, ou seja, é possível processar penalmente a pessoa jurídica por crime ambiental, prescindindo-se da indicação da pessoa física responsável pelo fato criminoso (STF, RE 548181/PR, Rel. Min. Rosa Weber); b) ação penal: I. aplicação subsidiária dos dispositivospenais; II. ação penal é de natureza pública incondicionada, sendo cabível ação subsidiária da pública; III. Possibilidade de realização de transação, desde que tenha sido realizada prévia composição do dano ambiental; 15 c) os crimes ambientais são assim divididos: I. crimes contra a fauna; II. crimes contra a flora; III. crimes de poluição; IV. crimes contra o ordenamento urbano e patrimônio cultural; V. crimes contra a administração ambiental. » A lei prevê tipos penais dolosos e admite, em alguns casos, a modalidade culposa (arts. 54, 56, 62, 67, 68 e 69-A). » A técnica utilizada em alguns tipos penais foi a da norma penal em branco. » Há modalidades de tipos de dano e de perigo, enunciando o legislador que basta a probabilidade da ocorrência do dano para configurar a modalidade delitiva. Existem também tipos penais que configuram crimes de mera conduta, para o quais a consumação se verifica com a simples ação ou omissão, dispensando-se a ocorrência de resultado naturalístico da ação. d) penalidades cabíveis: 1) para pessoas físicas: pena privativa de liberdade, restritiva de direitos e multa; 2) para pessoas jurídicas: a pena aplicável isolada, cumulativa ou alternativamente, segundo o disposto no art. 3º: multa, restritiva de direitos, prestação de serviços à comunidade (arts. 21, 22 e 23). e) Aplicação e gradação das penas impostas: a autoridade competente deve apurar as consequências e a extensão do dano, analisando a gravidade do fato, os antecedentes do infrator em relação ao cumprimento do ordenamento ambiental, bem como a situação econômica do infrator (art. 6º). Por fim, serão consideradas as atenuantes (art. 14) e agravantes previstas em lei (art. 15). f) Possibilidade de aplicação da suspensão condicional da pena nos casos em que a pena privativa de liberdade não for superior a três anos (art. 16). g) Causas excludentes de ilicitude (art. 79 e 37). h) Competência: a Súmula 91 do STJ, que previa a Justiça Federal como competente para processar e julgar os crimes praticados contra a fauna foi cancelada. 1.6 Estatuto da cidade O tema em questão encontra-se regulamentado Lei nº 10257/2001, que regulamenta a política urbana e os arts. 182 e 183, ambos da Constituição Federal de 1988. As normas jurídicas disciplinadas no citado diploma legal possuem natureza jurídica de normas de ordem pública e interesse social que regulamentam o uso da propriedade urbana para alcan- çar o chamado equilíbrio ambiental (art. 1º, Lei nº 10257/2001) e determinam aos Municípios a competência material para executar a política urbana (art. 182, CF). A Lei apresenta o objetivo de ordenar o pleno uso das funções sociais da cidade e da proprie- dade urbana (art. 2º), alcançando o que denomina de “cidade sustentável” (art. 2º), conforme os seguintes parâmetros: “I - Garantia do direito a cidades sustentáveis através do exercício dos direitos inerentes à terra urbana, moradia, saneamento ambiental, infraestrutura, transporte, ser- viços públicos, trabalho e lazer para as presentes e futuras gerações”. Também merece destaque a gestão democrática como objetivo/diretriz para o desenvolvimento preconizado no menciona- do artigo, afirmando-se que este será instrumentalizado através da democracia participativa da 16 Laureate- International Universities Tópicos em Direito 1 coletividade e dos demais segmentos da comunidade, com o fim de formular e executar planos, programas e projetos de desenvolvimento urbano, assim como através da participação dos três níveis da Federação no planejamento da cidade. Função social da cidade Sobre o tema, é importante destacar três pontos fundamentais: a) diz-se que a propriedade urbana cumpre sua função social quando atende às exigências de ordenamento da cidade expressas no Plano Diretor, a saber: vida (art. 5º, CF), justiça social (Preâmbulo Constitucional) e desenvolvimento econômico (art. 170, CF); b) objetiva-se a busca de uma “cidade sustentável” e o pleno desenvolvimento da propriedade ordenada e sem degradação; c) a União possui competência legislativa para fixar regras gerais para o pleno desenvolvimento urbano (art. 21, inc. XX, da CF), enquanto que os Municípios possuem competência administrativa/material para executar a política urbana (art. 182, caput, CF). Instrumentos (rol exemplificativo) O citado diploma legal enumera instrumentos de planejamento municipal (art. 4º, inciso III): pla- no diretor, parcelamento do uso e ocupação do solo; zoneamento ambiental; plano plurianual; diretrizes orçamentárias; gestão democrática; gestão orçamentária participativa; planos, progra- mas e projetos setoriais; planos de desenvolvimento econômico e social. Plano diretor: A lei, aprovada pela Câmara Municipal, que institui o plano diretor deve ser revista, pelo menos, a cada dez anos, sendo plurianual e englobando o território de todo o Município. É obrigatório para cidades com mais de 20 mil habitantes, caracterizando-se como instrumento básico da política urbana e de cumprimento de função social. O mencionado diploma legal também apresenta instrumentos tributários e financeiros: IPTU, contribuições de melhoria e incentivos fiscais e financeiros; e formula a enumeração de instru- mentos jurídicos e políticos (art. 4º, inciso IV): desapropriação, servidão administrativa; limitação administrativa; tombamento; instituição de unidade de conservação; instituição de zonas de es- pecial interesse social; concessão de direito real de uso; concessão de uso especial para fins de moradia; parcelamento, edificação ou utilização compulsórios; usucapião; direito de superfície; direito de preempção; outorga onerosa do direito de construir ou alteração do uso; transferência do direito de construir; operações urbanas consorciadas; regularização fundiária; assistência técnica/jurídica gratuita para comunidade; referendo e plebiscito; demarcação urbana para fins de regularização fundiária; legitimação de posse. 17 Parcelamento, edificação ou utilização compulsórios do solo não edificado, subutilizado ou não utilizado (lei municipal específica): se houver uma dessas três hipóteses, será procedida a notificação a ser averbada no Cartório de Registro de Imóveis (art. 5º) com o fim de cumpri- mento da obrigação estabelecida em determinado prazo pelo executivo municipal. IPTU progressivo: ocorre quando da inobservância da obrigação do parcelamento, da edifica- ção ou da utilização no prazo estabelecido pelo executivo municipal, o Município. Nesse caso, o Município procederá à aplicação do IPTU progressivo no tempo, através da majoração da alíquota pelo prazo de cinco anos consecutivos (art. 7º, caput). Desapropriação: decorridos cinco anos de cobrança do IPTU progressivo sem que o proprietá- rio tenha cumprido a obrigação de parcelamento, edificação ou utilização, o Município poderá proceder à desapropriação com pagamento em títulos da dívida pública (art. 8º). Direito de superfície: o direito de construir na superfície, no espaço aéreo ou subsolo de um lote pode ser concedida (de forma gratuita ou onerosa) independentemente da propriedade do lote, através de escritura pública registrada no Cartório de Registro de Imóveis (art. 21) Direito de preempção (direito de preferência): consiste na garantia de que o Município exerça a preferência na compra de determinado imóvel em uma eventual alienação, desde que o imóvel se encontre em uma área predefinida em lei municipal. Portanto, é conferido ao Poder Público municipal a preferência para aquisição de determinado imóvel urbano objetivando a alienação onerosa entre particulares, incidente sobre uma área determinada por lei municipal (art. 25). Outorga onerosa do direito de construir (“solo criado”): possibilidade de o proprietário do imóvel urbano construir acima dos limites estabelecidos pela legislação urbanística, ou seja, acimado coeficiente de aprovação básico adotado (relação entre a área edificável e a área do terreno) (art. 30). Operações urbanas consorciadas: trata-se de intervenções e medidas coordenadas pelo Poder Público municipal com a participação dos proprietários, moradores, usuários e investidores pri- vados, com o objetivo de alcançar em determinada área melhorias sociais e valorização ambien- tal. A área de ocupação urbana consorciada será delimitada através de lei municipal (art. 32). Transferência do direito de construir: permite que o proprietário aliene ou passe para outra propriedade dele o direito de construir tendo como finalidade a preservação do imóvel com va- lores históricos, paisagísticos ou áreas frágeis (lei municipal). Estudo de impacto de vizinhança (EIV) (arts. 4º, 36 a 38): não substitui o Estudo de Impacto Ambiental (EIA). Trata-se de instrumento que tem como finalidade evitar e acautelar as cidades contra um crescimento (diferente de desenvolvimento) desordenado, de forma a garantir os va- lores de saúde e bem-estar da coletividade. Nesse estudo preventivo, são avaliados os impactos positivos e negativos de uma obra, atividade ou empreendimento que dependerá de autorização ou licença (arts. 36 e 37). Abrange área urbana e encontra-se prevista em lei municipal. 18 Laureate- International Universities Tópicos em Direito 1 1.7 Espaços territoriais especialmente protegidos O art. 225, §1º, inciso III, da CF estabelece que é incumbência do Poder Público definir, em to- das as unidades da Federação, os espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção. Trata-se de disposição que ratifica o princípio da vedação do retrocesso em matéria ambiental, pois apenas a lei, em sentido estrito, criadora do espaço ambientalmente protegido, poderá prever: a dimi- nuição da sua dimensão; a redução da proteção ambiental e a extinção do espaço protegido. Após o advento do Código Florestal (Lei nº 12.651/2012), tem-se os seguintes espaços am- bientais com especial proteção: a) áreas de preservação permanente; b) apicuns e salgados; c) reserva legal; d) unidades de conservação; e) áreas verdes urbanas; f) áreas de uso restrito. O citado diploma legal estabelece normas gerais inerentes a tutela da vegetação, áreas de preser- vação permanente, áreas de reservas legais, exploração florestal, suprimento de matéria-prima florestal, controle da origem dos produtos florestais e controle e prevenção dos incêndios flores- tais, prevendo, também, instrumentos econômicos e financeiros para o alcance de seus objetivos, sempre tendo como base o desenvolvimento sustentável. Ademais, prevê os princípios informadores, e no art. 2º reproduz a redação do art. 1º do Código revogado, afirmando que [...] as florestas existentes no território nacional e as demais formas de vegetação nativa, reconhecidas de utilidade às terras que revestem são bens de interesse comum a todos os habitantes do país, exercendo-se os direitos de propriedade com limitações que a legislação em geral e especialmente esta Lei estabelecem. (grifo nosso). De outra parte, o diploma legal trouxe disposições sobre o pequeno proprietário ou possuidor rural (prédio rústico de até quatro módulos fiscais): o cadastro ambiental rural (CAR), no âmbi- to do Sistema Nacional de Informação sobre Meio Ambiente, é o registro púbico eletrônico de âmbito nacional, obrigatório para todos os imóveis rurais, com o fim de integrar as informações ambientais das propriedades e de posses rurais, formando base de dados para controle, monito- ramento, planejamento ambiental e econômico e combate ao desmatamento, devendo ser reali- zado de forma preferencial perante o órgão ambiental estadual ou municipal. Também houve a previsão da instituição pelas entidades públicas (exceto os municípios) no prazo de um ano após a publicação do novo Código Florestal, prorrogável uma vez por igual prazo, dos chamados Pro- gramas de Regularização Ambiental (PRAs), que objetivam regularizar os imóveis rurais em face de situações consolidadas até 22 de julho de 2008, cuja assinatura do termo de compromisso repercutirá na esfera administrativa e criminal com a extinção da punibilidade (além da civil). Áreas de preservação permanente (APPs): [...] área protegida, coberta ou não por vegetação nativa, com função ambiental de preservar, os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica e a biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas. (art. 3º, II da Lei nº 12651/2012). Segundo o art. 4º, as áreas são instituídas pelo Código Florestal em áreas urbanas ou rurais, independentemente de qualquer providência demarcatória pela Administração Pública ambiental e possuindo a natureza jurídica de limitação de uso ao direito de propriedade (não sendo cabível indenização aos proprietários pelo seu regime jurídico especial restritivo). Contudo, a Lei estabe- lece hipóteses que dependem de ato do Poder Público para delimitação da APP, como é o caso dos reservatórios de água artificiais. 19 De acordo com o art. 4º, as APPs podem ser divididas em: I) mata ciliar (faixas marginais de qualquer curso d’água natural perene ou intermitente, cuja função é a de prevenir o assoreamento dos cursos d’água e a segurança contra enchentes, posto que auxiliam na absorção das águas durante as cheias; II) entorno de lagos e lagoas naturais, em faixa com largura mínima de 100 metros, em zonas rurais, exceto para o corpo d’água com até 20 hectares de superfície, cuja faixa marginal será de 50 metros, ou 30 metros em zonas urbanas; III) entorno de reservatórios d’água artificiais decorrentes de barramento ou represamento de cursos d’águas naturais (pelo novo diploma legal, houve uma redução na proteção florestal não prevendo mais áreas ao redor dos reservatórios naturais). A faixa no entorno do reservatório será definida pela licença ambiental, não possuindo, portanto, o art. 4º, II, aplicabilidade imediata. Observa-se da literalidade do diploma que não existirá APP no entorno dos reservatórios. Deve-se anotar ainda que, segundo o art. 5º, na implantação de reservatório d’água artificial destinado à geração de energia ou abastecimento público, é obrigatória a aquisição, a desapropriação ou a instituição de servidão administrativa pelo empreendedor das APPs criadas em seu entorno, segundo estabelecido no licenciamento ambiental (Plano Ambiental de Conservação e Uso do Entorno do Reservatório) e observando- se a faixa mínima de 30 metros e máxima de 100 metros em área rural, e a faixa mínima de 15 metros e máxima de 30 metros em área urbana; IV) entorno de nascentes e olhos d’água: consideram-se APPs as áreas no entorno das nascentes e dos olhos d’água perenes, qualquer que seja a sua situação topográfica, no raio mínimo de 50 metros; V) encostas ou partes destas com declividade acima de 45º, equivalente a 100% na linha de maior declive; VI) restingas, como fixadoras de dunas ou estabilizadoras de mangues; VII) manguezais em toda a sua extensão; VIII) bordas de tabuleiros ou chapadas, até a linha de ruptura do relevo, em faixa nunca inferior a 100 metros, em projeções horizontais; IX) topos de morros, montes, montanhas e serra, com altura mínima de 100 metros e inclinação média maior que 25º: as áreas delimitadas a partir da curva de nível correspondente a 2/3 da altura mínima da elevação sempre em relação à base, sendo esta definida pelo plano horizontal determinado por planície ou espelho d’água adjacente ou, nos relevos ondulados, pela cota do ponto de sela mais próximo da elevação; X) as áreas em altitude superior a 1800 metros, qualquer que seja avegetação; XI) em veredas, a faixa marginal, em projeção horizontal, com largura mínima de 50 metros, a partir do limite do espaço brejoso e encharcado. O artigo 6º também contempla como APP a área coberta com florestas ou outras formas de ve- getação, declarada de interesse social por ato do Chefe do Poder Executivo e destinada a uma das finalidades estabelecidas em seus incisos. Em regra, não será possível a supressão de vegetação em área de preservação permanente, em face das funções ecológicas que assim justificam. Contudo, será permitido o acesso de pessoas e animais nestas áreas com o fim de obtenção de água e realização de atividades de baixo impacto ambiental, conforme prescreve o art. 9º do Código Florestal. 20 Laureate- International Universities Tópicos em Direito 1 Importante salientar que, segundo o art. 7º, positivou-se jurisprudência do STJ no sentido de que, na hipótese de desmatamento de vegetação em APP, o poluidor deverá recuperar a área, sendo também obrigação do proprietário realizá-lo, mesmo que não tenha sido o autor do dano ambiental (obrigação propter rem). Observações: a) apenas para os proprietários ou possuidores de imóvel com APP desmatada a partir de 23 de julho de 2008, é vedada a concessão de novas autorizações de supressão de ve- getação enquanto não ocorrer a recomposição da área; b) é possível o licenciamento ambiental para a exploração em vegetação em APP nas hipóteses de utilidade pública, interesse social ou de baixo impacto ambiental (art. 3º, VIII, IX e X do Código Florestal); c) é permitido, excepcional- mente, o licenciamento ambiental para a supressão vegetal em manguezais para a execução de obras habitacionais e urbanização (art. 8º, §2º); d) o novo diploma florestal dispensou a auto- rização do órgão ambiental competente para a execução, em caráter de urgência de atividades de segurança nacional e obras de interesse da defesa civil destinadas à prevenção e mitigação de acidentes em áreas urbanas. • Áreas consolidadas em APPs: art. 61-A – “[...] nas áreas de preservação permanente é autorizada, exclusivamente, a continuidade das atividades agrossilvipastoris, de ecoturismo e de turismo rural em áreas consolidadas até 22 de julho de 2008.” Reserva legal (art. 3º, III): “[...] área localizada no interior de uma propriedade ou posse rural, delimitada nos termos do art. 12 com a função de assegurar o uso econômico de modo susten- tável dos recursos naturais do imóvel rural, auxiliar a conservação e a reabilitação dos processos ecológicos e promover a conservação da biodiversidade, bem como o abrigo e a proteção da fauna silvestre e da flora nativa”. Os percentuais mínimos da reserva legal estão disciplinados no art. 12, e dentre eles, observa-se a inserção da chamada Amazônia Legal (área que engloba nove estados brasileiros pertencentes à Bacia amazônica e a área de ocorrência das vegetações amazônicas). Observações: a) segundo o art. 19, o imóvel rural em perímetro urbano (definido mediante lei municipal) não desobriga o proprietário ou posseiro à manutenção da área de reserva legal; b) o proprietário de um imóvel originariamente rural terá extinta a reserva legal apenas quando o município aprovar o registro do parcelamento do solo urbano que contenha a sua área, confor- me o plano diretor do município, não bastando a inserção do imóvel rural em perímetro urbano definido em lei municipal. A reserva legal tem natureza jurídica de limitação ao uso da propriedade, não sendo, portanto, indenizável. O art. 44 estabelece a Cota de Reserva Ambiental (CRA), que consiste em um título nominativo ou representativo de área com vegetação nativa, existente em processo de recuperação. Cabe afirmar que o proprietário ou possuidor de imóvel com reserva legal conservada e inscrita no CRA, cuja área ultrapasse o mínimo exigido pelo Código Florestal (art. 12), poderá utilizar a área excedente para fins de constituição de servidão ambiental e Cota de Reserva Ambiental. Pelo art. 15, observa-se que será admitido o cômputo das APPs no cálculo do percentual da Reserva Legal do Imóvel, desde que presentes uma das suas hipóteses. Assim, será possível computar as áreas de preservação permanente no cálculo da reserva legal. O diploma em estudo inovou com a previsão da não exigência da reserva legal para determi- nados empreendimentos (art. 12): de abastecimento público de água e tratamento de esgoto; áreas adquiridas ou desapropriadas por detentor de concessão, permissão ou autorização para exploração de potencial de energia hidráulica, nas quais funcionem empreendimentos de gera- ção de energia elétrica; áreas adquiridas ou desapropriadas com o objetivo de implantação e ampliação de capacidade de rodovias e ferrovias. 21 Antes da Lei nº 12727/2012, previa-se que a reserva legal deveria ser sempre registrada no Cartório de Imóveis mediante averbação, contudo, tal obrigatoriedade foi extinta. Com a pro- priedade, foi instituído o dever do proprietário de registrar a reserva legal no Cadastro Ambiental Rural no órgão ambiental competente (art. 18). Vale ressaltar que, na área de reserva legal, é defeso o corte raso da vegetação, mas há a pos- sibilidade de exploração por meio do manejo florestal sustentável (art. 17). Apicuns e salgados (art. 11-A). Áreas de uso restrito: destinam-se a proteger e fomentar o desenvolvimento dos pantanais e das planícies pantaneiras do Brasil, tendo como exemplo o Bioma Pantanal Mato-Grossense (patri- mônio nacional previsto no art. 225, § 4º, da CF). Áreas verdes urbanas: espaços públicos ou privados com predomínio de vegetação, preferencial- mente nativa, natural ou recuperada, previstos no plano diretor, nas leis de Zoneamento Urbano e Uso do Solo do Município, indisponíveis para fins de moradias e destinados aos propósitos de lazer, recreação, melhoria de qualidade ambiental urbana e paisagística, proteção dos recursos hídricos e de manifestações culturais. Unidades de conservação: espaços ambientais territoriais especialmente protegidos, criadas pelo Poder Público, mas extintas ou reduzidas por lei nos termos do art. 225, § 1º, III, da Cons- tituição Federal. O seu regramento encontra-se na Lei nº 9985/2000 (Sistema Nacional de Unidades de Con- servação – SNUC). Podem ser Unidades de Proteção Integral (manutenção dos ecossistemas, sendo vedadas alterações pela atividade humana): I. estação ecológica; II. reserva biológica; III. parque nacional; IV. monumento natural; V refúgio da vida silvestre. Também podem ser classificadas por Unidades de Uso Sustentável (passível de exploração do ambiente de forma a garantir a perenidade dos recursos ambientais renováveis e dos processos ecológicos, mantendo o equilíbrio ambiental): I. área de proteção ambiental; II. área de relevan- te interesse ecológico; III. floresta nacional; IV. reserva extrativista; V. reserva da fauna; VI. reserva de desenvolvimento sustentável; VII. reserva particular do patrimônio natural. Mata Atlântica (Lei nº 11428/2006 – Lei do Bioma Mata Atlântica).
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