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coronelismo, enxada e voto

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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO MESQUITA FILHO”
FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS
DISCENTE: Ana Laura Varoni
RA: 211220361
DOCENTE: Regina Claudia Laisner
DISCIPLINA: Formação Política e Econômica do Brasil
TURMA: 1º Ano – Relações Internacionais – Noturno
Resumo crítico 1
LEAL, Victor Nunes Leal. Coronelismo, enxada e voto. O município e o regime
representativo no Brasil. São Paulo, Ed. Alfa-Omega, 1976. Cap. 1 e 7.
O autor desenvolve o texto sob o período da República Velha no qual ocorre a
ascensão de um espaço público e é exigido dos coronéis, que representam o privado perdendo
poder, uma maior aliança política com o Estado, sendo assim, o coronelismo como um todo é
o problema analisado por Victor Nunes. A tese do autor está envolvida na peculiaridade das
razões para a existência do processo coronelista visto que o mesmo não era sinal de poder dos
coronéis mas sim um sintoma do desespero causado pela instauração da república e da
apropriação da posição de eleitor por parte do trabalhador rural com o fim do voto censitário.
Vale ressaltar, assim como Leal o fez, que o coronel não era necessariamente (nem
frequentemente) uma pessoa que esbanjava recursos, muitas das vezes era um proprietário de
terras hipotecadas que, em comparação com a população rural, era rico devido à miséria que
permeava o campo. Em certos casos o “coronel” muitas vezes nem possuía oficialmente esse
título mas era ligado a algum coronel no sentido literal da palavra. Em suma, o sufrágio se
encontrava naquele momento nas mãos dos trabalhadores rurais e era função do coronel
dentro da relação público-privado cooptar os votos dos mesmos.
O compromisso público-privado assim como a cooptação dos votos é explicada em 3
atos: o mandonismo, o filhotismo e a desorganização dos serviços públicos. O mandonismo se
caracteriza pelo coronel exercendo influência no âmbito local e perseguindo os adversários de
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seu candidato com liberdade para praticar suas arbitrariedades em questões que envolviam o
uso da força já que quem detinha a mesma era o Estado que resguardava o coronel. O
filhotismo por sua vez ocorria depois da eleição do candidato envolvido na aliança, esse
inseria agregados do coronel na vida pública, prática muito presente hoje em dia na política
brasileira, inclusive no âmbito federal sob o título de nepotismo. A desorganização dos
serviços públicos enfim tinha sua base na falta de autonomia das cidades e províncias dentro
da legalidade, além de os poucos serviços públicos que existiam cumprirem fins eleitorais.
Causa disso é o Estado liberal da época que não intervia para prestar serviços públicos nem
garantir direitos sociais, esse aspecto coloca na equação do coronelismo mais dois pontos: a
falta de consciência por parte do trabalhador rural de sua própria exploração e a chance de o
coronel cumprir com a função de fornecer condições básicas de vida para a população à sua
volta com um “penoso esforço que chega ao heroísmo" (LEAL, 1976, p.31).
Dentro das funções do coronel no acordo estava também a de organizar as eleições e
movimentar os trabalhadores para os locais de pleito. Vale ressaltar que as eleições ocorriam
de maneira aberta e a contagem dos votos era realizada pelos mesários que, como
funcionários públicos, faziam uso do bico de pena caso necessário não anunciando o real
vencedor da eleição. O poder público, por sua vez, favorece municípios que estão sob governo
de amigos e os chefes políticos municipais (legisladores estaduais) ignoram a possibilidade de
libertar o eleitorado desse esquema pois estão cientes de que enquanto o Estado sufoca os
sufragistas, a eleição apresenta menos riscos. Por fim o autor explicita que o coronelismo tem
base em duas fraquezas: a dos donos da terra que se iludem com o prestígio de poder e a
fraqueza dos trabalhadores que vivem no seu entorno.
Para ter entrado nessa relação de interdependência, é suposto que o poder público
possuísse, assim como o setor privado algum tipo de fraqueza, desse modo, é apresentada
pelo autor outra incoerência do período: cronologicamente na República Velha, com o regime
representativo, os novos eleitores que não possuíam conhecimento de seu papel na política
caíam nas mãos dos detentores do poder público e esses, por sua vez, conduziam-os aos
candidatos governistas estaduais e federais, recebendo como recompensa liberdade para
dominarem o município.
Desse modo, o autor conclui que o ponto chave para o entendimento do processo de
coronelismo é a decadência da estrutura agrária junto da perda de influência dos donos de
terras, que precisam dos agentes públicos para assegurar sua hegemonia na política local e
resíduos do poder privado. Essa narrativa do dono de terras que sacrifica a legitimidade dos
processos políticos e a liberdade dos eleitores em nome de reviver sua influência possui
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paralelos na sociedade brasileira atual, como já foi apresentado. Devido tanto à descrença por
parte da população no poder do voto, sendo assim mais influenciáveis em suas escolhas nas
urnas e quanto nos casos constantes de nepotismo dentro da esfera política. Esses aspectos
podem ser somente partículas do que foi um grande processo histórico mas “suas
consequências se projetam sobre toda a vida política do país" (LEAL, 1976, p.122).
Victor Nunes Leal apresenta de forma sistemática e clara muitas das ramificações,
causas e efeitos do coronelismo na República Velha brasileira e permite, por meio de
construções textuais, que o leitor analise determinados aspectos da política atual como meios
de remediar e até mesmo evitar acontecimentos análogos: como a distribuição de renda,
industrialização (visto que o coronelismo se baseia na estrutura rural) e outras ações que
buscam o bem-estar da população e o fortalecimento do espírito público. Sendo assim, apesar
de concluir que “não tivemos o propósito de apresentar soluções, apenas nos esforçamos por
compreender uma pequena parte dos nossos males.” (LEAL, 1976, p. 127) Victor deixa um
texto que cumpre a função de um objeto de História: o de não permitir que a mesma se repita.
Referências:
LEAL, Victor Nunes Leal. Coronelismo, enxada e voto. O município e o regime
representativo no Brasil. São Paulo, Ed. Alfa-Omega, 1976. Cap. 1 e 7. p. 23-45 e 122-127.
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