Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
REVISTA CONTEÚDO ARTIGO © Revista Conteúdo, Capivari, v.1, n.3, jan./jul. 2010 – ISSN 1807-9539 44 A relação entre fracasso escolar e produção do conhecimento: Uma análise das relações de ensino produzidas na escola e na sala de aula Rita de Cássia Cristofoleti 1 RESUMO Este estudo tem como objetivo analisar a questão da produção do fracasso escolar e seu contexto histórico, salientando a importância de se aproximar das histórias de vida dos sujeitos que vivem cotidianamente as relações de ensino produzidas na escola e na sala de aula. Nesse contexto, a opção nesse trabalho, foi a de olhar para os acontecimentos da sala de aula a partir de distintos focos, buscando uma aproximação da história de seus protagonistas e da história de suas relações, procurando apreender na dinâmica das relações de ensino produzidas, os indícios de como os sujeitos (tanto professora, quanto alunos) nelas envolvidos, foram se constituindo e configurando saberes, modos de ensinar e de aprender e conhecimentos sobre si mesmos. Os encontros e confrontros produzidos entre essas diferentes compreensões do vivido, dão visibilidade às possibilidades do ensinar e do aprender mesmo naquelas condições consideradas adversas às rotinas, rituais e práticas escolares. Palavras-chave: 1. Fracasso Escolar; 2. Relações de Ensino; 3. Formação de Professores. 1 Mestre em Educação – Universidade Metodista de Piracicaba. Professora da Faculdade Cenecista de Capivari e Professora da Faculdade Salesiana Dom Bosco de Piracicaba. Coordenadora Pedagógica de Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental da Escola Premium Cenecista de Capivari. E- mail: ricacri@uol.com.br. mailto:ricacri@uol.com.br REVISTA CONTEÚDO ARTIGO © Revista Conteúdo, Capivari, v.1, n.3, jan./jul. 2010 – ISSN 1807-9539 45 1. Introdução – Conhecendo o bairro e a escola Os antropólogos não estudam as aldeias (tribos, cidades, vizinhanças...), eles estudam nas aldeias. [...] Isso não faz do lugar o que você está estudando. Clifford Geertz - A interpretação das culturas. Este artigo é parte de minha dissertação de mestrado, defendida no ano de 2004. O estudo que ora apresento nasceu em um bairro da periferia da cidade de Piracicaba, interior do estado de São Paulo, realizado no ano de 2002. A palavra periferia, além de designar os limites, o que está na beirada distante da cidade, aponta também, segundo CALDEIRA (1984, p. 7), “(...) para aquilo que é precário, carente, desprivilegiado em termos de serviços públicos e infra-estrutura urbana”. Sim, os lugares não são neutros. Como também não são neutros, seus modos de ocupação. Assim, ainda que não sejam, eles próprios, objetos de estudo, os lugares pautam as questões que nascem do cenário que configuram e das relações que se tecem entre aqueles que os ocupam diretamente e entre esses seus ocupantes e as pessoas de outros lugares. Relações de identidade e de pertença; relações de estranhamento; relações de segregação, de preconceito e recusa. Assim, morar na periferia é ser parte da cidade – o que inclui. Mas também é ser parte de uma parte da cidade – as beiradas desprivilegiadas. Pertença que inclui excluindo: entre nós, os moradores da cidade, eles, os moradores da periferia. Pertença e estranhamento, pertença e segregação, pertença e recusa. Em meio à paisagem de pequenas casas enfileiradas, destacavam-se os prédios das escolas: uma escola municipal de ensino fundamental (1.ª a 4.ª série) e uma escola estadual de ensino fundamental (5.ª a 8.ª série) 2 . De construção e funcionamento recentes, ambas já eram apontadas como escolas problemáticas em termos do aprendizado e da disciplina de seus alunos, remetendo à conhecida expressão “escola de periferia”. Como destaca SILVA (2003), essa expressão, além de designar o lugar em que a escola se situa, sintetiza problemas e limites considerados peculiares a tais escolas. Limites e problemas que são entendidos, 2 Nomenclaturas dadas às divisões das séries no ano de 2002. REVISTA CONTEÚDO ARTIGO © Revista Conteúdo, Capivari, v.1, n.3, jan./jul. 2010 – ISSN 1807-9539 46 na maioria das vezes, como decorrentes do modo de vida, pouco “civilizado”, de seus usuários. A expressão ”escolas de periferia” também remete às baixas expectativas quanto ao alcance do trabalho educativo que nelas se realiza. E, nesse sentido, é interessante destacar que as escolas, em sua aparente homogeneidade, também são singularizadas pelo lugar em que vão sendo instaladas. O processo de segregação espacial e social que está na raiz da formação das periferias das cidades brasileiras reflete e antecipa a história das escolas aí situadas, constituindo suas condições sociais de produção. O entorno, como destacam Ezpeleta e Rockwell (1989, p. 19), pauta as singularidades das unidades escolares. Os limites administrativos e institucionais de cada escola tornam-se difusos – ao nível da existência diária – e a realidade escolar se interpenetra na realidade social e política circundante. É impossível, por exemplo, explorar as formas de negociar a imprescindível ajuda dos pais na manutenção da escola sem atingir o substrato da organização social e política local. É impossível também compreender o que acontece numa sala de aula sem o referencial da cultura imediata. Neste caso, as categorias tópicas da sociologia nos são inúteis para “focalizar” a observação, precisamente porque só é possível destacar a escola de sua ambiência social após um árduo processo analítico. Daí é que se compreende que o conteúdo histórico presente em seu contexto é também constitutivo da escola. Permaneci durante um ano e meio na escola municipal do bairro. Enquanto ia me inserindo no seu cotidiano, formulei muitas e muitas indagações, que, com frequência, remetiam-me ao bairro, a sua história particular de formação, ao lugar que ele ocupa no imaginário de seus próprios moradores e dos moradores de Piracicaba. Assim, embora o bairro não tenha sido o meu objeto de estudo, ele está nas origens das questões que vim a formular sobre a escola que ali funcionava, sobre as crianças e as professoras que a produziam dia a dia. Nessa escola, conheci Lucas, Juliana, Francine, Ralf, Ita, Leo, Guga entre outros, “beiradeiros” 3 também na vida escolar. Ali, conheci também sua professora, as outras 3 Aproprio-me da expressão forjada por PATTO (1991) para referir-se aos moradores das periferias das grandes cidades. REVISTA CONTEÚDO ARTIGO © Revista Conteúdo, Capivari, v.1, n.3, jan./jul. 2010 – ISSN 1807-9539 47 professoras das outras turmas, a diretora, a coordenadora pedagógica, a bibliotecária, as serventes... Vivendo suas vidas e realizando seu trabalho, nos embates e nos confrontos cotidianos, esses sujeitos, entendidos aqui, como a síntese histórica de suas relações sociais (VIGOTSKI, 2000), possibilitaram-me uma certa compreensão da realidade daquela escola, feita de tradições diversas, nem sempre harmônicas e coerentes entre si, mas que contribuíam sempre, de modo deliberado ou não, para os processos de produção e de reprodução sociais. 2. Revisitando as explicações sobre o fracasso escolar – uma questão persistente O descrédito na capacidade dos alunos em aprender os conteúdos escolares pelas professoras da escola em que a pesquisa foi realizada, me fez pensar em “uma escola em crise”! Essa foi minha reação aos primeiros contatos com a escola. Tal reação evocou- me Cortella (1998, p.09), que assim inicia seu livro – A escola e o conhecimento: “A educação está em crise! Em algum momento de nossa história republicana (nascedouro, ainda quepífio, do tema da escola pública), essa frase terá deixado de ser dita?”. Nosso sistema nacional de ensino, assinala ele, surgido sob a égide liberal da educação para todos - em que a democratização do ensino é vista como instrumento essencial para a conquista da igualdade social -, ao longo de todo o século XX, esteve às voltas com o discricionário dilema da democratização do acesso e da permanência na escola. Ora um, ora outro dos pólos do dilema sobrepunha-se, imprimindo às reformas educacionais ou um viés quantitativo – aumento do número de escolas, obrigatoriedade e gratuidade do ensino elementar – ou um viés qualitativo – reformulações da organização escolar, introdução de novas metodologias de ensino, aperfeiçoamento dos professores – sem que se chegasse ao equacionamento dos problemas de aprendizagem dos alunos. O fracasso em dar conta do direito social e democrático à educação, embora tenha sido sempre um problema e tenha merecido a atenção dos educadores, REVISTA CONTEÚDO ARTIGO © Revista Conteúdo, Capivari, v.1, n.3, jan./jul. 2010 – ISSN 1807-9539 48 convertendo-se em tema de estudos, pesquisas e propostas, agudizou-se episodicamente ao longo do século passado. Nos períodos de intensificação da preocupação com o fracasso escolar, o número de estudos sobre o tema ampliava-se e novas explicações e encaminhamentos eram sugeridos frente à questão. “Ideologia do dom”, “Deficiência sóciocultural”, “Carência Cultural”, “Sociologia da Reprodução”, foram algumas das explicações que serviram de justificativa para as causas da não aprendizagem na escola. A primeira dessas explicações, conforme a análise do fracasso escolar elaborada por Soares (1993) foi a “ideologia do dom”, segundo a qual, as causas do sucesso ou do fracasso na escola deveriam ser buscadas nas características dos indivíduos: nas suas aptidões, na sua inteligência, nos seus talentos. Nesse sentido, a igualdade de oportunidades para se alcançar sucesso e ascensão social estaria garantida pelo acesso à escola, mas sua concretização dependia das diferenças de aptidão existentes entre os indivíduos. Assim, a escola não seria a responsável pelo fracasso do aluno. As causas do fracasso estariam localizadas na existência de desigualdades naturais, nas diferenças individuais, legitimadas, explicadas e mensuradas pela Psicologia Diferencial e pela Psicometria. Na década de 20 do século passado, tal como analisa Patto (1988), também em estudo sobre o tema do fracasso, explicavam-se as diferenças individuais com base em teorias racistas e médicas que postulavam a inferioridade intelectual de algumas raças, principalmente a dos povos escravizados e colonizados. Desse modo, naturalizavam-se diferenças socialmente produzidas, com o aval da Psicologia nascente. A partir da década de 70, quando “um acelerado processo de urbanização acabou por transferir a maioria absoluta de nossa população das áreas rurais para as cidades” (CORTELLA, 1998, p. 10), um maior contingente de crianças oriundas das classes populares chegou à escola. Nesse período, a demanda explosiva por serviços educacionais não só não foi atendida, como também o frágil sistema educacional existente, depauperou-se e desorganizou-se em termos materiais e pedagógicos. REVISTA CONTEÚDO ARTIGO © Revista Conteúdo, Capivari, v.1, n.3, jan./jul. 2010 – ISSN 1807-9539 49 Estatísticas da época dão conta de que cerca de um terço da população brasileira em idade escolar (7 a 14 anos) não frequentava a escola, tornando letra morta, a extensão da obrigatoriedade do 1º Grau (1ª a 8ª séries), estabelecida pela Lei 5692/71. 4 Além disso, segundo Saviani (2002, p. 03) estimava-se que “cerca de 50% dos alunos das escolas primárias desertavam em condições de semianalfabetismo ou de analfabetismo potencial (...)”. Segundo Cortella (1998), a demanda explosiva pelos serviços educacionais, sem um preparo suficiente da rede física, acarretou a depauperação dos prédios existentes e do instrumental didático-pedagógico das unidades escolares. O ingresso massivo de professores sem formação apropriada e a diminuição acentuada das condições salariais dos educadores, multiplicando jornadas de trabalho, produziram uma queda violenta da qualidade de ensino no momento em que as camadas populares chegavam de fato à escola. Em tais condições os estudos sobre o fracasso escolar tiveram seu número incrementado. Nesse contexto, a ideologia do dom foi abalada em seus pressupostos, na medida em que se evidenciou “que as „diferenças naturais‟ não ocorriam, na verdade, apenas entre indivíduos, mas entre grupos de indivíduos...” (SOARES, 1993, p. 11 - grifos da autora). Por que, perguntavam-se os estudiosos, o fracasso escolar concentrava-se maciçamente nos alunos provenientes das camadas populares, social e economicamente desfavorecidas? Foi nessa mesma época que a “teoria da carência cultural” (PATTO, 1988), ou ideologia da deficiência cultural (SOARES, 1993), formulada nos EUA, foi introduzida no Brasil. Segundo essa concepção, as condições de vida de que gozam as classes dominantes e os setores médios urbanos interferem na socialização de suas crianças, possibilitando o desenvolvimento, desde a primeira infância, de hábitos, atitudes, conhecimentos, habilidades e interesses que, sendo valorizados no interior da escola, favorecem a elas o aprendizado e o sucesso escolar. Do mesmo modo, as condições empobrecidas de socialização das crianças das camadas populares, produziriam em seu 4 Dados do Censo de 1980, FIBGE. REVISTA CONTEÚDO ARTIGO © Revista Conteúdo, Capivari, v.1, n.3, jan./jul. 2010 – ISSN 1807-9539 50 desenvolvimento „déficits‟, carências culturais que teriam conseqüências sobre suas capacidades de aprendizagem. Tal como na ideologia do dom, na explicação da carência cultural, o fracasso recaía sobre o aluno, na medida em que ele era o portador de desvantagens culturais. Um efeito da teoria da carência cultural foi a política de educação compensatória. Segundo Saviani (2002), a política de educação compensatória foi uma estratégia acionada para superar o fracasso através da proposta de nivelar as pré- condições de aprendizagem das crianças. Mantido o princípio liberal de que a função básica da escola seria a equalização social, propunha-se, via pré-escola, a compensação das desvantagens de diferentes ordens - de saúde e nutrição, familiares, emotivas, cognitivas, motoras, lingüísticas etc. - das crianças carentes. Equalizadas as pré- condições de aprendizagem, o fracasso voltava a depender dos limites individuais. Como assinala Patto (1988, p. 75), essa teoria, ao estabelecer uma relação entre as influências negativas da cultura de grupos étnicos e sociais sobre o desempenho escolar: “(...) afirma[va] de modo generalizado e indiscriminado que a criança carente é portadora de distúrbios no desenvolvimento psicológico que a tornam menos capaz do que a criança de classe média para a aprendizagem escolar”. Como a compensação requeria a construção de habilidades a que as crianças das classes populares não estavam acostumadas, instaurou-se, nas escolas, a partir das reformas curriculares, uma certa secundarização dos conteúdos, em favor das habilidades para o aprender. Nesse período, ganham força os pressupostos pedagógicos escolanovistas, centrados no princípio do “aprender a aprender” e também os princípios tecnicistas que advogavam, conforme analisa Saviani (2002, p. 12) “a reordenação do processo educativo de modo a torná-lo objetivo e operacional”. A ênfase escolanovista, segundo Patto (1988), ao levar em consideração a dimensão pedagógica do processo educativo, criticou profundamente os métodos de ensino baseados na memorização e em conteúdos escolares, que não faziam nenhum sentido para os aprendizes,apontando-os como um fator que favorecia, ainda mais, o fracasso escolar gritante. REVISTA CONTEÚDO ARTIGO © Revista Conteúdo, Capivari, v.1, n.3, jan./jul. 2010 – ISSN 1807-9539 51 Saviani (2002) que, na década de 80 do século passado, analisou detidamente a circulação das idéias pedagógicas e seus efeitos marginalizadores sobre a escola brasileira, ao fazer a crítica às tradições pedagógicas e aos seus efeitos marginalizadores, sugere que o movimento escolanovista teve como efeito aprimorar a educação das elites e esvaziar ainda mais a educação das massas. Segundo sua análise, o modelo pedagógico escolanovista ao considerar que o professor agiria como um estimulador e orientador da aprendizagem, cuja iniciativa principal caberia aos próprios alunos, deixou as crianças das classes populares entregues a si mesmas. O princípio escolanovista de que o importante não é o que se aprende, mas o “aprender a aprender” levou a uma descaracterização do papel do professor como aquele que, detendo um saber, precisa mediar sua apropriação pelo aluno para que a aprendizagem ocorra. A influência tecnicista, por sua vez, segundo Saviani (2002, p. 12) buscando “planejar a educação escolar de modo a dotá-la de uma organização racional capaz de minimizar as interferências subjetivas que pudessem pôr em risco sua eficiência”, levou à padronização do sistema de ensino a partir de esquemas de planejamento previamente formulados por técnicos dos mais diferentes matizes, que foram introduzidos nas escolas, produzindo o parcelamento do trabalho pedagógico. Se a influência escolanovista deslocou o professor da condição de elemento decisivo e decisório do processo pedagógico, o tecnicismo assinala Saviani (2002, p. 13), relegou-o, juntamente com os alunos, à condição de “executores de um processo cuja concepção, planejamento, coordenação e controle ficam a cargo de especialistas supostamente habilitados, neutros, objetivos, imparciais”. Assim, segundo ele, os novos modelos pedagógicos acabaram por acarretar uma certa confusão do que seria o papel do professor dentro da sala de aula. Sobre essa confusão que as novas exigências pedagógicas impuseram aos professores, Saviani (1993, p. 43) discorre dizendo que: (...) imbuído do ideário escolanovista (tendência humanista moderna), ele [o professor] é obrigado a trabalhar em condições tradicionais (tendência humanista tradicional) ao mesmo tempo em que sofre, de um lado, a pressão da pedagogia oficial (tendência tecnicista) e, de outro, a pressão das análises sócio-estruturais da educação (tendência crítico-reprodutivista). REVISTA CONTEÚDO ARTIGO © Revista Conteúdo, Capivari, v.1, n.3, jan./jul. 2010 – ISSN 1807-9539 52 A desestruturação e desorganização do sistema escolar, a confusão acerca do papel do professor na sala de aula e a convicção de que a criança carente é menos capaz, associadas aos princípios da educação compensatória, estão nas bases das baixas expectativas dos professores em relação às escolas de periferia, onde se concentravam (e ainda se concentram) os setores mais pobres da população. A distância, a falta de equipamentos pedagógicos, além de lousa e giz, o funcionamento em prédios improvisados ou construídos de modo aligeirado, sem qualquer preocupação com a atividade educativa que iriam acolher, contribuíram também para que essas escolas não fossem escolhidas pelos professores. Trabalhava-se nas escolas de periferia como um mal necessário a ser enfrentado na carreira do magistério, até que se tivesse acesso às escolas centrais. 2.2. Outras tradições e outras marcas nas considerações acerca do fracasso escolar – o reprodutivismo e as críticas a ele dirigidas Porém as explicações para o fracasso escolar não pararam por aí. Na década de 80, os estudos sobre o fracasso que até então referendavam as teorias norte-americanas da carência cultural e da educação compensatória, sofreram um novo deslocamento de foco. Em meio às análises, que ora culpabilizavam os métodos de ensino e o professor, ora culpabilizavam o próprio aluno pelo seu não aprender, algumas vertentes críticas passaram a problematizar a incoerência fundamental do discurso educacional, que o tornava um discurso “fraturado” (PATTO, 1988). Uma dessas críticas denunciava o caráter reprodutivista das práticas constitutivas da vida na escola, entendendo-as apenas como mantenedoras da ordem social vigente. Assumindo os pressupostos da Teoria da Reprodução de Bourdieu e Passeron (apud SOARES, 1993), essas análises enfatizavam o poder de violência simbólica exercido pela escola, impondo às classes dominadas a cultura e a linguagem das classes dominantes. A escola converte a cultura e a linguagem dos grupos dominantes em saber escolar legítimo e impõe esse saber aos grupos dominados. Reforça-se assim, REVISTA CONTEÚDO ARTIGO © Revista Conteúdo, Capivari, v.1, n.3, jan./jul. 2010 – ISSN 1807-9539 53 a dominação que determinados grupos exercem sobre outros, e perpetua-se a marginalização. (SOARES, 1993, p. 54) Assim, os bens simbólicos da classe dominante (os costumes, os valores, a linguagem, obras artísticas, literárias etc) ganham o estatuto de legitimidade, enquanto que, a linguagem e a cultura dos grupos dominados sofrem um processo de depreciação. Ora, a aprendizagem dos bens culturais da classe dominante pode se dar por familiarização (pela convivência com a cultura e a linguagem que são consideradas legítimas), ou por uma aprendizagem intencional sob o encargo da escola. Os alunos pertencentes à classe dominante, ao chegarem à escola, dominam com facilidade o que Soares (1993, p. 61) chama de “capital lingüístico escolarmente rentável”, uma vez que já adquiriram, por familiarização, em seu grupo social, a linguagem considerada legítima. Já os alunos das camadas populares, que adquiriram por familiarização uma outra linguagem, considerada não legítima, não dominam, com a mesma facilidade, a linguagem da escola. A não posse desse capital (escolarmente rentável) é uma das principais causas da maior incidência do fracasso escolar entre os alunos pertencentes às classes populares; por outro lado, é, em grande parte, a posse dele que explica as maiores possibilidades de sucesso, na escola, dos alunos pertencentes às classes dominantes. (SOARES, 1993, p. 62) Nesse sentido, o “comportamento lingüístico escolarmente rentável” que seria tarefa da escola instaurar torna-se um pré-requisito na escola: a quem tem continua se dando o que já tem; a quem não tem não se dá: aponta-se a falta. Nessa perspectiva, o fracasso se produz porque se espera que os sujeitos tenham aquilo que é valorizado pela escola e que a escola deveria ensinar. Mas os alunos que não têm, continuam sem aprender porque a escola não os ensina. A escola exige de todos os alunos que chegam a ela (...) algo que ela mesma não se propõe a dar, e que só as classes dominantes podem trazer – o domínio prático da língua “legítima”; pressupondo esse domínio prático, oferece um ensino da língua “legítima” que, evidentemente, só pode levar a bons resultados aqueles que já dispõem daquilo que ela não dá, mas de que depende o que ela dá. (SOARES 1993, p. 62) Frente a esses aspectos a escola acaba reproduzindo a dominação, na medida em que ela não possibilita, àqueles que não o detém, o acesso ao capital lingüístico REVISTA CONTEÚDO ARTIGO © Revista Conteúdo, Capivari, v.1, n.3, jan./jul. 2010 – ISSN 1807-9539 54 escolarmente rentável, embora fosse essa a sua função. Para Soares (1993, p. 63), essa contradição é apenas aparente: (...) a negação (ou sonegação?) a esses alunos do capital lingüístico escolarmente rentável tem, na verdade, a função de colaborar para a perpetuação das relações assimétricas entre as classes, de garantir a opressão das classes dominantessobre as classes dominadas. Embora Soares (1993), assuma a análise proposta por Bourdieu com relação às determinações sociais do fracasso escolar, ela admite as críticas ao reprodutivismo encaminhadas por autores que consideram a escola articulada com o processo de transformação social, que nasce e se desenvolve nas relações de contradição que caracterizam uma sociedade de classes. Segundo os críticos do reprodutivismo, entre os quais destacam-se Snyders (apud SOARES, 1993) e Saviani (2002), se a Teoria da Reprodução avançava na superação da leitura liberal da escola, destacando não ser possível compreender a educação senão a partir de seus condicionantes sociais, por outro, no modo como desenvolvia a análise da relação escola-sociedade, acabava conduzindo invariavelmente à conclusão de que a função da escola é reproduzir a sociedade em que se insere, garantindo, junto com outras instituições, a sua manutenção. Nesse sentido, assinala Saviani (2002, p. 30), as análises reprodutivistas não só explicavam a razão do fracasso escolar como acabavam por demonstrar que “o fracasso é, na verdade, o êxito da escola; aquilo que se julga uma disfunção é, antes, a função própria da escola”. Segundo os críticos do reprodutivismo, quando se consideram as relações de contradição, que estão presentes também na escola, outras leituras da relação escola- sociedade são possíveis. A contradição possibilita a compreensão das complexas mediações pelas quais se dá a inserção da escola na sociedade capitalista, dando visibilidade às suas possibilidades enquanto uma instância que colabore para a negação da reprodução, na medida em que se oponha à seletividade, à discriminação e ao rebaixamento do ensino das camadas populares, possibilitando-lhes o acesso ao conhecimento legitimado pelas classes dominantes e sua apropriação. REVISTA CONTEÚDO ARTIGO © Revista Conteúdo, Capivari, v.1, n.3, jan./jul. 2010 – ISSN 1807-9539 55 Assumindo a tese de George Snyders no trabalho “Escola, classe e luta de classes”, Soares (1993, p. 73) encaminha sua análise afirmando que, dessa perspectiva, “a escola é muito mais importante para as camadas populares que para as classes dominantes”, na medida em que, para as classes populares, ela é a instância em que podem ser adquiridos os instrumentos necessários à luta contra a desigual distribuição dos bens culturais que acabam sendo convertidos em privilégio pela classe dominante. Ao defender a escola como uma instância da não reprodução, Snyders (apud SOARES, 1993) redefine a função social da escola. Ele propõe a superação das concepções liberais, segundo as quais a função social da escola é garantir a equalização social, e das concepções reprodutivistas, segundo as quais a função social da escola é reproduzir as relações de dominação, definindo a escola como uma instituição encarregada da socialização dos saberes, social e historicamente produzidos. No entanto, na medida em que a escola não realiza essa socialização do saber historicamente produzido pela humanidade junto às classes populares, ela realmente acaba trabalhando apenas em favor da reprodução. Assim, na análise de Snyders, a reprodução não é inerente à escola e às práticas educativas escolares, mas uma das posições, política e epistemologicamente possíveis dentro delas. Sob a ótica da análise proposta por Snyders (apud SOARES, 1993) e por Saviani (2002), a questão do fracasso escolar guarda estreita relação com a questão do conhecimento. E, nesse caso, o fracasso não recai sobre o aluno nem sobre os professores pessoalmente considerados. Ensinar os conhecimentos historicamente produzidos pela humanidade é a tarefa primordial da escola comprometida com a transformação social, do mesmo modo que negar, dificultar ou secundarizar o acesso de todos os alunos a esses conhecimentos e a sua efetiva apropriação, é trabalhar em favor da reprodução. Nesse sentido, estando na escola em que me inseri para realizar a pesquisa e participando das relações de ensino ali existentes e de conversas com as professoras nos horários das reuniões pedagógicas, encontrei marcas do reprodutivismo e indícios de resistência na fala das professoras. Ao descrédito e desânimo de alguns profissionais - Se eu planejar a minha aula ou não, eu sei que tem sempre aqueles que não vão REVISTA CONTEÚDO ARTIGO © Revista Conteúdo, Capivari, v.1, n.3, jan./jul. 2010 – ISSN 1807-9539 56 aprender -, misturava-se a preocupação, ainda que não bem sucedida, de ensinar os conteúdos escolares. Ainda que se possa questionar quais conteúdos e de que forma ensiná-los, essa preocupação indiciava a permanência de uma certa tradição relativa ao papel do professor e ao papel da escola na formação das novas gerações. A dimensão formativa da escola e do professor é trazida à baila nos anos 90, a partir das críticas ao reprodutivismo, sob uma perspectiva de análise marxista – caso de Snyders e de Saviani -, mas aparece também em discussões relativas à crise da escola em estudos fundamentados em outras vertentes teóricas, entre os quais destaco os escritos de Arendt (2000) acerca da educação e os trabalhos de Hébrard (2000), mais recentemente. 2.3. Escola e conhecimento: a reafirmação do papel da escola e do professor como agentes de ensino Ao discutir os vários modelos pedagógicos (teorias não críticas e teorias crítico- reprodutivista), e as conseqüências que estes modelos produziram historicamente em nosso sistema educacional, Saviani (2002) faz a proposta de uma pedagogia Histórico- Crítica articulada com os interesses populares e que valorize a escola, não sendo indiferente ao que ocorre em seu interior. Compromissada com o ensino, a pedagogia Histórico-Crítica, explicita seus vínculos com as práticas sociais e supera metodologicamente a Pedagogia Tradicional e a Nova, estimulando a atividade e iniciativa dos alunos sem abrir mão da iniciativa do professor, que toma como ponto de partida e de chegada a prática social. Como é uma pedagogia que não abre mão da iniciativa do professor, ela define seu papel. Segundo Saviani (2002, p. 78): O professor deve antever com uma certa clareza a diferença entre o ponto de partida e o ponto de chegada sem o que não será possível organizar e implementar os procedimentos necessários para se transformar a possibilidade (do aprender) em realidade. (...) Não sendo preenchida essa exigência, cai-se no espontaneísmo. E a especificidade da ação educativa se esboroa. A relação escolar, tal qual definida pelos princípios da Pedagogia Histórico- Crítica caracteriza-se como uma relação pautada pelo conhecimento. Nela, a realização REVISTA CONTEÚDO ARTIGO © Revista Conteúdo, Capivari, v.1, n.3, jan./jul. 2010 – ISSN 1807-9539 57 do papel do professor depende do acesso que ele tem ao conhecimento e ao desenvolvimento da capacidade de problematização desse conhecimento em sua relação com a prática social. A centralidade do conhecimento – para professores e alunos - é defendida também por Cortella (1998) em sua crítica à educação brasileira. Cortella focaliza a questão da crise da escola brasileira como um efeito da própria condição histórico estrutural do país, numa direção próxima da de Saviani. Nesse sentido, Cortella (1998, p. 13) defende a necessidade de “pensar uma nova qualidade para uma nova escola, em uma sociedade que começa, paulatinamente, a erigir a educação como um direito objetivo de cidadania”. Essa escola de qualidade, segundo ele, funda-se epistemológica e politicamente no conhecimento como produção humana. O conhecimento como produção distingue a escola de outras instituições: a escola é lugar de ensino, de produção cultural. As teses de Saviani e de Cortella apesar de partirem de pressupostos diferentes, aproximam-se das idéias de Hannah Arendt (2000) e de Jean Hébrard (2000), namedida em que problematizam o papel do professor e valorizam o acesso aos conhecimentos sistematizados como função social da escola. Arendt e Hébrard pautam suas análises sobre a crise educacional nas consequências culturais do esvaziamento da tradição e da perda da autoridade por parte do professor. Hannah Arendt (2000), na década de 50, em seu livro “Entre o Passado e o Futuro”, procurando entender a configuração política da sociedade pós-guerra, analisava a crise da educação dentro de um quadro cultural mais amplo de esfacelamento da tradição. Segundo ela, com a hegemonia da América no pós-guerra, fortaleceu-se o pragmatismo como concepção de mundo e de homem, produzindo uma lacuna entre o passado e o futuro, que se traduzia no campo intelectual pelo esfacelamento da tradição. Para Arendt (2000), a crise da tradição na área da educação guarda estreita conexão com a crise da autoridade e com a responsabilidade que o adulto assume pelo mundo face à vinda das crianças, na medida em que é o saber do professor que lhe dá autoridade. REVISTA CONTEÚDO ARTIGO © Revista Conteúdo, Capivari, v.1, n.3, jan./jul. 2010 – ISSN 1807-9539 58 Com o esfacelamento da tradição, ou seja, da capacidade de se reportar ao passado, perde-se também a atividade do pensar e o domínio dos conhecimentos sobre o que se deve ensinar aos seus alunos, dado que os conhecimentos se apóiam na tradição, no passado. Ao analisar a problemática da educação no mundo moderno Arendt (2000, p. 245-246) sugere que “o problema da educação está no fato de, por sua natureza, não poder esta abrir mão nem da autoridade, nem da tradição, e ser obrigada, apesar disso, a caminhar em um mundo que não é estruturado nem pela autoridade, nem tampouco mantido coeso pela tradição”. Para Arendt (2000), a crise na educação assentou-se em três condições básicas. A primeira delas diz respeito à idéia da criação de um mundo só de crianças, onde a figura do adulto é banida das relações sociais estabelecidas entre as pessoas. Os adultos estão, nesse caso, apenas para auxiliar as crianças, mas a autoridade (o saber sobre o mundo) pertence a elas. A segunda condição diz respeito ao ensino, e está intimamente ligada à formação dos professores, que por não deterem o domínio sobre a sua matéria, deixam de ensinar os conhecimentos sobre o mundo, e assim perdem sua autoridade. A terceira condição consiste em substituir o aprendizado pelo fazer e o trabalho pelo brincar. Segundo Arendt, nessa última condição expressa-se a concepção de que só é possível conhecer e compreender, aquilo que nós mesmos fizermos. Na América 5 , analisa ela, o pragmatismo concebia como fim social da educação a preparação de uma nova geração para um mundo novo. Com isso, criava-se a ilusão de uma educação para o novo. Uma ilusão, na medida em que não se pode negar o fato de que o mundo em que as crianças nascem e vivem é velho, ou seja, ele já preexiste a elas. No entanto, a apropriação e a elaboração desse mundo velho são condições para que as crianças, como nova geração que são, inventem um outro mundo. Nesse sentido, 5 Segundo Arendt, na América a educação desempenha um papel diferente e mais importante politicamente do que em outros países, isto porque a América sempre foi uma terra de imigrantes e a fusão dos grupos étnicos mais diversos só pode ser cumprida através da instrução, educação e americanização dos filhos de imigrantes. REVISTA CONTEÚDO ARTIGO © Revista Conteúdo, Capivari, v.1, n.3, jan./jul. 2010 – ISSN 1807-9539 59 a educação não educa para o novo, mas sim para que os sujeitos das novas gerações tenham condições para produzirem o novo. A ilusão com relação ao lugar do novo, como algo em si, possibilitou que a América 6 incorporasse pragmaticamente as teorias educacionais originárias da Europa Central. A incorporação dessas teorias, tendo em vista o imediatismo da solução dos problemas fez com que todas as regras do juízo humano, ou seja, o bom senso, ficasse de lado. Hébrard (2000), referindo-se à experiência Francesa pós 1968, identifica problemática bastante semelhante à destacada por Arendt (2000), sugerindo que o grande desafio que se coloca para a escola é fazer um trabalho de transmissão do patrimônio cultural. O autor destaca que é preciso reinventar uma escola que assuma uma posição adulta, e recorrendo ao pensamento de Arendt esclarece que: (...) a função da escola é assumir a posição do passado, não a posição do futuro, porque o futuro é a invenção da nova geração. (...) Para que a nova geração possa inventar o futuro é preciso que a antiga geração – nós, os professores – assuma a posição de passado. (HÉBRARD, 2000, p. 10) Assumindo a posição de passado, o professor consegue assumir a posição de autoridade, daquele que está ali para ensinar. Podemos perceber que a centralidade do conhecimento na relação educativa escolar é um ponto de entrelaçamento entre as idéias dos quatro autores apresentados, evidenciando-se como um nó na discussão do fracasso escolar. Era essa a crise, provocada pelo fracasso nos seus desdobramentos cotidianos, que a escola em que a pesquisa foi realizada nos apresentava e para isso nos convocava a participar. Assim, concordamos com Arendt (2000) e Hébrard (2000), de que o acesso aos conhecimentos produzidos pela humanidade, face ao âmbito do passado, devem ser garantidos pela escola, e concordamos com Saviani (2002) e Cortella (1998) de que a 6 Podemos incluir aí também o Brasil, pois tudo o que a América admitisse em termos educacionais sempre acabava, e ainda acaba, por refletir aqui no nosso país. REVISTA CONTEÚDO ARTIGO © Revista Conteúdo, Capivari, v.1, n.3, jan./jul. 2010 – ISSN 1807-9539 60 escola é responsável pela problematização e elaboração de conteúdos produzidos pela humanidade em seu vínculo com a prática social. 3. À procura de explicações: conhecendo os alunos e as relações produzidas na sala de aula Os estudos sobre o fracasso escolar passaram por um redirecionamento na década de 90 do século XX, incorporando não só críticas ao reprodutivismo, como também a própria leitura da função social da escola. Dentre esses estudos, dois trabalhos mostraram-se significativos para o questionamento das formas de entendimento do fracasso escolar: o de Bernard Charlot (2000) e o de Maria Teresa Esteban (2002). Charlot (2000) propõe outra leitura do fracasso: uma leitura pelo viés da não reprodução. Segundo ele, o fracasso não é algo em si, mas a história daquele que fracassa. O que existe são alunos em situação de fracasso. O que existe são alunos que não conseguem aprender, histórias escolares que terminam mal, e são essas histórias que deveriam ser analisadas. Segundo este autor (2000, p.14) “o fracasso escolar não é um fato que a experiência permitiria constatar. (...) é uma certa maneira de verbalizar a experiência, a vivência e a prática; e, por essa razão, uma certa maneira de recortar, interpretar e categorizar o mundo social”. Ao se considerarem as particularidades e as histórias dos sujeitos que fracassam, não dá para pensar o fracasso em abstrato e nem considerar que o fracasso é só resultado da reprodução. Embora a maior parte dos alunos que fracassam sejam provenientes das classes populares, destaca Charlot (2000), haveria que se buscar as histórias desses alunos, visto que há, entre os alunos das classes populares, aqueles que vivem experiências de sucesso escolar. Quando se vai ao encontro das situações, das histórias de fracasso que os alunos vivem nas escolas, assinala Charlot (2000), o fracasso é compreendido como uma experiência que o aluno vive e interpreta e que pode constituir-se em objeto de estudo. Nessa perspectiva, estuda-sea questão do fracasso em termos de diferença na relação REVISTA CONTEÚDO ARTIGO © Revista Conteúdo, Capivari, v.1, n.3, jan./jul. 2010 – ISSN 1807-9539 61 com o saber e a escola, e não apenas em termos de diferenças entre posições sociais dos alunos. Sendo assim, estudar a história dos alunos que fracassam em suas condições concretas de produção, é uma outra maneira de enxergar o fracasso escolar - antes entendido apenas como o resultado das diferentes posições sociais ocupadas pelos alunos e visto como deficiências, carências etc... Buscar uma outra leitura é também se perguntar sobre: (...) o que está ocorrendo, qual a atividade implementada pelo aluno, qual o sentido da situação para ele, qual o tipo das relações mantidas com outros. (...) um aluno fracassa, atrasa-se em sua escolaridade, vê-se em dificuldades na escola: pode-se explicar isso a partir do que ocorreu com ele, do que ele fez, do que ele pensou e não apenas a partir do que não ocorreu com ele, do que ele não fez, do que ele não pensou? (CHARLOT, 2000, p. 30). Esteban (2002) ao tratar da questão da avaliação e fracasso escolar, defende a tese de que há um aprendizado a se fazer com relação ao que é que sabe quem erra. Ao focalizar o que sabe quem erra, a autora nos aponta que o saber contido no erro é um caminho necessário para as possibilidades de superação do erro, sem negar o saber ali apontado. Em seu estudo, Esteban (2002) também vai defender a tese de que a escola não é simplesmente um espaço de reprodução do contexto social, uma vez que nela são geradas práticas específicas através das quais a desigualdade se constrói. Fazendo essa afirmação, a autora sugere que é preciso se aproximar das práticas que são geradas na escola, uma vez que, essas práticas conhecidas em suas especificidades e singularidades superam essas desigualdades produzidas inicialmente. Nesse sentido, este estudo procurou aproximar-se das relações de ensino produzidas, fazendo delas uma descrição exaustiva, não para aceitá-las, mas para, conhecendo-as em sua dinâmica peculiar, dar visibilidade às possibilidades de redirecionamento nelas mesmo contidas, tendo em vista a especificidade da escola em sua função de ensinar os conhecimentos historicamente produzidos pela humanidade. Assim, concordando com Charlot (2000) e Esteban (2002) quanto à importância de se tentar explicar o fracasso a partir do que ocorreu com os sujeitos que fracassam, a opção nesse estudo, foi a de olhar para a dinâmica das relações de ensino produzidas, REVISTA CONTEÚDO ARTIGO © Revista Conteúdo, Capivari, v.1, n.3, jan./jul. 2010 – ISSN 1807-9539 62 procurando captar os indícios de como os sujeitos (tanto professora, quanto alunos) nelas envolvidos foram se constituindo e configurando saberes, modos de ensinar e de aprender e conhecimentos sobre si mesmos. Desejando apreender o cotidiano da escola e compreender os sujeitos que ali estavam e se constituíam, meu olhar voltou-se, então, para a sala de aula. Preocupada com a qualidade social do ensino que é oferecido pela escola às crianças das classes populares e preocupada em não reafirmar e não reproduzir uma concepção preconceituosa e estereotipada acerca das dificuldades de aprendizagem de professoras e de alunos, decidi-me por uma aproximação das relações de ensino produzidas entre uma professora e seus alunos. Ao manifestar o interesse de me aproximar da sala de aula para a diretora e para a coordenadora da escola, elas me indicaram uma terceira série (ciclo II - 1.ª etapa) 7 que era considerada por elas, como uma das piores classes desse ciclo e etapa, tanto em termos da aprendizagem, como em termos da disciplina. Esse mesmo juízo a respeito da classe era compartilhado pelas professoras e funcionários da escola, que assim a caracterizavam em suas falas: “São alunos que não param em sala de aula um minuto”. “Fazem muita bagunça e não respeitam ninguém”. “Essa classe tem uma grande quantidade de alunos analfabetos”. “A professora não possui uma boa organização, deixa os alunos muito soltos, e não tem pulso firme”. A negação – não param, não respeitam, não são alfabetizados, não tem organização, não tem pulso firme – era o ponto a partir do qual eram lidos e significados os alunos e a professora daquela 3 a . série, no contexto das relações produzidas na escola. Tal como o bairro, onde se situava a escola, era uma das partes mais pobres e mais violentas da cidade e aquela escola uma das mais problemáticas da rede, aquela classe era uma das piores da escola, sua professora era desorganizada e sem pulso firme e as crianças indisciplinadas e incapazes de aprender. A espiral da negatividade 7 Nomenclatura dada às divisões das classes pela escola no ano de 2002. REVISTA CONTEÚDO ARTIGO © Revista Conteúdo, Capivari, v.1, n.3, jan./jul. 2010 – ISSN 1807-9539 63 anunciava, por antecipação, o fracasso: o limite da inclusão, pois, afinal, o que esperar dos mais desvalorizados entre os marginalizados da cidade? 4. Apresentando a escola e a sala de aula: O olhar das pessoas que trabalhavam na escola sobre a classe e sobre a professora. Reuni aqui dois episódios, um envolvendo a atendente da biblioteca e o outro uma professora da escola. Nesses episódios, as relações das pessoas da escola estabelecidas com os alunos e com a professora marcam os lugares por eles ocupados. Episódio 1: Se vocês não atrapalharem os outros já está muito bom Entrei na classe junto com a professora e com os alunos. A professora foi chamando pelo nome dos alunos e pedindo para que se sentassem onde ela indicava. Perguntei por que ela tinha mudado a disposição dos alunos, o que tinha acontecido. A professora me disse que separou os alunos que faziam muita bagunça, e que a Victória, atendente da biblioteca tinha ajudado. Não demorou muito e ela chegou, os alunos olharam uns para os outros. Victória se pronunciou: “Eu não quero ver mais nenhum de vocês fora da classe, vocês entenderam. Aqui não é lugar de ficar passeando. Se vocês não atrapalharem os outros já está muito bom”. Ralf, em voz baixa disse para Leo: “Eu não gosto dela, ela grita com a gente”. Leo respondeu: “Quando a gente tá fazendo lição, ela chega, ela grita, que jeito de falar com a gente”. A classe silenciou por um longo tempo, todos ficaram sentados copiando o cabeçalho que a professora colocava na lousa. Alguns cochichavam em voz baixa com o colega, outros ficavam imóveis ao recado que haviam recebido. A professora deixou que Victória falasse desse modo com seus alunos, pois ela já tinha delegado a sua autoridade enquanto professora para as pessoas que conseguiam de uma maneira ou de outra fazer com que permanecessem quietos na sala de aula, a despeito das crianças gostarem ou não da forma como eram tratadas. Se já havia por parte da professora uma certa perda de autoridade frente às crianças em função da condução e do domínio da própria sala de aula, essa perda se REVISTA CONTEÚDO ARTIGO © Revista Conteúdo, Capivari, v.1, n.3, jan./jul. 2010 – ISSN 1807-9539 64 acentuava quando ela admitia que uma outra pessoa que não fosse ela mesma entrasse na sala e deliberasse sobre situações que eram próprias dela, daquela classe, ou seja, a professora delegava sua autoridade para quem conseguisse passar uma certa imagem de domínio da sala. Episódio2: Como está aquela classe lá? As professoras da escola também indiciavam uma certa compreensão sobre os alunos e sua professora. Em um outro dia que eu estava na escola, Gabi, uma das professoras que lá trabalhava há dois anos veio me perguntar: “Como está aquela classe lá”? “Estamos tentando trabalhar com os alunos alguns conhecimentos”, respondi. “Olha, eu não sei por que essa classe ficou assim. Eles não eram tão bagunceirosno ano passado. Acho que no ano que vem, tem que ser uma professora mais firme. Eles não param dentro da classe. Eles acham que podem fazer o que querem na escola, também pode ser que sejam assim por causa daquela quarta série que está dando problemas aqui na escola”. Gabi no início do ano letivo tinha recusado essa sala por já trabalhar na escola, e saber das dificuldades da classe. Ela era considerada por seus pares, como uma das professoras que conseguia manter seus alunos sempre comportados, dentro da sala de aula, havendo com isso, a suposição que assim estariam aprendendo alguma coisa. Mera suposição, pois alguns de seus alunos também tinham dificuldades na leitura e escrita das palavras, e outros também ainda não sabiam ler nem escrever. Quando algum aluno da classe estudada estava bagunçando muito, a professora mandava-o para Gabi resolver o problema, pelo menos lá ele permanecia quieto. A concepção das pessoas que trabalhavam na escola de que a professora não conseguia ensinar, a colocava em um lugar de solidão perante os seus pares. “Não adianta falar com ela, ela só dá cópia para os alunos”, dizia a coordenadora que não sabendo como intervir com os alunos e com a professora revelava a sua atitude de desistência em fazer algo que pudesse contribuir para a formação da professora e para a aprendizagem daqueles alunos na escola. REVISTA CONTEÚDO ARTIGO © Revista Conteúdo, Capivari, v.1, n.3, jan./jul. 2010 – ISSN 1807-9539 65 Com a vinda da professora que aceitara trabalhar com a classe resolveu-se um problema na escola: Aquela difícil classe de terceira série, resultante do agrupamento de alunos fracos, passava a ter professora. Nesse sentido, a vinda da professora para a escola garantia a inclusão de todos aqueles alunos. Por terem uma professora eles formavam uma classe. Mas, na medida em que o ano foi caminhando e a professora não dava conta da turma, sobretudo em termos disciplinares, ela própria passou a ser vítima dos mesmos estigmas que os alunos. Se os alunos eram difíceis e não conseguiam aprender, ela também era vista como uma professora fraca que não sabia ensinar e que não tinha pulso para conduzir a sala de aula. Aquela professora era excluída junto com seus alunos. No entanto, o mesmo não saber o que fazer com os alunos por parte da professora ia sendo assumido por parte da coordenadora com relação à professora. Embora a coordenadora criticasse a professora por só dar cópia aos alunos, sua conduta reproduzia a relação da professora com os alunos. Ela também não sabia como conduzir um trabalho com a professora e com a classe, no sentido de produzir mediações que fossem mais promissoras ao aprendizado do que aquelas que já estavam estabelecidas. Porém, a coordenadora não passou a ser estigmatizada pelo não saber o que fazer, como a professora o fora, por conta do lugar social que ocupava na hierarquia. Da mesma maneira que seus alunos nos pedidos de ajuda não eram atendidos, a professora também revelava que precisava de ajuda para trabalhar com seus alunos, não conseguindo sozinha resolver os problemas que enfrentava na sala de aula. Ela também era vítima de uma certa concepção de autonomia que acreditava que o desenvolvimento dos sujeitos é apreendido a partir daquilo que ele é capaz de fazer sozinho, estando o desenvolvimento à frente do aprendizado. Essa concepção sobre desenvolvimento e aprendizado, segundo Vigotski (1998, p. 104 -105) “exclui a noção de que o aprendizado pode ter um papel no curso do desenvolvimento ou maturação daquelas funções ativadas durante o próprio processo de aprendizado”. Nesse contexto, o conceito de Zona de Desenvolvimento Proximal, desenvolvido por Vigotski (1998) nos ajuda a entender que as interações sociais geram condições para REVISTA CONTEÚDO ARTIGO © Revista Conteúdo, Capivari, v.1, n.3, jan./jul. 2010 – ISSN 1807-9539 66 que o sujeito elabore conhecimentos sobre as situações que sozinho não é capaz de resolver. Nesse sentido, esse conceito pode ser pensado tanto com relação ao processo de aprendizagem dos alunos, quanto também da professora e daqueles que trabalham com ela, ou que deveriam mediar o seu desenvolvimento profissional. Nos seus pedidos de ajuda, a professora indiciava querer aprender sobre coisas que ainda não sabia na dinâmica da sala de aula. O que ela sinalizava, poderia guiar as mediações da coordenadora, tanto em suas orientações junto à professora, quanto na coordenação do trabalho coletivo nos HTPCs (Horário de Trabalho Pedagógico Coletivo), centrando-os nas questões, de fato, emergentes na prática pedagógica. Segundo Esteban (2002, p. 131): O trabalho coletivo, por permitir o estabelecimento de uma dinâmica intersubjetiva, é fundamental para o desenvolvimento das ferramentas psíquicas, que são produzidas em articulação com a atividade social. A possibilidade de compartilhar conhecimentos e processos entre as pessoas é insubstituível no desenvolvimento do pensamento do sujeito, pois nas atividades coletivas surgem os conhecimentos e ferramentas que, uma vez internalizadas, constituem sua atividade interior. Pensar a prática pedagógica na ótica da interação e da atuação na Zona de Desenvolvimento Proximal dos sujeitos nela envolvidos, nos dá elementos que sugerem que a dimensão coletiva do processo educativo torna-se importante para promover a aprendizagem dos protagonistas envolvidos nas relações de ensino. Considerações Finais: Entre caminhos e descaminhos - Algumas possibilidades encontradas Para além da leitura pelo negativo, pela falta, pelo equívoco das ações tanto da professora, quanto dos alunos, a aproximação da história dessas pessoas que querem ensinar, que querem aprender, mas que apesar do querer, fracassam em seu intento (tanto professora, quanto alunos), trouxe-me algumas pistas de compreensão das possibilidades que se produziam na própria dinâmica da sala de aula. Foi levando em consideração os diferentes pontos de vista desses protagonistas, que emergiam como tensão e harmonia nessas relações, que encontrei possibilidades de condução e de redirecionamento do trabalho pedagógico. REVISTA CONTEÚDO ARTIGO © Revista Conteúdo, Capivari, v.1, n.3, jan./jul. 2010 – ISSN 1807-9539 67 Se as análises dos acontecimentos cotidianos mostraram o quanto é difícil trabalhar na adversidade com a diversidade, mostraram também que é nessa mesma diversidade da sala de aula, que alunos e professora dão pistas de como conduzir o trabalho docente. Nessas relações, em que professora e crianças afetam-se reciprocamente, as particularidades da sala de aula vão sendo sinalizadas, tanto em termos do que se mostra produtivo aos olhos do sistema escolar, quanto aos obstáculos à aprendizagem, tanto em termos dos produtos homogêneos esperados, quanto dos processos diversos e, muitas vezes, surpreendentes em que vão sendo produzidos. Do mesmo modo que os alunos vão mostrando os conhecimentos de que dispõem, e o que ainda não dispõem, a professora também vai indiciando saberes e não saberes em relação a prática pedagógica para seus pares e para os especialistas que atuam na escola. Assim como os alunos que pedem ajuda para se engajarem nas atividades, a professora também pede ajuda para desenvolver o seu trabalho, pois ela não sabe ainda fazer sozinha a leitura da dinâmica da sala de aula. Por isso mesmo, indica caminhos de como trabalhar para o aprimoramento de sua formação, levando em consideração aquilo que acontece nas condições específicas e imediatas de produção das relações de ensino de que participa. Até que ponto o trabalho de escuta das dificuldades e um trabalho conjunto com ela nessas dificuldades poderiam descortinar possibilidades? Talvez um dos caminhos para se trabalhar com a formação das professoras na escola seja o do aprendizado do olhar e da escutavoltados para a escola e para a sala de aula, o da leitura dos indícios contidos na linguagem não verbal e nos dizeres de seus interlocutores. Pois, se o professor não pode prever todos os sentidos que emergirão entre os seus alunos, ao assumir uma postura de visada e de escuta atentas e refinadas aos acontecimentos dialógicos poderá atuar numa direção mais promissora para a aprendizagem e o desenvolvimento de seus alunos. A vida da sala de aula não é alheia aos acontecimentos vividos na escola. Direcionar o olhar para as relações cotidianas e para a dinâmica da sala de aula complementa a leitura feita da escola, levando em consideração seus determinantes REVISTA CONTEÚDO ARTIGO © Revista Conteúdo, Capivari, v.1, n.3, jan./jul. 2010 – ISSN 1807-9539 68 maiores. Com a análise do todo é possível entender o que acontece na sala de aula, pois a particularidade ali produzida está articulada com as condições históricas mais amplas. Por sua vez, quando se compreende a particularidade da sala de aula, produzem-se condições outras para o entendimento das articulações dinâmicas entre o macro e seus desdobramentos cotidianos, entre as grandes estruturas e os sujeitos que nelas vivem. Esses acontecimentos na sala de aula exprimem a dimensão relacional constitutiva da prática educativa. Os papéis de professor e de aluno não existem em si mesmos, eles se dão a ver articulando-se nas relações de ensino produzidas. Desse modo, não existe o papel de professor sem o papel de aluno e o papel de aluno não existe sem o papel de professor. Segundo Fontana (2001, p.33) “a condição de interindividualidade, de reciprocidade, a despeito do fato de termos dela consciência ou não, é constitutiva da aula”. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARENDT, Hannah. Entre o Passado e o Futuro. 5. ed. São Paulo: Editora Perspectiva, 2000. CALDEIRA, T.P.R. A política dos outros. São Paulo: Editora Brasiliense, 1984. CHARLOT, Bernard. Da relação com o saber: elementos para uma teoria. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000. CORTELLA, M.S. A Escola e o Conhecimento: fundamentos epistemológicos e políticos. São Paulo: Cortez Editora, 1998. ESTEBAN, M.T. O que sabe quem erra? Reflexões sobre avaliação e fracasso escolar. 3. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2002. EZPELETA, J. e ROCKWELL, E. Pesquisa Participante. São Paulo: Cortez, 1989. FONTANA, R.A.C. Sobre a aula: uma leitura pelo avesso. In: Presença Pedagógica. V. 7, n.º 39, p. 31-37, mai./jun. 2001. REVISTA CONTEÚDO ARTIGO © Revista Conteúdo, Capivari, v.1, n.3, jan./jul. 2010 – ISSN 1807-9539 69 GEERTZ, C. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: Guanabara, 1989. HÉBRARD, J. O Objetivo da escola é a cultura, não a vida mesma. In: Presença Pedagógica. V. 6, n.º 33, p. 5-17, mai./jun. 2000. PATTO, M.H.S. A produção do fracasso escolar – histórias de submissão e rebeldia. São Paulo: T.A.Queiroz, 1991. PATTO, M.H.S. O Fracasso escolar como objeto de estudo: Anotações sobre as características de um discurso. In: Cad. de Pesquisa, n.º 65, p. 72-77, maio, São Paulo, 1988. SAVIANI, D. Escola e Democracia. Campinas: Autores Associados, 35. ed., 2002. SAVIANI, D. Tendências e correntes da educação brasileira. In: D.T. Mendes (Coord). Filosofia da Educação Brasileira. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1983. SILVA, Z.B. Negociações de destino: a escola pública como constituição de jovens e professores. 2003, 164f., Dissertação (Mestrado em Educação). Unicamp, Campinas. SOARES, Magda. Linguagem e Escola: Uma perspectiva social. 10. ed. São Paulo: Ática, 1993. VIGOTSKI, L. S. A Construção do Pensamento e da Linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 2000. VIGOTSKI, L. S. A Formação Social da Mente. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
Compartilhar